Este documento fornece orientação técnica sobre se as despesas com bolsas de estágio devem ser consideradas como despesa de pessoal para fins de cálculo do limite de gastos com pessoal. A orientação conclui que as bolsas de estágio não devem ser consideradas como despesa de pessoal, uma vez que os estagiários não têm vínculo empregatício com o município e as bolsas não têm a mesma natureza que os salários dos servidores públicos.
Este documento fornece orientação técnica sobre se as despesas com bolsas de estágio devem ser consideradas como despesa de pessoal para fins de cálculo do limite de gastos com pessoal. A orientação conclui que as bolsas de estágio não devem ser consideradas como despesa de pessoal, uma vez que os estagiários não têm vínculo empregatício com o município e as bolsas não têm a mesma natureza que os salários dos servidores públicos.
Este documento fornece orientação técnica sobre se as despesas com bolsas de estágio devem ser consideradas como despesa de pessoal para fins de cálculo do limite de gastos com pessoal. A orientação conclui que as bolsas de estágio não devem ser consideradas como despesa de pessoal, uma vez que os estagiários não têm vínculo empregatício com o município e as bolsas não têm a mesma natureza que os salários dos servidores públicos.
PROCESSO - TC-3469/2009 INTERESSADO - CÂMARA MUNICIPAL DE MUNIZ FREIRE ASSUNTO - CONSULTA
EMENTA
DESPESAS RELATIVAS A BOLSAS DE ESTÁGIO
INTEGRAM O PERCENTUAL DE DESPESA COM SERVIÇOS DE TERCEIROS (ARTIGO 72 DA LRF) - DESPESA NÃO COMPUTADA PARA CÁCULO DO LIMITE DE GASTO COM PESSOAL.
Vistos, relatados e discutidos os autos do Processo TC-3469/209, em que o
Presidente da Câmara Municipal e Muniz Freire, Sr. João Batista Ferreira, formula consulta a este Tribunal, nos seguintes termos:
“O pagamento da remuneração dos estagiários, pagamento
este que poderá ser feito diretamente pela Prefeitura e/ou Câmara aos mesmos ou através de repasse às instituições de ensino para que elas efetuem o pagamento, as despesas com este pagamento é considerada como espessa de pessoal e entra no cálculo para fins de apuração do limite disposto no artigo 20 da Lei Complementar 101 (LFR) ?” PARECER/CONSULTA TC-014/2013 Fbc/lr
Considerando que é da competência deste Tribunal decidir sobre consulta que
lhe seja formulada na forma estabelecida pelo Regimento Interno, conforme artigo 1º, inciso XXIV, da Lei Complementar nº 621/12.
RESOLVEM os Srs. Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Espírito
Santo, em sessão realizada no dia dezesseis de abril de dois mil e treze, à unanimidade, acolhendo o voto do Relator, Conselheiro Rodrigo Flávio Freire Farias Chamoun, preliminarmente, conhecer da consulta, para, no mérito, respondê-la nos termos da Orientação Técnica em Consulta nº 16/2012, da 8ª Controladoria Técnica, firmada pela Auditora de Controle Externo, Sra. Maira Rebello Magalhães Guimarães, abaixo transcrita:
Orientação Técnica em Consulta – 16/2013:
“Trata o presente feito de consulta formulada pelo Sr. João
Batista Ferreira, na qualidade de Presidente da Câmara Municipal de Muniz Freire, cuja indagação transcreve-se a seguir:Com base na Lei Federal 11.788/08, em especial o Art. 8º, caso a Prefeitura e/ou a Câmara Municipal decidam propor lei instituindo o estágio para que os estudantes estagiem em suas repartições para realizar atividades comuns aos servidores públicos, e, para isso, firmem convênio com instituições de ensino público e/ou privadas para tal fim, indagamos:a)O pagamento da remuneração dos estagiários, pagamento este que poderá ser feito diretamente pela Prefeitura e/ou Câmara aos mesmos ou através de repasse às instituições de ensino para que elas efetuem o pagamento, as despesas com este pagamento é considerada como despesa de pessoal e entra no cálculo para fins de apuração do limite disposto no Art. 20 da Lei Complementar 101 (LRF)? É o relatório. DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE Antes de adentrar ao mérito da consulta, faz-se necessário verificar a presença dos requisitos de admissibilidade, conforme prescreve o artigo 96 da Resolução TC nº 182/2002 (Regimento Interno do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo - RITCEES): Art. 96. A consulta deverá revestir-se das PARECER/CONSULTA TC-014/2013 Fbc/lr
