Você está na página 1de 7

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

QUESTIONÁRIO ESG

Enrico Rodini
Gabriel dos Anjos
Manuel Vininoski
Pedro Lacerda
Rodrigo Cruz

SÃO PAULO
11/2022
Perguntas:

1. Defina o que é ESG

ESG é uma sigla em inglês que significa governança ambiental, social e corporativa
(environmental, social and governance) e que deve ser entendida como se tratando de um
conjunto de boas práticas e padrões a serem seguidos que visam definir se determinada empresa
é sustentável, socialmente consciente e adequadamente gerenciada. ESG é, portanto, uma
abordagem utilizada para medir o desempenho de sustentabilidade aliado à geração de valor
econômico das organizações.

2. Explique o que são e dê exemplos (2 a 3) de investimentos sustentáveis do ponto de


vista ambiental

Exemplos: Planet, uma empresa constrói pequenos satélites com câmeras que serão
enviados ao espaço para medir o metano e toda a emissão de carbono da Terra em tempo real.;
BTG captando agora US$ 1 bi para um fundo de reflorestamento na América Latina.

3. Explique o que são e dê exemplos (2 a 3) de investimentos sustentáveis do ponto de


vista social

Exemplos: Fundação Estudar, que ajuda a financiar e bancar o estudo de jovens talentos no
Brasil e exterior (como por exemplo Tabata Amaral que foi pra Harvard por conta dessa
fundação); Ben&Jerrys que emprega pessoas em situação de vulnerabilidade social de forma
transparente e ajuda essas pessoas a melhorarem suas condiçoes de vida.

4. Discuta a dicotomia existente entre sustentabilidade e geração de valor para acionista


e responda: “Investimentos sustentáveis geram necessariamente melhores resultados
para a empresa? Há geração de valor a partir de investimentos sustentáveis?

Para estruturar nossa resposta e criar uma linha de raciocínio lógico contínua, para não
tangibilizar o que significaria “gerar valor”, vamos trazer, antes as palavras do economista
Milton Friedman e sua defesa acerca do objetivo de uma empresa: uma empresa existe para
gerar lucros aos seus acionistas e stakeholders. Diante dessa fala de Friedman, fica bastante
clara a questão da dicotomia entre sustentabilidade e geração de valor. Afinal de contas, ambos
lados apresentam argumentos coerentes e convincentes. Por um, de fato é responsabilidade
das empresas rentabilizar o capital investido nelas, afinal de contas, e fazendo ressalvas às
questões de estrutura corporativas, as ONGs existem para isso. Contudo, no outro lado, existe
de fato uma responsabilidade ecológica e social que as empresas precisam assumir para com a
sociedade, uma vez que elas são responsáveis, em grande parte, pela conservação ambiental
(no caso de indústrias que usam a natureza como matéria prima) e pelo desenvolvimento social
(no caso de empresas de serviços como a Uber, por exemplo).
Contudo, reconhecemos que a dicotomia em si nunca irá deixar de existir. Os pólos, tanto
os pró lucro e retorno, tanto quanto os pró desenvolvimento social e sustentabilidade sempre
irão se chocar e isso vai reverberar no mercado e, consequentemente, na geração de valor das
empresas envolvidas. Por isso, é crucial manter uma análise racional e objetiva acerca do tema.
Se uma empresa possui um potencial relevante em venda de créditos de carbono, pois bem,
existe geração de valor a partir de investimentos sustentáveis. Se a empresa se utiliza de
produtos 100% naturais e com apoio a comunidade, trazendo um grande impacto social
positivo, tanto quanto ambiental (no caso da Natura), mas não consegue rentabilizar essa
operação, pois bem, podemos argumentar que não há geração de valor a partir de investimentos
sustentáveis.
Portanto, concluímos que a premissa básica não pode estar muito distante do pensamento
de Friedman. Afinal de contas, as próprias métricas de valuation, capital budgeting, IRR, NPV,
etc., partem do conceito de que o valor de uma empresa ou projeto está na capacidade de
geração de fluxo de caixa futuro [trazido a valor presente por uma taxa x]. Ou seja, o foco deve
ser gerar retorno e rentabilidades a seus acionistas, dentro do que a lei permitir, claro. Contudo,
se empresa consegue alinhar compromissos sustentáveis juntos a essa perspectiva de geração
de valor (fluxos de caixa futuros), nós temos certeza que essa será a melhor decisão pois já
estarão se posicionando para uma realidade que, ainda que relativamente distante,
invariavelmente irá chegar: um mundo em que ESG será uma questão de ponto de partida para
operacionalizar uma empresa e não mais um ponto de chegada.

