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FREI LUÍS DE SOUSA DE ALMEIDA GARRET

Características do Drama Romântico

 Texto em prosa
 Divisão em três atos
 Temas românticos
a autenticidade e a intensidade dos sentimentos (a força do amor
o individualismo: o confronto “eu”
a morte como libertação
a identidade e os valores nacionais (nacionalismo, patriotismo e sebastianismo)
a História e a cultura de Portugal (temas e figuras do imaginário coletivo)
a religiosidade
o mito do escritor romântico

Características da tragédia clássica

Tragédia: género teatral, cuja ação se caracteriza por ter um desfecho funesto.

 Carácter elevado
 Certa extensão
 Linguagem ornamentada
 Suscita o terror e a piedade
 Índole trágica “pela índole há de ficar pertencendo sempre ao antigo género trágico”
 Ação simples “há toda a simplicidade de uma fábula trágica antiga”
 Existência de poucas personagens “uma ação que se passa entre pai, mãe e filha, um
frade, um escudeiro velho”

Elementos da ação trágica:

Ananké: a ação do destino implacável


Hybris: atos de desafio relativamente ao poder dos deuses
Pathos: o sofrimento intenso em consequência do destino inicial
Clímax: o ponto alto da ação
Anagnórise: o reconhecimento de uma personagem ou desafio
Catástrofe: o desenlace trágico
Catarse: o sentimento de terror e piedade que o destino trágico das personagens inspira no
espectador
Peripécia: as peripécias da ação
Ágon: os dilemas vivenciados pelo protagonista

A dimensão trágica

 Ação simples e concentrada


 Número reduzido de personagens, de estatuto nobre (social e/ou moral)
 Presença de elementos da tragédia clássica: Ananké (destino); Hybris (desafio); Pathos
(sofrimento); Clímax; Anagnórise (reconhecimento); Catástrofe (desenlace fatal)
 Concentração no tempo
A ação reporta-se no final do século XVI (1599)
Ato I (1578): Batalha de Alcácer Quibir e Desaparecimento de D.João de Portugal (7 anos)
Cena II Ato I (1585): Casamento de Madalena e Manuel (14 anos) e 1599, 4 agosto: Chegada
do Romeiro

 Concentração no espaço (Almada)


Ato I: Palácio Manuel de Sousa Coutinho (Espaço aberto, luminoso, elegante e luxuoso)
Ato II: Palácio de D.João de Portugal (Espaço fechado, antigo, melancólico)
Ato III: Parte baixa do palácio de D.João
Igreja de São Paulo (Espaço austero, escuro, opressivo)

 Indícios trágicos:
Simbologia dos números sete a três
Sebastianismo
Agouros e presságios
Os retratos de Manuel e de D.João de Portugal
A história dos Condes de Vimioso
A doença de Maria

A dimensão patriótica e a sua expressão simbólica

 Patriotismo: a ação de Manuel Sousa Coutinho e o incêndio ateado ao próprio palácio


como forma de resistência ao domínio espanhol
 Recurso a figuras com valor simbólico: D.Sebastião, associado à esperança de
recuperação da independência; Camões associado à grandeza pátria; D.João de Portugal,
associado ao passado (familiar e nacional)
 Sebastianismo: a crença no regresso de D.Sebastião e de D.João de Portugal,
simbolicamente ligados ao Portugal passado, cujo regresso se deseja, mas impossível de
recuperar num presente em crise identitária

O Sebastianismo: História e ficção

 Factos históricos: batalha de Alcácer Quibir (1578) e desaparecimento de D.Sebastião;


perda da independência nacional e União Ibérica em 1580; desenvolvimento de crenças
populares associadas ao regresso do rei
 Ficção: o desaparecimento de D.João de Portugal na batalha de Alcácer Quibir; as buscas
de Madalena pelo Marido, durante sete anos; as crenças sebastianistas de Telmo; ligadas
ao desejo de retorno do primeiro amo, e de Maria
 A exploração de temática do sebastianismo na perspetiva do “antiregresso”: a figura
desejada que regressa (D.João), mas que não encontra lugar no presente e conduz à
catástrofe.
Estrutura da obra

