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Rosalie Ash
Julia 937
Um casamento precipitado...
Kim sabia muito bem como terminava esse tipo de casamento. Casara-se com Brad após
um romance relâmpago e só descobrira seu terrível segredo quando já era tarde
demais.
Resultado: fugira, abandonando o noivo ainda durante a festa de casamento!
Brad não podia aceitar o fim de seu casamento e seguiu a esposa até a França para
tentar reconquistá-la. Não queria falar sobre o passado.
Para ele, só o futuro importava. Mas será que conseguiria convencer Kim de que o
importante era o hoje e o amanhã, e não o ontem?
Digitalização: Joyce
Revisão: Nete
Formatação: Raquel
Julia 937 Esse Estranho Amor Rosalie Ash
Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos, de fãs para fãs.
Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida.
Cultura: um bem universal.
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CAPÍTULO I
Ofegando e com o coração descontrolado, Kim participou do ritual das assinaturas nos
registros. Não tinha consciência da presença de ninguém, além de Brad. Era a esposa de
Brad. Sra. Brad Baldwin. E, o marido, moreno, misterioso, carismático, beijara-a publicamente,
Sentia-se caminhando nas nuvens, flutuando pela nave, de braço com Brad, ao som do
órgão, sob os olhares de admiração dos convidados. Apesar do sol da manhã, Kim tremeu ao
vento do mês de agosto quando entraram no Rolls-Royce reluzente que os levaria ao local da
recepção. — Se não fosse para agradar sua mãe, escaparíamos da festa e iríamos direto para
Ela riu, tocando-lhe a face. Brad beijou-a novamente. Aninhada nos braços dele, sentiu a
de prazer e apreensão. Mas, uma apreensão agradável por ser a sra. Brad Baldwin, pela
perspectiva da lua-de-mel numa ilha do Caribe e por imaginar o que transcorreria na doce
Era apenas uma pontada de apreensão. Absolutamente não era uma premonição. Até o
momento exato em que tudo começou a dar errado, não tivera a mínima premonição do
desastre...
— Quem teve a ideia luminosa de desenhar um vestido de noiva como este? — Brad
aeroporto. Os dedos impacientes roçavam na curva dos seios dela, enquanto abriam a longa
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O vestido de seda creme, com bordados delicados, realçava a pele clara de Kim.
Brad tirara o elegante terno cinza. O roupão revelava a pele bronzeada do peito
musculoso. O brilho de desejo nos olhos dele provocaram um tremor nos joelhos de Kim.
EIa se sentia ridiculamente nervosa. Também o desejava. Tanto, que sentia a garganta
seca e o coração aos saltos, mas, com o vôo marcado, não teriam tempo para fazerem amor.
Ou teriam?
— Talvez, o estilista tenha firmes convicções no que diz respeito à castidade feminina —
ela arriscou.
— Oh, Brad...
afastou-se contrafeito para atendê-lo. Kim acompanhou-o com o olhar, enquanto tentava
Brad ouvia o que a pessoa dizia do outro lado, passando os dedos pelos cabelos, num gesto
— O que aconteceu?
— Meu padrinho de casamento está com um pequeno problema — ele respondeu com
Depois de vestir a calça e a camisa esportes que separara , para a viagem, ele a beijou
— Quando eu voltar, se ainda estiver com esse vestido, juro como o rasgarei. —
Momentos depois, Kim ouviu uma batida na porta. Pensando que fosse Brad, sem a
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chave, correu para abri-la. Deparou-se com Lucinda, a madrinha, radiante em seu vestido
— Uma encomenda misteriosa para você. — Entrou no quarto, largando o envelope sobre
a penteadeira. Olhou ao redor com ar surpreso. — O que aconteceu com seu mari-dinho? Não
— Curtis ligou. Parece que está com problemas. Brad desceu para conversar com ele. O
a num misto de afeto e inveja. — Uau, você teve uma sorte danada casando com esse homem
divino. O jeito como ele a olhou, como a beijou no altar... Oh, Deus, Kim, eu quase morri!
— Que eu saiba, esta é a primeira vez que foi madrinha de um casamento! — Kim
brincou.
— Bem, é verdade. Ah, imagine você, que Curtis e eu estamos nos entendendo muito
bem. Quem sabe se não serei a próxima a casar-se com um milionário americano?
— Como pode afirmar que Curtis é milionário, se acabou de conhecê-lo? — Rindo, Kim
— Precisa de ajuda?
fazendo isso.
— A noiva inocente! Como uma donzela da época vitoriana! — Riu com gosto. — Não
me diga que ainda sente vergonha dele! Kim, minha querida, sei que você o conhece há pouco
tempo, mas, além do fato de certamente já ter ido para a cama com ele, vocês trabalham
juntos e...
— Lucy, você é minha amiga e eu a considero muito, porém, gostaria que cuidasse
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apenas da sua vida — Kim a interrompeu com firmeza. O rubor desaparecera. Respirando
— Ok, ok. Mas, se precisar de conselhos, não esqueça de chamar titia Lucinda. — Com
um gesto de cabeça, apontou o envelope. — Por favor, abra essa encomenda. Estou morrendo
de curiosidade.
Segurando-o, Kim examinou-o com uma ponta de desconfiança. Não tinha remetente,
apenas os dizeres "A atenção da sra. Brad Baldwin. Urgente e Confidencial". Não reconhecia
a caligrafia.
— Duvido. A menos que Philip tenha decidido vingar-se por ter sido abandonado.
Philip Sefton-Brook era o rapaz "bem-nascido" de quem era noiva até o momento em
que Brad Baldwin entrara em sua vida como um furacão, virando tudo de cabeça para baixo.
Entretanto, por mais estranho que parecesse, ela de-testara Brad a princípio. Depois, com o
— Não creio que Philip tomaria uma atitude tão agres-siva. — Sentando-se na cadeira
diante da penteadeira, Kim abriu o envelope, colocando seu conteúdo sobre o móvel. — Além
Manuseou os papéis espalhados à sua frente. Havia uma carta anónima, formulários
— Lucy... — Sua voz soara distante, estranha. — Por favor, vá... e veja se Brad já
— Sim, mas... Kim, você está bem? E a carta? Erguendo a cabeça, Kim viu o rosto da
amiga refletido no
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Assim que Lucinda saiu, ela se levantou num salto, fechando a porta à chave. Depois,
examinou novamente os papeis, com o coração batendo forte. Quanto tempo ficou lá sentada,
olhando para o conteúdo do envelope, ela não saberia dizer. Mas, deu-se por conta de que
Enfraquecida pelo descontrole, respirou fundo. Há anos nào sofria crises de choro como
Por fim, o choro cessou. Mirou-se no espelho. A imagem que viu era a de uma estranha.
minutos — não, menos — deveria estar no aeroporto, rumo à lua-de-mel de sonho com Brad.
saúde e na doença... Promessas de felicidade. Sim, o perfeito final feliz para um impetuoso
caso de amor.
De novo, olhou para os papéis à sua frente. Fechou os olhos, horrorizada. Aquele era um
sonho mau. Não conseguia pensar com clareza. Só podia tratar-se de uma brincadeira. Como
poderia acreditar que Brad fizera aquilo? Mas, as informações eram tão precisas... E, afinal,
seu casamento com Brad. Teria fundamento? A imagem da mãe, elegantemente vestida para o
também rendera-se ao carisma de Brad, mas Kim desconfiava que, no íntimo, ela preferia que
Bem, era tarde demais. Olhou para o dedo anular da mão esquerda. Além da aliança de
Era a sra. Brad Baldwin. E acabara de descobrir que absolutamente não conhecia seu
marido.
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Tremendo, tomada pelo pânico, despiu o traje de noiva. Olhou-se no espelho, outra vez.
Alta, magra, pernas compridas, bem-feitas. Os enormes olhos verdes vidrados pelas lágrimas,
Com os nervos contraídos, lavou o rosto no banheiro da luxuosa suíte, soltou os cabelos,
escovando-os até caírem nas costas como uma cascata dourada. Vestiu calça preta, camisa de
seda verde, jaqueta caqui, sapatos pretos, pegou o envelope e as malas que preparara para a
Embora tremendo como em estado febril, tentou soltar um suspiro longo e relaxante. A
tensão aumentava à medida que compreendia a necessidade de escapar daquele quarto antes
A ultima coisa que desejava, era enfrentá-lo naquele momento. Precisava sair dali o mais
rápido possível.
Com a mão úmida, abriu a porta. Hesitou. Seria essa a decisão correta? Poderia fugir de
Brad algumas horas depois de ter feito os votos de casamento na igreja, diante do padre,
diante de Deus? Mas tinha de ir embora. Precisava de tempo para pensar. Precisava clarear
Saiu pelo corredor, deixando a porta aberta e o vestido de seda .jogado no chão.
Apressada, seguiu em direção à escada de serviço que a levaria até à entrada dos fundos do
hotel.
Tomou o caminho do château quase sem pensar. Pegou a estrada direto para a costa,
depois a balsa sob o túnel e voltou a dirigir do outro lado do Canal. Era começo de agosto e
chegaria a seu destino antes de escurecer. Seu pequeno Renault branco enfrentaria a longa
viagem, Grande parte do tempo, ela lutou para não ultrapassar o limite de velocidade.
Não conseguia pensar em mais nada. Apenas nos acontecimentos das últimas horas que
haviam mudado comple-tamente sua vida. Tinha plena consciência da confusão que sua fuga
provocara. Entretanto, o que mais a incomodava era a reação de Lucinda. Esbarrara com a
amiga quando encapava pela escada. Lucinda insistira em saber o conteúdo do enyelope e
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quando Kim se recusara a revelar, de imediato ela perguntou se Brad já era casado.
Diante da negativa angustiada, Lucy declarara, então, que Kim era louca por abandonar
um homem gloriosamente sensual e fabulosamente rico como Brad Baldwin. Nada que
eventualmente ela tivesse lido na carta justificaria seu comportamento, Lucy completou.
— Eu sei — Kim admitira debilmente. — Só que não posso encará-lo. Preciso de tempo,
— Mudou de ideia? Algumas horas depois de ter se casado com o homem? Você está
doente! Como pode fazer isso, Kim? Logo com alguém como Brad?
A pergunta martelava sua mente enquanto dirigia. Não. Martelar não era a palavra certa.
Torturava. Sim, torturava sua mente. Como pudera fazer aquilo? Seu desaparecimento o
humilharia, fazendo-o passar por um completo tolo. Com certeza, Brad ficaria furioso e Kim não
Certamente, não deveria sentir medo dele. Afinal, amava-o. Ou, pelo menos, pensava
que o amava. Se amar significava pensar na pessoa vinte e quatro horas por dia, arrepiar-se
toda a vez que a pessoa se aproximava, estremecer por inteiro quando a tocava...
Porém, ao mesmo tempo em que pensava nos carinhos de Brad, lembrava-se também
das fotos do envelope. Um sentimento de pânico invadiu-a. Dirigia como um autómato. Parou
para descansar um pouco e comer alguma coisa, sempre consumida pela urgência. Era
ridículo, mas não conseguia livrar-se da sensação de estar sendo perseguida, caçada.
Olhava pelo espelho retrovisor a todo instante. Uma moto possante ultrapassou-a pela
esquerda e ela estremeceu violentamente. Por uma fração de segundo, imaginou que fosse
Brad assumir a galeria onde ela trabalhava. Era sexta-feira à noite, fim de expediente. Kim
acabara de sair da galeria quando um garoto tentou roubar-lhe a bolsa. Kim segurou a bolsa
com firmeza, mas o ladrão jogou-a violentamente ao chão. Brad aparecera para socorrê-la, a
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bordo de uma Harley-Davidson. Recuperou a bolsa de Kim, mas o rapaz conseguiu escapar.
Apesar do medo e do susto, ela reparou na estampa do homem que a salvara. Registrou
o corpo atlético, o rosto moreno, os cabelos pretos batendo na gola da jaqueta, nos olhos
azuis, nas feições duras e agressivas. O impacto fora quase tão violento quanto a agressão do
assaltante.
A calça jeans, a jaqueta de couro preto, o brilho irónico no olhar, davam-lhe um aspecto
um tanto sinistro. Apesar disso, Kim sentia coisas estranhas acontecerem em seu íntimo, só
fosse um membro do grupo "Anjos do Asfalto", cuja finalidade era ajudar a população. O
estranho não confirmou, nem desmentiu. O destino encarregou-se dos esclarecimentos, pois
na manhã da segun-da-feira, ela descobrira que ele era seu novo chefe!
As imagens passavam pela mente de Kim com a mesma força e nitidez daquele dia. Em
exclusiva galeria de arte Bond Street. Trocara o jeans e jaqueta de couro por um elegante
terno cinza. Ele não tinha nada a ver com o homem que acreditara ser um dos "Anjos do
Asfalto". Porém, como passara o fim de semana inteiro pensando nele, Kim o reconheceria em
qualquer hipótese.
Queria que o chão se abrisse a seus pés. Brad lançara-lhe um olhar divertido de
reconhecimento. Avaliou-a da cabeça aos pés. Os cabelos loiros, o tailleur preto, a camisa de
seda verde-água, os sapatos pretos de salto alto. O olhar apreciador deteve-se na curva
sensual dos quadris e Kim sentiu os mamilos se enrijecerem. O anel de esmeralda que Philip
lhe oferecera como compromisso de noivado parecia queimar seu dedo. Começara a respirar
— Claro! Você é a donzela em perigo! — brincara. — Não precisa ficar tão apreensiva,
Recuperando o autocontrole, ela apertara a mão que Brad lhe oferecia. Assim que as
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mãos se tocaram, ela sentira a palma em brasas. Tratara de retirar a sua bem rápido. Depois,
sentira-se ridícula. O que aquele homem tinha de mais? Aparentava trinta e poucos anos, dez
mais velho do que ela. Era perturbadoramente protetor, e extremamente sinistro ainda, mesmo
Seu riso revelara dentes alvos. Apenas um ligeiramente irregular. A pequena imperfeição
— Acho que estou em falta com o senhor — ela se desculpara meio ofegante. — Nem
mesmo agradeci...
reparara nas placas, na sinalização, nem reconhecera um único ponto de referência durante os
últimos quilómetros rodados. Tornara-se uma ameaça na rodovia. A qualquer momento, cairia
dormindo ao volante. Parou para uma refeição rápida num hotel-restaurante à beira da estrada.
Quase nem sentiu o gosto da comida. Era impossível relaxar. Estremecia sempre que um carro
azul escuro entrava no estacionamento. Toda vez que alguém abria a porta do restaurante,
Bebeu três xícaras de café bem forte, pagou a conta, sempre movida pela compulsão de
escapar.
Mantenha a calma, repetia mentalmente, enquanto ligava o motor com dedos trémulos.
Por que Brad a seguiria até o château? Por que a seguiria em qualquer lugar? Depois do que
fizera naquela manhã, ele a riscaria para sempre de sua vida. Mas, Kim pisou fundo no
acelerador. O medo superava tudo. As estradas planas, retas do nordeste foram gradualmente
distância, avistou o château. As torres de pedra revestidas por azulejos cor-de-rosa. Sentiu-se
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profundamente aliviada. Já estava chegando. O château não era muito grande, mas as quatro
torres, uma em cada extremidade, e as paredes encobertas pela hera, faziam com que
Os pais de Kim o haviam comprado semi-arruinado há quinze anos, quando ela tinha
segundo lar. Um casal, ele jardineiro, ela governanta, cuidava de tudo na ausência da família.
seguro e discreto. O paraíso para suas emoções tumultuadas e conflitantes. Não relaxaria
enquanto não estivesse protegida por aquelas paredes. Mas, mesmo assim, duvidava que
Quando madame Fleurie abriu a enorme porta de madeira maciça, recebendo-a com
exclamações e sorrisos de surpresa, Kim conteve-se para não atirar-se nos braços da mulher e
Aquela foi uma noite que Kim não gostaria que se repetisse. Rolou na cama, custou a
dormir e, depois de horas que pareciam intermináveis, conseguiu adormecer. O sono, porém,
foi tumultuado, povoado de sonhos terríveis. Kim acordou de madrugada. Pulando da cama,
A noite estava escura, sem lua. Um uivo veio do bosque que circundava os jardins do
château. Debruçou-se na janela o ficou olhando para aquele pedaço de terra francês. Fazia
calor. O ar vibrava com as cigarras cantando na escuridão. Era o cheiro da França. Uma
mistura de terra quente, ervas silvestres e pinho. Apertou os olhos, tentando vislumbrar alguma
forma no pátio. Nada. Ninguém rondava a propriedade. Ninguém em seu encalço. O pânico era
irracional.
Com o corpo rígido, como uma sonâmbula, fechou as cortinas e voltou para a cama.
Deslizou sob o lençol, e seu último pensamento antes de adormecer foi que, à luz das
evidências que descobrira naquela manhã, as palavras de Brad na galeria, no dia em que se
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Agora, era esposa dele. Sra. Brad Baldwin. E tinha fortes suspeitas de que fora usada em
algum tipo bárbaro de jogo que ele elaborara. Nesse caso, ele a encontraria, com certeza.
as cortinas na manhã seguinte, a primeira coisa que viu, e que fez seu sangue gelar nas veias,
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CAPÍTULO II
Espreitando pela janela, Kim perguntava-se como era possível sentir tremores de medo e
parado ao lado do carro, estava o homem a quem amava, o homem por quem ficara
verdadeiramente obcecada desde o primeiro encontro, dez meses atrás. O homem para quem
trabalhava naquele que se transformara no emprego mais excitante do mundo! O homem com
quem estivera no altar, jurando amor e honra. O homem de quem fugira no dia anterior, num
momento de pânico.
