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INTRODUÇÃO

Olá! Esta é a apostila do curso O Pintor Letrista – Lições Introdutórias em Pintura de Letra. Meu nome é Filipe Grimaldi, e aqui
você tem acesso a um resumo das aulas e algumas informações complementares, para ler e revisar quando quiser.

No curso, eu ensino o meu ofício como pintor letrista. O objetivo é introduzir a produção de letreiros e pintura de letras, basea-
dos nas variadas técnicas usadas pelos pintores letristas. Portanto, demonstrarei diferentes estilos, técnicas e alfabetos.

Para os exercícios práticos, tenha em mãos: pincel, tinta esmalte à base de água e folhas de cartolina com cinquenta por
sessenta centímetros aproximadamente. Outros acessórios que você vai precisar são: lápis, régua e um pano para limpar o
pincel.

Este curso é uma oportunidade de aprender a atividade de pintor letrista. O pintor letrista é o profissional que pinta/abre
letras manualmente. Você irá aprender como gerar letras com um pincel, criando composições, placas e letreiros populares
que servem tanto para decoração como para comunicação, a exemplo de fachadas e placas de sinalização.

Além disso, diferente do desenho de letra e da caligrafia, a pintura de letras possibilita que você produza seus próprios letrei-
ros em pouco tempo e com técnicas simples. Você não precisa, necessariamente, ter experiência em pintura ou design gráfico
para cursar as aulas e produzir seus letreiros. Seguindo as aulas, praticando os exercícios sugeridos e revisando os materiais
complementares deste curso, você pode, inclusive, oferecer seus serviços como pintor letrista, se esta for a sua intenção.

Abaixo alguns links do meu trabalho:

-filipegrimaldi.com
- instagram.com/ateliersinlogo
- instagram.com/filipegrimaldi

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HISTÓRIA DO PINTOR LETRISTA
Antigamente, era mais comum encontrar pintores e fileteadores nas praças ou em seus ateliers. Esses profissionais ofereciam
a elaboração de letreiros populares, à espera de comerciantes, caminhoneiros, carroceiros e outros profissionais em busca
deste serviço para fachadas de estabelecimentos, laterais de ônibus e embarcações, carrocerias de caminhão, placas de
sinalização e painéis de informação, por exemplo.

Hoje, com a chegada das impressoras de grande formato e de recorte a vinil, que popularizam e aceleram o trabalho, as letras
criadas e pintadas manualmente perderam espaço para as placas impressas, padronizadas e customizadas. Nesta transfor-
mação, muitos letristas trocaram seus pincéis pelos computadores, e, sem a passagem dos ensinamentos de geração para
geração, essa importante herança cultural corre risco de desaparecer.

Existem muitos ofícios que passaram por grandes transformações ao longo do tempo por causa da chegada e do desenvolvi-
mento de novas tecnologias. É o caso da alfaiataria, da marcenaria e da fotografia lambe-lambe. A pintura de letras é um
deles. Estas tradições manuais são consideradas patrimônio cultural imaterial, e o seu fazer deve ser preservado, com a
criação de condições para que os pintores letristas continuem trabalhando e repassando seus ensinamentos para aprendizes
das novas gerações.

Atualmente existem alguns poucos letristas que trabalham com a técnica tradicional que iremos aplicar neste curso. Muitos
deles, você pode conhecer pelo material complementar disponível. E esta história tende a mudar. Felizmente, temos visto
uma tendência de revalorização de trabalhos manuais e da estética popular, agregando valor a produtos e serviços e
também ressignificando as práticas artísticas.

É assim que a pintura de letra se fortalece. E pode ser observada nas ruas, no interior das casas e nos espaços de arte e lazer,
compondo letreiros, vitrines, placas, toldos, fachadas, quadros, instalações, decoração caseira, presentes e até mesmo obje-
tos customizados.

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MATERIAIS: PINCÉIS
Sua principal ferramenta para criar será o pincel, chamado de pincel de letrista. Por natureza, estes pincéis têm cerdas
mais longas do que os pincéis comuns para outros tipos de pintura e normalmente são feitos de pelo de orelha de boi, de
marta ou de rabo de esquilo. Veja algumas numerações e marcas nacionais e internacionais que podem ser usadas para
este fim.