Estrutura externa
Ato I
12 cenas
Palácio de Manuel de Sousa Coutinho

Cenas I a IV Cenas V a VIII Cenas IX a XII

Informações sobre o passado Anúncio dos governadores, Incêndio do palácio de


das personagens e os decisão de Manuel de Sousa Manuel de Sousa Coutinho,
antecedentes da ação. Coutinho e preparação do pelo próprio
incêndio

Ato II
15 cenas
Palácio de D.João de Portugal

Cenas I a III Cenas IV-X Cenas XI-XV

Informações sobre os Deslocação de Manuel de Chegada do Romeiro e


acontecimentos ocorridos Sousa Coutinho e Maria a momento do reconhecimento
desde o incêndio até ao Lisboa e permanência de
presente da ação Madalena no palácio com
Frei Jorge

Ato III
12 cenas
Parte baixa do palácio de D.João de Portugal
Cena I Cena II a IX Cenas X a XII

Informações sobre os Apresentação da catástrofe:


acontecimentos ocorridos morte física de Maria e moral
desde o final do ato anterior Movimentação das dos pais (tomada de hábito
e sobre a solução encontrada personagens adultas por Manuel de Sousa
pelos esposos: professar Coutinho e Madalena)
(ingressar numa ordem
religiosa)

Estrutura interna

Exposição Conflito Desenlace

Ato I, cenas I a IV Ato I, cenas V a XIII Ato III, cenas X a XII


Ato II, cenas I a XV
Ato III, cenas I a IX
Atos: mudança de espaço
Cenas: entrada ou saída
Ato Primeiro: Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, 27 julho 1599

 Cena I- Monólogo de Madalena

Assunto: Monólogo de Madalena, em que esta estabelece uma comparação entre a sua vida
(desditosa) e a relação amorosa infeliz e trágica de Inês de Castro e D.Pedro.

Madalena lê os Lusíadas (marca de cultura e nacionalismo), no episódio de Inês de Castro.


Compara-se a Inês mas sente-se infeliz porque os terrores contínuos, os medos não a deixam
viver um único instante de felicidade, nem sequer breve… A linguagem e emotiva

Estrutura do monólogo:
1 º parte (“… pode-se morrer.”): D.Madalena abandona a leitura d’Os Lusíadas e mostra-se
confusa na ideia de felicidade que bebeu no texto.
2º parte (“Mas eu…”): D.Madalena reflete sobre a sua situação e releva o seu estado de espírito,
marcado pela angústia, pelo medo e “contínuos terrores”.
O “mas” marca a divisão entre os dois momentos da cena, que possui um valor de oposição,
contraste

Estado de espírito de Madalena:


Melancólica
Sonhadora
Sofredora
Infeliz
Insegura
Preocupada
Angustiada
Frágil
Sensível,
Sentimental
Emocionalmente instável.

Causas do estado de espírito: Deve-se ao receio de que o seu primeiro marido ainda esteja vivo
e regresse, cobrindo-se e à família de vergonha

Recursos Expressivos:
Pontuação
Enumeração (“… o estado em que eu vivo… este medo, estes contínuos terrores, que ainda não
me deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade…”
Antítese (“que felicidade… que desgraça”)

 Cena II- Madalena e Telmo

Assunto: Apresentação das personagens principais, a qual resulta de um propósito de D.


Madalena- pedir a Telmo que não inspire no espírito de Maria as suas crenças e agouros sobre
uma desgraça iminente a cair sobre a sua família.

Telmo, conversa com Madalena e aflige-a com recordações do passado. Nesta cena, todas as
personagens são apresentadas:
- Manuel de Sousa Coutinho surge desvalorizado em relação a D. João de Portugal.
- Maria é sempre caracterizada positivamente: curiosa, compreende tudo, formosa, bondosa,
viveza de espírito.
- Telmo é um escudeiro valido e fiel, familiar quase parente… Cheio de agoiros e pressentimentos

Estrutura-se nesta cena, uma analepse, onde as personagens recuam 21 anos: batalha de
Alcácer Quibir (1578), mais de sete anos de busca (1585) - 2º casamento de Madalena,
nascimento de Maria mais um ano (1599: presente da ação)

Telmo confessa-se um crente no regresso de D. João (sebastianismo) e justifica a sua


credulidade pelas palavras de uma carta escrita por D. João, onde esta garantia que “vivo ou
morto” haverei de voltar.