Cerrando os punhos, observou-o. Mesmo a uma distância razoável, Brad era uma
imagem apelativa. Alto, esbelto, com uma mecha dos cabelos pretos caindo na testa, taciturno,
contrito.
momento assustava-a, descontrolando suas pulsações, por motivos que nada tinham a ver com
desejo. Sua garganta secou. Mal conseguia respirar. Estava apavorada, admitiu pura e
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simplesmente. Não tinha certeza de conhecê-lo bem, nem se chegara realmente a conhecê-lo.
Não tinha certeza se a expressão circunspecta escondia um lado selvagem de sua natureza.
Além do mais, depois de seu comportamento no dia anterior, ele deveria estar furioso.
Inclinando-se, Brad tirou uma jaqueta cinza escuro de dentro do carro, jogando-a nos
ombros. Vestia calca jeans e camisa esporte aberta no peito, e mangas arregaçadas.
Lançou um olhar avaliador pelo château. Depois, olhou di-retamente para a torre, em
direção à janela do quarto, como se pressentisse que ela o observava. Kim afastou-se rápido,
o coração batendo forte. Aquilo era ridículo! Precisava manter o controle sobre as próprias
emoções.
Passou a mão pelos cabelos. Sacudiu a cabeça. Estava realmente intrigada. Como Brad
soubera que a encontraria lá? Não contara a ninguém para aonde ia. Ele teria adivinhado?
Telepatia? Estariam ligados por laços mais profundos do que uma certidão de casamento e
uma aliança?
Fugir ou enfrentar. Poderia esconder-se, fugir de novo. Respirou fundo, decidida a não
fugir mais. Precisava enfrentá-lo. Poderia pedir à madame Fleurie para ficar por perto.
Depois do banho rela-xante, saiu do banheiro vestida com um roupão branco. A luz da manhã
invadia o quarto pelas cortinas abertas de uma das janelas. Na penumbra criada pelas cortinas
— Foi madame Fleurie quem o mandou entrar em meu quarto? — A voz dela soou
Instintivamente, Kim apertou oToupão ao redor do corpo. Para seu tormento, percebeu
que tremia. Seus dentes batiam, como se estivesse febril. Não podia ver o próprio rosto, mas
sua aparência deveria ser a pior possível, pois Brad levantou-se, atravessou o quarto e
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— Você está doente, Kim? — Havia uma ponta de preocupação na voz dele.
Negando com um gesto de cabeça, ela tentava não demonstrar o nervosismo e o quanto
— Não me diga que descobriu alguma doença fatal e não quer me contar!
A brincadeira fez com que ela se sentisse ainda pior. Porém, bastou um rápido olhar
direto nos olhos dele para perceber que se enganara ao pensar que ele brincava. Pelo
contrário. Brad estava furioso, terrivelmente furioso. Reunindo toda sua dignidade, livrou-se das
mãos dele.
— Não. Eu...
carta misteriosa.
Kim fitou-o em pânico. O conteúdo daquela carta estava registrado em sua mente como
palavras de fogo. Mas, não poderia revelar-lhe nada. Absolutamente, não. Como poderia dizer-
lhe simplesmente que descobrira os verdadeiros motivos pelo qual ele se casara com ela? Pior
— Não quero falar sobre esse assunto. Certamente você tem ideia do que se trata. Afinal,
quando uma pessoa é... abandonada, não costuma ir atrás... de quem mudou de ideia, a
— Você está tremendo — ele a interrompeu. — Se não a conhecesse bem, diria que está
— Apenas... não quero mais ficar casada com você. O silêncio que se seguiu parecia
interminável.
— Um momento — Brad finalmente falou num tom que misturava raiva, incredulidade e
Ontem, nós nos casamos. A menos que eu não esteja enxergando bem, você parecia a noiva
mais feliz do mundo. Apenas algumas horas depois, você desaparece, deixando-me no meio
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da festa como um perfeito bobo da corte. No mínimo, você me deve uma explicação.
— Já disse. Mudei de ideia. Talvez seu ego esteja obstruindo seu cérebro. — Levou a
mão à boca, arrependendo-se de suas palavras. A última coisa que desejava era provocá-lo
ainda mais.
— Meu ego está um pouco fragilizado, admito, mas é a minha paciência que está se
esgotando, Kim. — A voz tornou-se mais ríspida. — Você está sendo incoerente. Desde que
decidimos nos casar, você passou a irradiar alegria e felicidade. Na noite anterior ao nosso
— Não é nada disso! — O rosto pálido de Kim tornou-se rubro, diante do tom de ironia.
Brad estava certo. Ela nunca experimentara aquela sen-saçáo de amor e desejo quanto
correspondera aos carinhos dele, tocara-o com tanta paixão e fome que fora quase im-
po.ssível controlar-se.
— Não tente enganar-me. — Ele parecia mais calmo, como se tivesse vencido a batalha
contra a fúria. — Quero saber o que está acontecendo, Kim. Por que fugiu de mim?
provocando a costumeira magia. Precisava policiar-se para não baixar a guarda. Tudo o que
queria era tocá-lo, chegar-se mais perto a elo. E ele, como se sentiria? Estariam as
entendimento. — Não me diga que ainda é aquele velho pânico sobre sexo, Kim! Foi por isso
que me deixou falando sozinho naquele hotel, quando na noite anterior você praticamente
implorava para fazermos amor? Conversamos muito sobre o assunto durante meses, querida.
Pensei que já tivesse superado o trauma. Pelo amor de Deus, sera que pensou que eu me
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Kim sentiu o rosto corado novamente. Brigava com sua Inata honestidade. Deveria deixá-
lo pensar que agira movida pela força de seu problema pessoal, até não tomar uma decisão
definitiva? Sim, já haviam conversado, e muito, sobre essa questão em particular, chegando,
inclusive, a superar a barreira que tanto a incomodava. Entretanto, sempre poderia fingir que o
problema continuava.
Afinal, ela entrava em pânico quando se tratava de sexo, mio era verdade? Nem tanto
com Brad, Mas, sim, antes de Brad, e por muitos anos antes de conhecê-lo.
Kim fora um patinho feio na adolescência. Essa era a origem do problema. Extremamente
magra, inteligente e boa aluna demais para ser popular entre os colegas de classe. Aparelho
nos dentes, óculos para corrigir um leve estrabismo, espinhas no rosto e cabelos crespos e
curtos besuntados de gel para mantê-los penteados. Depois, uma crise de febre glandular
deixou-a prostrada por longo tempo. Tudo isso resultou numa catastrófica perda de
autoconfiança e auto-estima.
da idade, iniciando suas experiências com rapazes e sexo, Kim não conseguia libertar-se do
tornaram-se coisas do passado. Os danos psicológicos, porém, foram mais difíceis de serem
ameaçava ir mais além do que simples beijos, ela se colocava na defensiva. Chegara à
conclusão de que sexo não era para ela. Não sabia como comportar-se, como corresponder
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aos carinhos. Enfim, não conseguia relaxar, nem mesmo para tentar.
descobrira que ele era casado. O relacionamento com Philip fora mais longo, mas Kim nunca
Com Brad fora completamente diferente. Talvez, entre ambos a química funcionara na
dosagem certa, embora Kim não compreendesse exatamente que espécie de química era essa.
Talvez tinha a ver com o temperamento controlado de Brad, com sua habilidade de inspirar
confiança. Depois que ela lhe explicara seus problemas, ele passara a controlar seus
sentimentos e a situação.
Com certeza, Brad tivesse agido com muita astúcia. Mesmo depois que o relacionamento
deles tornara-se mais íntimo, ultrapassando os limites de chefe e funcionária, Brad nunca
forçara o lado físico. Ele soube como lidar com a situação, paciente e lentamente, conduzindo
as coisas com muito tato até chegar no ponto em que só faltou Kim implorar para levá-la para
a cama. Na verdade, na noite an-' terior ao casamento, fora mais ou menos isso o que
acontecera. Mesmo assim, ele se mantivera firme. Aliás, não só mantivera-se firme como
também ponderara que, uma vez que haviam esperado tanto, deveriam esperar até depois do
sua alma. Brad mantivera-se firme, mas isso não significava que nunca demonstrara que a
achava irresistível. Ou que nunca a tocara, nunca explorara seu corpo com intimidade, levando-
Brad a tratava com cuidados especiais e ela sabia que ele reprimia o próprio desejo
Abrindo os olhos, fitou-o. Como um homem com tamanho autocontrole poderia ser o
mesmo homem descrito naquela carta horrorosa? Ela só poderia estar fora de seu estado
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carta. Mas, as evidências estavam ali registradas. Como alguém poderia fabricá-las?
— Kim, diga-me. Você acha mesmo que eu seria capaz de magoá-la? Pelo amor de
seu íntimo, entrara em pânico. De repente, ao vê-lo a seu lado de novo transpirando aquele
inegável carisma, trazendo à tona todas suas emoções, tudo parecia impossível.
Deveria haver algum engano. Precisava averiguar os fatos para voltar a confiar
inteiramente nele. Tinha que descobrir se as afirmações da carta eram verdadeiros. Até então,
— Por favor... — Com esforço, ela se levantou para encará-lo. — Oh, Brad, você me
perdoa? Desculpe pelo constrangimento que causei ontem à noite. Sinto muito, de verdade.
Mas... mas...
— Perdoá-la? — disse suavemente ao perceber que ela hesitava. — Você pensa que vou
me comover com seu pedido de desculpas? Ninguém me faz de bobo impunemente, meu bem.
Kim se contraiu, mais uma vez tomada pelo pânico. Havia uma chama furiosa no olhos
dele e a voz, embora suave, soava letal. Brad cerrou os punhos, numa demonstração
silenciosa de poder. A atmosfera tornou-se pesada demais. Kim tentou engolir, mas a garganta
estava seca.
— Você está me ameaçando? — perguntou com voz trémula. — É assim que reage
— Se é assim que você se sente, por que veio até a França à minha procura? — Desviou
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— Bem, não é todo o dia que um cara se casa e é abandonado pela esposa apenas
poucas horas depois do casamento. Por acaso, não lhe passou pela cabeça que eu possa
estar me sentindo trapaceado? Porém, confesso que foram razões comerciais que me
obrigaram a vir à sua procura. — Ele sorriu com sarcasmo. — Você trabalha para mim, lembra-
relacionamento estava em crise, e ele tinha o sangue frio para falar em negóciosl
— Você nunca pára de pensar em negócios? Imagino que se tivéssemos viajado em lua-
— Não tenho certeza se os caribenhos sejam tão ricos a ponto de possuírem coleções
particulares de obras de arte. Para ser franco, não foi bem isso que planejei para nossa lua-
de-mel.
A ironia com que Brad proferira aquelas palavras provocou fez com que ela corasse de
Essa era uma das qualidades que Kim mais admirava nele. Ninguém dera um empurrãozinho
Kim sabia muito pouco, ou quase nada, sobre o passado dele. Sabia apenas que ficara
órfão muito cedo, que fora criado por parentes em Los Angeles. Começara seu próprio negócio
com uma coleção de miniaturas originais que comprara por um preço irrisório numa loja de
originais faltantes, muitas vezes erroneamente rotuladas como cópias, era internacionalmente
reconhecida e respeitada. Muitas vezes, para não ser reconhecido em leilões, precisava
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— Já que você decidiu estragar nosso casamento antes mesmo que começasse, por que
— Oh, não, absolutamente! — Ela reassumiu sua atitude defensiva, sentindo-se caminhar
sobre areia movediça. — Que assunto tão urgente o trouxe até aqui?
— Eu não disse urgente. Haverá um leilão numa galeria na avenida Foch em Paris e...
agosto. Ou há?
— Estou muito surpreso com você — Brad comentou com um sorriso irónico. — A
Os muito pobres e os muito ricos ficam. E com os muito ricos que faremos negócios. A
minoria aristocrática está fugindo dos locais badalados, preferindo a paz espiritual. Bem, minha
talentosa esposa e assistente não poderia ter fugido para um lugar mais conveniente. Há
coisas interessantes no catálogo. Precisarei de sua experiência mas como uma compradora
anónima.
— Não acho tão conveniente assim. Paris fica bem longe daqui, caso não tenha notado.
— Conversei com seus pais. Foram unânimes em afirmar que este era seu refúgio
predileto. Telefonei para madame Fleurie altas horas da noite e ela confirmou que você estava
aqui.
— Viajei.
Ela o encarou, sentindo a raiva dissipar-se. Brad parecia cansado. As marcas da fatiga
acentuavam as linhas ao redor da boca e nas olheiras profundas. A sombra azulada da barba
crescida davam-lhe um ar de vilão. Tudo era por sua culpa. Fora ela a causadora da exaustão
e do stress de Brad.
Kim conteve um suspiro. Não tivera escolha. Como poderia ter ignorado aquela carta?
Como poderia continuar agindo como se nada tivesse acontecido, se o conteúdo sinistro
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daquele envelope pesava sobre sua cabeça? Precisava de espaço, de tempo para pensar.
— Expliquei que viria encontrar minha esposa — ironizou com mordacidade. — Você
Kim passou a mãos pelos cabelos, traindo seu nervosismo. Brad inclinou a cabeça,
olhando-a interrogativamente.
— Que diabos está acontecendo com você, Kim? O que há de errado? Por que me olha
desse jeito?
— Que jeito?
ainda assim não creio que minha aparência seja tão assustadora.
— Não. Claro que não... — Esforçou-se para agir normalmente, e no tom mais natural
possível, sugeriu: — Se quiser tomar um banho, eu... eu o levarei até o quarto de hóspedes.
— Não. Aqui está ótimo para mim. — Sem cerimónias, dirigiu-se ao banheiro da suíte.
Kim o seguiu ainda tentando impedi-lo, mas Brad já estava se despindo. — Não me olhe com
essa cara de choque, Kim. Somos casados, lembra-se? Você pode até não ter tido ainda o
prazer de receber meus préstimos, madame, mas não finja que nunca me viu sem roupa.
Aturdida, ela o observou jogando a camisa de linho ao chão. Parecia hipnotizada. Poderia
muito bem fechar a porta, mas a imagem do tórax musculoso de Brad, da pele bronzeada e
brilhante, simplesmente atraíam os olhos dela como imã. Sua garganta estava seca, os lábios
também. Com a ponta da língua, umedeceu o lábio inferior. O movimento nervoso não passou
despercebido aos olhos atentos de Brad, que lançou-lhe um sorriso triunfante. Ele começou a
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desciam no abdómen, desaparecendo sob a cueca de seda azul, onde uma visível
— Venha tomar banho comigo. Ao diabo a lua-de-mel no Caribe. Quem precisa dela? —
provocou-a.
Kim sentiu o sangue borbulhar nas veias, mas suas pernas pareciam paralisadas. Não
conseguia mover-se.
— Não está a fim, sra. Baldwin? — ele insistiu cruelmente. — Talvez mais tarde, hem?
Sem pestanejar, ele tirou a cueca, aparentemente sem preocupar-se com seu estado de
descontrolada, Kim simplesmente não conseguia desviar o olhar do corpo daquele homem alto,
triângulo de cabelos pretos ao redor da virilidade ereta entre as coxas rijas e musculosas.
Brad era excitantemente atraente. Kim desejava-o com uma força de sentimentos como
nunca experimentara antes. Essa conscientização atingiu-a como uma série de pequenos
choques elétricos, cada qual aumentando sua potência de descarga. Não, não estava com
medo dele. Estava, sim, envergonhada por sua reação à carta, por sua falta de confiança em
Brad. Aquele homem era seu marido. Fizera os votos de casamento. Prometera honrá-lo.
Amava-o e queria que ele a amasse. Naquele momento, não importava o que Brad fizera
ou deixara de fazer. Seu desejo de fazer amor com ele era tanto que seu corpo chegava a
doer. Seus seios enrijeceram, emitindo mensagens urgentes, eróticas, despudoradas para
alguém consumida pelo fogo do desejo. Queria dar-lhe tudo de um modo primitivo e
inexplicável, sentir o peso do corpo dele sobre o seu, senti-lo dentro de si, dominado e
aproximou-se do boxe, como se puxada por mãos invisíveis. Tocou-o no ombro. Brad
ensaboou os cabelos, usando o xampu de Kim. A espuma escorreu pelo rosto e ele limpou a
região dos olhos, enquanto jogava a cabeça para trás, fitando-a. Ela sentiu lágrimas
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— Tudo bem... — A voz dela era quase inaudível. — Se é o que você quer...
lentos, acariciou-a. A curva suave da cintura, o abdómen reto, o triângulo loiro entre as pernas
— Por quê?
— Por quê? — Ela o fitou em flagrante confusão. — Por quê? — murmurou de novo.
Para reafirmação? Para testar seus sentimentos, desafiar os próprios temores? De repente,
suspeitou que Brad poderia querer puni-la por algo que, na verdade, merecia. Foi invadida por
uma onda de humilhação. Fez um gesto evasivo com as mãos e disse entre dentes: —- Oh,
esqueça...
Fez menção de afastar-se, mas Brad segurou-a pelo braço. Num movimento rápido,
puxou o robe até vê-lo cair ao chão. Levou-a para baixo do chuveiro e abraçou-a.
— Não, Kim — ele protestou num tom ríspido. — Você nunca mais fugirá de mim.