TIGRE 189 TIGRE 172 TIGRE 171 CARNEVALE(ARG) MACK(USA)


Tem cabo mais Série descontinua- Igualmente uma série Fabricante argentino Fabricante centenária
curto e cerdas da existente em descontinuada de pincel centenário de pincéis , estadunidense de pincéis
mais curtas. É o alguns estoques nacional que ainda pode com cerdas longas e aca- de todos os tipos e com
único pincel pelo país. Tem ser encontrada em bamento profissional. acabamento profissional.
brasileiro ainda virola chata espe- alguns estoques pelo Ainda produzidos e Ainda produzidos e
em fabricação cial para letras. país. Tem virola redonda disponíveis no mercado. disponíveis no mercado.
atualmente. especial para
finalizações redondas ou
em bico.

De preferência , procure um destes pincéis para os treinos ficarem mais profissionais.


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MA TERIAIS: TIN TA S
Os pintores letristas utilizam basicamente dois tipos de tinta: tinta de esmalte sintético e de esmalte à base de água.

ESMALTE SINTÉTICO ESMALTE BASE ÁGUA


Utilizado para metal, madeira e superfícies com grande Tem aplicação igual ao esmalte sintético, porém é
exposição ao sol e à chuva, oferecendo mais resistência. menos resistente. Tem secagem rápida e limpeza/di-
Tem secagem lenta e limpeza/diluição com água-rás luição com água.

Esmalte, no geral, é a tinta líquida com melhor cobertura, por isso é tão usada por nós, pintores letristas.

Um lembrete importante: a tinta pode estar muito ou pouco líquida para a pintura de letras. O importante é que a tinta
não esteja nem uma gosma ou nem tão liquida quanto água. Pode-se adicionar algumas gotas de água na hora de pintar.

O truque é que ela tem que escorrer e pingar ao mesmo tempo.

Utilizamos base de tinta branca adicionando corante líquido para confecção das cores. A única cor impossível de ser atingi-
da a partir do branco é o preto, cuja tinta deve ser comprada já pronta. Portanto, utilizamos tinta branca, tinta preta,
corantes de cores variadas e água.

O letrista pinta sempre em superfícies diferentes entre si, tais como madeira, metal, vidro, cimento, tijolo e assim por
diante. Com experiência e muita pintura, é possível descobrir, aos poucos, os cuidados que deverão ser levados em conta
em cada superfície.

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POSICIONAMENTO DAS MÃOS
A posição das mãos facilita o trabalho e melhora o acabamento no momento em que a gente estiver pintando. O mais
importante é conseguir realizar os movimentos com o pincel sem encostar a mão na superfície que está sendo pintada, para
não correr o risco de borrar.

Cada letrista desenvolve sua própria maneira de trabalhar. Mas eu vou mostrar três formas mais comuns de evitar o contato
da mão. Não existe ponto de apoio certo, e sim o mais adequado para cada letrista tentar não tocar a superfície.

SOBREMÃO DEDINHO BALONETA / BATUTA


É uma posição com duas mãos: uma fechada, servindo É uma posição com mão única. Nela, É uma posição com duas mãos, na qual uma
de base de apoio na superfície, enquanto a outra segura você utiliza o dedinho como ponto de segura o bastão de apoio, que fica posicio-
o pincel e encaixa na mão fechada, nivelando a altura apoio na superfície e altura para a nado fora da superfície, e a outra mão apoia
para a pincelada. pincelada. sobre o bastão, obtendo firmeza e altura
para a pincelada.
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PREPA RAÇÃO DE PA U TA
Para manter o tamanho das letras regular, o primeiro exercício antes de começar a pintar é construir uma pauta de treino
no papel. A base, como já vimos, é uma folha de cartolina de cinquenta por sessenta centímetros aproximadamente. Nós
vamos usar uma régua ou base reta e fazer linhas com distância de DEZ centímetros de altura entre elas na folha.

Basta pegar a régua e traçar uma linha em cima e outra dez centímetros abaixo, deixando um espaço entre as pautas.

Prepare quatro linhas de dez centímetros, preservando este intervalo entre elas.

10 CM

10 CM

10 CM

10 CM

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EXERCÍCIOS INTRODUTÓRIOS COM O PINCEL
Com o material pronto, nós vamos exercitar os primeiros movimentos e a orientação do pincel. Estes exercícios são impor-
tantes para você ganhar agilidade e precisão no movimento da mão e do pincel. Vamos replicar os nove movimentos explica-
dos na primeira aula, no mínimo 5 vezes cada um.

Na ilustração, está um demonstrativo de como eles devem ficar. Aqui, entram em ação cuidados muito importantes para a
pintura de letras, como a utilização da face grossa e da face fina do pincel para determinar as grossuras das letras, os cantos
terminados em bicos finos e as extremidades terminadas em quina, ou bico quadrado.

Atenção especial para o último exercício, de rotulação, onde é necessário girar o cabo do pincel nos dedos para seguir na
mesma espessura por todo o círculo. Enquanto exercita esta rotulação, observe o movimento do seu pulso.

VERTICAL HORIZONTAL PARÊNTESES COLCHETES

ESTRUTURA SOBE ROTULAÇÃO DE PINCEL


LETRA POUPULAR DESCE
SOBE
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ALFABETO POPULAR
O alfabeto popular é encontrado
principalmente nos comércios locais
e placas de sinalização. Por sua
facilidade e rapidez de criação, ele é
utilizado como alfabeto de preen-
chimento.

Na pauta de 10 cm de altura que


preparamos, você irá repetir o
alfabeto completo seguindo a
orientação do pincel. Na gravura
desta página, as diferentes cores
mostram as diferentes pinceladas
necessárias para cada letra. Você
perceberá que estas pinceladas
replicam muitos dos movimentos
treinados nos exercícios introdutóri-
os: terminações em ponta fina,
terminações em quina, movimento
de “sobe, desce, sobe” e rotulações.

PAUTA: 10 CM
PINCEL: TIGRE 172 12
AUTORIA: FILIPE GRIMALDI

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ALFABETO POPULAR: SOMBRAS
Abaixo temos 3 tipos de sombra em uma letra popular, em cor vermelha. São elas: sombra destacada, sombra peruana e
sombra de baixo.

SOMBRA DESTACADA SOMBRA PERUANA SOMBRA DE BAIXO


É quase da mesma espessu- Com o pincel de lado, gera uma É uma sombra rápida feita apenas
ra da letra, com a mesma sombra fina lateral e grossa abaixo da letra e que necessita de
técnica, deixa um intervalo embaixo da letra. É usada poucos adornos, utilizada quando não
uniforme em branco entre a quando não se tem muito se tem muito tempo e espaço.
letra e a sombra. espaço entre as letras ou na
superfície.

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ALFABETO POPULAR: RESERVAS E CAQUEADOS
Dentro do corpo da letra popular, é possível inserir uma reserva de tinta na parte inferior da letra da metade para baixo,
deixando um espaço entre essa reserva e a borda da letra. Na ilustração, são as pinceladas feitas na cor amarela. Ela é
muito útil para inserir luz ou sombra na parte inferior da letra, destacando-a e decorando-a.

Na sequência, a maior parte dos pintores letristas adiciona um caqueado simples para finalizar a decoração da letra.
Caqueado é a palavra usada no norte do Brasil para definir enfeite. É um desenho criado pelo pincel, que inserimos no
interior do corpo da letra. Veja algumas variações na ilustração, também em amarelo, que podem ser curvas, asteriscos ou
os três tracinhos que dão a impressão de dégradé.

LETRA

SOMBRA

CAQUEADO

RESERVA

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ALFABETO BASTÃO
É um conjunto de letras fundamental, que hoje em dia é a base para alfabetização em muitas escolas. Este alfabeto pede
uma pauta mais complexa, na qual os 10 cm de altura se dividem em um espaço superior de 2,5 cm, uma base ao meio de 5
cm e um espaço inferior de 2,5 cm. Isto porque as letras têm ascendentes (pernas para cima) e descendentes (pernas para
baixo), que representam os prolongamentos das letras. Este alfabeto possui, como qualidade, o fato de ser muito legível. É
bastante utilizado nos letreiros comerciais.

