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1ª Edição
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou transmitida por
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autor/editor.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência. Nenhuma parte
desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes – tangíveis ou
intangíveis – sem prévia autorização da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido
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violência física.
21 de setembro de 2014, guarde esta data. Foi o dia em que ele partiu meu
coração.
— Blakely
21 de setembro de 2014. Foi o dia em que ela me ensinou que dava para
— Ian
precisava me levantar. Após reunir forças, coloquei meus pés para fora da
cama e olhei para minhas meias. Uma diferente da outra. Sem me importar,
ía aos finais de semana, quando a demanda era tão alta que mal dava para se
mover lá dentro sem esbarrar em alguém ou tomar uma cotovelada não
intencional.
familiar de grãos de café e torta de amora. Senti meu estômago roncar. Era
expresso. Não me lembrava da última vez em que tive uma noite de sono
o banheiro. Ainda não tinha me olhado no espelho hoje, então fiquei meio
constrangida por minha aparência estar desgrenhada. Além de realmente
vermelho do bolso.
um contra o outro.
Gina estava de costas para mim, checando uma das máquinas de café.
— Qualquer coisa.
— Até um braço?
— Não me subestime.
sorriso toda vez que ia atender alguém na mesa. Claro que às vezes não
— Trabalhar.
— Você só trabalha.
minúsculo. Tinha algumas horas livres antes de ir para o bar, que aproveitei
para dormir.
ficava longe de onde eu morava, então fui de metrô outra vez. Assim que
cliente. Depois, voltei-me para o outro, já sentindo seus olhos em mim. Foi
existir ao seu redor. Você sente o coração bater mais rápido, mas os
Mas é real. Tão real que deixa um gosto amargo em sua boca.
maldição.
Pela sua expressão, ele parecia tão surpreso quanto eu. Tão mais belo
seria reencontrá-lo, depois de tudo. Nenhum cenário havia sido tão cruel.
antes, passado
Havia duas trilhas próximas uma da outra no píer e uma delas era
conchas ainda tinham águas-vivas vivas dentro delas, era por isso que a
de ondas.
A voz foi tão repentina que quase caí do píer, direto para o mar. Meu
coração batia forte quando pus os olhos na garota. Ela segurava uma vara
de pesca e calçava as botas de plástico horripilantes, segurando o balde
enorme com seus olhos verdes. Com o sol atrás de si, uma espécie de halo
frente. Para a água, sua superfície calma e o horizonte além, com uma
cadeia de montanhas.
— Sabe que se eu fosse surdo mesmo não iria entendê-la, mesmo que
discretamente e segurei um gemido de dor. Olhei para ela com o olho bom.
Springs e aqui todo mundo se conhecia, pois a cidade podia muito bem ser
comparada a um ovo de tão pequena. Havia cerca de três mil habitantes
conter a curiosidade.
água, fazendo com que alguns respingos nos atingissem. Fez uma careta ao
ver que não havia conseguido nada, o que era meio óbvio.
Ela ficou em silêncio e olhou para longe. Foi a primeira vez que
de voz baixo.
isso.
Para minha sorte, ela desviou de assunto:
Hesitei em responder.
— O suficiente para saber que você não vai capturar nenhum peixe
puxou a vara para fora da água e observei o anzol que estava usando, era
— É baixo — murmurei.
Arqueei as sobrancelhas.
— Não.
— Por quê?
— Não tô afim.
— Por favor, só uma música — ela continuou implorando
antes.
Comecei a tocar uma das músicas que eu sabia, só para ver se ela ia
— Talvez.
Finalmente.
Nós não dissemos nada, ela se levantou e foi embora, sem ao menos
dizer seu nome. Demorou dois anos para que nos víssemos outra vez.
plantas.
encarou.
abandonado com a minha mãe, quando eu ainda era apenas uma criança e
ela estava se afundando em substâncias ilegais, tornando-se uma viciada.
Elle era fruto de sua segunda mulher, o casamento que havia dado certo. E,
embora ele fosse meu pai, não tinha costume de chamá-lo assim, ainda mais
assunto.
— O quê?
minha meia-irmã. As coisas não estavam dando tão certo, no entanto. Ela
garotinha de alguns anos atrás, que ficava feliz quando eu dizia que iria
A idolatria pela irmã mais velha havia ficado no passado, junto com
Ela não era mais a mesma. Estava diferente, assim como eu.
Eu não o entendia.
pai, havia dito que eu tinha permissão. Mas eu devia ter perguntado antes
sobre restrições.
— Eleonor, escute...
para trás. Não me importei de olhar sobre o ombro. Fiquei do lado de fora
— Desculpe.
Foi tudo o que ela havia dito, o tom de voz quase inexistente, não
passando de um sussurro.
— Podemos ir embora?
— Claro.
decepcionado comigo.
— Para onde?
— Vai ter um show de uma banda que eu gosto num pub aqui perto
de casa. Como sei que você tá de folga, achei que ia ser uma boa pra relaxar
um pouco.
suspiro, trocando o peso de uma perna para a outra. — Não sei se vai ser
Gina bufou.
— Claro.
uma ducha rápida, porque já eram sete horas. Coloquei um vestido preto,
esperado.
Assim que puxei a porta de seu carro, ela me lançou um olhar surpreso.
— Nossa, você tava escondendo seus peitos por todo esse tempo?
trajeto até o pub foi rápido, considerando que Gina não morava tão longe
assim de meu apartamento. Eu nunca tinha vindo até esse lugar antes, foi
até uma surpresa porque estava lotado. A rua estava adornada por carros,
pub, me arrependi ainda mais de ter saído do meu quarto, onde podia ter
tido uma noite longa de descanso. Então, quando a banda da noite foi
bebericava.
só.
Sem ter para onde fugir, assisti ao show. Não foi tão longo, apenas
quatro músicas que, por mais que não quisesse dar o braço a torcer, eram
muito boas. Quando a banda se retirou, as pessoas recorreram a uma
porta de metal enferrujada que ficava numa rua deserta sem saída.
— De jeito nenhum!
— Só um pouco — suplicou.
Além de que nós somos duas mulheres jovens numa rua vazia depois das
dez da noite. O que pode dar de errado, né?
alto da porta pesada de metal. Nós duas direcionamos nosso olhar para lá.
Ian parou no movimento de riscar o isqueiro para acender o cigarro já preso
Seu olhar alternou entre mim e Gina, depois suas íris se conectaram
esquisito. O clima que Ian havia estabelecido com seu jeito desconcertante
e um tanto distante.
— Obrigada.
Estávamos prestes a ir embora quando o baterista surgiu de repente.
Assim como Ian, ele nos analisou primeiro. Mas sua atenção foi direcionada
para Gina.
Por mais que a pergunta tivesse sido feita no plural, suas íris estavam
— Para de encarar.
mandíbula contrair.
Aquele gesto de indiferença fez com que meu sangue fervesse ainda
mais. Sua arrogância me dava nos nervos.
Seu riso foi tão repentino que me fez congelar. Quando cessou, um
odiava. Isso é triste. — Fiz uma pausa, olhando no fundo dos seus olhos. —
No fim, você é igual a ele.
Com ele, Ian sabia a quem eu estava me referindo. Seu pai. Suas
mandíbulas travaram. Ele me olhou com raiva.
— Então fique fora da porra do meu caminho. Ou você sabe o que
vai acontecer.
passado
Eu tinha me dado conta de três coisas nesta cidade, após retornar para
ela dois anos mais tarde. 1. As pessoas gostavam muito de pesca. 2. As ruas
sempre estavam vazias, até mesmo durante o dia. 3. O garoto do píer ainda
passada, havia dito que tinha caído. Esta semana, quando apareceu com o
lábio inferior rasgado, disse que havia sido um tombo de bicicleta. E, hoje,
peito. Ele devia gostar muito de música, porque, às vezes, passava horas
Eu não podia dizer que éramos amigos, mas nossa relação não-
Eu achava.
irritante.
Ele finalmente me olhou nos olhos. Aquelas íris azuis como dois
alto risco. Uma das coisas que haviam mudado, era sua aparência. Ele
estava ainda mais bonito. O que havia permanecido, no entanto, era seu
temperamento esquisito.
daquilo. Ele me encarava com raiva. Por mais que soubesse que Ian era um
garoto distante e meio frio, nunca havia me tratado daquela maneira até este
momento.
corpo, fui embora. Levou apenas alguns minutos para que eu estivesse lá,
em frente a casa de minha mãe. Era feia assim como a cidade. Tudo aqui
meu próprio corpo. De repente, estar no píer com Ian me odiando não
lugar.
Minha mãe mantinha todas as janelas fechadas. Ela não gostava
muito de luz. Era raro que ela permitisse que ar fresco e luz entrassem,
Como não obtive resposta, presumi que ela não estivesse em casa.
macarrão de micro-ondas.
e os pés descalços.
Sabia que minha mãe não estava exatamente feliz com a minha
presença aqui, mas era incômodo ouvi-la dizer coisas como aquela.
relação boa. Embora minha avó, com quem convivia, tivesse dito que era
uma péssima ideia passar as férias de verão sozinha com ela. Todas as
dito?
Em silêncio, fui para o quarto que estava ficando aqui. Não era bem
para fazer muita coisa nele, só receber ligações e jogar Tetris. Fiquei tentada
a ligar para ela e pedir que ela mudasse a data da passagem de ônibus para
Ouvi minha barriga roncar. Fazia um tempo desde que eu não comia
algo bom.
Para não sucumbir ao tédio, abri um dos livros que havia trazido para
Na ponta dos pés, puxei a cortina do meu quarto e espiei pela janela.
Em pé na varanda, estava uma garota que eu tinha visto poucas vezes desde
que havia chegado. Ela morava do outro lado da rua e devia ter, mais ou
Hesitei. Podia dizer a ela sobre Ian, mas nós não éramos amigos.
— Não.
— Beleza, Blake. Para sua sorte, tenho tudo registrado aqui comigo.
Meu coração deu uma galopada no peito ao ver seu rosto sério. Ele estava
num parque, não havia percebido que tinha sido fotografado
inesperadamente.
— Tipo quem?
Arqueei as sobrancelhas.
— É sério. Ele faz muito sucesso entre as garotas. Tipo, você já
olhou para ele, né? Dá para entender o porquê.
É, eu entendia o porquê.
E era esquisito.
Mais tarde, Rachel havia ido embora e minha mãe tinha chego em
casa, mas ela já estava prestes a sair outra vez, pelo visto.
sandália de salto alto ao redor do tornozelo. Seu rosto estava coberto com
maquiagem, as pálpebras com um delineado maior que o outro, mas ela não
parecia se importar.
disse:
lábios.
mais de duas palavras, ela nunca dizia a coisa certa. Como neste momento.
Que tipo de mãe não sabia a idade da própria filha? Mas não era como se
ela fosse uma mãe convencional, eu sabia que minha mãe era… diferente.
Jenna assentiu, abriu a boca para dizer algo mas então seus olhos
sentada no sofá.
um pouco da cortina até que formasse um vão que me desse uma visão do
que estava acontecendo lá fora.
acesso.
Me perguntei por que minha mãe tinha contatos como aquele. Ela
Não havia nada para fazer ali, mas eu já estava habituada com a
parecia desconfortável, assim como John e sua esposa, Hanna. Hanna tinha
cabelo loiro e comprido, assim como Elle, antes de ter que raspá-lo. Ela me
Contudo, eu estava aqui apenas por Elle. Ela quem havia sugerido o
Seus pais concordaram por ela. Eles não pareciam querer estar na
mesa. Eu também não queria estar, então não os culpava. Por mais que me
sentisse mal por querer que tudo acabasse o mais rápido possível, ninguém
em comum:
John evitava o contato visual comigo, mas, de relance, podia ver sua
postura rígida na cadeira de mogno cara de sua casa incrivelmente cara.
Tudo aqui gritava dinheiro. Uma das coisas que me incomodavam também.
— Que... interessante.
perguntei o que se passava em sua cabeça neste momento. Devia estar com
pena. Não do tipo solidária.
— A Blake trabalha numa cafeteria incrível — Elle cortou o silêncio.
baixo.
Nós dois sabíamos que ele nunca apareceria lá. Ele nunca teve
vontade de me conhecer. Nunca fez questão de estar próximo, não era agora
Fixei meus olhos em seu rosto. Meu pai pareceu enrijecer ainda mais.
Meu pai ficou em silêncio, mesmo que estivesse evidente que era
É claro.
Voltei a respirar normalmente, me sentindo uma tola por uma parte
de mim, mesmo que uma parcela quase inexistente, tivesse pensado que ele
Limpei a garganta.
quarto…
tem compromisso.
de pé.
ele que eu sabia o maldito caminho até a saída, mas não queria deixar o
para Hanna, por mais que eu tivesse a odiado, e andei silenciosamente até a
porta, ouvindo os passos de John atrás de mim.
— Fico feliz em saber que está bem — a voz de meu pai cortou o ar
inesperadamente, surpreendendo-me.
— Blakely, eu…
na sala, jogando a bolsa no sofá e colocando o café sobre a ilha que dividia
a cozinha da sala. Abri a caixa de donuts, e dei uma mordida no que tinha
perto da soleira da porta, onde havia uma carta jogada que não estava ali
— Oi — resmunguei.
transparente.
ligou?
— Pode ficar comigo por um tempo… — Gina sugeriu.
garota, duvido que ela ficaria feliz com uma terceira presença lá, mesmo
que por alguns dias. Eu não queria ser a pedra no sapato de ninguém.
— Tudo bem, você quem sabe. — Houve uma pausa. — Agora não
me sinto bem para dizer o que iria, é bem superficial.
bar?
— Sim.
no banheiro.
Eu ri.
Só isso? Franzi a testa.
Gina: mas tem uma condição, um amigo dele também mora aqui
Gina: vai ter que dividir o lugar, mas tem dois quartos
algumas coisas, como andar só de sutiã pela cozinha. Mas era um sacrifício
que eu estava disposta a aceitar, tendo em vista que eu estava sem saída e de
que o amigo de Atticus não fosse um pé no saco.
Gina: beleza
passado
A garota do píer.
