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Psicologia da Educação

1. Introdução

Reflexão do filme “Mentes Perigosas”, tendo como objectivo fazer uma

análise da relação pedagógica presente no mesmo. Procuraremos identificar os aspectos

positivos e negativos de tal relação, assim como adoptar um olhar crítico acerca da

mesma, tentando verificar se aquilo que acontece no filme poderá, ou não, transpor-se

para o real, assim como as suas implicações. A partir da visualização do filme e das

questões levantadas acerca dele procuraremos estabelecer uma relação com as questões

levantadas durante as aulas práticas. Sendo assim, nesta reflexão, iremos executar aquilo

que nos propusemos no ante-projecto.

O nosso grupo escolheu o filme “Mentes Perigosas”, como mencionamos

no ante-projecto, pois este retrata os constrangimentos pedagógicos que os professores e

os alunos/as têm de enfrentar; diferentes situações que nos transportam para várias

realidades presentes na escola; e, a nosso entender, este é pertinente para abordarmos as

questões da relação pedagógica.

Neste trabalho começaremos por fazer uma breve distinção entre relação

pedagógica e relação educativa, seguidamente, iremos caracterizar a relação pedagógica

existente no filme, tendo em conta as dimensões que lhe estão inerentes.

Posteriormente, iremos elaborar uma breve reflexão critica acerca da mesma.

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2. Relação Pedagógica e Relação Educativa: Que distinção?

Na sua origem etimológica, o termo “relação”, de acordo com aquilo que

refere Maria Teresa Estrela (1992), deriva do latim relatio, onis e pode significar:

narração, relato de inventos, conexão, ligação, contacto; comércio, trato, frequentação e,

ainda, conhecimento. A autora, ainda, salienta que ao acrescentarmos o adjectivo

“pedagógica” ao termo relação esta poderá significar: uma relação parental, amical ou

conjugal. Assim sendo, para a autora a relação pedagógica «é o contacto interpessoal

que se gera entre os intervenientes de uma situação pedagógica e o resultado desses

contactos» (Estrela, 1992: 31). Podemos também afirmar que a relação pedagógica é o

conjunto de relações educativas que ocorrem dentro do contexto escolar.

Mas, quando falamos em relação pedagógica não podemos esquecer o

conjunto de constrangimentos que esta tem subjacente, na medida em que esta não pode

ser pensada somente na relação professor/a – aluno/a, mas também na dimensão do

saber. A forma como o/a professor/a mantém a relação com o/a aluno/a e com o saber

não depende das suas características pessoais, mas sim da forma como o/a professor/a

decide expor o saber, isto é, depende das suas opções epistemológicas e pedagógicas.

Por relação educativa entendemos todas as relações que temos com os/as

outros/as, (catequese, escuteiros, grupos de jovens, actividades desportivas,...), e que

visam promover uma outra visão do mundo.

A nosso entender, achamos pertinente fazermos esta breve distinção entre

relação pedagógica e relação educativa, pois a relação educativa engloba a relação

pedagógica e é mais ampla que esta. Na medida em que, a relação pedagógica ocorre

dentro do contexto escolar e tem sempre presente a dimensão do saber, e uma relação

educativa pode também ser pedagógica, por exemplo quando um pai ou uma mãe se

torna professor/a para ajudar um/a filho/a.

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3. Mentes Perigosas: Que Relação Pedagógica?

“Mentes Perigosas” é um filme que nos permite chegar a uma visão acerca

das relações que se vão construindo no âmbito da sala de aula. No entanto não estamos

a falar de uma relação qualquer, estamos a falar de uma relação pedagógica que ocorre

entre professor/a – aluno/a dentro de uma determinada sala de aula e dentro de um

determinado contexto escolar. Isto porque a relação pedagógica não pode ser vista como

algo que é homogéneo, uma vez que ela não depende apenas das características pessoais

do/a professor/a, mas também das opções epistemológicas e pedagógicas dos mesmos.

Os/as docentes devem ter em conta o que está por trás dessas opções:

- Constrangimentos da escola;

- Constrangimentos do mundo em criança vive.

Assim, à medida que descrevemos e discutimos o filme, vamos abordando a

relação pedagógica tendo em conta as diferentes dimensões assim como certos aspectos

que achamos pertinentes relativos a esta relação.