Madalena pede a Telmo que não fale com Maria em assuntos relacionados com a batalha e D.
Sebastião e ele promete que o fará.

Madalena está preocupada com a demora de Manuel de Sousa Coutinho que foi a Lisboa, é tarde
e não aparece. Pede a Telmo que vá saber notícias junto de Frei Jorge.

Caracterização das personagens:

D.Madalena
- Nobre, a designação dona só se dava na época as senhoras da aristocracia
- Receosa e hesitante no que quer dizer a Telmo
- Casou muito jovem com D.João de Portugal
- Enviuvou com 17 anos
- Vive constantemente atormentada e aterrorizada pelo passado e pelos agouros de Telmo, que
lhe mantém esse passado bem vivo, ou seja, a dúvida de que D.João não morreu e pode voltar a
qualquer momento, o que destruiria o seu casamento e tornaria Maria uma filha ilegítima, por isso
não consegue ser feliz, já que não se consegue libertar desse medo; não amou D.João mas
respeitou o sempre
- É profundamente apaixonado por Manuel de Sousa Coutinho
- Sente-se vítima do destino

Telmo Pais
- Não possui nobreza de sangue, mas está intimamente ligada à aristocracia pelo Modesto título
de escudeiro
- Manifesto ideias reformistas ao condenar o uso do latim na bíblia
- Possui grande ascendente sobre Maria e D.Madalena
- É o confidente de D.Madalena, a quem reprova o segundo casamento

Maria
- Nobre
- O seu nome evoca o da virgem Maria: é pura e Angélica

Relação Telmo vs Madalena:


- O escudeiro apresenta-se mais como um elemento da família D.Madalena do que enquanto
mero aio, graças aos longos anos passados ao serviço da família (primeiro de D.João I depois de
Manuel de Sousa Coutinho)
- Quando ela enviuvou aos 17 anos, foi o seu amparo e quase um pai, daí a liberdade que goza
quando lida com D.Madalena
Relação Telmo vs Manuel de Sousa:
- Telmo manifesta grande respeito e admiração por Manuel de Sousa, cujas qualidades elenca e
elogia, mas não lhe dedico a mesma consideração e estima que nutria por D.João de Portugal,
visto que considera que não é digno de ocupar o lugar do seu antigo amo.
Tempo:
Ação: 28 de julho de 1599, fim da tarde de uma sexta-feira
Histórico: a existência de peste em Lisboa, a discórdia entre portugueses e castelhanos e as
várias referências à batalha de Alcácer Quibir

 Cena III- Madalena, Telmo e Maria

Assunto: o possível regresso de D.Sebastião

Maria evidencia a sua cultura e gosto pela leitura. pede a Telmo livro da ilha encoberta… mostra-
se um crente no sebastianismo.

Madalena tenta levar a filha a não acreditar nem em fantasmas nem fantasias do povo.

Esboça-se um pequeno conflito de Maria com o pai e com a mãe, pois ambos não aceitam ouvir
falar do regresso de D.Sebastião. Tal causa estranheza em Maria.~

Visão de Maria sobre D.Sebastião:


- Para Maria, D. Sebastião é um herói por quem nutria grande admiração e em quem deposita
todas as esperanças para resgatar Portugal das garras do domínio castelhano “o nosso bravo rei”;
“o nosso Santo rei D.Sebastião”.

 Cena IV- Madalena e Maria

Maria não consegue entender nem compreender a perturbação e preocupação dos pais com ela.

D. Madalena não pode revelar a causa das suas preocupações.

Sem querer, Maria martiriza a mãe, afirmando que lê nos olhos, nas estrelas e sabe muitas
coisas, mostrando-se portadora de uma forte imaginação.

Madalena não responde às questões da filha e tenta desviar de Maria, pede-lhe que fale do seu
Jardim:
- As flores simbolizam a brevidade da vida
- As flores de Maria murcharam. Não serão presságio da sua morte?

