Cadernos PDE
RESUMO
A necessidade de analisar as metodologias de ensino dos esportes coletivos e compreender de que
forma o processo de ensino da tática ocorre no Futebol de Campo é fundamental para que os
processos pedagógicos se tornem mais efetivos na comunidade escolar. Desta maneira, buscando
romper com o tradicionalismo do aprofundamento técnico do ensino dos esportes, aplicamos o projeto
de Intervenção Pedagógica de implantação do “Modelo de Ensino de Jogos para a Compreensão”
(TGfU - Teaching Games for Understanding),com alunos do Projeto Hora Treinamento do Ensino
Fundamental da E.E. Nossa Senhora das Graças. Essa proposta pretendeu desenvolver a
capacidade de jogo de adolescentes, analisar o nível de resolução dos problemas que desafiam a sua
capacidade de compreender e atuar no esporte e incutir nos alunos o processo de análise da
complexidade tática, acréscimo de variáveis nas formas de jogo e pensar estrategicamente. Foram
aplicadas dezesseis sessões de treinamento com duas horas de duração para cada unidade, visando
a melhoria da compreensão tática do futebol de campo. Assim constatamos de fundamental
importância aplicar o TGfU para o ensino do Futebol de Campo para os alunos do ensino
Fundamental, visto que alcançamos a melhoria no nível de jogo por eles praticados.
INTRODUÇÃO
A visível necessidade de que os processos de ensino-aprendizagem nos
esportes sejam mais condizentes com suas características específicas, em alusão à
ênfase da aplicação da técnica como modelo isolado tem tomado conta da agenda
de investigação nas últimas décadas. A partir dos anos 80 surgem modelos
construtivistas que baseiam seus pilares pedagógicos na tomada de decisão,
colocando o aluno como construtor ativo da sua própria aprendizagem (Mesquita,
2004) O Método de Ensino do Jogo para a Compreensão (TGFU, em inglês)
proposto por Bunker e Thorpe em 1982, é criado como reação a concepção
tecnicista enfatizando a compreensão tática e a capacidade de resolução dos
problemas apresentados pelo jogo com desafios de compreender e atuar.
1 Professor da Rede Estadual de Ensino do Paraná, lotado na Escola Estadual Nossa Senhora das
graças – Ensino Fundamental – NRE de Irati, integrante do Programa de Desenvolvimento
Educacional do Estado do Paraná – PDE. E-mail: icoruva@seed.pr.gov.br
Por não existir um plano nacional de Educação Física, a prática nas escolas
se dava pelo método Francês de ginástica adotado pelas Forças Armadas e
tornado obrigatório a partir de 1931. A Educação Física se consolidou no
contexto escolar a partir da Constituição de 1937,quando objetivava
doutrinar, dominar e conter os ímpetos das classes populares. Também
enaltecia o patriotismo, a hierarquia e a ordem, seguindo a risca os
princípios higienistas para um corpo forte , saudável e robusto, delineado
para a defesa e proteção da família e da Pátria.
CARACTERÍSTICAS DO ESPORTE
Há vários estudos e abordagens sobre os esportes coletivos, um desses
trabalhos enfatiza que as modalidades esportivas podem ser agrupadas em uma
única categoria pelo fato de todas possuírem seis invariantes: uma bola, um espaço
de jogo, parceiros, adversários, um alvo a atacar e a defender e regras específicas.
Bayer ainda define os princípios operacionais dos esportes coletivos em dois grupos,
sendo três para o ataque, que são: conservação individual e coletiva da bola,
progressão da equipe e da bola em direção ao adversário e finalização da jogada
visando o ponto; e os três princípios operacionais da defesa que são: recuperação
da bola, impedir o avanço da equipe contrária e da bola em direção ao próprio alvo e
proteção da meta. A partir desses princípios, são necessárias ações para a sua
operacionalização como: criar linhas de passe, colocação individual em espaços
onde a bola poderá chegar, desmarcação em relação ao adversário e outras.
(Daollio, 2002)
Em se tratando do esporte coletivo futebol de campo a nível escolar, que
sustenta a ideia do nosso projeto de pesquisa, a necessidade de o professor
considerar o aluno, enquanto sujeito individual, com uma história vivida, e com
necessidades particulares que lhe interessam antes de serem tomadas decisões a
cerca do processo de instrução, e que este indivíduo é imaturo, não se encontra em
condições de entender e captar a instrução e muito menos ser capaz de construir
resoluções próprias frente as dificuldades que se apresentam, dependendo ainda da
intervenção do professor, que deve estar embasado para bem instruir, evitando más
interpretações e informações erradas e desprovidas de conhecimento tático
adequado, sem aprofundamento na compreensão do jogo ou do esporte trabalhado.
“A evolução do conhecimento e do nível de desempenho nos Jogos
Desportivos Coletivos no futebol de campo principalmente, decorre em grande parte,
da prática orientada, pelo que professores e treinadores devem ser chamados a
assumir um papel fundamental na formação e na preparação dos jovens jogadores.”
