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Literatura

Exercícios sobre Parnasianismo

Exercícios

1. (U.Uberaba) Quanto à linguagem parnasiana é incorreto afirmar que:


a) Há um excesso de adjetivos e vocábulos perfeitamente dispensáveis.
b) O parnasiano emprega uma linguagem pura, sem incorreções e sem vulgarismos.
c) Surge da procura da sobriedade, do comedimento expressional.
d) O soneto e os versos alexandrinos constituem a preferência métrica do parnasianismo.
e) A descrição é um recurso de linguagem de largo uso, como no naturalismo.

2. (Mackenzie –SP) Quem escrevia e para quem se escreviam poemas no período


antemodernista? O Parnasianismo é o estilo das camadas dirigentes, da burocracia culta e
semiculta, das profissões liberais habituadas a conceber a poesia como "linguagem ornada”,
segundo padrões já consagrados que garantam o bom gosto da imitação. Há um academismo
íntimo veiculado à atitude espiritual do poeta parnasiano; atitude que tende a enrijecer-se nos
epígonos*, embora se dilua nas vozes mais originais. Os mesmos temas, as mesmas palavras, os
mesmos ritmos confluem para criar uma tradição literária que age a priori ante a sensibilidade
artística, limitando-lhe ou mesmo abolindo-lhe a originalidade.
(Alfredo Bosi)
Assinale a alternativa correta sobre o texto
a) No texto, o termo antemodernista é utilizado para nomear a fase também conhecida como Pré-
modernismo.
b) As observações de Alfredo Bosi trazem também implícita uma crítica à estética simbolista.
c) A análise aponta traços de estilo literário considerados modelares pela geração de 1922.
d) Descritivismo, formalismo e subjetividade romântica são traços da literatura antemodernista
comentada pelo crítico.
e) A concepção de poesia como linguagem enfeitada produziu obras pouco ou nada originais.

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3. (Unificado)

Texto 2
Texto 1 Profissão de fé
A minha musa (...)
(...) Invejo o ourives quando escrevo:
Não é como a de Horácio a minha Musa; Imito o amor
Nos soberbos alpendres dos Com que ele, em ouro, o alto relevo
Senhores Faz de uma flor.
Não é que ela reside; (...)
(...) Torce, aprimora, alteia, lima
Ela ama a solidão, ama o silêncio, A frase; e, enfim,
Ama o prado florido, a selva umbrosa No verso de ouro engasta a rima,
E da rola o carpir. Como um rubim.
Ela ama a viração da tarde amena, Quero que a estrofe
O sussurro das águas, os acentos cristalina,
De profundo sentir. Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
(...)
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
(Olavo Bilac)

Assinale a alternativa falsa:


a) A referência ao poeta latino Horácio, no texto de Gonçalves Dias, revela a obediência romântica
aos modelos literários da Antiguidade clássica.
b) Os dois fragmentos caracterizam, respectivamente, a valorização do mundo afetivo do sujeito
lírico e a ênfase no objeto do fazer poético.
c) Os textos marcam, respectivamente, a integração e o distanciamento do eu lírico na natureza.
d) Os verbos dos textos valorizam, respectivamente, o sentir e o fazer.
e) “Ela ama (...) os acentos / De profundo sentir” e “Deusa serena / Serena forma” sintetizam,
respectivamente, as duas concepções poéticas.

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4. (UFF)
Língua Portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela ...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,


Tuba de alto clangor, lira singela
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma


De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”


E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
(Olavo Bilac.Poesias)
Vocabulário

Lácio: Região da Itália


Central no litoral do mar Tirreno.
inculta: Singela, tosca / rude, agreste.
ganga: Resíduo, em geral não aproveitável, de uma jazida filoniana, o qual pode, no entanto, em certos
casos, conter substâncias economicamente úteis.
tuba: 1. Entre os romanos, trombeta de metal, formada por um simples tubo reto, comprido e estreito.
2. Designação comum aos baixos da família dos saxornes, especialmente o saxorne contrabaixo(...)
clangor: Som rijo e estridente como o de certos instrumentos metálicos de sopro, como, p. ex., a trompa
e a trombeta.
trom: Som de trovão.
silvo: Qualquer som agudo e relativamente prolongado produzido pela passagem do ar comprimido
entre membranas que vibram; apito.
procela: Tempestade marítima.
arrolo: Canto para adormecer crianças.

Na poética parnasiana se costuma destacar que “ela promove o culto da forma em geral”. Destaque do
poema “Língua Portuguesa” de Olavo Bilac, justificando, dois exemplos desse culto da forma, próprio
da poética parnasiana.

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5. (Unesp)
Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:

"Espera ao menos que desponte a aurora!”