 Cena V- Jorge, Madalena, Maria

Assunto: Notícias trazidas por Frei Jorge (confidente de Maria)


Saída dos governadores de Lisboa
Intenção de se hospedarem na casa de Manuel Sousa Coutinho e D.Madalena
Entre 1598 e 1602, houve uma pesca em Lisboa.
Frei Jorge traz a notícia de que os governadores saíram de Lisboa e querem vir hospedar-se na
casa de Manuel de Sousa Coutinho, a notícia é dada progressivamente. As notícias dadas por
Frei Jorge contribuem diretamente para o desenvolvimento do conflito

De facto, os governadores tencionam sair de Lisboa, para fugir à peste, e instalar-se em Almada
na casa de Manuel de Sousa Coutinho e de D.Madalena.

Maria Madalena reagem de formas distintas:


- Maria mostra-se entusiasmada, dá largas à sua imaginação, idealismo e patriotismo
- Madalena revela alguma ingenuidade, é individualista e não revela qualquer sentido patriótico

Novos sinais da doença de Maria: ouve a voz do pai e percebe que vai afrontado.

 Cena VI- Jorge, Madalena, Maria e Miranda

Miranda anuncia a Chegada de Manuel de Sousa Coutinho (confirmação dos sinais da doença de
Maria)

Madalena e Frei Jorge ficam preocupados e destacam a agudeza do ouvido de Maria. Chamam-
lhe “Terrível sinal”.

 Cena VII- Jorge, Madalena, Maria, Miranda e Manuel de Sousa Coutinho

Assunto: É noite fechada. Chegada de Manuel de Sousa Coutinho, num tom precipitado e
agitado, com a decisão de partir com a família para o Palácio de D.João, em virtude dos
governadores castelhanos quererem hospedar-se no seu Palácio.

Manuel de Sousa entra num tom precipitado e agitado, dando ordens aos seus criados. algo
estranho se passa e Madalena preocupa-se.

Manuel de Sousa usa o seu latim nas suas falas- personagem culta= estatuto elevado

Manuel de Sousa confirma as notícias trazidas por Frei Jorge na cena V e anuncia que é preciso
sair imediatamente daquela casa.

Face a este anúncio, Maria reage de forma eufórica intensa e Patriótica; Madalena fica assustada
e tenta contrariar Manuel

 Cena VIII- Madalena e Manuel de Sousa

Assunto: Diálogo entre Madalena e Manuel de Sousa, durante o qual aquela o tenta demover da
decisão de se mudarem para o Palácio de D.João e este se mostra inabalável.

Nesta cena contrasta a linguagem Serena e decidida de Manuel de Sousa com a linguagem
emotiva, hesitante e assustada de Madalena.

Manuel mostra-se um herói clássico, racional, o homem presente, o patriota, de consciência


limpa, nada teme e para ele não há razões que justifiquem não mudar para o Palácio que fora de
D.João.
Madalena age pelo coração, é modelo da heroína romântica, assustada, ligada ao passado cheia
de pressentimentos e crendo que vai morrer, infeliz, naquela casa.

Manuel de Sousa tenta chamá-lo à razão e pede lhe que atente na sua condição social, ou a judia
põe neste momento um decisivo da sua vida.

A mudança para o Palácio de D.João de Portugal é o regresso ao passado.

 Cena IX e X- Manuel de Sousa, Madalena, Telmo, Miranda, Jorge, Maria e criados

Assunto: Telmo traz a notícia da súbita chegada dos governadores de Lisboa.

Telmo informa que os governadores desembarcaram.

Manuel de Sousa a pressa ainda a mais a saída da casa e a mudança para o Palácio de D.João.

Manuel pede a frei Jorge e a Telmo que levem Maria e Madalena

 Cena XI- Quase monólogo. Manuel de Sousa, Miranda e outros criados

Assunto: Manuel refere o acontecido com o seu pai e põe a hipótese de lhe acontecer algo
semelhante. É uma prolepse ou antecipação da desgraça que irá acontecer.

Manuel de Sousa mostra-se um homem de valores intensos.

