Você está na página 1de 28

História

Formação dos Estados Modernos: Política e cultura

Objetivo
Compreender o processo de formação dos Estados Modernos, a importância da centralização do poder no
período e as características do absolutismo e do mercantilismo, assim como analisar o contexto cultural e
religioso do período, com o renascimento artístico e as reformas protestantes.

Se liga
A transição da Baixa Idade Média para a Idade Moderna foi marcada por processos de centralização política
em diversas regiões da Europa. Neste contexto surgiram os primeiros Estados Modernos e novas práticas
políticas e econômicas, como o absolutismo e o mercantilismo. Para essa matéria é importante que você
saiba o conteúdo de Idade Média, bem como compreenda o processo de crise do sistema feudal.

Curiosidade
Portugal foi pioneiro no processo de formação dos Estados Modernos, o que possibilitou uma sólida base
política e econômica para as expansões marítimas!

Teoria

A Baixa Idade Média: Colapso


Apesar das invasões húngaras, árabes e vikings se manterem ao longo dos séculos IX e X, a Europa vivia
nesse momento uma fase muito mais segura, se compararmos com as disputas territoriais do início da Alta
Idade Média. Assim, neste contexto, além da redução dos ataques, algumas mudanças e práticas, como as
inovações técnicas na agricultura, a manutenção de alianças entre os feudos e a proteção dos cavaleiros
garantiu uma maior estabilidade para os senhores e servos.

Visto isso, é importante destacar que toda essa condição de melhoria na qualidade de vida garantiu também
um crescimento demográfico neste período, ou seja, cada vez mais os feudos estavam lotados, sobretudo de
servos camponeses. Toda essa situação nos leva a acreditar que o aumento demográfico poderia também
ampliar a produção nos campos, mas, tome cuidado, pois a lógica foi inversa!

Apesar de inovações técnicas terem facilitado a produção agrícola ao longo da Idade Média, com os moinhos
hidráulicos, os arados de ferro e as práticas de rotação de cultura, essas novidades foram insuficientes para
garantir uma produção que atendesse às necessidades da população desses séculos. Além disso, o aumento
populacional e a ampliação da produção demandavam também uma maior carga tributária, o que muitas
vezes não animava os servos a ampliarem as produções.

8
História

Portanto, este cenário de altos tributos, exploração, violência e desigualdades provocou um deslocamento de
massas de camponeses e cavaleiros que, expulsos de suas terras, passaram a vagar entre feudos ou a vadiar
em busca de trabalhos temporários e pequenos saques. Esse processo de crescimento demográfico e de
êxodo marcou o início da chamada Baixa Idade Média e deu origem ao que conhecemos como a crise do
feudalismo.

Crescimento demográfico na Europa Ocidental de 1000 a 1300.


60

50
Milhões de habitantes

40

30

20

10

0
1000 1100 1200 1300
Ano

(Fonte: FRANCO Jr., Hilário e FILHO, Ruy de Oliveira Andrade. Atlas de História Geral. São Paulo: Scipione,
1993, p.23.)

Assim, tendo em vista esse cenário, além da miséria europeia, um outro problema surgia no Oriente para os
nobres e clérigos europeus: a expansão árabe. Visto isso, por volta do ano 1000, uma série de expedições
militares conhecidas como Cruzadas foram financiadas por monarcas, senhores feudais e pela própria Igreja
Católica. As cruzadas, portanto, tinham como objetivo reconquistar a cidade sagrada de Jerusalém
(dominada pelos turcos desde o século VII), expandir a fé cristã e, por fim, resolver o problema do crescimento
demográfico e da miséria que se instalou na Europa.

Ainda que as cruzadas não tenham solucionado muitos desses problemas, sobretudo o da
quantidade de miseráveis vagantes, as expedições ao longo da Europa, sobretudo na região do
Mediterrâneo, foram responsáveis pela expansão da fé cristã, pela abertura de antigas rotas
comerciais (dominadas pelos árabes) e pelo ressurgimento das cidades, que se tornaram
importantes postos comerciais e de defesa. As cruzadas, portanto, abriram caminhos para o
acesso a importantes centros comerciais da região, como Veneza, Gênova e até mesmo Constantinopla. Visto
isso, podemos perceber que as cruzadas foram fundamentais para desenvolver um processo que já se
iniciava há anos na Europa, o de renascimento comercial e urbano.

8
História

Assim, tendo em vista todo esse cenário da Baixa Idade Média, cansados das opressões feudais e sem
perspectivas vagando em territórios isolados, muitos servos e camponeses se deslocaram para a vida nas
pequenas cidades que se formavam, trabalhando como artesãos ou comerciantes e estimulando a realização
de feiras e do comércio.

Essa nova vida promoveu, enfim, a possibilidade de uma ascensão econômica para muitas pessoas que
passaram a depender dessas atividades. A poderosa estrutura comercial que se estabeleceu possibilitou
inclusive o enriquecimento de indivíduos, que passaram a empregar outros funcionários de forma assalariada,
controlar rotas comerciais, dominar o mercado e, consequentemente, fortalecer uma nova classe que
ascendia: a burguesia. Assim, com o tempo, a monetarização da economia, o estabelecimento de novas
relações sociais e o desenvolvimento de novas atividades comerciais, enfraqueceu ainda mais o antigo
sistema feudal.

8
História

O outono da Idade Média


Se a crença na chegada iminente do fim do mundo assolava os cristãos durante o ano 1000, a crise do século
XIV representou para a Europa quase um apocalipse atrasado. Durante este século, a população europeia
enfrentou não só as guerras que já estava acostumada, mas também sofreu com a avassaladora fome e com
catastrófica epidemia da peste bubônica.

Para entendermos essa crise do século XIV, vale destacar que diversos sãos os motivos para a fome, para as
guerras e as doenças. Em 1315, por exemplo, intensas chuvas no noroeste da Europa dificultaram a produção
agrícola da região, causando uma crise de abastecimento no continente. Para piorar, alguns anos depois os
alimentos e produtos que atravessavam as novas rotas comerciais começaram a sofrer com o bloqueio dos
caminhos ocasionado por batalhas, como a Guerra dos Cem anos, entre 1337 e 1453. Esse cenário caótico
de más colheitas e bloqueio comercial acabou gerando a chamada grande fome do século XIV.

Assim, com a fome e as guerras assolando a maior parte da Europa, um novo problema também surgiu neste
período para ampliar o número de mortos e devastar cerca de 1/3 da população europeia: a peste bubônica.
Na época, com uma medicina incipiente e com poucos estudos sobre a questão, não havia medicamentos ou
tratamentos eficazes contra a doença e nem mesmo uma informação precisa sobre os motivos reais da
epidemia, sendo assim, genericamente associada à grande população de ratos que circulavam pelas cidades
reocupadas. No entanto, a verdadeira causa da peste, descoberta graças aos estudos da microbiologia no
século XIX, estaria nas pulgas de ratos, que transmitiam a doença.

Visto isso, se não bastasse essa conjuntura de fome, doenças, guerras e mortes, os servos no campo ainda
continuaram sofrendo com a exploração. Por conta da crise, os senhores feudais aumentavam
constantemente o valor dos impostos sobre os camponeses a fim de suprir a diminuição de seus ganhos em
decorrência da peste e da baixa produtividade.

Desta forma, nesse caótico cenário do século XIV, a crise, a miséria e a exploração acabaram sendo o estopim
para diversas revoltas na Europa e, naturalmente, para a continuidade do desgaste do próprio feudalismo. Um
grande exemplo dessas revoltas que apavorou senhores feudais foram as chamadas jacqueries, que
estouraram no norte da França em 1358. Cerca de 20 mil camponeses foram mortos pelo exército francês
após se rebelarem contra as opressões sofridas e contra os problemas que abatiam a população local.