Tua alcova é cheirosa como um ninho...
E olha que escuridão há lá por fora!

Como queres que eu vá, triste e sozinho,


Casando a treva e o frio de meu peito
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!

Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!


Não me arrojes à chuva e à tempestade!
Não me exiles do vale do teu leito!

Morrerei de aflição e de saudade...


Espera! até que o dia resplandeça,
Aquece-me com a tua mocidade!

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça


Repousar, como há pouco repousava...
Espera um pouco! deixa que amanheça!"

E ela abria-me os braços. E eu ficava.


(Olavo Bilac)
Embora seja considerado um dos mais típicos representantes do Parnasianismo brasileiro, cuja
estética defendeu explicitamente no célebre poema "Profissão de Fé", Olavo Bilac revela em boa parcela
de seus poemas alguns ingredientes que o afastam da rigidez característica da escola parnasiana e o
aproximam da romântica. Partindo desta consideração:
a) Identifique duas características formais do poema de Bilac que sejam tipicamente
parnasianas.
b) Aponte um aspecto do mesmo poema que o aproxima da estética romântica.

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6. (UFRJ)
Pátria
Pátria, latejo em ti, no teu lenho, por onde
Circulo! e sou perfume, e sombra, e sol, e orvalho!
E, em seiva, ao teu clamor a minha voz responde,
E subo do teu cerne ao céu de galho em galho!

Dos teus líquens, dos teus cipós, da tua fronde,


Do ninho que gorjeia em teu doce agasalho,
do fruto a amadurar que em teu seio se esconde,
De ti, – rebento em luz e em cânticos me espalho!

Vivo, choro em teu pranto; e, em teus dias felizes,


No alto, como uma flor, em ti, pompeio e exulto!
E eu, morto, – sendo tu cheia de cicatrizes,

Tu golpeada e insultada, – eu tremerei sepulto:


E os meus ossos no chão, como as tuas raízes,
Se estorcerão de dor, sofrendo o golpe e o insulto!
(BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 23ª edição. 1964, p.261.)

No texto, o eu-lírico aparece metamorfoseado em elementos da natureza, ligados à ideia de Pátria. Tal
atitude estaria em sintonia com os princípios parnasianos? Justifique sua resposta.

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7. (Unesp) A questão abaixo toma por base o poema Soneto, do poeta romântico brasileiro José
Bonifácio, o Moço (1827-1886), e o poema Visita à Casa Paterna, do poeta parnasiano brasileiro Luís
Guimarães Júnior (1845-1898).

Soneto
Deserta a casa está... Entrei chorando,
De quarto em quarto, em busca de ilusões!
Por toda a parte as pálidas visões!
Por toda a parte as lágrimas falando!

Vejo meu pai na sala, caminhando,


Da luz da tarde aos tépidos clarões,
De minha mãe escuto as orações
Na alcova, aonde ajoelhei rezando.

Brincam minhas irmãs (doce lembrança!...),


Na sala de jantar... Ai! mocidade,
És tão veloz, e o tempo não descansa!

Oh! sonhos, sonhos meus de claridade!


Como é tardia a última esperança!...
Meu Deus, como é tamanha esta saudade!...
(José Bonifácio, o Moço. Poesias. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1962)

Visita à Casa Paterna


Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo:

Entrei. Um Gênio carinhoso e amigo,


O fantasma, talvez, do amor materno,
Tomou-me as mãos, -olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)


Em que da luz noturna à claridade,
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto

Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?


Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.
(Luís Guimarães Junior, Sonetos e Rimas)

José Bonifácio, o Moço, era um poeta romântico, enquanto Luís Guimarães Jr. era um parnasiano com
raízes românticas. Os dois poemas apresentam características que servem de exemplo para tais
observações. Levando em conta esse comentário,

a) Identifique um traço típico da poética romântica presente nos dois poemas;


b) Aponte, em Visita à Casa Paterna, um aspecto característico da concepção parnasiana de poesia.

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8. (ENEM – 2009)

Ouvir estrelas Ouvir estrelas


“Ora, (direis) ouvir estrelas! Certo Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo
perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, que estás beirando a maluquice extrema.
que, para ouvi-las, muita vez desperto No entanto o certo é que não perco o ensejo
e abro as janelas, pálido de espanto… De ouvi-las nos programas de cinema.

E conversamos toda noite, enquanto Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo
a Via-Láctea, como um pálio aberto, que mais eu gozo se escabroso é o tema.
cintila. E, ao vir o Sol, saudoso e em pranto, Uma boca de estrela dando beijo
inda as procuro pelo céu deserto. é, meu amigo, assunto p’ra um poema.

