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Resumo:
No eterno embate entre razão e liberdade como posto por Salgado, ou entre o
entendimento do todo e da parte presente na complexa filosofia sistêmica hegeliana, existe um
óbice muito interessante e pouco discutido que é o indivíduo. Mundivisões ou interpretações,
dentro das chamadas ciências sociais – que ainda discutimos se como ciências podem ser
propriamente cognominadas – tentam realizar a explicação da realidade, a partir ou não do
indivíduo. Parece bastante claro, que a bicentenária obra da Filosofia do Direito soluciona esta
peleja, entretanto, muitas interpretações continuam a defender a possibilidade de se ver, no
indivíduo, uma certa importância. Nosso entendimento parte da ideia de que, embatumada de
explicações errôneas essa interpretação não se sustenta. A empreitada desta comunicação,
tentará aclarar, como a intoxicação ideológica da única ciência social dotada de consistência
metodológica e propriamente cientifica, tem chegado a conclusões reducionistas e
equivocadas pelo desentendimento desta publicação canônica hegeliana. A importância da
razão de Estado figura no vértice central desta possibilidade de aclaramento.
Resumen:
En el eterno choque entre razón y libertad publicado por Salgado, o entre la
comprensión del todo y la parte presente en la compleja filosofía sistémica hegeliana, hay un
obstáculo muy interesante y poco discutido que es el individuo. Las mundovisiones o
interpretaciones, dentro de las llamadas ciencias sociales -que todavía discutimos si como
ciencias pueden ser conminadas adecuadamente- tratan de explicar la realidad, sea o no el
individuo. Parece bastante claro que la obra de doscientos años de filosofía del derecho
1
Mestrando em Direito sob orientação do Prof. Dr. José Luiz Borges Horta e Bacharel em Ciências do Estado
pela UFMG, mestrando em Planejamento, Desenvolvimento pela UFSJ com bolsa Capes, sob orientação do
Prof. Dr. Claudio Gontijo. Membro da Sociedade Hegel Brasileira (SHB). Possui experiência na área de Ciência
Sociais Aplicadas, com ênfase em História Estado e Política, atuando principalmente nos seguintes temas: Hegel,
dialética, lógica, contemporaneidade e filosofia. Tem experiência técnica nas áreas de indústria gráfica, editorial
e licitações. Desenvolve Pesquisas sobre Federalismo e Pacto Federativo do Brasil e da Europa, e
Desenvolvimento Planejamento e Território bem como Filosofia e Teoria do Estado.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1768723348597820.
resuelve este papel, sin embargo, muchas interpretaciones siguen defendiendo la posibilidad
de ver, en el individuo, una cierta importancia. Nuestra comprensión se basa en la idea de que,
en el caso de explicaciones erróneas, esta interpretación no está respaldada. El propósito de
esta comunicación tratará de aclarar, como la intoxicación ideológica de la única ciencia
social avalada con consistencia metodológica y propiamente científica, ha llegado a
conclusiones reduccionistas y se ha confundido con el malentendido de esta publicación
canónica hegeliana. La importancia de la relación de estado aparece en el vértice central de
esta posibilidad de aligeramiento.
Abstract: In the eternal clash between reason and freedom as posted by Salgado, or
between the understanding of the whole and the present part in the complex Hegelian
systemic philosophy, there is a remarkably interesting and little discussed obstacle that is the
individual. Mundivisions or interpretations, within the so-called social sciences – which we
still discuss whether as sciences can be properly cognominated – try to explain reality,
whether the individual is. It seems quite clear that the two-hundred-year-old work of
philosophy of law solves this role, however, interpretations continue to defend the possibility
of seeing, in the individual, a certain importance. Our understanding is based on the idea that,
in the case of erroneous explanations, this interpretation is not supported. The purpose of this
communication will try to clear, as the ideological intoxication of the only social science
endorsed with methodological and properly scientific consistency, has come to reductionist
conclusions, and mistaken for the misunderstanding of this Hegelian canonical publication.
The importance of the state ratio appears at the central apex of this possibility of lightening.
2
Brandão enquanto economista desenvolve suas ideias no campo da pesquisa sobre o território. O professor de
origem mineira bastante enfático em suas colocações a respeito do problema do individualismo metodológico.
Em boa parte de sua obra o conceito volta a ser apresentado, a crítica aqui apresentada parece direcionada à
conceitos desenvolvidos por autores como Immanuel Kant e Max Webber. Na construção teórica destes fica
eminentemente claro que a importância, ou para ser mais rigoroso, a “potência” - e aqui utilizamos potência
enquanto conceito filosófico - mais adequada para a mudança social está na centelha do um; o que é
diametralmente oposto ao proposto por Hegel, quando, por exemplo, ele utiliza o exemplo da Bela Eticidade
Grega em sua Filosofia da História; conceito este que também aparece na Filosofia do Direito.
