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LUDOPEDAGOGIA E PSICOMOTRICIDADE

1. Para início de conversa...

Apesar de sempre parecer como parte da Pedagogia, a


Psicomotricidade é uma área independente, mas que trabalha
junto à pedagogia no desenvolvimento da aprendizagem das
crianças. Assim, dada sua importância junto à formação humana,
cabe-nos aqui trazê-la como capítulo deste curso.

Para começar vamos definir a Psicomotricidade conforme


a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade preconiza:

“É uma ciência que estuda o homem através do seu corpo


em movimento, em relação ao seu mundo interno e externo, e de
suas possibilidades de perceber, atuar e agir com o outro, com os objetos e
consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a
origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.”

Conforme Le Bolch (1983) a educação Psicomotora responde a uma


dupla finalidade: assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta as
possibilidades da criança e ajudar sua afetividade a expandir-se e equilibrar-se
através do intercâmbio com o ambiente humano.

Neste contexto vamos refletir sobre o desenvolvimento das crianças na


Educação infantil sua aprendizagem e a relação com o psicomotor. Bora!

2. Qual o papel da Psicomotricidade na Educação Infantil?

No campo da educação infantil, a Psicomotricidade visa a promover


situações que coloquem o corpo em cena, estimular o desenvolvimento
sensorial e da postura, dos movimentos e das relações que possibilitem uma
evolução psicomotora e ainda prevenir futuras alterações ou obstáculos que
possam vir a surgir no processo da aprendizagem formal.

Assim, na EI entra em cena o jogo corporal que mostra as fantasias, os


movimentos que falam muito mais que as palavras neste contexto, envolvendo
o corpo do sujeito, mas também sua relação com os objetos e aparecem em
destaque alguns termos que são importantes esclarecer aqui para o
entendimento do assunto. São eles:

 Tônus
 Movimento
 Postura
 Noções de espaço e tempo

O profissional da educação, embora não seja um psicomotricista


precisa entender das bases da psicomotricidade como influenciadoras da
aprendizagem.

Assim, uma criança que não senta, que não se locomove, que não tem
tônus, que não consegue se localizar bem no espaço, que não se orienta com
relação ao tempo e aos intervalos, pode ter sérias dificuldades de
aprendizagem.

São importantes conhecimentos aos educadores que todos nós, na


fase da infância, precisamos desenvolver alguns aspectos relacionadas à
motricidade e que têm relação direta com a aprendizagem, são eles, conforme
Neto (2007):