Para criar o alfabeto que você aprende na aula, mapeei a execução desta letra observando diferentes aplicações que encon-
trei nas ruas. Esta observação me ajudou a estabelecer o formato. Em comum, a maioria das placas, letreiros e sinalizações
pesquisadas pediam grande legibilidade.

Na imagem, você acompanha o feitio da letra por meio das setinhas, que ajudam a lembrar como começar e qual direção tem
cada movimento.

PAUTA:
ASCENDENTE 2,5CM
DESCENDENTE 2,5CM
LINHA BASE: 5CM

PINCEL: TIGRE 172 12


AUTORIA: FILIPE GRIMALDI

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ALFABETO CURSIVO POPULAR
Muitos de nós fomos alfabetizados aprendendo a escrever em letra cursiva. PAUTA:
Estas letras também possuem ascendentes e descendentes e muitas variações. ASCENDENTE 2,5CM
O alfabeto cursivo é, igualmente, bastante utilizado em letreiros comerciais. DESCENDENTE 2,5CM
LINHA BASE: 5CM
Desenvolvi este alfabeto porque senti necessidade de aplicação quase diária Riscar ângulo de 60º por toda a pauta.
nos meus trabalhos comerciais. Utilizei a caligrafia clássica e o alfabeto cursivo
inglês para transferir a técnica para o pincel de letrista. Na ilustração, você PINCEL: TIGRE 172 12
também conta com as setinhas para saber como pintar cada letra. Neste AUTORIA: FILIPE GRIMALDI
alfabeto, as letras são inclinadas em 60º para a direita.

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ALFABETO FINO E GROSSO
PAUTA:
Este alfabeto foi inspirado na observação de placas ASCENDENTE 2,5CM
de sinalização em unidades do Serviço Social do DESCENDENTE 2,5CM
Comércio de São Paulo (Sesc São Paulo) e da pre- LINHA BASE: 5CM
feitura de São Paulo nos anos 1960 e 1970. Durante Riscar ângulo de 60º por toda a pauta.
uma de minhas pesquisas, descobri um pintor letris-
ta, hoje já falecido, que replicava nestes locais uma PINCEL: TIGRE 172 12
versão deste alfabeto que batizei de fino e grosso. AUTORIA: FILIPE GRIMALDI

Pelo fácil manejo, esta letra também foi encontrada


em diversas regiões do país, proveniente das
tradições da colonização europeia. Traz estetica-
mente os cantos agudos e excelente espaçamento
entre espaços pretos e brancos. O aspecto de fino e
grosso é criado pelo reforço de linha dupla em algu-
mas pinceladas.

PAUTA:
LINHA BASE: 10CM

PINCEL: TIGRE 172 12


AUTORIA: FILIPE GRIMALDI

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COMPOSIÇÕES DE LETREIRO
Agora que já conhecemos diferentes letras, números, decorações e símbolos, e aprendemos como pintá-los, já podemos
aplicar os conhecimentos pensando em sua espacialidade na superfície a ser pintada. Vejamos algumas técnicas básicas
para compor um letreiro popular como este abaixo.

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COMPOSIÇÕES DE LETREIRO: ARCO/ARCO INVERTIDO
Uma das formas de conferir movimento às palavras e letras é compo-las dispostas em um arco. Vamos fazer duas pautas
em arco. Um arco normal e um arco invertido. Veja a ilustração e perceba que a orientação do movimento muda de um para
o outro. Este treino faz entender o “sobe-desce” das letras, enriquecendo as composições. Não estamos mais nos referindo
ao sobe-desce do movimento do pincel, mas a orientação e posição da letra para dar a intenção de arco.

Você vai começar fazendo uma pauta de dez centímetros em arco com o lápis. O arco não precisa ser perfeito. Pode ser um
arco manual. A dica é você manter dez centímetros por toda a pauta.

Agora você vai fazer uma pauta em arco inversamente. Também de dez centímetros. Você pode fazer um esboço para
prever o espaço e a posição das letras, para ajudar a prever um espaço homogêneo entre elas e o preenchimento efetivo do
espaço disponível.

Para pintar, funciona como uma pauta comum, só que em movimento de arco. A letra sobe e desce. É preciso respeitar o
alinhamento das letras, elas não se inclinam, apenas seguem o movimento da pauta.

ARCO ARCO INVERTIDO


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COMPOSIÇÕES DE LETREIRO: SUBINDO X INCLINADO
Veremos a diferença entre a letra diagonal e a letra “subindo”. A pauta vai ser desenhada na diagonal, ascendente ou
descendente. Seguimos com dez centímetros de altura ao longo da pauta.

Primeiro, a letra inclinada. Ela respeita o eixo da terra, paralela ao horizonte, mantendo-se sempre na mesma posição.
Oriente-se pela pauta.

Já a letra subindo acompanha o eixo da pauta, que também está subindo, fazendo com que a leitura se desloque e o olhar
se incline.

Repare a diferença no efeito final dos dois tipos de orientação da letra. Para a criação de letreiros populares, a letra subindo
é considerada errada, pois dificulta a leitura.

A orientação da pauta também poderia ser “descendo” usando a mesma técnica da letra subindo

INCLINADO SUBINDO
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COMPOSIÇÕES DE LETREIRO: EXERCÍCIO
Aprendendo esses movimentos, você já pode
fazer uma composição. Vamos lá?

Você só precisa desenhar duas orientações de


pauta na mesma largura e automaticamente terá
uma composição de letras populares. A altura de
cada pauta pode ser diferente, se você quiser
destacar alguma palavra, por exemplo. No exem-
plo, continuamos com a pauta de 10 cm de altura
para as duas palavras: “sentimento” e “popular”.
Aqui temos uma pauta em bandeira e uma em
arco.

Com as letras prontas, preencha com decorações


e símbolos que você aprendeu anteriormente:
sombras, reservas, caqueados e adornos, como
flores e asteriscos.

Com estes passos, fica pronta a nossa com-


posição com duas formas de pauta. Nela,
utilizamos letras, decorações e símbolos que nós
aprendemos ao longo do curso. Para continuar
praticando, experimente criar novas composições
usando outro tipo de alfabeto, outras orientações
de pauta e cores diferentes, por exemplo.
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LETRAS DESENHADAS OU BLOCADAS
Existe uma grande diferença entre letra desenhada e letra gerada no pincel, ou seja, com a grossura do pincel. Elas podem ter
estéticas iguais, mas levam tempos diferentes para serem criadas.

São muitos os tipos de letras desenhadas e blocadas, que podem variar na espessura da letra, nas serifas, nos volumes e preen-
chimentos. Cada letra tem a sua particularidade. Vamos aprender aqui sobre a construção deste alfabeto e suas variações.

Para a construção do diagrama ou grid que gera uma letra, utilizamos uma largura padrão para as linhas e colunas, que será a
largura da minha letra. No exemplo, utilizo a largura da régua como largura base da minha letra. O alfabeto é dividido em 3
grupos, como você pode ver nos diagramas desta página. As letras mais largas utilizam cinco colunas. São elas A, M e W. As
outras são feitas preenchendo quatro colunas. Apenas a letra I usa somente uma coluna. Na próxima página, você confere
todas as letras do alfabeto colocadas no grid. Faça você também este exercício. E, nele, você já pode começar a pensar sobre
como dar volume à letra.
TODAS AS OUTRAS LETRAS
A / M / W - 5 X 5 ESPAÇOS I - 1 ESPAÇO - 4 X 5 ESPAÇOS

5 5 5

5 1 4 18
LETRAS DESENHADAS OU BLOCADAS

AUTORIA: FILIPE GRIMALDI


2016

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LETRAS DESENHADAS OU BLOCADAS

Depois de aprender a desenhar as letras blocadas em uma pauta, vamos começar a pintar.

Para pintar uma letra grande, nós vamos seguir sempre uma ordem, iniciando pelo volume, depois o preenchimento e, então,
luzes e sombras. Por fim, incluímos outros detalhes e caqueados para enriquecer as letras.

Começamos pelo volume, pois, como é a primeira camada, algum erro pode ser apagado com as próximas camadas de cor.

Outra dica: é muito importante seguir a mesma orientação de pincelada por toda a letra. É igual à pintura com lápis de cor: para
ter um melhor resultado, segue-se a mesma direção.

