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1 SAÚDE DA MULHER - HABILIDADES CLÍNICAS | MEDICINA UNIT P4 | Gabrielly Pinheiro Marinho

GINECOLÓGICA E OBSTÉTRICA
Não deve existir uma rígida rotina, um método inflexível de abordar a paciente durante o interrogatório. A sequência e a
profundidade das perguntas vão depender da sensibilidade do médico e da compreensão da paciente. Assim como o médico deve
impor limites, a paciente pode fazê-lo (em respeito aos problemas sexuais, havendo pacientes que por pudor ou por inibição
dificultam esse tipo de questionamento).

Nome, telefone, idade, cor (mulheres de etnia africana são mais


propensas a vício pélvico e pré-eclâmpsia, além da anemia falciforme),
naturalidade e procedência (CA de mama + frequente nos EUA), profissão
(intoxicações, p.ex: álcool, chumbo, fósforo, nicotina; grávidas que
trabalham com materiais tóxicos; grávidas em trabalho pesado devem ser
IDENTIFICAÇÃO
orientadas quanto ao risco de abortamento), estado civil (nome do
parceiro + contato; estatísticas demonstram maior morbidade e
mortalidade em solteiros), religião (práticas, transfusão de sangue),
escolaridade, nacionalidade e domicílio (a procedência do paciente
promove o rastreio de enfermidades que podem influenciar na gestação
(p.ex: zika, esquitossomose, chagas, malária).

QUEIXA PRINCIPAL Com queixas ou sem queixas (exames de rotina).

HDA Evolução das manifestações clínicas (períodos de melhora espontânea,


medicação utilizada, exames laboratoriais e tratamentos).

Morbidade dos parentes de primeiro grau, ocorrências de mal


formações, partos prematuros, neoplasias malignas, HAS, diabetes,
osteoporose, alergias, hipo/hipertireoidismo, trombose venosa
ANTECEDENTES FAMILIARES profunda, gemelaridade, doenças congênitas, história de CA de mama
(idade do parente - <50 anos: predisposição genética, >50 anos: idade),
ovário, colo do útero ou endométrio, leiomiossarcoma (ou outras
neoplasias malignas), saúde do marido, marido consanguíneo.

Desenvolvimento nos primeiros anos de vida, condições de nutrição da


infância, enfermidades anteriores (poliomielite, doenças ósseas,
ANTECEDENTES cardiopatias, rubéola, sarampo, nefropatias), doenças contagiosas na
PESSOAIS infância (toxoplasmose, caxumba, rubéola, sarampo), infecção urinária de
repetição, DSTs (clamídia, gonorreia, tricomaníase, dardnerella, HPV,
HIV…), cirurgias (miomectomias, cesariana, fístulas genitais), alergias
medicamentosas e internamentos.

HÁBITOS DE VIDA Tabagismo, etilismo, drogas ilícitas.

CONDIÇÕES Tipo de moradia, saneamento básico, higiene, nível socioeconômico,


SOCIOECONÔMICAS práticas de atividade física (frequência e intensidade), alimentação, renda
familiar.
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ANTECEDENTES GINECO-OBSTÉTRICOS

Idade e características da menarca, sexarca, pubarca, telarca e menopausa


DESENVOLVIMENTO PUBERAL (ordem cronológica do desenvolvimento dos caracteres secundários).

DUM, tipo menstrual (duração dos ciclos - 3 a 8 dias, intervalo regular de


26 a 32 dias ou irregular), fluxo menstrual (normal - 80 mL e intenso >
HISTÓRIA MENSTRUAL 100mL), sintomas pré-menstruais (cólicas, sensibilidade, turgência da
mamas, irritação, agressividade, distensão abdominal), ingestão de
estrogênios, dor pélvica, sangramento anormal.

Atividade sexual (ritmo, libido normal, dispareunia, práticas sexuais,


orgasmo), método anticoncepcional, corrimento vaginal (coloração, odor,
ANTECEDENTES SEXUAIS duração, quantidade, tratamento utilizado e resultado), alterações
vulvares (prurido, tumores, fístulas ou prolapsos), cauterizações, última
citologia e resultado.

Nº e tipo de gestações (nuligesta, primigesta, secundi, terci, quartigesta ou


multigesta), duração de cada gravidez, nº de partos (nulípara, primípara,
IIpara, IIIpara) e o tipo de parto (cirúrgico -cesárea, uso de fórceps - ou
natural), abortos (espontâneos ou provocados e se foi realizada a
curetagem), ex: G3P2A1, intervalo interparal (o intervalo deve ser no
ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS
mínimo de 2 anos para que os riscos reprodutivos sejam diminuídos), idade
em cada gestação, isoimunização Rh, intercorrências em gravidez
anteriores, sangramento pós-parto, evolução do puerpério, vitalidade do
RN (Apgar), peso dos filhos ao nascer, evolução do puerpério e
amamentação (como foi e por quanto tempo).