3
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Boitempo Editorial, 2015.
indivíduo enquanto ideia está em disputa; altercação. E de pronto pode-se afirmar que o
individuo da filosofia, o eu de forma pura e descontextualizada é visto por boa parte da
economia como objeto fim da ciência econômica, em desconsideração das faces enquanto
objeto meio e como objeto inicial do ‘tramite econômico’. O que quer dizer tal premissa?
Parece ululante para quem percebe a realidade enquanto dialética hegeliana, que ao menos
três momentos poderiam ser identificados para explicar a relação do indivíduo dentro do
contexto econômico. Entretanto, mesmo a realidade podendo identificadamente dialética a
maior parte da doutrina mas estudada, e mais adotada das ciências econômicas não consegue
perceber tal obviedade.
Como dito, falsificações da realidade como a ideia de escassez, a rigidez estática de
conceitos e movimentos históricos importantes, aliados à incapacidade de perceber a
vivacidade da realidade em que se está inserido leva grande parte dos cientistas de ciências
humanas identificar de forma errônea os problemas da sociedade presente, com isso propor
soluções desvirtuadas do que o Espírito do Tempo através da transfiguração parcial em Alma
do Mundo há de entender enquanto curso da História. Ainda, em um jogral popular para
explicitar a mesma ocorrência: “para todo o problema complexo existe uma solução simples e
errada”.
O autor Byung Chul-Han tangencia tudo que se pretende perpassar nesse curto texto,
mesmo que de forma de prospecção inicial e levanta alguns pontos interessantes como a
questão da auto exploração4, a questão da individualidade é mais bem tratada no seu livro No
Enxame5, mesmo que com o enfoque na questão do digital. Han também escreve sobre o
poder6 para tentar entender, para que possa da melhor forma explicar a relação do individuo
com o individualismo, me parece que o mesmo tendo todo esse esforço do eminente filósofo
existe a brecha para reavirá algo já explicito ainda na filosofia do Direito e revisitado em
textos como a Filosofia da História.
Entendendo-se que a exaltação ou o abandono do indivíduo pode mudar o curso da
História, tentar-se-á debruçar sobre o coo estes elementos se formam e como eles se
relacionam na interpretação que se defenderá aqui do que Hegel pretendeu com sua
construção. E como parece não restar dúvida, pretender-se-á confirmar e reafirmar o ponto
que nos parece ser o levantado por Hegel, o ponto de que apenas e tão somente pela obra
coletiva, e portanto pelo Estado a real efetivação da Liberdade se dará plenamente possível.
4
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Editora Vozes Limitada, 2015.
5
HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Editora Vozes Limitada, 2018.
6
HAN, Byung-Chul. Sobre el poder. Herder Editorial, 2016.
2. O Indivíduo
7
Em metafísica e estatística, a palavra indivíduo habitualmente descreve qualquer coisa numericamente singular,
embora por vezes se refira especificamente a "uma pessoa". Usada em muitos contextos, tanto "Aristóteles"
como "a Lua" são indivíduos. Em geral, "uva" e "vermelhidão" não são. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Indiv%C3%ADduo. Acessado em 08/11/2021.
8
pessoa é sinónimo de ser humano. Na filosofia, no entanto, há debates sobre o sentido preciso e o uso correto
da palavra, e quais são os critérios que definem algo (ou alguém) como "pessoa". Na filosofia, uma pessoa é uma
entidade que tem certas capacidades ou atributos associados a personalidade, por exemplo, em um contexto
particular moral, social ou institucional. Essas capacidades ou atributos podem incluir a autoconsciência, a noção
de passado e futuro, e a posse de poder deôntico, entre outros. Também, filosoficamente, uma pessoa é o ser
humano como agente moral. É aquele que realiza uma ação moral e aquele que ajuíza sobre ela. O conceito de
"pessoa", na filosofia, é difícil de definir de uma forma que seja universalmente aceita, devido à sua
variabilidade histórica e cultural e as controvérsias que cercam o seu uso em alguns contextos em diferentes
linhas filosóficas. Acessado em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pessoa_(filosofia). Acessado em 08/11/2021.
interesses individuais, talvez teria apenas a despeito de interesses coletivos, é o que tentamos
investigar.
