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PARECER/CONSULTA TC-014/2013

DOE 15.7.2013, p. 34

PROCESSO - TC-3469/2009
INTERESSADO - CÂMARA MUNICIPAL DE MUNIZ FREIRE
ASSUNTO - CONSULTA

EMENTA

DESPESAS RELATIVAS A BOLSAS DE ESTÁGIO


INTEGRAM O PERCENTUAL DE DESPESA COM
SERVIÇOS DE TERCEIROS (ARTIGO 72 DA LRF) -
DESPESA NÃO COMPUTADA PARA CÁCULO DO LIMITE
DE GASTO COM PESSOAL.

Vistos, relatados e discutidos os autos do Processo TC-3469/209, em que o


Presidente da Câmara Municipal e Muniz Freire, Sr. João Batista Ferreira,
formula consulta a este Tribunal, nos seguintes termos:

“O pagamento da remuneração dos estagiários, pagamento


este que poderá ser feito diretamente pela Prefeitura e/ou
Câmara aos mesmos ou através de repasse às instituições de
ensino para que elas efetuem o pagamento, as despesas com
este pagamento é considerada como espessa de pessoal e
entra no cálculo para fins de apuração do limite disposto no
artigo 20 da Lei Complementar 101 (LFR) ?”
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Considerando que é da competência deste Tribunal decidir sobre consulta que


lhe seja formulada na forma estabelecida pelo Regimento Interno, conforme
artigo 1º, inciso XXIV, da Lei Complementar nº 621/12.

RESOLVEM os Srs. Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Espírito


Santo, em sessão realizada no dia dezesseis de abril de dois mil e treze, à
unanimidade, acolhendo o voto do Relator, Conselheiro Rodrigo Flávio Freire
Farias Chamoun, preliminarmente, conhecer da consulta, para, no mérito,
respondê-la nos termos da Orientação Técnica em Consulta nº 16/2012, da 8ª
Controladoria Técnica, firmada pela Auditora de Controle Externo, Sra. Maira
Rebello Magalhães Guimarães, abaixo transcrita:

Orientação Técnica em Consulta – 16/2013:

“Trata o presente feito de consulta formulada pelo Sr. João


Batista Ferreira, na qualidade de Presidente da Câmara
Municipal de Muniz Freire, cuja indagação transcreve-se a
seguir:Com base na Lei Federal 11.788/08, em especial o
Art. 8º, caso a Prefeitura e/ou a Câmara Municipal decidam
propor lei instituindo o estágio para que os estudantes
estagiem em suas repartições para realizar atividades
comuns aos servidores públicos, e, para isso, firmem
convênio com instituições de ensino público e/ou privadas
para tal fim, indagamos:a)O pagamento da remuneração
dos estagiários, pagamento este que poderá ser feito
diretamente pela Prefeitura e/ou Câmara aos mesmos ou
através de repasse às instituições de ensino para que elas
efetuem o pagamento, as despesas com este pagamento é
considerada como despesa de pessoal e entra no cálculo
para fins de apuração do limite disposto no Art. 20 da Lei
Complementar 101 (LRF)? É o relatório. DOS
REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE Antes de adentrar ao
mérito da consulta, faz-se necessário verificar a presença
dos requisitos de admissibilidade, conforme prescreve o
artigo 96 da Resolução TC nº 182/2002 (Regimento Interno
do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo -
RITCEES): Art. 96. A consulta deverá revestir-se das
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seguintes formalidades: I – ser subscrita por autoridade