Não sabia o que ela exatamente queria. Só sabia que ela gostava de
falar. Falava além da conta. Me contou sobre os cinco gatos que já teve, a
andar de patins sozinha e falava sobre sua avó, por quem dava para ver que
para cá.
Devia ser porque eu fui babaca com ela da última vez em que
estivemos juntos.
palma da mão antes de lançá-la na água. Ela quicou sobre a superfície até
submergir.
senti que parecia errado. Aquilo me incomodou, mas não soube dizer
exatamente por quê. Talvez fosse porque eu não estava com o baixo.
e pontos turísticos aqui, quase nada. Mas havia o parque de diversões que
iria ser estreado esta noite. Sabia disso porque era tudo o que se falava nos
últimos dias. Numa cidade pequena como essa, qualquer coisa virava
manchete.
O parque estava lotado. Quase dei meia volta, mas então meus olhos
certo. No entanto, ela continuava lá, alheia e inocente, para não dizer burra.
Blakely se virou num solavanco. Seu rosto foi de surpreso para mal-
um olhar mais esquisito e acusador ainda. Sabia que ela não havia superado
o que tinha dito para ela no píer da última vez, estava estampado em cada
sobrancelhas.
uma vez.
— Claro — resmunguei.
— Por que você não vai embora? — Ela se virou para mim, os olhos
lugar público.
verdes. — Seu passatempo preferido é ficar sentado por horas num píer.
— Você é um esquisitão.
fizessem uma espécie de cortina entre nós dois. Segurei seu pulso quando
la.
aperto.
apenas para confirmar que os garotos ainda estavam lá. Me voltei para a
suave:
— Por favor.
também me fez perceber que minha mão ainda estava ao redor de seu pulso,
Contive um suspiro no fundo da garganta. Por que ela não podia ficar
Queria dizer a ela que eu de fato a achava uma criança irritante, mas
não queria magoá-la outra vez. Não que eu me importasse com seus
sentimentos. Eu não me importava com ela, afinal. Era apenas uma garota
verão acabasse.
Por que está aqui, então? A questão intrusiva flutuou pela minha
Blakely bufou, atraindo meu olhar para si. Ela me olhava como
— Não, não está. Me forçou a vir para esse parque e... — Seus olhos
verdes se direcionaram ao seu braço adornado por minha mão. Ela encarou
meus dedos como se fossem sanguessugas presos a sua pele alva. — Tá
agindo esquisito.
Ignorei o fato de que eu nunca havia dito a minha idade para ela.
— É. Tem razão.
percebi que ela não estava em meu encalço. Voltei pelo caminho. Não me
surpreendi ao ver Blakely em frente à máquina de algodão doce.
Então ela ergueu os olhos, me viu ali, com o rosto sério e uma das
sobrancelhas arqueadas. Sua expressão fechou. Ela andou até mim, parando
em minha frente. Antes que eu pudesse falar algo, disparou:
— Por quê? Não devia fazer nenhum comentário sobre algodão doce
— Combinado.
— Precisa de ajuda?
quarto.
Assenti.
era grande e éramos melhores amigos. Só que com a sua saída, ele havia
decidido que colocaria alguém aqui, em seu lugar. Eu não podia questioná-
cerveja. Daqui, podia observar sua movimentação por conta da ilha que
— Pega.
no sofá.
— Garota?
Eu o ignorei.
capaz de me entreter.
Deixei uma trilha das minhas roupas pelo chão do banheiro, até
meu cabelo e minhas costas, minha mente ficou silenciosa por alguns
momentos.
nas portas que davam para a varanda. Blakely trocou o peso de uma perna
expressão. Ela ficou mais pálida que o habitual, parecia que tinha visto um
fantasma.
debaixo da pele.
apartamento…
ameaçador.
em frente ao peito.
sala. — Precisei atender uma ligação, não imaginei que vocês fossem se
— Essa é a Blake, não sei se você lembra dela, ela estava naquele bar
que tocamos da última vez. — Fez uma pausa. — Acho que a gente pode
semana?
menos no fato de que eu teria que conviver por um tempo com a garota que
antes
das minhas mãos suavam quando conferi o meu visual no espelho pela
última vez.
Eu não tinha muitas roupas que fossem novas, mas aquele vestido era
uma das minhas peças boas que eu havia trazido para Oak Springs.
adoráveis.
— Obrigada.
— A minha mãe vai levar a gente. — Ele olhou para trás, para o
— Legal — murmurei.
Dylan em nosso primeiro encontro, mas não tive escolha a não ser segui-lo
Para minha sorte, a mãe de Dylan não falava muito. Nós trocamos
algumas palavras até que ela nos deixasse em frente à uma lanchonete bem
silêncio.
— Parece bom.
assim como a minha. Foi embaraçoso. Dylan começou a nos guiar pelo
E então, aconteceu.
Eu o vi.
distância. Seu braço direito pendia na janela aberta, o cabelo caía sobre sua
testa e ele sustentava um cigarro entre o dedo médio e o indicador.
Desviei o olhar. Fingi que ele não significava nada, até porque era o
que ele havia feito comigo depois do parque de diversões. Ele não ia mais
até o píer. Eu estava contente conhecendo Dylan nos últimos dias. Ele não
podia estragar isso.
Entramos no estabelecimento, Dylan escolheu uma mesa perto das
Provavelmente daqui Ian tinha uma visão privilegiada de nós dois e eu não
A garçonete chegou.
milkshake de baunilha.
— Pretende voltar?
— Hum, não sei. Provavelmente.
Sério? Não tinha nenhum outro lugar para onde ele pudesse ir?
que estava sentado numa das banquetas que ficavam próximas ao balcão.
força demais.
— Não.
de cima. Se ele fosse alguns centímetros mais para frente, nossos narizes
poderiam roçar um no outro. Ele estava tão próximo que eu podia ver as
estrias em suas íris, além de algumas manchas douradas em meio ao azul,
— Estou escutando — ele disse, num tom calmo e baixo. Sua voz
parecia veludo.
costelas.
— Sim, Blakely? — Ian, me incentivou a falar outra vez.
que queria dizer. Havia esquecido tudo, mas então me lembrei porque
confuso e preocupado.
— Tá tudo bem?
rapaz no balcão mandou para que fosse entregue para a senhorita. Ele já
pagou.
uma fatia de uma torta de morango que eu tinha que admitir que parecia
deliciosa. Fiquei em choque. Olhei para Dylan, que parecia visivelmente
desconfortável.
— Quem está enviando isso para cá? — questionou à atendente.
Droga.
Quando seu rosto se voltou para mim, ele engoliu em seco, ficando
pálido.
— Não — menti.
Senti o ódio inundar cada célula do meu corpo. Fechei o punho, com
vontade de socar algo. Talvez o rosto do babaca que havia estragado meu
dia. Levantei-me, sem pensar. Pisei duro até Ian, que parecia muito ocupado
enquanto flertava com a garçonete.
— Vai se foder.
sobrancelha.
— Foda-se.
— Nossa, que boca suja. — Ian me encarou com um meio sorriso nos
lábios.
o valor dos itens, que somavam trinta dólares. Eu não tinha trinta dólares.
Como Dylan havia me convidado, achei que ele fosse pagar. Só que ele
Senti que ia ter um colapso por conta da raiva. Voltei para a mesa. A
garçonete ainda não havia retirado o que havia restado dos pedidos. Enfiei
um dos cupcakes na boca. Então, outro. Sujei os lábios com glacê, mas não
me importei.
Para minha sorte, Ian não estava mais na mesa. Agora, ela era
ocupada por um casal. Ele não parecia estar mais na lanchonete. A
Ela ia me cobrar.
Então, sorriu.
— A conta já foi paga pelo seu amigo. Ele também pediu para que
embalasse o resto dos doces para que a senhorita levasse embora. — Pegou
duas sacolas sobre o balcão ao nosso lado que eu não havia reparado e as
bochechas arderem.
fio com aquele carro caro. Seus olhos me encontraram, como sempre.
Mas, o dei as costas.
Por mais que ele tivesse pago minha conta da lanchonete, ainda havia
arruinado meu encontro, então só tinha compensado um pouco por sua
— Para ter certeza de que você vai chegar na sua casa inteira. — Seu
rosto estava sério, assim como seu tom de voz. — Se não entrar, vou te
acompanhar até lá, de qualquer forma.
Franzi o cenho.
Antes que pudesse dizer algo, Ian enrolou os dedos ao redor do colar
fino e puxou com força. O “crac” oco da corrente se partindo pairou no ar.
Ele me beijou.
Eu o beijei.
deixando-me irracional, para não dizer burra. Não conseguia ter forças para
afastá-lo. Me forcei a lembrar do que ele havia feito.
Na maioria das vezes, ele ficava na orla da praia, com seus amigos,
quando os encontrei, hesitei antes de me aproximar. Ele ainda não tinha me
visto. Dylan ria com dois garotos, a voz dele me atingiu, mesmo de onde eu
estava:
— Entreguei o colar para ela, achei que ia funcionar, mas parece que
Não fiquei para ouvir o resto, apenas voltei para casa, sentindo-me
mais idiota do que nunca.
eu quis sair correndo e me esconder dele para sempre, mas o ódio em seus
olhos me assustou. E o medo me fez sentir uma garota insegura e patética.
mais, eu só precisaria ficar ali por um tempo, até que as coisas estivessem
estabilizadas e eu achasse um lugar melhor para mim que não custasse um
rim.
Limpei a garganta.
— Olá?
Silêncio.
mensagem para ele, dizendo que podia subir. Foram cem dólares, mas
Ergui o rosto quando ouvi os passos de Lowan, o cara das caixas. Ele
— Onde coloco?
— Pode deixar por aí. — Sinalizei para o espaço livre perto da porta.
mas ainda precisava fazer alguma coisa com as caixas vazias. Levei todas
para fora do prédio, deixando-as numa caçamba de lixo. Voltei para dentro,
de frustração.
podia, já que morava aqui? Bom, mas era questão de senso não transar com
gente perto, só que eu duvidava que Ian ligasse para essas éticas, ainda mais
Com pressa, abri a porta e corri até meu quarto, trancando a porta
Sã e salva.
aleatória só para não ter que ouvir o que estava acontecendo lá fora.
Enviei algumas mensagens para Gina enquanto meu jantar não chegava.
Então, chegou.
Isso era tudo que eu podia ver, seu longo cabelo ruivo e sua cabeça
meus. Seu peitoral estava nu. Havia luxúria em seu rosto, mesmo que
estivesse sério. Um brilho de divertimento se apossou de seu olhar.
eu gritasse com ele, ou decidisse me mudar, mas tudo que eu fiz foi passar
por eles e sair pela porta, como se não tivesse visto nada. No elevador, eu
comecei a sentir o rubor subir por meu pescoço.
num saco pardo. Abri a porta, preparando-me para outra visão pornográfica,
mas, para minha sorte, Ian e a garota não estavam mais no sofá. No entanto,
desejando mergulhar minha cabeça na privada para não ter que ouví-los.
um pedaço de tomate.
atrás de si. Dei um gole no suco de laranja no mesmo momento em que Ian
contra o assoalho.
era semelhante a uma daquelas obras de arte gregas, o que me deixou mais
irritada conforme ele andava até mim. Seu olhar se encontrou com o meu
Olhei sobre o ombro. Analisei toda a tinta preta que ocupava toda a
final das costas. Então rolaram para cima outra vez, parando em uma
Ouvi seu riso baixo e grave atrás de mim. Um arrepio atravessou meu
corpo violentamente.
nelas?
Bati o copo limpo com força não intencional contra a bancada da pia.
Comecei a secar minhas mãos. Quando terminei, fiz menção de passar por
Ian, mas ele segurou meu pulso. Seu toque era firme. Travei meus olhos nos
seus, encontrando o gelo intenso.
Engoli em seco.
antes
nunca havia odiado ninguém antes, mas era melhor dessa forma.
Meu olhar vagou pela sala vazia de minha casa, até o armário que
E foi o que eu fiz. Abri o armário idiota, peguei uma das garrafas e
automática.
aqui para mim e eu esperava não ser mais obrigado a visitar o meu pai.
garrafas?
Não respondi. Esperei que ele viesse até mim. A porta do meu quarto
foi aberta de um jeito abrupto. Meu pai entrou no meu campo de visão.
Estava usando um paletó preto, além de calças e sapatos sociais. Seu olhar
chão, observando o líquido âmbar formar uma poça aos meus pés, junto aos
Ouvir a voz de Blakely fez com que todo meu corpo retesasse. O que
ela pensava que estava fazendo ali? Com o corpo inteiro tensionado, cravei
pai.
Podia sentir o sangue escorrer do meu nariz, para meu lábio superior.
Levantei, espiando pela janela de meu quarto. A voz de meu pai
— Ele saiu.
Seu tom de voz era seco. Daqui, podia ver sua expressão dura.
— O senhor sabe onde ele poderia estar? — Sua voz era tímida e
baixa.
— Não.
ver a forma como seu corpo tensionou. Ela ficou em choque, não conseguiu
se mover.
Ele segurou o pulso fino de Blakely quando ela não esboçou reação e
caindo de joelhos.
Observei tudo com o coração batendo nos tímpanos. Naquela hora,
eu não sentia mais a dor da surra que havia tomado há alguns momentos
atrás.
Ele parou quando me viu. Já eu, continuei avançando até que seu
Eu nunca tinha revidado antes. Por mais que ele abrisse todas aquelas
feridas em meu corpo, eu conseguia controlar o ódio. Me certifiquei de
alcançar.
ficar vermelho.
Meu pai era um homem forte. Ele era alto, robusto. Só que com o
passar do tempo, tornei-me tão alto quanto ele. E a prática de MMA durante
anos havia me deixado preparado para qualquer situação.
Como essa.
encarei.
ficando cada vez mais lentos. Talvez Blakely estivesse certa. Eu iria matá-
em seu olhar.
— Por favor.
Olhei para Blakely. Ela apanhou minha mão. O calor de sua palma
funcionou como criptonita para a raiva que eu sentia. Aos poucos, ela foi
desaparecendo, até que só restasse a apreensão. Comecei a andar para longe
fresco que batia no meu rosto e agitava meus cabelos. Blakely ocupou o
— Sim — admiti.