3.1. Dimensões que Permitem Abordar e Configurar a Relação

Pedagógica

Neste capítulo iremos discutir o filme, tendo em conta as dimensões da

relação pedagógica. Podemos distinguir, a dimensão do conflito, do afecto, da ajuda e

de autoridade.

3.1.1. Dimensão do conflito

Na nossa perspectiva esta é uma dimensão inevitável, pois todos/as os/as

actores e actoras do contexto escolar pensam de forma diferente. O conflito é inerente,

incontornável. No filme que visualizamos, esta dimensão está presente desde início, isto

Reflexão de Grupo 3
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porque a turma dos/as alunos/as especiais, confinada à professora, caracterizam-se, a

nosso entender, por terem interesses distintos, poderes diferentes, experiências e saberes

diversos, bem como posicionamentos sócio-culturais diversos na e face à escola.

Todos/as os/as alunos/as da turma em questão eram provenientes de classes

sociais mais desfavorecidas, tinham problemas familiares,...e muitos outros

constrangimentos que não lhes permitiam “olhar” para a escola como um “bem”

necessário, mas como uma obrigação ou um passatempo. Por outro lado, a instituição

escolar do filme, não demostra flexibilidade relativamente às turmas e aos/às alunos/as,

impondo regras rígidas e incontornáveis que estes deveriam sempre cumprir. Os/as

alunos/as desta turma específica, não entravam em conformidade com estas regras, e

«(...) a falta de motivação dos/as alunos/as podem originar situações de frustração e de

descontentamento que se expressam através da agressividade, da fuga ao trabalho ou

da apatia. Esse mal-estar pode voltar-se contra os/as colegas ou contra o/a

professor/a» (Estrela, 1992:48). Na primeira aula esses aspectos negativos são

demonstrados pelos/as discentes em questão, mas Louanne, após um momento de

tensão, volta no dia seguinte com algumas estratégias que poderão facilitar a

comunicação entre ela e os/as jovens/as que ali se encontravam sem qualquer

predisposição para aprender. Mas a dimensão de conflito, não se pauta apenas por uma

conotação negativa; as correntes mais inovadoras salientam que este factor (o conflito) é

decisivo, no qual a sua superação constitui o momento pedagógico. No filme, a

professora tenta intervir na relação que os/as jovens têm com a escola, no momento em

que propõe uma visita aos/às alunos/as, supostamente paga pelo Conselho Directivo.

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3.1.2. Dimensão de Ajuda

Esta dimensão baseia-se na definição de estratégias que visam facilitar a

comunicação entre professor/a – aluno/a e alunos/as entre si.

Em «Mentes Perigosas», Louanne, a professora, após a aula de apresentação

à turma, que não correu muito bem, tenta definir algumas estratégias de forma a cativar

a atenção dos/as alunos/as. Em casa, pesquisa alguns livros, acerca de Disciplina

Agressiva, e no dia seguinte adopta um novo visual de forma a captar a atenção dos/as

jovens. A comunicação foi estabelecida na segunda aula, através de uma pequena

demonstração de Karaté, por parte da docente, e com o passar do tempo pudemos

observar que a professora procurou estar “sempre presente” quando os/as seus/suas

alunos/as tinham problemas. Por exemplo, quando o seu aluno, Emílio, precisava de se

esconder porque estava a ser perseguido por um traficante de droga que o queria matar,

a professora disponibilizou a sua casa para este poder se esconder. Um outro caso onde

está presente a dimensão de ajuda no filme é quando a professora paga a dívida a outro

seu aluno, o Raúl, e diz-lhe que a única forma de ele a pagar é acabar o Ensino

Secundário.

Assim sendo, verificamos que a professora tenta, ao longo de todo o filme,

estabelecer interacções, que proporcionem o desenvolvimento de uma relação positiva,

e a mudança de comportamento dos/as alunos/as: «toda a interacção provoca

necessariamente alguma mudança nos indivíduos envolvidos, no domínio dos

conhecimentos, dos sentimentos ou dos comportamentos. Muitas interacções, aliás, são

empreendidas precisamente porque alguém está interessado em mudar alguma coisa

em si próprio ou em outrem» (Ribeiro, (s/d): 139).