Direis agora: “Tresloucado amigo! Direis agora: Mas, enfim, meu caro,
Que conversas com elas?” Que sentido As estrelas que dizem? Que sentido
tem o que dizem, quando estão contigo?” têm suas frases de sabor tão raro?

E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Amigo, aprende inglês para entendê-las,
Pois só quem ama pode ter ouvido Pois só sabendo inglês se tem ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”. Capaz de ouvir e de entender estrelas.
TIGRE, Bastos. Ouvir estrelas. In: Becker, I. Humor e
humorismo: Antologia. São Paulo: Brasiliense, 1961.
BILAC, Olavo. Ouvir estrelas. In: Tarde, 1919.

A partir da comparação entre os poemas, verifica-se que,


a) no texto de Bilac, a construção do eixo temático se deu em linguagem denotativa, enquanto no de
Tigre, em linguagem conotativa.
b) no texto de Bilac, as estrelas são inacessíveis, distantes, e no texto de Tigre, são próximas,
acessíveis aos que as ouvem e as entendem.
c) no texto de Tigre, a linguagem é mais formal, mais trabalhada, como se observa no uso de
estruturas como “dir-vos-ei sem pejo” e “entendê-las”.
d) no texto de Tigre, percebe-se o uso da linguagem metalinguística no trecho “Uma boca de estrela
dando beijo/é, meu amigo, assunto p’ra um poema.”
e) no texto de Tigre, a visão romântica apresentada para alcançar as estrelas é enfatizada na última
estrofe de seu poema com a recomendação de compreensão de outras línguas

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Gabarito

1. A
Em relação à linguagem parnasiana não há um excesso de adjetivos; este, na verdade, é um traço típico
do Romantismo.

2. E
A “linguagem ornada”, a qual o crítico se refere no texto, é a linguagem que deixa a poesia esteticamente
agradável, mas não original. A letra a) é incorreta porque pré-modernismo é o momento literário que
possui traços condizentes com o Modernismo, já o antemodernista é aquele que se prendia a traços
conservadores; a b) não está certa porque não há menção ao Simbolismo; a c) não é correta porque a
arte antemodernista em questão não possui nada a ver com a geração de 22. Por fim, a d) não está certa,
pois subjetividade romântica não é um traço em questão, visto que o crítico afirma que a razão se
sobrepõe à emoção.

3. A
Na poesia romântica não há esse compromisso com o modelo literário da Antiguidade Clássica; afinal,
o poeta romântico traz, em suas obras, a liberdade estética. É o Parnasianismo, por outro lado, que possui
essa relação com elementos greco-romanos.

4. Alguns exemplos que ilustram a valorização da forma, no poema de Olavo Bilac, são: o fato do poema
ser um soneto (ou seja, apresentando dois quartetos e dois tercetos), a presença de versos decassílabos,
uso de rimas ricas (ou seja, formadas por classes gramaticais diferentes, como em “bela” e “vela”,
respectivamente um adjetivo e um substantivo) e o uso rebuscado da língua portuguesa.

5.
a) Versos decassílabos e rimas ricas.
b) A temática principal do poema tende a um sentimentalismo profundo, diferentemente da
impassibilidade parnasiana.

6. A atitude de trazer o eu lírico metamorfoseado em elementos da natureza, ligados à noção de Pátria, não
corresponde aos princípios parnasianos; afinal, esse eu lírico busca agir de forma mais emotiva, que
nega a razão. Diferentemente, portanto, do sujeito poético parnasiano, que procura conter as suas
emoções e, consequentemente, busca por maior racionalidade.

7.
a) Em ambos os textos, nota-se o sentimentalismo romântico, como em “Por toda a parte as lágrimas
falando!”, verso do poema Soneto, e em “Chorava em cada canto uma saudade”, verso que encerra
o poema Visita à Casa Paterna. Além disso, a temática da saudade se faz em ambas as obras,
elemento típico do Romantismo.
b) No poema Visita à Casa Paterna, nota-se a presença de rimas ricas, versos decassílabos e é um
soneto, sendo esses três traços da concepção parnasiana de poesia.

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8. D
O texto de Bilac trata do diálogo entre o eu lírico e as estrelas do céu, possível de se estabelecer apenas
por pessoas apaixonadas, e o de Bastos Tigre, humorístico, do diálogo com as estrelas de cinema, que
só acontece se o eu lírico aprender o inglês, a língua falada por tais estrelas. Quando o eu lírico, no texto
de Bastos Tigre, menciona “uma boca de estrela dando beijo” como um assunto propício para compor
um poema, está fazendo um comentário sobre o seu próprio texto, já que o poema aborda justamente
essa temática. Esse procedimento exemplifica a função metalinguística da linguagem.