— O quê? — indaguei.
enganar.
funcionava seu esquema sujo, não queria que Blakely descobrisse. Mas
sentia raiva de mim também, eu devia ter sido menos babaca com ela.
Talvez se eu tivesse sido honesto desde o começo, poderia ter evitado toda a
situação antes que eles se encontrassem na lanchonete.
momentos.
olhos pararam na enorme figueira que havia na costa leste. Dava para
caminhar até lá. Eu me levantei, apanhando sua mão.
acompanhar até lá. Quando nos aproximamos da árvore, sentamos sob sua
copa, que fornecia uma sombra agradável. Blakely se aninhou em meu
ombro, suspirando.
— Para quê?
— Eu prometo — murmurei.
— Tô parando.
Hunt tinha feito uma promessa estúpida para sua namorada, de que
pararia de fumar, só que ele claramente não parecia muito concentrado em
— Atticus devia cuidar da vida dele — falei num tom de voz alto o
suficiente para que ele pudesse me ouvir, mesmo no fundo do cômodo. Ele
— É suportável — murmurei.
mais insuportável da face da terra, ou que a gente tinha uma relação do tipo
cão e gato, ou que nós tínhamos um passado complicado.
— Sei.
— Bom, vou embora — murmurei, apanhando minha jaqueta de
couro jogada sobre um dos sofás que ficavam no porão da casa dos pais de
fundado um clube do livro para a namorada, que era surda e não encontrava
quase.
— Claro — eu murmurei.
ter que vê-la e pior, morar com ela, era uma espécie de piada do destino. Na
achei que estava livre dela, mas, um segundo depois, ela apareceu na sala.
entendido os seus horários, porque não fazia nem uma semana que
estávamos aqui, mas sabia que ela saía para trabalhar no que eu presumi ser
uma lanchonete ou restaurante pelo seu uniforme.
Meus olhos instantaneamente passearam pelo longo par de pernas
sala. Ela sentou no sofá, procurando pelo controle, que estava em cima da
em minha frente, bloqueando a minha visão da tevê. Seu olhar era mortal,
ela apontou a colher suja de sorvete em minha direção, como se fosse uma
arma.
petulante.
— Se eu te bater um dia, pode ter certeza que você vai ter implorado
por isso e vai adorar cada segundo, mas, por enquanto, não. Não sou
covarde.
debatendo contra mim até seu quarto, abri a porta e a joguei na cama.
Blakely me encarou descrente, o cabelo agora todo desgrenhado e
Esperei que ela viesse para cá, pronta para travar outra batalha, mas
— Tem um cigarro?
— Não, mas duvido que Hunt fosse ficar feliz com você fumando
aqui dentro.
É verdade, mas além disso, havia sua namorada, Evelyn. Ela era uma
esse tipo, só achava entediante. Olhei sobre o ombro, vendo Hunt e ela na
cozinha, movimentando as mãos.
Eu não entendia nada que estava acontecendo, não sabia a língua de
sinais.
levantou, indo abrir a porta. A garota com quem ele estava dormindo
atravessou a porta e, logo atrás dela, havia uma Blakely desconfiada, com
Estava rídicula.
Eve. Ele lançou um olhar significativo para Atticus. — Obrigado por ter
demais. Isso se dava ao fato de que eles já haviam ficado no passado, antes
também quase foi por água abaixo, mas eles conseguiram agir como adultos
e passar por cima de tudo, mas ainda havia culpa e ressentimento de um
lado.
— Tá legal, como sabem, esse clube de leitura foi fundado para que
aposto que ela não havia se dado conta de que externou um pensamento
sem querer.
Hunt sinalizou tudo o que ela disse, então a respondeu, das duas
formas:
— Você não pode pegar uma carona com ele? — Ouvi Gina
cheia de parafusos.
Atticus riu.
— Que exagero.
dos quartos.
patética. Ele me lançou um de seus olhares sérios, que eram raros, visto que
Atticus sempre era alguém muito descontraído.
— Cara, qual é! Vocês tão indo pro mesmo lugar, só queremos unir o
com ela. Fico te devendo uma. Se Blakely ficar sem carona, ela vai ter que
levá-la. Além do mais, está tarde para que a garota pague um táxi ou algo
— Tá — concordei, secamente.
virando-me e observando-a parada com o cenho franzido que fazia com que
— Vai ter que levar os livros — falei, entregando o meu para ela,
— Não.
sobre o ombro, esperando que Blakely montasse atrás de mim. Ela não
segurou ao redor da minha cintura, só apoiou a mão livre na barra de metal
atrás de si.
Liguei a moto e demos um tranco para a frente que fez Blakely soltar
Não demorou para que Blakely se agarrasse a mim como se sua vida
dependesse disso, mesmo com os livros.
costas.
boca.
direção a recepção.
cerveja gelada na geladeira. Blakely tinha deixado meu livro na ilha que
dividia a cozinha da sala.
Observei enquanto ela a abria com sua própria chave, com uma bolsa
apoiada no ombro. Presumi que estava indo trabalhar naquele bar em que
nos vimos pela primeira vez em Boston. Seu olhar encontrou o meu por um
momento antes de ela fechar a porta e desaparecer do meu campo de visão,
que ela abrisse espaço para que eu entrasse enquanto segurava uma mala
ajeitada, mas ainda assim havia sinais de desordem, como duas garrafas de
vontade.
— Ele saiu para comprar mais cerveja. — Foi tudo o que recebi
como resposta.
Esclarecedor.
então as abri e soltei um suspiro, olhando ao redor. Havia poeira por todo
lado, se eu fosse ficar aqui, precisaria dar uma limpada no lugar se não
Ele tinha uma barba espessa que cobria seu maxilar, estava usando
casa dos quarenta anos. Ele me observou em silêncio por alguns momentos,
Por instinto, eu quis ir até a praia. A única pessoa com quem cheguei
perto de ter criado vínculos, foi com uma garota que morava em frente à
casa de minha mãe, mas ela havia se mudado no último verão, então eu não
conhecia ninguém.
nos conhecemos. Havia se passado dois anos desde então. Ian não havia
cumprido a sua promessa e eu sentia que havia algo por trás disso.
Inspirei o ar, sentindo o cheiro salgado do mar, então me sentei nas
placas de madeira.
horizonte escureceu. Também não percebi que estava com frio até olhar
praia.
— Você me traiu, seu idiota. Claro que você pode me deixar em paz.
Que babaca.
enquanto tentava tirar os grãos dos olhos. Ela veio em minha direção,
— Eu sei.
— Está óbvio?
— Eu topo — a interrompi.
Aceitei o cumprimento.
— Blake.
então depois que troquei de roupa, deixei um post-it dizendo que tinha
saído. Duvidava que minha mãe fosse notar ou se importar, mas grudei o
O vento frio batia contra nós. Eu tinha que pressionar meu maxilar
para evitar que meus dentes batessem uns contra os outros. O vestido
vermelho era a melhor opção que eu havia trazido, quase deixei ele fora da
mala, porque pensava que não iria ter ocasião para usá-lo. Ele era curto e
Dei um gole.
— Claro.
Então eu me engasguei.
Ele tinha acabado de entrar na cozinha, não me viu no canto. Ele era
um garoto quando havíamos nos visto pela última vez. Agora, parecia mais
alto, mais forte também. Havia algumas tatuagens espalhadas por seus
braços, que eram novidades. Ian usava apenas uma camiseta branca e jeans
comuns, mas conseguiu atrair a atenção de todos, inclusive a minha.
Ele andou até a tequila sem olhar para ninguém e encheu seu copo
silenciosamente.
Esperei com que ele me visse, esperei com que ele me lançasse um
olhar.
Mas tudo o que ele fez foi se distanciar assim que seu copo estava
cheio.
procurado. Ian sabia onde eu morava, pelo menos costumava saber. Será
que ele esqueceu?
queria que a cena não tivesse me afetado, mas eu cambaleei um passo para
trás, como se tivesse sido atingida por uma flecha no peito.
Ele se virou.
conseguir passagem.
Ian que eu havia conhecido, por quem eu havia me apaixonado, tinha ido
embora completamente, sendo substituído por um babaca insensível.
uísque.
franziu.
lábios.
— Não dá, cara. Eu amo tanto ela que dói. Eu não aguento mais ficar
Eve quer fazer as coisas de um jeito mais lento. Acho que ela quer esperar
até a formatura, depois que a gente consiga empregos estáveis e aí, enfim, o
completamente devoto era assustador. Por mais que Evelyn tivesse uma
de se casarem, dava para ver que ele estava sofrendo bastante com isso.
completo cafajeste. Agora, eu tinha que lidar com essa sua versão “estou
— Já falou isso pra ela? Já disse que quer se casar logo? — indaguei.
desesperado.
— Eu sei! É por isso que não digo nada, fico com medo de assustá-
la.
poucos. Talvez vocês cheguem num meio-termo que seja bom para os dois.
Traguei o cigarro enrolado, soprando a fumaça para longe. Hunt
definitivo entre minhas conversa com Hunt. Ele disse que pegou um
palco, minha mente ficava em branco, tudo o que importava era o momento
e a música que eu fazia com meu baixo, sincronizando com Ian e Atticus.
— Sabe aquele bar que tocamos em uma das últimas vezes? Com
próxima de Atticus.
Usando rabo de cavalo, uma blusa curta, saia jeans e meias arrastão,
coradas, então, quando seus olhos se conectaram aos meus, seu mau humor
pareceu triplicar.
mãos.
Seus olhos alternaram entre mim e Atticus com a loira, que agora
— Posso ajudá-los?
— Ah, oi, Blake! Não sabia que você tava por aqui. — Sorriu, sem
graça.
— Vodca.
— E sua companhia?
Blakely não tinha vindo até agora com nossos pedidos, talvez pelo
música.
Porra.
mim.
— Você não toca, olha, ou fala com ela, entendeu? Não pelo menos
Joguei-o sobre uma das mesas, que tombou, fazendo com que
A música parou.
No próximo segundo, alguns seguranças se aproximaram, me
escoltando até a saída. Não olhei sobre o ombro enquanto me tiravam de lá.
prestes a partir para cima de mim. Mesmo através da camiseta de Ian, dava
para ver todos seus músculos rígidos, o que só era mais um indício do quão
meus ouvidos.
Essa não.
Pelo olhar em seu rosto, as coisas não iriam acabar bem. Sinalizando
até que estivéssemos num corredor isolado do bar, onde dava para um
espaço de acesso restrito somente de nós, funcionários.
Comecei a hiperventilar.
maioria dos clientes foram embora. Ninguém gosta de estar num ambiente
de confusões, Blakely.
— Entendo — murmurei. — Mas…
Ele me cortou:
— Já que aparentemente você conhece esse Ian, não posso deixar que
despencarem.
observar.
bancada. Me virei para pegar o pão, mas lembrei-me de que havia o deixado
armário.
comer seu sanduíche, ou seja, sua presença ali era desnecessária e apenas
meus dedos.
Engoli em seco.
Ian bocejou.
— Que pena.
mas não havia humor nenhum em sua risada, tampouco em seu rosto. —
repousando no meu abdômen. Acho que você que quer ficar aqui.
estivesse em chamas.
Quis virar o rosto, ir para trás, mas fiquei parada em seus braços.
Ian roçou os lábios nos meus ociosamente. Meus olhos fecharam.
Nós nos encaramos por três segundos antes que ele dissesse, cortando
o silêncio:
Babaca.
calça rasgando pairou no ar. Eu apenas me virei e fui para meu quarto,
sentindo-me um pouco envergonhada.
vida até agora, fora que estudava em Harvard. E ele estava trabalhando em
superfície.
perfeito. Ele tinha cabelo loiro dourado, olhos azuis e pele bronzeada. Era o
tipo de pessoa que chamava muita atenção por ter uma aparência de
Hollywood.
o olhar entre mim e Gina, que estava alheia no caixa, a alguns metros de
distância.
Diamond bufou.
— Por quê?
— Porque sim. Festas são legais.
Eu arqueei as sobrancelhas.
saí dali para limpar outras mesas. Quando meu expediente finalmente
acabou, fui para casa. Ao chegar no apartamento, cansada, tive que esfregar
os olhos e conferir a data no celular para confirmar que não estava ficando
Irritada, sabendo que aquilo tudo só podia ser mais uma de suas
nenhum, presumi que ele só podia estar no próprio quarto, mas, antes de ir
para lá, passei no meu e quis morrer quando vi um casal se beijando sobre a
Torci o nariz para o cheiro de fumaça e andei até ele. Parando em sua
minha bota.
— Irritante — murmurou.
— questionei, exasperada.
do bolso. Não dei tempo para que ele o acendesse, arranquei-o de sua mão e
em sua cama, muito relaxado, sem camiseta e com as mãos cruzadas atrás
da cabeça. Por mais que seu rosto estivesse sério, dava para ver em seu
olhar que ele estava se divertindo muito por ter conseguido me irritar.
— Acaba com a festa agora, sério — falei, esperando que ele agisse
Não dava para tomar banho, porque tinha gente no banheiro, então
esperei que Ian se cansasse de sua própria idiotice. Ele agia como uma
deleitava. Sua vitória estava no meu descontrole, então eu deixaria que ele
olhasse no espelho, aposto que veria olheiras. Aquele era um dos dias em
tá?
— Tô cansada.
Não era mentira. Eu estava cansada, mas não era só por isso que meu
Nossa, que cara idiota. Ele devia estar bem envergonhado, deu para
era porque tinha reconhecido que pisou na bola, ou por ter sido pego no
sabe?
— Não importa o que ele vai sentir, G. Se você for se sentir melhor
— De nada — murmurei.
alcançá-la. Ela devia estar tão desnorteada que esbarrou no peito dele,
murmurando um pedido de desculpas e sumindo no interior do lugar. Soltei
Eu ri.
Mudei de assunto:
luzes quando ouvi o sino tilintar. Olhei sobre o ombro, pronta para dizer que
o expediente já tinha acabado, mas congelei em meu lugar.
A única pessoa que eu não esperava ver, estava ali, parada em minha
frente. Meu pai parecia desconfortável, sem saber o que fazer. Ele enfiou as
mãos nos bolsos da calça cáqui que estava usando, olhando ao redor.