Para ele, nada perdura, tudo muda, a vida é uma constante e eterna mudança, tudo é aparência…

 Cena XII- Manuel de Sousa e criados, Madalena, Maria, Telma e Jorge

Assunto: Concretiza-se o incêndio, feito por Manuel de Sousa

Na impossibilidade de salvar o Palácio, Madalena pede desesperadamente que lhe salvem o


retrato do seu atual marido /prolepse / antecipação da separação…

Ato Segundo: Palácio de D.João de Portugal, 4 de agosto de 1599

 Cena I- Maria e Telmo

- ambiente pesado e melancólico

Assunto: Informações sobre o que se passou depois do incêndio do Palácio de Manuel de Sousa
Coutinho

Maria pretende conversar com Telmo, para que este lhe revele a identidade do retrato que tanta
assustava a mãe.
O incêndio do Palácio provocou impressões diferentes entre Maria e Madalena, Maria ficou
fascinada, encontrou nele alimento para a usa fértil imaginação;

Madalena ficou doente, aterrorizada, cheia de pesadelos, liga o incêndio à perda do marido, de
que a destruição do retrato é um prognóstico fatal.

Tal como no ato I, Maria agora cita o início de um livro trágico (pressentimento de fatalidade).

Na sala dos retratos, onde Maria conversava com Telmo, há 3 retratos que a fascina. Ela conheçe
2, mas quer confirmar o de D.João de Portugal. Em analepse, recorda o que ocorreu 8 dias antes
e que tanto perturbou a mãe, deixando-a doente.

As atitudes estranhas da mãe perante o retrato deixaram Maria curiosa.

Telmo alterou a sua posição face Manuel de Sousa Coutinho depois do incêndio: antes admitia as
suas qualidades, mas não o admirava; agora admira o pelo seu patriotismo e lealdade.

Quando Maria questiona Telmo sobre a identidade do retrato, este não responde.

 Cena II- Maria, Manuel de Sousa e Telmo

Assunto: Manuel de Sousa Coutinho revela a Maria a identidade do retrato, que era de D.João de
Portugal e aconselha a filha a dedicar-se mais a atividades próprias da sua idade.

Manuel de Sousa refere-se a D.João, tal como fizera na cena VIII do acto I: admire as suas
qualidades e não tem ciúmes.

Manuel de Sousa cheia encoberto com uma capa, pois anda escondido a 8 dias dos
governadores.

Maria confessa ao pai as suas capacidades intuitivas: já sabia a identidade do retrato sem
ninguém lhe ter dito; era de um saber “cá de dentro”.

 Cena III- Manuel de Sousa e Maria

Assunto: Pai e filha conversam sobre a vida e confessa que com aquela capa que parece um
frade. Novo indício de fatalidade.

Acentuam-se as relações familiares: D.Madalena sempre respeitou D.João, mas nunca o amou;
amou e ama Manuel de Sousa

Maria não controla as emoções, diante do retrato de D.João: admira o pela sua coragem e liga o
ao seu rei, mas ama os seus pais

Nesta cena, Manuel é meigo, carinhoso e afetivo para com a filha.

 Cena IV- Maria, Manuel de Sousa e Frei Jorge


Caracterização das personagens principais
Madalena de Vilhena

- Romântica e sentimental, vive o amor por Manuel de Sousa de forma intensa


- Simbolicamente ligada à figura bíblica com o mesmo nome
- Dedicada e zelosa do bem-estar da filha, a quem tenta proteger de quaisquer influências
perturbadoras
- Associada ao amor trágico, através da aproximação a Inês de Castro (Ato I, cena I)
- Vulnerável e dominada pelas lembranças do passado, pelo remorso (de ter amado Manuel
ainda em vida de D. João), pela culpa e pelo sentido de dever, que a impedem de ser
plenamente feliz
- Dominada pela angústia e pelos temores constantes
- Crente em pressentimentos e agouros, que a atormentam
Manuel de Sousa Coutinho

- Cavaleiro da Ordem de Malta, modelo de homem bondoso e culto


- Racional, objetivo e decidido
- Bom marido e pai extremoso
- Honrado e seguro, indiferente aos temores de Madalena em relação ao seu primeiro
casamento, respeitador da memória de D. João de Portugal
- Corajoso, destemida e determinado
- Patriota orgulhoso e empenhado na defesa dos valores nacionais
- Desapegado dos bens materiais
- Insensível aos pressentimentos e agouros de Madalena e Maria
- Determinado pelo sentido de honra e de dever
- Resignada à culpa e ao castigo, depois do regresso D. João de Portugal