seguintes formalidades: I – ser subscrita por autoridade
competente; II – referir-se a matéria de competência do Tribunal; III – conter indicação precisa da dúvida ou controvérsia suscitada; IV – ser formulada em tese; V – conter o nome legível, a assinatura e a qualificação do consulente. No tocante ao requisito constante no inciso I, é possível verificar que a definição de autoridade competente encontra suas balizas no artigo 95, inciso II, do referido diploma normativo: Art. 95. O Plenário decidirá sobre consultas quanto a dúvidas suscitadas na aplicação de dispositivos legais e regulamentares concernentes à matéria de sua competência, formuladas: II – no âmbito municipal, pelos Prefeitos, presidentes de Comissões Parlamentares da Câmara Municipal, dirigentes de autarquias, sociedades de economia mista, das empresas públicas e das fundações instituídas e mantidas pelo Município. De fato, sendo o consulente Presidente da Câmara Municipal de Muniz Freire, tem-se como atendido o primeiro requisito. Verifica-se ainda que o referido dirigente está devidamente qualificado nos autos, donde consta seu nome legível e assinatura (inciso V). A questão aborda matéria de competência desta Corte, pois se refere à forma de apropriação das despesas com estagiários no sistema contábil municipal, considerando, sobretudo, as limitações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (inciso II). Constata-se que há indicação precisa da dúvida e que essa foi formulada, conforme preceitua o inciso III do artigo 96 acima transcrito. Por fim, a exigência do art. 95, caput, do diploma normativo em questão, que prevê a indicação de dispositivo legal ou regulamentar sobre o qual paire dúvida, também foi atendida, uma vez que a controvérsia em epígrafe reside na correta regra aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal no caso de despesas geradas pela contratação de estagiários. Assim sendo, reconhecendo que estão presentes os requisitos de admissibilidade da consulta, opina-se pelo seu CONHECIMENTO. DO MÉRITO O questionamento apresentado pelo consulente invoca dúvida quanto à correta forma de apropriação das despesas com estagiários no sistema contábil municipal, considerando, sobretudo, as limitações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Buscar-se-á examinar a correta forma de classificação orçamentária das despesas geradas pela contratação de estagiários, já que, em se tratanto de despesa com pessoal, ensejará a observância do limite imposto pelo art. 20 da Lei Complementar nº 101/00, ao passo que, em se tratando de serviços de PARECER/CONSULTA TC-014/2013 Fbc/lr
terceiros, a Administração deverá analisar a regra prevista
no art. 72 do mesmo diploma legal. A prática de estágio foi recentemente regulamentada pela Lei nº 11.788/08, a qual dispõe, em seu art. 1º: [...] estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, de educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. De acordo com o que determina o art. 3º da Lei Federal nº 11.788/08, o estágio não cria vínculo empregatício de qualquer natureza, podendo o estagiário receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada. Há, portanto, um “termo de compromisso” firmado ente a instituição de ensino e a parte concedente, sendo paga ao estagiário uma retribuição pelo desempenho de suas atividades a partir dos recursos da área para qual ele colabora. Observa-se que a bolsa ou constraprestação acordada pelas partes não tem a mesma natureza da remuneração e/ou salário atribuído aos servidores públicos integrantes do quadro de pessoal, contratados por concurso público e/ou outra forma temporária mediante prévio processo seletivo. Por essa razão, entende-se que tais gastos não devem integrar o total da despesa com pessoal da Administração Pública. O conceito de “despesa com pessoal” vem estabelecido pelo art. 18, da Lei Complementar nº 101/00 in verbis: Art. 18. Para efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa total com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência. Constata-se que a norma legal não trouxe em seu bojo a previsão da bolsa ou outra despesa dessa natureza como dispêndio inerente à despesa com pessoal, não devendo ser inserida na folha de pagamento e, consequentemente, não causando quaisquer reflexos no percentual a que se refere a alínea “a”, do inciso III, do art. 20, da Lei de Responsabilidade Fiscal. Há que se atentar, ainda, para o fato de que o estagiário não pode substituir o PARECER/CONSULTA TC-014/2013 Fbc/lr