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3.1.3. Dimensão da Autoridade

Esta dimensão supõe a existência de uma relação de poder, isto é, o exercício

de um processo de influência sobre a outra pessoa. A relação pedagógica supõe, sempre,

uma relação de poder, na medida em que se constitui uma relação em que se espera que

o/a professor/a possa influenciar, a vários níveis, um/a aluno/a.

No filme que analisamos, também está presente esta dimensão, na medida

em que a professora por mais que procure estabelecer laços afectivos com os/as

alunos/as; ajudá-los/as nos seus problemas pessoais, por exemplo: quando uma das

alunas engravida e pensa em mudar para uma escola que “ensina a ser mãe” e ela tenta

convencê-la a ficar porque ela tem possibilidades de acabar o secundário com bom

aproveitamento; ou quando ela “esconde” o Emílio em sua casa para que este não seja

assassinado; ou quando paga o casaco ao aluno,.... ela, a professora, não deixa de ser um

elemento com bastante poder dentro da sala de aula.

É a professora que avalia, que define aquilo que os/as alunos/as têm de

aprender, por exemplo: no segundo dia de aulas a professora diz que é fuzileira dos

EUA e ensina Karaté aos alunos, mas já no terceiro dia chega à sala de aula e escreve no

quadro: «Vamos conjugar verbos», podemos verificar que a autoridade que a professora

possui é que lhe permite ”impor” aquilo que os/as alunos/as têm de fazer e aprender.

A autoridade da professora confere-lhe, igualmente, poder para decidir quais

as recompensas dos/as alunos/as: como pudemos observar, inicialmente, a professora dá

chocolates aos/às alunos/as quando estes/as respondem acertadamente acerca dos

verbos, para estimular a sua atenção, mas passado algum tempo ela deixa de dar

chocolates, dizendo-lhes que o maior prémio para eles/as era aprender. Constatamos,

então, que, «o seu poder perante o aluno é ainda reforçado pela capacidade que tem de

recompensar ou punir e pela sua suposta competência» (Ribeiro, (s/d): 145).

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A dimensão da autoridade também poderá ser utilizada para promover outra

dimensão, designada por agrado ou afecto, que vamos abordar seguidamente, isto

porque «nem todas as relações interpessoais, porém, se inspiram na “metáfora do

poder”. A atracção interpessoal, que tende a reduzir a distância, conduz

frequentemente a uma relação de agrado, a que corresponde a “metáfora da

imediação”» (Ribeiro, (s/d): 151).

3.1.4. Dimensão do Agrado ou do Afecto

A dimensão do agrado diz respeito à dinâmica de atracção interpessoal que

tende a reduzir o distanciamento entre os actores envolvidos na relação pedagógica,

dando origem a situações de maior intimidade.

Esta dimensão, tal como as anteriores, está presente no filme quando a

professora vai a casa do seu aluno Raúl para falar com os pais dele e dizer-lhes que ele é

um bom aluno (divertido, expressivo, um dos alunos preferidos) e que acha que ele

consegue acabar o Secundário, basta ele estar predisposto para tal. Outra situação onde

está presente esta dimensão é no jantar que ela oferece como recompensa ao concurso

Dylan – Dylan, relacionado com uma pesquisa na biblioteca. Nesse jantar, a professora

tomou conhecimento que o casaco que o Raúl tinha comprado para vestir nessa noite, o

faria faltar durante alguns dias às aulas, pois este teria de arranjar dinheiro para o pagar.

Mas, Louanne preferiu ajudá-lo, pagando a sua dívida, só para que este não faltasse às

aulas, dizendo-lhe, igualmente, que a melhor maneira deste a pagar era estudar para

completar o Secundário. Através destes dois exemplos, podemos verificar a redução do

distanciamento entre a professora e o aluno.

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Até agora, através das dimensões que temos vindo a referir, fomos

descrevendo o filme de forma a podermos caracterizar, de certo modo, a relação

pedagógica presente.

3.2. As “adversidades” Presentes na Escola

Neste pequeno capítulo pretendemos aprofundar certos aspectos do filme

que já têm vindo a ser abordados ao longo de toda a reflexão, como os

constrangimentos do mundo em que a criança vive e os constrangimentos da escola, e

ao mesmo tempo mostrar como a professora em questão procurou ultrapassar os

obstáculos que se lhe iam colocando.