Olhei para o rosto de meu pai, parecia exausto. Agora toda sua idade
parecia exposta em sua expressão.
por mais que ele tivesse intenções boas, eu não consegui baixar a guarda.
Pelo contrário, senti raiva de sua pergunta.
— Não. Isso não tem nada a ver com a Elle, ela não sabe que estou
aqui. — Houve uma pausa. — Ela vai fazer aniversário dentro de algumas
semanas, o tratamento está indo bem e pensei que chamá-la seria uma boa
ideia. Acho que ela gostaria da sua presença lá. E eu também.
Era isso que ele fazia, então? Dono de concessionárias? Era estranho
como ele não sabia nada sobre mim e vice-versa.
caesar e café preto. Ela ficou com um sanduíche e suco de laranja. Nos
sentamos numa mesa próxima das janelas.
Eu quase bufei ao seu nome ser citado, mas mastiguei uma garfada
da salada para ter tempo de respondê-la. Não tinha contado a Gina sobre o
nosso quase beijo, mas, acho que era melhor assim. Não sei onde eu estava
tratava de Ian.
— Como assim as coisas?
— Vocês até que fingem bem se odiar, mas não dá para fingir que
não tem bastante tensão sexual acumulada entre vocês.
— Que tensão sexual? Tudo que eu sinto quando vejo ele é uma
Ok, não era cem por cento verdade. Eu sentia mesmo vontade de
sufocar Ian com minhas próprias mãos, mas não dava para negar que o meu
corpo me traía toda vez que ele invadia o meu espaço pessoal. Só que eu
não era mais a adolescente idiota que era apaixonada por ele. Até porque
Mesmo que fosse sério e difícil no passado, sua frieza não passava de
— Tá legal, não faço mais perguntas, mas um dia vocês dois vão cair
Evelyn estava contida num dos cantos do sofá de três lugares e Ian,
Mal olhei para ele quando ocupei o lugar, só sorri para Evelyn, que
devolveu o gesto. Ela parecia alguém bem fácil de gostar. Até agora dava
para ver que era calma e amável. O que era meio esquisito, já que seu
namorado era seu oposto, mas eu achava fofo. Enquanto ele gritava "sexo,
mesmo tempo. — Todo mundo leu o livro, né? Se não leu, saia do meu
Ele levava o clube da leitura a sério. Pelo visto, devia amar muito a
história, não sei como podemos chamar isso de romance, mas, tudo bem. É
só minha opinião.
— Sim, mas não falo apenas dos homens — retruquei, lançando a Ian
um olhar feio. — E eles só ficavam visitando uns aos outros. Era chato!
— É claro, naquela época não tinha muito o que fazer, né? O que
Optei por ele porque Diamond havia dito para não ir tão simples, já
surpreendentemente, avistei Ian. Ele não costumava ficar por aqui nos
sábados, ainda mais à noite. Depois que saímos do clube do livro, ele não
tinha voltado para casa. Devia ter chego quando eu estava no banho.
mas seus olhos rolaram por cada centímetro do meu corpo, antes que ele
Ela estava linda, usava um vestido azul celeste que combinava com
seu tom de pele negra. Os cabelos enrolados também estavam soltos, longos
e cheios.
— Nossa, faz tempo que não fico ansiosa para sair — ela disse.
Diamond: tô na frente
Eu: mas tem uma fila enorme aqui
Nós três paramos numa mesa, deixei minha bolsa sobre o tampo,
puxando uma das cadeiras.
impressionado.
— É mesmo.
Toquei em seu braço, ela ergueu o rosto, olhou para nós e para o
garçom parado ao nosso lado, compreensão atravessou o seu rosto.
vida.
— O quê? Não!
ela.
— Se você não tivesse dito aquilo, ela ainda estaria aqui. Não fique
irritado.
— Por que é que vocês têm raiva da verdade? A maioria dos caras é
ele disse que estava cansado. Depois que vi vocês duas conversando, liguei
os pontos e presumi o previsível, que ele tinha pisado na bola. Estou
errado?
— Eu não contei para Diamond, ele é esperto. Ele sabia que você
tava saindo com o Atticus, disse que ouviu uma ligação de vocês.
— Gina, você é uma pessoa incrível, não devia se sentir insegura por
diversão durou até quase às duas da manhã, quando fomos embora. Meus
pés estavam doloridos quando cheguei em casa, eu também me sentia meio
zonza pelos drinks que havia tomado, então quando tropecei no caminho de
entrar em casa, não me surpreendi.
secamente.
ergueu, mas continuei escorada contra seu peitoral nu. De tão próximos que
estávamos, eu podia ver pingos dourados nos seus olhos.
Depois de revirar alguns armários, ele voltou para a sala com uma
Ian começou a se virar, mas eu o chamei outra vez. Seu corpo parou,
ele olhou sobre o ombro.
significado pessoal.
tatuagem de Ian.
Meu palpite era que ele havia estudado meus horários e feito
forcei a manter meu olhar acima de seu pescoço, porque todo o resto era
proibido.
Travei as mandíbulas.
de pêssego…
Ele se aproximou, gotículas de água rolando de seus cabelos para seu
rosto. Seus cílios estavam molhados, de forma que ficavam mais longos e
davam destaque aos olhos azuis, que pareciam tão penetrantes que me
Ele se aproximou.
cada lado da minha cabeça, formando uma espécie de jaula com os braços
boca.
— Eu te odeio mais.
um dos bancos.
é insuportável.
— O que houve?
tinha acontecido no bar. — Não lembra de como ele agiu? Enfiando o nariz
no dia. Nós voltamos ao trabalho. Durante a pausa, fui falar com Diamond.
— Já disse, Blake. Só sou honesto. Ela que parece uma criança por
Bufei, tirando uma mecha de cabelo que caía sobre meus olhos.
Tentar fazer com que eles se entendessem era uma tarefa impossível,
Gina nunca foram amigos. Acho que eles sempre se suportaram. Apenas
isso.
— Você não entende, Blake. Não é como se fosse uma opção minha.
embrião. Nesta época, meus pais já tinham feito uma poupança para mim e
planejado em que escolas eu estudaria até Harvard. — Ele sorriu
quase — perfeita.
que dizer. Eu não tinha família, fui criada por minha vó, que estava morta,
convivi com minha mãe apenas por três ou quatro verões e meu pai…?
Quase um fantasma.
travesso.
Se masturbando.
Por que é que Ian tinha que ser tão… Ian? Tentando parar de projetar
— Sério, da próxima vez que você mexer nas minhas coisas eu irei
estrangulá-lo com minhas próprias mãos.
tinha que sair dali já que as circunstâncias não eram favoráveis. Com raiva,
voltei para a cozinha, então comecei a etiquetar cada um dos itens na
geladeira e nos armários que eu tinha comprado com o meu nome. Não
queria que ele pegasse nada que fosse meu.
— Não tô brincando, Ian. Não mexa nas minhas coisas. Fique fora do
meu caminho e eu vou ficar fora do seu, tá? É bem simples. — Suspirei. —
Você complica as coisas.
me mandar. Você vai piscar e eu vou estar fora, o mais longe possível!
antes.
— É esse o jogo que vamos jogar, então? — perguntei, desafiando-o.
Aquele era um terreno novo para mim, por mais que eu achasse a
presença de Ian desagradável, eu nunca havia feito nada para que ele se
Ele não disse nada, ficou em silêncio. A tensão entre nós dois era
antes
tanto tempo. Dava para ver que ela havia criado expectativas sobre nosso
reencontro.
Eu havia vindo morar com meu pai no começo do ano, quando minha
mãe morreu. Não era o que eu queria, nem ele. Mas eu faria dezoito anos
estava bonita, de um jeito triste. Pelo menos para mim. Era um dos dias em
lábios no momento, mas era uma das poucas coisas que me deixavam
levantar da cama.
alguns minutos. Eu tentei impedir minha mãe, mas ela me chispou com um
instalado. Minha mãe adorava ficar perto da janela, porque ela dizia que era
de onde vinham suas inspirações para os livros que ela gostava de escrever
antes de sua insuficiência cardíaca evoluir para um estágio grave. Ela já
tinha publicado cerca de sete livros, alguns deles haviam feito sucesso
considerável. O suficiente para termos uma casa de dois andares num bairro
de classe média.
minha mãe era realmente preocupante, por isso ela estava na fila de espera
de um coração novo.
com surpresa.
— De quem?
em frente ao peito.
era bebê, e sorria alegremente para a câmera. Por mais que minha mãe
estivesse fisicamente frágil e fraca, ela ainda era uma das pessoas mais
acertando em cheio e atraindo meu olhar para si. Ela bateu o dedo indicador
pouco por isso porque você parece um monge necessitado por silêncio e…
— A gente pode não falar sobre mim? Que tal falar sobre seu
— O que aconteceu?
maldito do Hawk.
Eu não queria lidar com Hawk, ainda mais porque da última vez que
nos vimos ele quase chamou a polícia por eu ter o enforcado. Fui embora
um dia depois que Blakely partiu, e nossa relação ficou mais complicada do
que já era. Era uma surpresa que ele não tivesse cortado o dinheiro do
Eu não queria discutir sobre ele e para mudar o foco sem que minha
— Tá de brincadeira…
— Sim.
Um ponto muito bom.
direção.
No fim, eu contei tudo para ela, porque não havia nada que eu não
faria pela minha mãe. Se eu pudesse, eu doaria o meu coração para ela, eu
não podia. E era essa sensação de imponência, de sentir que eu iria perdê-la
Porque com sua partida, levaria com ela a melhor parte de mim.
errado.
Um jeito esquisito.
Estranhamente doloroso.
Apanhei sua mão, deixando o babaca para trás, por mais que eu
quisesse acabar com ele, minha prioridade era Blakely.
corpo.
Eu estava pronto para dar meia volta se ele tivesse causado danos
físicos.
Nós ficamos ali até que uma viatura chegasse pela orla. Explicamos o
que aconteceu, eles levaram o idiota e o silêncio desconfortável caiu sobre
— Sinto muito.
primeira vez que ela me olhou com algo parecido com ódio. Algo que
ultrapassava raiva. Um olhar que não combinava com seu rosto bonito e
angelical.
Eu te odeio.
Era sete de julho, o dia em que eu percebi que amava Blakely. Mas
também foi o dia em que eu entendi que eu nunca poderia fazê-la feliz.
minuciosa. Eu não achava que ela estava julgando, minha irmã só era uma
nova.
— Legal, eu gostei — Elle murmurou, andando até o sofá e se
— Sim.
— Quero.
voltei para a sala após encher o copo de água. O entreguei para Elle. Ela me
entre as mãos.
questionei.
Vi o jeito como o canto de seu lábio inferior mexeu antes que Elle
negasse com a cabeça e desviasse o olhar, bebendo a água. Esperei que ela
baixinho.
apartamento.
Suspirei.
— Ok.
irmã começou a brincar com as pulseiras no pulso. — Ele não está doente,
como eu. Ele vai visitar alguém. Às vezes ele até dorme lá nos bancos, é
bem fofo.
absurda.
era afetada…
— Você é linda, Elle, sempre foi. Continua linda do jeito que está —
— Lenço maneiro.
enquanto ele pegava o galão de leite que eu havia comprado e bebia direto
do gargalo.
Me deu vontade de gritar com ele, mas eu não queria fazer uma cena
óbvia:
estava recebendo.
— Você tem que parar de ser intrometido, não tem que se meter com
a minha irmã!
— Não sei como ela pode ser irmã de um ser tão desprezível como
você, Blakely. Além de que a Elle é bonita e você é só… — Ian me olhou
em sua cabeça, conforme seus critérios. — Você até que dá para o gasto —
seu verme…
divertir.
Elle se desculpou com Ian por não poder escutar suas músicas
Nós fomos para uma sorveteria, depois passamos numa loja de itens
de Ian.
visto ele tão bonito antes. Isso porque estava todo suado, com cabelo
grudado em sua testa.
Repeti o movimento.
— É, melhorou.
Nós nos odiávamos, mas tinha os momentos em que não parecia que nos
odiávamos tanto.
meu coração.
firmemente contra meu peito. Era boa a sensação de tê-la em meus braços,
quando não a soltei, Elle soltou um riso que foi abafado contra minha blusa.
— Não precisava.
espaço, deixando meu presente junto de uma pilha de presentes que havia
no hall.
John.
pareciam suas sósias. Uma era mais velha, que presumi ser sua mãe e, a
outra, parecia ser dois ou três anos mais nova. Todas igualmente loiras, com
canapé.
mas ao adentrar na casa, percebi que não sabia onde o banheiro ficava e que
tudo com clareza. Meus olhos passearam pelos detalhes até pararem no
quadro que ocupava quase toda a parede. Era uma fotografia de Hanna
agora.
Hanna sorriu.
festa. Antes de retornar para a mesa em que Elle estava, coloquei alguns
mulheres.
acrescentou. — É um infortúnio.
ser confundida com um garoto. Isso é desagradável. Ela era tão linda…
ela queria me bater com o prato, mas o sentimento era mútuo. Eu poderia
voz.
despreocupadamente, me retirando.
Elle concordou. Nós fomos até a casa. Ela pegou meu presente no
hall, depois se sentou no sofá na sala, me sentei próxima à ela. Minha irmã
anos atrás, quando passamos em frente uma loja e ela viu um desses,
valeu a pena. O brilho em seu olhar neste momento fez com que valesse a
pena.
— Sim, me lembro.
— Obrigada, eu amei.
— Foi você, não foi? — Ela elevou o tom de voz, atraindo mais
olhares para si. — Você roubou o colar.
— Eu não sei do que você está falando. Não peguei colar nenhum.
Eu olhei para Elle, ela parecia pálida. Meu pai estava igualmente
constrangido. Ele se levantou, tocando no ombro de Hanna e murmurando
algo em seu ouvido. Então, ele andou até mim, deixando Hanna para trás,
bufando.
espetáculo.
dissesse, cuidadosamente:
próprias coisas sem trapacear. — Fiz uma pausa, tomando uma respiração
longa. — Eu nunca pedi dinheiro a você.
Meu pai ficou sem palavras. Parecia não saber o que dizer, ou fazer.
violentamente.
