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Paralisia Facial

Monte da Caparica, Novembro-2014


Escola Superior de Saúde Egas Moniz
Fisioterapia Neuromuscular I

Introdução
Na componente prática da Unidade curricular de Fisioterapia Neuromuscular I, na
aula de 20-Novembro-2014, abordamos a paralisia facial, mais propriamente os
seguintes itens:
O que é, os seus sintomas, os seus sinais, as suas causas, quais os problemas mais
comuns que provoca, o seu tratamento, e ainda o que se deverá fazer na sua avaliação
por ordem.
A paralisia facial é uma alteração neurológica que implica uma afecção aguda,
total ou parcial, dos músculos da face por atingimento (inflamação e edema) do nervo
facial (VII nervo craniano). Esta consiste numa paralisia dos músculos da face, uni ou
bilateral, que se pode definir por uma interrupção temporária ou não dos movimentos
da musculatura facial, pode ser central ou periférica. Na paralisia facial central existe o
atingimento sobretudo do território do nervo facial inferior, respeitando, na maioria
dos casos, o território do nervo facial superior. Os movimentos do frontal e das
pálpebras estão conservados e pode existir Sinal de Bell. Por outro lado, a paralisia
facial periférica (P.F.P) ou idiopática resulta de uma lesão do nervo facial ao nível da
sua origem, do seu tronco, ou dos seus ramos, porém mais raramente esta última. É
caracterizada pelo compromisso do nervo facial superior e do inferior. Nesta paralisia a
face apresenta assimetrias tanto em repouso como em movimento (tentativa de
movimento voluntário). A Fisioterapia tem como objetivo na P.F.P incentivar a manter
as mucosas sempre hidratadas, normalizar a sensibilidade da hemifaces afetada,
aumentar a força muscular dos vários músculos da hemiface lesada, aumentar a
capacidade funcional, entre outros.
O nervo facial é o VII par craniano e é um nervo sensitivo e motor, este enerva a
maior parte dos músculos da face e é por isso mesmo responsável pela maioria dos
movimentos da mesma, daí que quando este está comprometido existem largas
alterações na face. O comprometimento deste nervo pode ter como causas:
traumatismos, tumores, doenças que afetam o SNC, cárie dentária, alterações
metabólicas, distrofias musculares, entre outras.
A causa da paralisia facial ainda não é totalmente conhecida, o que provoca
controvérsias no tratamento, que pode ter uma recuperação natural ou necessitar de
recorrer a cirurgia, contudo existem inúmeras causas que podem ser responsáveis pela
patologia, como já foi referido anteriormente.
A paralisia facial tem como problemas comuns a audição, o sentido gustativo, a fala,
a visão, a mastigação, tendência para as mucosas permanecerem secas, alterações da
sensibilidade na hemifaces lesada, diminuição da capacidade funcional, diminuição do
tónus na hemiface lesada, aumento da força muscular dos músculos da hemiface não
afetada, a contenção de líquidos, entre outros.
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A P.F.P tem como tratamento: terapêutico clássico (tratamento medicamentoso;


tratamento de fisioterapia) e tratamento cirúrgico (só utilizado em último caso,
quando surgem complicações, não se verificando melhorias do paciente através do
tratamento clássico).
Nesta patologia é necessário ter em atenção alguns aspectos:
 Movimentos suaves sempre simétricos;
 Movimentos muito dissociados para não estimular a criação de sincinesias;
 Exercícios para casa podem ser nocivos consoante ensino e nível de
colaboração do doente;
 Fadiga Muscular;
 Fatores não só motores como dor irradiada do ângulo da mandibula, alterações
do paladar, lacrimejar excessivo;
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Avaliação
Na Paralisia Facial, em Fisioterapia, avalia-se a simetria da face em 2 posições,
primeiro na posição de sentado e depois na posição de deitado em DD , e ainda em 2
fases, primeiro na fase em repouso e posteriormente em movimento.
O paciente quando é colocado na posição de DD deve ser alinhado e posicionado
correctamente para que não haja vieses nas avaliações. O paciente deve ser colocado
nesta posição se possuir grandes dismetrias faciais que não consigam anular a força da
gravidade ( quando o paciente se encontra na posição se sentado).
A ordem da avaliação deve ser em primeiro lugar em repouso total, ou seja, sem
qualquer actividade muscular. Deve observar-se a face do paciente em geral e tentar
perceber se possui alguma dismetria que seja notória, não esquecendo que ninguém é
simétrico, e que as hemifaces têm sempre ligeiras assimetrias. As referências para a
avaliação devem ser a seguintes:
 Nível de sobrancelhas;
 Olhos;
 Sulco nasal (ao nado do nariz- um em cada hemiface);
 Boca;
 Mento;
Quando avaliamos a face em movimento (vamos verificar se ambas as hemifaces se
movimentam ao mesmo tempo e com a mesma amplitude de movimento e se há
diferenças ou não em termos de actividade) pedimos os seguintes movimentos:
 Elevação das sobrancelhas ou enrugar a testa (rugas);
 Juntar as sobrancelhas;
 Fechar os olhos ligeiramente;
 Fechar os olhos com força;
 Franzir o nariz (rugas);
 Movimento do beijinho;
 Sorrir – Sorriso amarelo (não mostra os dentes);
 Sorrir – Sorrir abertamente (mostra os dentes);
 Mostrar dentes de baixo;
Quando avaliamos ao nível dos olhos, é crucial ter em atenção a presença
ou não do Sinal de Bell (quando o paciente faz o movimento do olho para cima
e para fora, ou seja, quando tenta piscar os olhos ou serrar, e não consegue
fazer eficazmente, pois a pálpebra superior não “deixa”, fica à vista desarmada Sinal de Bell
a parte branca do olho) e do Sinal de cílios de Souques ( quando se pede ao
doente para fechar os olhos fortemente, os cílios ficam muito mais visíveis do
lado paralisado, ou seja, o paciente cerra os olhos e as pestanas deste não Sinal de Souques
recolhem.)
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Quando avaliamos ao nível da boca/sorriso, é fulcral ter em atenção se existe um