Todo esse contexto vai gerar um clima de insegurança nos então senhores feudais, que começaram a se
assustar com as constantes revoltas camponesas. Assim, alguns passam a ceder gradualmente o seu poder
e sua fidelidade a figura do rei (sim, ele mesmo, aquele que quase não possuía poder político) com o intuito
de proteger suas terras. Além disso, a ascensão da burguesia e o seu interesse na expansão comercial vai
mostrar como o feudalismo havia entrado em colapso e que ele, na verdade, não dava mais conta das
transformações que ganhavam cada vez mais força na sociedade.

Assim, mediante ao caos em que a Europa se encontrava, a alternativa encontrada pela nobreza e pela alta
burguesia com o intuito de manter seus interesses e privilégios foi o de centralizar o poder nas mãos de uma
única pessoa – o Rei. A figura do monarca até então não possuía grande expressão de poder político, uma
vez que a sua autoridade estava diluída entre os nobres que possuíam os títulos de senhores feudais e muitas
vezes o mesmo só concentrava poderes militares.

Desta forma, diversos territórios ao longo da Europa realizaram esse movimento de centralização, com apoio
de nobres e burgueses, que sustentaram a formação de grandes reinos que conhecemos como os Estados
Modernos, governados por monarcas.

8
História

Alguns fatores foram essenciais para a consolidação desses Estados que tinham características em comum,
como:
• Delimitação de um território: definição de fronteiras e de uma unidade territorial.
• Criação de um exército nacional: para defender os interesses do Estado recém-formado e garantir a
sua soberania.
• Burocracia administrativa: corpo responsável pela administração pública, pela cobrança de impostos e
pelo aparato administrativo.
• Unidade cultural: elementos culturais em comum que possibilitaram uma identificação entre os diversos
grupos que ocupavam o mesmo espaço.
• Criação de um conjunto de leis: possibilitaram a manutenção da ordem e a aplicação de uma justiça na
qual as pessoas pudessem recorrer.
• Um Monarca: que concentrava em suas mãos o poder sobre o território.

Como visto, o acordo entre diferentes grupos possibilitou a formação desses Estados Modernos, no entanto,
nem todos se privilegiaram com a nova configuração política. Os nobres foram os que mais ganharam, pois
se transformaram na base política dessas monarquias, ocupando cargos de confiança e sendo sustentados
por esse Estado que está nascendo. A Igreja Católica, no entanto, apesar de inicialmente apoiar esse
processo, logo perdeu forças graças à expansão da Reforma Protestante e ao fortalecimento dos monarcas,
pois muitos Estados passaram a adotar religiões próprias e se afastar do catolicismo, diminuindo a influência
do Papa.

A burguesia, por sua vez, também apoiou o rei inicialmente e chegou a lucrar com
expedições militares e comerciais. Entretanto, ao longo dos séculos XVI e XVII a
centralização do poder passou a se aprofundar ainda mais em alguns reinos como a
França, construindo regimes extremamente autoritários que ficaram conhecidos como
absolutistas. Assim, o chamado absolutismo foi uma teoria política que configurou a forma de muitos
monarcas governarem, concedendo a eles poderes quase absolutos. O rei absolutista, portanto, tornava-se
em muitos locais uma figura quase uma encarnação do próprio Estado, intervindo diretamente na vida dos
súditos, na economia e nas decisões políticas.

Assim, para a burguesia, o surgimento do absolutismo e essa constante intervenção do rei nas práticas
burguesas, no mercado, na vida particular e nas liberdades pessoais passou a incomodar profundamente
essa classe com o tempo.

Vale destacar que esse poder absoluto do rei, no entanto, possui algumas especificidades. O primeiro ponto
a ser destacado é que para ser entendido como um “poder natural” pelos súditos, os monarcas precisavam
construir e difundir discursos que confirmassem essa ideia. Logo, durante a Idade Moderna vários pensadores
surgiram com o intuito de teorizar sobre os ideais absolutistas corroborando com a ideia de uma sociedade
disciplinada e sob o controle de um único líder.

Desta forma, teóricos como Thomas Hobbes, com a “Teoria do Contrato Social”, Nicolau Maquiavel, com seu
livro “O Príncipe” e Jacques Bossuet, com sua ideia do “Direito Divino do Rei” foram importantes nomes que
fundamentaram e embasaram esses novos modelos de governabilidade. Além disso, as práticas absolutistas
se fundamentavam na própria figura do rei no dia a dia.

8
História

Ou seja, para convencer os súditos de seus poderes e da sua divindade, o rei deveria sempre ser visto cercado
por luxos e glórias, jamais por fraqueza e incapacidade. Visto isso, era fundamental sempre construir
narrativas que glorificassem o monarca, pinturas que o mostrassem como um herói e realizar rituais que
fortalecessem os aspectos de divindade, visando sempre a manutenção desse poder.

Mercantilismo

O período de transição da Baixa Idade Média para a Idade Moderna, como visto acima, marcou profundas
mudanças na sociedade europeia. Assim, com as transformações políticas e sociais do período, o aumento
exponencial da comercialização com a descoberta de novas rotas comerciais, a conquista de novos territórios
e a própria centralização do poder nas mãos dos reis passaram a demandar novas ideias e práticas
econômicas. Logo, é neste contexto que podemos observar a formação de um conjunto de práticas chamadas
de Mercantilismo, que foi estruturado de forma a explorar as novas terras extraindo o máximo de riquezas
possíveis e proporcionando uma grande acumulação de capital, principalmente para a nobreza.

Visto isso, o mercantilismo está intimamente associado à Idade Moderna e ao próprio absolutismo. Portanto,
apesar de não podermos afirmar que todos os reinos praticavam igualmente o mercantilismo ou que todos
os monarcas defendiam ideias econômicas semelhantes, algumas características em comum podem ser
observadas.

Primeiramente, vale destacar que o mercantilismo depende profundamente de um Estado


forte e interventor que era o principal responsável pela exploração de um território conquistado
e colonizado e quem monopolizava a prática comercial mantendo a colônia ligada diretamente
a sua autoridade, sobretudo através de imposições, como o “Exclusivo comercial” (também
chamado as vezes de Pacto Colonial).

Outra característica importante na economia desses Estados Modernos era a grande valorização dos metais
preciosos. O chamado metalismo, portanto, foi a promoção de uma intensa busca por metais preciosos que,
pelas ideias mercantilistas, eram vistos como uma das principais fontes de arrecadação e de abastecimento
dos Estados.

Apesar dos metais serem considerados a principal fonte de riqueza, extraídas principalmente da América
através da colonização, o comércio também tinha uma função fundamental na manutenção dessa riqueza.
Logo, para um Estado manter uma saúde econômica, além do acúmulo de metais era preciso valorizar a
produção interna e a exportação. Assim, as práticas mercantilistas defendiam a adoção de medidas
protecionistas, como aumento de impostos sobre produtos estrangeiros e a valorização de uma balança
comercial favorável, visando regular as importações e exportações a fim de controlar o fluxo de mercadorias
dentro de suas fronteiras.

Assim, o mercantilismo, conhecido também por alguns autores como “capitalismo comercial”, difundiu-se
pela Europa, estabelecendo-se principalmente em regiões como Gênova, Veneza, Holanda, Portugal, França,
Inglaterra e Espanha. Apesar do Estado e do monarca serem os grandes privilegiados por esse sistema
econômico, inicialmente expansão comercial também chegou a beneficiar a burguesia. No entanto, com o
passar dos séculos, assim como o absolutismo passou a restringir as liberdades e a limitar os poderes da
burguesia, o mercantilismo também se tornou um entrave econômico para os interesses dessa classe, que
passaram a não tolerar mais o protecionismo, o monopólio e as intervenções na economia.

8
História

Enfim, é importante ressaltar que a escravidão africana e o tráfico negreiro proveniente da colonização e da
expansão marítima também foram fontes de arrecadação de extrema importância para as monarquias
nacionais.

O pioneirismo Português na formação dos Estados Modernos

Dentro do processo de formação das monarquias modernas, Portugal se destacou por concretizar a sua
unificação de forma pioneira. Assim, a centralização do Estado português possibilitou que ainda no século
XIV se tornassem uma potência comercial e marítima.

