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CULTURA E DIGITAL
27 de junho 2019
Literacia e Inclusão
Hoje não podemos entender a literacia sem a entender no sentido global – e ela implica,
naturalmente, a literacia digital, a literacia informática, a literacia da Web, a literacia da
Informação. Quando falamos de literacia, falamos obviamente de inclusão.
Esta alfabetização digital para a e-literacia obriga a uma atenção especial das políticas
educativas para uma Educação para os Media, atribuindo-lhe o peso e a importância
que os media têm na vida das pessoas nas suas múltiplas plataformas comunicacionais,
que hoje, como sabemos, substituem na maior parte das vezes o papel personalizado
das relações interpessoais.
É certo que os jovens, em particular as crianças, lidam com a comunicação digital como
se fosse uma língua nova – assimilam-na sem qualquer dificuldade, parece que já
nasceram com os polegares em riste. Mas não é disso que falo; refiro-me aos desafios
que advêm da perceção do mundo através da máquina; da solidão na descoberta; do
bloqueio no impulso natural da comunicação direta entre corpos, do rompimento da
socialização.
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c) a Educação para os Média deve ser uma disciplina de conteúdo cívico, filosófico
e humanístico.
d) E devemos acompanhar com naturalidade as alterações discursivas e semióticas
que necessariamente decorrem das mudanças de meios e instrumentos de
comunicação e adaptarmos-mos a elas, imprimindo – enquanto sociedade
responsável - os mecanismos preventivos indispensáveis a um desenvolvimento
inter-relacional saudável.
O que podia ter sido um passo importante para uma libertação gradual dos
trabalhadores, tornou-se numa espiral de hiperatividade laboral, de competitividade, de
inquietação e permanente insatisfação pessoal perante a magnitude de possibilidades
que se colocam a um empreendedorismo desembargado, nas mãos dum mundo
globalizado e disponível na net.
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Hermínio Martins e José Luis Garcia em Cultura e Digital em Portugal (2016) Edições Afrontamento
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Byung-Chul Han, citado por Pinto Ribeiro em “Paradoxos da Oferta Cultural”
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O tempo que poupamos com a plêiade de artifícios digitais como as smart TV, os tablets,
navegadores do automóvel, o frigorífico inteligente (que diz o que está em falta),
relógios de pulso (que informam sobre dados vitais e os últimos SMS)… todos louvados
e promovidos como promessa de permanente felicidade e tempo de lazer, esse tempo
é usado em…mais informação digital, que se acumula numa nova fila de novas tarefas
urgentes.
No Jornalismo
A produção e difusão cultural tem aqui uma nova janela de oportunidade extraordinária,
ou fica refém de uma nova tipologia de consumidores? Será uma janela de oportunidade
para as artes ou uma armadilha, porque encurralam a criatividade para a categoria de
“produto” (em linguagem económica) em vez de manterem a categoria de criação (em
linguagem artística)?
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No confronto entre o livro impresso e o livro digital, nasce o conceito do texto aberto,
em interface manipulável, permeável e hiperligações, versátil na sua relação com os
leitores versus a ideia do “texto fechado” no livro impresso.
Onde o livro impresso faz prevalecer o legível sobre o visível, o livro digital convoca os
leitores para uma reinvenção cognitiva aberta a outros modos de transmissão da
mensagem.
Mas o Arquivo intencional, baseado na seleção, esse arquivo morreu. Citando Maria
Augusta Babo: “Estamos na era do Arquivo. Este fenómeno, alargado a todas as áreas
humanas, acontecimentos, arte, documentos, arquitetura, ciências naturais, etc. pode
ser apelidado de “musealização geral da existência (…) o que parece estar a acontecer
com o digital é a criação de uma arquivo global, provocado por uma saturação total da
informação onde tudo se equivale, onde não há seleção possível.”
Importa, pois, saber o que fazer com todo este potencial imenso de memória, de saber.
Só deixa de ser potencial e passa a ser real quando atinge o seu objetivo: ser usado,
fruído, consultado, lido, comtemplado, assimilado por milhões de pessoas em todo o
mundo. É preciso também saber tirar partido dele e transformá-lo num acervo de valor
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Gabriela Canavilhas
Junho, 2019