 Motricidade fina: A coordenação visuomanual representa a atividade


mais frequente e mais comum no homem, a qual atua para pegar um
objeto e lançá-lo, para escrever, desenhar, pintar, recortar, etc. A
coordenação visuomotora é um processo de ação em que existe
coincidência entre o ato motor e uma estimulação visual percebida. Esse
tipo de dinamismo somente pode dar-se em indivíduos videntes. Os não-
videntes transferem as percepções visuais por outros meios de
informação: guias sonoros outorgados pela explicação verbal, pelas
percepções táteis, entre outros, os quais lhes outorgam dados sobre os
quais elaboram a coordenação dinâmica necessária.
 Motricidade global: A perfeição progressiva do ato motor implica um
funcionamento global dos mecanismos reguladores do equilíbrio e da
atitude. Quando a criança está capacitada para isso, certas condições
de execução permitem reforçar certos fatores da ação (vivacidade, força
muscular, resistência, etc.). Estes fatores desenvolvem também um
certo controle da motricidade espontânea, à medida que a situação-
problema exige o respeito a certas consignas que definem as condições
de espaço e de tempo em que se deve desenvolver a tarefa. Durante as
brincadeiras livres, o meio é que fornece à criança o material para a sua
atividade de exploração, ou seja, a imaginação da criança cria suas
próprias experiências. É através da brincadeira espontânea que ela
descobre os ajustes diversos, complexos e progressivos da atividade
motriz, resultando em um conjunto de movimentos coordenados em
função de um fim a ser alcançado.
 Equilíbrio: O equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada
dos segmentos corporais. Quanto mais defeituoso é o movimento, mais
energia consome; tal gasto energético poderia ser canalizado para
outros trabalhos neuromusculares. Dessa luta constante, mesmo que
inconsciente, contra o desequilíbrio, resulta uma fatiga corporal, mental
e espiritual, aumentando o nível de estresse, ansiedade e angústia do
indivíduo. Com efeito, existem relações estreitas entre as alterações ou
as insuficiências do equilíbrio estático e dinâmico e os latentes estados
de ansiedade ou insegurança.
 Esquema corporal: Em 1911, o neurologista Henry Head lançou um
conceito que ele denominou “esquema corporal” e que representava
uma verdadeira referência, pois permitia, a cada instante, construir um
modelo postural de nós mesmos. Outros autores atribuem ao esquema
corporal um papel essencial na manutenção da regulação postural. Há
um modelo postural, um esquema, uma imagem do nosso corpo,
independente das informações cutâneas e profundas, os quais
desempenham um papel importante, mesmo que não evidente, na
consciência que cada um tem de si mesmo. O modelo postural não é um
dado estático, mas sustenta ativamente todos os gestos que nosso
corpo realiza sobre si mesmo e sobre os objetos exteriores.
 Organização temporal: Percebemos o transcurso do tempo a partir das
mudanças que se produzem durante um período estabelecido e da sua
sucessão que transforma progressivamente o futuro em presente e,
depois, em passado. O tempo é, antes de tudo, memória: à medida que
leio, o tempo passa. Assim, aparecem os dois grandes componentes da
organização temporal: a ordem e a duração que o ritmo reúne. A
primeira define a sucessão que existe entre os acontecimentos que se
produzem, uns sendo a continuação de outros, em uma ordem física
irreversível; a segunda permite a variação do intervalo que separa dois
pontos, ou seja, o princípio e o fim de um acontecimento. Essa medida
possui diferentes unidades cronométricas como o dia e suas divisões, as
horas, os minutos e os segundos. A ordem ou a distribuição cronológica
das mudanças ou dos acontecimentos sucessivos representa o aspecto
qualitativo do tempo e a duração seu aspecto quantitativo.
 Organização espacial: Na vida cotidiana, utilizamos constantemente os
dados sensoriais e perceptivos relativos ao espaço que nos rodeia.
Esses dados sensoriais contêm as informações sobre as relações entre
os objetos que ocupam o espaço; porém, é nossa atividade perceptiva,
baseada na experiência do aprendizado, a que lhe dá um significado. A
organização espacial depende, ao mesmo tempo, da estrutura de nosso
próprio corpo (estrutura anatômica, biomecânica, fisiológica, etc.), da
natureza do meio que nos rodeia e de suas características.
 Lateralidade: A lateralidade está em função de um predomínio que
outorga a um dos dois hemisférios a iniciativa da organização do ato
motor, o qual desembocará na aprendizagem e na consolidação das
praxias. Essa atitude funcional, que é suporte da intencionalidade, se
desenvolve de forma fundamental no momento da atividade de
investigação, ao longo da qual a criança vai deparar-se com seu meio. A
ação educativa fundamental para colocar a criança nas melhores
condições para aceder a uma lateralidade definida, respeitando fatores
genéticos e ambientais, é a que lhe permita organizar suas atividades
motoras.

Além disto o desenvolvimento da linguagem está diretamente ligado ao


desenvolvimento psicomotor, tendo esta grande relação com as respostas que
percebemos da criança em seu ambiente familiar ou escolar, ainda segundo
Neto (2002, p. 26):
Graças à linguagem, o pensamento permite delimitar os elementos mais
essenciais da realidade; configurar, em uma mesma categoria, coisas e
fenômenos que, na percepção direta, podem parecer diferentes;
reconhecer os fenômenos que, não obstante à semelhança externa,
pertencem a esferas diversas da realidade; elaborar conceitos abstratos e
formular conclusões lógicas que embasam os marcos da percepção
sensorial; possibilitar os processos de raciocínio lógico e descobrir no
desenvolvimento de tal raciocínio as leis dos fenômenos inacessíveis à
experiência direta; refletir a realidade com profundidade
incomparavelmente maior que a percepção sensorial; situar a atividade
consciente do homem em uma dimensão superior ao comportamento
animal.

Na aula veremos como intervir, na escola, junto às crianças para o seu


desenvolvimento psicomotor.

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