No filme, a actriz Michelle Pfeiffer encarna o papel da professora Louanne

Jonhson que é convidada para ensinar alunos “jovens, inteligentes, especiais,

energéticos e apaixonados”1. No primeiro contacto com os seus novos alunos a Louanne

deparou-se com uma turma constituída por alunos/as de etnias diferentes, que se

revelavam problemáticos/as, com fracos rendimentos escolares e muito

indisciplinados/as. A sala de aula apresentava-se desorganizada, barulhenta, e os/as

alunos/as utilizavam uma linguagem de bairro. Era um ambiente que, desde logo, se

mostrou intimidante para a professora.

Estes/as alunos/as tinham problemas sociais devido à sua origem e ao meio

em que viviam. Os pais eram pessoas com poucas habilitações literárias, de classe social

baixa, muitos deles desempregados com muitos/as filhos/as para sustentar. Alguns

deles/as tinham de trabalhar para ajudar em casa como é o caso da Callie e de outros/as

alunos/as. Deste modo, o meio social destes/as alunos/as acaba por ser um

constrangimento que afecta a forma como eles/as vêem e interessam-se pela escola e,

1
Citação do guião do filme “Mentes Perigosas”

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consequentemente, a relação pedagógica que se estabelece entre os professores/as e

os/as alunos/as. Os/as alunos/as recusavam-se a aprender e consequentemente

desenvolviam uma cultura “contra-escolar”2, no sentido de impedir que o/a professor/a

pudesse agir sobre eles/as e estabelecer uma relação pedagógica com eles/as «muitos

problemas dos educadores, na família e na escola, situam-se ao nível da relação com o

educando (...) o acto educativo efectua-se através de uma relação interpessoal»

(Ribeiro, s/d: 135). Os/as alunos/as não pareciam estar preocupados/as em manter uma

relação com a professora chegando mesmo a ignorar a sua presença na sala de aula.

Assim, a professora previu desde logo, uma grande dificuldade em estabelecer uma

relação com estes/as alunos/as, pois eles demonstravam uma resistência à escola e

àquilo que ela lhes procurava transmitir.

Neste sentido a professora decidiu adoptar uma postura e uma atitude com o

objectivo de cativar e ser aceite pelos/as alunos/as e, deste modo, estabelecer uma

relação com eles/as, «toda a interacção provoca necessariamente alguma mudança nos

indivíduos envolvidos, no domínio dos conhecimentos, dos sentimentos ou dos

comportamentos. Muitas interacções, aliás, são empreendidas precisamente porque

alguém está interessado em mudar alguma coisa em si próprio ou em outrem, em

alguns desses domínios» (Ribeiro, s/d: 139). Assim, Louanne leu livros sobre disciplina

agressiva e procurou adaptar-se ao mundo dos/as seus/suas alunos/as: largou as roupas

convencionais, vestiu roupas de cabedal, adoptou uma postura muito próxima à dos

seus/suas alunos/as e não procurou estabelecer «um processo de comunicação do tipo

sedução persuasão. Neste modo de comunicação as interacções provenientes do

professor são dominantes (tempo e uso da palavra superior ao dos alunos) e o

professor ajusta pouco o seu discurso ao dos alunos» (Altet, 1994: 69). Ou seja, ao

2
conceito retirado de uma das obra de Paul Willis

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contrário disto a professora procurou estabelecer uma relação com os/as alunos/as de

forma a entrar no mundo deles/as e, assim, poder estar mais próxima deles/as «o

professor adapta-se mais ao aluno, mas é ainda uma transacção com vista a perseguir

o objectivo definido pelo professor» (Altet, 1994: 71). Por exemplo, Louanne para

ensinar os verbos e ensinar os/as alunos/as a interpretarem os poemas recorreu a

palavras e temas, como por exemplo a morte, que chamassem a atenção e suscitasse o

interesse dos/as seus/suas alunos/as.

