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Natal
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Agradecimentos
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo investigar o aprendizado musical do Ogã, o homem do
tambor, em dois espaços de culto, sendo um templo de Jurema/Umbanda e um terreiro de
candomblé. Relatar diferenças e semelhanças em suas práticas, e ao mesmo tempo
discorrer sobre alguns instrumentos mais utilizados nestes terreiros; além de buscar
entender a informalidade na transmissão destes conhecimentos através da oralidade.
ABSTRACT
This research aimed to investigate the musical learning of Ogã, the drum man, in two
places of worship, being a temple of Jurema/Umbanda and a candomblé terreiro. To
report differences and similarities in their practices, and at the same time discuss some
instruments most used in these terreiros; in addition to seeking to understand the
informality in the transmission of this knowledge through orality.
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 2 - Vinícius Oliveira, Babalazé dp Ilê Axé Jitaloyá em Ceará Mirim, tocando
o agogô ou gan. Acervo particular ……...…………………………………………...…29
Fotografia 4 – Ilú de Ismark Nascimento preparado para uma gira de mestre fora do
terreiro. Acervo particular …………………………………………………………......31
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 11
2 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO...............................................................14
2.1 Pesquisa qualitativa e estudo de caso........................................................................14
2.2 Escolha do campo......................................................................................................15
2.3 Procedimentos da coleta de dados.............................................................................16
2.3.1 Pesquisa bibliográfica e documental .....................................................................16
2.3.2 Entrevistas semiestruturadas...................................................................................16
2.4 Termo de consentimento livre e esclarecido - TCLE................................................17
2.5 Registros fotográficos e em áudio.............................................................................18
2.6 Organização e análise dos dados...............................................................................18
3 CANDOMBLÉ, UMBANDA E JUREMA: UMA ABORDAGEM DAS
RELIGIÕES E SEUS INSTRUMENTOS MUSICAIS RITUALÍSTICOS.............19
3.1 O Candomblé.............................................................................................................19
3.2 A Umbanda................................................................................................................22
3.3 A Jurema………....………………………………………………………………....25
3.4 O terreiro ...................................................................................................................27
3.5 Os instrumentos tradicionais utilizados em terreiros e suas funções ........................28
3.6 Os Orixás e os seus toques .........................................................................................33
4. SER OGÃ – A ATUAÇÃO NO TERREIRO...........................................................36
4.1 A formação do ogã .....................................................................................................37
4.2 Ensino e aprendizagem: a tradição oral.....................................................................38
5. O OGÃ E SEUS TAMBORES: INVESTIGAÇÕES SOBRE O APRENDIZADO
MUSICAL EM DOIS TERREIROS DE DIFERENTES CULTOS AFRO-
BRASILEIROS.........................………………...…………....……..............................41
5.1 A investigação no Templo de Jurema Umbanda Caboclo Rompemato ……..….....41
5.2 A investigação no terreiro Ilê Axé Jitaloyá …………..............................................44
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................46
REFERÊNCIAS.............................................................................................................49
APÊNDICES .................................................................................................................52
10
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país de dimensões continentais e que abriga uma cultura tão vasta
e variada quanto as gigantescas fronteiras que demarcam o seu território. De norte a sul,
de leste a oeste; apesar de intensa colonização europeia, que aqui chegou em “seu novo
mundo”, fica evidente a enorme e fundamental contribuição, primeiramente dos povos
nativos que aqui já viviam há milênios, como também do povo africano que trouxe sua
força e seu conhecimento ao nosso continente, e que soube tão bem preservar sua
identidade e sua cultura, apesar de toda violência a qual foram submetidos, e que, ainda
se submetem até os dias atuais. Os colonizadores arrancaram à força, os nossos índios, de
suas raízes e de suas terras milenares, e tratamento similar foi dado aos africanos, quando
trazidos para cá como mera mercadoria; fato ocorrido em todo território nacional e nas
Américas em geral.