Kim relaxou sob a água quente. Com um suspiro e um leve tremor, deixou-se ficar nos
braços dele.
O contato dos corpos foi como um choque rumo à realidade. Naquele momento, todos os
mais horrível ainda, tudo, enfim, parecia ter desaparecido sob o fluxo da água do chuveiro e
dos hormônios correndo em suas veias. Poderia estar cometendo um grande erro, mas,
naquele momento, nada, nada, conseguiria conter o redemoinho de emoções que a arrastava
— Oh, doçura... — Com os lábios colados ao ouvido dela, Brad provocava-lhe tremores.
Ao perceber que ele também tremia, Kim sentiu-se tomada por novas e diferentes
emoções.
Com as mãos ensaboadas, ele contornou as curvas dos seios dela, brincando com os
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mamilos até Kim gemer, arqueando o corpo. Depois, ele a virou de costas, pressionando-a
O murmúrio enrouquecido era quase tão excitante quanto a pressão do corpo dele.
impacientemente pelos lábios dele. Sua ansiedade era frenética. — Por favor, quero você...
quero você...
cama.
De repente, ela estava na cama e Brad a cobria com seu corpo forte, úmido. A urgência
aumentava, fugindo ao controle de ambos. Sem conseguir segurar mais a ansiedade, Kim
— É isso mesmo o que você quer? — ele murmurou com seu sotaque da Califórnia
pernas para recebê-lo. — Acha que está mesmo preparada para este momento, minha
pequena?
— Oh, Brad... é tudo o que quero. — Contorcendo-se sob os movimentos dos dedos
ávidos, ela não conteve um gemido quando um tremor sacudiu seu corpo. — Brad, por favor...
De repente, em vez de tomar o que ela lhe oferecia, Brad afastou-se, deixando-a fria,
— Brad! Oh, Brad... — Ela soluçava, encolhida, com os cabelos caindo no rosto, os
braços cruzados sobre os seios. — É esta sua vingança? — perguntou quando conseguiu
— Acha que poderia transformar-me num fantoche? — Sua voz ainda soava
enrouquecida pelo desejo, mas ríspida pela fúria contida. — Depois de abandonar-me na
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recepção, ontem? Depois de fazer-me de palhaço diante de todos? O que pensa que sou,
Kim?
— Então decidiu que eu deveria pagar na mesma moeda! Parabéns, você conseguiu.
Um profundo sentimento de rejeição e humilhação abateu-se sobre ela. Frio e cruel. Brad
não a amava. Seu coração contraiu-se de dor ante tal constatação. E pensar que acreditara
nele! Lembrou-se do modo como ele agira depois da cerimónia de casamento, quando, ainda
no altar, perguntara-lhe se ele a amava. Brad não respondera. Apenas tratara-a como um novo
trofeu recém-conquistado diante de todos convidados presentes na igreja. Ela sim fizera papel
— Quer mesmo saber por que fugi de você? Acho que agora você merece saber. Em
primeiro lugar, descobri que você já foi casado antes e não teve coragem de contar-me...
— Kim...
— Em segundo lugar, você foi denunciado por surrar sua esposa, não foi? Você a
agrediu com tanta violência, mas com tanta violência, que ela ficou quase irreconhecível nas
fotos da polícia, não é mesmo? — Ela o fitou com os olhos arregalados e úmidos pelas
lágrimas. — Depois, fui eu a escolhida, não? A mulher ideal para o que você procurava...
Foram essas suas palavras, não? Transformei-me na nova esposa-troféu, o tipo de mulher-
acessorio que você precisa em sua escalada social. Então, aja como está acostumado a agir
— Sim, faça o que quiser porque daqui para adiante não me importo com mais nada. —
Com dedos trémulos, tirou a aliança e o anel de diamante jogando-os contra o peito de Brad.
— O que realmente me incomoda é saber que fui estúpida a ponto de não perceber que você
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CAPÍTULO III
Quem lhe contou sobre minha primeira mulher? — O rosto de Brad tornou-se
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— Não sei.
— Em outras palavras, você recebeu uma carta anónima. — O tom de voz não poderia
Kim cerrou os punhos. A atitude de Brad sacudiu-a e bravamente ela reergueu suas
defesas. Brad não tinha o direito de espezinhá-la daquela maneira. Afinal, era ele quem
deveria justificar-se.
— Sim, sim, recebi uma carta anónima! — ela rebateu com impaciência. Olhou ao redor à
procura de algo para cobrir-se. Puxando o lençol, enrolou-o no corpo. Sentia-se vulnerável,
nua, rejeitada e perplexa com a facilidade com que Brad conseguia reverter a situação,
— Quero vê-la.
Brad a olhava com expressão severa, sombria. A total falta de emoção nos olhos dele
impressionou-a. Se pensara que já vira Brad zangado, de repente, descobria que enganara-se
completamente. Nunca o vira naquele estado de fúria mal contida. Como reagiria ao tomar
Brad fora até o banheiro de onde voltou com uma toalha enrolada ao redor dos quadris.
Pegou o envelope pardo que Kim lhe oferecia. Abrindo-o, jogou o conteúdo sobre a cama.
Com a respiração presa, Kim esperava que ele explicasse, que dissesse que tudo não passava
de um tremendo engano. Que a certidão de casamento, que a foto de Brad ao lado de uma
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jovem morena vestida de noiva, que o boletim policial responsabilizando-o pela agressão, a
— Eles fizeram um belo trabalho — Brad falou quase com indiferença. Guardou os papéis
— Quem quer que pretenda incriminar-me. Voltando ao banheiro, Brad vestiu suas
roupas. Depois, com passos decididos, saiu do quarto, fechando a porta lentamente.
Kim permaneceu imóvel, olhando para a porta fechada. Parecia que o tempo parara.
Percebeu que não tinha a mínima ideia de como interpretar a reação de Brad. Se é que,
poderia considerar a atitude dele exatamente como uma reação. O que a enervava ainda mais
era a total falta de emoção. Não notara o menor indício de surpresa, de revolta, de choque.
Nem uma mudança no tom de voz que revelasse seus verdadeiros sentimentos ou
Depois de um tempo que lhe parecera uma eternidade, abaixou-se para apanhar o anel e
ruidosamente. Com o peito oprimido, separou uma calça de algodão bege e camiseta azul
marinho. Depois de vestir-se, prendeu os cabelos numa trança, calçou sapatos beges de salto
baixo e desceu para o café da manhã. A escada dava direto no hall e, com o coração aos
saltos, olhou ao redor, imaginando que Brad poderia estar à sua espera.
Parou no meio do hall, respirando rapidamente, furiosa com sua estupidez. O que
esperava que acontecesse? Estaria realmente imaginando que Brad seria capaz de espreitá-
la? De atacá-la?
Aquilo não fazia o menor sentido. Ou fazia? Afinal, Brad examinara as evidências que o
incriminavam e, no entanto, não negara nada, absolutamente nada... Porém, guiada pelo
instinto, ela confiara nele o suficiente para tornar-se sua esposa. Confiara nele, sim, pelo
menos até meia hora antes, quando, consumida pelo fogo do desejo, entregara-se decidida a
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Não sabia o que pensar. A culpa era de Brad por não ter negado nada, por não ter
acalmado sua mente, concluiu furiosa. Ele fora obtuso. Ou, então, era realmente culpado.
Brad era culpado? Por mais estranho que parecesse, custava a acreditar nessa
possibilidade. Seria verdade que Brad não a amava, que nunca a amara? Que ele considerava
as mulheres como propriedades e que não vacilava em usar de violência se contrariado? Tanta
tinha a intenção de assustá-la. Preparei a mesa do café no terraço. Fiz croissants. Mais
— Não, madame Fleurie. Para mim está ótimo. O sr... sr. Baldwin ainda está aqui?
Kim suspirou. Não sabia se sentia alívio ou alarme. De tão confusa, esquecera-se de
olhar pela janela do quarto, para ver se o carro de Brad ainda estava no pátio. Na verdade,
Estava muito quente, mesmo às dez da manhã. Kim notou nuvens sob as montanhas
distantes. O terraço era uma profusão de gerânios em todas as tonalidades de vermelho, rosa
e branco, espalhados em vasos e floreiras de pedra. No centro, uma mesa oval de madeira,
rodeada por cadeiras de braços, onde, em uma delas, Brad estava sentado, aparentemente
entretido com a leitura do Le Monde e bebendo café em uma xícara de porcelana branca. Kim
se aproximou sem o menor ruído. Sentou-se, esperando que ele não notasse sua presença.
Puro engano.
— Madame Fleurie vai trazer mais croissants — ele disse com fria polidez, sem olhá-la.
— Sei. Encontrei-a no hall. — Após uma breve pausa, ela acrescentou: — Pensei que já
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— Bem, eu...
— Vejo que não. — Sua voz soou irónica e firme mesmo aos próprios ouvidos. — Prefere
ficar e extrair o máximo possível de sua vingança sobre as pessoas que o afrontam, não é?
— Entenda como quiser. — Brad pôs mais café em sua xícara e sorveu um longo gole.
seguiu até aqui. Eu o enfrento com... com fatos sobre seu passado, e você não teve nem
— Como assim?
— Bem, tenho algumas decisões a tomar. — Deixando o jornal de lado, ele se reclinou na
— Preciso decidir se tenho energia ou inclinação para salvar o que restou de nosso
casamento.
— Você precisa decidir? — indagou indignada. — Você não acha que está sendo um
— Porque, no que me diz respeito, nosso... nosso casamento está terminado! — Ouviu
as palavras saírem de sua boca, sem acreditar que fora capaz de pronunciá-las.
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pendente, Kim.
-— Se está se referindo a sexo, esqueça. Jamais faria amor com um homem que agrediu
a primeira mulher.
— Mentirosa! Ainda agora, você estava tão ardente que quase queimou meu corpo!
Corada, Kim virou o rosto. O pior era que Brad tinha razão. Como discutir? Que
argumentos tinha contra as evidências? Nesse momento, madame Fleurie chegou trazendo
uma bandeja com mais croissants, outra xícara e outro bule com café.
Quando a governanta se foi, Brad ofereceu a cesta com croissants para Kim,
— Eu me pergunto se seria capaz de fazer amor com uma mulher que acredita que sou
— Tudo o que você tem a fazer é negar... — começou, mas calou-se com expressão
embaraçada.
— É mesmo? Bastaria dizer-lhe que é tudo mentira e pronto... tudo ficará bem de novo?
— Não sabe. — Deu um sorriso irónico. — Aposto que não sabe mesmo. Se tudo o que
você queria era ouvir-me negando as tais acusações, por que não me esperou no quarto do
— Eu...
— Porque você já decidira que eu era culpado! — Havia desprezo na voz dele. — E,
droga, quem sabe? Talvez eu seja mesmo! Talvez você tenha se casado com um brutamontes
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— No pior. -— O sorriso dele era amargo. Segurando a xícara, bebeu todo o café de uma
só vez. Depois, recolocou-a sobre a mesa com força. — Você só poderia pensar no pior, Kim.
esposa, Brad?
— Sim.
— Ok. Seu nome era Natália Suzman, de uma família rica de banqueiros da costa leste
americana, com grandes interesses em obras de arte. Ela e a irmã gémea tinham uma galeria
— Por que não me contou tudo isso antes de nos casar-nros? Por que mentiu para mim?
— Por quê?
— Você não acha que foi muito estranho ter me escondido um fato tão importante?
Brad, então, conte-me como as coisas são realmente! Conte-me a verdade, por favor!
— O que me deixa intrigado é que, ainda há pouco, você queria fazer amor comigo,
mesmo com a mente envenenada pela carta anónima. O que você estava pensando, Kim? Que
os homens maus batem em mulheres? Você vibrou com a ideia de sexo com um agressor de
esposa?
— As mulheres não escrevem para os assassinos na prisão? — ele expunha sua linha de
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porém. Era exatamente o que Brad pretendia. Cantaria vitória se conseguisse descontrolá-la,
como fizera na cama, ao levá-la ao ápice do desejo, para depois humilhá-la. Brad Baldwin
— Brad, não o convidei para ficar aqui. Este château pertence à minha família...
— Seu pai não ficou imune à recessão — Brad comentou laconicamente. — Minha
Comprei este château como presente de casamento para você. Não foi muita gentileza de
minha parte?
Em silêncio, ela cortou um croissant ao meio, espalhando uma camada de manteiga nas
partes. Comia vagarosamente, imersa em seus pensamentos. Brad comprara o Château des
Anges. Para ela. As emoções conflitantes faziam sua cabeça fervilhar. Fugira de Brad e seu
refúgio pertencia a ele. Seu recanto predileto em criança, o Castelo dos Anjos, pertencia a ele.
Da mesma maneira como ela também pertencia a ele. Pelo menos, aos olhos da lei.
— Vou arrumar minhas coisas e vou embora. Depois do café — anunciou, por fim, sem
esconder o sarcasmo. — Nestas circunstâncias, nem me passa pela cabeça... impor-lhe minha
presença.
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— Kim... — O tom imperioso de Brad obrigou-a a olhá-lo. — Você ficará aqui. Você é
Levantando-se também, Brad segurou-a pela mão. Kim notou os pelos escuros que
— Talvez tenha sido um erro nos casarmos ontem — ele disse asperamente. — Foi tudo
muito rápido. Não tivemos tempo para nos conhecermos o suficiente. Entretanto, estou certo de
uma coisa. Não vou permitir que fuja novamente. Não, antes de termos oportunidade de
aperfeiçoar...
— Aperfeiçoar? Você não contou que já fora casado anteriormente. Não negou que
envolveu-se com a polícia americana por ter agredido violentamente sua primeira mulher. E
agora... agora quer manter-me aqui contra minha vontade e ainda me faz ameaças, caso eu
insista em ir embora...
— Não. — A ameaça velada contida no sorriso dele fez cpm que Kim estremecesse. —
Prefiro tê-la por perto... por enquanto, meu bem. Não quero vê-la fora do meu esquema.
Enquanto falava, com a ponta do dedo pressionava a parte interna do pulso de Kim. Os
sentidos dela se alertaram. Pensou nas mãos dele, tão atrevidas, hábeis, explorando cada
— Isso o quê? Segurar sua mão? Pensei que não tivesse traumas com toques de mãos.
— Como pode zombar de mim, depois de ter lhe confiado os meus segredos mais
íntimos?
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— Você confiou em mim? — Apesar do tom mordaz de sua voz, Brad pegou-lhe a outra
mão, puxando-a para mais próximo. — Estranha essa sua maneira de confiar, não? Você
confia, mas na primeira oportunidade prefere acreditar que sou capaz de agredir fisicamente
uma mulher.
De repente, Kim viu-se de encontro ao corpo dele. Num movimento rápido, Brad sentou-
se na beira da mesa, prendendo Kim entre as pernas entreabertas. Ela abriu a boca para
protestar, mas Brad calou-a com um beijo arrasador. Com a língua, invadiu, tomou posse da
Ela ofegava, estremecia, quase desmaiava. Uma névoa parecia envolver sua mente,
impedindo-a de pensar. Num esforço supremo, livrou-se dos lábios dele. Abrindo os olhos,
— Brad... Pare!
— Brad, pare! — ele a imitou com sarcasmo. — Ou, Brad não pare? Seu problema,
minha cara sra. Baldwin, é não saber exatamente o que quer. Estou começando a pensar que
Ela se remexeu, mas arrependeu-se logo. O corpo dele estava rijo e excitado. Podia
a sacudiam.
Sentiu raiva de si mesma por ser tão fraca e sucumbir aos encantos de Brad com tanta
facilidade. Bastava um toque e seu sangue entrava em ebulição, suas pernas fraquejavam e
seu desejo despertava, forte e exigente. Estava louca ou doente, por permitir que isso
acontecesse, ao mesmo tempo em que acreditava que ele surrara a primeira esposa.
Mas, no íntimo, acreditava mesmo? O cérebro chegava até a doer com o esforço de
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que o homem com quem se casaTa era um estranho, aliás um estranho violento, que lhe
mentira... Fora muita coisa junta para absorver. Fugir, fora a única solução que encontrara para
lidar com aquilo tudo. Precisava de espaço para permitir que as possibilidades acontecessem.
descritas na carta? Se não fizera nada daquilo, se tudo não passava de mentiras, quem reunira
tantas provas comprometedoras? Quem tramara tudo? Sim, porque alguém poderia muito bem
Fitou-o em silêncio. Aquele homem era seu marido. Fizera solenemente os votos de
casamento diante de um altar, no dia anterior. Sentiu-se miserável, com uma incrível sensação
de descrença. Compreendeu, então, que aceitaria uma explicação, uma desculpa, e, depois,
respiraria aliviada.
— Vamos ver se você é boa em honestidade — Brad desafiou-a com a boca roçando no
pescoço dela, os dentes mordiscando a pele. — Talvez não confie em mim o bastante para
viver como minha mulher, mas você ainda me quer. Eu ainda mexo com você, não é? Acabei
de ter a prova em seu quarto romântico na torre, Kim. Então, você é suficientemente honesta
para admitir?
Um pequeno terremoto parecia ocorrer dentro dela. Ergueu o rosto pálido, encarando-o
com um brilho desafiador nos olhos verdes. Desejava mandar-lhe para o inferno, mas, preferiu
— Ok, admito. Eu o desejo. Você é o único homem com quem quero fazer amor.
— Verdade? Você sabe, sinto-me tentado... muito tentado a tomar o que está sendo me
oferecido.