Personagens

D. Madalena de Vilhena

• Nobre: família e sangue dos Vilhenas (I,8)


• Sentimental: deixa-se arrastar pelos sentimentos muito mais do que
pela razão
• Pecadora
• Torturada pelo remorso do passado: não chega a viver o presente
por impossibilidade de abandonar o passado
• Redimida pela purificação no convento: saída romântica para
solução de conflitos
• Modelo da mulher romântica: para os românticos, a mulher ou é
anjo ou é diabo
• Personagem modelada: profundidade psicológica evidente;
capacidade de gerir conflitos (I,7)
• Marcada pelo destino: amor fatal
• Apesar de ser uma heroína romântica, D. Madalena não luta por
nenhuma ordem de valores superiores, nem por nenhum idealismo
generoso, pois nela não se evidencia de forma particular a luta por
qualquer ideal
• O que nela transparece acima de tudo é a sua natureza feminina, o
seu amor de mulher a que prioritariamente se entrega, pois há nela
um conceito ou um desejo de felicidade que assenta numa vida
objetiva, concreta à dimensão humana
• De qualquer modo, D. Madalena é uma personagem que se impõe à
compreensão, à estima e à simpatia do leitor, talvez pela
espontaneidade com que vive a sua vida sentimental e moral.
Embora procure no segundo casamento uma proteção para a sua
instabilidade, mantém sempre uma integridade moral em relação à
sua própria condição e até uma dignidade de classe que
naturalmente a impõe
• Marcas psicológicas: angústia, remorso, inquietação, insegurança,
amor, medo e horror à solidão e é uma personagem
tendencialmente modelada porque apresenta bastante densidade
psicológica

Manuel de Sousa Coutinho

• Nobre: cavaleiro de Malta (só os nobres é que ingressavam nessa


ordem religiosa) (I,2 e 4)
• Racional: deixa-se conduzir pela razão no que contrasta com a sua
mulher
• Bom marido e pai terno (I,4; II,7)
• Corajoso, audaz e decidido (I,7, 8, 9, 10, 11, 12; III, 8)
• Marcado pelo destino (I, 11; II, 3 e 8)
• Encarna o mito romântico do escritor: refúgio no convento, que lhe
proporciona o isolamento necessário à escrita
• Até à vinda do romeiro, representa o herói clássico racional,
equilibrado e sereno. A razão domina os sentimentos pela ação da
vontade
• Tem como ideal de vida o culto pela honra, pelo dever, pela nobreza
de ações (daí o seu nacionalismo e o incêndio do palácio) • Porém, no
início do ato III, após o aparecimento do romeiro, Manuel de Sousa
perde a serenidade e o equilíbrio clássico que sempre teve e adquire
características românticas. A razão deixa de lhe disciplinar os seus
sentimentos, e estes manifestam-se com descontrolada violência.
Exemplos:
o Revela sentimentos contraditórios (deseja simultaneamente a
morte e a vida da filha)
o Utiliza um vocabulário trágico e repetitivo, próprio do código
romântico (“desgraça”, “vergonha”, “escárnio”, “desonra”,
“sepultura”, “infâmia”, etc.)
o Opta por atitudes extremas (a ida para o convento) como
solução para uma situação socialmente condenável
o Ao optar por esta atitude, encarna o mito do escritor romântico,
como um ser de exceção, que se refugia na solidão para se
dedicar à escrita
• Embora esteja ausente, de uma forma expressa, de todo o mito
sebastianista que atravessa o drama, Manuel de Sousa insere-se
nele pela defesa dos valores nacionalistas

D. João de Portugal:

• Nobre: família dos Vimiosos (I,2)