Esta pesquisa vai tratar justamente sobre a cultura negra, indígena e europeia
relacionadas aos terreiros, onde procuro mostrar os fundamentos destes locais com as
etnias citadas; mas, antes de começar a discorrer sobre o tema central desta pesquisa, vou
comentar sobre um fato que foi determinante para a escolha da metodologia utilizada na
coleta de dados que foram feitas a distância, devido a pandemia de Covid19 que se iniciou
em 2020. Tivemos, então, que nos adaptar às condições de isolamento social que este
vírus impôs ao mundo e aqui no Brasil não foi diferente. Na área da Educação, nós,
estudantes e professores, de todas os níveis, em toda a rede de ensino nacional, seguimos
as novas estratégias de relacionamento diante a proibição dos encontros presenciais no
país; por este motivo, esta pesquisa teve que se adaptar a esta nova realidade que se tornou
12
2 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO
Para realizar este trabalho, fiz a opção pela abordagem qualitativa, que foca nos
princípios dos fenômenos humanos, neste caso, no universo afro-brasileiro dos terreiros;
neste sentido, é muito pertinente afirmar que a pesquisa ilumina aquelas questões que não
seriam tão compreendidas e aprofundadas em sua essência, se não fosse utilizada esta
modalidade de abordagem. De acordo com Gerhardt e Silveira:
A escolha do campo neste trabalho se deu por conta, inicialmente, de minha curiosidade
em conhecer de forma mais aprofundada como se estruturam os ritmos tocados nos
terreiros. O interesse no tema se intensificou ao participar de uma experiência única no
ano de 2018, quando, durante uma viagem ao interior de São Paulo, pude assistir aulas
em um terreiro de Candomblé onde os toques me foram passados pelo Ogã, Vitor
Trindade, morador da cidade. Esses momentos de aprendizado me fizeram enxergar o
papel fundamental desse homem dos tambores despertando a necessidade de saber mais
sobre o conhecimento ancestral que carregam e como ele é propagado no tempo, além de
buscar compreender as estruturas que fundamentam os rituais e suas relações com os
rítmos que protagonizam essas expressões culturais, conduzidas pelos Ogãs.
16
Uma das formas mais básicas de coleta de dados, a entrevista, segundo Marconi
e Lacatos (2010), “é um encontro de duas pessoas a fim de que uma delas obtenha
informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza
profissional”. Ainda sobre entrevista Godde e Hatt (1969, apud MARCONI E
LAKATOS, 2010) afirmam que “consiste no desenvolvimento de precisão, focalização,
fidedignidade e validade de certo ato social como a conversação”.
17
Para coletar dados que pudessem embasar a presente pesquisa optei por utilizar a
entrevista semiestruturada que “é aquela efetuada com base em perguntas específicas para
facilitar a sistematização e codificação, mas que o entrevistado responde com as suas
próprias palavras” (VENTURA, 2014). De acordo com LUDKE e ANDRÉ, é aquela que
“se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo
que o entrevistador faça as necessárias adaptações” (LÜDKE E ANDRÉ, apud FRANÇA,
2017, p.33).
3.1 O Candomblé
Uma vez distantes da África, a Ìya ìlú àiyé èmí (Mãe Pátria Terra
da Vida) teria de se adaptar ao contexto local; não seriam
cultuados necessariamente apenas Orixás locais (característicos de
tribos, cidades, famílias específicas), em espaços amplos, como a
floresta, cenário de muitas iniciações. Todos os Orixás seriam
celebrados, e num espaço previamente estabelecido: a casa de
culto. Nessa reprodução em miniatura da África, os Orixás seriam
cultuados em conjunto. Nascia o Candomblé (BARBOSA JR, 2011,
p.26).
Longe de permanecer estagnado, o candomblé evoluiu, passando por um ciclo que incluiu
em princípio o sincretismo com a religião católica como condição para sobrevivência, o
posterior branqueamento, que culminou com o surgimento da umbanda e finalmente a
africanização, ou o retorno às origens negras, uma dessincretização que pretende
“recuperar sua autonomia em relação ao catolicismo” e alçar o candomblé a um patamar
de igualdade com as demais religiões do mundo.
22
3.2 A Umbanda
No ano de 1857, o pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, cria o termo
espiritismo para denominar a doutrina religiosa, filosófica e mediúnica por ele codificada.
Em seu livro “O que é o espiritismo” (2013), o estudioso, que utilizava o pseudônimo
Allan Kardec, afirma:
esse tema Mattos (2007) comenta que do catolicismo “a umbanda incorporou alguns
valores, as devoções a Jesus, à Maria e aos santos e as orações. Além desses vários
elementos, a umbanda ainda associou-se aos símbolos e espíritos dos rituais indígenas”.
Sobre a umbanda a autora ainda acrescenta:
tradições ao mesmo tempo que ia se espelhando em novos valores e ideais expressos pelo
kardecismo. De acordo com Prandi (1999), a adoção da língua vernácula, eliminação
quase total de sacrifícios de sangue e simplificação da iniciação dos praticantes foram
algumas mudanças. Do candomblé foi mantido o rito cantado e dançado, e “um panteão
simplificado de Orixás, havia muitos anos já sincretizados com santos católicos”. Os
guias, pretos-velhos, caboclos, exus e pombagiras, entretanto, permaneceram figuras
fundamentais no dia-a-dia dos cultos (Foto 1, p.24).
Foto 1. Salão do Templo de Jurema Umbanda Caboclo Rompemato (PB). Acervo particular.
3.3 A Jurema
3.4- O Terreiro
Também conhecido por Barracão, Oca, ou Roça entre outros, o Terreiro é o local
onde são realizadas as celebrações em homenagem aos Orixás e demais entidades
presentes nos cultos afro-brasileiros. Segundo Barbosa Jr (2011), terreiros
possuem estrutura física variável sendo alguns grandes o suficiente para comportar
nascentes de água e mata nativa. De acordo com o pesquisador, alguns elementos
constituintes do terreiros são:
Foto 2. Vinícius Oliveira, Babaláze do Ilê Axé Jitaloyá, em Ceará Mirim, tocando o agogô ou gã.
Acervo particular.
Foto 4. Ilú de Ismark Nascimento preparado para uma gira de mestre fora do terreiro. Acervo
particular.
O terceiro, e menor atabaque, se chama Lê; é neste atabaque onde fica o Ogã que
ainda está sendo iniciado. Esses dois atabaques, Rumpi e Lê, são tambores que criam
uma estrutura rítmica com poucas variações e que formam uma base musical com menor
intensidade na execução de suas partes, para destacar os toques mais soltos e enfáticos do
Rum, em suas falas com os Orixás.
Sobre essa interação entre os tambores o pesquisador Edilberto José de Macedo
Fonseca afirma:
- Obaluaê: Orixá da cura do ser humano, relaciona-se com a saúde e doença sendo o
responsável pelas passagens de plano para plano. O toque para Obaluaê é o Opanijé.
- Iansã: Também conhecida como Oiá, é a senhora dos ventos e tempestades. É Orixá
guerreira representando o arrebatamento e a paixão. Rainha feminista e a mais bonita
entre os Orixás. O toque é o Aguerê de Iansã (Ika, Foribalé, Ilú de Oiá, Ilú, Daró, Agó,
Quebra-pratos ou Abatá) .
- Iemanjá: Considerada a mãe dos Orixás, Iemanjá é sincretizada como a mãe de Jesus
Cristo. Protetora dos pescadores e protetora da família, essa importante Orixá é a rainha
das águas e dos mares. O toque é o Ginká (Jicá, Ejika, ou Ijika).
35
- Xangô: Um dos mais populares e também primeira divindade iorubá a chegar no Brasil,
Xangô é o Orixá da justiça. Representa a decisão, iniciativa e concretização. O toque
para Xangô é o Alujá embora também sejam citados o Bata e o Tonibobé.
- Ossaim: Orixá das plantas e das folhas, rege as florestas e é senhor dos segredos
medicinais. Representa a relação do homem com a natureza. O toque para Ossaim é Korin
Ewe (Aguirê de Ossain, Tapa, Omelê).
O termo Ogã vem do yorubá e significa Senhor da minha casa. De acordo com
Barbosa Jr (2011), são “homens que não entram em transe, e que possuem diversas
funções num terreiro”. Sobre esse tema Trindade (2019) completa, “um fato muito
importante é que o Ogã não incorpora os Orixás; aliás, esse é um dos fatores levados em
consideração para ser escolhido” (SOUZA, 2019, p.74). Na Umbanda, como no
Candomblé, o Ogã também se responsabiliza pela condução dos toques, e neste caso, por
tocar os pontos(cantigas), que são a base musical do ritual de Umbanda. Segundo, Ângelo
Cardoso:
O grupo de Ogãs é formado por homens e estes são responsáveis por várias
atividades. Além serem responsáveis por manter a ordem e cuidar do terreiro, os Ogãs
também ajudam na copança1 dos animais. De acordo com Souza (2019), ele deve ter o
conhecimento das plantas para fins medicinais e de limpeza, deve conhecer os cânticos e
as rezas, e deve ser iniciado ainda criança para que aprenda os segredos dos Orixás entre
outras funções do “Povo de Santo”.
