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Psicodrama com

adolescentes
Marieli Mezari Vitali
Doutoranda e Mestre em Psicologia – UFSC
Especialista em Psicodrama – Viver Mais Psicologia
Professora supervisora - ESUCRI
ABORRECENTES E
PROBLEMÁTICOS
A forma como entendemos a adolescência,
influenciará a forma como trataremos a
adolescência.

Cuidado com as receitas prontas sobre como


“lidar” com adolescentes.
Adolescência e construção social

https://www.scielo.br/j/pee/a/LJkJzRzQ5YgbmhcnkKzVq3x/?lang=pt&format=pdf
FAMÍLIA
Quando a gente olha para o
adolescente, a gente trata a família toda.

- Matriz de identidade.
- Dinâmica das relações e vínculos.
- Clusters.
Os adolescentes revivem no espaço
terapêutico, limitações muito similares às
enfrentadas na escola, na família e demais
ambientes de convívio.
O psicodrama pode ser uma ferramenta de
autoconhecimento para os adolescentes,
propiciar fortalecimento e segurança nas
relações estabelecidas com seus pares,
além de contribuir para a identificação do
EU-TU nas relações.
O Psicodrama possibilita que o
adolescente experimente novas
possibilidades e papéis, rompendo com as
ideias que são concebidas como verdade
sobre o que é ser criança, adolescente e
adulto.
DE QUEM PARTIU A PROCURA?

ADOLESCENTE FAMÍLIA
Os pais sabem? É necessário o Já pontuam a demanda. O
contato e a assinatura do adolescente sabe e quer? É
Termo de consentimento. necessário que o A. deseje.
MOMENTOS DA PRIMEIRA SESSÃO

RESPONSÁVEL AMBOS ADOLESCENTE


Perguntar sobre a Contrato da Único objetivo é
procura e as psicoterapia. estabelecer vínculos.
demandas: anotar. Modelo no próximo Possibilidades nos
Não deixar que slide. próximos slides.
foquem em si.
SESSÃO COM AMBOS
"Oi FULANO, eu sou a PSICÓLOGA X, muito prazer em te conhecer e nós vamos começar um
processo de psicoterapia e até agora eu estava ouvindo seus pais e eles trouxeram coisas muito
importantes para mim, que serão muito importantes para a psicoterapia, mas agora eu quero
estabelecer um contrato sobre como vai funcionar a psicoterapia de agora em diante. O que vocês
pais me disseram aqui, eu não vou contar para o FULANO, e o que o FULANO me contar de agora em
diante eu não vou contar para vocês, e o que vocês me contarem eu vou contar para o FULANO,
porque ELE/A é o meu paciente. Pais (mãe, pai ou responsável), não se preocupem, se tiver algo
grave, que vocês precisarem saber, eu vou chamar vocês junto com FULANO e a gente vai contar pra
vocês".
SESSÃO COM AMBOS

“Corta-se” os pais, mas Inicia o estabelecimento


01 valida suas 02 de vínculos com o
preocupações; adolescente;

Conteúdos graves: Relembrar o contrato


03 colocar sua vida ou de 04 com pais invasivos ou
outros em perigo; que solicitam feedbacks;
EXEMPLOS
“Ele te contou que aconteceu isso?" agradecer o contato e diz que vai levar isso para ele, dizendo que vai
trabalhar da melhor forma possível.
Se pedir feedback, lembrar do contrato, dizer que está tudo indo bem e que quando houver necessidade eles
serão avisados.
SESSÕES COM AMBAS: APÓS A INICIAL

Conforme o
Não há mais sessões adolescente for
sozinha com os reconhecendo o EU
pais/responsáveis. Se vai sendo fortalecido,
necessário, marcar realizar a sessão
sessão em conjunto conjunta. Uma sessão
com o adolescente. antes trabalhar o que
será abordado.
SESSÃO INICIAL
COM ADOLESCENTE
O único objetivo é estabelecer
vínculo. "Me conta quem é
você. O que você gosta de
fazer. Quais são suas
características..." Mostrar-se
disponível e perguntar sobre
seus gostos.
SESSÃO COM ADOLESCENTE

SÉRIES/FILMES MÚSICAS/LIVROS LAZER

Mesmo que passe uma sessão inteira conversando sobre uma série de livros,
porque é preciso que ele entenda que estamos disponíveis e interessadas.
Pode ser que tenha adolescente que já chegue falando sobre os problemas,
mas inicialmente é preciso escutar verdadeiramente esse adolescente.
O QUE GERALMENTE SE TRABALHA:
Os pais não permitem a individuação quando ocorre o abuso (diversas formas de
negligência) ou super protetores (não permite que o adolescente viva):
• Ajudar o adolescente a se reconhecer: seus gostos, seus valores, seus princípios.
• E depois desse fortalecendo, chamar os pais para que entendam que o filho cresceu e
tem ideias próprias, mas que isso não os afasta.
• E que os pais aceitem que o adolescente tenha ideias próprias e faça suas escolhas de
vida - permitir o processo de individuação saudável, mas assistindo o que está
acontecendo e apoiando.