Visto isso, antes de pensar a formação desse importante reino, vale destacar que antes da centralização, os
reinos da Península Ibérica conviveram com grande parte do território ocupado por mulçumanos desde a
invasão árabe no século VIII. Assim, a saga pela constituição dos reinos de Portugal e Espanha começou com
a própria retomada de seus territórios durante o que ficou conhecido como o processo de Reconquista.

Assim, entre o século VIII e o XV diversos conflitos foram deflagrados entre os monarcas católicos da região
e os árabes, disputando justamente a hegemonia política, religiosa e econômica da região, que tinha suma
importância por conta das rotas comerciais para o sul da Europa e o norte da África. Logo, apesar de Portugal
já ter conquistado a cidade do Faro, seu último território em 1249, foi apenas em 1492 que, enfim, os cristãos
reconquistaram todo a península com a tomada do Reino de Granada.

Tendo em vista todo esse processo ao longo dos séculos, podemos perceber que os reinos da Península
Ibérica visando se defender de possíveis novos avanços árabes, passaram a construir sistemas de defesa
cada vez mais sólidos, assim como fortaleceram as alianças militares e familiares entre os reinos cristãos.
Desta forma, ao longo das guerras de reconquistas, reinos como Aragão, Castela, Leão e Navarra surgiram.

Assim, foi neste cenário que nasceu o Reino de Portugal em 1139, através de uma cisão do Condado Portucal,
que pertencia ao Reino de Leão. D. Afonso Henriques, portanto, proclamou-se rei de Portugal e iniciou a
dinastia Borgonha, que teve fim apenas em 1383, com a morte de Fernando I, após grande sucesso na luta
contra os árabes e na expansão territorial.

A realidade do fim da dinastia Borgonha, que não havia legado um herdeiro ao trono estabeleceu, portanto,
uma crise de sucessão e atraiu o interesse expansionista de reinos vizinhos, como de Castela. Neste cenário
de incertezas quanto ao futuro, com a possibilidade de ser anexado e temendo perder sua autonomia, alguns
setores portugueses, como a burguesia e uma parte da nobreza, declararam seu apoio ao irmão bastardo do
rei falecido, João – conhecido também como Mestre de Avis. A burguesia portuguesa que já se encontrava
em um crescente sucesso econômico devido ao comércio no Mar Mediterrâneo e no Mar do Norte, proveu os
recursos financeiros para a manutenção do Exército que garantiu vitória de Dom João.

Assim, a vitória portuguesa marcou o processo conhecido como a Revolução de Avis, que consolidou o poder
monárquico em Portugal e unificou o país em torno da figura de Dom João I. O rei então iniciou uma política
de favorecimento à expansão econômica dos burgueses, que mudaram de patamar ao levar a sua expansão
para o Atlântico, abrindo caminho para novas rotas comerciais.

8
História

E a Espanha?

Até o século XV o território que virá a ser chamado de Reino da Espanha se encontrava
descentralizado e dividido em diversos reinos e vice-reinos como Leão, Castela, Aragão e
Granada (que ainda se encontrava em poder dos mouros). Com o casamento entre
Fernando, rei de Aragão, e Isabel, sucessora no trono de Castela, a unificação começa a
tomar forma após a morte do pai da herdeira e a decisão de unir as duas coroas. Conhecidos
popularmente como os “Reis Católicos”, Fernando e Isabel firmaram um acordo com a Igreja Católica a fim
de expulsar os árabes e os judeus do seu território criando assim um Tribunal do Santo Ofício - Inquisição –
na região sob a responsabilidade da coroa.

Assim, os Reis Católicos promoveram uma caçada política e religiosa contra aqueles considerados inimigos
durante o processo de Reconquista. Utilizada como um instrumento de controle, a Inquisição utilizou o terror
como forma de subjugar todos aqueles que questionassem o poder da monarquia espanhola.

Com a conquista de Granada em 1492, o último reduto de mulçumanos na Península Ibérica, consolidou-se
o Estado espanhol. Vale destacar que no mesmo ano, Cristóvão Colombo chegou às Américas, financiado
pela coroa espanhola que rivalizava com a expansão portuguesa. Fatores importantes, como a Universidade
de Salamanca, facilitaram a expansão marítima espanhola através do desenvolvimento de novas tecnologias
marítimas e de estudos humanistas. Com as Grandes Navegações e a conquista de possessões no além-mar,
a Espanha se tornou um dos maiores impérios comerciais do início da Era Moderna.

A monarquia a là francesa

O reino francês é considerado o primeiro a dar início ao processo de unificação


política, porém essa centralização monárquica foi interrompida devido a uma série de
conflitos com o reino inglês. Ainda no século X, sob o comando da Dinastia dos
Capetíngios, medidas como a salvaguarda – mecanismo de proteção das cidades
promovida pelo rei – iniciavam o aumento do poder em torno da figura do monarca.
Contudo, foi durante o reinado de Felipe II que de fato a centralização tomou consistência com a formação
de uma burocracia administrativa instituída pelo monarca para a cobrança de impostos e assuntos
econômicos.

Com Felipe IV (1285-1314) no poder, a expansão do poderio monárquico ficou ainda maior com a convocação
dos Estados Gerais – uma assembleia composta pelo clero, pela nobreza e pela burguesia – e a aprovação
da cobrança de impostos às propriedades da Igreja Católica. A decisão marcou o início de uma relação
conturbada entre a Igreja e o reino francês, conhecida como “Cisma do Ocidente”, uma vez que o papa
ameaçou excomungar o rei francês.

A Guerra dos Cem Anos (1337 -1453) entre a França e a Inglaterra foi um divisor de águas para ambas as
coroas e seu resultado impulsionou o processo de unificação monárquica francesa. O interesse inglês em
unir as duas coroas, sob o comando de Eduardo III, que se considerava o herdeiro direto do antigo rei, levou a
Inglaterra a invadir o território francês após a morte de Felipe IV, conhecido como O Belo. O conflito estimulou
a construção de um exército e a cobrança de impostos unificada para a sua manutenção na guerra contra os
ingleses por territórios que pertenciam ao reino. A durabilidade do conflito também possibilitou a criação de
um sentimento de pertencimento à população do território francês.

8
História

Com mais de cem anos de duração, a guerra foi composta por vitórias inglesas e francesas em momentos
diferentes. Contudo, o conflito terminou com a expulsão dos ingleses do reino francês e com a garantia da
unidade territorial. Terminada a guerra, a França consolida de vez a centralização política na figura do rei e,
a partir da expansão do poder dessa monarquia ao longo dos próximos séculos, ela se torna o símbolo do
absolutismo na Europa.

A Inglaterra e o absolutismo

Apesar de o absolutismo ter representado um regime político bem difundido pela Europa
durante a Idade Moderna, na Inglaterra, esse modelo não obteve uma longa estabilidade
como em outros Estados modernos do continente.

Assim como a França, a tentativa de centralização política ocorreu bem antes do início
da Idade Moderna sob o comando de Guilherme, o Conquistador, no século XI. A
imposição de impostos unificados e a obrigatoriedade do juramento de vassalagem
diretamente ao rei foram ações que visavam a centralização do poder na mão do monarca inglês. Com a
promulgação das Common Law – leis que valiam para todo o território – no reinado de Henrique II (1154-
1189) ocorre a tentativa de recrudescimento desse poder.

Porém, como dito anteriormente, os ingleses não eram muito fãs do absolutismo. Assim, em 1215, a nobreza
reage ao fortalecimento do poder do rei com a imposição da Magna Carta, ao rei conhecido como João Sem-
Terra, limitando o poder real e frustrando as tentativas de centralização. A manutenção da fragmentação
deste poder no início da Idade Moderna permitiu não só que as nobrezas regionais tivessem maior poder
como a própria burguesia ascendesse economicamente.