repuxamento para uma das hemifaces.
Caso o paciente não possua a capacidade de percepção do movimento que lhe é
pedido, devemos demostrá-lo em frente a um espelho para que ele tenha consciência
do movimento que deve efectuar.
Após a conclusão destas avaliações, prossegue-se com mais 3 avaliações:
 Avaliação da sensibilidade superficial (térmica, álgica e tátil)
 Avaliação do tónus muscular:
Deve ser feita a comparação de ambas as hemifaces uma com a outra; depende da
pessoa que está a tocar (profissional); depende do paciente que está em avaliação.
Normalmente o tónus muscular é baixo na hemiface lesada, tomando o nome de
hipotónico (pode ser de 3 tipos: se for leve – quer dizer que é muito pouco/leve, quase
que é igual ao tónus da hemiface não lesada; se for moderado – afeta a hemiface toda,
existe mais ou menos tonicidade; e ainda se for supra – as bochechas de ambas as
hemifaces estão descaídas).
 Avaliação da força muscular:
Quando o paciente faz o movimento o fisioterapeuta aplica uma resistência e deste
modo deve observar se este individuo consegue completar ou não toda a amplitude.
Após todas estas avaliações prossegue-se com o tratamento.
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Tratamento
O tratamento (PFP-paralisia facial periférica) pode ser realizado de várias formas:
 Estimulação dos músculos da hemiface afetada com gelo;
 Estimulação dos músculos da hemiface afetada com pincel e escova;
 Massagem da hemiface afetada;
 Estiramento dos músculos da hemiface afetada;
 Impedir o encurtamento muscular e consequentemente a retracção muscular;
 Massagem na hemifaces não lesada;
 Ensino de exercícios ao paciente;
 Evitar compensações da hemiface não lesada;
 Facilitar o movimento – fazendo um ligeiro encurtamento do músculo de forma
a facilitar a contracção.
Os tratamentos abordados na aula foram para os seguintes músculos:
 Frontal – Elevação das sobrancelhas
 Supraciliar – Juntar as sobrancelhas
 Orbicular do olho – Fechar o olho
 Piramidal – Franzir o nariz
 Orbicular da boca – Beijinho
 Zigomáticos – Sorriso Amarelo
 Risório – Sorriso Aberto
 Depressor do lábio inferior – Mostrar dentes de baixo
A maior parte dos músculos faciais são músculos que não
têm inserção em zonas ósseas mas sim em zonas de
aponevrose, ou seja se existir um repuxamento de uma das hemifaces, toda a face fica
alterada, ficando, deste modo, com encurtamentos do lado menos lesado, caso não
seja tratado, pode ocorrer uma alteração da origem-inserção do músculo. Estes
músculos não possuem fuso neuromuscular. Devido ao facto de estes músculos
estarem inseridos em aponevroses quando há muito repuxamento podem existir
sincinesias, isto é, por exemplo, quando o doente tenta cerrar o olho, e a boca sobe
involuntariamente. O fisioterapeuta deve ajudar o paciente a tentar controlar esta
tendência, no entanto estas aparecem nas paralisias faciais na hemiface mais lesada.
Se estivermos na presença de um paciente sem qualquer actividade e com um
grande repuxamento da hemiface não lesada, ou seja, com grande assimetria em
repouso, vamos realizar alongamento de todos os músculos lesados, é necessário o
conhecimento da orientação das fibras musculares e a sua acção. Posteriormente
massajamos os pontos de tensão muscular que o doente possa ter, isto na hemiface
não lesada, normalmente os músculos de maior tensão são: elevador do lábio
superior, elevador do ângulo da boca, grande zigomático e pequeno zigomático e
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ainda o piramidal, entre outros, realizando o alongamento, necessitamos de um ponto


fixo e um ponto móvel devido ao facto destes músculos não possuírem inserções
ósseas. Quando já conseguimos ter uma face minimamente simétrica, sem
encurtamento, e alinhada na linha média iremos trabalhar ao nível da hemiface lesada.
Depois de se tratar a hemiface não lesada deverá proceder-se ao trabalho da outra
hemiface (lesada) para que haja um equilíbrio entre ambas.
Na hemiface lesada podem ser utilizadas várias técnicas como:
Gelo dinâmico – que é aplicado para a estimulação quando não há actividade. Este
deve ser aplicado no sentido das fibras musculares. Não se estimula uma contração
muscular mas obtém-se uma reação sensorial. Realiza-se o mesmo movimento por
três a quatro vezes e depois limpa-se. Para a aplicação correta desta técnica deve
proceder-se a 3 passos: O movimento deve ser realizado, mantido e posteriormente
deve descontrair-se o músculo. Para todos os músculos da hemiface lesada a aplicação
do gelo é feita da mesma forma, ou seja no sentido que o músculo contrai, três a
quatro vezes, limpa-se e pede-se ao paciente que contraia o músculo que esteve a ser
estímulado. Aquando da realização desta técnica não devemos pedir ao paciente que
contraia mais do que quatro vezes, pois o músculo pode entrar em fadiga muscular,
tendo em conta que os músculos da face são músculos de expressão e não de força.
Após a aplicação do gelo é aplicada a técnica de Estiramento e a de Facilitação
(aproximação das fibras musculares).
Técnica de Estiramento (Apêndice I): realizada no sentido oposto ao movimento
realizado pelo músculo. O músculo é estirado no sentido oposto ao seu movimento e
posteriormente pede-se ao paciente que o contraia. Na hemiface não lesada não se faz
o estiramento pois não se quer uma assimetria da face, antes pelo contrário, uma
simetria da face é o que se pretende, tal como referido já anteriormente. O que
poderemos fazer é uma massajem à hemiface não lesada e dar-lhe a informação de
inibição da contração.
Por exemplo quando estamos a trabalhar o orbicular da boca e verificamos que está a
haver um repuxamento para uma das hemifaces, colocamos a mão dentro da boca do
paciente e fazemos um estiramento, ou seja, fixamos um ponto e alongamos outro,
visto que estes músculos não têm inserções ósseas.
Técnica de Facilitação: poderemos realizar a técnica de facilitação quando estiver a
haver dificuldades na contracção, ou seja, vamos aproximar as fibras musculares do
músculo e posteriormente pedimos ao paciente que contaria o músculo, vamos ajudar
no sentido das fibras, por exemplo, quando estamos a tratar o músculo piramidal, para
retirar os pesos das bochechas fazemos técnica de facilitação.
Se o fisioterapeuta começar a ver que está começar a haver assimetrias deverá
parar logo com o tratamento.
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Dois aspetos bastante relevantes que se devem ter em conta, são: o fato de o
fisioterapeuta enquanto está a trata uma paralisia facial nunca deverá perder o
contacto das suas mãos com a cara do doente (nem que seja, somente, a massajar); e
os dedos nunca deveram ficar em cima do grupo muscular.
Para manter o alinhamento ainda poderemos utilizar umas fitas, fitas estas que vão
retirar o peso da gravidade. Estas fitas vão favorecer o bom movimento, pois quando o
paciente tenta fazer o movimento, vai faze-lo alinhado. Por exemplo, se o paciente
tiver a bochecha de uma hemiface com baixo tónus, esta fita vai puxa-la para cima,
facilitando ainda a contracção muscular.
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Apêndice I
Frontal
Elevação das sobrancelhas

Supraciliar
Juntar as sobrancelhas

Piramidal
Franzir o nariz

Orbicular da Boca
Beijinho

Zigomáticos
Sorriso Amarelo

Risório
Sorriso Aberto

Depressor do lábio inferior


Mostrar dentes de baixo

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