Com vista a conseguir que os seus alunos/as modificassem a sua maneira de

pensar e agir e que, consequentemente, pudessem aprender, Louanne recorreu algumas

técnicas que o comportamentalismo enuncia. Apesar deste não ter em conta alguns

aspectos, que na nossa opinião são importantes, como não reflectir sobre os sentidos dos

comportamentos, o que leva que determinado comportamento aconteça, preocupando-se

apenas com aquilo o que observa e, assim, em modificar esses aspectos, há algumas

técnicas as quais podemos recorrer para tentar atingir alguns dos nossos fins. A

professora tentou encontrar resposta adequadas à população existente na turma. Deste

modo, ela teve em conta a especificidade dos/as seus/as alunos, com o objectivo de

modificar os seus comportamentos e despoletar algum interesse pela matéria e os temas

a serem leccionados.

Anteriormente, outros/as professores/as não tinham tido êxito e não

conseguiam alterar o ambiente da sala de aula de desorganização, de uma anarquia

completa para um clima harmonioso onde pudesse proporcionar boas condições de

trabalho e, como tal, viram-se obrigados a desistir.

Primeiramente, para chamar atenção dos/as alunos/as ela usou a estratégia de

custo de resposta, «que consiste na retirada de reforços previamente adquiridos, como

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consequência pela realização de um comportamento indesejável»3, pois Louanne disse

aos/às alunos/as que “a partir de agora todos têm vinte, depende de vocês em manterem

esse vinte”. Alguns/algumas alunos/as ficaram desde logo entusiasmados/as, pois nunca

tinham tido um vinte na vida deles/as, no entanto, outros mostravam-se resistentes em

acreditar que isso fosse verdade. Louanne decidiu, também, para reforçar os

comportamentos adequados dos/as alunos/as, oferecer chocolates após a emissão de

respostas adequadas. Esta estratégia mostrou-se eficaz porque, aos poucos e poucos, ela

conseguiu que os seus alunos e alunas se entusiasmassem mais pelo o que ela estava a

ensinar. Estas estratégias eram acompanhadas por outras como a estratégia de reforço

social em que a finalidade é “promover o aumento dos comportamentos adequados ou

pretendidos através da emissão de respostas socialmente compensadoras”4. Por

exemplo, quando um/a aluno/a dá uma resposta adequada ela diz logo que está muito

bem e para continuar assim. Também estabeleceu alguns acordos, com o objectivo de

envolver de forma explícita os/as alunos/as no processo de negociação relativamente

aos comportamentos pretendidos como se eles/as participassem nas aulas de poesia,

poderiam ir a uma visita de estudo. Assim, neste método de ensino os/as alunas lutam

por uma recompensa que lhes proporcione agrado e satisfação.

Apesar destas técnicas se mostrarem eficazes é preciso ter em conta que elas

podem levar a desenvolver no/a aluno/a uma dependência em relação à recompensa que

poderão receber. Ou seja o/a aluno/a age apenas porque sabe que vai ter alguma coisa

em troca e na ausência dessa recompensa ele/a pode deixar de efectuar os

comportamentos. No filme, a professora estava sempre a dar coisas em troca para

estimular os/as alunos/as e quando ela deixou de o fazer houve logo uma reacção por

parte destes/as que lhes perguntavam o que iam receber em troca ao que ela respondeu

3
Citação retirada e um texto fornecido na aula teórica pelo professor o qual não tem ano nem autor.
4
Conceito retirado de um dos acetatos apresentados durante a aula teórica de Psicologia da Educação

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“aprender”. Neste momento os/as alunos/as podiam ter perdido a vontade de aprender

mas não aconteceu, isto porque ela procurou construir, desde cedo, uma relação de

proximidade com eles/as o que acabou por lhes chamar a atenção e despertar o interesse

por aquilo que ela ia ensinando.

A escola também nada faz para ajudar estes/as alunos/as e limitando-se a

pô-los/as de lado em relação aos/às outros/as. Os/as alunos/as considerados/as

problemáticos estavam todos numa só turma enquanto que os/as outros que não eram

considerados tão problemáticos estavam em turmas diferentes o que dificultou a acção

da professora Louanne que ficou com a turma dos/as jovens problemáticos/as.

Devido a isto ela não poderia utilizar uma técnica tradicional de ensino ou

seja chegar à escola e expor a matéria. Para isso ela adoptou técnicas e estratégias

diferentes para poder captar atenção dos/as alunos/as, como referimos anteriormente.

Contudo as ideias e formas que ela foi encontrando para conseguir aproximar-se dos/as

alunos/as e procurar incutir-lhes algo, estavam sempre a ser postas em causa pela escola

e pelo director da mesma que não achava pedagógico que ensinasse Karaté aos/às

alunos/as, distribuísse chocolates ou então que os levasse a dar passeios. Ou seja a

escola estava sempre a pôr em causa aquilo o que ela fazia não tendo em conta que tudo

o que Louanne realizava estava a originar bons resultados.

A própria escola encarregava-se de não dar atenção às necessidades dos/as

seus/suas alunos/as acabando, em certas situações por os/as excluir. Por exemplo as

raparigas que ficavam grávidas eram reencaminhadas para uma espécie de escola que as

ia ensinar tudo o que fosse preciso para quando fossem mães. Louanne não concordava

com esta ideia e achava absurdo que a escola as pusesse de lado desta maneira.

Outro problema era ao nível do material disponível na escola nas salas de

aula, pois a escola não disponibilizava muito material, papel, lápis e canetas, para que

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os/as professores/as pudessem usar. É de relembrar a cena em que o professor de

história corrigia os testes com um lápis porque não havia canetas.

Deste modo, a própria escola acaba por colocar alguns constrangimentos às

relações que se estabelecem lá o que pode condicionar a relação pedagógica. No caso do

filme, a acção da professora era posta em causa não tendo qualquer apoio por parte da

instituição.

4. O Saber no Seio da Relação Pedagógica

Inicialmente, a relação que se estabelece entre a professora e os alunos e as

alunas desenvolve-se em função dos interesses e das necessidades dos/as mesmos/as. A

professor/a aproxima-se como alguém que é capaz de respeitar a natureza e o processo

de desenvolvimento do/a aluno/a, tendo o saber um papel secundário. A partir do

momento que a professora constatou que o interesse dos/as alunos/as estava a aumentar,

começou a solicitar a participação destes/as, a estimulá-los/as e a apresentar situações –

problema.

À medida que Louanne ia estabelecendo uma maior relação de proximidade

com os/as alunos/as, começou a “tirar” partido disso, ou seja, começou a valorizar

gradualmente os saberes e a procura-los transmiti-los. O saber começou ter um papel

também importante, no entanto, não era o fundamental. Ao longo do filme pode-se

constatar que a relação não se centrava apenas nos/as alunos/as ou apenas no saber, mas

procurava ter em conta o saber, a relação professora – alunos/as e a relação alunos/as –

alunos/as. Ou seja, a nosso entender, estabelece-se uma relação em torno de todos estes

aspectos não havendo a valorização de um aspecto em particular. Como está

subentendido ao longo de toda a nossa reflexão.

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5. Um Olhar Crítico Sobre a Relação Pedagógica em “Mentes Perigosas”

Nesta reflexão não poderíamos deixar de estabelecer um olhar crítico acerca

da problemática em questão. Inicialmente, se visualizássemos o filme sem termos em

conta os conhecimentos que adquirimos na cadeira de Psicologia da Educação iríamos

considerar que a situação vivenciada no filme poderia ser transposta para o real. Ou

seja, poderia ser adoptada em situações semelhantes que se vivenciam no quotidiano

escolar. No entanto, ao longo do ano fomos adquirindo conhecimentos, através das

aulas de Psicologia da Educação que nos permitiram desenvolver um olhar crítico

acerca daquilo que acontece no filme. Deste modo, pretendemos mostrar, neste capítulo,

que apesar do filme nos dar uma visão bastante positiva temos de ter em conta que isso

pode não acontecer na realidade de uma escola com as mesmas características. Pois, o

sucesso dos/as alunos/as não depende exclusivamente do/a professor/a, mas da

envolvência de todos os elementos de uma comunidade educativa e das políticas

educativas implementadas. Ao mesmo tempo vamos procurar enunciar os aspectos

positivos e negativos inerentes ao filme.

Um dos primeiros constrangimentos que iríamos ter, se quiséssemos aplicar

o que acontece no filme à realidade, era ao nível da escola e das políticas educativas

implementadas, que embora já tenham em consideração o “olhar” pelo diferente,

continuam a desvalorizar de forma continuada as diferenças presentes na escola.