5. Diante da situação exposta abaixo, explique como seria possível compatibilizar esta
aparente dicotomia entre sustentabilidade e geração de valor:
a. Empresa que usa energia limpa (mas mais cara) x empresa que usa energia suja(mas
mais barata)

Ao utilizar uma fonte de energia limpa, a empresa pode se utilizar de benefícios financeiros
e tributários para “hedgear” os custos maiores da energia limpa, como por exemplo, vender
seus créditos de carbono a um custo alto para uma empresa que desesperadamente necessita
desses créditos.

Ademais, atualmente muitas empresas estão assumindo compromissos com ESG Investing
e, portanto, uma empresa que usa energia limpa pode se beneficiar ao ser preferência para
fechar contratos e/ou concessões.

Já as empresas que usam energias sujas e, consequentemente mais baratas, podem se


aproveitar no curto prazo da ausência de regulações para continuarem operando
lucrativamente, mas é mais do que preciso adequar a forma de produção a fim de incorporar
modelos sustentáveis pois, a cada ano que passa o ambiente jurídico tende a ficar mais fechado
contra empresas não sustentáveis e, no longo prazo, a empresa poderá chegar a falência por ter
demorado a perceber a sensibilidade na mudança do ambiente corporativo se voltando para
práticas ESG e, o custo de incorporação dessas tendências no futuro tende a ser ainda mais caro
do que atualmente.

6. Para cada componente (cada letra) do ESG, apresente um exemplo bom e um exemplo
ruim de empresas que têm uma política adequada de ESG e empresas que tiveram
problemas (são 6 exemplos no total, sendo 2 exemplos para cada letra). Dê o nome de
cada empresa em cada caso e explique o ocorrido ou a política adotada
a. Ambientais

i. Quando a plataforma petrolífera Deepwater Horizon da BP explodiu no Golfo do México,


matando 11 funcionários e cerca de 1,9 milhões de barris de petróleo foram derramados no
oceano causando um desastre ambiental em todo o ecossistema local tanto para locais que
possuíam aquela região para atividade primária (turismo e pesca), quanto para a vida
aquática.

ii. A Blockforce é uma organização de Pesquisa e Desenvolvimento de Blockchain, que


oferece consultoria, produtos digitais baseados em blockchain, e serviços integrados de
desenvolvimento para impulsionar projetos de impacto socioambiental em escala. Um dos
seus projetos é o amanzonnow que tem como desafio criar um aplicativo de Criar um
aplicativo de simples utilização, acessível e compatível com todos os aparelhos Android –
os mais comuns nas áreas de linha de frente da região, para tornar o AmazôniaAlerta uma
proposta viável. Capacitar em massa o povo da Amazônia a utilizar uma plataforma viável
para alertar o mundo sobre casos de ataques ao povo local e à floresta, protegendo a
identidade das pessoas e assegurando registros seguros e imutáveis sobre eventos
anunciados.

b. Sociais

i. A Laudes Foundation aplica uma solução de rastreabilidade digital em blockchain para


garantir que os produtos da indústria da moda sejam confeccionados respeitando padrões
mínimos de condição de trabalho. Funciona a partir do controle em cada ponto da cadeia a
partir de uma rede de validação a partir do empregado e do empregador que respondem de
forma anônima um questionário recorrente e vinculado com cada leva de produtos.