Com a derrota para a França na Guerra dos Cem Anos, essa descentralização foi interrompida apenas no
século XVI quando, após a Guerra das Duas Rosas (1455 – 1485), entre as famílias York e Lancaster pelo
trono inglês. Esse conflito foi responsável pelo enfraquecimento da nobreza e pela ascensão de Henrique VII,
da família Tudor ao trono e, posteriormente, Henrique VIII (1509-1547), que deu corpo ao absolutismo inglês.

Apesar da postura centralizadora deste rei, o absolutismo não conseguiu se estabilizar na Inglaterra, gerando
assim diversos conflitos com o parlamento e sendo muitas vezes responsável pelo crescimento das tensões
religiosas. O momento mais sensível entre rei e parlamento, no entanto, se configurou com a dinastia Stuart,
com Jaime I (1603 – 1625) e Carlos I (1625 – 1648), em um contexto conhecido pela Revolução Inglesa.

O Renascimento artístico e cultural


Considerado muitas vezes como um período histórico que marca o início da Idade Moderna, o chamado
Renascimento foi um movimento político e cultural que proporcionou diversas transformações na Europa
entre os séculos XIV, XV e XVI, sobretudo através de um afastamento do “pensamento medieval”.

Com o renascimento urbano e comercial e a retomada de importantes rotas do Mediterrâneo, a Europa ao


longo da Baixa Idade Média sofreu forte influência de outras regiões do mundo, como o Norte da África, o
Oriente Médio e a Ásia. Assim, a circulação de ideias, culturas, mercadorias e livros possibilitou que novas
formas de perceber a realidade se difundissem no ocidente.

8
História

Neste contexto, dentre os processos migratórios e a circulação de ideias e mercadorias pela região, destaca-
se principalmente a fuga dos sábios bizantinos para a “Itália”, após a queda de Constantinopla, em 1453,
levando consigo elementos da cultura clássica greco-romana preservados no oriente.

Assim, é aceito por muitos historiadores que o renascimento teria surgido na Península Itálica, espalhando-
se, posteriormente, por outras regiões europeias. Desta forma, as cidades pioneiras no desenvolvimento do
Renascimento, faziam parte dessa região, destacando-se Florença, no século XV, e, posteriormente, Roma e
Veneza, no século XVI.

Essas cidades, que hoje fazem parte do que conhecemos como a Itália, apresentavam significativo
desenvolvimento comercial, sendo dirigidas por uma classe de poderosos mercadores. Logo, com o comércio
marítimo pelo Mediterrâneo, esses grandes comerciantes burgueses acumularam enorme riqueza e
buscaram cada vez mais adotar práticas econômicas que permitissem a livre concorrência, o individualismo
e a busca racional do lucro.

Assim, a influência estrangeira e o desenvolvimento da burguesia construíram ao longo


dos séculos essa nova forma de perceber a realidade, o que transformou também a
maneira como os europeus se expressavam. Logo, a cultura, as artes, a política, as
relações com a religião e com a sociedade de uma forma geral foram afetadas por
novos elementos a serem valorizados, como a natureza, o hedonismo e o otimismo, o
antropocentrismo, a individualidade, as artes, a literatura e as poesias e até o pensamento greco-romano.
Todos esses elementos, desta forma, seriam vistos cada vez mais por uma perspectiva racional e humanista.
O racionalismo e o humanismo, portanto, foram as principais correntes de pensamento difundidas pelos
renascentistas e que se complementavam.

Primeiramente, a valorização da razão muito se contrapunha às explicações religiosas, às crenças e à fé que


dominou o período medieval. Portanto, ver o mundo de forma racional e se expressar através da razão,
significava entender e explicar a realidade com premissas e suposições lógicas e não místicas. Logo, na
sociedade renascentista, as explicações mitológicas para os fenômenos da natureza perderam espaço para
os cálculos, os experimentos e para as ciências.

Já o humanismo, por sua vez, também foi um elemento essencial do renascimento, pois reforçou a
necessidade de se observar o mundo racionalmente e destacou o ser humano como uma figura central da
criação divina. Assim, enquanto a sociedade medieval pode ser entendida pelo teocentrismo, ou seja, Deus
no centro de tudo, os renascentistas podem ser vistos como antropocêntricos, pois deslocam suas maiores
preocupações para os seres humanos, suas potencialidades e capacidades.

8
História

Assim, como visto, durante a Idade Média, apesar da existência de grandes universidades, predominou na
Europa o pensamento católico, muito marcado pelo espiritualismo cristão, pela ideia de comunidade, pela
crença em um iminente apocalipse, pelo teocentrismo e pela fé. Diante disso, as transformações do
renascimento se depararam com esses valores enraizados nas sociedades europeias e, assim, “pensadores
renascentistas” passaram a refletir sobre os séculos anteriores.

Desta forma, visando valorizar as mudanças e tendências de suas gerações, os renascentistas nomearam o
período anterior como Idade Média, pois estaria no meio, entre a antiguidade clássica e a era moderna. Com
isso, esses autores também trataram de produzir conhecimentos sobre o período destacando principalmente
as crises, a baixa produção de conhecimento e a decadência da Europa dominada pela fé.

Portanto, podemos perceber que o termo Idade Média, hoje, é visto por muitos historiadores como algo
pejorativo e ainda uma herança dos renascentista. A transição de um período para o outro não é algo tão
imediato e determinista e, apesar das mudanças, o Renascimento não foi uma ruptura drástica com a Idade
Média. Diversas características consideradas como “medievais” ainda persistiram ao longo dos séculos XVI,
XVII e XVIII, como o próprio sistema feudal, as servidões, a organização social e algumas leis e instituições,
como a própria Igreja Católica.

A arte renascentista
A arte renascentista, até hoje, é considerada por muitos pensadores como um dos momentos estéticos mais
relevantes da história. Obras como a Monalisa, a Última Ceia, a Criação de Adão e Pietá aparecem
constantemente referenciadas em produtos culturais. Ao pensarmos em “renascimento italiano” são essas
artes que facilmente surgem nas nossas ideias, como símbolos dessa geração.

No entanto, é importante destacarmos a relação dessas obras com o contexto que foram produzidas para
compreendermos melhor a relevância das mesmas.

Como visto, as grandes cidades italianas representaram um importante papel


comercial no Mediterrâneo ao longo da Idade Média, tornando a burguesia
local se tornou uma expressiva força econômica. Desta forma, todo o contato
com pensamentos e mercadorias estrangeiras e as mudanças nas formas de
pensar e ver o mundo possibilitaram que os burgueses também
representassem esse novo mundo de um jeito diferente.

Assim, visando difundir suas formas de ver o mundo e exaltar suas riquezas e conquistas, esses mercadores
passaram a financiar artistas e cientistas para que pintassem, esculpissem e escrevessem a partir dessa
perspectiva. Essa prática ficou conhecida como o mecenato e foi fundamental para o crescimento dos
artistas desse período. Por isso é comum observar obras renascentistas e perceber, por exemplo, paisagens
naturais, marcando o naturalismo, ou pinturas em forma de retrato, famosas como marcas do individualismo
e, principalmente, pinturas demonstrando riquezas, que valorizavam a boa vida e o otimismo burguês.

Vale lembrar que, de fato, os principais financiadores foram os burgueses, destacando-se inclusive célebres
famílias italianas, como os Médici, que foram comerciantes de Florença que dominaram a região com grande
poder político e influenciaram na difusão dos ideais renascentistas. No entanto, os trabalhos de alguns desses
artistas foram tão impressionantes que até mesmo a Igreja Católica e membros da nobreza europeia
passaram a praticar o mecenato.

8
História

Já no século XIV, por exemplo, as pinturas de Giotto di Bondoni representavam passagens bíblicas e valores
católicos, mas já com algumas características que logo marcariam a pintura renascentista. Ao invés de
reproduzir as técnicas medievais, que eram marcadas pela falta de profundidade e realismo, Giotto Bondoni
explorou a arte de forma racional, com profundidade espacial, perspectiva e realismo. Nas imagens a seguir,
podemos observar as diferenças entre a pintura medieval e a renascentista:

Pintura medieval do séc. XII na Igreja Santa Maria de Mosoll, Espanha.