• Na adolescência há a busca pela identidade própria, em que se revisa as vivências


infantis e identificações até então estabelecidas;
• Os papéis desempenhados estão em mudança, as relações estabelecidas se
transformam e exigem novas formas de se relacionar;
• Ocorre então a mudança de contra papéis, na medida em que os pais e membros do
átomo social precisam buscar novas formas de se relacionar com o indivíduo.
SESSÃO COM
ADOLESCENTE
O adolescente falou sobre algo
que leu, assistiu, jogou:
dramatizar e correlacionar o que
disso tem na família?
https://seer.ufs.br/index.php/clinicaecultura/article/view/9579
https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/article/view/18
Entendimentos
psicodramáticos
sobre a adolescência

https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/article/view/334/328
Papéis na
adolescência

https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/article/view/389
https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/article/view/466
https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/article/view/19
Matriz de
identidade
Artigo: A adolescência sob o olhar
psicodramático: a Teoria da Matriz
de Identidade
TEORIA DA MATRIZ
DE IDENTIDADE
Aborda a forma como os indivíduos
desenvolvem suas relações através dos grupos
em que se inserem. Sendo que os grupos são
importantes para o desenvolvimento pessoal,
estabelecimento dos vínculos e formação da
identidade dos adolescentes.
INDIFERENCIAÇÃO
● O indivíduo não tem consciência de si mesmo e necessita de alguém que
cuide dele com uma função de ego-auxiliar:

o Paradoxo de não ser criança, mas também não ser adulto, ter responsabilidades,
mas ainda não ser considerado responsável;
o Momento de estranhamento do corpo em processo de mudança, das emoções
que se amplificam e das relações que se tornam mais potencializadoras ou
destruidoras ao self;
o Fragilidade identitária: O adolescente se questiona sobre quem é;
o O adolescente precisa de alguém que lhe diga quem é, e essa tensão diante das
incertezas vividas nesta etapa, pode conduzir os adolescentes a processos de
ansiedade e depressão;
INDIFERENCIAÇÃO
NA PSICOTERAPIA
Viabilizar através de duplos e da exploração
de modelos de identificação, o caminho do
adolescente rumo ao autoconhecimento. Esse
caminho pode ser feito por meio de
personagens com os quais o adolescente se
identifica, seja de jogos, filmes ou séries. São
questões norteadoras: “Qual o propósito desse
personagem?” “Qual seu ponto forte?” “Qual
seu ponto fraco?” “Como ele lida com as
dificuldades da missão/da sua história?” Ainda
é possível concretizar com o adolescente as
características desses personagens, de modo a
reconhecer semelhanças e diferenças.
SIMBIOSE
● Começa a identificar o outro, mas há uma forte ligação com o ego-auxiliar
primário:

o Busca por alguém que diga ao adolescente quem é: alguém que use as mesmas
roupas, mesmos penteados, mesmos personagens em jogos - alguém que dê
sentido para a sua vida, já que não é criança, mas também não é adulto;
o Momento em que os adolescentes permanecem com pessoas que compartilhem
dos mesmos gostos, em busca de uma coerência com o que considera ser sua
identidade;
o Quando a simbiose ocorre com uma figura afetiva, vemos adolescentes mudando
drasticamente, de aparência, gostos, de modo a ganhar uma identificação se
misturando ao outro;
o Quando decorre do relacionamento familiar, observa-se um padrão de
retraimento social e dificuldade de lidar com a frustração, que se materializa na
ansiedade de separação;
SIMBIOSE NA
PSICOTERAPIA
Ficar atento ao realizar essa separação, que
conduzirá ao reconhecimento do EU, tendo
em vista que se o manejo terapêutico for
direto, pode causar reações de alarme e o
adolescente pode romper com a psicoterapia.
Usar objetos intermediários que possam
representar as particularidades do EU e do TU.
Concretizar as características do EU e do TU
em objetos, entrevistar cada uma das
características para entender como surgiu,
onde se mostra de forma mais ampla, em que
momento aquela característica se esconde,
conduzindo o adolescente ao reconhecimento
do EU.
RECONHECIMENTO DO EU
● Etapa em que o indivíduo descobre sua própria identidade, se percebe
separado da mãe, dos outros e dos objetos – regida pelo espelho:

o Para sair do processo de simbiose e adentrar no reconhecimento do EU o


adolescente passa a confrontar o que ele é de fato, e o que é dos outros;
o Proporcionar experimentações, quando o adolescente se permite os testes de
realidade: Novas cores de cabelo, novas roupas, novas gírias, descobrir seu novo
corpo, novos gostos e novas possibilidades de ser no mundo e de ser com o outro;
o Nesse momento o adolescente pode experimentar o sexo de forma precoce ou
ainda adentrar no âmbito do sexo virtual, por meio da troca de imagens de corpos;
RECONHECIMENTO DO
EU NA PSICOTERAPIA
Oferecer na realidade suplementar a
possibilidade desse adolescente se
experimentar, treinar papéis novos, enfrentar
cenas temidas, o que favorece para que as
experimentações fora do setting terapêutico
ocorram de forma segura.
Para o reconhecimento do EU é importante a
separação entre o eu real e o eu ideal e, esse
confronto, na realidade suplementar pode
auxiliar para confrontar conservas culturais e
cadeias transferenciais familiares.
RECONHECIMENTO DO TU
● Etapa em que o indivíduo percebe o outro e de estabelecer contato com o
mundo, percebe como o outro sente e reage em relação às suas ações:

o O adolescente procura no contra papel uma validação de si e quando não a


encontra reconhece esse TU via oposição;
o Quando o TU advém de uma relação assimétrica, o reconhecimento pode se dar
via oposição, principalmente no grupo familiar;
o Ou pode ser um TU de uma relação simétrica, entre pares, em que o
reconhecimento decorre da percepção do outro;
RECONHECIMENTO DO
TU NA PSICOTERAPIA
A técnica da inversão de papéis aprimora a
tele entre pais/pares e adolescente. Nesse
contexto, para conhecer a si mesmo é
necessário também identificar o papel do
outro, o que no caso dos adolescentes é
fortalecido quando essa identificação é
confirmada entre pares.
RELAÇÕES EM CORREDOR
● Brecha entre a fantasia e a realidade. O indivíduo diferencia a fantasia da
realidade e separa o EU do resto do mundo:

o Momento em que o adolescente passa a se relacionar com aqueles que legitimam


sua forma de pensar;
o Se relaciona com uma pessoa por vez, para evitar o confronto, pois assim o
adolescente não precisa “negociar o EU” e pode manter sua identidade a partir de
papéis que já sabe desempenhar;
o Isso decorre do medo do adolescente de perder a construção de sua identidade e
ter que voltar para a indiferenciação ou simbiose, por isso busca formas de
legitimar seus próprios sentimentos e visões se relacionando com pessoas que
compartilhem desses mesmos atributos;
RELAÇÕES EM CORREDOR
NA PSICOTERAPIA
O Psicodrama possibilita a vivência da temida
“negociação do EU”. Concretizar cada
característica de seu EU, tenta-se negociar
propondo trocas de características: “Que tal
você me dar essa ousadia? Você não precisa
dela, ela te atrapalha, te faz brigar com muita
gente. Em troca te dou a calma...”.
Via interpolação de resistência possibilita ao
adolescente defender as características dos
papéis desempenhados, de modo que não
responda com raiva defensiva quando tiver
que lidar com mais de um TU por vez, por
exemplo, pai e amigos.
PRÉ-INVERSÃO
● Inicia-se o processo de inversão de papéis, em que é possível jogar com o
papel do outro:

o Busca fazer parte do mundo adulto, mas ainda não suporta a ideia de que os pais
adentrem em seu universo, que queiram saber o que faz e gosta, tratam isso como
“invasão ao EU”;
o Essa é uma importante etapa para que o adolescente possa, posteriormente,
circularizar e ingressar em outros grupos sem haver conflitos;
o O adolescente necessita de tempo para ajustar as novas aquisições, as mudanças,
para realizar a transição entre o mundo infantil e os pais da infância para o mundo
atual e os pais atuais.
PRÉ-INVERSÃO NA
PSICOTERAPIA
A orientação de pais se torna imprescindível,
tendo em vista a necessidade de negociação
de níveis de privacidade. É possível fazer o
exercício prático do estabelecimento de
limites, pedindo que o adolescente caminhe
passo a passo em direção aos pais, parando na
distância que considerar confortável.
Depois, convidar os pais para falarem sobre o
que sentem nessa distância e viabilizar a
inversão de papéis, para que pais e
adolescentes compreendam que privacidade
não significa ausência de regras ou perda de
afeto.
TRIANGULAÇÃO
● O indivíduo compreende que não é o único para o outro, que há um ele
em relação com o seu TU:

o Os demais membros dessa relação ajudam o indivíduo a aceitar a realidade de


que os outros têm relacionamentos independentemente dele e que isso não se
constitui em uma ameaça de perder o afeto do seu TU;
o Para definir sua identidade o adolescente necessita se separar dos pais, que na
infância estavam muito próximos;
o Os adolescentes se colocam em campos opostos se opondo aos pais para
desmitificá-los, desidealizá-los e, assim, ocorra a separação dos pais e até mesmo
de amigos, sendo um momento de rupturas para definir sua própria identidade;
TRIANGULAÇÃO NA
PSICOTERAPIA
O reconhecimento das diferenças para poder aceitar
suas imperfeições e o trabalho com o EU/TU/ELE
real/ideal torna-se importante. O psicodramatista
pode colocar o adolescente no papel do TU/ELE ideal
e do TU/ELE real, propondo o diálogo entre ambos.
O diálogo pode girar em torno do reconhecimento e
aceitação desse TU/ELE real: “O que o pai real
deseja?” “O que o adolescente real deseja?” “O que o
pai real sente pelo adolescente?” “O que o adolescente
real sente?” “Quais as imperfeições do EU/TU/ELE
real?” “O que fazer com essas imperfeições?”
É importante perceber se o adolescente rejeita ou
aceita as imperfeições, de modo que seja possível
evidenciar que o que “não aceito no TU e no ELE,
também não concordo no meu EU”.
FRÁTRIA
● Reconhecimento do TU e dos ELES em relações simétricas:

o O adolescente se relaciona com outros adolescentes que compartilhem dos


mesmos gostos e que não estabeleçam relações hierárquicas de poder;

o Trabalho psicodramático: o adolescente nessa etapa parece aceitar as suas


imperfeições e às daqueles que fazem parte de seu grupo.
FRÁTRIA NA
PSICOTERAPIA
A orientação de pais se torna imprescindível,
tendo em vista a necessidade de negociação
de níveis de privacidade. É possível fazer o
exercício prático do estabelecimento de
limites, pedindo que o adolescente caminhe
passo a passo em direção aos pais, parando na
distância que considerar confortável.
Depois, convidar os pais para falarem sobre o
que sentem nessa distância e viabilizar a
inversão de papéis, para que pais e
adolescentes compreendam que privacidade
não significa ausência de regras ou perda de
afeto.
CIRCULARIZAÇÃO
● Processo de socialização é uma relevante experiência para que os futuros
relacionamentos sociais sejam satisfatórios – EU-NÓS:

o O adolescente na circularização consegue entender que pode ingressar no grupo


dos adultos, dos adolescentes e revisitar a infância sem medo de ter que
“diminuir” seu EU, ou seja, consegue circular por diferentes grupos e manter seu
EU;
o Trabalho psicodramático: Importante estar em grupos onde sentem-se
protegidos entre os semelhantes, em que poderão trabalhar suas formas de
relacionamento e também seus conflitos individuais.
INVERSÃO DE PAPÉIS
● Consegue se colocar no lugar do outro, permitindo que esse outro se
coloque em seu lugar, assim adquire um melhor conhecimento da
realidade de outras pessoas e de sua própria realidade:

o A oportunidade de colocar-se no lugar do outro possibilita que o adolescente


perceba o outro na relação, assim poderá aceitá-lo e ter a chance de imitá-lo, para
posteriormente constituir a própria identidade;
o A inversão de papéis auxilia o adolescente a desenvolver suas potencialidades.
INVERSÃO DE PAPÉIS NA
PSICOTERAPIA
Se na circularização o adolescente passa a se
sentir seguro de sua identidade, seu EU, em
diferentes grupos. Na inversão de papéis o
adolescente consegue compreender as
motivações e desejos dos demais, mesmo sem
concordar.
Para que o adolescente chegue a essa etapa
precisa ter passado pelas anteriores.
Adolescentes que estão indiferenciados ou que
não se reconhecem não conseguem realizar a
inversão de papéis.
ENCONTRO
● Capacidade para estabelecer relações télicas. As pessoas que alcançam
essa etapa mantêm-se firmadas em suas próprias identidades:

o O adolescente ao atingir o encontro não o realiza somente com o outro, mas


também consigo mesmo.
o O encontro significa que o adolescente consegue se sentir um ser em si mesmo,
no aqui e agora: não se vê como um projeto de futuro, nem alguém que precise
negligenciar a criança que foi.
o Trata-se de uma pessoa que se permite experimentar o que é hoje, suas diversas
fases e papéis no aqui e agora, aceitando quem é, quem foi e quem poderá ser.

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