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Poesia da segunda metade do século XIX (Parnasianismo e


Simbolismo)

Teoria

Parnasianismo
Visando combater a expansão da idealização amorosa provocada pelo Romantismo e resgatando elementos
da cultura neoclássica, o movimento Parnasiano do século XIX valorizava a arte clássica e a harmonização
de ideias na poesia.

O contexto histórico do Parnasianismo se situa ao final do século XIX, com isso, esse período já adianta uma
transição de pensamentos e ideais para o século XX. Entre os principais acontecimentos, no Brasil, há a
Abolição da Escravatura (1888) e a Proclamação da República (1889). No cenário europeu, há a influência
dos anseios da 1º Guerra Mundial. No entanto, ainda que esse momento marcasse uma intensa
movimentação político-ideológica, o poeta parnasiano não se posiciona, omitindo o contexto histórico em sua
poesia.

Características do parnasianismo
Em relação aos movimentos do século XIX, percebemos que sua propagação temática, em geral, sempre visa
combater algum aspecto de uma corrente anterior, como é o caso do Parnasianismo, que tenta romper com
a idealização amorosa do Romantismo.

Além disso, os parnasos acreditavam que a verdadeira produção artística era aquela que valorizasse
elementos da cultura clássica, por isso, a retomada da influência da mitologia greco-latina e o alto rigor formal,
justamente, para reafirmar a sua visão sobre o “fazer artístico”. Veja, abaixo, as principais características do
Parnasianismo:
• Objetivismo;
• Racionalismo;
• Caráter descritivo;
• “Arte pela arte” (poesia voltada para si mesma);
• Universalismo;
• Imparcialidade;
• Isolamento do poeta (concentração);
• Contenção de sentimentos;
• Retomada de elementos da cultura greco-latina.

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Ainda sobre o Parnasianismo, os aspectos mais marcantes de sua forma estrutural são:
• Obsessão pelo alto rigor formal;
• Valorização do soneto;
• Uso versos decassílabos e alexandrinos;
• Linguagem culta e rebuscada;
• Uso de rimas ricas e preciosas;
• Estrofes regulares.

No Brasil, os autores de maior popularidade parnasiana são Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia,
Vicente de Carvalho, Francisca Júlia e Teófilo Dias. Além disso, é importante ressaltar que embora os textos
parnasianos, de forma geral, combatessem a subjetividade, isso não significa que os autores não
aprofundavam sua expressividade emocional, produzindo alguns poemas, inclusive, com ares românticos.

Textos de apoio

Vaso chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,


Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,


Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;

Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,


Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1978. v.1.

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Profissão de fé
(...)
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara


A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
(...)
Olavo Bilac

Simbolismo
O movimento simbolista surge ao final do século XIX, trazendo em sua poesia uma nova visão sobre o mundo
e se opondo ao objetivismo parnasiano. Não somente retoma alguns aspectos do Romantismo, como o uso
da subjetividade, por exemplo, mas também aprofunda a vivacidade das emoções. Além disso, com o intuito
de desvincular-se de questões materiais, a poesia simbolista aprecia o plano transcendental, ou seja, o plano
espiritual torna-se muito mais valorizado do que o plano concreto, o da matéria.

Esse período é marcado por muitas movimentações sociais e econômicas em contexto mundial. Entre elas,
podemos citar: os reflexos econômicos e o progresso comercial da Revolução Industrial; as aspirações
democráticas da Revolução Francesa, a ascensão da burguesia, a exclusão das camadas mais baixas em
relação ao seu desenvolvimento igualitário e distribuição de renda e, também, a obtenção de lucros do
Imperialismo são fatores que fizeram com que o homem daquele momento se sentisse frustrado com as
promessas de igualdade e oportunidade para todos.

Neste sentido, iremos perceber que o homem tenta fugir dessa realidade e passa por uma crise existencial,
aprofundando seus sentimentos e retomando a traços pessimistas, principalmente as características da 2ª
Geração Romântica. Ademais, a temática simbolista reage ao esquema materialista do século XIX, como
também a objetividade propagada pelas correntes cientificistas.

Na França, vivia-se o momento da chamada “Belle Époque”, momento em que houve uma explosão de
mudanças culturais, tecnológicas, literárias, artísticas e de pensamento. Sobre as influências literárias, não
podemos deixar de citar Charles Baudelaire (o famoso autor da obra “As flores do mal”), Arthur Rimbaud, Paul
Verlaine e Stéphane Mallarmé.

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Características do simbolismo
• Valorização do plano metafísico;
• Misticismo;
• Pessimismo;
• Subjetividade
• Caráter sugestivo;
• Aproximação ao elemento noturno;
• Referências ao plano religioso;
• Culto ao sonho;
• Aproximação com o campo inconsciente do indivíduo.