ii. A Zara durante a CPI do trabalho escravo admitiu já ter utilizado do trabalho escravo na
confecção de seus produtos. Usualmente, essa categoria de empresa não emprega o trabalho
escravo diretamente, mas devido à falta de diligência na escolha de seus provedores de mão
de obra, acabam contratando as opções mais baratas, negligenciando as condições de
trabalho.

c. Governança

i. Recentemente, o Assaí foi questionado em função da sua compra de lojas do Extra na


medida em que foi percebida negligência com as vontades dos acionistas minoritários.
Porém, com o anúncio da venda do maior acionista durante esse fato, o grupo francês
Casino, os sócios remanescentes convocaram um novo conselho de administração e a
revisão do estatuto social, assim, melhorando a percepção do mercado acerca da
perspectiva da governança da Companhia.

ii. Um dos escândalos mais emblemáticos do mundo corporativo é o da Enron em que os


executivos empregaram práticas contábeis que inflaram falsamente as receitas da empresa
e, por um tempo, a tornaram a sétima maior corporação dos Estados Unidos. Com a
revelação da fraude, as ações da empresa que eram negociadas a US$ 90, despencaram para
mísero US$ 0,26, quando a empresa foi liquidada pelo pedido de falência sob o capítulo 11
dos EUA.
7. Dê exemplos de métricas que poderiam ser usadas para medir a sustentabilidade de
uma empresa ou projeto do ponto de vista de cada aspecto do ESG (apresente ao
menos 3 métricas para cada categoria):

a. Ambientais

i. Quantidade de Carbono Emitida


ii. Uso de Água
iii. Quantidade de Subproduto Utilizado

b. Sociais

i. Pessoas Impactadas
ii. Presença de Minoria no Management da Empresa
iii. Diversidade dentro da empresa

c. Governança

i. Quantidade de Comitês Auxiliares


ii. Número de Membros do Conselho Independentes
iii. Transações entre Partes Relacionadas

8. Explique o que é RenovaBio e o que são créditos de carbono. Explique como créditos
de carbono poderiam afetar a economia brasileira no longo prazo

O RenovaBio é uma política de Estado instituída pela Lei nº 13.576/2017 que tem por
objetivo aumentar a produção de bicombustíveis na matriz energética do Brasil de forma a
garantir maior previsibilidade e sustentabilidade ambiental, econômica e social.
Créditos de Carbono, ou Redução Certificada de Emissões, são um conceito surgido a partir
do Protocolo de Kyoto em 1997 que visam à diminuição dos gases de efeito estufa, sendo que
um crédito de carbono é gerado a cada tonelada de carbono que deixa de ser emitida. Os países
possuem uma meta de redução de carbono, e quando um país consegue cumprir sua meta recebe
uma certificação, sendo que os países que geram mais crédito podem utilizar seus créditos
como moeda de troca com países que não tenham batido suas metas de redução.
De acordo com o disposto no Acordo de Paris, conforme anteriormente afirmado, o impacto
na economia brasileira no longo prazo seria enorme visto que tornaria-se possível comercializar
créditos de carbono entre os países signatários do acordo, o chamado mercado de carbono, e
segundo estudos o Brasil pode ser responsável por suprir metade da demanda dos créditos de
carbono até 2030, de acordo com um estudo realizado pela WayCarbon, com uma oferta
nacional capaz de atingir até 120 bilhões de dólares.

9. Explique o que são green bonds e como funciona este mercado.

As green bonds também chamadas como “sustainable bonds” ou “climate bonds” são
instrumentos de renda fixa que são designados para levantar fundos destinados a projetos
climáticos/ambientais. Alguns exemplos de projetos são: energia renovável, transporte limpo,
agricultura sustentável, proteção de ecossistemas terrestres e aquáticos. Existem vários tipos
de green bonds como:

● “Use of Proceeds” Bonds;


● “Use of Proceeds” Revenue Bonds or Asset-Backed Securities (ABS);
● Project Bonds;
● Securitization Bonds;
● Covered Bonds;
● Loans;

O funcionamento delas variam de algumas formas, mas de modo geral credores emitem
ações para financiar projetos que vão ter impactos positivos e investidores que esperam ter
lucros com o vencimento das ações, além de que algumas oferecem benefícios tributários.