— Por que não toma? — Parecia outra voz e não a dela que proferia aquelas palavras
amargas, talvez levada pela emoção reprimida. — Por que não toma o que estou lhe
oferecendo, Brad? Somos casados, afinal. Um casamento precisa ser consumado, não? Qual o
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sentimentos irreconhecíveis.
— Talvez seja esse o seu problema, Brad — investiu inadvertidamente. — Você não
consegue. Por isso nunca fez amor comigo? Impotência? Frustração? Deveria procurar ajuda.
Um terapeuta, talvez.
— Chega, Kim. Você já falou demais. — Ele estava transtornado com a afronta. Mesmo
assim sorriu. Um sorriso cheio de ameaças e com uma pontada de humor negro. — Você
— Não.
Brad agarrou-a pelos pulsos e praticamente arrastou-a em direção ao château. Kim ainda
tentou resistir, mas ele a conduzia com mãos de aço. Atravessaram o hall, subiram a escada,
caminharam pelo corredor, até chegarem ao quarto da torre. Empurrando-a para dentro do
Kim engoliu a seco. Não podia tremer. Sentia o corpo em chamas pela humilhação, as
pulsações aceleradas pela ira, e acima de tudo, um grande medo, que superava todos os
outros sentimentos.
Brad deu um passo em sua direção. Kim recuou abruptamente colidindo com a mesa de
ficaram ali, deitados no carpete, meio que abraçados. Um desejo furioso brotava nas veias de
Kim.
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— De jeito nenhum. Não a derrubef. Apenas aceitei o desafio, sra. Baldwin. Em todos os
sentidos...
tocá-lo.
— Foi você quem provocou o desafio, meu bem. — Os olhos azuis brilhavam enquanto
ele abria os botões da blusa dela. Tocou de leve os seios cobertos pelo sutiã de renda branca.
— Somente os covardes provocam um desafio e depois recuam. É isso que você é, Kim? Uma
covarde?
— Não. — Umedeceu os lábios num gesto nervoso. Sentia o peso do corpo dele
defesas.
pela valentia? Ela estava paralisada demais pela emoção, para conseguir analisar o momento.
— Não... não do modo como está imaginando, talvez... Ela sentia-se empalidecer e corar,
enquanto o rosto queimava com a proximidade dele. — Como acha que me senti hoje cedo?
a na cama. Deitou-se ao lado dela e abraçou-a. — Desta vez irei até o fim.
Kim lançou-lhe um olhar incrédulo. O rosto dele era pura emoção, como se estivesse
Um leve tremor sacudiu o corpo de Kim. Sabia que Brad percebera. Sabia também que
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para o casamento deles. Porém, espasmos eróticos de uma fome física a assaltavam, anulando
Fechando os olhos, enlaçou-o, trazendo a cabeça dele até ela. Entreabrindo os lábios,
começou a beijá-lo com frenética intensidade. Queria apagar de sua mente as últimas vinte e
quatro horas. Queria perder-se naquele abismo de sensualidade. Talvez, com um pouco de
esforço e boa vontade, poderia até pensar que tudo não passara de um terrível pesadelo.
Deveria sair daquele pesadelo e mergulhar no paraíso que pressentia que Brad construiria para
ela.
Brad gemeu. Seu autocontrole começava a enfraquecer. Havia uma doce selvageria
naquele abraço, uma qualidade que ela nunca conhecera antes e que fazia seu sangue ferver,
queimando suas veias. Ele respirava pesado contra os lábios dela. Kim sentiu-o estremecer
— Kim, minha querida, vamos devagar — ele murmurou. Ele cheirava a sabonete e loção
pós-barba. Os sentidos
de Kim se abalaram.
— Não quero ir devagar — protestou ela num fio de voz. Abriu-lhe a camisa de linho e
— Amor, um pouco só — Brad explicou, tirando a camisa. Depois de tirar a dela, cobriu
de beijos a curva generosa dos seios. O sutiã abria na frente, sendo fácil retirá-lo. Brad
suspirou ao ver o esplendor daqueles seios, cujos mamilos já apontavam para ele, róseos e
convidativos. Ela gemeu baixinho e ele inclinou a cabeça para beijá-los, um de cada vez, longa
e ternamente.
não? — Ainda magoada pelo modo como ele a rejeitara no último minuto, pela manhã, ela
— Não. — Estreitando o abraço, ele se deliciava com o gosto doce dos seios dela. Kim
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se contorcia de prazer. — A primeira vez requer um pouco mais de paciência, amor. Estou
louco insensível.
Kim se contraiu por um instante. A apreensão se refletia nos olhos verdes. Procurava por
segurança na expressão dele e encontrou. Brad estava tão envolvido quanto ela. Os olhos
azuis haviam escurecido, tornando-se cinza escuro, com as pupilas dilatadas. As faces
estavam levemente coradas e havia tensão nas linhas marcantes dos maxilares.
— Por que tem tanta certeza de que ainda sou virgem? — A própria Kim surpreendeu-se
Ele a olhou perplexo. Afastando-se, respirando rápido, ele perscrutou-lhe o rosto corado.
— Oh, céus! -— ele exclamou incrédulo. — Você tentou e é "mais ou menos" virgem?
Não é à toa que você dispensou o rapaz! Por que nunca me contou sobre isso?
— Já sei. Eu também nunca perguntei, não é mesmo? Como você nunca me perguntou
pescoço, a curva dos seios, da cintura, dos quadris, até chegar ao triângulo loiro de sua
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— Oh, Brad, não pare desta vez — Kim pediu ansiosa. Seu corpo inteiro tremia de
desejo. As sensações que ele despertava nela eram perigosas, destrutivas, mas ela se sentia
tão vulnerável...
— Parar? De jeito nenhum! — Com uma gargalhada, ele roçou os lábios na pele macia
do abdómen, circulando com a língua o umbigo, inebriando-se com o perfume de mulher que
exalava do corpo dela. A mão atrevida mais uma vez tocou o cetim aninhado entre as pernas e
O cheiro dele, o calor, os pequenos espasmos que a sacudiam à medida que os dedos
dele a exploravam, eram muito mais do que ela poderia suportar. Gemeu antes de emitir um
grito de choque e prazer. Seu coração batia descompassado e ela podia ouvir as respostas do
Brad não conteve um gemido quando Kim tocou em sua masculinidade. Os dedos
inexperientes ensaiavam carinhos tímidos. Tomando a mão dela, Brad beijou-a com tanta
intensidade, que as bocas pareciam querer devorar-se. As línguas duelavam com uma avidez
— Kim..? — O nome foi pronunciado junto aos lábios dela. — Estou machucando você?
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Estou?
— Você mentiu, não? Está é sua primeira vez. Ela hesitou por um segundo.
— Sim...
De repente, Brad começou a rir. Kim suspirou. Ele era tão bonito, registrou
— Por que haveria de mudar de ideia? Sou seu marido. Só estou tomando posse do que
contorcesse numa reação incontrolável. — Se eu a machucar, a culpa será sua. Toda essa
pressa... Ah, Kim você é sexy demais. Vamos manter em ordem pelo menos esta parte de
Brad a explorava, estimulando-a com uma intimidade que derrubava qualquer resistência.
Kim temia desfalecer nos braços dele. Então, Brad posicionou-se, invadindo-a novamente. Kim
não conteve um grito. O peso do corpo dele pressionava-a contra o colchão. Os movimentos
maravilhoso de prazer, sentindo Brad a seu lado, fitando-a com olhar lânguido e satisfeito.
De repente, o tom de voz de Brad fez com que ela voltasse à realidade, ainda sentindo o
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— Sim. Será que o impotente agressor de mulheres subiu no conceito da sra. Baldwin?
— Oh, Brad... — Kim mal conseguia falar, embora compreendesse que as palavras eram
inadequadas.
— Sim — ele ironizou. — Você sabia que em japonês a palavra orgasmo significa "será
As lágrimas afloraram nos olhos verdes. Quando falou, Kim não conseguiu esconder o
— Acho que não preciso dizer-lhe o quanto gostei — murmurou timidamente. — E não
acredito que tenha agredido sua primeira mulher. Você não agrediu, não é mesmo? Basta dizer
sim ou não!
— Não.
— Oh, sinto muito... — Não conseguiu conter as lágrimas. — Sinto muito por não ter
confiado em você. Sinto muito por ter fugido. Eu o amo, Brad. Isso é suficiente?
Ele a observou por um longo momento, os olhos velados pareciam querem enxergar
dentro dela.
— Acho que sim — ele murmurou num tom bem-humo-rado. — Talvez possamos
contornar a situação. Talvez não. Enquanto isso, bem-vinda à nossa lua-de-mel substituta, sra.
Baldwin. Pelo menos, encontramos uma coisa interessante para fazer enquanto decidimos se
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CAPITULO IV
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ajeitou os cabelos.
— Não, madame. Foi uma ligação da Inglaterra. Anotei o nome e o número no bloco ao
lado do telefone.
Madame Fleurie negou com um gesto de cabeça. Kim se perguntou se, sob a expressão
discreta e impenetrável, a governanta não estaria achando aquela lua-de-mel muito estranha,
fora dos padrões normais. Na verdade, ela mesma * estava cheia de dúvidas. Apesar de terem
feito amor naquela manhã, não sabia em que pé estava seu relacionamento com Brad.
Ele ainda estava muito furioso. Seu orgulho fora atingido demais pelo comportamento
dela após o casamento, e Kim não imaginava quanto tempo passaria até Brad perdoá-la. Não
suportaria a indiferença dele. A intimidade, o prazer que sentira durante aqueles momentos,
graves, de sua primeira reação totalmente impulsiva, queria ficar com Brad. Ansiava por estar
Brad, porém, não parecia nada preocupado em dar-lhe explicações. Naquela manhã,
antes de sair do quarto dela, ele simplesmente comunicara que tinha um compromisso com um
passeio?
— Sim, obrigada. Fui ao jardim. Monsieur Fleurie deixou-o uma jóia. As flores estão
Pegou o papel ao lado do telefone. O nome de Philip estava anotado. Mordeu o lábio.
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Tentara falar com ele logo cedo e deixara recado na secretária eletrônica. Tinha que falar com
ele, sondar, tentar descobrir se ele estava realmente por trás da remessa da carta anónima.
Foi para o escritório. Era uma sala grande, com enormes janelas francesas abrindo para
o terraço. Fechou a porta. Discou os números e Philip não demorou nada para atender.
Ela teve uma rápida imagem da figura de Philip com os cabelos loiros bem penteados e
roupas formais.
— Em lua-de-mel? — Houve uma breve pausa. Por fim, Philip perguntou: — Você está
com Brad?
— Que pergunta, Philip! Eu só podia estar com Brad. Afinal, é costume passarmos a lua-
— Não precisa ficar tão ofendida. Você fugiu logo depois do casamento, Kim — Philip
argumentou irritado. — Aliás, você deveria ter visto a cara de Brad quando descobriu que fora
abandonado. Se naquele momento ele tivesse uma arma, aposto como teria fuzilado todos os
convidados!
— Foi uma reação totalmente previsível, não acha? — Procurou controlar a voz para não
Uma luz começava a brilhar. Fora Philip! Seus comentários o traíam. Revelava-se
preocupado com a segurança dela. Surpreso demais com o fato de ela estar com o marido em
— Como assim? — ele parecia confuso com o tom ríspido de Kim. — O que está
— Ora, Philip, o que você esperava? Que Brad saísse correndo, ferindo e agredindo todo
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Furiosa, ela chegou à conclusão de que, ao ver-se acossado, Philip bancava o inocente.
— Pelo menos tenha a hombridade de assumir — ela investiu com tudo. — Como pôde
fazer uma coisa dessas? A quem você pagou para forjar aqueles documentos, para inventar
princípio você conseguiu me assustar. Mas, agora não. Acredito em Brad. Ele é meu marido e
eu o amo. Ouviu? Por favor, pare com esses seus jogos sujos, Philip, e deixe-nos em paz.
Estava tremendo. Saindo para o terraço, sentou-se numa espreguiçadeira até sua
pulsação voltar ao normal. Fechando os olhos, rememorou sua conversa com Philip. A atitude
dele fora extremamente suspeita. A surpresa ao saber que ela e Brad estavam juntos, a
aparente preocupação com a segurança dela... Sim, só podia ter sido ele! Talvez tivesse algum
amigo nos Estados Unidos a quem pedira para investigar o passado de Brad. Então, depois de
descobrir que ele já fora casado anteriormente, elaborara aquele plano para desmoralizá-lo aos
olhos dela.
Brad. Desde o começo sentira-se atraída por ele, embora se escondesse atrás de um intenso
Na época, era noiva de Philip e sinceramente acreditava que o amava. Por isso, passou a
enfrentar um grande sentimento de culpa. Sua família e a de Philip eram amigas e foi com
começara antes da universidade. O breve e infeliz namoro com o colega casado só serviu para
Depois que conheceu Brad, Kim foi obrigada a reconhecer que seu compromisso com
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Philip não passara de uma pálida imitação de noivado. Entretanto, temia as emoções perigosas
que Brad lhe despertava. Philip representava segurança. Brad Baldwin, o perigo. Somente
cerca de dois meses depois de estar trabalhando para ele, Kim teve a coragem de admitir seus
verdadeiros sentimentos.
Viajavam muito pela Inglaterra e para o estrangeiro, para compras e leilões de arte. As
vezes, iam juntos, outras, separadamente. Quando viajavam juntos, Brad sempre reservava
quartos separados. Ela estava comprometida com outro homem e ele dava a impressão de ser
seguramente encoberto por uma velada hostilidade. Até a noite em que ela voltara de Dublin.
Ela viajara com uma ordem de Brad para comprar um retrato de Galileu, de Sustermans,
um pintor flamenco do século XVII. A obra fora catalogada como cópia, mas, depois de
universidade americana contratara a empresa de Brad para comprar a obra para o recém
Depois de assegurar a compra por um valor bem inferior ao limite estabelecido por Brad,
ela voltara para Londres. Era fim de tarde, estava exausta e muito resfriada. Quase perdera a
Para sua surpresa, Brad a esperava no aeroporto, levando-a para casa. Quando soube
que os pais dela haviam ido passar uns dias no château e que Philip passaria uma semana
pescando na Escócia, não titubeou em levá-la para seu apartamento, numa praça elegante de
gripe.
— Tenho que zelar pela saúde e o bem-estar dos meus funcionários — ele brincara.
Encabulada com tantas atenções, Kim respondera com a primeira bobagem que lhe viera
na cabeça.
— Não esqueça que você poderá pegar meu resfriado. Do quarto, ela via os jardins
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entrava pela janela, junto com o canto dos pássaros e o ruído distante do tráfego do
centro da cidade.
Brad na imensa cozinha ul-tra-equipada. De avental e o rosto sujo de farinha, ele picava
— Sim, sou um bom cozinheiro — ele dissera ao vê-la aproximar-se. Introduzira o dedo
no cós do jeans que ela usava para mostrar-lhe o quanto emagrecera. — E você precisa
recuperar o peso.
— Acho que a música não combina com a comida — Kim rira, tentando disfarçar o
uma garrafa de Beaujolais, de muito riso, de muita conversa sobre amenidades e negócios e,
sobretudo, de muita tensão sexual, Brad a beijara pela primeira vez. Para Kim, a reação
intensa fora a maior revelação de toda sua vida. No fim de semana seguinte, quando Philip
Não que Brad tivesse se declarado. Não. Ela agira por iniciativa própria. Na verdade, por
mais que ela perscrutasse a aparência física dele, o corpo esbelto e sensual, o rosto com
linhas marcantes, os olhos azuis profundos, o sorriso sensual, não conseguia sequer imaginar
o que se passava pela mente de Brad. Mesmo assim, compreendeu que não poderia casar-se
com Philip.
Lembrou-se de quando rompera o noivado. Fora tudo muito confuso. As únicas emoções
das quais se recordava eram compaixão e culpa, por parte dela e uma quase solene aceitação
de Philip. Porém, com certeza, naquele momento ele começara a tramar sua vingança!
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Percebeu que estava comendo unha, algo que não fazia desde seus dezesseis anos.
Pombos arrulhavam em algum lugar. O som rítmico agiam como calmante. A distância podia
ouvir vozes falando em francês. Uma era de madame Fleurie, reconheceu. A outra seria de
Respirou fundo, jogou os cabelos para trás e ensaiou um sorriso caloroso. Não permitiria
Mostraria o quanto confiava nele. Ele deveria ter uma boa razão para não querer falar
sobre a primeira esposa. Não, ele não era um agressor de mulheres. E não podia, não podia,
em hipótese alguma, querê-la apenas como um trofeu. Uma mulher decorativa, bonita, loira,
competente, de família tradicional, apenas para ilustrar seus negócios e sua vida social. O
modo como fizera amor com ela, seu autocontrole, a intensa ternura que demonstrara, mesmo
quando estava furioso, não eram provas contundentes de sua inocência? Não revelavam sua
integridade?
confiança. Como teria se sentido se Brad a tivesse abandonado apenas algumas horas depois
do casamento, por causa de acusações falsas? Não importava o quanto teria que engolir o
orgulho para conseguir com que Brad perdoasse sua falta de confiança. Estava disposta a
fazer qualquer coisa. Philip não sairia vitorioso dessa história sórdida. Como ele se atrevera?
Como pudera?
Quando ouviu os passos de Brad no terraço, levantou-se num salto para cumprimentá-lo.