Quando envelhecer, a pintura fica com aparência bonita e de boa execução.

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LETRAS DESENHADAS OU BLOCADAS
Depois que a tinta do volume estiver seca, é hora de começar o
preenchimento da letra.

Faremos o contorno, para delimitar as bordas, e depois, seguimos a SOMBRA DO PREENCHIMENTO


mesma orientação do pincel, em pinceladas laterais, para aumen- VOLUME
tar a área das cerdas, até completar todo o interior da letra.

Atenção para as quinas que devem ser o encontro de duas pincela-


das terminadas em formato de ângulo reto.

Na sequência, podemos incluir detalhes que vão enriquecer e


embelezar o trabalho.

Após secar o preenchimento, vamos fazer a decoração popular.

Vamos começar pintando a “reserva”, com uma cor mais escura


que o preenchimento.
CAQUEADO
Em seguida, nós vamos dar um efeito de sombra ou de iluminação
à letra, com pequenas pinceladas nas quinas do volume.

Depois de esperar a letra ficar totalmente seca, faça caqueados


com outra cor por dentro do preenchimento e também em cima da
reserva. Você pode ver, no material complementar do curso, um RESERVA
vídeo sobre caqueados e pegar emprestados alguns exemplos para VOLUME
criar o seu próprio letreiro popular.

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GLOSSÁRIO
arco – Orientação em que as letras fazem o movimento de um arco
arco invertido - Orientação em que as letras fazem o movimento de um arco invertido
ascendentes – Letras que têm “pernas” para cima. (Ex.: b, d, h, k, etc.)
baloneta/batuta - Ferramenta utilizada pelo letrista para o apoio das mãos.
caqueados - Palavra utilizada para definir “enfeite” ou “detalhe” na região norte do Brasil. Nos alfabetos populares,
utilizamos o termo para nos referirmos a símbolos, ornamentos e detalhes dentro do corpo da letra.
cerdas do pincel – São os pelos do pincel, podem ser feitas de pelo natural ou sintético.
cursiva - Estilo de letra manual corrida, em que as terminações das letras se ligam umas às outras para formar as palavras,
com a qual a maioria de nós foi alfabetizado.
dedinho – Posição de apoio para pintar em que se utiliza o dedinho da mão para não apoiar na superfície.
dégradé - Combinação cromática que funde uma cor com a outra.
descendentes - Letras que têm “pernas” para baixo. (Ex.: g, j, p, q, etc.)
grid - Diagrama onde se desenha o esqueleto de uma letra blocada.
pauta - Conjunto de linhas referenciais para construção de letras geradas pelo pincel.
reserva - Detalhe interno da letra no qual se “reserva” uma parte interior da letra para ser pintada com outra cor, normal-
mente do centro para baixo.
rotulação - Movimento com o pincel em formato de círculo em que se “roda” o pincel nos dedos para movimentar as cerdas.
virola do pincel – Parte metálica que liga o cabo e as cerdas do pincel. Pode ser chata ou redonda, oferecendo finalizações
de pintura diferentes.
volume da letra - Tridimension
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REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA
Letras Q Flutuam
Com o objetivo de valorizar o trabalho dos artistas conhecidos como 'abridores de letras', surgiu o Projeto “Letras que Flutuam”, que mapeia esses profis-
sionais em diversos municípios ribeirinhos, nas regiões de Santarém, Marajó, Belém e Salgado, todos no estado do Pará.

As pesquisadoras Fernanda Martins e Sâmia Batista realizaram uma expedição fluvial amazônica em busca de mapear os artistas populares dessas áreas,
em depoimentos, fotografias e vídeos.

O projeto, premiado pela iniciativa de preservação e registro do patrimônio cultural brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), gerou publicações, um site e um documentário, como você pode conferir nos links a seguir:

Site: https://www.letrasqflutuam.com.br
Pesquisa: https://www.academia.edu/3836171/Letras_que_flutuam_O_universo_ribeirinho
Publicação -https://www.researchgate.net/publication/318486371_Letras_que_flutuam_territorios_fluidos_da_Amazonia
Documentário Letras Q Flutuam Etapa Belém - https://www.youtube.com/watch?v=ZhjOb3JodCU
IPHAN: http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4799/tipologias-carregadas-de-historias-e-tradicao

Abridores de Letras de Pernambuco


O livro Abridores de Letras de Pernambuco – um mapeamento da gráfica popular é resultado de uma extensa pesquisa visual por várias cidades e regiões
do Estado de Pernambuco, ao longo de mais de 5 anos. Inicialmente desenvolvido apenas na cidade do Recife, em 2011, o projeto de pesquisa foi contem-
plado pelo edital do Fundo de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco.