— Já tô. Tenho que te ver todo dia, teria outra definição melhor do
— Obrigado — respondi.
numa das avenidas mais famosas de Boston. Como a porta estava aberta, eu
conhecido, ele e minha mãe namoraram por algum tempo, antes de ela ficar
doente, ele sempre foi ótimo comigo. Quando ele soube que ela morreu, foi
até o enterro, parecia realmente arrasado.
Desde então, nós temos criado um vínculo. Ele era alguém que eu
admirava e respeitava, não era à toa que ele tinha um negócio muito bem
sucedido. Jimmy sabia como atrair as pessoas. Ele fisgava, o que gostava de
ele, às vezes via um pouco de mim. Ele sentou na cadeira vaga ao meu lado,
bocejou, olhando para mim com confusão. — Nossa, nem tinha te visto aí.
— É, tô aqui.
— Você sumiu.
— Foi só um tempo.
sobrancelha de Reed, havia uma nova perfuração ali. Acho que ele era o
Arqueei as sobrancelhas.
sobrancelhas arqueadas.
— Talvez — respondi.
— Abra o jogo, Ian. Você veio até aqui por algum motivo.
— admiti.
Antes que ele completasse com a palavra dolorida que começava com
"m", eu o interrompi:
estivesse lá, seria como reviver cada momento que passei com minha mãe.
que enfrentar.
cuidadosamente.
— Seria bom. — Foi tudo o que disse.
Nós conversamos por mais alguns momentos, até que eu fui embora.
No apartamento, Blakely estava passando aspirador de pó pelo assoalho.
Ela estava usando um shorts um pouco mais curto que o normal, que
exibia o par de pernas longas e torneadas. Seu cabelo estava preso num
pouco ultrajada. Depois, a surpresa foi só substituída pela cara fechada que
— Só ia avisar que vou ficar aqui na sala e não quero ser incomodado
rir como se eu tivesse acabado de contar para ela a piada mais engraçada
que já tinha ouvido na vida. Continuei com o rosto sério.
mandíbulas.
Ligando a tevê, eu fiz um gesto com a mão para que ela saísse da
minha frente.
Raiva.
Estranhando a facilidade com que ela tinha cedido, esperei até que ela
minimamente interessante.
Quando Blakely voltou, não tive tempo para reagir. Ela estava
segurando um balde. Balde com bastante água fria, que ela jogou em cima
— Ops.
inexpressivo.
Ela não teve tempo para continuar reclamando, porque jatos fortes de
Blakely acompanhou meu olhar. Seu rosto foi preenchido por horror
quando se deu conta de que estava exposta. Ao contrário do que eu achei
que fosse fazer, ela não se cobriu. Ela sorriu ao provavelmente se dar conta
do olhar em meu rosto.
de vermelho-amarronzado.
verdes perversos.
calça jeans.
eles, deixando um rastro até o cós de sua calcinha. Blakely começou a lavar
os peitos bem devagar, mantendo os olhos em mim.
Travando as mandíbulas, achei que pudesse ter uma ejaculação nas
calças, o que seria humilhante.
Me humilhar.
— Blakely… — avisei.
Foda-se.
atraente?
baixo.
Porra.
Quase gozei, mas contive, porque queria observá-la mais.
orgasmo tão forte quanto esse. Meu abdômen inteiro contraiu. Minha
respiração estava pesada. Blakely me encarou por alguns momentos antes
balançou a cabeça.
— Não dá desse jeito — falou, largando a guitarra e se jogando na
poltrona. — Olha, eu sou seu amigo, mas se não tiver uma explicação boa
Eu sabia.
devia ocupar. Na verdade, ela devia estar fora da porra dos meus
pensamentos por completo. Mas, agora, ela estava num espaço tão grande
formato do seu corpo. Era o suficiente para que eu errasse os acordes que
nunca tinha errado, de músicas que eu tinha criado e também para que meu
Ele riu.
— Que previsível.
sobrancelha.
manter Blakely longe de minha cabeça. Assim que terminamos, fui para o
estúdio de Jimmy. Eu passava muito tempo fora de casa agora, para evitá-la
o máximo que dava para evitar alguém com quem você dividia o mesmo
teto.
com Jenni.
antes?
— Hoje não teve aula. — Deu de ombros. — Ian, diz para Jenni que
— Onde? — indaguei.
— No mamilo.
— O que é isso? Um motim? Fazia tempo que não via vocês três
momento para observá-lo. Jimmy era alguém que chamava atenção, apesar
de já estar na casa dos cinquenta anos. Ele usava um colete de couro com o
Ele também era alto, parecia intimidante. Mas a verdade era que ele
apenas uma adolescente e não tinha o que comer; e resgatado o Reed do lar
Nós quatro conversamos por alguns momentos, até que tivemos que
sair da recepção para que Jenni continuasse seu trabalho. Reed foi para a
casa antiga da minha mãe. Segurei a garrafa, que estava gelada contra
minha palma.
pressionar.
Quando cheguei em casa, pouco depois das dez, esperava que Blakely já
vendo suas etiquetas ridículas na maioria das coisas, ouvi sua voz ecoar
pelo corredor:
Houve uma pausa. Presumi que ela estava falando com alguém no
telefone.
ficar sozinha. Só que agora tá bem mais difícil porque fui demitida. Preciso
de um emprego novo.
Pelo visto, não era só eu que aparentemente estava ficando fora dos
limites. Isso era bom. Se ela estava em minha mente, era justo que eu
e ela não tinha respondido minhas mensagens. Enviar mais uma talvez fosse
uma ideia ruim. E que droga, eu nem tinha roubado a porcaria do colar!
Bufando, enfiei o celular no bolso traseiro da minha calça quando ouvi
passos se aproximarem.
uniforme.
— Fui na festa da minha irmã no final de semana e um colar caro
sumiu. Acham que fui eu que peguei, até o babaca do meu — fiz aspas com
os dedos — pai.
Suspirei alto.
— Você tem que se acalmar. Você sabe que não roubou, então fica
colarinho.
Girei a maçaneta do apartamento, bocejando. Fazia um tempo desde
que eu não via Ian, era como se ele tivesse se transformado num fantasma.
Evitava sair nos mesmos horários que eu e passar muito tempo aqui, além
de que ele passou a evitar os conflitos, não mexia mais em minhas coisas e
de Ian.
Eu estou viciado
olhar e me deparei com Ian me encarando no corredor, ele quase saiu pela
minha boca.
em chamas. Ela deslizou pelo ar até pousar no chão com a leveza de uma
pluma, parando perto dos pés de Ian. — Não devia deixar suas coisas
braço.
Agora, eu estava cercada por seus braços. Sua cabeça pendia sobre o
— Por quê?
Ele me ignorou.
com força enquanto mantinha os olhos nos meus, que, por sua vez, estavam
levemente arregalados.
Eu o empurrei.
Me beijar.
Mas foi o olhar em seu rosto. O maldito olhar em seu rosto que me
fez cortar a distância entre nós e grudar meus lábios nos seus abruptamente.
bunda. Ele fincou os dedos ali, numa tentativa de nos aproximar ainda mais,
fôlego.
Fitamos um ao outro.
a sala. Sem dizer uma palavra, também fui para meu quarto.
só entre ele e a namorada e que iria avisar o resto dos participantes por
mensagem. Não contestei, mas achei engraçado. Depois, ele começou a
no colo de Hunt.
amo vocês, caras. Sério. Eu amo vocês. Por favor, abraço grupal.
Deixei com que ele passasse o braço ao redor dos meus ombros,
puxando-me para perto. Ele fez o mesmo com Atticus. Quando nos
separamos, abrimos garrafas de cerveja. Hunt propôs um brinde.
Nós brindamos.
cabeça. Como eu havia encontrado neles os irmãos que meus pais nunca
não estava a fim de passar meu tempo no apartamento, após o beijo com
Ela nem precisava mais jogar. Ela nunca precisou. Blakely tinha
construído escudos que nem mesmo eu fui capaz de penetrar. Agora, ela
lotado de clientes.
pegávamos Jimmy lendo com os óculos, ele os guardava, como se nós não
me em sua frente.
Jimmy arqueou uma das sobrancelhas, mas não parecia tão surpreso.
dela no corpo de uma sereia. A tatuagem ficava em suas costas, então não
dava para ver a não ser que ele tirasse a camiseta, mas ele já tinha me
— Sim, não costumo mais fazer artes ou tatuagens, mas você é uma
continuava sendo o melhor tatuador que eu já tinha conhecido. Sua arte era
única.
Nós conversamos por mais alguns momentos, até que Jimmy entrou
turbulenta da minha vida. Aos meus dezoito anos, após perder minha mãe e
para me pôr de volta aos trilhos, eu não sei onde eu teria parado, mas
— Não sei. Ele anda esquisito ultimamente. Acho que está com más
companhias.
desajeitada. Eu nunca tinha parado para pensar no quanto ele tinha que
três não saíssemos do trilho. Jimmy gostava de tirar o peso das costas de
— Tem certeza?
Seu cabelo estava preso num coque, estava usando uma regata meio
— Claro que você tá aí. — Não havia nenhum ânimo em sua voz.
— É, você, babaca.
— Está dizendo que eu devia ter deixado aquele cara por as mãos em
você?
especial, Blakely.
— Até parece que você é um cavalheiro. Você faz de tudo para me
deixar desconfortável. Não aja como se fosse o mocinho, você tá bem longe
disso.
cozinha.
sozinha.
— Tô confortável aqui.
culinária.
parado de funcionar.
Quando lembrei minha mente de ser racional, eu saí dali, indo para o
banheiro. Depois que tomei banho, eu fui para meu quarto. Peguei os
Atticus: parabéns
Hunt: é vdd
Hunt: vc é o melhor compositor
Ele me encarou.
Eu o encarei de volta.
meus lábios. Ian entrou no apartamento com uma sacola nas mãos. Ele
andou até o estranho no sofá e tirou a garrafa de cerveja das mãos dele,
— Falei para não mexer em nada, Reed. Você não tem idade para
álcool. — Ian deu a sacola para ele. Parecia estar cheia de batatas chips.
geladeira para preparar café da manhã, ainda pude ouvir a conversa deles
atrás de mim.
— Porque não.
mensagens.
Diamond, que iria me buscar. Tomei banho, coloquei uma calça jeans e uma
molhado quando Diamond chegou. Falei para ele subir. Quando ouvi
algumas batidas na porta, me apressei, indo até lá, mas Ian tinha sido mais
rápido que eu.
do apartamento.
que estava tão vidrado no jogo que nem se deu conta. Nós andamos até meu
cama, a cabeça apoiada na mão. Podia entrar para o catálogo de suas poses
de supermodelo.
— Vai por mim, ele gosta de você ou quer te comer. Uma das opções.
Ele tava com bastante ciúme quando disse que você falou que eu podia
O ignorei.
perto.
paga.
ignorados por Reed e Ian, que estavam assistindo o jogo na tevê. O almoço
com Diamond foi bom. Recebi uma ligação enquanto comia, de um homem
me chamando para uma entrevista ainda hoje. Eu não discuti, apenas anotei
além dos que tinha enviado pela internet. Não importava muito, também.
imensamente.
tinha três andares e era bem estruturado. Atravessando a porta no lugar, fui
além de uma mesa com petiscos para os clientes. Esse era, de longe, o
final da rua.
Ela me guiou pelo estúdio, que tinha diversas salas, com diversos
tatuadores trabalhando em clientes, nós subimos uma escada, então
entramos num corredor silencioso, sem o zunido da máquina. Ela disse que
Tudo nele era intimidante, o rosto, a tinta preta espalhada pelo corpo,
o cachimbo que ele estava fumando.
alguém que organize toda a papelada para mim aqui do escritório. Faça
pastas em ordem alfabética e toda essa chatice. Tudo bem para você,
Blakely?
Assenti, atônita.
— Claro. Só isso?
jantar…
Olhei ao redor, sem saber o que fazer. Jimmy ainda não tinha
retornado.
terminei.
de cabelo do rosto.
na blusa, é um terror…
depois das onze horas, eu consegui voltar para casa no metrô, depois só tive
que pegar um ônibus para chegar no prédio.
telefonema.
relutante. Sei que, no fundo, ele também sabe que você não roubou o colar.
Como Elle não estava em minha frente, rolei os olhos. É claro que
preciso voltar.
estranhamente mais leve. Devia ser o peso de achar que Elle talvez pudesse
não querer mais falar comigo saindo das costas.
— E aí, Blake. O Jimmy saiu, mas disse que você podia entrar no
escritório. — Jenni deslizou a chave pelo balcão e eu fiquei relutante. Por
que é que ele parecia depositar tanta confiança em mim?
estava cheia de papéis. Deixei meu casaco apoiado numa das poltronas e
— Jenni disse que você falou que eu podia entrar. Espero que não
— Fui criada pela minha avó, morava com ela em Nova Jersey. Me
mudei pra Boston tem pouco tempo, por causa da minha irmã. Ela tem
câncer. Queria ficar por perto — murmurei, mantendo os olhos nos papéis
— É, sem pais. Minha mãe é meio alcoólatra, ela não foi adequada
para minha criação. Minha avó materna assumiu o papel. Meu pai
desapareceu, mas agora eu vejo ele às vezes por causa da minha irmã.
para uma melhor. — Mas que bom que você chegou até aqui, Blakely. Ela
Eu assenti.
— É verdade.
um pouco.
aproximei. Disse pra ele que já tinha terminado e ele me entregou um saco
— O piercing que você queria, ainda quer? A gente pode fazer daqui
ouvir o barulho.
Rolei os olhos.
— Aposto que sim.
Fui para a cozinha também, buscando uma caneca para colocar café.
Perigosamente perto.
Anjo. Estremeci.
costelas.
Ian me beijou.
E eu deixei.
Deixei que ele beijasse, porque eu não podia ir contra a atração que
eu sentia por ele. Era como se um campo magnético me levasse até ele. Era
difícil sair, difícil resistir. Então eu cedia.
Me beijando, ele deslizou uma das mãos entre nós, até que estivesse
Ele se ajoelhou.
das mãos na borda da pia com força, até que os nós dos meus dedos
estivessem esbranquiçados.
jogou uma das minhas pernas sobre seu ombro. Agora, ele podia acessar lá
embaixo com mais facilidade.