SINAIS E SINTOMAS DO Atrofia vulvovaginal (dispareunia, secura vaginal, diminuição da libido),


CLIMATÉRIO tratamento de reposição hormonal (qual a duração), fogachos.

SINAIS E SINTOMAS
Os principais sinais e sintomas das afecções dos órgãos genitais femininos são as hemorragias, os distúrbios
menstruais, a dor, o aparecimento de tumoração, corrimento ou leucorreia, prurido, distúrbios sexuais e alterações
dos pelos.

Quaisquer sangramentos sem as características da


menstruação normal são chamados de hemorragias.
Metrorragia: a hemorragia uterina orgânica ocorre em
um grande número de enfermidades, incluindo
inflamações, neoplasias benignas e malignas, afecções
HEMORRAGIAS
não ginecológicas como hepatopatias, coagulopatias,
além de outras. Nesses casos, a hemorragia não é um
sangramento cíclico, inexistindo, portanto, ritmo ou
periodicidade.
Hemorragias de origem vaginal ou vulvar decorrentes
de traumatismos, de ulcerações ou de neoplasias
podem confundir-se com a metrorragia.
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É importante a caracterização semiológica da


hemorragia, bem como o tipo e o ritmo menstrual da
paciente.
Existe uma maneira de perda sanguínea que é o
sangramento intermenstrual, o qual denuncia o
momento da evolução ou o uso inadequado ou incorreto
de anticoncepcional oral.
Hemorragia uterina funcional ou disfuncional: não se
relaciona com neoplasia, doenças inflamatórias ou
gravidez. Geralmente é causada por disfunção ovariana
e por ausência de ovulação, acompanhada de
irregularidades do ciclo menstrual.

O ciclo menstrual pode apresentar anormalidades


quanto ao intervalo entre os fluxos, à duração e à
intensidade. Assim, temos:
▪ Polimenorreia: quando a menstruação ocorre
com intervalos menores que 21 dias;
▪ Oligomenorreia, quando a menstruação ocorre
com intervalos maiores que 35 dias;
▪ Amenorreia: é a falta de menstruação por um
período de tempo maior do que três ciclos
prévios;
▪ Hipermenorreia: quando a menstruação dura
mais de 8 dias;
▪ Hipomenorreia: quando ela dura menos de 2
dias;
▪ Menorragia: quando há excessiva perda de
sangue durante o fluxo menstrual. Às vezes,
confunde-se com hipermenorreia;
▪ Metrorragia: quando a perda de sangue não
obedece ao ritmo do ciclo menstrual
▪ Dismenorreia: que é um conjunto de sintomas
que podem acompanhar a menstruação.

A localização habitual é a região pélvica. Às vezes, a dor


é abdominopélvica ou lombossacra. Pode ser
espontânea ou provocada pelo coito, por
deambulação, por ortostatismo ou por palpação. Pode
ser contínua, paroxística ou relacionada com o ciclo
menstrual. Deve-se lembrar de causas psíquicas.
É grande a importância de causas não ginecológicas nos
quadros dolorosos da pelve, da região lombossacra e
perineal, destacando-se as afecções dos órgãos do
DOR sistema urinário, digestivo e osteoarticular.
As vias sensoriais do reto e da bexiga são as mesmas do
útero e da vagina. Por isso, infecções e litíase urinária
podem repercutir.

▪ Dismenorreia: menstruação dolorosa.


▪ Algomenorreia: dor na região hipogástrica,
como cólica, durante a menstruação.
Quando ela é acompanhada de lombalgia com irradiação
para o baixo ventre e para as pernas, náuseas e cefaleia,
constitui a síndrome da dismenorreia.
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▪ Dismenorreia Primária ou Intrínseca ou


Essencial ou Idiopática: quando ocorre em
pacientes sem nenhuma causa orgânica,
acompanha os primeiros ciclos.
▪ Dismenorreia Secundária: quando relacionada
com qualquer doença pélvica orgânica como
endometriose, mioma submucoso, doença
inflamatória ou presença de DIU (dispositivo
intrauterino). Após vários ciclos menstruais
indolores, ela instala-se.