Por meio do projeto, foram mapeados 12 artistas populares pernambucanos em seis cidades de leste a oeste do estado. O trabalho foi registrado em
entrevistas e 1.000 fotografias, algumas das quais compuseram o livro. Saiba mais:

Site: http://www.designvernacular.com.br/abridoresdeletras/
Pesquisa: https://www.academia.edu/15110299/Abridores_de_Letras_de_Per-
nambuco_-_um_mapeamento_da_gr%C3%A1fica_popular_Sign_Painters_of_Pernambuco_-_Mapping_out_vernacular_graphics
Video: https://www.youtube.com/watch?v=p7otsOSYiiA

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REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA

Sign Painting (USA) Fileteado Porteño (ARG)

Sign Painting é a arte de pintar letreiros em fachadas, prédios, painéis Filiteado Porteño é uma técnica de pintura argentina desenvolvida durante a
e outdoors executados por pintores de letras estadunidenses no colonização do país. O estilo importa características de pintura tradicional e
propósito de anunciar e ofertar produtos, serviços e eventos. letras vitorianas, toscanas e góticas em composições complexas de desenho
e letreiramento.
Brief history on sign painting
https://www.konanzandco.com/blog/2017/2/8/brief-histo- A arte dos pintores letristas e artistas populares de Buenos Aires é facilmente
ry-on-sign-painting percebida pelas ruas da capital argentina e foi reconhecida como Patrimônio
Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a
Center for the Lettering Arts Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
http://www.mysticbluesigns.com/letteringarts.html/
Fileteado Porteño - Patrimônio Imaterial da Humanidade da Unesco
American Sign Museum https://ich.unesco.org/es/RL/el-filete-porteno-de-bue-
https://www.americansignmuseum.org/ nos-aires-una-tecnica-pictorica-tradicional-01069?RL=01069

The new sign painters Fileteado Porteño - Wikipedia


https://craftsmanship.net/new-sign-painters/ https://pt.wikipedia.org/wiki/Fileteado

The Return of The Hand-Painted Sign Alfredo Genovese - Fileteador


https://www.smithsonianmag.com/arts-culture/the-re- https://www.fileteado.com/en_fileteado_porteno.php
turn-of-the-hand-painted-sign-106902373/
Manual do Fileteado Porteño
https://www.fileteado.com/libros_de_fileteado_porteno.php

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REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA
Letras Chichas (PERU) Filmes / Videos

As letras chichas peruanas são como as letras populares/vernaculares Sign Painters (filme)
brasileiras, foram mapeadas durante a história da pintura de letra e http://www.signpaintersfilm.com/#watch
identificadas com características regionais e locais de Lima, no Peru.
Mike Meyer: Man with a brush
Aqui trago um pouco do trabalho do coletivo Carga Máxima, composto https://www.youtube.com/watch?v=v50A9b-d0nc
por Azucena del Carmen e Alinder Espada. Juntos, eles mapearam
estilos diferentes de letras populares peruanas, que inspiraram a The essential guide to hand painted signs
criação de alfabetos autorais. https://www.youtube.com/watch?v=IC09E_FG_YA

Sign Painter: Keepers of the Craft


O nome Carga Máxima toma emprestada a expressão homônima
https://www.youtube.com/watch?v=WERxaR1C30o
usada no Peru para denominar os letreiros populares em caminhões
de carga, postos de ambulantes, quiosques de rua e laterais de ônibus.
Intercambio de Letras Populares
https://www.youtube.com/watch?v=beCTEwt6GYY
Meu trabalho tem muitas influências que surgiram do contato com
este coletivo. Confira: Rutamare - Grafica Popular peruana
https://www.youtube.com/watch?v=6aItkEUlS9c
Carga Maxima: Diseno Chillante e Gráfica Popular
http://www.acidomagenta.com/arte/carga-maxima-diseno-chillan- Entrevista con Rutamare (PERU)
te-y-arte-popular https://www.youtube.com/watch?v=LnZkZV8oh2A