Kim ignorou suas incertezas. Ele estava bonito. Não. Bonito era pouco. Brad estava
maravilhoso, magnífico. Alto, moreno, elegante com o terno claro e camisa preta. Irradiando
— Brad... Senti sua falta. — Enlaçou-o pelo pescoço. As palavras não foram mais do que
um murmúrio enrouquecido.
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— Que emocionante! — Sua voz soou ríspida. Aceitou o abraço, mas com a frieza de um
adulto que fazia a vontade de uma criança. — Fiquei fora apenas algumas horas e minha
adorável esposa já sentiu minha falta! E como minha devotada esposa matou o tempo
Tanto sarcasmo irritou-a profundamente, mas decidida a não perder a calma, conseguiu
— Bem, eu dei um passeio — respondeu num tom cordial." Ele não estava retribuindo o
abraço com muito entusiasmo, mas, mesmo assim, o calor do corpo dele, o perfume de sua
pele, provocavam os efeitos que Kim conhecia muito bem. Todos os seus sentidos reagiam
prontamente. — Adoro caminhar pelo campo. Você deveria ter ido também. Quero levá-lo até o
caramanchão. Em criança, era meu lugar favorito. O jardim está florido e coberto por
nosso jardim?
— Sim. Dei uma olhada por aí antes de comprar o châ-teau. Só isso? Nada mais?
Ela hesitou. O tom inquiridor alertou-a. A tensão fez com que ficasse mais apreensiva. A
despeito de sua intenção de não se descontrolar, não pôde evitar a resposta mordaz.
— Telefonando para seu ex-noivo na Inglaterra, talvez? Não foi o que você andou
fazendo? Tratou de garantir seu futuro ligando para Sefton-Brook, não? Sim, porque se as
coisas não derem certo entre nós, você terá uma alternativa segura à sua espera em casa, não
é mesmo?
— Então, diga-me. Por que uma noiva ligaria para o ex-namorado somente dois dias
depois do casamento?
Ela sentiu a cor fugir-lhe do rosto. Brad tirou os óculos escuros. Seu olhar era
indecifrável, desencorajador, frio, hostil. Kim passou a mão pelos cabelos. Sua pele estava
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quente devido ao passeio sob o sol forte. O vestido de algodão estampado estava grudado ao
corpo suado, realçando a curva dos seios. Estava sem sutiã. Os mamilos enrijeceram-se sob o
confiança. — O orgulho ferido dava-lhe forças para enfrentá-lo. Talvez Brad quisesse mesmo
acreditar que ela seria capaz de traí-lo com Philip. Talvez estivesse à procura de uma boa
desculpa para fomentar a desavença entre ambos. — Pelo menos, você sabia que havia um
ex-noivo em minha vida — acrescentou furiosamente. — Nunca fiz segredo disso. Ao contrário
esticou as pernas. Lançou-lhe um olhar impaciente. — O que você queria falar de tão urgente
— Bingo, é? — desafiou-o inflamada. — Você não pode levantar uma questão e depois
largá-la de lado, sempre de acordo com suas conveniências. Como sabe que telefonei para
— Perguntei à madame Fleurie se havia recados para mim. Ela me informou que o único
Kim deu alguns passos pelo terraço. Madame Fleurie não tinha nada que contar a
respeito de suas ligações particulares! Mas, também, certamente a governanta não poderia
imaginar que causaria tantos problemas. Além do mais, depois da venda do château, Madame
Fleurie passara a ser empregada de Brad. Nada mais natural, portanto, que estivesse do lado
do novo patrão.
Voltando para junto de Brad, Kim sentou-se também. Estava terrivelmente consciente da
presença dele. Brad a deixara furiosa, frustrada, tensa. Ainda assim, era um verdadeiro suplício
conter a vontade tocar-lhe, de acariciá-lo. Fitou-o com os olhos semicerrados. O corte perfeito
da calça acentuava os contornos musculosos das coxas dele. Tudo nele era rijo, forte,
apelativo. Sentiu a garganta seca. Com esforço, desviou o olhar e cruzou os braços sobre os
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seios. Amava-o e odiava-o ao mesmo tempo, concluiu com uma pontada de amargura.
— E então, Kim? Vai me dar uma explicação? — Ele falava como se, na verdade, não
— Foi ele.
— A carta anónima, o envelope com todos aqueles papéis! Tenho certeza que ele pagou
Lentamente, Brad virou a cabeça para olhá-la. Seu rosto era inexpressivo.
— Ele admitiu?
dispensandô-a. Depois, encheu dois copos de cristal com vinho branco, oferecendo um a Kim.
— Não. Quero puro. — Sorveu um gole da bebida, enquanto observava Brad beber
pensativamente.
— Você não acha que foi Philip? — ela perguntou por fim.
— Só Deus sabe. O que mais me intriga, Kim, é esse seu senso de "culpado-até-prova-
em-contrário" que aplica em todos os pequenos mistérios da vida. E sempre assim, não? Age
— Não, não é nada disso. Acredito em sua inocência, Brad. Já lhe disse! — Ela tremia. A
voz enfraquecera pela emoção. Limpou a garganta impacientemente. — Brad, você vai punir-
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me para sempre? Recebi um choque. Um choque terrível. Aquela carta, as certidões, as fotos,
pânico. Precisava de espaço para esclarecer as coisas em minha cabeça. Será que não dá
para entender...
cabeceira.
— Deixe-os lá. Não se apresse com algo que poderá arrepender-se mais tarde.
A crueldade dita num tom casual feriu-a como um golpe no estômago. Com a mão
trémula, levou o copo aos lábios, bebendo outro gole de vinho. Depois, largou o copo na mesa.
muito mais do que a falta de aliança para romper nosso casamento, Brad.
— Certo. Eu sei. — assentiu com sarcasmo. — Você viu a luz, está convertida à verdade
Passando os dedos pelos cabelos, Brad fitou-a novamente. O sorriso era irónico. Kim
sentiu uma pontada de dor. Uma dor intensa, desesperada, lancinante. Só podia ser um
pesadelo. Seu casamento estava condenado só porque não sabia em que acreditar? Seria
daquele modo dali para frente, com ela tentando aproximar-se e Brad repelindo-a com
crescente hostilidade?
Ele poderia não ser fisicamente violento, poderia não ser culpado das acusações contidas
na carta, mas o que ele fazia era violência emocional. E feria tanto quanto a violência física.
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— O ódio está rondando nosso relacionamento, porém, não é o mesmo tipo de ódio que
— Você poderia filosofar menos e falar com mais clareza? O que significa isso tudo que
você disse?
— Significa que, quem quer que tenha enviado aquele envelope justamente no dia do
— Você acha mesmo que Philip Sefton-Brook está consumido pelo ódio, Kim?
— Bem... — Ela consultou seu coração e, de repente, viu-se diante de um impasse. Sem
mais certeza de nada, ainda tentou defender seus argumentos. — Quem sabe? Se estiver, ele
escondeu muito bem. Apesar de ter ficado muito furioso quando rompi nosso noivado, depois
— Se não foi Philip, quem foi então? Quem poderia odiar-me tanto, a ponto de fazer uma
barbaridade daquelas?
— Já ocorreu a esse seu cérebro egoísta que talvez o ódio esteja dirigido a mim? Sei de
olhar súplice, fitou o rosto sombrio dele. — Preciso saber sobre essas pessoas. Preciso saber
sobre seu passado. Você tem muitos segredos que deveria ter revelado antes do nosso
casamento. Agora, sou sua esposa e tenho o direito de saber. Não deve haver mais segredos
Ele se levantou repentinamente e pegou na mão dela. Kim também pôs-se de pé.
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sensual esposa, que parece passar o tempo pulando de uma conclusão para outra.
— Não é nada disso... — Para seu horror, percebeu que tremia. A onda de ansiedade
começava a consumi-la à medida que Brad a puxava mais, amoldando-a ao seu corpo.
envelope antes do casamento, não depois. — Brad beijou-a na curva do pescoço, introduzindo
a língua na orelha dela. Kim estremeceu involuntariamente. Uma sufocante onda de desejo
— Porque essa seria a reação de um homem racional. Embora conhecendo Philip Sefton-
— Então, você acha que quem fez isso não é uma pessoa normal?
— Eu não acho nada. Para cima, sra. Baldwin. Hora de ir para a cama...
Empertigada e meio resistente, mas intimamente vencida pelo desejo, Kim permitiu que
Brad a conduzisse para quarto. Não o seu, pequeno, da torre, mas a suíte principal, no
primeiro andar. O quarto grande, alto, que seus pais costumavam dormir.
Assim que entrou, notou que o aposento fora totalmente reformado, os móveis trocados.
A cama francesa era uma verdadeira obra de arte. Antiga, de madeira escura entalhada. As
paredes estavam forradas de papel bege claro, o carpete era marrom e as cortinas em vários
tons de bege. O efeito era perfeito para realçar os espelhos antigos, os porta-retratos com
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— Aprova?
— Quando?
— Um mês atrás.
Ela raciocinou rápido. Brad a pedira em casamento dois meses antes. Marcaram a data
para o início de agosto e Brad fora para a França a negócios no final de junho. Houvera boatos
de que um Turner desaparecido poderia estar num château em Loire. Ele fora checar a
informação.
Depois, ela fora mandada para um leilão em São Francisco. Na época, estranhou que
Brad não tivesse aproveitado a oportunidade para voltar aos Estados Unidos. Concluiu que fora
tudo planejado para que ela não desconfiasse de nada, garantindo, assim, a surpresa do
presente de casamento. Brad transformara o antigo quarto numa jóia. Um verdadeiro ninho de
amor.
cabelos dela. Segurou-a pelos ombros, sentindo a curva dos seios sob o algodão do vestido.
— Acha mesmo? — Ele a despira até a cintura. Os olhos azuis escureceram de desejo.
— Que ironia você ter escolhido justamente este lugar para esconder-se de mim!
— Eu já disse que seus seios são bonitos? — Inclinando-se, enterrou a cabeça entre
Kim estava fraca e trémula. Os mamilos se enrijeciam sob os lábios ardentes de Brad que
os circulava, explorando-os, tocando-os de leve. As sensações eram tão intensas que Kim não
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— Aqui..? — Brad tocou um dos mamilos ultra sensíveis com a ponta da língua,
Abrindo os olhos, ela notou a expressão divertida no rosto dele, mesclada com a tensão
Mais uma vez, sentia-se apanhada numa armadilha. — Fazer com que o odeie?
— Não... — Abraçou-a com força, pressionando-a contra o corpo. Sua voz soara abafada
pela emoção contida. — Não sei se conseguirei lidar com o ódio neste momento...
coragem para tomar a iniciativa de um beijo. Beijou-o com a força de sua urgência feminina
conotação ambígua. Levou-a para a cama. Ajeitou-a sobre os lençóis. Os olhos escuros fixos
no rosto corado, nos lábios entreabertos de Kim. — Mas, antes vamos esclarecer bem um
Kim abriu a boca para protestar, mas Brad a impediu, beijando-a. Beijos vorazes que
entorpecia o cérebro, mas que despertava o corpo de Kim. Ao mesmo tempo, com movimentos
— Por que você precisa ser tão., amargo? Faz com que pareça ... sórdido... este
sentimento que existe entre nós — ela protestou debilmente. Estava fraca, sem defesas,
enquanto Brad acariciava seu corpo, incendiando todos seus sentidos, procurando pelas mais
Brad tirou a roupa também. Depois, ajoelhou-se na cama para tirar a cueca. O estômago
— É essa a impressão que passo, Kim? — O tom enrouquecido, ofegante, soou quase
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como uma carícia. Com a ponta dos dedos, traçou um uma linha que ia dos seios até o
abdómen, prolongando-se até o triângulo de veludo dourado que encobria a feminilidade dela.
ligação sórdida". Não foi assim que você descreveu nosso casamento hoje cedo?
Gemendo, mergulhada no clima de sensualidade que Brad estava criando, quase não
— Não? — ele repetiu com mordacidade, posicionando-se sobre ela. — Não o quê,
minha querida? Não comer minha encantadora esposa-troféu? E correr o risco de ser chamado
de impotente de novo?
respiração. Com as duas mãos no peito dele, empurrava-o enquanto ele a penetrava.
— E continuar eternamente "mais ou menos" virgem com o último dos grandes amantes
ingleses, Philip Sefton-Brook? — ele zombou, iniciando a cavalgada que já começava a levá-la
ao delírio.
Kim gritava, sacudida por convulsões, à espera do clímax. O quarto girava, sua mente
também girava, enevoada. Gemeu aliviada, sentindo a força violenta da realização de Brad
— Eu a estou educando nas artes sensuais. Sefton-Brook não sabe o que o espera
Transtornada pela raiva, Kim o encarou. Antes que Brad se desse por conta, ela ergueu a
— A brincadeira foi de muito mau gosto. — Apesar de ainda sentir os efeitos dos
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momentos de intimidade com Brad, sua angústia era quase uma dor física, latejando fundo em
seu coração. — Não acerto uma com você, não é? Se digo que o amo, você me atira esse
sentimento no rosto. Se demonstro que o desejo, você usa isso para humilhar-me. Para mim,
corpo dele. Brad a prendia possessivamente na cama sem dar mostras de soltá-la. — Você
deve ter motivos para ser assim tão amargo, tão cruel. Porém, não é justo punir-me por algo
que não tem nada a ver comigo. Com um gemido, ele rolou de cima dela, deixando-se cair na
— Será que não? Será que não tem nada a ver com o modo como me olhou quando
cheguei hoje pela manhã? — rebateu ele num tom suave. O sorriso, porém, era frio. —
Imagine como me senti ao ver que a garota que eu amava e com quem me casara estava com
medo de mim. Ainda acha que você não tem nada a ver com o fato de eu ser amargo e cruel?
Kim não respondeu. Com um enorme sentido de frustração, compreendeu que estava
tudo errado e que nunca conseguiria recolher os cacos daquela relação e juntá-los novamente.
Não podia negar as acusações dele. Estivera apreensiva mesmo! As fotografias horríveis, a
— A culpa é sua se tive medo de você — justificou-se. — Sua culpa por não ter revelado
— Todos têm segredos, Kim. Tenho trinta e dois anos. Sou um homem vivido. Já vi
muitas coisas, fiz outras tantas das quais me arrependo. Casamento não significa que você
deve virar-se do avesso, que deve pôr para fora todos os episódios tristes de sua vida
passada, Kim.
— No seu caso é evidente que não! Quando você disse que se arrepende de muitas
coisas, está querendo dizer que... que... aquelas acusações são verdadeiras?
Seguiu-se um pesado silêncio. Arrependida, Kim desejou poder apagar suas palavras.
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— O que você pretende fazer, Kim? — Brad disse, por fim. Parecia escolher as palavras
cuidadosamente, mantendo seu humor sob controle. — Você é apenas uma criança. Pensei
que tivesse mais maturidade para o casamento. Quer acabar logo com tudo isso e voltar a
Ela enterrou a cabeça no travesseiro. O olhar de Brad era distante, anuviado por densa
emoção. Parecia um estranho. Um estranho que usara seu corpo para uma gratificação sexual.
— Tenho vinte e um anos, Brad. Não sou mais criança. Além do mais, pensei que
— E preciso.
— Então, ficarei até o leilão. — A resposta foi fria, impensada. Por que dissera aquilo, em
vez de gritar e espernear passionalmente que queria ficar com ele, queria continuar com aquela
loucura, queria reviver o calor e a tranquilidade que haviam partilhado antes do casamento?
Mal conseguia respirar. O desespero oprimia seu peito como uma mão de ferro.
— Ok. Iremos para Paris amanhã cedo, um dia antes do leilão. Assim teremos tempo
— Por que não? Bem, perdão, madame. Como foi mesmo a frase que você usou hoje
cedo? — A expressão dele era pura ironia. — "Mulher-acessório". Sim, isso mesmo. Você não
é minha "mulher-acessório"? O tipo de mulher que escolhi como esposa para galgar os
degraus de minha escalada social? Posso não ter o seu status, sua superioridade inata, mas,
tenho dinheiro, muito dinheiro, meu amor. E imagino que uma esposa-troféu esteja sempre
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CAPÍTULO V
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Madame Fleurie estava parada no hall, sorridente, enquanto Brad levava as malas para o
carro.
Sorrindo, Kim concordou com um gesto de cabeça. Ela se lembrava sim. Junto com os
pais, fora muitas vezes à cidade para participar da festa. Tardes quentes de verão, com o
cerimónia que consistia num anjo de madeira segurando uma espécie de arame com um
— Não sei ainda. — Kim sentiu um nó na garganta. — Não sei exatamente quais são
Na verdade, ela não sabia nem como seriam suas próximas horas! Naquela manhã, o
telefone não parara de tocar. Philip ligara de novo, bradando sua inocência do que quer que
ela o acusava. Seu pai telefonara, depois de saber de seu paradeiro através de Philip.
Sutilmente, ele tentava descobrir o que estava acontecendo. Lucinda também ligara, cheia de
Empolgadíssima, Lucinda contou que continuava saindo com Curtis, a quem considerava
um verdadeiro presente dos céus para qualquer mulher e, aparentemente, tão divino quanto
Brad.
Brad passara muito tempo fechado no escritório, recebendo diversos telefonemas, vários
de Curtis que mostrava-se solidário com a crise conjugal que o amigo já enfrentava.
— Acho que será muito bom irmos para Paris hoje — comentara com Brad, logo depois
— Perseguida? Você deve ter bons motivos para dizer isso. Desanimada pela ironia de
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Saiu do escritório, voltando para seu quarto na torre. Sofria com aquele clima de conflito.