É um conjunto de sintomas que surgem na segunda


metade do ciclo menstrual e desaparecem com a
ocorrência da menstruação. Os principais são: cefaleia,
mastalgia, peso no baixo ventre e nas pernas, irritação,
nervosismo e insônia.
O mecanismo fisiopatológico básico é a retenção de
sódio e de água. Assim, teríamos as teorias:
▪ Hiperatividade do sistema renina-
angiotensina-aldosterona. Os estrogênios
aumentam a produção de renina que, por sua
vez, estimula a secreção de aldosterona,
responsável pela retenção de sódio e de água.
Esses efeitos seriam contrabalançados pela ação
SÍNDROME PRÉ-MENSTRUAL (SPM) da progesterona (deficiência), que tem ação
natriurética.
▪ Hipoglicemia: que é comum na segunda metade
do ciclo.
▪ Aumento do hormônio antidiurético: que
também estimula a retenção de água.
▪ Hiperprolactinemia: que provoca desequilíbrio
na secreção de LH/FSH, redundando em um
corpo lúteo que produz menor quantidade de
progesterona.
▪ Aumento da produção de vasopressina, a qual,
juntamente com a prolactina, produz retenção
de líquido.

Deve-se esclarecer a época de seu aparecimento, sua


localização, a velocidade de crescimento, bem como a
presença de outros sintomas originados de eventual
compressão de órgãos vizinhos.
As "tumorações" dos órgãos genitais femininos podem
ser abdominopélvicas, vaginais e vulvares. Podem ser
TUMORAÇÃO
classificadas em falsas (distensão vesical ou intestinal e
pseudociese) e verdadeiras (miomas, neoplasias
ovarianas e tubárias), firmes (miomas), císticas e sólido-
císticas (neoplasias do ovário), malignas (carcinomas),
benignas (miomas, cistos ovarianos) e inflamatórias
(piossalpinge).

Mecanismo de autodepuração e de defesa da vagina: a


CORRIMENTO genitália da mulher é úmida, tendo a vagina um pH de 4
a 4,5 (ácido, portanto) devido ao desdobramento do
glicogênio do epitélio vaginal em ácido láctico, sob a
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ação dos bacilos de Dõderlein, na presença dos


estrogênios.
Considera-se corrimento ou leucorreia a alteração das
características da secreção normal, que tem o aspecto
de "catarro fluido" ou de "clara de ovo". A secreção
aumenta sob ação estrogênica (pico ovulatório e
terapêutica hormonal).
Não se pode esquecer que é igualmente fisiológica a
secreção das glândulas vestibulares maiores (Bartholin)
durante a excitação sexual.
Nos corrimentos patológicos, suas características variam
conforme a etiologia.
▪ Hidrorreia: é um corrimento aquoso,
abundante, como se fosse o descrito como
normal, mas em grande quantidade e pode
significar varicocele pélvica, retroversão uterina
fixa ou uso de pílulas anticoncepcionais;
Quando for amarelo, espesso, fétido e espumoso, a
causa costuma ser tricomonas e/ou gonococos;
▪ Candida: o corrimento branco, em grumos,
como nata de leite ou coco ralado, indica a
presença de fungos; o corrimento com aspecto
de água de carne é próprio das neoplasias e das
inflamações mais graves.
O prurido, a ardência e o odor fétido sempre
acompanham o corrimento patológico. Além do exame
direto, a fresco, da secreção, a bacterioscopia e a cultura
em meios apropriados podem ser necessárias para o
diagnóstico etiológico.

O prurido como sintoma isolado é pouco frequente.


Pode, entretanto, ser muito intenso e penoso para a
paciente. Costuma surgir nas lesões distróficas da vulva
(principalmente em pacientes idosas) e nas vulvites
PRURIDO VULVAR micóticas e alérgicas. É um sintoma frequente no
diabetes. Não se deve esquecer, também, de que o
câncer da vulva está quase sempre associado a prurido.

Os principais são a dispareunia e a disfunção sexual,


DISTÚRBIOS SEXUAIS também denominada frigidez.