Sua língua tocou meu clítoris e eu quase rolei os olhos.
orgasmo, porque a cena toda foi sexy demais para ser ignorada.
antes
O sol estava a pino no final de semana, o que fez com que Olivia e eu
fôssemos até a praia. Nós estávamos sentadas num lençol que ela havia
trazido de sua casa, enquanto segurávamos Coca Colas de cereja.
se Ian não agisse feito um babaca. Fazia uma semana desde o incidente na
praia, desde então nós não tínhamos nos visto mais.
Eu ri.
trazido para cá, resolvendo retomar a leitura. Ergui o olhar por um segundo,
de bagunçar meu cabelo. Soltei um grito, esperando que ele fosse me atacar,
com as duas patas apoiadas sobre meu peito e o focinho próximo do meu
seriamente, me ignorando.
garganta.
— Sente nada.
— Não sei o que quero, para ser honesto. Mas no momento, eu quero
ficar aqui, sentado ao seu lado.
meu interior.
— Se eu tenho razão, por que é que você está aqui fingindo que tá
perscrutando meu rosto. Pude jurar que um dos cantos dos seus lábios se
— Ok.
Ian assentiu.
— Sim, você está brava comigo por minha culpa. Eu não vou tentar
ser inocente, porque não sou. Então tudo que eu vou fazer é apenas aceitar
coração partido! Sério, eu nunca poderei te perdoar por isso. E também, por
não ter me procurado quando voltou para cá, isso eu jamais poderei perdoar
mesmo. Tudo isso sem explicação, sua hostilidade repentina, tudo! Essas
coisas me fazem te odiar com cada pedaço de mim. Mas, o que me faz te
odiar ainda mais é o fato de que você quebra cada barreira minha, mesmo
depois de tudo… Deus, isso é tão injusto. É tão injusto que eu não consiga
te odiar verdadeiramente…
Ela morreu no início desse ano — admitiu, o tom de voz baixo. — Blakely,
eu te amo, mas, para ser honesto, eu não vejo um futuro… parece que a
minha mãe levou todos meus sonhos, desejos e minha alma com ela. Até a
seguindo uma carreira. Quando penso no futuro, tudo que vejo é um enorme
De repente, fiquei sem palavras. Meu coração se apertou por Ian. Ele
Você é o tipo de garota que vai ter uma família bonita, que vai ter filhos, um
Não tenho esse tipo de ambição. Não vou poder te dar o que você merece.
junto agora, você vai começar a pensar no futuro. Eu não posso te dar isso.
bebê nosso daqui alguns anos? Era triste que ele estivesse quase desistindo
de si depois da morte de sua mãe, eles deviam ser muito próximos. Ian era
honesta.
antes
vizinha, mas ela deixava que eu passeasse com ele, porque não tinha muito
tempo para isso. Como eu gostava de cachorros, não era um incômodo.
Ele havia gostado de Blakely. Foi irônico ter se atirado nela, mas,
mentalmente, eu o agradeci por isso, porque foi uma desculpa para se
aproximar.
Eu parei quando vi Blakely sob a figueira. Estava ficando escuro,
mas eu pude vê-la. Aquela árvore significava alguma coisa. Pelo menos
para mim. No dia em que nos despedimos, lembro que Blakely a marcou
ouvidos. Blakely parecia tão vulnerável que me preocupou ela estar aqui
sozinha.
nariz.
Finalmente.
Silêncio.
fique quieta.
me odiaria.
seu. Tirei uma mecha de cabelo que caía sobre sua visão e o coloquei atrás
contato fugaz.
família.
— Previsível.
Ela me ignorou.
Suspirei.
— Então você tem que encontrar pessoas que tornem seu mundo
colorido.
Ela bufou.
— O amor, seu idiota. O amor é que deixa tudo colorido. Sua mãe o
amava. Você a amava. Ela se foi. É por isso que você está preso no mundo
cinza, porque o que conhecia do amor, se partiu. Agora, você tem que achar
“B” nela.
— Trinta segundos.
cabeça.
— Trinta segundos. É o tempo que dou para você correr bem longe
Blakely bufou.
presos em mim.
— Vinte e sete — falei alto, para que ela ouvisse de onde estava.
Vinte e oito.
Vinte e nove.
Trinta.
batatas.
— Me larga!
— Não.
— Sério, me solta.
suas mãos em cima de sua cabeça, tomando cuidado para não esmagá-la
embaixo de mim. Sua respiração estava irregular. Peguei a pulseira,
A soltei.
Nos encaramos.
meu rosto em direção ao seu. Sua língua tocou meus lábios, fazendo-me
abri-los.
Suas mãos escorregaram por minhas costas. Ela me puxou contra ela,
fazendo-me pressionar minha ereção contra si.
sobre nós. Ao longe, só dava para ouvir o barulho das ondas quebrando.
— Faz sexo comigo — pediu, me olhando de uma forma que só ela
olhava.
— Porque não.
— O problema é que você não é que nem elas. Você tem sentimentos
por mim.
Eu ri amargamente.
— Meu pau tá duro que nem pedra. Você sentiu. Esse não é o
problema. O problema é que eu não posso ser egoísta a esse ponto com
você.
Assim que atravessei a porta, parei ao ver meu pai na sala, sentado na
sua poltrona. Ele já não me intimidava como antes. Ele mal falava comigo,
Ele não era mais casado, também não era mais prefeito, só
administrava uma mecânica e saía a maioria das noites. Havia dias em que
eu não o via. Eu achava melhor assim, porque nós nunca tínhamos tido uma
relação boa.
continuei em silêncio.
Fiz menção de subir as escadas até meu quarto, mas sua voz me fez
parar:
O encarei.
— É uma pena que ela tenha ido. É uma pena que eu tenha deixado-a
escapar. — Fez uma pausa, olhando para mim. — Sabe, Ian, eu sempre
soube que ela era demais para mim. Sempre soube que eu não a merecia. Eu
a traí uma vez. Nós tivemos uma discussão e eu quis me vingar. Foi o dia
Ele me ignorou.
— Você tinha uns três anos na época. Não discutimos sobre sua
guarda, era certo que ela ficasse com você. Eu nunca soube como ser um
pai. Eu não queria ter filhos. — Seu rosto estava sério. — Já sua mãe, era
apaixonada por crianças.
aceitava que sua mãe tivesse me deixado. Mas, se tem algo que eu nunca
entendi, foi o câncer. Sua mãe era boa. Era uma mulher excepcional. Ela
não merecia o câncer. Eu sempre pensei nisso. Eu merecia estar no lugar
dela. Pessoas como sua mãe morrem, pessoas como eu provavelmente vão
viver até os oitenta anos…
garganta.
— Acho que ela nunca te disse, mas sua mãe sempre soube que ia
morrer. No dia em que ela descobriu o câncer, também descobriu o restante
do tempo que tinha aqui. O tratamento era apenas para que te tranquilizasse.
Eu cavaria minas de ouro, encontraria o mais puro dos tesouros para arcar
com os gastos do hospital. Eu fiz o necessário para que ela tivesse todos os
remédios, mas não era a solução, não tinha dinheiro no mundo que a
comprasse.
para as concussões em seu rosto. — Isso não é para você, Reed. O que
aconteceu?
Jimmy tinha me ligado assim que acordou, dizendo que Reed tinha
lo. Alguém tinha que lutar por ele agora, se não seria tarde demais depois.
preocupação com você? Nós dois sabemos que ele não merece essa merda.
os olhos escurecendo.
por enquanto.
— Por quê?
resolver isso.
na geladeira.
que o estabilizasse.
do quarto.
uma para Atticus, outra para Hunt, abri a terceira com os dentes, dando um
gole.
parecia ansioso.
contrato.
perdidos em algum ponto do quarto. — Parece muito bom para ser verdade.
comer. Depois, fomos direto para lá. Ficava quinze minutos de táxi. Quando
encaramos a fachada de vidro imensa do lugar, olhamos um para o outro.
— Ah, são vocês! — ela disse, parecendo contente por estarmos ali.
passamos por uma fonte imensa no meio da gravadora. Tudo aqui gritava
dinheiro.
esperávamos, no fim. Por mais que ainda fosse meio difícil de acreditar,
nossa banda, a Call 911, tinha conseguido contrato com uma das gravadoras
cerveja.
— E aí, resolveu as coisas do seu casamento? — questionei, sobre a
música.
— Só diz logo.
acertando em cheio.
ela.
Eu ri um pouco.
— Ok.
Ian tinha deixado um post-it para mim, o que, tinha que admitir, me
surpreendeu muito. Nele, só estava escrito que ia viajar por dois ou três dias
Corpo traidor.
de ir até o estúdio.
Acho que nunca gostei de um chefe meu antes. Talvez devesse ser pelo fato
de que nenhum deles antes me tratou como se eu realmente fosse um ser
humano, não só uma empregada que estava ali para cumprir ordens.
Jenni: :)
lá, talvez estivesse em outro lugar, afinal, o estúdio era imenso. Comecei o
cabelos castanhos dourados e uma versão mais jovem de Jimmy que posava
mesmo após meu expediente ter terminado. Conversar com Jenni era bom.
aproximei.
— Acho que está cicatrizando bem, mas você tinha razão quando
John estava parado contra a porta de seu carro. Só que não era o carro
que havia me dado uma carona da última vez. Era um modelo menos caro,
porém, ainda assim, parecia zerado e longe da minha realidade.
— Blakely, me desculpe — ele começou parecendo envergonhado.
sarcástico.
Eu quis rir.
É claro.
dizer.
minha cabeça.
desconfortável.
ter um carro para que não precisasse ficar andando de transporte público.
— Por quê?
seria a responsável pelo sumiço dele. Você não pode me acusar de roubo e
concordo que fiz mal em ter sido conveniente nessa situação. Me arrependo,
desde os meus dezesseis anos, porque minha avó já estava muito velha para
isso. E quando ela ficou doente, eu praticamente abandonei a escola para ter
que trabalhar o dobro e conseguir remédios para ela. Nunca pedi nada para
você. Nunca fui atrás de você, porque eu sabia que se você estivesse
preocupado comigo, teria ido atrás de mim… E aí minha avó morreu, foi
— Sinto muito. Sei que não posso apagar todos esses anos. Sei que
não fui um pai para você, mas eu estou tentando, Blakely. Eu me arrependo.
— Mas é tarde demais. Eu não quero ter nada a ver com você. Não
quero seu carro. Seu dinheiro. Nada. Só vamos manter contato por causa de
Elle. Fico feliz que você a ame e a trate como uma filha de verdade.
Suspirei, cansada.
— Tchau, John.
sobre um garoto que tinha sido resgatado de abusos físicos de seu pai. Sua
esposa o encobria. A história tinha tantas semelhanças com a minha que foi
adolescência.
— Pare.
na têmpora. Era cômico que meu pai fosse prefeito desta cidade. Como ele
dos outros, quando ele mesmo arriscava a segurança de seu próprio filho?
encarou uma última vez, com aquele misto de decepção e algo parecido
verdade, se ressentia por ter que machucar os nós de seus dedos. Como ele
Então, ele finalmente se foi, seguido por Lea, sua nova esposa. Eles
de meu pai. Eu não sabia por que ela ainda se submetia a isso, ainda mais
sabendo que ele tinha outras mulheres. Mas provavelmente estava ligado
ao fato de que ela morava numa casa imensa agora, com jardim e piscina,
Meu supercílio estava aberto outra vez. Meu lábio inferior, rasgado.
Segurei a borda da pia com força, vendo o sangue esvair-se dos nós
um suspiro.
Não respondi, mas era difícil fazê-la desaparecer. Ouvi seus passos
até mim.
Quis mandá-la calar a boca e não fazer mais perguntas. Quis dizer a
ela que era uma idiota por tentar se aproximar de mim. Que devia me
boca.
mim como se eu fosse invisível, indo até a cozinha. Ela parou em frente a
caneca de café.
fechando minha boca sobre a sua. O beijo começou lento, depois, foi
desnudas. Ouvi Blakely ofegar contra meus lábios, o que enviou uma
em que eu tinha visto seus peitos. Devia ter posto recentemente. Coloquei
metal.
Ela choramingou.
braços enquanto nós nos beijávamos. Deitei-a na cama, ficando por cima.
Seus peitos macios se pressionaram contra mim. Tirei minha camiseta para
senti-los sem nada entre nós, então deixei uma trilha de beijos até o fim de
sua barriga.
Blakely se precipitou, tirando o shorts de algodão e sua calcinha.
passar horas só chupando Blakely e ouvindo seus gemidos suaves, que eram
levantando os quadris.
— Vira.
gozar.
Eu penetrei Blakely por trás lentamente, até que cobrisse suas costas
com meu peitoral. Ela apoiou o rosto contra o colchão, gemendo alto
Blakely se animou.
— Sim.
contrair. — Cacete…
Comecei a soltar uma enxurrada de palavrões conforme recuava e
empurrava os quadris para frente. Não demorou muito para que eu gozasse,
tremendo sobre ela e apoiando-me nos braços para não esmagá-la com meu
peso.
Nós gozamos por mais quatro ou cinco vezes. Não soube dizer ao
Ela não disse nada quando terminamos pela última vez, eu também
não. Ela só foi para seu quarto e fechou a porta. O silêncio reinou no
apartamento.
Eu não devia ter cruzado a linha, mas, porra, foi quase impossível.
escritório, Jenni não estava na recepção, mas sim um cara que a substituía
de vez em quando.
— Ainda não.
ele pudesse bancar. Só que era grande. Pela manhã, saímos em seu Mustang
até a casa de minha mãe, que ficava cerca de uma hora e meia dali.
Olhei para o andar de cima, para a janela em que minha mãe gostava
de olhar.
Quase pude imaginá-la ali, sentada, observando o jardim.
Nós descemos.
Dei de ombros. Eu não queria perder a chave e, por mais que fosse
idiota deixá-la aqui, na época não consegui pensar em outro lugar. Meu
mãe dizia que telas fritavam nossos cérebros. Ela odiava muita tecnologia.
cidade, com um jardim imenso e a paz que ela precisaria para escrever
alguns livros.