Em relação aos aspectos mais marcantes da forma, há a valorização da linguagem culta, o uso de sonetos, a
musicalidade, o uso de figuras de linguagem (como metáforas, sinestesias, assonâncias e aliterações) e o
predomínio de rimas.
É importante dizer ainda que, no Brasil, os principais autores foram Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Souza.
O primeiro buscou dedicar suas temáticas artísticas para o amor, morte e religiosidade, focadas em uma
intrínseca relação de solidão e isolamento. Já o último também se destaca por ser um grande nome desse
movimento por apresentar em sua poesia uma abordagem sobre a condição humana, a valorização da
melancolia e a espiritualidade, com certa obsessividade pela cor branca em seus poemas.

Texto de apoio
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmante puras,


De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,


Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
(...)
Cruz e Souza

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Literatura

Acrobata da dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,


agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...
Cruz e Souza

Cárcere das almas


Ah! Toda alma num cárcere anda presa
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de igual grandeza


Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas


Nas prisões colossais e abandonadas
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
(...)
Cruz e Souza

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Exercícios

1. (UFPE) Língua Portuguesa


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura;
Ouro nativo, que, na ganga impura,
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceanos largos!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
(Olavo Bilac.Tarde, 1919)

É incorreto afirmar que, no Parnasianismo:


a) a natureza é apresentada objetivamente;
b) a disposição dos elementos naturais (árvores, estrelas, céu, rios) é importante por obedecer a uma
ordenação lógica;
c) a valorização dos elementos naturais torna-se mais importante que a valorização da forma do
poema;
d) a natureza despe-se da exagerada carga emocional com que foi explorada em outros períodos
literários;
e) as inúmeras descrições da natureza são feitas dentro do mito da objetividade absoluta, porém os
melhores textos estão permeados de conotações subjetivas.

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2. (ENEM – PPL) Esbraseia o Ocidente na agonia


O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se além da serrania


Os vértices de chamas aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.

Um mundo de vapores no ar flutua...


Como uma informe nódoa avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua.

A natureza apática esmaece...


Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
CORRÊA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 13 ago. 2017.

Composição de formato fixo, o soneto tornou-se um modelo particularmente ajustado à poesia


parnasiana. No poema de Raimundo Corrêa, remete(m) a essa estética
a) as metáforas inspiradas na visão da natureza.
b) a ausência de emotividade pelo eu lírico.
c) a retórica ornamental desvinculada da realidade.
d) o uso da descrição como meio de expressividade
e) o vínculo a temas comuns à Antiguidade Clássica.

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3. (ENEM) A pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera,
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929.

Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se com um projeto ideológico em construção na


Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que:
a) a paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto brasileiro de grandeza.
b) a prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de políticas de governo.
c) os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados também aos ícones nacionais.
d) a capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que se verifica naquele momento.
e) a valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar social experimentado.

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4. (ITA) Mais claro e fino do que as finas pratas


O som da tua voz deliciava...
Na dolência velada das sonatas
Como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas


Em lânguida espiral que iluminava,
Brancas sonoridades de cascatas...
Tanta harmonia melancolizava.
SOUZA, Cruz e. “Cristais”, in Obras completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 86.

Assinale a alternativa que reúne as características simbolistas presentes no texto:


a) Sinestesia, aliteração, sugestão .
b) Clareza, perfeição formal, objetividade.
c) Aliteração, objetividade, ritmo constante.
d) Perfeição formal, clareza, sinestesia.
e) Perfeição formal, objetividade, sinestesia.

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5. (ENEM) Vida obscura


Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
ó ser humilde entre os humildes seres,
embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro


a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,


magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo,

Mas eu que sempre te segui os passos


sei que cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!
SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961.

Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Sousa transpôs para seu lirismo
uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se em
a) sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação.
b) tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social.
c) extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes.
d) frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais.
e) vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.

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Literatura

Gabarito

1. C
A forma é a maior preocupação do poeta parnasiano, assim não há a exposição de alto grau de
sentimentalismo, tampouco o abandono da estética de produção lírica.

2. D
No poema, há um caráter descritivo dos elementos da natureza apresentados, como o verso “Por céus
de ouro e púrpura raiados”, dentre outros. O objetivo de tal descrição é garantir a expressividade poética
e alimentar a riqueza estética típica do Parnasianismo.

3. B
A riqueza de nossa fauna e flora e a prosperidade do indivíduo, por meio do trabalho com a terra,
independem de medidas governamentais, visto que no Brasil prevalece a “eterna primavera”.