— É... acho que tenho uma batalha árdua pela frente — resmungou, fechando a porta do
quarto.
Conversaram sobre o leilão onde Kim compareceria no lugar dele. Ninguém poderia saber que
ele estava por trás daquela compra. Marchands de várias partes do mundo estariam presentes.
Se alguém desconfiasse que -Brad Baldwin descobrira algo excitante num quadro fora de
catálogo por ser considerado simples cópia, o preço da obra seria imediatamente inflacionado.
XVI. Tenho quase certeza que trata-se de um original raríssimo de Catherine Howard
— ele comentou enquanto tomavam café. — Pedi para Geor-ge tentar localizá-lo. Pode
ser um Holbein.
— Com exceção de uma miniatura também de Holbein, da Royal Collection, quase não
existem retratos de Catherine Howard. A história conta que Henrique XVIII destruiu quase
— E verdade.
— Você acha que ele se sentiu mais calmo depois que mandou cortar-lhe a cabeça?
— Ela o traiu com outro homem. Foi uma questão de honra e orgulho.
— Sim, claro... honra e orgulho. — Com o olhar fixo em Brad, ela pôs a xícara na mesa.
— Imagino que para muitos homens, a honra e o orgulho nunca poderão ser arranhados...
Brad encarou-a por um longo momento. Por fim, declinou o desafio e, com um gesto de
marido. Embora sentados lado a lado, pareciam infinitamente distantes, como se habitassem
planetas diferentes.
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O único elo que os unia, era o sexo. Remexeu-se no banco, envergonhada pela força
com que aquela chama erótica explodia entre ambos. Uma parte dela adorava isso, mas, um
lado mais sensato ressentia-se com a frieza de Brad, que dizia e repetia que sexo não envolve
amor. Não tinha nem certeza se voltariam a dormir no mesmo quarto! Na noite anterior, ela
subira para dormir no quarto da torre. Brad não impedira. Apenas comentara com a costumeira
ironia, que era muito tarde para ela se trancar em sua torre de marfim!
uma prostituta de luxo. Você não tem o direito de usar-me quando bem entender apenas...
— Engraçado, pensei que a satisfação fosse mútua. E, pelo que me lembro, foi você
quem fez questão de consumar nosso casamento. Mas, procurarei não me esquecer do seu
pedido. — O tom de voz fora pacífico, quase cordial. Porém, o olhar e o sorriso extremamente
Lutando para não desmoronar diante dele, Kim saíra apressadamente, buscando refúgio e
proteção no quarto da torre. Depois, numa atitude extremamente tola e infantil, esperara que
ele batesse à sua porta durante a noite. Pior de tudo, porém, fora a frustração que sentira, o
A voz firme de Brad trouxe-a de volta à realidade. Olhando pela janela, Kim percebeu
— Fiz reservas no hotel da Place de Ia Concorde — declarou, citando um dos hotéis mais
— Existe melhor lugar para eu exibir meu "acessório feminino"? Além do mais, como
Paris fica um caos em agosto, com tantos turistas, achei que deveríamos ter um pouco de
— Certamente não poderia haver nada menos romântico do que esta visita a Paris.
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— Cuidado com o que fala, sra. Baldwin. — Esticou a mão para tocá-la no queixo. —
Estamos em lua-de-mel. Não existe nada mais romântico do que uma lua-de-mel, querida.
Kim não respondeu. Desviou o rosto, fugindo ao contato. Apertou as mãos, percebendo
que as palmas estavam úmi-das. Nervosa. Estava irritada, furiosa, com o próprio marido. Era
Na verdade, reconhecia sua parcela de culpa. Admitia que, ao fugir de Brad horas depois
do casamento, quebrara duas regras preciosas num relacionamento. Ferira o orgulho de Brad,
expondo-o ao vexame diante de todos os convidados, e não confiara nele. O que esperava,
depois disso? Champanhe e rosas? E, agora, por acaso, já confiava nele? Ou ."estava usando
o clássico subterfúgio de esconder a cabeça na areia, enquanto esperava pelo melhor? Sentiu
Brad tirou as roupas, atirando-as sobre a cama. Kim respirou fundo, esforçando-se para
não demonstrar seu constrangimento, enquanto ele caminhava em sua direção com a maior
naturalidade. Alto, moreno, musculoso... e nu! Mas, ele foi para o banheiro!
cidade. Seus nervos estavam em frangalhos. Quando Brad saiu do banheiro com os cabelos
úmidos e cheirando a loção pós-barba, ignorou-o. Ou tentou. Ele, sim, deu a impressão de
ignorar a existência dela. Enquanto fingia ler, Kim observava-o, incapaz de não perturbar-se
com a sua presença. Por mais raiva que ele despertasse nela, por mais tensa que fosse a
Ele estava se vestindo. Camisa impecavelmente branca, terno de linho azul marinho,
provavelmente Armani, a julgar pelo caimento perfeito. Penteou os cabelos e colocou os óculos
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Julia 937 Esse Estranho Amor Rosalie Ash
— Vai sair?
— Posso ir junto?
— Por mais que eu anseie exibi-la para Paris e o mundo, desta vez, não. — Ergueu as
para dormir um pouco. Quando eu voltar, iremos às compras na rue de Marignan. Depois, nos
Ele conseguiu dar às palavras um tom arrogante, que sugeria protecionismo. Kim
— Você está tentando me impressionar ou coisa parecida? Para um órfão criado nas ruas
de Los Angeles, você está muito bem informado sobre o jet-set europeu. Parabéns, Brad! Mas,
garanto que perde seu tempo. Não quero fazer compras, nem estou interessada em
restaurantes chiquér-rimosl Você está me tratando como seu eu fosse uma... uma boneca sem
cérebro!
Relanceou os olhos pelo quarto, detendo-se na garrafa de Bol-linger ainda no gelo e para
Concorde, datada do século XVIII, e os jardins da Tuileries se abrindo para o Louvre. Lá estava
ela, num dos hotéis para requintados de Paris, vivendo o que considerava uma sátira de sua
lua-de-mel, sentindo que seu mundo chegava ao fim. As ironias de Brad machucavam-na
demais. Sentia-se mais só do que jamais se sentira em toda sua vida. Por que Brad era tão
orgulhoso... e fechado?
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Julia 937 Esse Estranho Amor Rosalie Ash
Ele não falara com ela. Recusara-se a discutir seu primeiro casamento. Não se
preocupara em desmentir as acusações da carta. E, por outro lado, não permitira que ela
saísse do château quando ameaçara partir. O que Brad pretendia com atitudes tão
controvertidas? Tê-la por perto para poder puni-la vinte e quatro horas por dia? Ou para
Obrigando-se a fazer algo de positivo, decidiu tomar um banho. Tirou a roupa, pendurou
a calça azul e a jaqueta no guarda-roupa. Depois, mirou-se no espelho. Correu as mãos pelo
corpo. Ficara diferente depois que Brad a introduzira nos mistérios do desejo? Estremeceu só
em pensar no modo como os carinhos de Brad a deixava. Ardente, entorpecida e tão, tão
Com um suspiro resignado, prendeu os cabelos no alto da cabeça e foi para o banheiro.
Encheu a banheira e deixou-se embalar pela água morna e pela espuma perfumada. Tinha
tudo para relaxar, mas não conseguia desligar-se dos pensamentos torturantes. Seu cérebro
estava a mil...
O relacionamento dela com Brad caminhava em círculos, com cada qual procurando ferir
mais o outro. Ela o humilhara, abandonando-o logo depois do casamento. Ele a humilhava,
rejeitando-a sexualmente. Em nome do orgulho, ela revidara, atirando-lhe no rosto tudo o que
sabia sobre o primeiro casamento. Não sabia o que atingira mais Brad. As acusações de
brutalidade contra a ex-mulher ou a afirmação de que ele se casava com mulheres de nível
Fechando os olhos, apoiou a cabeça nos joelhos dobrados. Se não tivesse entrado em
pânico, se tivesse esperado por ele, enfrentando-o com o maldito envelope nas mãos! Se
tivesse exigido uma explicação no ato, talvez, a situação fosse bem diferente. O que Brad teria
feito nesse caso? Teria explicado, falado sobre a ex-esposa? Teria esclarecido o mistério de
como alguém poderia ter forjado aqueles documentos? Como poderia saber se a relutância de
E se for tudo verdade?, gritou uma voz crítica em sua cabeça. E se Brad fosse um
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Julia 937 Esse Estranho Amor Rosalie Ash
dissimulado, que escondia sua natureza violenta, até conseguir o que queria? Ele a usara?
Teria se casado com ela apenas porque pertencia a uma família tradicional?
Uma onda de frustração envolveu-a. O Brad que conhecera e a quem amava não tinha
nada em comum com o tipo de homem que atacava violentamente uma mulher. Ele era
corajoso, forte, valente, mas não era violento ou vingativo. Pelo contrário, até. Tivera muitas
Harley-Davidson fora roubada da porta da galeria em Old Bond Street. Horas depois, a polícia
capturara o ladrão. Era um adolescente que quase atropelara uma mulher e uma criança, antes
de bater com a moto no muro de uma casa. A moto foi destruída, mas o jovem,
Kim esperava que Brad exultasse com prisão. A polícia explicara que aos dezesseis anos,
o rapaz já era um temido ladrão de automóveis e participante de rachas, e que seria enviado a
de cons-cientização. Dois meses enfrentando a realidade daquilo que ele conhecia tão bem,
incluindo vídeos com as vítimas, com acidentes de carros e motos e suas consequências.
Quando Kim comentou a respeito, ele dissera que, por ter crescido nas ruas de Los
Angeles, aprendera como era fácil deixar-se esmagar pela engrenagem do crime. Queria dar
oportunidade aos jovens como aquele que roubara sua moto, e não ajudá-los a afundar ainda
mais no buraco. Decididamente, aquele não era uma atitude condizente com alguém que batia
em mulheres!
Independente do que sentisse pelo marido, o relacionamento deles poderia estar seriamente
arruinado. Em parte por sua culpa. Em parte por culpa de Brad. Piscou vigorosamente,
tentando conter as lágrimas. De que adiantaria a autopiedade? Pensou que conhecia o homem
com quem se casava. Talvez, na verdade, nunca o conhecera. Aquela era a realidade. Se não
gostasse, seria melhor pensar em algo para fazer, antes que fosse tarde demais...
— Embrulhe esse — Brad ordenou à gerente da butique luxuosa, assim que Kim saiu da
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sala de provas vestindo mais um modelo exclusivo. Era um vestido de noite em crepe
vermelho. A blusa consistia em duas tiras largas, cobrindo os seios. — O verde e o preto
também...
— Brad, são muito ousados. Não estou acostumada a usar modelos assim... — Kim
Passara a tarde inteira tentando manter-se sob controle. Mesmo sabendo que ele fazia
de propósito, que aquela também era uma forma de vingança, Kim achava muito difícil lidar
com a situação humilhante de ser arrastada de loja em loja como um faíitoche. E sem a aliança
de casamento que sempre atua como um tradicional símbolo de respeitabilidade, não tinha
como proteger-se dos sorrisos maliciosos e das expressões especulativas das vendedoras.
Fizeram o circuito completo. Lingeries, roupas esportes, sociais, de noite, tudo assinado
por Karan, Muir, Chanel, Valentino. Sapatos e bolsas italianos. Bijuterias e jóias valiosas de
— Pode embrulhar todos. — Ignorando os protestos de Kim, Brad entregou pela enésima
— Como pôde tratar-me daquele modo nas lojas? Como se eu fosse a amante de um
homem rico! — ela esbravejou. — Como uma reles cortesã sendo recompensada por seus
favores.
— Cortesã? Só mesmo uma burguesa como você para usar esse termo obsoleto, Kim!
Bem, respondendo à sua pergunta, apenas quis ajudá-la. Você ainda não tem experiência
— Você é odioso, sabia? Além de humilhar-me sem o menor escrúpulo, ainda me obriga
— Oh, que mal agradecida! Escolhi um guarda-roupa de fazer inveja a qualquer mulher e
tudo o que tem a me dizer é que os vestidos não tem nada a ver com você?
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— Mais violência?
— Sim. Meu rosto ainda está dolorido por causa do carinho que você me fez, querida. —
Lançou-lhe um olhar divertido. — Espero que não tenha o triste hábito de agredir seus
namorados, Kim. Talvez eu devesse prevenir Philip. Ou será que ele já está acostumado?
Assim que entraram na suíte do hotel, Brad gracejou num tom autoritário:
— Use o vestido vermelho no jantar desta noite. Quero exibir meu "acessório feminino"
— Como quiser, meu amo e senhor. — Kim retribuiu o sorriso sarcástico. — E o que
deseja que eu vista para dormir? O baby-doll de seda preta? Ou a camisola branca
transparente, de renda?
O restaurante do hotel era luxuoso e muito caro. Os garçons circulavam pelo salão com
deferência. Ao fundo, uma música suave. Nas mesas, toalhas brancas de linho, talheres de
prata e pessoas impecavelmente elegantes. Mesmo assim, Kim percebeu que muitas cabeças
se voltavam para observá-la, no vestido vermelho que realçava seu corpo perfeito, enquanto
caminhavam até a mesa previamente reservada. Deixara os cabelos soltos, caindo em ondas
pelas costas. Um pouco mais de maquilagem do que o normal acentuava o verde dos olhos.
— Com certeza, pensam que você é uma celebridade. Se quer saber, você lembra um
pouco a Cláudia Schiffer. — Desviando o olhar, pôs-se a ler o cardápio. — O que vamos
comer?
— Para mim é indiferente. Esta noite de cabaré é sua. Escolha o que quiser. — Pousou o
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Julia 937 Esse Estranho Amor Rosalie Ash
garçom voltou.
— Champanhe, por favor. Moét et Chandon está ótimo. Pâté de fois gras, seguido de
Kim olhou-o. Mesmo iluminado pela luz suave do castiçal, o rosto de Brad era duro,
sisudo. Sua expressão guardava a habitual máscara de cinismo. O terno preto, a camisa
branca, a gravata de seda discreta, tudo em sua aparência elegante e civilizada encobriam a
rudeza de sua personalidade. Kim sentia-se como se estivesse sentada à mesa para jantar
com um assassino.
— O quê? — Erguendo as sobrancelhas, Kim fitou-o surpresa. — Brad, acho que você
não ouviu absolutamente nada do que lhe falei nestes últimos meses. Já disse tudo sobre meu
— Por que mentiu dizendo que já dormira com ele? Kim respirou profundamente. Tentava
controlar a irritação.
— Já expliquei o motivo.
— Achei que você agiria de um modo diferente se soubesse que não era minha primeira
vez. — O rubor cobriu-lhe as faces. E, rubor era algo que decididamente não combinava com a
— Então, não foi um teste para minha tolerância? Para ver até onde poderia provocar-me
— Tem certeza?
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— Quer parar de interrogar-me, por favor? Nem eu mesma sei por que falei aquilo. Eu
estava apreensiva, nervosa, estressada mesmo, e, de repente, a mentira fez-me sentir menos
vulnerável. Foi isso. — Desviou o olhar por um instante. Tocou os talheres de prato, depois
fitou-o de novo. — Quanto a Philip... o quer que eu diga mais sobre ele? Descobri que não o
amava quando conheci você. Terminei o noivado por sua causa. Acho que essa sua repentina
obsessão por Philip é um pretexto. Você me acusa apenas para encobrir sua culpa!
— Minha culpa?
— Sim, sua culpa! Independente do que tenha feito à sua ex-esposa, você cometeu o
pecado da omissão ao manter segredo sobre a existência dela. Que tal redimir-se desse
Sempre com os olhos fixos nela, Brad apertou os olhos. O garçom aproximou-se
trazendo a champanhe. Kim pegou a taça de cristal em forma de tulipa. Levando-a aos lábios,
— Como ela era? Vocês foram felizes? O que aconteceu para ela se machucar tanto e ir
parar na polícia?
— Responderei na mesma ordem. Mimada e neurótica. Não. Ela levou uma surra de
— Ela devia dinheiro para alguém? Mas, você não disse que ela era de família rica? E
que ela e a irmã gémea eram proprietárias de uma galeria em Los Angeles?
— Sim, disse e não menti. Trata-se de uma longa história, Kim. Digamos que nem
Kim inclinou levemente a cabeça. Estava furiosa e confusa. Brad era ótimo em... falta de
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comunicação. Queria sacudi-lo pelos ombros, até arrancar a verdade de dentro dele. Como
— Você a amava?
— Na época acreditava que sim. Eu era um garotão de vinte anos. Tinha uma visão
ingénua de um casamento feliz e duradouro, com filhos, cachorros — aquela coisa de família,
— Qual o motivo de você ter sido acusado de agredi-la? — Sua voz soava menos
— Sim. No final, fui absolvido. Mas, cheguei a ficar preso. Kim mordeu o lábio. Precisava
— Sim. Ela sabia que não era eu o agressor. Kim ficou estarrecida.
— Quer dizer que Natália não revelou a verdade, mesmo sabendo que você estava na
cadeia?
— Correto. Kim, você está começando a perceber porque este não é meu assunto
predileto?