A Lamentação”, de Giotto di Bondoni

A arte de Bondoni foi extremamente inovadora, rompeu com características da “arte medieval” e trouxe novas
técnicas para a pintura europeia, influenciando uma geração de novos artistas. Desta forma, nos séculos XV
e XVI, podemos destacar nomes como Masaccio, Sandro Botticelli, Rafael Sanzio, Michelangelo Buonarroti e
o famoso Leonardo da Vinci como seguidores dessas tendências.

8
História

Botticelli se tornou uma importante referência da pintura renascentista, ainda no XV, principalmente pela
valorização cultura greco-romana e de temas pagãos. Tendo em vista que as cidades do Mediterrâneo ainda
conviviam com as heranças arqueológicas da antiguidade, as estátuas de deuses e os mitos que contavam a
grandeza do passado apareceram de forma constante nas obras dos artistas da região. No caso de Botticelli,
sua pintura Nascimento de Vênus se tornou um dos maiores símbolos da arte renascentista, representando
justamente a deusa greco-romana.

Outro artista que também valorizou muito as influências classicistas foi


Michelangelo, que não só pintou usando técnicas racionais, como explorou
temas como o naturalismo, a religiosidade e o classicismo e trouxe esses
elementos inclusive para a escultura. Até hoje, a obra Davi, inspirada no herói
bíblico e na estética da antiguidade, surpreende pela riqueza dos detalhes e
pelo grande realismo anatômico.

Vale destacar que muitos desses artistas renascentistas, buscando valorizar esses novos elementos
artísticos, estudaram profundamente outros temas, como a religião, a história e as novas descobertas
científicas. Leonardo da Vinci, por exemplo, além de grande pintor, foi um entusiasta das ciências e das
tecnologias, dedicando-se ao longo da vida a diversos estudos diferentes, sobretudo de anatomia, astronomia,
matemática e à invenção de novas tecnologias. Desta forma, os detalhes anatômicos e racionais nas obras
de da Vinci e Michelangelo são simplesmente frutos de todos esses minuciosos estudos sobre a anatomia
humana. Abaixo, podemos observar os esboços e uma pintura de Leonardo da Vinci e perceber como sua
obra é racional, simétrica e anatomicamente precisa:

Desenho de esboço de Leonardo da Vinci feito a lápis.

8
História

Desenho. Esboço feito a lápis de uma pintura de Leonardo da Vinci.

“A última ceia”, de Leonardo da Vinci.

Assim, a aproximação entre a arte e as ciências foi algo muito comum entre os artistas do renascimento, que
tanto valorizavam a razão e o humanismo. Logo, em um contexto mudanças culturais e de grande incentivo
à razão, o meio científico também foi impactados pelas transformações.

8
História

O pensamento científico no renascimento


No âmbito da ciência, o método experimental e a reflexão racional foram fundamentais para impulsionar
novas descobertas. Assim, durante os séculos XIV, XV e XVI, percebe-se um grande desenvolvimento de
diversos campos, como a matemática, a astronomia, a biologia, a física, a química e também um grande
avanço técnico e tecnológico.
Neste período alguns nomes se tornaram extremamente relevantes para o renascimento científico, sendo o
principal deles o de Galileu Galilei. Nascido na península Itálica, Galilei propôs que o racionalismo matemático
fosse a base de todo o pensamento científico. Em seus estudos, o cientista foi extremamente influenciado
por outro astrônomo renascentista, Nicolau Copérnico. Ambos defendiam nos séculos XV e XVI que a teoria
geocêntrica de grego Claudio Ptolomeu (100 d.C.), não se sustentava através das observações e cálculos
matemáticos.

Assim, apesar da hipótese de Copérnico já defender um modelo heliocêntrico, no qual o centro do sistema
solar seria o sol e não a terra, foi Galileu Galilei quem deu importante continuidade a esse pensamento através
de cálculos, chegando a incomodar a Igreja Católica, que defendia o geocentrismo.

Vale destacar que outros nomes desse período também foram importantes para o que alguns autores
denominam como a “Revolução Científica”, como Giordano Bruno (1548-
1600), Tycho Brahe (1546-1601), Johannes Kepler (1571-1630), René
Descartes (1596-1650) e, para alguns autores, até Isaac Newton (1643-
1727). Apesar dos diversos obstáculos e de alguns deles terem sido
condenados pela inquisição católica, muitos deles, no entanto,
encontraram algumas condições favoráveis para a produção científica
nesses séculos. Nesse ponto, destaca-se sobretudo a invenção da
chamada prensa de tipos móveis, por Johannes Gutenberg.

Durante a Idade Média, a preservação e circulação de livros era algo extremamente difícil, tanto pela
reprodução das obras quanto pelas censuras. Assim, normalmente eram monges os responsáveis por
guardar obras consideradas relevantes e reproduzir manualmente os textos que circulariam, já que poucas
pessoas sabiam escrever. Essa realidade, portanto, era um grande obstáculo para a circulação de
conhecimentos, sobretudo os científicos.

Assim, no ano 1450, o alemão Gutenberg criou uma máquina considerada por muitos historiadores como a
grande invenção do renascimento. A prensa móvel era capaz de organizar letras e imprimir em folhas os
textos. A nova tecnologia possibilitou não só que livros fossem reproduzidos em maior quantidade, como
ajudou a construir todo um complexo mercado de textos na Europa, que se aproveitou das expansões
comerciais e marítimas para alcançar ainda mais locais distantes. Essa nova imprensa que surgia na Europa
e esse mercado de livros, portanto, foi fundamental para a difusão das ideias desses cientistas
contemporâneos.

8
História

Poetas e escritores renascentistas


A prensa de Gutenberg, como visto, construiu na Europa uma nova realidade para a publicação de livros e
textos, difundindo cada vez mais ideias e o hábito da leitura. Assim, se os cientistas do período se
aproveitaram do novo mercado e do alcance de suas obras, os nomes da literatura não ficaram para trás.

Ainda no século XIV, autores como Dante Alighieri, Giovanni Boccaccio e Petrarca, na Península Itálica, já
apresentavam em seus livros algumas características marcantes do renascimento. O hedonismo, o realismo,
o naturalismo, antropocentrismo, os valores greco-romanos e as temáticas religiosas podem ser encontradas
em obras clássicas, como O Decameron, Odes a Laura e A Divina Comédia.

As características em comum entre esses autores, principalmente quanto ao uso de línguas similares,
possibilitou inclusive que a literatura se tornasse uma importante ferramenta de união. Logo, em um contexto
de formação dos Estados Modernos, alguns autores renascentistas se tornaram grandes representantes das
culturas, artes e identidades das futuras nações. Nos nomes citados acima, os escritores, hoje, são
extremamente identificados com a identidade italiana, ainda que a Itália tenha se unificado apenas no século
XIX.

No entanto, outros autores estiveram mais próximos a esses processos de centralização, como é o caso, por
exemplo, de Miguel de Cervantes, com a cultura espanhola, Luís de Camões, narrando as heróicas aventuras
portuguesas e William Shakespeare, nome fundamental do teatro inglês.

Dica: Se fossemos sintetizar os elementos mais importantes do Renascimento, teríamos:


• A valorização da cultura greco-romana, com o classicismo.
• A valorização do homem, com o antropocentrismo e o humanismo.
• A importância da natureza e de seus fenômenos;
• O racionalismo e o espírito crítico.