Como aventado, das obras mais importantes, e mais completas está a Filosofia da
História, que juntamente com a Filosofia do Direito compõe nossa principal fonte de
balizamento para afirmarmos e reafirmamos o ponto nosso; e nela temos:
De maior visibilidade que isso não se faz necessário, Hegel está a dizer justamente o
mesmo que se ousa levantar-se como bandeira. A moralidade tem origem religiosa, e portanto
se afasta da Ética. Dentro do seio familiar os indivíduos não são dotados de vontade livre
como pessoas (daí a importância da escolha da individualidade analisada a partir da pessoa). E
por quais motivos esses processos se dão como descrito? Pelo fato de que a Família não é o
ambiente do desenrolar da História! Bem como já afirmamos e reafirmamos, e o caminho,
mais uma vez nos leva a inferir que tão somente será possível realizar essa liberdade Histórica
no Estado; por ele, nele e através dele.
O necessário, em seu sentido fundamental, trata do que é, e que não pode ser
de outra maneira, portanto, sua necessidade, fundada “no que é”, é ontológica. ... O
contingente, sendo então, o não-necessário, é quando não se pode haver ciência de
determinado objeto, pois pode ser de outra maneira, logo, pode ser e não ser.12
Hegel trata com por bastante destreza os sistemas de carecimentos da sociedade civil-
burguesa, fala das modalidades de trabalho e de como, para ela, o patrimônio é fundamental.
Daqui, Marx retira boa parte de sua inspiração para seus escritos sobre a crítica da economia
política. Entretanto não é nela que se arvora toda essa reflexão, apesar de dela se fazer um
valoroso uso (para ficar em um termo que a ciência política econômica 13 – nome original da
disciplina).
11
In: Metafísica V, 5, 1015a 34-35.
Ética a Nicômaco VI, 3, 1239b 23-24.
Segundos Analíticos I, 8, 75b 24-25.
Ética a Nicômaco VI, 3, 1139b 21-22. In: PORCHAT, O. P. Ciência e Dialética em Aristóteles. São Paulo:
Editora UNESP, 2001. p. 41.
12
Disponível em: http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/aristoteles/antonio.htm. Acessado em
08/11/2021.
13
GONTIJO, Cláudio. The neoclassical model in a multiple-commodity world: a criticism on Marglin. Revista
Brasileira de Economia, v. 52, n. 2, p. 335-356, 1998.
A grandeza e a magnitude da crítica, persegue os problemas da sociedade civil-
burguesa, no segundo momento na figura da administração do direito, vejamos bem, não na
figura do direito, mas da forma como ele é cortado pela sociedade civil-burguesa. Aqui Hegel
discute, o direito enquanto lei, o ser-aí da lei e o tribunal. Essas categorias articuladas de
forma trina discutem, respectivamente, a formação da lei, a discussão da lei, e aplicação da
lei. Vejamos, por entendermos o local onde se dá essa discussão, no seio da sociedade civil
organizada (burguesa), e por se tratar de uma crítica, é bastante claro a intenção do idealista
alemão; se em Hegel não ficou claro, para quem não entende de idealismo, Marx remonta os
conceitos que para ele “estavam de cabeça” para baixo, como o mesmo disse a respeito desta
obra de Hegel.
Para nós, Hegel é certeiro em identificar na sociedade civil-burguesa o cerne da
problemática do indivíduo, Marx não faz outra coisa, que não, dizer também que o indivíduo
não deve ser posto à frente do interesse coletivo, só que de outra forma; com sua linguagem
dialético-histórica.
Uma assustadora capacidade de interpretar e descrever a realidade, ainda que
observando uma das suas mais conhecidas máximas: “... essa totalidade temporal é uma
essência, o espírito de um povo. Os indivíduos pertencem a ele; cada um é filho de seu povo
e, igualmente, um filho de seu tempo”14. Ele deixa o suprassumo para o final, a relação
simbiótica e dicotômica da administração pública com a corporação está ainda, na dimensão
dá crítica à sociedade civil-burguesa; e aí exatamente isso que se faz útil de alicerce, para
então explicitar nossa colocação.
14
HEGEL, G.W.F. Filosofia da História. Trad. Maria Rodrigues e Hans Harden. 2ª ed. Brasília. Editora
Universidade de Brasília. 2008. p. 50.
legislativo. Note se que o poder judiciário não existe, ele está legado ao crivo da sociedade
civil-burguesa, não é incumbência do estado para Hegel a organização da justiça no seio do
Estado.
O ponto nodal aqui, é que o indivíduo quase que não existe quando estamos tratando da
organicidade do estado Hegeliano. Os membros dos componentes do Estado não são
reconhecidos enquanto indivíduos, apenas enquanto agentes detentores temporários de poder
investido neles. Hegel identifica de forma bastante clara a transitoriedade da pessoa, seja no
tempo, no espaço ou na institucionalidade.
3 Inferências