— Como eu disse, é uma longa história. Uma história sórdida. Não poderíamos conversar
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— Que história mais terrível! — Ela se mostrava perplexa. -— Sua ex-mulher parece
— Olhe — falou, por fim —, o fracasso de seu casamento pode até tê-lo transformado
num homem ressentido e cínico, mas acho que mereço um pouco de consideração. Acredito
— Eu ainda acho que deveríamos mudar de assunto. — Olhou para o garçom que
chegava com o primeiro prato. — Aqui está o patê. Vamos curtir nosso jantar?
Lá pelo meio do jantar, um casal chegou, acomodando-se numa mesa próxima. Foi o
homem quem viu Brad primeiro. Falou algo para a mulher e ambos se aproximaram para
cumprimentá-lo. Eram franceses, mas falavam inglês fluente. Deviam ter pouco mais de trinta
vestido longo, cinza, clássico e discreto. Os cabelos louros eram curtos. A elegância sóbria da
mulher deixou Kim desconfortavelmente consciente de estar vestida para agradar o gosto
— Esta é minha esposa, Kim — Brad apresentou-a enquanto apertava a mão dos recém-
chegados.
a apresentação.
— Ela não fala francês muito bem, mas possui muito outros talentos, não é, meu bem?
O sorriso educado gelou nos lábios dela. As palavras formais de cumprimento morreram na
reação. Viu o casal afastar-se em direção à outra mesa e só depois de algum tempo recuperou
o autocontrole.
— Como pôde, Brad? — Os lábios tremiam e a voz foi pouco mais do que um sussurro.
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— Você não acha que essa sua... brincadeira foi longe demais?
— Que brincadeira?
— Ora, esse seu modo de tratar-me, como se eu fosse propriedade sua. Um cavalo de
— Você fez questão de apresentar-me aos seus amigos como uma mulher fútil e sem
cérebro...
— Não são exatamente amigos — ele a interrompeu. — Contatos de negócios. Ele dirige
uma galeria em Paris. Espero que esse encontro casual não prejudique nossas chances no
leilão de amanhã.
Quase no final da noite, Kim descobriu que champanhe era um ótimo antídoto para o
intensos e sufocantes. Ele a espezinhara diante dos amigos. A pequena vingança a enfurecera.
Teria sido mesmo uma simples vingança? Aquele comportamento cínico faria parte da
Antes, Kim já considerara a explicação dele sobre o passado vaga e insatisfatória. Ele
contara apenas meia história. Continuava escondendo o resto porque ainda o magoava falar
sobre o assunto? Ou para não incriminar-se? Esta última hipótese era terrível demais para ser
encarada. De qualquer modo, Brad incorria no erro da deslealdade, o mesmo erro do qual tanto
a acusava.
Ela deveria ter entendido a crise de soluços como um sinal de perigo. Mas, não levou a
sério até o momento em que decidiu ir ao toalete. Só então percebeu que bebera além da
conta. Desempenhara seu papel razoavelmente bem. Não era esse o comportamento esperado
de uma loira fatal? Beber muita champanhe e depois cambalear pelo salão para o delírio da
assistência?
Não se lembrava de como chegara ao toalete e muito menos de como voltara. Na mesa,
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Brad estava com o cenho franzido. Pelo menos, ela achava que estava.
— Claro que estou bem — repetiu. Tropeçou numa cadeira. Brad a amparou, impedindo-
a de cair ao chão. — Que pergunta mais boba! — Sorriu para ele. — Estou casada apenas há
dois dias e meu marido me despreza. Por que eu não estaria bem?
Ele apertou os dedos no braço dela, segurando-a com firmeza. Kim saiu do restaurante
— Estou bem, sim. Só que minhas pernas estão meio fracas... — resmungou, jogando-se
na cama.
como se estivesse caindo num buraco escuro e profundo. Nada poderia salvá-la.
vestido, depois vestindo-lhe a camisola e colocando-a na cama. A voz dele vinha de muito
longe. Nem ríspida, nem impaciente, mas gentil, solícita, soando como se ele realmente se
Nas primeiras horas da manhã do dia seguinte, ela acordou. Deveria ter falado durante o
sono, pois Brad estava a seu lado, murmurando alguma coisa, acariciando os cabelos loiros,
como se ela fosse uma criança. De repente, sentiu uma ridícula ponta de alegria e otimismo.
Se Brad se mostrava tão carinhoso, talvez ainda houvesse esperança. O pesadelo teria um fim.
O casamento seria salvo. Brad diria que a amava e viveriam felizes para sempre.
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CAPÍTULO VI
— Cobriram sua oferta? — Brad perguntou num tom mordaz. — Não acredito!
Kim arrepiou-se com a expressão dele. O café ao ar livre, sob as árvores de Champs-
Alheios à atmosfera descontraída que reinava ao redor, Kim ainda não se livrara da
— Dispenso sua ironia. — Com a mão ligeiramente trémula, ela pegou a xícara e sorveu
um gole de café. — Obviamente o comprador tinha alguma informação sobre o quadro e estava
preparado para cobrir todas as nossas ofertas, por mais altas que fossem.
— Então não foi uma espécie de vingança de sua parte? A guerra que você ameaçou
ontem?
pouco, sentindo que a dor de cabeça se intensificava. Desde a noite anterior sofria as
consequências por ter exagerado da champanhe. —Acredita que eu agiria com tanta
deslealdade?
Brad deu de ombros, num surpreendente gesto de quase indiferença. Kim observou-o
com mais atenção. Havia algo diferente nas atitudes dele que não conseguiu identificar. Ela
saíra do leilão quase em estado de choque. Era a primeira vez que não conseguia bater o
martelo, voltando sem o objeto desejado. Esperava por uma explosão de raiva ou, pelo menos,
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provocando-a.
— Foi uma pena você não ter ido, Brad. Com certeza, teria reconhecido os compradores.
— Possivelmente.
— O mais curioso foi que apenas um homem disputou comigo durante todo o leilão.
Quando dei o lance máximo, de repente, uma mulher se levantou, cobriu a oferta, arrematando
o quadro.
— Sim, uma mulher. Uns trinta anos, talvez. Alta, bonita, glamourosa, cabelos escuros,
— Talvez. — Com um gesto, ele pediu a conta. — Hora de arrumarmos nossas malas.
— Nem fomos ao Louvre ainda! E aquele monte de roupas que você insistiu em comprar
para mim? — Kim alfinetou-o com ar inocente. — Por que não ficamos mais um ou dois dias
para que eu possa circular pelas casas noturnas de Paris? Exibir-me sensualmente para
sons, o cheiro, a atmosfera de Paris, formavam um cenário irreal para o conflito que existia
entre eles. Na noite anterior, ela ousara imaginar que a situação estava mudando, mas, na
realidade, tudo continuava exatamente igual. O fiasco do leilão só fizera agravar o que já era
ruim.
-— É isso o que você quer? — Brad a desafiou num tom ríspido. — Será uma nova
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— Acho que você está certo. Talvez nenhum de nós conhecemos verdadeiramente o
outro. — Levantaram-se assim que Brad pagou a conta. — Esse é um risco que se corre
quando se tem pressa para casar. Minha mãe me preveniu... — Calou-se, arrependida por ter
falado demais.
— Estou pensando em fundar o fã clube das sogras de Brad Baldwin — ele brincou, com
— Brad, lamento muito... Eu não quis dizer que minha mãe não gosta de você.
—- Se quer mesmo saber, minha mãe acha-o divino e maravilhoso! Você tem toda a
— Ok, ok. — Ele ria da reação dela. — Então, sua mãe tem um fraco por americanos?
— Não. Apenas disse a papai que tratava-se de um assunto pessoal, mas que já
otimismo ingénuo?
— Se não existe confiança entre nós, como poderemos falar de nossas perspectivas a
— Talvez estejamos perdendo nosso tempo — retrucou com uma calma que estava longe
de sentir.
Girando nos calcanhares, Kim entrou no elevador e apertou o botão. Como Brad poderia
ser tão frio? Como poderia ser tão céptico em relação às chances favoráveis para o
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casamento? Indiretamente, acusara-a de sabotar o resultado do leilão. Ele deveria saber muito
pelo interessado, não havia mais nada a fazer. Além do mais, se o retrato fosse mesmo um
original de Catherine Howard, seria muito difícil estimar o valor real. "Incalculável" foi a palavra
Passou a mão pelos cabelos. Talvez, seu desempenho não tivesse sido dos melhores. Se
não tivesse bebido na noite anterior, talvez tivesse agido com mais astúcia durante o leilão.
Mas, não poderia recuar no tempo e mudar tudo o que acontecera, assim como não
poderia mudar as atitudes indolentes, patronais de Brad e a aparente falta de confiança nela.
Se as coisas continuassem daquela forma, o casamento deles nunca daria certo porque jamais
botão errado quando o elevador parou em outro andar. Quando, por fim, chegou à porta da
suíte, descobriu que não pegara a chave. A muito custo conteve o impulso de jogar-se no chão
— Acho melhor nos separarmos. — Kim ouviu sua própria voz proferir as palavras num
expressão de Brad, ele dava a impressão de achar graça. — Ninguém se separa em plena lua-
de-mel.
— Se você está preocupado com o comentário das pessoas, então, optaremos por um
lágrimas.
— Se esta decisão drástica deve-se ao fato de não ter arrematado o Holbein, esqueça e
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— Desculpe, mas não estou entendendo. Parece que você não se importa por ter perdido
aquele quadro...
estarrecida.
— Brad, você está falando por enigmas, de novo. Poderia ser mais claro?
— Não há mistério nenhum, minha cara. — Lançou-lhe rápido olhar. Seu sorriso, agora,
Kim sentia o rosto arder à medida que era dominada pela fúria.
— Eu avisei que o leilão atrairia muitos compradores. Sempre haveria o risco de alguém
descobrir nossa ligação e suspeitar de seu interesse pelo quadro. Depois que encontramos
aquele casal no restaurante, os riscos aumentaram. A mulher nada mais era do que uma isca
— Brad, sou sua esposa e colega de trabalho e, mesmo assim, não precisava saber? Em
outras palavras, você não confiou em mim o bastante para contar! — Cerrando os punhos,
virou o corpo para olhá-lo melhor. — Se não confiou a* mim esse... pequeno truque, então,
provavelmente não confiou na minha capacidade para atuar em seu nome. Acha que eu
— Confesso que essa possibilidade passou pela minha cabeça, sim. — Brad continuava
impassível.
— Apenas imaginei que você não estava nos seus melhores dias — ele se justificou na
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maior calma. — Você tem andado com seu emocional meio abalado...
— De quem é a culpa?
— Você é hilário, Brad. Até parece que acredita mesmo que essa sua... confissão
impedirá o naufrágio de nosso casamento. Estou começando a crer que tudo o que você
realmente deseja na vida seja uma esposa sem cérebro, sem vontade própria, apenas para
exibir por aí como um trofeu pela sua escalada social. — Ergueu os ombros. — Decididamente
não existe alguém mais arrogante e cabeça-dura do que você, Brad Baldwin!
confiado o suficiente para permitir que trabalhasse sozinha. Deveria ter confiado em sua
lealdade.
— Aleluia! Tudo isso e mais um pouco. Você não deveria ter caçoado por eu ter perdido
a compra!
— Imperdoável! Ok, eu confesso. Fiquei magoado quando você fugiu de mim. Além do
mais, confiança foi algo que faltou em meu primeiro casamento. Talvez, eu esteja encontrando
Kim respirou fundo. Explosões de raiva não ajudariam em nada. O melhor seria manter-
se calma.
— Por que não conversamos abertamente, Brad? Como dois adultos — ela propôs num
tom apaziguador.
— Não, enquanto você se comportar como uma criança. Ela o olhou, lutando contra as
aquele relacionamento era como caminhar sobre ovos. Acusá-lo de falta de confiança era
perfeitamente justificável. Quanto mais pensava sobre isso, mais se convencia da falta de
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confiança de Brad. Primeiro por manter o primeiro casamento em segredo. Depois, pela
explicação nada convincente sobre a agressão sofrida pela ex-mulher. Também, por acusá-la
Mas, a posição dela também não era das melhores. Sua reação à carta anónima era uma
prova de sua falta de confiança em Brad. Ela se revelara extremamente imatura para lidar com
A capota do Porsche estava arreada. O sol iluminava os cabelos escuros de Brad. Kim
— Realmente, está muito complicado para resolvermos essa questão de confiança, não?
Com alívio, Kim viu que chegavam ao château. O sol da tarde batia direto sobre as torres
pintadas de rosa, tornando-as vermelho escuro. Lançou um olhar revoltado em direção ao rosto
impassível de Brad.
com amargura. — Foi o começo de tudo. Se soubéssemos quem teve a coragem de fazer
tamanha maldade!
— Para quê? Para você, finalmente, decretar minha culpa ou minha inocência? A carta
foi o começo, porém o mais interessante, o mais intrigante, foram justamente as reações que
desencadeou. Concorda?
braço.
— Entendo perfeitamente se não me perdoa minha falta de confiança. Mas, você é tão
secretos. Acho que tenho todo o direito de saber sobre sua vida.
— Calma, Kim! Se, neste momento, eu tivesse respostas para tudo e se tivesse certeza
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— Contaria? — investiu num tom acusador. — Estou achando que eu seria a última
— Se toda a vez que conto alguma coisa, você faz esse tremendo escândalo, fico sem
— Essa era exatamente a resposta que esperava ouvir de você, Brad. — Com um
Madame Fleurie foi ao encontro dela. Com esforço, Kim retribuiu o cumprimento.
Enquanto subia a escada, ouviu Brad dizendo à governanta, em francês fluente, que não
precisaria preocupar-se com o jantar e que ela poderia tirar a noite de folga. O que ele
pretendia? Um jantar em algum restaurante fora da cidade? Ou apenas uma oportunidade para
suntuosos. Sentou-se na cama. Percebeu que tremia. Choque, medo, raiva. Uma combinação
de tudo. Estava sendo tratada como uma idiota. Desconfiava que Brad sabia muito mais do que
— Fico feliz por encontrá-la aqui — ele falou delicadamente, fechando a porta do quarto.
— Brad, não ouse começar a insultar-me de novo. — Seu coração disparou, estimulado
pela voz dele. Mesmo quando ele falava com rispidez, o tom enrouquecido provocava-lhe as
— Pensei que iria trancar-se naquela sua torre e deixar-me falando sozinho do lado de
fora.
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concordo que deveríamos nos separar. Acho que deveremos lutar para continuarmos juntos.
— Oh, realmente? — Kim recuou quando Brad tocou em seus cabelos. Cerrou os dentes
ao notar o brilho sarcástico dos olhos dele. — Não vejo porquê. A menos que queira poupar-se
Ela sentiu uma onda de calor envolvê-la por inteiro. As pulsações aceleraram. A garganta
secou. .
— Não...
A expressão bem-humorada era contagiante. Mas, Kim decidiu que não seria seduzida
por aquele humor cruel novamente. Brad costumava usar desse artifício, combinado com o
intenso magnetismo sensual para conseguir o que queria. Usava-o também para encobrir as
— Brad, você deixou bem claro que não confia em mim e que não me ama. Não serei
Ele se chegou mais perto. De repente, Kim começou a respirar com dificuldade.
Beijou os lábios entreabertos. Kim foi sacudida por tremores que abalaram-na da cabeça
aos pés. O gosto da boca de Brad era muito bom. O beijo fez com que se sentisse quente,
segundos?
A mão dele tocou-lhe a perna. Ela se contraiu como se tivesse sido queimada. Vestia
uma das roupas compradas em Paris. Saia curta, de algodão azul marinho e blusa branca, sem
mangas. Com a outra mão, ele a puxou de encontro a seu corpo. O beijo tornava-se mais
profundo, mais intenso, mais exigente. Beijava-a com tanta feracidade que ela se arqueava,
tomada pelo desejo latente, insidioso, que quase lhe fugia ao controle.
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— Por que você se torna tão mordaz repentinamente? — Kim não resistiu à tentação de
alfinetá-lo. — E orgulho? Você espera provar a quem quer que tenha mandado aquela carta,
que não conseguiram vencê-lo? — Um pensamento passou-lhe pela mente e ela apressou-se
em acrescentar: — Quem sabe se não foi sua ex-mulher quem mandou a carta?
As palavras saíram num ímpeto. Não tinha certeza de como seria a reação dele. Prendeu
a respiração, esperando.
Brad se retraiu por uma fração de segundo. O brilho de fogo nos olhos dele paralisou os
sentidos dela.
— Para uma mulher inteligente, você fala bobagens, às vezes, sabia? — repreendeu-a
num tom gentil. Deitando-a na cama, prendeu-a com uma perna. Abriu os botões da blusa e
desabotoou-lhe o sutiã. Com olhos famintos, fitou os seios expostos. Enterrando a cabeça
entre eles, murmurou com voz enrouquecida. — Minha ex-mulher é passado. Vamos esquecê-
la, sim?
— Será difícil. Afinal, ela poderá estar correndo a Europa em seu encalço, causando-lhe
problemas por onde quer que você vá. — Apesar da indignação, ansiava por sentir a boca
— Esqueça-a — repetiu Brad enquanto tirava-lhe a saia. Ajoelhou-se sobre ela para
saborear o resultado de seu gesto. Com movimentos rápidos, livrou-se das roupas, jogando-as
longe. Depois, inclinou-se sobre ela. A pele bronzeada brilhava como ouro.
Kim sentia-se em brasas, queimando de ansiedade e fúria também. Tudo nela clamava
por Brad. Tudo nela ansiava pela força máscula que saciaria sua fome. Ainda quis reagir, mas
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Julia 937 Esse Estranho Amor Rosalie Ash
Kim queria os dedos atrevidos dele em seus seios, nos mamilos, no calor latente entre
—- Toque-me... Toque-me aqui... — Ela quase não reconhecia a própria voz, trémula e
rouca.