Só que ela tinha morrido antes de que seu desejo pudesse ser
A casa estava cheia de pó, com um cheiro antigo, então experimentei abrir
as cortinas.
cada passo que eu dava aqui dentro, flashes de memórias invadiam minha
sentisse esquisito.
iluminava o lugar.
sufocado.
o que ele estava pensando. O caminho de volta para Boston pareceu mais
fechando.
— Esses picles são meus. Você devia comprar sua própria comida.
Aquelas haviam sido suas primeiras palavras para mim desde que
tínhamos transado feito coelhos. Por mais que meu corpo a desejasse, eu
não queria qualquer outra coisa de Blakely além disso. Olhei para ela.
Completamente desarmada.
sanduíche.
de emoções.
— E agora, o quê?
murmurou. — Mas tudo bem, já entendi como as coisas funcionam com Ian
Sweddish. Entendi há muito tempo atrás. Você sempre foi desse jeito.
Egoísta.
castidade.
amargamente.
Sem esperar por uma resposta, eu saí de casa, fechando a porta com
força.
Fui para o estúdio de Jimmy, o único lugar em que eu me sentia bem
ultimamente. Quando cheguei lá, Jenni pareceu perceber que tinha algo de
errado comigo, mas eu não quis conversar. Fui para o escritório de Jimmy e
pedi para que ele tatuasse a parte de trás do meu pescoço com um par de
Eu me lembrava.
21 de setembro de 2014
Passar por Blakely foi uma das coisas mais difíceis que eu já havia
feito. Ainda mais depois de tudo.
Eu não queria mais brincar com seus sentimentos. Não queria ter que
magoá-la mais. Nunca havia desejado em toda minha vida alguém como eu
a desejava. Eu queria estar com ela na maior parte do tempo. Porque ela
fazia ficar suportável.
Blakely me fazia querer ter coisas. Ela me fazia querer ser alguém,
para poder dar a ela tudo o que ela merecia.
perdê-las.
Isso me destruiria.
que uma garota se aproximasse e começasse a falar comigo. Ela até que era
O ruim de gostar dela, era que Blakely tinha se tornado uma espécie
de referência para mim. Mesmo que eu não quisesse, minha mente sempre
Com os olhos cheios de água, eu saí dali o mais rápido possível, não
suportando ver a cena.
— Vocês, homens, são todos idiotas. Querem decidir por nós o que é
melhor ou não. Se ela tá a fim e você também, apenas sejam felizes. Não
tem por que ficar complicando as coisas.
— O quê?
— O amor. Você não acha que isso é estar vulnerável demais? Que é
só mais uma pessoa que você tem possibilidade de perder?
— Não, não acho. Pra mim, o amor é o sentimento mais nobre que
existe. O amor cura. O amor é confortável. E, sobre perdas, todos nós
estamos nos despedindo o tempo todo, né? Amanhã, você vai estar mais
passageiro. Percas são inevitáveis. Você vai ser a perca de alguém, um dia.
aproximar.
olhando para mim sobre o ombro enquanto o levava até o andar de cima,
pensar em Ian. Queria que ele se sentisse da mesma forma que eu me sentia.
Queria que ele se machucasse tanto quanto eu.
Blakely começava a tirar o vestido que estava usando, dava para ver
Uma versão sua que eu nunca tinha visto. Uma que eu não gostava.
estranho por um momento para fechar a porta em meu rosto. Mas antes, ela
disse, friamente:
estar morta no lugar de sua mãe agora, para nunca mais ter que ver você.
Sentindo asco de mim mesma, eu jurei que jamais cederia a Ian outra
vez.
adolescentes.
guerra particular.
Ian não estava dormindo em casa já fazia uma semana. Era como se
estivesse me evitando e achei ótimo, porque não queria ver seu rosto de
babaca. Comecei a procurar outro lugar para me mudar, porque eu não
algo.
Por que é que ele tinha saído do escritório de Jimmy? Achei que o
Travei as mandíbulas.
pareceram eternidades, até que Jimmy surgiu em sua porta, nos olhando
— Ian me deu seu número algumas semanas atrás, disse que você
— Quero que você vá embora o mais rápido possível. Isso não vai
Entrei, mas me sentia estranha agora por saber que ele e Ian, de
segredo. Droga, até a Jenni parecia saber! Por isso estava toda esquisita na
seria desastroso.
— Você não é pai dele para pedir desculpas por ele. Não precisa fazer
isso. Além do mais, ele não é mais uma criança, sabe o que faz.
sou pai do Ian, mas sou uma das poucas pessoas que o conhecem. Ele é um
bom rapaz. Sou suspeito em falar, porque o amo, mas acho que você sabe.
Eu pisquei.
éramos crianças.
— Acho que não tem porque contar. Não foi relevante para ele. —
de nostalgia.
Olhei para o quadro na mesa de Jimmy. O garoto na foto era Ian, por
Jimmy continuou falando, com sua voz grave e profunda. — Foi a primeira
vez que partiram meu coração. Mas aquilo não me fez amá-la menos, nem
uma das visitas, ele me disse sobre você. Tinha acabado de voltar de suas
férias de verão.
chamada Blakely.
Bufei.
— E o que mais?
Jimmy riu.
— Só disse que você era tagarela, que tinha olhos verdes bonitos. Ele
ficou obcecado por essa cor, verde. E, nos próximos verões, ele não
precisou dizer nada, porque eu notava que havia algo diferente nele. Que
algo tinha mudado. Que você tinha acontecido. Quando Ian pediu para que
eu a contratasse, não contestei, porque confio nele. É como o filho que não
— Ele não é mais o mesmo, Jimmy. Esse Ian que nós conhecíamos…
Ele partiu há muito tempo.
quando sua mãe morreu, mas eu acredito que você possa resgatá-la.
rápido que conseguisse. O mais rápido que pudesse. Não queria mais ter
que lidar com Ian, com o que ele me fazia sentir e, sobretudo, com o que
não fazia.
Franzi o cenho.
— Por quê?
— Não sou vizinha do Ian, a gente mora junto. E você devia buscar
Eu ri.
resmungar. A cena toda foi icônica porque Reed era quase do tamanho da
porta, já Jenni tinha cerca de um metro e cinquenta. Ela colocou uma sacola
na mesa.
— Seu jantar.
— Ian é legal. Gosto dele. Talvez ele só não seja tão legal com você.
Era véspera de Natal, o céu estava nublado e tinha bastante vento nas
ruas, o que me fez fechar o zíper de minha jaqueta até o pescoço. Talvez
Hunt estava com o rosto coberto por argila, o cabelo preso com um
prendedor colorido e sem camiseta. Eu arqueei uma das sobrancelhas.
O cheiro aqui dentro estava bom. Parecia que Hunt estava assando
frango.
— Vai ficar por aqui? — perguntei, olhando ao redor, nenhum sinal
foram viajar. Quase fomos para casa do pai de Eve, mas ele também está
fora. E você?
o caderno.
tive que vir e buscá-lo porque pretendia fazer alguns ajustes mais tarde.
Esperei até que ele voltasse, um momento depois. Ele perguntou se eu
queria ficar para almoçar, mas neguei, porque já tinha para onde ir.
Jimmy.
me encararam.
também.
tinha alguém mais alto que ele, era Hunt. Reed tinha um e noventa. Hunt
devia ter um e noventa e três, por aí. Eu tinha um e oitenta e sete. Era alto,
— Hunt — falei.
Ela tinha uma queda por Hunt, era mais uma paixão platônica. Jimmy
veio para sala, entregou uma garrafa de cerveja para mim e Jenni. Quando
Depois, voltou para cozinha para ver o ensopado que estava fazendo para
gente.
— É, vai casar. E desiste, porque é para valer. Ele faria tanta coisa
trivial. Na hora em que a comida estava pronta, Jimmy nos chamou para a
mesa e fez uma oração antes de começarmos a comer. Ele levava jeito para
cozinha, não foi nenhuma surpresa quando nós três repetimos.
tempo.
Acendi a luz.
sensação esquisita.
tinham sumido.
Enfim, abri a porta de seu quarto, porque sabia que não ia encontrá-
la.
Que ótimo. Ela finalmente tinha ido embora. Eu fui para a cozinha,
orgulho. Meus olhos foram atraídos para um papel sobre a bancada que eu
não tinha percebido. A letra que preenchia a folha era caprichada. Comecei
Não que você se importe, mas fui embora, consegui outro lugar para
ficar. Não vou mais trabalhar para Jimmy também, não se preocupe, você
nunca mais irá me ver, ou me encontrar outra vez, isso posso te garantir.
o passado de lado. Acha que eu queria morar com você? Que estava
jogando? Eu não tive opção. Não tenho pais. Minha avó morreu. Tudo o
que tenho é a mim mesma, eu me mantive em pé até agora, por isso
trabalho o dobro.
antigo aumentou tanto que não podia mais pagá-lo. Tive que sair de lá. Eu
Boston. Nunca teria cruzado meu caminho com o seu, talvez até mesmo na
Mesmo naquela época, entendi que o problema com você não era não
você não queria ser de alguém, você não queria ser meu. Você podia ter
Você ganhou.
— B.
Peguei o número de Gina com Atticus. Liguei para ela, que atendeu
no segundo toque.
— Ian?
— É. A Blakely tá aí?
Comecei a me irritar.
— Ela tá. Achei que estivesse feliz que ela finalmente foi embora.
— O endereço.
— O quê? Não vou passar o endereço. Ela não quer te ver, seu
babaca.
— Preciso falar com ela. Pela última vez. Não se preocupe, não
planejo enforcá-la — falei, com sarcasmo. — Mas o que tenho a dizer é
importante. Muito.
céu e cobria as ruas. Eu estava tremendo de frio, tinha saído só com uma
camiseta de mangas longas. Devia ter pego um casaco.
— O que você tá fazendo aqui? Se vai dizer que levei algo seu ou
algo do tipo, não peguei nada. Deixei as chaves que Atticus me deu
penduradas ao lado da porta, nos cabides.
— Porque você bateu a cabeça numa pedra se acha que vou voltar
com você. Para quê? Voltar a ser seu utensílio pessoal de tortura?
Eu travei as mandíbulas.
Se não, eu danço pelado no meio dessa neve só para te convencer, mas, por
favor, volta. Volta para casa.
Muito sério.
— Você não percebe, sua burra estúpida? Não percebe porque não
quero que você vá para lugar nenhum?
segurando-a com força contra meu peito. Segurando como se nunca pudesse
deixá-la ir. E eu não podia.
pus meus olhos em você. Desde que você apareceu na minha frente quando
éramos crianças, com aquelas botas de plástico horrorosas, vomitando
— Ah, meu Deus. Por que parece que você está falando a verdade?
me corrigi.
os meus ossos.
— Vem, vamos entrar. Espero que Gina e a colega de quarto dela não
se importem.
Eu também.
acumulado nelas.
Ela mal havia falado comigo nos últimos dois dias, enquanto estive
aqui. Aquela foi a maior frase que ela disse para mim. Haile estava apoiada
contra a bancada da cozinha, com um pote de sorvete nas mãos. Qual é.
— Diga a ela quem você é. Não, melhor, diga a ela a quem você
pertence — ordenei.
eu queria.
Haile.
divertido, afinal. Haile foi para o próprio quarto. Gina apareceu na sala um
momento depois. Ela arqueou as sobrancelhas. Não parecia surpresa por ver
Ian ali.
Gina só me disse que ele estava lá embaixo e que eu devia descer para
dispensá-lo antes que ele congelasse até a morte. Agora fazia sentido. Ele
conseguia ficar com raiva por conta disso. Levei Ian até o banheiro, fechei a
porque havia muita neve derretida nele. Os fios estavam todos úmidos.
— Não.
— Por quê?
— Porque não. Vai ter que esperar os sete dias acabarem para isso.
Dava para ver a reprovação no rosto dele, mas Ian ficou em silêncio,
pondo um pouco de distância entre nós. Senti falta do calor que seu corpo
emanava quase que imediatamente e quis puxá-lo para perto outra vez e
beijá-lo, infringindo minhas próprias regras. Mas eu não podia. Não dava.
Eu queria que as coisas entre nós fossem feitas do jeito certo. Queria
sala, no sofá. Foi bem difícil porque o sofá não era tão espaçoso e Ian era
muito grande. As pernas dele ficaram para fora, foi engraçado. Nós
dormimos quase que fundidos um no outro. Meu rosto descansava contra
seu peitoral.
— Natal não é grande coisa para pessoas como eu, que não tem
Voltou com uma caixa nas mãos. A caixa estava toda empoeirada, era de
madeira, parecia ser bem antiga. Ele sentou no sofá. Sinalizou para que eu
me aproximasse.
— Essa caixa era da minha mãe — admitiu, num tom de voz baixo,
Senti meu coração bater mais forte quando vi o que estava em seu pulso
direito. Era a pulseira que minha avó tinha me dado. Era de prata, havia a
inicial do meu nome nela. Lembro-me que Ian tinha roubado de mim na
d'água.
— Este era da minha mãe. Ela gostava de usar. Se quiser, pode ficar
— Sim.
eles dois.
fotografia.
pele pálida e olhos azuis gelo. Ela tinha uma beleza fria. Na foto, dava um
fotografia.
Depois, me entregou uma foto em que eles dois estavam juntos. Ian
ainda era um bebê em seu colo e estava distraído, com um chocalho nas
mãos. Um sorriso enorme tomava conta dos lábios da mãe de Ian enquanto
— É verdade.
bastante, mas dava para ver a atmosfera de melancolia que estava tomando
conta dele. Ele começou a guardar as coisas novamente. Se levantou com a
sala.
disperso.
pudesse perder nenhum deles. Quando meus seios estavam livres, ele fixou
o olhar no piercing. Senti sua ereção.
Ian começou a tocar meus seios, com calma. Suas palmas não os
— Gosto do seu nome inteiro, de como ele soa. Mas posso chamá-la
assim, se quiser.
— Tenta.
— Feliz Natal, Elle — falei, sorrindo um pouco, mesmo que ela não
— Bem. Queria saber se você tá afim de vir jantar aqui mais tarde.
Papai disse que estava tudo bem convidá-la.
prestar atenção.
— Jantar? Hum, claro. Por que não? — balbuciei, sem pensar, focada
Elle desligou. Ian tirou meu mamilo da boca, num estalo molhado.