• Cavaleiro: combate com o seu rei em Alcácer Quibir (II,2)
• Ama a pátria e o seu Rei
• Representante da época de oiro portuguesa
• Imagem da Pátria cativa
• Ligado à lenda de D. Sebastião (I,2)
• D. João é uma personagem dupla. Por um lado, é uma personagem
abstrata porque só por si não participa no conflito. Por outro, é uma
personagem concreta, porque mesmo ausente ele é a força
desencadeadora de toda a energia dramática da peça,
permanecendo permanentemente em cena através das outras
personagens (através das evocações de Madalena, das convicções
de Telmo, do Sebastianismo de Maria, das crenças, dos agouros e
dos sinais)
• Porém, uma vez que a sua figura se concretiza em cena (a partir do
fim do II ato, é como se toda a sua força simbólica se esgotasse
pois que a personagem carece de força e de convicção para poder
existir. De tal modo é assim que no final da peça ninguém se
compadece dele como marido ultrajado, mas das outras
personagens trágicas.
• D. João é assim uma personagem simbólica que movimenta todas
as outras personagens. Simboliza a fatalidade, a força do Destino
que atua inexoravelmente sobre as outras personagens, levando a
ação a um desfecho trágico.

D. Maria de Noronha

• Nobre: sangue dos Vilhenas e dos Sousas (I,2)


• Precocemente desenvolvida, fisica e psicologicamente (I,2, 3 e 6)
• Doente: tuberculose, a doença dos românticos
• Culto de Camões: evoca constantemente o passado (II,1) •
Culto de D. Sebastião: martiriza a mãe involuntariamente (II,1) •
Poderosa intuição e dotada do dom da profecia (I,4; II,3; III,12) •
Marcada pelo Destino: a fatalidade atinge-a e destrói-a (III,12) •
Modelo da mulher romântica: a mulher-anjo bom
• A ameaça que percorre o texto é-lhe essencialmente dirigida, razão
pela qual se torna vítima inocente e consequentemente heroína.
Quer atuando, quer através das falas das outras personagens,
Maria está sempre em cena, tornando-se assim o núcleo de
construção de toda a peça.
• Maria não nos aparece nunca como uma personagem real pois a
sua figura é altamente idealizada. Como consequência dessa
idealização, Maria não tem uma dimensão psicológica real, porque
é simultaneamente criança e adulto, não se impondo com nenhum
destes estatutos.
• Maria apresenta algumas marcas de personalidade romântica:
o É intuitiva e sentimental
o É idealista e fantasiosa, acreditando em crenças, sonhos,
profecias, agoiros, etc.
o Tem capacidade de desafiar as convenções pois ama a
aventura e a glória
o Tem o culto do nacionalismo, do patriotismo e do
Sebastianismo
o Apresenta uma fragilidade física em contraste com uma intensa
força interior (é destemida)
o Morre como vítima inocente

Telmo Pais

• Não nobre: escudeiro


• Ligado sempre à nobreza
• Confidente de D. Madalena
• Elo de ligação das famílias
• Chama viva do passado: alimenta os terrores de D. Madalena •
Desempenha três funções do coro das tragédias clássicas: diálogo,
comentário e profecia
• Ligado à lenda romântica sobre Camões
• Telmo tem como que uma dupla personalidade (uma personalidade
convencional e outra autêntica). A personalidade convencional é a
imagem com que Telmo se construiu para os outros, através dos
tempos (a do escudeiro fiel). A personalidade autêntica é a sua
parte secreta, aquela que ele próprio não conhecia, e que veio à
superfície num momento trágico da revelação em que Telmo teve
que decidir entre a fidelidade a D. João de Portugal ou a fidelidade a
Maria.
• Telmo vive assim um drama inconciliável entre o passado a que
quer ser fiel e o presente marcado pelo seu amor a Maria. É este
drama da unidade/fragmentação do “eu”, ou seja, este espetáculo
da própria mudança feito em cena que é uma novidade e uma nota
de modernidade no teatro de Garrett.
• Claro que esta autorrevelação é provocada por uma acontecimento
externo que é o Destino, sem a atuação do qual esta revelação não
se teria dado.

Frei Jorge

• É confidente e conselheiro e à semelhança do coro clássico, faz


comentários aos factos
• Pressente o desenlace trágico, contribuindo assim para que os
acontecimentos sejam suavizados por uma perspetiva cristã

Espaço
Palácio de Manuel de Sousa Coutinho: moderno, luxuoso, aberto
para o exterior: Lisboa

Palácio de D. João de Portugal: salão antigo,


melancólico

Sala dos retratos

Parte baixa do palácio de D.