A orquestra do terreiro é coordenada por um Ogã mais experiente, normalmente
chamado alabê. Além de responsável pelos cuidados com os tambores, incluindo aí a
preservação, afinação e consagração dos instrumentos, este Ogã tem a função de entoar
os cânticos e de iniciar e zelar pelo aprendizado dos que estão em formação. Apenas os
iniciados podem tocar nos instrumentos. Souza aponta para o seguinte fato:
1
Animais oferecidos em sacrifício.
37
Para os pesquisadores Paulo Sérgio Costa e Ewelter Rocha (2013), o Ogã coloca
o tambor como um fator muito importante na condução dos ritos religiosos, traz o
conjunto de instrumentos usados nos cantos, sendo três atabaques, como
acompanhamento, também aparecem o triângulo, e maracas, ajudando o Ogã no momento
das giras. Segundo Oliveira (2017):
Ismark afirma que o Ogã, cujo nome não recordava, pois todos o chamavam
apenas Zé do Balaio, mesmo sem conhecimentos formais, pedagógicos e didáticos, sabia
exatamente os conteúdos que deveria passar para ele, criando um passo a passo
compatível com o seu entendimento de criança. O mestre mostrava assim, que sabia
exatamente o que deveria passar, de acordo com a faixa etária do discípulo,
independentemente dos conceitos formais de ensino acadêmico. Utilizava-se apenas do
seu conhecimento pregresso, das percepções auditiva e visual, além dos gestos e da fala.
Uma das estratégias utilizadas pelo Zé Balaio para ensinar os toques aos aprendizes era
fazer com que estes memorizassem fórmulas silábicas mnemônicas que representassem a
estrutura dos ritmos a serem aprendidos. Dessa forma, decorar primeiro a sonoridade
facilitava a aprendizagem do toque quando chegasse o momento de reproduzi-lo no
instrumento. A observação e imitação dos gestos realizados ao tocar também eram
estimuladas.
Em sua jornada pelo terreiro Ismark aprendeu a tocar vários instrumentos, dentre
eles os atabaques, timbal, pandeiro, triângulo, berimbau e zabumba. O aprendizado desses
instrumentos, entretanto, obedeciam a determinada ordem, não sendo permitido ao
aspirante subvertê-la, dessa forma, iniciava-se pelas maracas ou triângulo e só depois de
dominar as formas de execução desses instrumentos, se podia passar para o tambor.
Em relação aos ritmos tocados em seu terreiro, ele destacou os seguintes: Coco,
Jurema, Xambá, Candomblé, Cabula, (acelerado), Barravento, Ijexá e Samba de caboclo
(Pilares da Jurema). Salientou também que esses toques são predominantemente
executados com as mãos, sem o recurso dos aguidavis (varetas feitas de algumas espécies
de plantas), além de relatar que dependendo da origem do Ogã, o sotaque na execução
dos ritmos sofre variações; ou seja, dependendo do local e das vivências que o Ogã possui,
o modo de tocar e interpretar os ritmos típicos são alterados. É permitido aos Ogãs
participarem e organizarem os cultos em diferentes terreiros.
Apesar de ter sido educado musicalmente de modo informal, Ismark optou
posteriormente, já adulto, por iniciar seus estudos em uma academia de música, onde
pôde conhecer os instrumentos da percussão sinfônica como tímpanos, xilofone,
marimba, vibrafone, entre outros. Iniciando seus estudos formais na Escola de Música
Anthenor Navarro - EMAN, em João Pessoa - PB, atuou por alguns anos como
percussionista da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado da Paraíba de onde sairia para
integrar o naipe de percussão da Orquestra Sinfônica de Sergipe. Nesse estado, ingressou
e concluiu o curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de Sergipe.