servidor público, não se equiparando, portanto, aos
componentes do quadro de servidores. O estágio envolve atividades vinculadas ao aprendizado e à habilitação ao exercício futuro de uma profissão. Nesse contexto, assim afirmou o Conselheiro Relator do Tribunal de Contas de São Paulo, Dr. Edgard Camargo Rodrigues: [...] as despesas com estagiários, realizadas mediante Convênio celebrado entre o Consórcio Intemunicipal de Promoção Social e a Legião Mirim de Bauru não caracterizam substituição de servidores, não compondo, da mesma forma, o cálculo de gastos do setor. (Processo TC 2385.026.00 – Publicado no DOE de 01.12.2005). Constatada a situação especial do estágio e a impossibilidade de considerar as despesas com estagiários como despesa de pessoal, há que se apurar sua correta apropriação, na medida em que tais gastos devem ser computados em determinado elemento de despesa para fins contábeis. As despesas com estagiários podem ser observadas nas disposições da Portaria Interministerial STN/SOF nº 163, de 04 de maio de 2001, que dispõe sobre normas gerais de consolidação das Contas Públicas no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A Portaria foi elaborada pela Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda e pela Secretaria do Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e seu intuito foi uniformizar os procedimentos de execução orçamentária. De acordo com a Portaria, os gastos com estagiários devem ser enquadrados nos elementos de despesa referentes a “Outros Serviços de Terceiros – Pessoa Física”, cujo conceito é importante no esclarecimento da questão suscitada: 36 – Outros Serviços de Terceiros – Pessoa Física Despesas decorrete de serviços prestados por pessoa física pagos diretamente a esta e não enquadrados nos elementos de despesa específicos, tais como: remuneração de serviços de natureza eventual, prestado por pessoa física sem vínculo empregatício; estagiários, monitores diretamente contratados; diárias a colaboradores eventuais; locação de imóveis; salários de internos nas penitenciárias; e outras despesas pagas diretamente à pessoa física. (g.n.) CONCLUSÃO Desse modo, considerando os preceitos constitucionais e legais aplicáveis ao presente caso e a fundamentação exposta, opina-se para, no mérito, responder ao questionado no sentido de que as despesas inerentes ao financiamento de bolsas de estágio devem compor o elemento de despesa nº 36, por força do contido PARECER/CONSULTA TC-014/2013 Fbc/lr
na Portaria Interministerial nº 163/01, e, por consequinte,
devem integrar o percentual de despesa com serviços de terceiros a que se refere o artigo 72 da Lei de Responsabilidade Fiscal. É o entendimento.”
Composição Plenária
Presentes à sessão plenária da apreciação os Senhores Conselheiros Sebastião
Carlos Ranna de Macedo, Presidente, Rodrigo Flávio Freire Farias Chamoun, Relator, Sérgio Aboudib Ferreira Pinto, José Antônio Almeida Pimentel, Domingos Augusto Taufner e os Conselheiros em substituição Marco Antonio da Silva e Eduardo Perez. Presente, ainda, o Dr. Luciano Vieira, Procurador Especial de Contas em substituição ao Procurador-Geral do Ministério Público Especial de Contas.
Sala das Sessões, 16 de abril de 2013.
CONSELHEIRO SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO
Presidente
CONSELHEIRO RODRIGO FLÁVIO FREIRE FARIAS CHAMOUN
Relator
CONSELHEIRO SÉRGIO ABOUDIB FERREIRA PINTO
PARECER/CONSULTA TC-014/2013 Fbc/lr
CONSELHEIRO JOSÉ ANTÔNIO ALMEIDA PIMENTEL
CONSELHEIRO DOMINGOS AUGUSTO TAUFNER
CONSELHEIRO MARCO ANTONIO DA SILVA
Em substituição
CONSELHEIRO EDUARDO PEREZ
Em substituição
DR. LUCIANO VIEIRA
Procurador Especial de Contas em substituição ao Procurador-Geral
Lido na sessão do dia:
SERGIO JOÃO FERREIRA LIEVORE
Secretário-Geral das Sessões “ad doc”
Este texto não substitui o publicado no DOE 15.7.2013