João de Portugal

Capela
Tempo
Tempo da ação Tempo simbólico

Ato I • Visão de Manuel de Sousa Coutinho pela


primeira vez, à sexta-feira
28/07/1599 • Alcácer-Quibir
04/08/1578
Sexta-feira Sexta-feira

Fim da tarde • Casamento com Manuel de Sousa


Coutinho: 7 anos depois da batalha
Noite Sexta-feira

Ato II
• Regresso de D. João de Portugal no 21º
04/08/1599 aniversário da batalha
04/08/1599
Sexta-feira Sexta-feira

Tarde

Ato III

04/08/1599

Sexta-feira

Alta noite

Integração da obra na lei das três unidades


Ação • Os acontecimentos encadeiam-se extrinseca e intrinsecamente
• Nada está deslocado nem pode ser suprimido
• O conflito aumenta progressivamente provocando um sofrimento cada vez
mais atroz
• A catástrofe é o desenlace esperado
• A verosimilhança é perfeita
• A unidade da ação é superiormente conseguida

Tempo 1599 Julho Agosto

6ª feira,
Sábado,
Domingo,
2ª,
3ª,
4ª,
5ª,
6ª,
28
29
30
31
1
2
3
4

Ato I
Ato II

Fim da tarde
Tarde

Noite
Ato
III

Alta
noite
uma semana

• Não respeita a duração de 24 horas


• A condensação do tempo é evidente e torna-se um facto trágico • O
afunilamento do tempo é evidente: 21 anos, 14 anos, 7 anos, tarde noite,
amanhecer
• Uma semana justifica-se pela necessidade de distanciamento do
acontecimento do ato I e da passagem a primeiro plano dos referentes
ao regresso de D. João de Portugal
• O simbolismo do tempo: a sexta-feira fatal: II,10 – o regresso de D. João de
Portugal faz-se no 21º aniversário da batalha de Alcácer-Quibir (sexta-
feira); morte de D. Sebastião (sexta-feira); visão de D. Manuel pela 1ª vez
(sexta feira)

Espaço Espaço físico: Almada

Ato I: Palácio de Manuel de Sousa Coutinho: luxo, grandes janelas sobre o


Tejo – felicidade aparente
Ato II: Palácio de D. João de Portugal: melancólico, pesado, escuro – peso
da fatalidade, a desgraça
Ato III: Parte baixa do palácio de D. João: casarão sem ornato algum – abandono
dos bens deste mundo. A cruz: elemento conotador de morte e de esperança.

Marcas clássicas na obra

• A nível formal divide-se em três atos conforme a tragédia clássica •


Apresenta um reduzido número de personagens e estas são nobres
de condição social e de sentimentos
• A ação desenvolve-se de forma trágica, apresentando todos os
passos da tragédia antiga (o desafio, o sofrimento, o combate, o
conflito, o destino, a peripécia, o reconhecimento, o clímax e a
catástrofe)
• O coro da tragédia clássica não existe mas está representado, de
forma esporádica, nas personagens Telmo e Frei Jorge
Marcas românticas na obra

• A crença no Sebastianismo
• O patriotismo e o nacionalismo – tais sentimentos estão bem
patentes no comportamento de Manuel de Sousa Coutinho e no
idealismo de Maria
• As crenças – Agoiros, superstições, as visões e os sonhos, bem
evidentes em Madalena, Telmo e Maria
• A religiosidade – A permanente referência ao cristianismo e ao culto
• O individualismo
• O tema da morte

Caráter inovador de Frei Luís de Sousa

1. A reestruturação e modernização do teatro nacional a nível do


conteúdo e da forma. A peça é atual mas é enraizada nos valores
nacionais.
2. A linguagem é simples, coloquial, emotiva, adaptada a todas as
circunstâncias.
3. O gosto pela realidade quotidiana:
a. Descrição de espaços concretos (casa, ambientes,
decorações)
b. Descrição de relações familiares (marido-mulher, pai-filha, tio
sobrinha, etc.)
c. Descrição de ações do quotidiano (ler, escrever, passear,
dormir, etc.)
d. Preocupações que revelam a vida privada das personagens
(doença, visitas, etc.)

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