4. A
Não há perfeição formal, o texto não se prende a versos metrificados ou estrofes equilibradas. Não há
objetividade, porque esse período é marcado pela subjetividade. Não há clareza, porque o Simbolismo
se fazia com a arte da sugestão.

5. A
A sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada traduz-se em sofrimento tácito, ou seja, em
silêncio, diante dos limites impostos pela discriminação ao negro. No soneto, é evidente o sofrimento do
negro, que viveu “a vida presa a trágicos deveres” em “silêncio escuro”.

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Português

Parnasianismo e Simbolismo

Resumo

O parnasianismo
Visando combater a expansão da idealização amorosa provocada pelo Romantismo e resgatando elementos
da cultura neoclássica, o movimento Parnasiano do século XIX valorizava a arte clássica e a harmonização
de ideias na poesia.

Disponível em: http://www.patrimonioslz.com.br/CULTURA/ICON/FOTOPARNASO.jpg

Contexto histórico
O contexto histórico do parnasianismo se situa ao final do século XIX, com isso, esse período já adianta uma
transição de pensamentos e ideais para o século XX. Entre os principais acontecimentos, no Brasil, há a
Abolição da Escravatura (1888) e a Proclamação da República (1889). No cenário europeu, há a influência
dos anseios da 1º Guerra Mundial. No entanto, ainda que esse momento marcasse uma intensa
movimentação político-ideológica, o poeta parnasiano não se posiciona, omitindo o contexto histórico em sua
poesia.

Características do parnasianismo
Em relação aos movimentos do século XIX, iremos perceber que sua propagação temática, em geral, sempre
visa combater algum aspecto de uma corrente anterior, como é o caso do Parnasianismo, que tenta romper
com a idealização amorosa do Romantismo.
Além disso, os parnasos acreditavam que a verdadeira produção artística era aquela que valorizasse
elementos da cultura clássica, por isso, a retomada da influência da mitologia greco-latina e o alto rigor formal,
justamente, para reafirmar a sua visão sobre o “fazer artístico”. Veja, abaixo, as principais características do
Parnasianismo:
• Objetivismo;
• Racionalismo;
• Caráter descritivo;
• “Arte pela arte” (poesia voltada para si mesma);
• Universalismo;
• Imparcialidade;
• Isolamento do poeta (concentração);
• Contenção de sentimentos;
• Retomada de elementos da cultura greco-latina.

1
Português

Ainda sobre o Parnasianismo, os aspectos mais marcantes de sua forma estrutural são:
• Obsessão pelo alto rigor formal;
• Valorização do soneto;
• Uso versos decassílabos e alexandrinos;
• Linguagem culta e rebuscada;
• Uso de rimas ricas e preciosas;
• Estrofes regulares.

No Brasil, os autores de maior popularidade parnasiana são Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia,
Vicente de Carvalho, Francisca Júlia e Teófilo Dias. Além disso, é importante ressaltar que embora os textos
parnasianos, de forma geral, combatessem a subjetividade, isso não significa que os autores não
aprofundavam sua expressividade emocional, produzindo alguns poemas, inclusive, com ares românticos.

Leia, abaixo, um poema de Olavo Bilac e observe como o eu lírico se distancia da contenção amorosa:

Tercetos
“Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora.
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:
Espera ao menos o desponde da aurora!
Tua alcova é cheirosa como um ninho...
E olha que escuridão há lá por fora!

Como queres que eu vá, triste e sozinho,


Casando a treva e o frio de meu peito
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!

Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!


Não me arrojes à chuva e à tempestade!
Não me exiles do vale do teu leito!

Morrerei de aflição e de saudade...


Espera! até que o dia resplandeça,
Aquece-me com a tua mocidade!”

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Português

Textos de apoio

A um Poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma de disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Olavo Bilac, in "Poesias"

A Cavalgada
A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;


Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...

E o bosque estala, move-se, estremece...


Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...

E o silêncio outra vez soturno desce...


E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha...
Raimundo Correia

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Português

Anoitecer
Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se além da serranja


Os vértices de chamas aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.

Um mudo de vapores no ar flutua...


Como uma informe nódoa avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua.

A natureza apática esmaece...


Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula.... Anoitece.
Raimundo Correia

Simbolismo
O movimento simbolista surge ao final do século XIX, trazendo em sua poesia uma nova visão sobre o mundo.
O simbolismo retoma aspectos do Romantismo, como o uso da subjetividade, por exemplo, e o
aprofundamento das emoções. Além disso, com o intuito de desvincular-se de questões materiais, a poesia
simbolista aprecia o plano transcendental, ou seja, o plano espiritual torna-se muito mais valorizado do que o
plano concreto, o da matéria.