(Tavares, et al. p.296.2004). Geralmente os professores contam com uma gama
enorme de diferenças individuais, com grupos heterogêneos quanto ao tempo de
prática do esporte, alunos oriundos de várias partes, em defasagem escolar, com
vulnerabilidade social, diferenças biométricas, etc; e todos com vontade de executar
os fundamentos e regras, técnicas e táticas de um esporte com características e
requisitos de organização defensiva e ofensiva, com variações táticas coletivas e
individuais, sistemas de jogo e compreensão táticas que podem não ser bem
entendidas com apenas dois treinamentos semanais somando-se apenas quatro
horas, o que é pouco para um grupo heterogêneo. Face ao exposto, deveríamos
pensar quais os princípios diretores do processo de ensino-aprendizagem-treino do
Futebol de Campo a preconizar, de modo a contemplar as exigências necessárias
ao desenvolvimento do conhecimento tático-técnico e a possibilitar a concretização
dos comportamentos de sucesso almejados. (Tavares et AL,2004).
PROCESSOS DE ENSINO
Os processos de ensino da Educação Física Escolar devem ser inclusivos,
mas com oportunidades de aprendizagem de bom nível, procurando vencer
problemas tradicionais que o esporte apresenta, como não obter aproximação entre
os jogadores para executar jogadas mais elaboradas, não conseguem guardar
posição, não efetuam coberturas, há problemas no passe e na finalização,
comprometendo o jogo coletivo e a possível formação de uma equipe competitiva.
Poucas escolas possuem campos oficiais ou mesmo de futebol sete ou clubes que
absorvam esse projeto escolar. O calendário de jogos se resume as competições
escolares e no:
desporto de alto rendimento, a competição constitui o quadro de referência
para a organização do treino, ao passo que no treino de jovens ela deve
constituir uma extensão e complemento do treino. Significa que: enquanto
no desporto de alto nível se treina para competir, no desporto de crianças e
jovens deve-se competir para treinar. (Garganta,2006,p.313)
O ensino dos esportes nas escolas não deve ter uma visão de cunho
tecnicista voltada apenas para o desenvolvimento das habilidades ou valorização
dos melhores alunos, mas “devemos pautar o trabalho pedagógico na construção da
materialidade corporal, na organização dos fundamentos teóricos, da cultura
corporal e dos conteúdos estruturantes: jogos, esportes, danças, lutas e ginástica;
que tradicionalmente compõem os currículos escolares da Educação Física”. (SEED,
2006, p.10) Sobre as características e problemas da Metodologia Tradicional, Costa
e Nascimento em seu artigo sobre o Ensino da Técnica e da Tática: Novas
Abordagens Metodológicas (2004) abordam que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentro das limitações do estudo, podemos citar a impossibilidade de
mantermos um grupo paralelo num processo de treinamento tecnicista que serviria
de comparação de resultados para o grupo que trabalhou com o TGfU e a falta de
filmagens desde a aplicação do teste 3 X 3 inicial até a aplicação dos exercícios
mais complexos, que também serviria como parâmetro de comparação no processo
de treinamento.
Portanto, o modelo de ensino proposto permitiu aos alunos exercer papel
ativo, independente, criativo, possibilitou aumento no nível de jogo e postura de
tentar resolver os problemas que se apresentavam durante este jogo, maior
movimentação, entendimento dos esquemas defensivos e ofensivos, alcançando
assim grande satisfação e motivação no processo educativo. Os resultados foram
satisfatórios em função de que qualquer grupo, passando por um processo de
treinamento inclusive o tecnicista, que está superado, teria melhoras. Mas com a
aplicação do TGfU essas melhoras foram ainda mais satisfatórias pelas qualidades
acima citadas e adquiridas pelo grupo.
O resultado foi o esperado. Percebeu-se que os alunos captaram o
aprendizado anteriormente adquiridos para melhorar sua atuação nos mini jogos e
jogo oficial. Inclusive alguns alunos que mostravam-se apáticos e desinteressados
e no trabalho alemão com três times num esquema de revezamento de ataque e
defesa, procura-se corrigir posicionamento dos alunos tanto no ataque quanto na
defesa, efetuar passes em espaços curtos e com velocidade, aumentar o número de
arremates ao gol, treinar escanteios ofensivos e defensivos e efetuar dribles curtos.
Dentro desta gama de exercícios, procurando o preparo dos alunos para uma
construção de conhecimento sobre o futebol de campo a partir do método proposto,
o Teaching Games for Understanding, passou-se para a observação dos resultados
na prática das ações empreendidas, com uma competição interna e do jogo 3 X 3
quando observamos uma visível evolução dos alunos perante a primeira aplicação,
com melhora relevante na postura de jogo, bom entendimento de técnica e tática
em comparação ao antes e depois.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: