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Teorias acerca da arte

A definição de arte é uma das principais preocupações dos filósofos da arte. O


problema parece ser encontrar uma definição clara e objetiva de arte, isto é, saber o
que é que algo deve ter obrigatoriamente para ser considerado arte, que caraterísticas
devem ser aí encontradas e que só as obras de arte têm em comum.
Estas teorias que buscam essas caraterísticas, essa essência da arte, chamam-se
teorias essencialistas da arte (arte como representação; arte como expressão e arte
como forma).
No entanto, outros teóricos da arte consideram que a própria natureza da arte,
dinâmica, criativa e inovadora, não possibilita encontrar esse conjunto de
propriedades que residem na obra de arte e que só aí podem ser encontradas. Estes
autores afirmam que, em vez de nos concentrarmos em encontrar as ditas
propriedades intrínsecas às o.a, deveremos focar-nos nos seus aspetos relacionais,
processuais e contextuais, isto é, nas relações que estabelecem, nos processos e no
contexto histórico-social que os envolve. Visto que estas teorias não se focam nos
aspetos essenciais e intrínsecos da obra, são conhecidas como teorias não
essencialistas da arte (teoria institucional da arte e teoria historicista da arte).

Teorias essencialistas da arte:

1) A Arte como representação

Esta é uma das mais antigas teorias da arte e remonta ao século V, a.c. tendo
como representantes Platão e Aristóteles. Para estes autores a caraterística comum a
todas as o.a é o facto de todas elas representarem alguma coisa da realidade. No
entanto, temos dois tipos de representação: imitativa (todas as o.a. imitam algo e
quanto mais se assemelharem ao objeto imitado, melhores serão) e não imitativa (as
o.a. não têm necessariamente que imitar a realidade, basta representarem essa
mesma realidade.
Platão e Aristóteles defendiam a arte como imitação de algo (teoria mimética
da arte ou teoria da arte como imitação). Objeções a esta teoria: é demasiado restrita
pois existem o.a. que não imitam nada, como a arte abstrata ou a arquitetura, a
música, a dança, etc.
No entanto a arte como representação (não imitativa) é muito mais
abrangente do que a arte imitativa e, portanto, resiste melhor às críticas. Neste caso,
basta que a o.a represente o objeto, por exemplo, o fado representa Portugal. No
entanto, aqui também encontramos limitações já que deixa de fora o.a sem qualquer
conteúdo representativo.
2) A Arte como expressão

Collingwood é um dos defensores desta forma de arte, diz que “algo só é arte,
se e somente se, for expressão imaginativa de uma emoção.”

Argumentos da tese:

O artista pode expressar emoção nas o.a que cria ou pode estimular emoções
naqueles que vêm a obra. No entanto, a arte não é estimulação de emoções, o seu
objetivo não é estimular qualquer tipo de emoção nos espetadores. A arte é a
expressão imaginativa de emoções que o artista expressa na obra A o.a é algo que
existe essencialmente na mente do artista e é reconstruída pela imaginação daqueles
que a contemplam.

Críticas à tese:

Existem outro tipo de atividades que também recorrem à imaginação para


expressar sentimentos ou emoções e não são o.a.
A tese defende que para que algo seja arte tem de expressar emoções, no
entanto, existem vários tipos de arte que não exprimem qualquer tipo de emoção, por
exemplo a arte conceptual, etc.
Algo ser considerado arte depende de considerações acerca das intenções do
artista quando criou a obra, se a obra expressar as emoções do artista, pode ser
efetivamente considerada arte. O problema é que, em última análise, só o autor e às
vezes nem mesmo ele, sabe as intenções que tinha quando produziu a obra. Por isso, a
obra para ser considerada arte não pode depender do conhecimento que temos
acerca das intenções do autor, isso não se consegue saber e é irrelevante. Para estes
críticos, a obra vale por si mesma e pelas interpretações que provoca nos espetadores,
independentemente das intenções do artista.

3) Arte como forma ou teoria formalista da arte: Clive Bell

Segundo Bell, as outras teorias essencialistas focavam-se em aspetos externos


da obra propriamente dita, na realidade exterior representada (arte como
representação) ou na experiência interior do artista (arte como expressão).
A teoria formalista da arte vai focar-se exclusivamente na obra, isto é, nas suas
qualidades formais. Para Bell, algo é arte, se e somente se, tem forma significante.
Vamos primeiro tentar compreender o que Bell quer dizer com emoção
estética, um tipo de emoção sentido apenas quando as pessoas contemplam uma
o.a.
Se descobrirmos o que está na origem desta emoção, encontraremos a tal
caraterística presente em todas as o.a e só nestas. Essa propriedade que só existe nas
o.a e que desperta uma emoção estética é o que Bell chama de forma significante.
Esta define-se como sendo certas configurações das linhas, cores, formas, espaços e
nada tem a ver com a compreensão do seu conteúdo ou das intenções do artista.
Portanto se uma obra despertar emoção estética nos espetadores, possui
forma significante e, portanto, pode ser considerada uma o.a. Esta emoção estética só
pode ser produzida por criações humanas. Se uma obra não produzir emoção estética,
quer dizer que não tem forma significante e, portanto, não é uma o.a.
Nesta teoria, a representação e a emoção sentida pelo artista quando criou a
obra são irrelevantes para determinar o seu estatuto de o.a. já que existem o.a. sem
conteúdo representativo ou expressivo.

Críticas à teoria formalista da arte

- Existem o.a que não dependem de aspetos intrínsecos à obra, como defende Bell,
algumas o.a dependem de aspetos extrínsecos à obra para serem considerados o.a.
tais como, propriedades relacionais ou contextuais.
- A definição de forma significante é viciosamente circular e, por isso, falaciosa, isto é,
Bell define forma significante como um conjunto de linhas, cores, formas, espaços que
têm a capacidade de provocar uma emoção estética em quem as vê, mas, ao mesmo
tempo, define emoção estética como o tipo de emoção que sentimos quando estamos
perante a forma significante.
- As propriedades formais não podem ser as únicas relevantes para garantir um
estatuto artístico à obra, por exemplo o que é representado ou a emoção que pode
estar presente numa o.a. são tão ou mais importantes que as propriedades formais da
obra.

Teorias não essencialistas da arte

Teoria Institucional da arte

Segundo os teóricos desta teoria, nomeadamente Morriz Weitz, as teorias


essencialistas da arte cometem todas o mesmo erro, assumem que existe um conjunto
de condições necessárias e suficientes para algo ser considerado arte. Weitz considera
que não devemos procurar essa caraterística comum a todas as o.a, simplesmente
porque esta não existe e se existisse seria limitativa para qualquer o.a. que pudesse
surgir com caraterísticas diferentes. Ora, a arte carateriza-se precisamente pela
abertura à mudança, expansão e inovação. Assim e porque Weitz recusa qualquer
conceção essencialista, ficou conhecido como antiessencialista.
Esta teoria defende que a arte não depende de caraterísticas intrínsecas ao
objeto artístico, mas sim de propriedades relacionais e extrínsecas ao objeto artístico e
que este estabelece com outras realidades.
Danto defende que algo é arte se estiver inserido no contexto de uma prática
institucional, aquilo a que Dante dá o nome de mundo da arte.
O primeiro autor a formular esta teoria de forma mais acabada foi Dickie,
segundo este autor, algo é arte, se e somente se, for algo criado pelo Homem, ou seja
tem de ser um artefacto, assim é possível incluir outras formas de arte até aqui
excluídas (coreografias, notas musicais e, em algumas situações, objetos que não
foram alterados pela intervenção direta do homem (pedra do Alberto Carneiro) já que
possuem um conjunto de caraterísticas que as enquadram no estatuto de candidato a
apreciação por uma ou várias pessoas que integram o mundo da arte.
Portanto, ser um artefacto é condição necessária para que se possa falar de
objeto artístico, mas, para que esse artefacto possa ser efetivamente uma o.a. é
necessário que o mundo da arte lhe atribuísse esse estatuto (candidato a apreciação
de acordo com as suas caraterísticas (sentido classificativo, não é mostrado ao
público). Uma o.a. no sentido valorativo uma o.a tem valor se chegar a ser apresentada
ao público do mundo da arte.

Críticas à teoria institucional da arte

- A definição de arte é viciosamente circular, é falaciosa, isto é, para sabermos o que é


uma o.a., temos de saber o que é o mundo da arte e para saber o que é o mundo da
arte, temos de saber o que é uma o.a.
- Torna a definição de arte inútil, já que, se qualquer coisa pode ser arte, desde que o
mundo da arte assim o classifique, então a definição de arte acaba por ser inútil.
- Torna impossível falarmos de arte primitiva ou de arte solitária, já que, neste caso
não existe um mundo da arte.

Teoria histórica da arte

Visto que esta teoria é também não essencialista, partilha de pelo menos uma
caraterística em comum com a teoria institucional, o facto de ambas defenderem que
o que torna algo arte são aspetos extrínsecos, relacionais e contextuais à obra. No
entanto, e diferentemente da teoria institucional, a teoria histórica procura possibilitar
a existência de o.a. fora do contexto institucional do mundo da arte.
Para Levinson, algo é uma o.a. se e somente se, alguém que tem direitos de
propriedade (o artista) sobre o objeto em causa e tem intenções sérias de que esse
objeto seja encarado como arte bem como outros objetos o foram. Se assim for, o
homem do neolítico poderia produzir uma o.a. por exemplo para produzir prazer visual
e como produzir prazer visual é uma das formas como as o.a. foram corretamente
encaradas ao longo da história, então existem o.as no neolítico.
Portanto, desde que uma obra possa ser enquadrada numa das formas como
foi corretamente encarada ao longo dos tempos, então, é uma o.a. No entanto a obra
tem de ter sido corretamente encarada como o.a. ao longo dos tempos, porque
existiram casos no passado de o.a não terem sido corretamente encaradas enquanto
tal, por exemplo usar os quadros de Van Gogh para construir um galinheiro. Neste caso
as obras de Van Gogh não deixam de ser o.a apenas não foram corretamente
encaradas como tal no passado.
Então, para que algo seja uma o.a é necessário que existam precedentes na
história da arte, como vimos, mas não é suficiente, tem ainda de se cumprir outra
condição, tem de haver uma intenção séria por parte do artista de que sua obra criada
por ele seja seriamente encarada como o.a, além disso, o artista tem de ter direitos de
propriedade sobre o objeto, isto é, a obra tem de lhe pertencer.
Esta teoria possibilita então a existência de arte rupestre ou solitária. Não há
limite para aquilo que se possa pretender seriamente ser uma o.a., no entanto, nem
tudo pode ser assim encarado por que tem de estar enquadrado na história da arte.
Críticas à teoria histórica da arte

- Se o que faz com que uma obra seja considerada uma o.a. é a sua relação com o.as
anteriores a ela, então como surgiu a 1ª o.a.? Se esta 1ª o.a. não está assente em
precedentes históricos como podemos nós considerá-la uma o.a.?
- Esta teoria não prevê que certas formas de encarar a arte no passado possam deixar
de fazer sentido hoje. No passado, os retratos eram considerados o.as e, no entanto,
hoje dispomos de artefactos que também retratam uma realidade e que não são
considerados o.as.
- Por outro lado, existem hoje objetos que são encarados como arte e que não o foram
originalmente, por exemplo armas de guerra ou determinadas peças de cerâmica,
objetos do dia a dia, que quando foram feitos tinham objetivos práticos e nunca foram
encarados como o.a.
- Finalmente, Levinson tinha colocado como condição para algo ser arte, ser pertença
do artista, ora, isso não inclui muitas o.a que são feitas em propriedades pertencentes
a outras pessoas, por exemplo os graffiters, ou as obras de Vilhs,por exemplo. Se a
Guernica de Picasso tivesse sido pintada numa parede de um prédio que não
pertencesse a Picasso, deixaria de ser uma o.a? Claro que não.

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