La historia de Carga Maxima Filete por Leonel Fernandes


https://elcomercio.pe/somos/historias/historia-carga-maxi- https://www.youtube.com/watch?v=xkb-S31D30E
ma-multicolor-tipo-letra-ilumina-calles-combis-peru-noticia-547496
David Smith: Sign Artist
https://www.youtube.com/watch?v=5mRme1HH59

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REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA
Pesquisas Complementares

Identificação de padrões na linguagem gráfica verbal, pictórica e esquemática dos letreiramentos populares - Fátima Finizola
https://www.academia.edu/31832503/Identifi-
ca%C3%A7%C3%A3o_de_padr%C3%B5es_na_linguagem_gr%C3%A1fica_verbal_pict%C3%B3rica_e_esquem%C3%A1tica_dos_letreiramentos_popul
ares_Identification_of_patterns_in_verbal_pictorial_and_schematic_graphic_language_of_popular_letterings

As apropriações do vernacular pela comunicação gráfica - Vera Lúcia Dones


http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/75286744977636432350899126807647782051.pdf

Em busca de uma definição para letreiros populares - Solange Coutinho


https://www.academia.edu/22054512/Em_busca_de_uma_classifi-
ca%C3%A7%C3%A3o_para_os_letreiramentos_populares_Towards_a_typographical_classification_for_popular_letterings

Exposição "Edson Meirelles vê a Gráfica Popular" - fotografias no Instituto Tomie Ohtake


https://www.institutotomieohtake.org.br/exposicoes/inter-
na/anonimos-e-artistas-edson-meirelles-ve-a-grafica-popularnenruben-martins-o-primeiro-transgressor
https://faapemexibicao.wordpress.com/2013/05/21/edson-meirelles-grafica-popular/

Letras do Cotidiano - Emerson Nunes Eller


http://anapaulanasta.com/wp-content/uploads/2014/11/Letras-do-cotidiano-Emerson-Nunes-Eller.pdf

Tipografia Vernacular Brasileira


https://medium.com/@rafaelhoffmann/tipografia-vernacular-brasileira-c26f9e427636

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REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA
Projetos Mapeadores
Brasil
Letras Q Flutuam https://www.instagram.com/handpaintedbrazil/
https://www.letrasqflutuam.com.br/ https://www.instagram.com/jagazcombo/
https://www.instagram.com/tipografiasemlimites/
Pintores de Letras https://www.instagram.com/pintoresdeletras/
https://www.pintoresdeletras.com.br/ https://www.instagram.com/letristasdobrasil/
https://www.instagram.com/letrasderua/
Identica (Costa Rica) https://www.instagram.com/vernaculando/
https://www.facebook.com/identicacr/
Colombia
https://www.instagram.com/zecarrillo/
Popular de Lujo (Colombia) https://www.instagram.com/populab/
http://www.populardelujo.com/
Kenya
Carga Máxima (Peru) https://www.instagram.com/handpaintedkenya/
https://www.instagram.com/dcargamaxima/
Uruguay
Produtores de pincéis internacionais https://www.instagram.com/garrapiniada_uy/
https://www.instagram.com/mdp_ciudadmutante/
Carnevale (ARG) Mexico
http://www.pincelescarnevale.com.ar/ https://www.instagram.com/maritoperez/

Mack (USA) Chile


https://www.mackbrush.com/ https://www.instagram.com/hoynosefia_/

AS Handovers (ENG) Peru


https://www.handover.co.uk/ https://www.instagram.com/nacion.chicha/

Caribe
Skoda (ESP) https://www.instagram.com/fulgor_caribe/
http://www.escoda.com/

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OBRIGADO!
Podemos dizer que vimos as principais técnicas de pintura de letra, decoração, preenchimento e composição de
letreiro popular.

Quanto mais treino, melhor e mais bonito será o resultado final da sua pintura de letras.

Até mais e sucesso na sua trajetória como pintor letrista!

FILIPE GRIMALDI

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