competente; II – referir-se a matéria de competência do
Tribunal; III – conter indicação precisa da dúvida ou
controvérsia suscitada; IV – ser formulada em tese; V –
conter o nome legível, a assinatura e a qualificação do
consulente. No tocante ao requisito constante no inciso I, é
possível verificar que a definição de autoridade competente
encontra suas balizas no artigo 95, inciso II, do referido
diploma normativo: Art. 95. O Plenário decidirá sobre
consultas quanto a dúvidas suscitadas na aplicação de
dispositivos legais e regulamentares concernentes à
matéria de sua competência, formuladas: II – no âmbito
municipal, pelos Prefeitos, presidentes de Comissões
Parlamentares da Câmara Municipal, dirigentes de
autarquias, sociedades de economia mista, das empresas
públicas e das fundações instituídas e mantidas pelo
Município. De fato, sendo o consulente Presidente da
Câmara Municipal de Muniz Freire, tem-se como atendido o
primeiro requisito. Verifica-se ainda que o referido dirigente
está devidamente qualificado nos autos, donde consta seu
nome legível e assinatura (inciso V). A questão aborda
matéria de competência desta Corte, pois se refere à forma
de apropriação das despesas com estagiários no sistema
contábil municipal, considerando, sobretudo, as limitações
impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (inciso II).
Constata-se que há indicação precisa da dúvida e que essa
foi formulada, conforme preceitua o inciso III do artigo 96
acima transcrito. Por fim, a exigência do art. 95, caput, do
diploma normativo em questão, que prevê a indicação de
dispositivo legal ou regulamentar sobre o qual paire dúvida,
também foi atendida, uma vez que a controvérsia em
epígrafe reside na correta regra aplicação da Lei de
Responsabilidade Fiscal no caso de despesas geradas pela
contratação de estagiários. Assim sendo, reconhecendo
que estão presentes os requisitos de admissibilidade da
consulta, opina-se pelo seu CONHECIMENTO. DO
MÉRITO O questionamento apresentado pelo consulente
invoca dúvida quanto à correta forma de apropriação das
despesas com estagiários no sistema contábil municipal,
considerando, sobretudo, as limitações impostas pela Lei
de Responsabilidade Fiscal. Buscar-se-á examinar a
correta forma de classificação orçamentária das despesas
geradas pela contratação de estagiários, já que, em se
tratanto de despesa com pessoal, ensejará a observância
do limite imposto pelo art. 20 da Lei Complementar nº
101/00, ao passo que, em se tratando de serviços de
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terceiros, a Administração deverá analisar a regra prevista


no art. 72 do mesmo diploma legal. A prática de estágio foi
recentemente regulamentada pela Lei nº 11.788/08, a qual
dispõe, em seu art. 1º: [...] estágio é ato educativo escolar
supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que
visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos
que estejam frequentando o ensino regular em instituições
de educação superior, de educação profissional, de ensino
médio, de educação especial e dos anos finais do ensino
fundamental, na modalidade profissional da educação de
jovens e adultos. De acordo com o que determina o art. 3º
da Lei Federal nº 11.788/08, o estágio não cria vínculo
empregatício de qualquer natureza, podendo o estagiário
receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha
a ser acordada. Há, portanto, um “termo de compromisso”
firmado ente a instituição de ensino e a parte concedente,
sendo paga ao estagiário uma retribuição pelo desempenho
de suas atividades a partir dos recursos da área para qual
ele colabora. Observa-se que a bolsa ou constraprestação
acordada pelas partes não tem a mesma natureza da
remuneração e/ou salário atribuído aos servidores públicos
integrantes do quadro de pessoal, contratados por concurso
público e/ou outra forma temporária mediante prévio
processo seletivo. Por essa razão, entende-se que tais
gastos não devem integrar o total da despesa com pessoal
da Administração Pública. O conceito de “despesa com
pessoal” vem estabelecido pelo art. 18, da Lei
Complementar nº 101/00 in verbis: Art. 18. Para efeitos
desta Lei Complementar, entende-se como despesa total
com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação
com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a
mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis,
militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies
remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e
variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas
e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras
e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como
encargos e contribuições recolhidas pelo ente às entidades
de previdência. Constata-se que a norma legal não trouxe
em seu bojo a previsão da bolsa ou outra despesa dessa
natureza como dispêndio inerente à despesa com pessoal,
não devendo ser inserida na folha de pagamento e,
consequentemente, não causando quaisquer reflexos no
percentual a que se refere a alínea “a”, do inciso III, do art.
20, da Lei de Responsabilidade Fiscal. Há que se atentar,
ainda, para o fato de que o estagiário não pode substituir o
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servidor público, não se equiparando, portanto, aos