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Neste relato discorro sobre o contato estabelecido com o Ogã João Vítor Batista
de Araújo, viabilizado por Vinícius Augusto Teixeira Oliveira, Balalaze responsável pelo
terreiro. Com o auxílio de Vinícius foi possível repassar ao ogã um questionário com as
perguntas desejadas, sendo o mesmo também responsável por retornar as respostas
obtidas por meio da captação de um gravador de voz de um celular. É uma entrevista,
que não foi feita por videoconferência em uma reunião síncrona; mesmo assim, o valor
da atividade não sofreu nenhuma alteração que pudesse prejudicar o teor da interação
entre pesquisador e pesquisado, nem tão pouco alterou o conteúdo do questionário
aplicado e a relevância para esta pesquisa.
O Ogã João Vítor, iniciou a entrevista afirmando que seu primeiro contato com a
religião aconteceu ainda quando criança e naquela ocasião fora levado ao terreiro por sua
mãe e sua irmã quando tinha apenas 12 anos de idade. Recorda-se também que o terreiro
ao qual foi levado era de Candomblé e Jurema.
Iniciou a sua formação como Ogã aos 13 anos e, por muito tempo, tocou apenas
as estruturas rítmicas da Jurema. Somente agora, aos 22 anos, João Vítor começou a se
especializar nos toques de Candomblé.
Embora tenha relatado a existência de uma hierarquia no que diz respeito à ordem
de aprendizado dos instrumentos, o seu treinamento iniciou-se com o tambor, passando
depois para os atabaques e hoje em dia vai aprendendo aos poucos os instrumentos que
lhe são apresentados de acordo com o seu desenvolvimento dentro do terreiro.
A passagem de conhecimentos acontece através de encontros entre os membros
do Ilê. Os toques e suas variações vão sendo transmitidos nos ensaios, e é neste processo
que os conhecimentos vão sendo ensinados e passados adiante pelo grupo. Um mostra ao
outro o que já aprendeu. Algumas estratégias para o aprendizado são a observação e
imitação dos toques e gestos feitos pelo ogã.
João Vítor nunca estudou em local de instrução formal de ensino. Ele toca vários
instrumentos tendo aprendido através da informalidade pedagógica. Entre os
instrumentos tocados por ele, estão: o Elu ou Ilú (tambor), os atabaques Rum, Rumpi e
Lê e também o Gã (Agogô).
Segundo o próprio entrevistado, embora na Jurema ele tenha iniciado o
aprendizado pelo tambor, em relação aos toques utilizados no candomblé ele seguiu uma
ordem de aprendizado relativo aos instrumentos. Primeiramente ele foi ensinado a tocar
45
6. Considerações finais
passar para os tambores. Os Ogãs de ambos os terreiro podem atuar em terreiro diferentes
desde que convidados e devidamente autorizados.
Em relação aos toques mais utilizados vimos que no Templo de Jurema Umbanda
Caboclo Rompemato os toques mais utilizados são Coco, Jurema, Xambá, Candomblé,
Cabula, Barravento, Ijexá e Samba de Caboclo (Pilares da Jurema). Esses toques são
executados com as mãos e podem ocorrer variações rítmicas.
No terreiro Ilê Axé Jitaloyá os toques mais executados são: Avamunha, o Vassi,
o Agueré, o Ijexá, o Bolero e o Daró, todos esses tocados nos atabaques. Entre os tocados
no tambor estão a Macumba, a Pisada e o Alujá. Dentre esses ritmos, alguns são tocados
com as mãos e outros com uma varinha chamada Atori ou Aguidavi. Também são
permitidas variações rítmicas.
Além de destacar algumas das várias faces do universo afro-brasileiro
representados pelas expressões ritualísticas dos Orixás, tendo como centro gravitacional,
o Ogã, que atua diretamente nos centros de Candomblé, Umbanda e Jurema, esta pesquisa
buscou valorizar as tradições negras e indígenas no Brasil. Ao valorizá-las, estamos
expandindo a nossa cultura em suas diversas manifestações, que formam o povo
brasileiro através de tradições passadas pela oralidade e informalidade, tanto quanto por
sua miscigenação. O universo religioso afro-brasileiro é enorme e este trabalho procurou
contemplar os fundamentos básicos para que houvesse uma compreensão mínima dos
fatores e informações que fazem parte destas tradições. Apenas para esclarecer um fato
que teve imensa importância na época desta pesquisa e que interferiu no modo como esta
fôra confeccionada, busco sair um pouco do tema que discorri até este momento para
esclarecer o seguinte assunto: em 2020, em uma situação sem precedentes na história do
Brasil, tivemos que adaptar nossa atuação universitária às condições de isolamento social
que o COVID 19 impôs ao cotidiano de todas as sociedades espalhadas pelo mundo; e
aqui no Brasil não foi diferente; obrigando os estudantes e professores, de todas os níveis,
em toda a rede de ensino nacional, a criar novas estratégias de relacionamento diante a
proibição dos encontros presenciais no país; por este motivo, esta pesquisa teve que se
adaptar a esta nova realidade. Toda a estrutura educacional teve que se adaptar à nova
realidade imposta pelo distanciamento social atualmente vigente nos anos de 2020 e 2021,
exatamente neste momento, no qual este TCC está sendo produzido, num momento em
que há o retorno paulatino às rotinas de aulas híbridas e presenciais em meio a muitas
dúvidas relacionadas aos perigos de contágio nesta volta às aulas e também em meio a
um programa de saúde vacinal incompleto.
48
REFERÊNCIAS
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espirituais em rituais de umbanda. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2018.
CARDOSO, Ângelo Nonato Natale. Linguagem dos tambores. Vol I 2006 Salvador-
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COSTA, Paulo Sérgio Sousa; ROCHA, Ewelter de Siqueira e. É assim que se canta pro
santo: aspectos etnomusicológicos de uma festa de santo. Anais eletrônicos do XVI
Congresso Brasileiro de Folclore - UFSC, Florianópolis, 14 a 18 de outubro de 2013.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. Ed. São Paulo: Atlas,
2010.
50
MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Editora
Contexto, 2007.
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PAIVA, Kate Lane Costa de. O conhecimento encorporado: aspectos da dança dos
orixás no candomblé. Dissertação. 155f. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Instituto de Artes, 2009.
SOUZA, André Luís Nascimento de; ANDRADE JR., Lourival. Nordeste encantado: o
culto à encantaria na jurema. Anais. XXVII Simpósio Nacional de História. Natal-RN,
2013.
SOUZA, Vitor Israel Trindade de. OgãILU, o caminho do Alabê - visita aos
instrumentistas da religião dos Orixás. Embu das Artes - SP, 2019.
APÊNDICES
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APÊNDICE A
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Eu, _____________________________________________________________,
Coordenador do Ilê Axé Jitaloyá, através do presente termo, autorizo o graduando
do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte - UFRN, Misael Eduardo Fernandes matrícula 20170071835, a realizar sua
pesquisa coletando dados necessários por meio de observações, imagens e gravações
de áudios, assim como explicitar e utilizar o nome real do Ilê Axé Jitaloyá em todo e
qualquer material de natureza acadêmico-científica (monografia, publicações,
apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre outros).
Abdico, dessa forma, dos nossos direitos, sobre o uso desses nomes, como
também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que porventura venha
ocorrer. Assim subscrevo este documento.
______________________________________________
Coordenador do Ilê Axé Jitaloyá
54
APÊNDICE B
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Eu, _____________________________________________________________,
Coordenador do Ilê Axé Jitaloyá, através do presente termo, autorizo o graduando
do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte - UFRN, Misael Eduardo Fernandes matrícula 20170071835, a utilizar meu
nome real, assim como dados necessários por meio de observações, imagens e
gravações de áudio em todo e qualquer material de natureza acadêmico-científica
(monografia, publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras
entre outros).
Abdico, dessa forma, do direito sobre o uso de meu nome, como também,
salvo resguardo qualquer tipo de contestação que porventura venha ocorrer. Assim
subscrevo este documento.
_____________________________________________
Coordenador do Ilê Axé Jitaloyá
55
APÊNDICE C
TCLE referente à entrevista dos Ogãs.
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
___________________________________________
Ogã do
56
APÊNDICE D
Roteiro de Entrevista Semiestruturada com Ogãs
ROTEIRO DA ENTREVISTA