Compreende os distúrbios dolorosos do coito, que


incluem o vaginismo e a contratura dolorosa da
musculatura vaginal, podendo inclusive impossibilitar a
penetração do pênis. Esta é chamada de dispareunia
inicial ou externa (“dor por fora”). Outro tipo de
dispareunia é a terminal ou interna (“dor por dentro").
DISPAREUNIA
Ambas podem ser relativas ou absolutas, conforme
impossibilitem ou apenas dificultem o coito. A
dispareunia pode ser orgânica, decorrente de lesões do
canal vaginal, ou ser a somatização de problemas
emocionais. O vaginismo costuma ser um espasmo
reflexo de lesões dolorosas de localização vulvar, tais
como ulcerações, vulvites micóticas e herpéticas,
estenoses, malformações, distrofias e cicatrizes
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dolorosas, ou vaginais, tais como colpites intensas,


atrofias e cicatrizes.
A dispareunia terminal ou interna tem como causas
principais as lesões traumáticas (coito abrupto,
lacerações da vagina), as afecções inflamatórias
(colpites, parametrites) e as lesões tróficas (atrofia
vaginal) .

É a impossibilidade de alcançar o orgasmo durante


o coito. Em sentido mais amplo, é a impossibilidade de
alcançar o orgasmo durante qualquer tipo de atividade
sexual. Pode ser primária ou secundária, obrigatória ou
DISFUNÇÃO SEXUAL circunstancial.
Obrigatória é quando há incapacidade absoluta para
o orgasmo e circunstancial quando for seletiva com
referência ao parceiro. Muitas vezes, a dor não impede
o coito, mas impossibilita o orgasmo.

Podem acompanhar certos desequilíbrios hormonais. A


produção aumentada de androgênios pelas suprarrenais
ou pelos ovários, como nos casos dos ovários
policísticos, pode provocar crescimento excessivo de
pelos no buço, na face, nos lobos das orelhas, no
ALTERAÇÕES DOS PELOS
triângulo púbico superior, no tronco ou nos membros.
Cumpre assinalar que alguns medicamentos podem
causar hirsutismo, incluindo ciclosporina, minoxidil,
diazóxido, corticoides e penicilinamina.

mat«io e menopausa
Climatério: é a fase de transição entre a menacme (período reprodutivo) e a senectude (período não reprodutivo). Inicia-se com
a queda da capacidade reprodutiva ao redor dos 40 anos. A menopausa é a data do último fluxo menstrual; só pode ser datada
após 1 ano sem menstruações e representa a falta da ovulação e a falência ovariana.
Subdivide-se o período climatérico em pré, peri e pós-menopausa. A idade média em que ocorre a menopausa é entre 48 e 52
anos; quando ocorre antes dos 40 anos é chamada de precoce e acima dos 52 anos é chamada de tardia.
O fenômeno básico que ocorre no climatério é a diminuição dos folículos primordiais com posterior atresia. Essa falência ovariana
está associada a queda na produção de estrogênio e de androgênio, principalmente, acarretando a elevação do FSH.
Os sintomas do climatério podem ser divididos em precoces e tardios.
Dentre os precoces, temos instabilidade vasomotora (fogachos e suores noturnos), que incide em torno de 75% dos casos; atrofia
urogenital, que está associada a dor na relação sexual (dispareunia) e a síndrome uretral (urgência e incontinência urinária); e
sangramento uterino anormal, considerado um dos primeiros sintomas relacionados com o hipoestrogenismo, apresenta-se como
metrorragia e menorragia. Já o principal comprometimento tardio hipoestrogenismo e a osteoporose.
Na abordagem da paciente na pós-menopausa, devemos reforçar as orientações para uma vida saudável como reeducação
alimentar e atividade física devido aos efeitos do declínio do estrogênio sobre o metabolismo da mulher, provocando aumento
de peso e alterações no perfil lipídico. Esses sintomas são responsáveis pela queda da qualidade de vida e a terapia hormonal (TH)
é considerada a maneira mais eficaz de tratá-los. A terapia hormonal é a administração de hormônios por via oral ou parenteral
com os principais objetivos sendo aliviar os sintomas vaso motores, a atrofia urogenital e evitar a osteoporose. A combinação ou
não de hormônios depende de cada paciente. O estrogênio associado à progesterona é oferecido para pacientes que têm útero,
pois a progesterona protege o endométrio dos efeitos proliferativos do estrogênio.
Em pacientes que já retiraram seus úteros, a terapia hormonal é realizada somente com estrogênios. O momento de iniciar a TH
é logo que se fez o diagnóstico e deve ser utilizada de preferência durante os primeiros 5 anos após o último fluxo menstrual.
Esse período é conhecido como "janela de oportunidade': pois há trabalhos que comprovam a prevenção primária das doenças
cardiovasculares se ela for utilizada nesse período. Após 5 anos da menopausa, não devemos introduzir a TH, já que os trabalhos
demonstraram que, ao contrário do que ocorre na "janela de oportunidades': há um acréscimo no risco de doenças
cardiovasculares, de câncer de mama e de eventos tromboembólicos.

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