10. Dê exemplos de cláusulas ou ações/atitudes que podem melhorar a governança de uma


empresa

● Liderança ter como princípio a transparência;


● Aumentar a diversidade em posições de lideranças/ conselhos administrativos;
● Assegurar os direitos dos acionistas por meio de políticas que determinam como uma
companhia deveria tratar e informar os acionistas da empresa;
● Compensações em stock options. “Executives pay” transparentes;
● Implementar mecanismos, regras, procedimentos que asseguram a integridade das
informações financeiras e contábeis promovendo “accountability” e prevenindo fraudes
● Auditorias externas recorrentes;
● Um conselho administrativo deve monitorar as operações e atividades para assegurar que
as melhores práticas estão sendo seguidas.

11. O que é economia circular e como o conceito se insere na ideia de ESG? Dê exemplos.

Economia circular é um conceito que associa desenvolvimento econômico ao


desenvolvimento sustentável através do melhor uso de recursos naturais, por meio de novos
modelos de negócios e da otimização nos processos de fabricação. A economia circular,
portanto, baseia-se majoritariamente na proposta de que os resíduos de uma indústria devem
ser utilizados como matéria-prima reciclada para outras indústrias ou para a própria, além de
buscar desenvolver produtos sempre buscando reaproveitar materiais já existentes no ciclo
produtivo, sendo por isso nomeada economia circular. A economia circular, portanto, baseia-
se nos 4Rs da sustentabilidade: Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Repensar, sendo diretamente
associada à ideia de ESG justamente por propor repensar a forma de desenhar, produzir e
comercializar produtos de forma a visar um uso mais sustentável dos recursos naturais, com
uma menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis,
recicláveis e renováveis. Um exemplo de companhia que utiliza o conceito de economia
circular associado a seus critérios ESG é a Coca-Cola que tem como uma de suas iniciativas
justamente a reutilização de garrafas de vidro, além da própria reciclagem das garrafas PET e
posterior utilização para produção de novas garrafas PET, reduzindo o uso de recursos naturais.
12. O que é o índice de sustentabilidade da B3 (ISE)? Explique a metodologia de cálculo
deste índice e para que serve o índice.

O ISE (Índice Sustentabilidade Empresarial) é um dos índices de sustentabilidade da Bolsa


de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBOVESPA). Este índice é uma
ferramenta para análise comparativa da performance das empresas listadas na Bolsa de Valores
sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio
ambiental, justiça social e governança corporativa.

O ISE é composto das ações e units exclusivamente de ações de companhias listadas na


BM&FBOVESPA que atendem aos critérios de inclusão descritos a seguir:

• Atender aos critérios de sustentabilidade e ser selecionado pelo Conselho Deliberativo


do ISE;
• Estar entre os ativos elegíveis que, no período de vigência das 3 (três) carteiras
anteriores, em ordem decrescente de Índice de Negociabilidade (IN), ocupem as 200
primeiras posições;
• Ter presença em pregão de 50% (noventa e cinco por cento) no período de vigência das
3 (três) carteiras anteriores;
• Não ser classificado como ativo penny stock, cujo valor médio ponderado durante a
vigência da carteira teórica anterior ao rebalanceamento, desconsiderando-se o último
dia desse período, tenha sido inferior a R$ 1,00 (um real);
• Uma vez que um ativo de uma empresa atenda aos critérios de inclusão acima, todas as
espécies de sua emissão participarão da carteira do índice, desde que estejam entre os
ativos elegíveis que, no período de vigência das 3 (três) carteiras anteriores, em ordem
decrescente de Índice de Negociabilidade (IN), representem em conjunto 99% (noventa
e nove por cento) do somatório total desses indicadores.

O cálculo do índice é a ponderação em tempo real dos preços dos ativos que o compõem.

Você também pode gostar