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1. Introdução
positivos e negativos de tal relação, assim como adoptar um olhar crítico acerca da
mesma, tentando verificar se aquilo que acontece no filme poderá, ou não, transpor-se
para o real, assim como as suas implicações. A partir da visualização do filme e das
questões levantadas acerca dele procuraremos estabelecer uma relação com as questões
levantadas durante as aulas práticas. Sendo assim, nesta reflexão, iremos executar aquilo
os alunos/as têm de enfrentar; diferentes situações que nos transportam para várias
Neste trabalho começaremos por fazer uma breve distinção entre relação
Reflexão de Grupo 1
Psicologia da Educação
refere Maria Teresa Estrela (1992), deriva do latim relatio, onis e pode significar:
“pedagógica” ao termo relação esta poderá significar: uma relação parental, amical ou
contactos» (Estrela, 1992: 31). Podemos também afirmar que a relação pedagógica é o
conjunto de constrangimentos que esta tem subjacente, na medida em que esta não pode
saber. A forma como o/a professor/a mantém a relação com o/a aluno/a e com o saber
não depende das suas características pessoais, mas sim da forma como o/a professor/a
decide expor o saber, isto é, depende das suas opções epistemológicas e pedagógicas.
Por relação educativa entendemos todas as relações que temos com os/as
pedagógica e é mais ampla que esta. Na medida em que, a relação pedagógica ocorre
dentro do contexto escolar e tem sempre presente a dimensão do saber, e uma relação
educativa pode também ser pedagógica, por exemplo quando um pai ou uma mãe se
Reflexão de Grupo 2
Psicologia da Educação
“Mentes Perigosas” é um filme que nos permite chegar a uma visão acerca
das relações que se vão construindo no âmbito da sala de aula. No entanto não estamos
a falar de uma relação qualquer, estamos a falar de uma relação pedagógica que ocorre
determinado contexto escolar. Isto porque a relação pedagógica não pode ser vista como
algo que é homogéneo, uma vez que ela não depende apenas das características pessoais
do/a professor/a, mas também das opções epistemológicas e pedagógicas dos mesmos.
Os/as docentes devem ter em conta o que está por trás dessas opções:
- Constrangimentos da escola;
relação pedagógica tendo em conta as diferentes dimensões assim como certos aspectos
Pedagógica
de autoridade.
incontornável. No filme que visualizamos, esta dimensão está presente desde início, isto
Reflexão de Grupo 3
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nosso entender, por terem interesses distintos, poderes diferentes, experiências e saberes
constrangimentos que não lhes permitiam “olhar” para a escola como um “bem”
necessário, mas como uma obrigação ou um passatempo. Por outro lado, a instituição
impondo regras rígidas e incontornáveis que estes deveriam sempre cumprir. Os/as
alunos/as desta turma específica, não entravam em conformidade com estas regras, e
da apatia. Esse mal-estar pode voltar-se contra os/as colegas ou contra o/a
tensão, volta no dia seguinte com algumas estratégias que poderão facilitar a
comunicação entre ela e os/as jovens/as que ali se encontravam sem qualquer
predisposição para aprender. Mas a dimensão de conflito, não se pauta apenas por uma
conotação negativa; as correntes mais inovadoras salientam que este factor (o conflito) é
professora tenta intervir na relação que os/as jovens têm com a escola, no momento em
que propõe uma visita aos/às alunos/as, supostamente paga pelo Conselho Directivo.
Reflexão de Grupo 4
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à turma, que não correu muito bem, tenta definir algumas estratégias de forma a cativar
Agressiva, e no dia seguinte adopta um novo visual de forma a captar a atenção dos/as
observar que a professora procurou estar “sempre presente” quando os/as seus/suas
alunos/as tinham problemas. Por exemplo, quando o seu aluno, Emílio, precisava de se
esconder porque estava a ser perseguido por um traficante de droga que o queria matar,
a professora disponibilizou a sua casa para este poder se esconder. Um outro caso onde
está presente a dimensão de ajuda no filme é quando a professora paga a dívida a outro
seu aluno, o Raúl, e diz-lhe que a única forma de ele a pagar é acabar o Ensino
Secundário.
Reflexão de Grupo 5
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uma relação de poder, na medida em que se constitui uma relação em que se espera que
em que a professora por mais que procure estabelecer laços afectivos com os/as
alunos/as; ajudá-los/as nos seus problemas pessoais, por exemplo: quando uma das
alunas engravida e pensa em mudar para uma escola que “ensina a ser mãe” e ela tenta
convencê-la a ficar porque ela tem possibilidades de acabar o secundário com bom
aproveitamento; ou quando ela “esconde” o Emílio em sua casa para que este não seja
assassinado; ou quando paga o casaco ao aluno,.... ela, a professora, não deixa de ser um
É a professora que avalia, que define aquilo que os/as alunos/as têm de
aprender, por exemplo: no segundo dia de aulas a professora diz que é fuzileira dos
EUA e ensina Karaté aos alunos, mas já no terceiro dia chega à sala de aula e escreve no
quadro: «Vamos conjugar verbos», podemos verificar que a autoridade que a professora
possui é que lhe permite ”impor” aquilo que os/as alunos/as têm de fazer e aprender.
verbos, para estimular a sua atenção, mas passado algum tempo ela deixa de dar
chocolates, dizendo-lhes que o maior prémio para eles/as era aprender. Constatamos,
então, que, «o seu poder perante o aluno é ainda reforçado pela capacidade que tem de
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dimensão, designada por agrado ou afecto, que vamos abordar seguidamente, isto
professora vai a casa do seu aluno Raúl para falar com os pais dele e dizer-lhes que ele é
um bom aluno (divertido, expressivo, um dos alunos preferidos) e que acha que ele
consegue acabar o Secundário, basta ele estar predisposto para tal. Outra situação onde
está presente esta dimensão é no jantar que ela oferece como recompensa ao concurso
Dylan – Dylan, relacionado com uma pesquisa na biblioteca. Nesse jantar, a professora
tomou conhecimento que o casaco que o Raúl tinha comprado para vestir nessa noite, o
faria faltar durante alguns dias às aulas, pois este teria de arranjar dinheiro para o pagar.
Mas, Louanne preferiu ajudá-lo, pagando a sua dívida, só para que este não faltasse às
aulas, dizendo-lhe, igualmente, que a melhor maneira deste a pagar era estudar para
Reflexão de Grupo 7
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Até agora, através das dimensões que temos vindo a referir, fomos
pedagógica presente.
deparou-se com uma turma constituída por alunos/as de etnias diferentes, que se
alunos/as utilizavam uma linguagem de bairro. Era um ambiente que, desde logo, se
em que viviam. Os pais eram pessoas com poucas habilitações literárias, de classe social
baixa, muitos deles desempregados com muitos/as filhos/as para sustentar. Alguns
deles/as tinham de trabalhar para ajudar em casa como é o caso da Callie e de outros/as
alunos/as. Deste modo, o meio social destes/as alunos/as acaba por ser um
constrangimento que afecta a forma como eles/as vêem e interessam-se pela escola e,
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Citação do guião do filme “Mentes Perigosas”
Reflexão de Grupo 8
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pudesse agir sobre eles/as e estabelecer uma relação pedagógica com eles/as «muitos
(Ribeiro, s/d: 135). Os/as alunos/as não pareciam estar preocupados/as em manter uma
relação com a professora chegando mesmo a ignorar a sua presença na sala de aula.
Assim, a professora previu desde logo, uma grande dificuldade em estabelecer uma
relação com estes/as alunos/as, pois eles demonstravam uma resistência à escola e
Neste sentido a professora decidiu adoptar uma postura e uma atitude com o
objectivo de cativar e ser aceite pelos/as alunos/as e, deste modo, estabelecer uma
relação com eles/as, «toda a interacção provoca necessariamente alguma mudança nos
alguns desses domínios» (Ribeiro, s/d: 139). Assim, Louanne leu livros sobre disciplina
convencionais, vestiu roupas de cabedal, adoptou uma postura muito próxima à dos
professor ajusta pouco o seu discurso ao dos alunos» (Altet, 1994: 69). Ou seja, ao
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conceito retirado de uma das obra de Paul Willis
Reflexão de Grupo 9
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contrário disto a professora procurou estabelecer uma relação com os/as alunos/as de
forma a entrar no mundo deles/as e, assim, poder estar mais próxima deles/as «o
professor adapta-se mais ao aluno, mas é ainda uma transacção com vista a perseguir
o objectivo definido pelo professor» (Altet, 1994: 71). Por exemplo, Louanne para
palavras e temas, como por exemplo a morte, que chamassem a atenção e suscitasse o
técnicas que o comportamentalismo enuncia. Apesar deste não ter em conta alguns
aspectos, que na nossa opinião são importantes, como não reflectir sobre os sentidos dos
apenas com aquilo o que observa e, assim, em modificar esses aspectos, há algumas
técnicas as quais podemos recorrer para tentar atingir alguns dos nossos fins. A
modo, ela teve em conta a especificidade dos/as seus/as alunos, com o objectivo de
a serem leccionados.
Reflexão de Grupo 10
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aos/às alunos/as que “a partir de agora todos têm vinte, depende de vocês em manterem
esse vinte”. Alguns/algumas alunos/as ficaram desde logo entusiasmados/as, pois nunca
acreditar que isso fosse verdade. Louanne decidiu, também, para reforçar os
respostas adequadas. Esta estratégia mostrou-se eficaz porque, aos poucos e poucos, ela
conseguiu que os seus alunos e alunas se entusiasmassem mais pelo o que ela estava a
ensinar. Estas estratégias eram acompanhadas por outras como a estratégia de reforço
exemplo, quando um/a aluno/a dá uma resposta adequada ela diz logo que está muito
bem e para continuar assim. Também estabeleceu alguns acordos, com o objectivo de
poderiam ir a uma visita de estudo. Assim, neste método de ensino os/as alunas lutam
Apesar destas técnicas se mostrarem eficazes é preciso ter em conta que elas
podem levar a desenvolver no/a aluno/a uma dependência em relação à recompensa que
poderão receber. Ou seja o/a aluno/a age apenas porque sabe que vai ter alguma coisa
estimular os/as alunos/as e quando ela deixou de o fazer houve logo uma reacção por
parte destes/as que lhes perguntavam o que iam receber em troca ao que ela respondeu
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Citação retirada e um texto fornecido na aula teórica pelo professor o qual não tem ano nem autor.
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Conceito retirado de um dos acetatos apresentados durante a aula teórica de Psicologia da Educação
Reflexão de Grupo 11
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“aprender”. Neste momento os/as alunos/as podiam ter perdido a vontade de aprender
mas não aconteceu, isto porque ela procurou construir, desde cedo, uma relação de
proximidade com eles/as o que acabou por lhes chamar a atenção e despertar o interesse
problemáticos estavam todos numa só turma enquanto que os/as outros que não eram
Devido a isto ela não poderia utilizar uma técnica tradicional de ensino ou
seja chegar à escola e expor a matéria. Para isso ela adoptou técnicas e estratégias
diferentes para poder captar atenção dos/as alunos/as, como referimos anteriormente.
Contudo as ideias e formas que ela foi encontrando para conseguir aproximar-se dos/as
alunos/as e procurar incutir-lhes algo, estavam sempre a ser postas em causa pela escola
e pelo director da mesma que não achava pedagógico que ensinasse Karaté aos/às
escola estava sempre a pôr em causa aquilo o que ela fazia não tendo em conta que tudo
seus/suas alunos/as acabando, em certas situações por os/as excluir. Por exemplo as
raparigas que ficavam grávidas eram reencaminhadas para uma espécie de escola que as
ia ensinar tudo o que fosse preciso para quando fossem mães. Louanne não concordava
com esta ideia e achava absurdo que a escola as pusesse de lado desta maneira.
aula, pois a escola não disponibilizava muito material, papel, lápis e canetas, para que
Reflexão de Grupo 12
Psicologia da Educação
filme, a acção da professora era posta em causa não tendo qualquer apoio por parte da
instituição.
momento que a professora constatou que o interesse dos/as alunos/as estava a aumentar,
problema.
com os/as alunos/as, começou a “tirar” partido disso, ou seja, começou a valorizar
constatar que a relação não se centrava apenas nos/as alunos/as ou apenas no saber, mas
alunos/as. Ou seja, a nosso entender, estabelece-se uma relação em torno de todos estes
Reflexão de Grupo 13
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considerar que a situação vivenciada no filme poderia ser transposta para o real. Ou
acerca daquilo que acontece no filme. Deste modo, pretendemos mostrar, neste capítulo,
que apesar do filme nos dar uma visão bastante positiva temos de ter em conta que isso
pode não acontecer na realidade de uma escola com as mesmas características. Pois, o
o que acontece no filme à realidade, era ao nível da escola e das políticas educativas
Enquanto no filme a professora tem consciência das diferenças que existem na sala de
aula e procura adaptar-se, de forma a poder ajudar os/as alunos/as, na realidade isto
seria difícil de acontecer pois ainda é preciso haver uma grande “consciencialização”5
por parte de muitos professores/as. Na maior parte das vezes acção dos/as professores/as
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Termo utilizado por Paulo Freire quando fala acerca das escolas
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depende da escola, pois nem sempre ela apoia os/as professores/as como acontece no
pedagógicas, mesmo estas não sendo aceites pela própria escola, pois ela sempre
capacidades que podiam ser desenvolvidas. Outro aspecto que achamos importante tem
haver com a disponibilidade que Louanne tinha com os/as seus/suas alunos/as, mesmo
quando estava fora do seu espaço de trabalho dedicando muito do seu tempo a estes/as,
Apesar de ser positivo, uma vez que a professora procura estar em contacto com a
realidade deles/as, pode também ser negativo, pois há uma grande interferência por
parte da professora na vida pessoal dos/as alunos/as. Um dos exemplos que podemos
tirar do filme é quando dois dos alunos se envolveram numa luta e ela interferiu, o que
não foi aceite por estes. A visão dada pelo filme é muito positiva, no entanto, na
estavam afastados da escola e, os/as professores/as, nada faziam para procurar ajuda-
alunos/as como os reforços sociais, a “técnica” do custo resposta, que embora pudessem
se tornar negativos, com o tempo, ela soube gerir estas estratégias tendo acabado por
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Psicologia da Educação
Assim, com base naquilo o que temos vindo a referir a relação presente no
filme dificilmente seria transponível para a realidade sendo, para nós, um pouco
utópica, no entanto, não podemos vê-la como sendo impossível de ser executada.
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6. Conclusão
pedagógica não depende apenas do/a professor/a ou do/a aluno/a, mas de ambos os
relação pedagógica é importante, pois existem certos aspectos que têm de ser tidos em
conta, tais como, a forma como o professor/a ensina; as relações interpessoais que se
estabelecem, … para que estes possam ser melhorados e/ou transformados. Temos de
sociedades. Logo, é necessário que haja um debate e uma reflexão coerente acerca da
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Psicologia da Educação
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTET, Marguerite (1994) Análise das Práticas dos Professores e das Situações
Pedagógicas. Colecção das Ciências da Educação. Porto: Porto Editora.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
como espaços de formação pessoal e social : contributo para uma reflexão. Porto:
FPCEUP.
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