Reforma Protestante
Durante a Idade Média, a Igreja Católica tinha grande poder e era detentora de muitas riquezas. Muitos
monges acumularam vastas riquezas através das doações que recebiam de fiéis que buscavam perdão por
seus pecados. Por volta do ano 1000 essa onda de doações se tornou ainda maior, visto que a crença na
proximidade do fim do mundo desesperava muitos fiéis, que tentavam de tudo para conseguir o perdão. De
fato, o apego de parte deste clero a tais bens materiais acabou gerando muitas críticas e denúncias por parte
de fiéis que não concordavam com essa ostentação e, antes mesmo das grandes reformas protestantes, já
iniciavam na Idade Média uma leve ruptura com o catolicismo, através da criação de seitas, facções e
orientações que divergiam da doutrina católica. Esses movimentos acabaram condenados como heresias.

O ponto mais alto dessas divergências e da criação de novas correntes religiosas durante a Idade Média
ocorreu em 1054, com o chamado Cisma do Oriente. Há séculos que a Igreja Católica do Império Bizantino e
a de Roma estavam distantes, defendendo inclusive doutrinas que divergiam em certos pontos. No entanto,
o momento mais sensível na relação entre as duas partes ocorreu quando o Papa decidiu excomungar o
patriarca bizantino Miguel Cerulário, que, insatisfeito, proclamou a separação definitiva das duas igrejas,
criando, enfim a Igreja Católica do Oriente, ou a Igreja Ortodoxa, em Constantinopla.

8
História

Com a consolidação da Idade Moderna crescia a insatisfação de alguns grupos sociais em relação a isso.
Enquanto os reis nutriam insatisfação em relação ao excesso de poder e terras da igreja católica, a burguesia
em ascensão incomodava-se com a condenação da usura (lucro) por parte da igreja.

Somado a isso, no século XVI, as críticas a determinadas práticas da Igreja ganharam um novo fôlego,
sobretudo, após o Renascimento, movimento que valorizou a razão e permitiu o questionamento da lógica
teocêntrica. Dentre as práticas criticadas, estavam:

• A venda do perdão (indulgência)


• A venda de objetos supostamente sagrados
• A nomeação de familiares para cargos eclesiásticos (nepotismo)

Apesar de tentativas anteriores, a reforma iniciou-se a partir de Martinho Lutero,


um monge católico que estava insatisfeito com algumas das práticas realizadas
pela Igreja Católica. A atuação de Lutero teve como ponto de partida a divulgação
das 95 teses, em 1517, que rapidamente espalharam-se pela Europa e deram
origem ao movimento reformista. A doutrina luterana defendia a ideia de
“Justificação pela fé”, ou seja, de que a salvação é resultado essencialmente da
fé em Deus.

Diante de suas críticas à igreja Católica, Lutero foi excomungado pelo papa e a sua sobrevivência foi garantida
pela nobreza feudal da região que, hoje, chamamos de Alemanha. Através da Confissão de Augsburgo,
sintetizou os principais elementos da religião luterana:
• Livre interpretação da Bíblia.
• Manutenção dos sacramentos do batismo e da eucaristia, suprimindo-se
todos os outros.
• Fim da proibição do casamento para os clérigos (celibato).

Outro importante reformador foi João Calvino, que elaborou a Teoria da Predestinação, ou seja, a ideia de
que viemos ao mundo predestinados por Deus à salvação ou a condenação. Os sinais da escolha divina se
manifestariam na vida dos indivíduos. O trabalho e o cumprimento dos deveres seriam alguns desses sinais.
No pensamento calvinista, consolidou-se a ideia de que, com a vida dedicada ao trabalho era possível, por
meio do progresso material, saber se o homem era ou não predestinado à salvação.

O pensamento calvinista trouxe grande transformação na concepção de trabalho.


Na Idade Média, o trabalho era visto como forma de penitência ou castigo. Segundo
Max Weber, em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, a transformação
operada pelo calvinismo foi central ao desenvolvimento do modo de produção
capitalista, já que valorizava o trabalho e os ganhos materiais como sinais de graça
divina. Não por acaso, o calvinismo se tornou uma religião essencialmente burguesa. Já que, ao contrário da
igreja católica – que condenava a usura – João Calvino valorizava o trabalho e os ganhos materiais.

Seu sucesso entre a burguesia levou a expansão da religião, inclusive para o continente americano, e seus
fiéis ficaram conhecidos de diversas formas, como os presbiterianos na Escócia, como os puritanos na
Inglaterra e como huguenotes na França.

8
História

Na esteira do reformismo religioso, o Anglicanismo surgiu de forma completamente distinta das duas
religiões citadas anteriormente. Enquanto Calvinismo e Luteranismo nascem promovendo uma série de
críticas a algumas práticas do catolicismo romano, a Igreja Anglicana surge de interesses particulares de
Henrique VIII, monarca inglês. O rompimento com a instituição religiosa veio após a negação do seu divórcio
com Catarina de Aragão, uma vez que tal ato não era permitido pela Igreja.

A questão é que o rei não havia conseguido ter herdeiros homens com a sua esposa e queria se divorciar para
se casar com Ana Bolena. Tendo o seu pedido negado pela Igreja, Henrique decide se separar de acordo com
sua vontade a acaba sendo ex-comungado pelo papa Clemente VII. Aproveitando tal ato, o rei, aliado ao
parlamento, decreta o rompimento concreto das relações entre a Igreja Católica e a monarquia inglesa com
a promulgação do Ato de Supremacia, em 1534. O ato, além de fundar a Igreja Anglicana, tornou Henrique VIII
o chefe religioso da mesma. Além disso, o parlamento confiscou os bens da Igreja Católica no território inglês.

Apesar de comumente ouvirmos falar que a separação foi causada pela recusa do divórcio, a historiografia
entende que o rompimento já era algo desejado a um bom tempo pelo monarca, uma vez que a Igreja possuía
muito poder dentro do território inglês e era uma das principais detentoras de terras. Ou seja, o divórcio foi
apenas um pretexto utilizado para concretizar tal objetivo.

Todo o clima de reformulação religiosa contribuiu para um ambiente de instabilidade na Europa com a eclosão
de revoltas camponesas que utilizaram o discurso religioso para pleitear questões políticas, econômicas e
sociais. O movimento Anabatista, que tinha em Tomás Müntzer um de seus líderes, aspirava uma reforma
religiosa e social muito mais radical do que se propunha Lutero. A ideia dos camponeses que faziam parte do
movimento era de divisão de riquezas e a vivência de uma religiosidade ligada a igualdade e a humildade.
Duramente criticado por Lutero, o movimento foi abafado pela nobreza feudal alemã.

A intensa disputa religiosa entre protestantes e católicos também foi um dos fatores que levou a Guerra dos
Trinta Anos (1618-1648). O conflito reuniu uma série de países europeus, mas envolveu principalmente a
região que hoje é a Alemanha. A disputa entre protestantes e católicos foi o pano de fundo de um conflito que
envolvia muito mais do que a religião, o que estava em jogo eram as disputas territoriais, comerciais e a
afirmação de poder de Monarquias recém-formadas. A intolerância e as disputas religiosas foram um dos
principais componentes da sangrenta guerra que só acabou com a assinatura de diversos documentos, ao
longo do ano de 1648, que ficaram conhecidos como o Tratado/Paz de Vestfália.

8
História

Contrarreforma
Como vimos até aqui, o contexto de criticas e rompimentos fez com que a Igreja perdesse a sua hegemonia
religiosa em algumas partes da Europa. A insatisfação com a instituição não vinha apenas dos protestantes,
mas também dos católicos que não concordavam com determinadas práticas, como a venda de indulgências.
Tentando gerenciar tais reivindicações e barrar a expansão do protestantismo pelo Velho Continente, e pelo
Novo Mundo também, a Igreja realizou a Contrarreforma.

A resposta da Igreja veio entre os anos de 1545 e 1563 com o Concilio de Trento, aonde as
principais lideranças da instituição se reuniram para criar propostas para o fortalecimento da do
catolicismo mediante as reformas protestantes. Dentre as permanências, podemos citar: a
confirmação da importância dos sete sacramentos, o culto as imagens de santos e a Virgem
Maria, o domínio da interpretação das escrituras sagradas, o papel de intermediador do clero e
a infalibilidade do papa.