Contexto histórico
Esse período é marcado por muitas movimentações sociais e econômicas em contexto mundial. Entre elas,
podemos citar: os reflexos econômicos e o progresso comercial da Revolução Industrial; as aspirações
democráticas da Revolução Francesa, a ascensão da burguesia, a exclusão das camadas mais baixas em
relação ao seu desenvolvimento igualitário e distribuição de renda e, também, a obtenção de lucros do
Imperialismo são fatores que fizeram com que o homem daquele momento se sentisse frustrado com as
promessas de igualdade e oportunidade para todos.

Neste sentido, iremos perceber que o homem tenta fugir dessa realidade e passa por uma crise existencial,
aprofundando seus sentimentos e retomando a traços pessimistas, principalmente a características da 2ª
Geração Romântica. Ademais, a temática simbolista reage ao esquema materialista do século XIX, como
também, a objetividade propagada pelas correntes cientificistas.

4
Português

Na França, vivia-se o momento da chamada “Belle Époque”, momento em que houve uma explosão de
mudanças, entre elas, culturais, tecnológicas, literárias, artísticas e de pensamento. Sobre as influências
literárias, não podemos deixar de citar Charles Baudelaire (o famoso autor de a obra “As flores do mal”), Arthur
Rimbaud, Paul Verlaine e Stéphane Mallarmé.

Características do simbolismo
Veja, abaixo, os principais aspectos do movimento Simbolista:
• Valorização do plano metafísico;
• Misticismo;
• Pessimismo;
• Subjetividade
• Caráter sugestivo;
• Aproximação ao elemento noturno;
• Referências ao plano religioso;
• Culto ao sonho;
• Aproximação com o campo inconsciente do indivíduo.

Em relação aos aspectos mais marcantes da forma, temos a valorização da linguagem culta, o uso de
sonetos, a musicalidade, o uso de figuras de linguagem (como metáforas, sinestesias, assonâncias e
aliterações) e o predomínio de rimas.
É importante dizer ainda que, no Brasil, os principais autores foram Alphonsus de Guimaraens e Cruz e
Souza. Esse último é o grande nome desse movimento e se destaca por apresentar em sua poesia uma
abordagem sobre a condição humana, a valorização da melancolia e a espiritualidade.

TEXTOS DE APOIO

TEXTO 1
Cavador do Infinito
Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.

nsias, Desejos, tudo a fogo, escrito


Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava


mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho.


E como seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!
(Cruz e Souza)

5
Português

TEXTO 2
Longe de Tudo
É livre, livre desta vã matéria,
Longe, nos claros astros peregrinos
Que haveremos de encontrar os dons divinos
E a grande paz, a grande paz sidérea.

Cá nesta humana e trágica miséria,


Nestes surdos abismos assassinos
Temos de colher de atros destinos
A flor apodrecida e deletéria.

O baixo mundo que troveja e brama


Só nos mostra a caveira e só a lama,
Ah! só a lama e movimentos lassos...

Mas as almas irmãs, almas perfeitas,


Hão de trocar, nas Regiões eleitas,
Largos, profundos, imortais abraços!

(Cruz e Souza)

TEXTO 3

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu, Estava perto do céu,


Pôs-se na torre a sonhar... Estava longe do mar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar. E como um anjo pendeu
As asas para voar...
No sonho em que se perdeu, Queria a lua do céu,
Banhou-se toda em luar... Queria a lua do mar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar... As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
E, no desvario seu, Sua alma subiu ao céu,
Na torre pôs-se a cantar... Seu corpo desceu ao mar...

(Alphonsus de Guimaraens)

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Português

Exercícios

1. Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’aIma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,


Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo


Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,


Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995.

Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o


soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em
sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que:
a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada.
b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social.
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja.
d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.
e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.

2. MAL SECRETO
"Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!"
Raimundo Correia

O fragmento apresentado no texto contém uma oposição semântica fundamental entre o(a):
a) eu-lírico e o ser humano em geral.
b) eu-lírico e as pessoas que o invejam.
c) ser que chora e os demais seres humanos.
d) íntimo do ser humano e sua aparência.
e) realidade exterior e o desejo humano.

7
Português

3. Assinale a alternativa correta a respeito do Parnasianismo:


a) A inspiração é mais importante que a técnica.
b) Culto da forma: rigor quanto às regras de versificação, ao ritmo, às rimas ricas ou raras.
c) O nome do movimento vem de um poema de Raimundo Correia.
d) Sua poesia é marcada pelo sentimentalismo.
e) No Brasil, o Parnasianismo conviveu com o Barroco.

4. “Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o


Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado”
Alberto de Oliveira
O trecho do poema em destaque é de um autor parnasiano. Ele revela um poeta:
a) Distanciado da realidade
b) Engajado
c) Crítico
d) Irônico
e) Informal

5. A pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera,
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929.

Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se com um projeto ideológico em construção na


Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que:
a) a paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto brasileiro de grandeza.
b) a prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de políticas de governo.
c) os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados também aos ícones nacionais.
d) a capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que se verifica naquele momento.
e) a valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar social experimentado.

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Português

6. Vida obscura
“Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro
ó ser humilde entre os humildes seres,
embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro


a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sofrimento inquieto,


magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo,

Mas eu que sempre te segui os passos


sei que a cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!
SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961

Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Souza transpôs para seu lirismo
uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada.
No soneto, essa percepção traduz-se em:
a) sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação.
b) tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social.
c) extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes.
d) frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais.
e) vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.

7. Das alternativas abaixo, indique a que não se aplica ao Simbolismo:


a) Procurou instalar um credo estético com base no subjetivismo.
b) Não precisar as coisas, antes sugeri-las.
c) Racionalismo absoluto.
d) Expressão indireta e simbólica.
e) Transcendentalismo

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Português

8. Leia os seguintes versos:

Mais claro e fino do que as finas pratas


O som da tua voz deliciava...
Na dolência velada das sonatas
Como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas


Em lânguida espiral que iluminava,
Brancas sonoridades de cascatas...
Tanta harmonia melancolizava.
SOUZA, Cruz e. “Cristais”, in Obras completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 86.

Assinale a alternativa que reúne as características simbolistas presentes no texto:


a) Sinestesia, aliteração, sugestão .
b) Clareza, perfeição formal, objetividade.
c) Aliteração, objetividade, ritmo constante.
d) Perfeição formal, clareza, sinestesia.
e) Perfeição formal, objetividade, sinestesia.

9. O Simbolismo é, antes de tudo, antipositivista, antinaturalista e anticientificista. Com esse movimento,


nota-se o despontar de uma poesia nova, que ressuscitava o culto do vago em substituição ao culto da
forma e do descritivo.
Massaud Moisés. A literatura portuguesa, 1994. Adaptado.

Considerando esta breve caracterização, assinale a alternativa em que se verifica o trecho de um


poema simbolista.
a) “É um velho paredão, todo gretado,
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensanguentado
E num pouco de musgo em cada fenda.”
b) “Erguido em negro mármor luzidio,
Portas fechadas, num mistério enorme,
Numa terra de reis, mudo e sombrio,
Sono de lendas um palácio dorme.”
c) “Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.”
d) “Sobre um trono de mármore sombrio,
Num templo escuro e ermo e abandonado,
Triste como o silêncio e inda mais frio,
Um ídolo de gesso está sentado.”
e) “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...”

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Português

10. Cárcere das almas


“Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza


Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas


Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,


que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!”
CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.

Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no


poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são:
a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.
b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.
c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais.
d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas
inovadoras.
e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de
temas do cotidiano

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Português

Gabarito

1. A
O eu lírico reflete sobre como determinadas pessoas, para se sentirem aceitas em um determinado
âmbito social, simulam ser aquilo que elas não são.

2. D
Comentário: A partir dos versos, é possível perceber um contraste entre a essência do ser humano com a
sua aparência.

3. B
A característica mais marcante do Parnasianismo é a preocupação com a forma do poema: sua estrutura,
rimas e musicalidade. Não tinha como prioridade o sentimentalismo.

4. A
Ao falar sobre um vaso, no poema, o poeta mostra-se distanciado da realidade.

5. B
A riqueza de nossa fauna e flora e a prosperidade do indivíduo, por meio do trabalho com a terra,
independem de medidas governamentais, visto que no Brasil prevalece a “eterna primavera”.

6. A
A sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada vem dos horrores da escravidão. Cruz e Sousa era
filho de escravos alforriados e suas obras apresentam grandes marcas dos sofrimentos dos negros no
Brasil.

7. C
Por ser um período literário de grande subjetividade, a alternativa C destoa das características do
Simbolismo.

8. A
Não há perfeição formal, o texto não se prende a versos metrificados ou estrofes equilibradas. Não há
objetividade, porque esse período é marcado pela subjetividade. Não há clareza, porque o Simbolismo se
fazia com a arte da sugestão.

9. E
A linguagem simbolista é marcada pela sugestão, musicalidade, metáfora, valorização de temas
referentes à mistérios da morte e sonhos. No trecho, a cor branca simboliza a pureza e a espiritualidade.

10. C
Na questão formal, o simbolismo apresentava particularidades estéticas na escola e combinação do
léxico para atingir comparações e metáforas impressionantes. Na temática, existia forte carga metafísica
de transposição das almas, sonhos, mistérios.

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