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O PROJETO MILITAR DE DISTENSAO NOTAS SOBRE A AGAO POLITICA DO PRESIDENTE GEISEL Sureley Ki Mathias Universidade Estadual Paulista RESUMO. A partir da anélise das discursos do Presidente Ernesto Geisel, confrontados com a conjuntura em que Joram produzidos, discutimos o projeto militar para a distensdo brasileira, sugerindo como principal objetivo desta itima o controle e o restabelecimento das linhas de comando interno as Forgas Armadas. PALAVRAS.CHAVE: militares; distensiio politica; discurso politico; governo Geisel A participagio das Forgas Armadas (FFAA) 1a politica brasileira nao foi inaugurada com a intervengio de 1964. Sao bastante conhiecidas para serem novamente lembradas as mui veres que elas tomaram parte em governos ou foram responsives seja pela queda, seja pela ascensao de governantes. Oliveiras Ferreira (1988) € José Murilo de Carvalho (1977) che- gam até a apontar 0 nimero de tais intervengiies ‘na Repiiblica. Nesse sentido, a novidade do mo- vimento militar de 1964 encontra-se na manu- engi do poder estatal nas maos das Forgas Ar- madas ¢ na duraco deste estado de coisas, To- davia, ¢ importante destacar que duragio refere- se aqui to somente & unidade temporal, niio & manuteng4o do mesmo projeto politico ou do ‘mesmo grupo militar no poder. Como mostra Carlos Estevam Martins e Sebastidio Velasco Cruz (1984), principal caracteristica do regime és-64 encontra-se no bindmio durabilidade- ‘mutabilidade: a permanéncia do poder nas maos das Forgas Armadas foi marcada pela mutabili- dade da ago politica dos militares, conseqiién- ciade um certo revezamento no poder de grupos militares ou, mais precisamente, dos grupos do- minantes (SOARES et al: 1995). Da mesma forma, é nas divisdes internas as Forgas que encontramos pelo menos parte da explicagao da transi¢ao de uma ordem autorita- rinde base militar para uma outra, hoje chamada democritica. Assim, a hipétese que desenvolve- mos aqui € a de que uma parcela das Forgas Ar- madas jamais pretendeu permanecer no poder, apenas defendia a intervengo militar na politica com 0 objetivo de “arrumar a casa”. A partir do. ‘momento que tal outros grupos mi alentar intengdes distensionistas, procurando, criar as condigdes necessérias para que tal inten- do se transformasse em projeto de agao sobre 4 political. Isto também explica o carater cendogeno da transigio brasilcira. Nao cabe aq} uma discussio aprofundada sobre estratégia, base teGrica para a guerra e para a aco militar. Porém, seguindo Aron, sto principios da teoria estrategica: "|... © principio da concentrasiio das forcas (evitar 4 dispersao), o principio do objetivo (escolher um plano © cumpri-lo, resistindo ds presses adversas), da perseguiciio (perseguir vigorosamente as vantagens obtidas), da ofensiva aproveitara iniciativa, no momento ‘oportu-no, ¢ explori-ta plenamente para forgar summa decisio), da seguranga (proteger suas for- 25 ¢ linhas de comunicagao contra um ataque surpresa do inimigo), da swpresa (enganar 0 inimigo a respeito de nossas intengdes), da eco- nomia de forcas (empregar plenamente todas as forgas disponiveis)” (ARON, 1986: 699, grifos ‘no original). Tomando essas afirmagdes, pode-se dizer que 0 tipo de ago do grupo distensionista, chamemo-lo assim, ndo difere daquela atuasa0, para a qual as Forgas Armadas de qualquer pais izamos 0 termo projeto como um plano ou estratégia elaborada, enquanto intenc%o quer significar um desejo, uma vontade que leva

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