Eu repassei a ligação com Elle na mente e gemi quando percebi o que tinha
feito.
— Vou ter que ir num jantar na casa do meu pai, por minha irmã.
Não gosto de vê-lo. Nem ele, nem a esposa. A mulher me odeia. — Fiz uma
pausa. — Você vai comigo? Na verdade, você não tem escolha, lembra?
Eu ri ironicamente.
— É. Você vai descobrir.
Nós tínhamos acabado de chegar na casa de meu pai. Elle tinha nos
recebido alegremente na porta, surpresa ao ver Ian comigo. Não expliquei
nada para ela, porque nem eu sabia o que estava acontecendo entre a gente
ainda. Depois disso, Hanna apareceu, com seu sorriso falso, mas não foi
Hanna.
vestiam ternos. Pelo amor de Deus, era só Natal, por que tanta formalidade?
Acho que Ian e eu éramos os únicos que não nos encaixávamos naquele
tomava um assento.
Devia ter comprado um presente para Elle, mas não pensei que a
veria hoje.
Ian ocupou uma cadeira ao meu lado. Sua expressão era séria, ele não
parecia intimidado com nenhum dos olhares que recebia. Suas tatuagens ali
aquele tipo de gente. Estava estampado em seus rostos o que eles pensavam
— Que bom que veio, Blakely — John disse. Parecia honesto, pelo
hospitaleiro, muito pelo contrário. Comecei a suar, porque sabia o que ela
Era aquilo que ela fazia, deixava as pessoas desconfortáveis. Fiz uma
oração silenciosa para que ela ficasse quieta e que não passasse de um
conversando, então ela limpou a garganta, atraindo olhares para si, com as
— Férias de verão.
bem, voltando todo o foco para si. Eu quase suspirei de alívio. Assim que
terminamos de comer, eu me levantei, inventando desculpas e me
nos alcançou.
Elle murchou.
— Que pena. Mas entendo. — Fez uma pausa. — Sinto muito por
encarava.
— Não sei.
Não demorou muito para que eles chegassem. Cerca de trinta minutos
biscoitos no forno.
— Oi! — falei para Eve, esperando que ela pudesse ler meus lábios.
— Tudo bem?
Eu assenti.
Ian para trás. Eu comecei a pôr o chá em duas canecas. Entreguei uma delas
para Evelyn. Ela agradeceu, começando a bebericá-lo.
impecável e muito branca, cabelo preto e liso, franja e era delicada. Seus
olhos tinham uma dobra epicântica. Se não era leste-asiática, devia ter
descendência.
— Está ótimo — ela disse, depois de beber um gole. A voz dela era
— Que bom que gostou — falei com calma, para que ela conseguisse
— O Hunt é meio obcecado de amor por mim, ele disse que nós
devíamos ter mais tempo a sós. Por isso o clube se restringiu a nós dois.
Eu ri também.
— A gente mora.
topo de sua cabeça. Eles dois eram muito bonitos, formavam um casal que
visto.
— Tá, mas você já deu uma olhada nela? É impossível não ficar
obcecado.
ereção.
chão, assim como minha calcinha. Ele começou me lamber ali mesmo,
contra a porta, uma de minhas pernas jogadas sobre seu ombro. Eu abafava
roçando a glande na minha abertura. Comecei a ansiar por ele outra vez.
minhas coxas.
Ian engoliu meus gemidos quando gozei pela segunda vez. Ele deu
mais algumas estocadas antes de tremer, soltando um suspiro brusco contra
meu pescoço. Ian enterrou o pescoço ali, permanecendo dentro de mim por
alguns momentos.
— Gozei em você — ele disse, erguendo o rosto para me encarar. —
Vou comprar uma pílula.
barulho que nós tínhamos feito aqui. Provavelmente Hunt tinha escutado
tudo. Depois que me limpei no banheiro, fui para a sala. Hunt me lançou
um olhar engraçado.
— Cadê o Ian?
— Está no banheiro.
passando.
— Entendo.
— Vem, você vai ficar no meu quarto. Comigo — ele disse, um olhar
presunçoso no rosto.
baixo. Eu estava usando uma camiseta que Blakely tinha feito para mim. É
claro que continha uma foto dela dentro de um coração imenso.
também seria o último show antes que lançássemos o próximo álbum com a
escritório. Para minha sorte, Blakely estava sozinha lá dentro, o que foi
cheio de mãos e língua. Quando minha mão tocou seu peito sob a blusa,
— É, não percebi, você tá muito gostosa. Isso foi tudo que pude
reparar.
— Meu cabelo tá todo bagunçado, essa calça jeans deve ter um ano e
Jimmy riu.
sanduíche?
Neguei. Blakely aceitou. Disse para Blakely que esperaria que ela
Jimmy acabou cedendo. Nós fomos até uma sala de tatuagem livre e
ele começou a preparar as coisas. Disse para ele minha ideia e ele pareceu
ficar bem perplexo, mas não me contrariou. Trinta minutos depois, com
uma arte nova no corpo e uma parte do abdômen dolorida, nós terminamos.
Demorou uma hora para que Blakely acabasse o que estava fazendo.
Nós fomos para casa e fiquei ansioso para mostrá-la minha nova
tatuagem.
Na sala, nós começamos a nos beijar. No sofá, Blakely tirou minha
recém tatuada.
— O que achou?
— E o que mais?
— Fofo. Eu amei.
quando eu digo, Blakely. E se eu tiver que usar uma camiseta por dia com
não quero que você tenha dúvidas quanto ao que eu sinto por você. Isso é
descendo, até que meu pau estivesse em sua boca, minha mão enterrada em
deixou meu pau animado, mas foquei na tarefa de me vestir. Ela ficou lá,
pouco. — Vou dormir, já que você não me deixou fazer isso ontem à noite.
Eu ri baixo.
— Você gostou.
com ela nua sobre minha cama, era mais tentação do que eu poderia resistir.
Eu não era forte o suficiente. Acenando para Blakely com a mão, ela
começou a rir, provavelmente percebendo o que eu estava fazendo, mas não
disse nada.
Eu o ignorei.
— Não. Fiquei aqui. A minha mãe teve uma noite ruim… Ela foi
para a ala emergencial.
Reed tentava parecer descolado e durão para todo mundo, mas neste
momento, dava para ver o quanto estava sofrendo. Sua mãe estava doente,
era por isso que ele tinha entrado na gangue, para conseguir mantê-la num
hospital bom o suficiente para seu tratamento. Só que ele não devia carregar
um fardo desses aos dezessete anos, era por isso que eu assumiria sua
dívida.
Reed podia simplesmente ter pedido para Jimmy, ele não hesitaria
antes de arcar com todas as despesas. Mas Jimmy já tinha feito muito, então
o entendia por não ter contado.
recepção.
— Tem certeza?
— Sim. Mês que vem, tudo o que você vai ouvir falar vai ser sobre
Tinha esquecido.
— Legal.
não tinha mais que lidar com as contas do hospital de sua mãe, nem
refrigerante.
Blakely, Elle, e o pai delas vindo do corredor oposto. Ele apertava o ombro
dela de maneira confortante, então foi em direção ao balcão da recepção,
não me notando.
para Reed. Ela pareceu ficar nervosa. Seus olhos se arregalaram um pouco e
— Não.
— Que pena.
Eu esperei.
— Sim.
passado com ela. Ela não me quer por perto e sei que é culpa minha, mas…
— Apenas cuide bem dela, ok? Me prometa. Ela não tem ninguém.
— Eu prometo. Eu amo a sua filha com todo meu coração, ela é uma
mulher incrível.
— Imagino que sim. Bom, até mais. Pelo visto, Blakely está em boas
faminta.
em outra coisa.
aproximei por trás, enfiando minhas mãos sob a camiseta e apalpando seus
seios. Eles não cabiam na palma da minha mão, isso me enlouquecia.
Comecei a massageá-los.
minha visão.
— Sim.
Me concentrei num ponto sobre seu ombro para não ter que olhar
Ela tinha vindo até a cafeteria para me ver. Aquele era o último dia
— Elle olhou para trás, através das janelas, para o carro de luxo que a
esperava estacionado no meio-fio.
No hospital.
— Ele quem?
— Você é boba.
tinha acabado. Mas minha pausa na cafeteria também tinha chegado ao fim.
— Até. Te amo.
hoje, mas não queria me dizer o que estava acontecendo. Era difícil ajudá-la
Ela bufou.
— Do que tá falando?
Ah, era isso. Gina comentou algumas vezes que tinha fechado
contrato com uma editora pequena. Ela estava feliz. Até porque seu sonho
editora para a estréia. — Ela riu amargamente. — Acho que eles esperaram
muito de mim. Por um momento eu acreditei também, mas deixa para lá. É
momento do dia, Gina precisou atender uma ligação. Quando ela voltou,
estava toda saltitante. Fui até ela, perguntando o que tinha acontecido.
confusa por não ver Diamond. Ele devia estar me ajudando. Esgueirando-
Arqueei as sobrancelhas.
— Sério, D. Me ajuda.
— Já vou.
Diamond respirou fundo. Então, ele riu. Mas não era nenhum tipo de
Diamond pudesse estar cultivando sentimentos por Gina, mas sabia que ela
— E isso não é algo bom? Isso mostra que ela não liga para o
superficial. Que ela gosta das pessoas por quem são, não pelo o que
possuem.
— Mais ou menos.
Diamond suspirou.
— Mas, falando sério, isso que você fez foi incrível. Talvez se você
nada.
estava de carro, então me deixou em meu prédio. Jimmy não precisava que
eu fosse para o estúdio até que o ano novo passasse. Assim que atravessei a
— Responda.
— Sim. Mas não precisa ter ciúmes, ele tá apaixonado por outra
pessoa.
Eu arqueei as sobrancelhas.
— Que possessivo.
Tentei ficar por cima dele, mas Ian me manteve embaixo de si.
— Sou todo seu. Você pode ter domínio sobre meu coração, pode até
colocar uma coleira em mim enquanto estivermos na rua, se quiser. Mas
— Eram péssimas.
— Não.
— Sim.
Eu soltei um risinho.
— Que obediente.
— Pode.
— Também não queria ter perdido todo esse tempo, eu também devo
— Não sei. Não tenho certeza do futuro. Só de nós. Então tudo que
vejo quando fecho os olhos e penso no futuro, é você.
três semanas depois
Brooke era quem cuidava das coisas da Call 911, depois que
Ela riu.
do palco. Hunt e Atticus já estavam aqui, eles pareciam tão nervosos quanto
eu. Aquele era o nosso primeiro show grande. Realmente grande. Porra, eu
estava suando.
vinte mil pessoas ali, pessoas que gostavam da nossa banda. A Call 911 foi
um tiro certeiro para a gravadora. Três jovens com rostos bonitos e músicas
sido em Boston, onde a banda já tinha fãs antes da gravadora chegar até
nós.
eu fui para a lanchonete. Os últimos dias com ela foram ótimos. Nós
Ela mal teve tempo para erguer os olhos quando a puxei para um
Blakely não tinha conseguido ir para o show porque o seu chefe não
tinha permitido que ela tirasse o dia de folga, mesmo tentando negociar
autógrafo e disse que tinha ido ao show. Aí, inesperadamente, ela se atirou
da lanchonete e proibi-la de voltar aqui. Só que eu não podia fazer isso. Até
porque agora isso aconteceria com frequência, certo? Garotas lindas e loiras
se jogariam em cima dele… E eu seria forçada a assistir, impotente.
Como agora.
Me corroendo lentamente.
algumas fotos juntos e ela finalmente foi embora. Não sem antes deixar seu
número de telefone com ele, é claro. Gina iria fechar hoje, então eu fui
embora com Ian em sua moto.
E eu realmente precisava.
no Instagram.
Cliquei em cima.
próximo show da Call 911. O que está esperando para adquirir o seu?
Além de que a queridinha dos telões nos confessou que teve uma queda
pelo baixista, Ian Sweddish…
momento importante para ele, sua carreira e a banda. Eu não queria ser uma
— Tá legal. Vou ficar parado aqui até que você resolva ser honesta e
cabelos.
Suspirei.
inexistente.
mídia inteira, todo mundo está falando sobre você e a banda. E tem muitas
garotas atrás de você. Garotas mais bonitas e interessantes do que eu. Você
tudo.
Ele segurou meu rosto entre suas mãos, fazendo-me encará-lo nos
— Eu não estou com raiva de você. Estou com raiva pelo o que você
está pensando. Entenda, Blakely, eu estou aqui porque eu te amo. E não tem
nada nesse mundo que vá mudar o que eu sinto por você. Nem a banda,
nem as garotas, nem nada! Porque nada disso chega aos pés de você.
Nenhuma dessas garotas chegam aos seus pés. Para mim, só você existe. Eu
não vou deixar que nada disso atrapalhe o meu relacionamento com você.
E, se você quiser, eu saio da banda neste exato momento. Porque se isso vai
fazer com que você acabe se afastando de mim, eu posso abrir mão dela
neste segundo.
— Não! Você está louco? Como pode cogitar sair da banda? É seu
sonho.
— Então por que é que você quer deixar meu mundo cinza? Você
espera que eu viva sem você? Você espera que eu tenha uma vida sem cor?
— Não — eu murmurei.
— Então prometa que nunca mais vai cogitar que não se encaixa na
minha vida outra vez. Você é a peça mais fundamental dela. Eu jamais vou
Havia tanto amor em seus olhos. Tanto amor que toda a minha
incerteza se dissipou.
— Ok. Eu prometo.
amava. Ele começou a me seguir pela casa, dizendo todas as vezes em que
ele se apaixonou por mim e todas as vezes em que ele me amou um pouco
mais.
— Como assim?
— O que você quer fazer, Blake? Quais são seus planos? Não vai
dinheiro, mas para quê? Eu queria um carro, mas além disso... O que mais
faltava?
— Faça isso. Quero que você tenha tudo o que quiser, Blakely. Eu
não me importo de dividir meu dinheiro com você. Vou apoiá-la no que for
necessário.
Bom, essa é, sem sombra de dúvidas, uma das partes mais deliciosas
Esse processo de escrita foi o mais solitário que tive, o que tornou
tudo mais difícil, mas, de alguma forma, eu consegui chegar até o final.
Lovely.