No que concerne as modificações, pode ser apontado a criação de ordens que possuíam a incumbência de
levar a palavra sagrada para mais próximo do povo e promover o auxílio aos mais necessitados, proibição da
venda de indulgências e a criação de seminários pra a formação de novos religiosos. Foi criado, além disso,
uma lista de livros proibidos - Index Librorum Prohibitorum - em uma época em que a imprensa criada por
Gutenberg havia facilitado a difusão da cultura escrita. E, para atuar nos novos territórios descobertos, houve
a utilização da recém-criada Companhia de Jesus, cujo objetivo era a expansão da fé e a catequização dos
nativos através dos jesuítas.

Ainda ocorreu a reativação do Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição, com a intenção de perseguir todos
aqueles que eram considerados hereges, como os protestantes, os acusados de praticar bruxaria, pensadores
que se posicionavam contra as ideias da Igreja e até mesmo os novo-cristãos, acusados de praticar o
judaísmo. Com a sua retomada, houve a perseguição desenfreada a milhares de pessoas que poderiam ser
torturadas, condenadas ao confisco de seus bens, a excomunhão e até a morte na fogueira.

Contudo, é importante salientar que muitos historiadores consideram que a Contrarreforma foi um movimento
iniciado ainda no século XV, conhecido como reforma interna, que a Igreja já vinha fazendo devido ao aumento
das criticas a algumas de suas práticas religiosas. A Reforma Protestante teria apenas acelerado o processo
de renovação interna da igreja de Roma.

O estilo artístico Barroco também surgiu nesse momento de crise e tentativa de renovação da Igreja com a
intenção de mostrar a grandiosidade e reafirmar os valores católicos através de representações artísticas
ligadas a religiosidade.

8
História

Exercícios de fixação

1. Apesar dos pensadores e artistas do renascimento apresentarem suas próprias particularidades,


muitos deles compartilharam características comuns, como:
a) A defesa do pensamento iluminista.
b) A crítica ao absolutismo monárquico.
c) A valorização da cultura greco-romana.

2. Uma das grandes características do pensamento renascentista foi a valorização do indivíduo e de


sua própria individualidade, algo diferente do que se via na Idade Média. Podemos destacar como
uma presença desse elemento nas pinturas a seguinte característica:
a) A dedicação aos temas religiosos.
b) A presença de assinaturas pessoais nas obras.
c) A produção em massa das obras.

3. O processo de centralização política dos reinos da Península Ibérica foi marcado por conflitos
antecedentes, como:
a) As guerras entre as dinastias Tudor e Stuart.
b) As chamadas Guerras de Reconquista contra os povos árabes.
c) A disputa pelo trono português na Revolução dos Cravos.

4. Ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, os processos de centralização política na Europa deram
origem aos Estados Modernos. No entanto, a concentração do poder nas mãos de alguns reis, com
o tempo também deu início as chamadas práticas absolutistas. Cite duas características do
absolutismo.

5. Qual a importância da Companhia de Jesus no contexto da Contrarreforma?

8
História

Exercícios de vestibulares

1. (Enem, 2009) O que se entende por Corte do antigo regime é, em primeiro lugar, a casa de habitação
dos reis de França, de suas famílias, de todas as pessoas que, de perto ou de longe, dela fazem parte.
As despesas da Corte, da imensa casa dos reis, são consignadas no registro das despesas do reino da
França sob a rubrica significativa de Casas Reais.
(ELIAS, N. A sociedade de corte. Lisboa: Estampa, 1987.)
Algumas casas de habitação dos reis tiveram grande efetividade política e terminaram por se
transformar em patrimônio artístico e cultural, cujo exemplo é:
a) o palácio de Versalhes.
b) o Museu Britânico.
c) a catedral de Colônia.
d) a Casa Branca.
e) a pirâmide do faraó Quéops.

2. (Enem, 2012) Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender as leis ou seu
cumprimento. Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem o concurso do Parlamento,
sob pretexto de prerrogativa, ou em época e modo diferentes dos designados por ele próprio. Que é
indispensável convocar com frequência os Parlamentos para satisfazer os agravos, assim como para
corrigir, afirmar e conservar leis. Declaração de Direitos.
(Disponível em: http://disciplinas.stoa.usp.br Acesso em: 20 dez. 2011 (adaptado).)

No documento de 1689, identifica-se uma particularidade da Inglaterra diante dos demais Estados
europeus na Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime político que predominavam na Europa
continental estão indicados, respectivamente, em:
a) Redução da influência do papa – Teocracia.
b) Limitação do poder do soberano – Absolutismo.
c) Ampliação da dominação da nobreza – República.
d) Expansão da força do presidente – Parlamentarismo.
e) Restrição da competência do congresso – Presidencialismo.

8
História

3. (Enem, 2011) Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar seu domínio sobre a
natureza e sobre o espaço geográfico, através da pesquisa científica e da invenção tecnológica, os
cientistas também iriam se atirar nessa aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço,
a luz, a cor e mesmo a expressão e o sentimento.
SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984.

O texto apresenta um espírito de época que afetou também a produção artística, marcada pela
constante relação entre:
a) fé e misticismo.
b) ciência e arte.
c) cultura e comércio.
d) política e economia.
e) astronomia e religião.

4. (Enem, 2006) “O que chamamos de corte principesca era, essencialmente, o palácio do príncipe. Os
músicos eram tão indispensáveis nesses grandes palácios quanto os pasteleiros, os cozinheiros e os
criados. Eles eram o que se chamava, um tanto pejorativamente, de criados de libré. A maior parte dos
músicos ficava satisfeita quando tinha garantida a subsistência, como acontecia com as outras
pessoas de classe média na corte; entre os que não se satisfaziam, estava o pai de Mozart. Mas ele
também se curvou às circunstâncias a que não podia escapar”.
(Norbert Elias. Mozart: sociologia de um gênio. Ed. Jorge Zahar, 1995, p. 18 (com adaptações).)

Considerando-se que a sociedade do Antigo Regime dividia-se tradicionalmente em estamentos:


nobreza, clero e 3° Estado, é correto afirmar que o autor do texto, ao fazer referência a “classe média”,
descreve a sociedade utilizando a noção posterior de classe social a fim de:
a) aproximar da nobreza cortesã a condição de classe dos músicos, que pertenciam ao 3º. Estado.
b) destacar a consciência de classe que possuíam os músicos, ao contrário dos demais
trabalhadores manuais.
c) indicar que os músicos se encontravam na mesma situação que os demais membros do 3.°
Estado.
d) distinguir, dentro do 3.° Estado, as condições em que viviam os “criados de libré” e os camponeses.
e) comprovar a existência, no interior da corte, de uma luta de classes entre os trabalhadores
manuais.

8
História

5. (Enem, 2015)

As diferentes representações cartográficas trazem consigo as ideologias de uma época. A


representação destacada se insere no contexto das Cruzadas por:
a) Revelar aspectos da estrutura demográfica de um povo.
b) sinalizar a disseminação global de mitos e preceitos políticos.
c) utilizar técnicas para demonstrar a centralidade de algumas regiões.
d) mostrar o território para melhor administração dos recursos naturais.
e) refletir a dinâmica sociocultural associada à visão de mundo eurocêntrica.

6. (Enem, 2020) Desde o mundo antigo e sua filosofia, que o trabalho tem sido compreendido como
expressão de vida e degradação, criação e infelicidade, atividade vital e escravidão, felicidade social e
servidão. Trabalho e fadiga. Na Modernidade, sob o comando do mundo da mercadoria e do dinheiro,
a prevalência do negócio (negar o ócio) veio sepultar o império do repouso, da folga e da preguiça,
criando uma ética positiva do trabalho.
ANTUNES. R. O século XX e a era da degradação do trabalho, ln: SILVA. J. P (Org.). Por uma sociologia do século XX. São
Paulo Annablume, 2007 (adaptado).

