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ESTUDOS C. G. JUNG
ARQUÉTIPOS
SALVADOR
2017
PAULO CÉSAR PEREIRA DE JESUS SOUZA
SALVADOR
2017
ARQUÉTIPO: CONCEITO
O termo arquétipo faz jus à ideia citada acima da “imagem primordial” ou modelo
original de algo, ou seja, “arquétipos são os conteúdos do inconsciente coletivo,
organizados de maneira a valorizar modelos originais e universais que revelam sentido a
outras coisas do mesmo tipo.” (BARBOSA; SOUZA; SANTOS, 2016, p.3). Existem
inúmeros arquétipos quanto possível imaginarmos, mas Jung dedicou atenção especial a
alguns deles como a persona, a anima e o animus (enquanto estruturas relacionais, ou
seja, que favorecem o processo interacional do sujeito com o mundo), o arquétipo da
sombra (que exerce uma dinâmica bastante importante com o ego, enquanto estruturas
de identidade, além de funcionar como contraponto da persona), além do arquétipo do
Eu ou o Self (enquanto elemento de totalidade do sujeito), a que se considera o principal
arquétipo do inconsciente coletivo.
A partir disto, não podemos negar que a Psicologia Junguiana é simbólica em seu
entendimento. O símbolo na perspectiva junguiana se expressa como algo relativo e
abstrato diante da percepção do humano, do seu ponto de vista de acordo às suas
construções psíquicas, sua interpretação dará o sentido que lhe é conhecido,
influenciado pelo inconsciente coletivo. Enquanto que os símbolos possuem atribuições
amplamente subjetivas, “o signo pode ser compreendido de maneira muito mais
racional” (KAST, 2013, p.21). Ainda assim, signos podem tomar propriedade de
símbolo, se atentarmos ao fato que tentamos constantemente simbolizar o mundo, e
muitas vezes, atribuímos não apenas valores socialmente convencionados (signos) mas
valores abstratos aos objetos (KAST, 2013).
É pela representação simbólica que o humano pode manifestar suas impressões acerca
da existência, principalmente de forma mística, para dar sentido às coisas intangíveis e
inexplicáveis, como por exemplo a atribuição e correlação dos fenômenos da natureza
com deuses, reafirmando em toda e qualquer época e civilização, a necessidade de uma
figura superior (um símbolo ou uma imagem arquetípica de deus) a quem se possa
responsabilizar e/ou clamar em momentos de crise. Em alguns casos, podemos
considerar que essas representações simbólicas se expressam através de mitos:
Esse modo não lógico de entender as coisas é traduzido pelo mito como uma
forma primordial de explicar a realidade de ser e estar no mundo. Por não ser
lógica, a forma de explicação do sistema mítico pode ser compreendida como
decorrente de um entendimento vindo, possivelmente, do universo
inconsciente. (ALVARENGA, 2007, p.35)
Em concordância à citação acima, WHITMONT (1990, p. 75) nos elucida que “Jung
sentia que o significado central das nossas vidas pode ser aprendido apenas através de
uma conscientização dos nossos próprios mitos individuais”. Por esta ideia, percebemos
a importância dos estudos e conhecimentos dos mitos quando lembramos que o núcleo
de um mito é arquetípico e pode nos auxiliar no entendimento do momento da vida do
sujeito, nos mostrando a forma vasta de possibilidades e caminhos a serem percorridos
no processo terapêutico. A clínica junguiana nos possibilita embasar seus pressupostos
acerca de figuras mitológicas uma vez que, assim como os arquétipos do inconsciente
coletivo, um “mito expressa o mundo e a realidade humana, mas cuja essência é
efetivamente uma representação coletiva, que chegou até nós através de várias
gerações.” (BRANDÃO, 1986, p.35).
A FORMAÇÃO DOS ARQUÉTIPOS
A diferença básica entre instintos e arquétipos é que, mesmo estando ambos presentes
no inconsciente coletivo, os instintos não necessitam de aprendizagem individual para
se manifestar no soma e no mundo externo, enquanto que os arquétipos são moldes
universais que dependem da experiência individual para se fazerem percebidos, estão a
priori da coexistência do humano. Logo, os instintos seriam como que matérias brutas
enquanto que os arquétipos seriam os instintos lapidados pela experiência individual,
por meio do processo de psiquificação.
Com isso, concluímos que só temos como lidar com os arquétipos através das suas
manifestações na consciência, momento do qual temos acesso aos moldes pré-existentes
preenchidos pela experiência da possibilidade de se apresentar ao mundo.
PRINCIPAIS ARQUÉTIPOS
Como já foi dito anteriormente, Jung postula que existem tantos arquétipos quanto
poderíamos imaginar. Sendo assim, ele resolveu se debruçar sobre alguns arquétipos
que considerou essencialmente importantes para o entendimento dos funcionamento da
psique.
A PERSONA
Também entendida como as máscaras sociais que utilizamos na vida cotidiana, o termo
persona faz referência às máscaras do teatro que os gregos utilizavam em suas
encenações. É por onde “o homem assume uma aparência que geralmente não
corresponde ao seu modo autêntico. Apresenta-se mais como os outros esperam que ele
seja.” (SILVEIRA, 1981, p.79). Persona representa a função de relacionamento com o
mundo coletivo exterior no desempenho de papeis sociais como o chefe, o pai, a mão, o
irmão mais velho, o médico, a escritora. O ego enquanto estrutura saudável adota esses
papeis sociais de modo a lidar com situações específicas do dia a dia, de maneira
apropriada. Quando não se tem um ego bem estruturado, podem ocorrer disfunções na
manifestação da persona na consciência, como por exemplo, um desenvolvimento
excessivo da persona construindo uma personalidade rígida.
A SOMBRA
A sombra é a parte que armazena maior parte da natureza sombria dos sujeitos. Voltada
para a positividade, a sombra favorece o desenvolvimento de processos criativos,
oriundos de intuições profundas e da espontaneidade, enquanto que seu lado negativo
está fortemente vinculado à não aceitação do sujeito sobre componentes pertencentes a
si mesmo, que são simbolizados em objetos projetados no outro (NASSER, 2010). O
ego e a sombra exercem as funções de estruturas de identidade dos sujeitos.
A ANIMA E O ANIMUS
O SELF OU SI-MESMO
Quando percebemos o centro das mandalas, podemos refletir sobre uma ideia de
sagrado que existe em cada um de nós. O sagrado nas mandalas está comumente
representado ao centro como uma força que emana energia para nutrir as extremidades,
ao mesmo tempo que as extremidades emitem energia para nutrir o centro. Este sagrado
pode ser visto como símbolo da imago Dei, ou a imagem de deus em nós a que Jung
atribui à função do Self enquanto uma possível imagem arquetípica que, como que “uma
entidade não psicológica transcendente, atua sobre o sistema psíquico para produzir
símbolos de integridade, frequentemente como imagens de quaternidade ou mandalas
(quadrados e círculos).” (STEIN, 2006, p.143).
ALVARENGA, M. Z. Mitologia Simbólica: estruturas da psique e regências míticas. 1.ed. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2007.
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STEIN, M. Jung - O Mapa da Alma: uma introdução. 5.ed. São Paulo: Cultrix, 2006.