Enquanto no filme a professora tem consciência das diferenças que existem na sala de

aula e procura adaptar-se, de forma a poder ajudar os/as alunos/as, na realidade isto

seria difícil de acontecer pois ainda é preciso haver uma grande “consciencialização”5

por parte de muitos professores/as. Na maior parte das vezes acção dos/as professores/as

5
Termo utilizado por Paulo Freire quando fala acerca das escolas

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depende da escola, pois nem sempre ela apoia os/as professores/as como acontece no

filme. Contudo, no filme, a professora conseguia desenvolver as suas estratégias

pedagógicas, mesmo estas não sendo aceites pela própria escola, pois ela sempre

acreditou, ao contrário da escola (o director), que os/as seus/suas alunos/as tinham

capacidades que podiam ser desenvolvidas. Outro aspecto que achamos importante tem

haver com a disponibilidade que Louanne tinha com os/as seus/suas alunos/as, mesmo

quando estava fora do seu espaço de trabalho dedicando muito do seu tempo a estes/as,

procurando inteirar-se com os problemas, ser um apoio e poder ajudar os mesmos.

Apesar de ser positivo, uma vez que a professora procura estar em contacto com a

realidade deles/as, pode também ser negativo, pois há uma grande interferência por

parte da professora na vida pessoal dos/as alunos/as. Um dos exemplos que podemos

tirar do filme é quando dois dos alunos se envolveram numa luta e ela interferiu, o que

não foi aceite por estes. A visão dada pelo filme é muito positiva, no entanto, na

realidade isto nunca ou raramente acontece, pois as relações professor/a – aluno/a

tendem a ser caracterizadas por um certo distanciamento. Como alunos/as que

estudamos e continuamos a estudar, vivenciamos ocasiões marcadas por este

distanciamento, principalmente quando havia alunos/as que tinham dificuldades ou que

estavam afastados da escola e, os/as professores/as, nada faziam para procurar ajuda-

los/as ou chamar atenção deles/as.

No filme, a professora procura compreender os/as alunos/as, aproximar-se

deles/as e, assim, ajuda-los/as recorrendo a várias estratégias para estimular os/as

alunos/as como os reforços sociais, a “técnica” do custo resposta, que embora pudessem

se tornar negativos, com o tempo, ela soube gerir estas estratégias tendo acabado por

alcançar os seus objectivos.

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Assim, com base naquilo o que temos vindo a referir a relação presente no

filme dificilmente seria transponível para a realidade sendo, para nós, um pouco

utópica, no entanto, não podemos vê-la como sendo impossível de ser executada.

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6. Conclusão

Com a realização deste trabalho concluímos que o êxito da relação

pedagógica não depende apenas do/a professor/a ou do/a aluno/a, mas de ambos os

elementos, na medida em que os/as professores/as podem ser os/as “andaimadores/as”

da aquisição de saberes pelos/as alunos/as, e, consequentemente, estes/as têm a função

de “aproveitar” o apoio que os/as professores/as lhes oferecem.

A partir do trabalho, chegamos também à conclusão que a reflexão sobre a

relação pedagógica é importante, pois existem certos aspectos que têm de ser tidos em

conta, tais como, a forma como o professor/a ensina; as relações interpessoais que se

estabelecem, … para que estes possam ser melhorados e/ou transformados. Temos de

ter em consideração que caminhamos para sociedades que se vão modificando e,

consequentemente, para escolas que também se vão modificando no seio dessas

sociedades. Logo, é necessário que haja um debate e uma reflexão coerente acerca da

relação pedagógica, pois esta não pode ser neutra às mudanças.

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Psicologia da Educação

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTET, Marguerite (1994) Análise das Práticas dos Professores e das Situações
Pedagógicas. Colecção das Ciências da Educação. Porto: Porto Editora.

ESTRELA, Maria Teresa (1992) Relação Pedagógica, Disciplina e Indisciplina na


aula. Colecção Ciências da Educação. Porto: Porto Editora. pp. 29-66.

RIBEIRO, Agostinho (s/d) “Relação Educativa” in Psicologia do Desenvolvimento e


Educação de Jovens, Campos, Bártolo Paiva (coord.). Universidades Aberta, vol. 1, pp
134-159.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

FERNANDES, Rui Eduardo Trindade (1995) As escolas do 1º ciclo do ensino básico

como espaços de formação pessoal e social : contributo para uma reflexão. Porto:

FPCEUP.

Reflexão de Grupo 18

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