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Na última aula ministrada, recebemos Giselle Souza que é mestranda do

PPGCOM/UFPA e pesquisadora do Grupo de Pesquisa Comunicação, Consumo e


Identidade (Consia/UFPA), que compartilhou um pouco de sua experiência com os
discentes do 6° semestre de Publicidade e Propaganda do CESUPA. Em seu relato,
Giselle conta que passou cerca de 15 anos trabalhando no mercado, mas mesmo
assim começou a fazer novas matérias e descobriu aos poucos que gostava de
estudar. O que mais motiva é descobrir uma paixão, investigar tal assunto, e disse
também que a pesquisa é trabalhosa, mas pode ser encantadora.
Em seu trabalho mais recente, o CONSIA enxerga o consumo em todas as
suas nuances, não apenas como troca de valor monetário, mas como uma das
possibilidades de espaços para questionamentos, vivências, debates e práticas
simbólicas que perpassam por estereótipos, marcadores sociais da diferença, ações
de divulgação de mercado, resistência e interações no tecido social da vida. As
linhas de pesquisa do grupo são definidas em quatro categorias, sendo elas:
● Processos Comunicacionais, Consumo e Sociabilidade: Envolve
pesquisas sobre aspectos de divulgação e de produção oriundos dos
processos comunicacionais envolvendo as práticas de sociabilidade e suas
apropriações e manifestações, por parte de instituições e sujeitos,
considerando as tangibilidades e intangibilidades do consumo;
● Comunicação, Consumo e Entretenimento: Compreende estudos que
percebam o entretenimento como cenário de consumo e de vivências de
experiências, (des)construções e (com)partilhamentos de significados
culturais, de materialidades e interações sociais;
● Comunicação, Consumo e Gênero: Engloba pesquisas que busquem
discutir a relação entre consumo e gênero, em perspectiva social, cultural,
econômico e política, em análise a práticas que articulam características de
identificações, de representações e de representatividades;
● Consumo e Cultura Material: A linha de pesquisa se propõe a analisar
estudos acerca do consumo a partir das relações entre os objetos e os
sujeitos e das experiências e das construções (i)materiais envolvendo o
simbólico e as sensibilidades que constituem o tecido da vida social.
As pesquisas feitas pelo grupo já abordaram muitos tópicos, como por exemplo:
aplicativos, como o grindr, drag queens, o sertanejo feminino, artigo sobre a BIA, a
IA (Inteligência Artificial) do Bradesco que sofreu assédio pelo aplicativo. E já em
2020, com o surgimento da pandemia, todo tipo de interação social acabou voltada
para o mundo virtual, e seguindo o mesmo ritmo, as pesquisas também foram
adaptadas a este meio, assim como teve de ser necessário buscar novas formas de
interações, revisões metodológicas, novos olhares aos problemas e objetos de
estudo e outras hipóteses. A pandemia causou uma intensa tecnologização da vida
social com interferências na sociabilidade, nas comunicações, na economia, no
processo de (des)informação e da própria cultura das mídias. A partir disso, muitas
coisas não voltarão mais ser como eram antes, em todos os âmbitos, pois não
passamos pela pandemia de forma ilesa.
No CONSIA a abertura para falar sobre quaisquer assuntos é grande, têm
passe livre para falar sobre o que sabem e não sabem, pedem ajuda, e todos os
pesquisadores se ajudam. Conversar sobre o assunto que estudaria foi
fundamental, pois os outros integrantes a ajudaram com opiniões sobre o objeto de
estudo escolhido. O afeto e acolhimento dentro do grupo é imenso, inclusive na
pandemia em meio às dificuldades.
Atualmente, utilizando o consumo e a cultura material, eles conseguem ter
um campo amplo, como videogames, kpop, resistência e feminismo. Os meios
comunicativos utilizados pelo grupo são o Facebook e o Instagram, onde
compartilham conteúdos de especialistas, artigos, vídeos e outros mais elementos
que podem ajudar no assunto abordado. A ideia do CONSIA é falar sobre consumo,
sobre o que mais chama a atenção como pesquisa, mas também envolver afeto. A
pesquisa em si é realmente muito fria, mas é possível criar algum tipo de relação um
pouco mais calorosa com aquele tipo de objeto de pesquisa.
Partindo para o seu verdadeiro foco dentro do CONSIA, Giselle atualmente
tem a pesquisa “Consumo do chocolate na Ilha do Combu como mediador de
experiências identitárias amazônicas” em seu principal estudo. A mestranda possui
uma agência de comunicação onde trabalhou para um restaurante da ilha durante
10 anos. O Combu não era tão famoso durante esse período, então foi necessário
uma divulgação do lugar, sobre onde estava localizado e como poderia-se chegar
até lá. Nesse período que passou conhecendo os moradores da região, conheceu
Nena, que é proprietária do Filha do Combu, que é portadora do Chocolate do
Combu.
A proprietária conta que a receita é de família passada de geração em
geração, para fazer o chocolate que tem um sabor diferente, sabor mais autêntico. A
empresa Filha do Combu está na Amazônia e tem como pilar fundamental a
sustentabilidade e foi fundada por uma mulher ribeirinha, e começou a oferecer
trilhas para poder chamar a atenção de turistas, e criação de novas experiências. O
chocolate por si só já é algo que encanta, desperta sensações boas, e a maioria dos
consumidores do Chocolate do Combu sempre oferecem elogios ao produto,
encantados com o sabor diferenciado do doce amazônico.
Em meio aos processos de desenvolvimento da pesquisa, a investigação se
torna um tópico importante pois nele está inserido: o processo de origem e produção
do chocolate; local que está inserido (Ilha na Amazônia e as relações sociais
existentes, memória afetiva, mulher ribeirinha); empresa sustentável e o mito da
sustentabilidade, onde basta colocar um selo lá e todos abraçam a empresa, mas
nem sempre é verdade, muitas empresas poluem na hora da produção e descarte,
precisa-se estudar de fato a sustentabilidade e empresa; relação da Marca
Amazônica com o Branding e Marketing da Filha do Combu; a cultura material e a
força que este chocolate possui; a Diversidade de Consumo entre os consumidores
locais e externos, O que os consumidores locais entendem do consumo desse
chocolate x consumidores externos (o fato do turista pegar o barco, já é o suficiente
para encantar; o cenário e o meio de transporte); a identidade amazônica e as
experiências identitárias amazônicas proporcionadas pela empresa através do
consumo do chocolate, o que o turista absorve de Amazônia com a experiência que
o chocolate gera.
Já na metodologia, é feita por pesquisa bibliográfica e a observação
participante, onde a mesma estava comprometida no início da pesquisa por causa
da pandemia, então não conseguia ir in loco, mas continua a pesquisa online mas
vai ao local sempre que pode; a coleta de dados (observa as redes sociais, por
exemplo), e análise dos dados e descrição qualitativa dos resultados. Nesse campo
de inserção, a Importância do orientador é te dar um direcionamento quando se tem
sede de abraçar o mundo, e é preciso refinar e selecionar os melhores métodos e
dados a serem utilizados.
Início de pesquisas sempre são mais conturbados, mas aos poucos o objeto
se molda ao que se vai acrescentando informações e vitalidade. É preciso encontrar
algo que incentive e mova verdadeiramente; muito mais do que encontrar um
assunto pra falar, precisamos saber o que nos motiva a fazer tudo isso, tendo tcc e
doutorado como exemplos; principalmente quando estiver tudo mais difícil, assim se
torna um estimulador a reverter essa situação. Giselle fez uma entrevista com os
donos da empresa para saber como eles entendem como empresa e sobre o
Combu, e no meio disto se tem uma contradição: um dos administradores entende
sobre a importância de falar sobre sustentabilidade, enxergar a amazônia não só
como uma venda, mas entender como uma parte integrante dessa natureza; o
branding era desse jeito. Já para o outro, entende a empresa como força
gastronômica, por estar inserida num ambiente conhecido por isso.
A partir do momento que se entendeu o que a empresa entende, pulou para
outro processo de estudar como os consumidores enxergam a empresa. Tem que
estudar pra se valorizar como região; entender a importância que temos em meio a
vários processos, o quanto temos de valor; a Nena não entendia o quanto o seu
produto era forte, só entendeu quando chefes do mundo todo falaram o quanto era
bom; temos o pensamento errôneo de achar que sempre o de fora é melhor.
Geralmente, acredita-se que pesquisa acadêmica e do mercado são muito
diferentes, e não são.
A mestranda confirma que conseguiu ser uma melhor profissional devido a
essas pesquisas que realiza na academia; quando começou a estudar sobre o
consumo, o olhar dela pro mercado mudou; descobriu outros meios de encantar o
consumidor através do estudo das pesquisas de consumo. E concluindo o estudo,
Giselle afirmou que se, a sua visão sobre um objeto de pesquisa é único, nenhuma
pesquisa vai ser realmente igual a outra; cada pessoa tem uma visão própria. Às
vezes o pesquisador nem percebe que o objeto de pesquisa dele tá ali na sua
frente, conversando com ele, mas nunca viu ele como um objeto, talvez por ter se
tornado algo rotineiro e mais íntimo, por exemplo: Ela se tornou amiga da Nena por
anos e sequer pensou sobre estudar o chocolate que ela criava, porém quando
começou a estudar na academia, pensou e começou.
E por fim, conta sobre uma dica de como se organizar enquanto estiver
pesquisando: em seu caso, ela precisa escrever, montar esquemas, olhar (é muito
visual); o que mais ajudou ela foi procurar temas de pesquisa dela que mais a
chamavam atenção; troca com o orientador e com outros pesquisadores, participar
de congressos, por exemplo, porque assim entende o que está se falando, mesmo
que seja em algo macro: ela falando do chocolate, mas alguém está falando sobre a
amazônia, e vai adquirindo mais conhecimentos que facilitam a pesquisa.

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