O processo de ressignificação do trabalho nas sociedades modernas teve inicio a partir do surgimento
de uma nova mentalidade, influenciada pela
a) reforma higienista, que combateu o caráter excessivo e insalubre do trabalho fabril.
b) Reforma Protestante, que expressou a importância das atividades laborais no mundo secularizado.
c) força do sindicalismo, que emergiu no esteio do anarquismo reivindicando direitos trabalhistas.
d) participação das mulheres em movimentos sociais, defendendo o direito ao trabalho.
e) visão do catolicismo, que, desde a Idade Média, defendia a dignidade do trabalho e do lucro.

8
História

7. (Enem, 2010) “O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito
é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do
que outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levem ao assassínio e ao roubo.”
(MAQUIAVEL, N. O Príncipe, São Paulo: Martin Claret, 2009.)

No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão sobre a Monarquia e a função do governante. A
manutenção da ordem social, segundo esse autor, baseava-se na:
a) inércia do julgamento de crimes polêmicos.
b) bondade em relação ao comportamento dos mercenários.
c) compaixão quanto à condenação de transgressões religiosas.
d) neutralidade diante da condenação dos servos.
e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe.

8. (Enem, 2011) Se a mania de fechar, verdadeiros hábitos da mentalidade medieval nascido talvez de um
profundo sentimento de insegurança, estava difundida no mundo rural, estava do mesmo modo no meio
urbano, pois que uma das características da cidade era de ser limitada por portas e por uma muralha.
(DUBY, G. e t al. “Séculos XIV-XV”. In: ARIÈS, P.; DUBY, G. História da vida privada da Europa Feudal à Renascença. São Paulo:
Cia. das Letras, 1990 (adaptado).)

As práticas e os usos das muralhas sofreram importantes mudanças no final da Idade Média, quando
elas assumiram a função de pontos de passagem ou pórticos. Este processo está diretamente
relacionado com:
a) o crescimento das atividades comerciais e urbanas.
b) a migração de camponeses e artesãos.
c) a expansão dos parques industriais e fabris.
d) o aumento do número de castelos e feudos.
e) a contenção das epidemias e doenças.

8
História

9. (Enem, 2012)

(Charge anônima. BURKE, P. A fabricação do rei. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. (Foto: Enem).)

Na França, o rei Luís XIV teve sua imagem fabricada por um conjunto de estratégias que visavam
sedimentar uma determinada noção de soberania. Neste sentido, a charge apresentada demonstra
a) a humanidade do rei, pois retrata um homem comum, sem os adornos próprios à vestimenta real.
b) a unidade entre o público e o privado, pois a figura do rei com a vestimenta real representa o
público e sem a vestimenta real, o privado.
c) o vínculo entre monarquia e povo, pois leva ao conhecimento do público a figura de um rei
despretensioso e distante do poder político.
d) o gosto estético refinado do rei, pois evidencia a elegância dos trajes reais em relação aos de
outros membros da corte.
e) a importância da vestimenta para a constituição simbólica do rei, pois o corpo político adornado
esconde os defeitos do corpo pessoal.

10. (Enem, PPL, 2017) O garfo muito grande, com dois dentes, que era usado para servir as carnes aos
convidados, é antigo, mas não o garfo individual. Esta data mais ou menos do século XVI e difundiu-se
a partir de Veneza e da Itália em geral, mas com lentidão. O uso só se generalizaria por volta de 1750.
(BRAUDEL, F. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII; as estruturas do cotidiano. São Paulo: Martins
Fontes, 1977 (adaptado).)
No processo de transição para a modernidade, o uso do objeto descrito relaciona-se à:
a) construção de hábitos sociais.
b) introdução de medidas sanitárias.
c) ampliação das refeições familiares.
d) valorização da cultura renascentista.
e) incorporação do comportamento laico.

Sua específica é humanas e quer continuar estudando esse assunto?


Clique aqui para fazer uma lista de exercícios extras.

8
História

Gabaritos

Exercícios de fixação

1. C
O classicismo foi uma característica marcante nas pinturas renascentistas, presente na forma como
pintavam os corpos, nas paisagens, na arquitetura e até nos temas escolhidos para serem representados
artisticamente.

2. B
As obras da Idade Média não eram assinadas, portanto, não possuíam uma fácil identificação do artista.
Durante o renascimento, no entanto, a valorização do indivíduo colocou o artista em um novo plano, como
parte da própria obra através de sua assinatura.

3. B
Com a Península Ibérica dominada pelos povos Árabes desde a Alta Idade Média, os povos cristãos da
região, que se diziam descendentes dos antigos visigodos, tentaram durante séculos retomar as terras
através de conflitos. Esse processo ficou conhecido pelos portugueses como “Reconquista” e foi
fundamental para a centralização política e a formação de reinos na região.

4. Dentre as características do absolutismo que podem ser citadas estão: a concentração dos poderes nas
mãos de um monarca, a fundamentação do regime através da teoria do Direito Divino, a intervenção do
Estado na vida privada, censurado e impedindo a liberdade dos súditos, a valorização dos privilégios
nobiliárquicos, a interferência real em assuntos religiosos, a concentração da carga tributária no terceiro
estado e a transmissão hereditária do poder e a adoção de práticas mercantilistas.

5. Em um contexto de expansão do protestantismo, a Igreja Católica decidiu utilizar a Companhia de Jesus


para promover a evangelização dos nativos nos novos territórios “descobertos” (África, Ásia e América)
com o intuito de conquistar mais fiéis e de barrar o crescimento das novas religiões.

Exercícios de vestibulares

1. A
O Palácio de Versalhes é um dos maiores símbolos do período absolutista por ter sido durante séculos
um luxuoso cenário para a corte francesa e para a tomada de decisões políticas.

2. B
O texto aborda a questão da limitação do poder monárquico na Inglaterra pelo parlamento e se refere
também aos possíveis excessos do poder Real, que podiam ser observados na Europa do período através
dos regimes absolutistas.

8
História

3. B
A revolução científica e o renascimento artístico muitas vezes cruzaram seus caminhos, sobretudo
através de personalidades como Michelangelo e Leonardo Da Vinci, que valorizavam a observação, os
estudos científicos e a razão como ferramentas para se criar uma obra de arte.

4. C
Apesar de conviverem em relação de proximidade com a corte, os músicos pertenciam ao terceiro
estado, assim como a burguesia, os camponeses, etc.

5. C
Durante o período das cruzadas, um dos grandes objetivos católico foi a retomada de Jerusalém, cidade
considerada sagrada para muitas religiões. Logo, no mapa, podemos observar a cidade representada no
centro do mundo, como algo importante e disputado por todos.

6. B
A mentalidade católica, desde a Idade Média, via o trabalho físico muitas vezes como uma condenação,
como algo que não deveria ser valorizado. Essa mentalidade muda com a reforma protestante, pois
doutrinas como a calvinista passam a perceber o trabalho e a riqueza gerada por ele como um sinal de
salvação.

7. E
Maquiavel aconselhava o soberano a balancear o uso da força, a fim de passar a imagem de um
governante justo.

8. A
Durante a baixa idade média, o renascimento das atividades comerciais e o processo de migração dos
campos para os meios urbanos remodelou o convívio social e as formas de defesa e deslocamento do
período. Assim, muralhas, pontes e portas passaram a limitar o espaço urbano para evitar saques,
ataques e inimigos.

9. E
No regime absolutista, o Rei era visto como uma figura sagrada e, muitas vezes, como a encarnação do
próprio Estado. Desta forma, para convencer seus súditos do poder real, o governante precisava
esconder seus defeitos e construir uma imagem de beleza, glória e força.

10. A
No processo de construção dos regimes absolutistas e de consolidação das cortes ao redor do Rei, a
formação de hábitos sociais que distinguissem os diferentes estados era fundamental. Portanto, hábitos
como o uso de talheres foram difundidos pela Europa entre os nobres para reforçar as diferenças sociais.

Você também pode gostar