componentes do quadro de servidores. O estágio envolve
atividades vinculadas ao aprendizado e à habilitação ao
exercício futuro de uma profissão. Nesse contexto, assim
afirmou o Conselheiro Relator do Tribunal de Contas de
São Paulo, Dr. Edgard Camargo Rodrigues: [...] as
despesas com estagiários, realizadas mediante Convênio
celebrado entre o Consórcio Intemunicipal de Promoção
Social e a Legião Mirim de Bauru não caracterizam
substituição de servidores, não compondo, da mesma
forma, o cálculo de gastos do setor. (Processo TC
2385.026.00 – Publicado no DOE de 01.12.2005).
Constatada a situação especial do estágio e a
impossibilidade de considerar as despesas com estagiários
como despesa de pessoal, há que se apurar sua correta
apropriação, na medida em que tais gastos devem ser
computados em determinado elemento de despesa para
fins contábeis. As despesas com estagiários podem ser
observadas nas disposições da Portaria Interministerial
STN/SOF nº 163, de 04 de maio de 2001, que dispõe sobre
normas gerais de consolidação das Contas Públicas no
âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A
Portaria foi elaborada pela Secretaria do Tesouro Nacional
do Ministério da Fazenda e pela Secretaria do Orçamento
Federal do Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão e seu intuito foi uniformizar os procedimentos de
execução orçamentária. De acordo com a Portaria, os
gastos com estagiários devem ser enquadrados nos
elementos de despesa referentes a “Outros Serviços de
Terceiros – Pessoa Física”, cujo conceito é importante no
esclarecimento da questão suscitada: 36 – Outros Serviços
de Terceiros – Pessoa Física Despesas decorrete de
serviços prestados por pessoa física pagos diretamente a
esta e não enquadrados nos elementos de despesa
específicos, tais como: remuneração de serviços de
natureza eventual, prestado por pessoa física sem vínculo
empregatício; estagiários, monitores diretamente
contratados; diárias a colaboradores eventuais; locação de
imóveis; salários de internos nas penitenciárias; e outras
despesas pagas diretamente à pessoa física. (g.n.)
CONCLUSÃO Desse modo, considerando os preceitos
constitucionais e legais aplicáveis ao presente caso e a
fundamentação exposta, opina-se para, no mérito,
responder ao questionado no sentido de que as despesas
inerentes ao financiamento de bolsas de estágio devem
compor o elemento de despesa nº 36, por força do contido
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na Portaria Interministerial nº 163/01, e, por consequinte,


devem integrar o percentual de despesa com serviços de
terceiros a que se refere o artigo 72 da Lei de
Responsabilidade Fiscal. É o entendimento.”

Composição Plenária

Presentes à sessão plenária da apreciação os Senhores Conselheiros Sebastião


Carlos Ranna de Macedo, Presidente, Rodrigo Flávio Freire Farias Chamoun,
Relator, Sérgio Aboudib Ferreira Pinto, José Antônio Almeida Pimentel,
Domingos Augusto Taufner e os Conselheiros em substituição Marco Antonio da
Silva e Eduardo Perez. Presente, ainda, o Dr. Luciano Vieira, Procurador
Especial de Contas em substituição ao Procurador-Geral do Ministério Público
Especial de Contas.

Sala das Sessões, 16 de abril de 2013.

CONSELHEIRO SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO


Presidente

CONSELHEIRO RODRIGO FLÁVIO FREIRE FARIAS CHAMOUN


Relator

CONSELHEIRO SÉRGIO ABOUDIB FERREIRA PINTO


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CONSELHEIRO JOSÉ ANTÔNIO ALMEIDA PIMENTEL

CONSELHEIRO DOMINGOS AUGUSTO TAUFNER

CONSELHEIRO MARCO ANTONIO DA SILVA


Em substituição

CONSELHEIRO EDUARDO PEREZ


Em substituição

DR. LUCIANO VIEIRA


Procurador Especial de Contas em substituição ao Procurador-Geral

Lido na sessão do dia:

SERGIO JOÃO FERREIRA LIEVORE


Secretário-Geral das Sessões “ad doc”

Este texto não substitui o publicado no DOE 15.7.2013

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