— Oh! — Sacudida por um soluço, ela pegou-lhe a mão para pousá-la nos seios.
Arqueou o corpo ao sentir o toque. Ele apertou o mamilo entre os dedos e as deliciosas
sensações atingiam-na como correntes elétricas. Agarrando-se nos cabelos dele, forçou-o a
abaixar a cabeça. Gemeu quando Brad mordiscou o mamilo, contornando-o com a língua. Qs.
movimentos lentos e sensuais mudavam de um seio para outro. Ela tremia, o corpo em fogo,
impaciente.
— Para uma pessoa que até outro dia não queria saber de sexo, você aprendeu rápido.
provocando ou não.
Kim tirou a calcinha e pulou para cima dele, começando a desvestir-lhe a cueca. Sentiu o
corpo rígido entre suas pernas. Engoliu a seco, admirando a virilidade que se revelava diante
de seus olhos. Hesitou por um momento. Logo, porém, fitou o rosto dele, buscando por
segurança.
— Kim, meu bem, você está me deixando louco... — A voz parecia um veludo, tamanha a
Com um gemido de desejo e emoção profunda, ela jogou a cabeça para frente. Os
cabelos loiros cobriam-lhe os seios, o abdómen. Com os lábios entreabertos, permitiu que a
língua tocasse na masculinidade ereta de Brad, delicadamente. O gesto ousado deu-lhe uma
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Brad não se conteve mais. Segurando-a pelos quadris, ajeitou-a na cama e posicionou-
se para cavalgá-la. O fato de ter-lhe proporcionado uma prazer físico era absolutamente novo
para ela e foi suficiente para derrubar todas as barreiras da inibição. O redemoinho de prazer e
— Aspargos com óleo de oliva e suco de limão — Brad informou quando Kim entrou na
cozinha do château, horas mais tarde. — Depois, frango à cacciatora. Você deve estar faminta.
Vagarosamente, ela se aproximou do balcão onde Brad preparava os pratos. Com a porta
Extravasar seus sentimentos, até que seria possível, dado o clima cálido do momento, o
que não seria apropriado à luz racional da normalidade. Afinal, eles haviam praticado o sexo,
forçou-se a lembrar-se com realismo. Não haviam reafirmado confiança e amor eternos.
Orgulho e medo impediam-na de abrir o coração para Brad e falar sobre seus sentimentos.
— Obrigada. Muita gentileza sua. — Arriscou um sorriso tímido. — Vejo que você não
— Sim.
Kim misturou o arroz ao tempero que já ardia na panela. Brad contara-lhe sobre o lar
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adotivo. O pai era americano, a mãe, italiana e já haviam morrido. Por tudo que ele dizia,
parecia que eram uma família feliz, pobre, mas cheia de amor. Seu amor por Brad seria
esquecendo as diferenças.
— Sim.
Os olhares se encontraram e Kim sentiu-se derreter com o sorriso sedutor de Brad. Com
o copo de vinho na mão, brincava com a haste, observando o brilho das chamas refletido no
cristal. O silêncio da noite era quebrado apenas pelo farfalhar das árvores e pelo canto dos
— Nem sei por que planejamos passar nossa lua-de-mel em Antígua — ela comentou,
— Você — ele murmurou. Segurando-a pelo braço, fez com que ela se levantasse para
— Brad! — Meio chocada, meio perturbada, percebeu que ele já estava totalmente
excitado. A protuberância dele aninhava-se perfeitamente entre as pernas dela. Com uma força
— Brad, não podemos... não aqui! — O protesto foi em vão. Ele já começava a afastar as
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Julia 937 Esse Estranho Amor Rosalie Ash
fazer.
— Seja razoável.
— Por que você acha que dei folga à madame Fleurie esta noite?
Ele levantava-lhe a saia do vestido até a altura das coxas, acariciando a pele macia. Fez
malabarismos até conseguir tirar-lhe a calcinha e quando tocou a doce e úmida intimidade da
— Oh, querida... — Abria o zíper da calça, colocando a nudez dela contra a sua. — Oh,
— Ainda não — ela brincou, trémula, oferecendo-lhe os lábios. Ergueu o corpo para
O murmúrio for suavemente selvagem. A explosão de sensualidade que seguiu-se foi tão
devastadora que Kim quase acreditou que Brad a amava, que a respeitava num nível de
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CAPITULO VII
O sol queimava-lhe as costas. Virando-se de barriga para cima, Kim cruzou os braços
Quase não dormira na noite anterior. Brad e ela haviam feito amor várias vezes, até
quase o dia clarear. De manhã, haviam decidido fazer um piquenique nos jardins do château.
Logo cedo, pela manhã, o telefone tocara muitas vezes. A maioria, para Brad. Lucinda
também ligara, sempre curiosa sobre as novidades da lua-de-mel. Aproveitou para contar que
Curtis viajara às pressas para os Estados Unidos, mas que prometera voltar em breve. Brad
sugerira que, depois que Curtis retornasse à Inglaterra, ambos passassem alguns dias no
château.
O calor da tarde, o zumbido das abelhas, o silêncio, quebrado apenas pelo canto dos
pássaros, eram relaxantes demais e Kim mal conseguia manter os olhos abertos.
Temia adormecer novamente e acordar, mais tarde, para descobrir que tudo não passara
de um sonho. O breve sonho de uma lua-de-mel perfeita. Virou a cabeça e levantando a aba
do chapéu de palha, viu Brad deitado a seu lado. Brad, de bermudas e dorso nu.
Atrás deles, o caramanchão com o piso decorado, transpirava esplendor em cada coluna,
em cada arco, em cada canto. O perfume das flores se espalhava deliciosamente pelo ar.
— Estou contente que tenha gostado do meu castelo, a ponto de decidir comprá-lo —
Kim comentou, com olhos semicerrados. — Em criança, costumava vir para cá, sentar ali no
caramanchão. Já lhe contei que era meu lugar predileto? Passava horas lendo romances e
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— Quando meus pais compraram o château, eu tinha seis. A partir de então, vínhamos
todos os anos.
— Ah... você sabe. — Encolheu os ombros. — Essas coisas de sapo virar príncipe e
outras histórias do género. — Parou, pensativa, por um instante. — Sempre que assistia A
noviça rebelde, umas quinze vezes, no mínimo, ficava imaginando a cena da dança ali, no meu
— Não sei como você nunca namorou, pelo menos, a metade dos rapazes desta cidade.
— Imagine! — Ela soltou uma sonora gargalhada. —- Já lhe disse. Eu era magra, meio
estrábica, usava óculos e aparelho nos dentes. Todos os namoros só aconteciam na minha
imaginação.
— Acho muito difícil de acreditar. — Brad apoiou-se num cotovelo, avaliando as curvas
Kim estremeceu sob o olhar avaliador, sentindo o calor da atração esquentando suas
— É verdade... — A voz soou rouca. Se aquela sincronia física era tão fácil, se, com um
olhar, Brad podia derrubar suas defesas, por que não poderiam esclarecer definitivamente
Desviou o rosto, fugindo ao fascínio daquele olhar. Fingiu-se interessada num pássaro
Sentia-se diante de uma bomba-relógio. Queria ter coragem para insistir com Brad numa
conversa franca sobre o passado, sobre o primeiro casamento, sobre os possíveis suspeitos da
autoria da carta anónima. Mas, temia que as coisas pudessem mudar repentinamente. Temia
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que a desconfiança e a hostilidade pudessem voltar. Sim, era uma atitude covarde, porém, ela
se agarrava com unhas e dentes àquela trégua porque o amava e não suportava a ideia de
— Como você era em criança? — ela perguntou, por fim, olhando-o novamente. — Acho
Brad sorriu.
-— Que nada! Eu era um garoto franzino estudioso que era perseguido pelos meninos
mais espertos que cabulavam aulas. Depois, tornei-me um menino mais esperto que cabulava
aulas...
me tão esperto que batia nos outros moleques que perseguiam os franzinos.
— Ok. Um herói! Acho que teria me apaixonado por você, se o tivesse conhecido aos
seis anos.
— Então... você cresceu num ambiente de violência — ela hesitou em entrar num terreno
tão delicado. Tentava entender "um mundo que parecia tão distante do ambiente protetor e
seguro onde sempre vivera. — Mas, você adotou essa violência para construir uma espécie de
estrutura moral.
— Mas o que é isto? Uma sessão de psicoterapia? — O sorriso tornou-se frio. — Por
acaso, você está tentando abordar a teoria de que, se cresci num mundo violento, cruel, então,
nada mais natural do que agredir minha ex-esposa? Violência gera violência. Não é assim?
não estaria mesmo conduzindo a conversa para aquele campo. Ficou furiosa consigo mesma e
— Ambos sabemos que viemos de mundos diferentes, Kim. — Deitando-se de costas, ele
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Julia 937 Esse Estranho Amor Rosalie Ash
prosseguir. — Passei minha infância num lugar onde os espertos venciam e os fracos eram os
perdedores. Isso não significa que assimilei esses valores. Aprendi que os fracos precisam de
proteção. Não frequentei as melhores escolas, nem as melhores faculdades. Meus pais não
eram ricos, mas nem por isso carrego grandes problemas comigo. Ou traumas. Batalhei muito
— Claro que enfrentam. Os problemas existem em todas as camadas sociais. Não sou
preconceituoso.
independente do que faça — continuou ele quase com rispidez. Nos olhos, um brilho
sarcástico. — Será sempre perseguido pelo passado. Mesmo que seja bem-sucedido, que
ganhe montes de dinheiro, Deus o livre de interessar-se por uma garota de outro nível social.
Se as coisas não derem certo, será acusado de corrompê-la, de deixá-la na rua da amargura,
como as pessoas tanto gostam de dizer. — Os lábios se curvaram num sorriso de pouco caso.
— Se as coisas derem certo... oh, aí, todos dirão que ele usou a garota para galgar os degraus
da escalada social, que tudo o que queria era uma esposa-trofeu. Afinal, que outra razão teria
— Bem, ele poderia estar apaixonado, por que não? — Kim sentiu um nó na garganta, o
sobre os motivos reais que teriam levado Brad casar-se com ela, estavam voltando... Os
pesadelos recomeçavam...
— Um cara como esse do exemplo? — O tom da pergunta era delicado, mas cheio de
Kim mordeu o lábio, lutando contra as lágrimas. Após um breve silêncio, ela ponderou:
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desesperadamente ficar sozinha. Fez menção de levantar-se, mas Brad a segurou pela mão,
— Aonde vai com tanta pressa? — Ele era todo doçura, gentileza. Seu peito era quente e
Kim se contraiu, sentindo os efeitos que aquela proximidade causava em sua corrente
sanguínea.
— Já? Mas, ainda não terminamos nosso piquenique — avisou-a com ar malicioso.
— Não sabia que tínhamos um — Brad zombou. — Tudo o que fiz, foi uma análise de um
relacionamento hipotético.
em algo do qual poderá se arrepender, foram exatamente essas suas palavras. Lembra-se?
— Claro que me lembro. É minha filosofia. Nunca me apresso. Não cometo esse erro
decorrentes de sua posição sobre Brad. Achou difícil mencionar o nome Natália. Não queria
pensar na misteriosa ex-mulher de Brad. Dizendo seu nome, parecia trazê-la para muito perto
deles e dar vida a alguém que era uma figura irreal, nebulosa. — Você se apressou? — ela
— Sim. Nós nos conhecemos numa festa, passamos as trinta e seis horas seguintes na
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— Ora, foi você mesma quem insistiu para saber tudo sobre meu primeiro casamento,
meu bem! — Forçando-a a abaixar a cabeça, beijou-a nos lábios. — Estou apenas contando
que foi algo assim... impulsivo, físico, mesmo. Ficamos casados durante dois anos. Isso porque
não desisto com facilidade. Seis semanas depois, já reconhecia que cometêramos um grande
erro. Não sabíamos absolutamente nada um do outro. Eu estava começando a trabalhar com
obras de arte, começando a ganhar dinheiro com os meus esforços. Tinha a cabeça cheia de
grandes planos para o futuro. Era jovem demais para saber o verdadeiro significado do sexo, o
que fazer para tornar-se um bom marido ou uma boa esposa. Agora você... — Com um
movimento abrupto, jogou-a sobre a manta, aprisionando-a por baixo dele. Fitou-a com um
sorriso devastador. — Você... Ah, se eu a tivesse conhecido nos meus vinte anos, certamente,
— Agora, você tem trinta e dois, já não estava na hora de sossegar o facho?
— Cuidado... — Ele riu. — Lembra-se do que aconteceu da última vez que você
— Kim... — De repente, o riso morreu, substituído por uma expressão faminta. — Acho
que serei capaz de fazer amor com você cinco vezes por noite, durante os próximos cinquenta
anos.
— Dentro de cinquenta anos, você terá oitenta e dois, meu caro. — Contendo a
respiração, Kim se remexeu, sentindo as mãos dele em seu corpo aquecido pelo sol.
comentário fora motivado apenas pelo apelo físico e não pelo amor, Kim sentiu-se como se
Brad realmente a amava. A tensão desapareceu na súbita intensidade de paixão que envolveu
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ambos. Pegando-a nos braços ele a levou para a privacidade do caramanchão, e o resto da
Relaxada e perfumada, depois de um longo banho, Kim saiu do banheiro enrolada numa
radiante, viva, entusiasmada. Em parte devido ao banho de sol, mas, muito mais pela
feliz convicção, pela esperança de que tudo acabaria bem com Brad.
Brad nunca mais dissera que a amava. Porém, a despeito de tudo, o sentimento estava ali,
muito presente. Proximidade, empatia, o que quer que a tivesse atraído a Brad, desde o
momento em que o. conhecera, e que só fizera crescer mais e mais a cada dia. Ele era a
melhor companhia que ela já conhecera. Além disso, Brad possuía a incrível capacidade de
fazê-la sentir-se como se o mundo estivesse esperando para ser conquistado por ela. Com ele,
conhecera o ciúme, a ansiedade, o fogo da paixão. Se isso era amor, estava profunda e
Por um segundo, Kim baqueou diante da coleção de roupas extravagantes que Brad lhe
comprara. Não queria pensar na forma cáustica que ele usara para desforrar-se por tê-lo
condescendente decepção dele quando soubera que ela não arrematara o retrato. Examinou os
vestidos até separar uma túnica de crepe sem mangas, num tom verde-esmeralda. Usaria com
A tendência era que as coisas melhorassem, pensou com muito otimismo. Colocando as
roupas sobre a cama, soltou a toalha, que caiu ao chão. Pegou o pote de loção para o corpo
Chanel, também comprado em Paris, espalhando-a cuidadosamente pelo corpo. Talvez ela e
Brad ainda estivessem cortando as aparas do antagonismo, mas o perfeito entrosamento físico,
com certeza, conduziria ao entrosamen-to emocional. Afinal, haviam obtido algum progresso.
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Brad já se abrira um pouco mais sobre o primeiro casamento. Até mostrara-se espirituoso ao
comentar sobre sua paixão dos primeiros tempos por Natália. Seria uma grande bobagem sua
fechou o pote, recolocando-o na penteadeira. Depois, vestiu calcinha e sutiã de renda bege e
Sua pele adquirida um bronzeado dourado pelo dia de sol. Toda maquilagem que
precisava era uma leve camada de pó facial, sombra verde-acinzentada nas pálpebras, rímel e
batom num tom caramelado. Percebeu que estava ficando tarde. Demorara mais do que o
Tudo levava a crer que a noite seria tranquila e agradável. No dia seguinte, aconteceria a
tradicional festa do pardon na praça principal da cidade. A multidão esperaria ansiosa que o
anjo simbólico atirasse para o céu, trazendo absolvição para todos. Talvez, ela e Brad até
participassem da festa, encarando-a como um novo ponto de partida para o tão atribulado
verdade, exa-tamente do modo como ela acreditara que estavam antes da fatídica carta
anónima...
Com a alma cheia de esperança, vestiu-se, colocou algumas gotas de perfume e após
uma última olhada no espelho, saiu do quarto. Foi direto para o terraço, mas não encontrou
Brad. Voltou para dentro à procura dele. Encontrou madame Fleurie na cozinha preparando o
— Não, não disse. — Madame Fleurie hesitou por um instante, antes de acrescentar: —
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— Ela falava inglês, mas o sotaque era americano — Madame Fleurie explicou,
encolhendo os ombros.
Parecia que Kim levara um soco no estômago. Sentiu que a esperança e o entusiasmo
que tomavam conta de todo seu ser apenas alguns instantes atrás, de repente, desapareciam,
— Não ainda não vi, mas estamos esperando pela entrega de uma pintura, sim. Onde
profissional. Uma firma especializada, talvez. Metade do papel estava cortado, o restante cobria
vermelho escuro, próprio do século XVII, poderia muito bem ser Catherine Howard. Estava
levemente danificado pelo tempo. Sem dúvida, haveria muito trabalho pela frente até apurar
Virando o quadro para verificar o verso da tela, notou um pedaço de papel colado. Era
rosa, com a borda adesiva, contendo, provavelmente, um recado. Com o coração aos saltos e
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Leu o bilhete inúmeras vezes. E, a cada vez, sentia-se pior. Com passos lentos,
caminhou até a poltrona junto à janela. Sentou-se, largando o pedaço de papel em seu colo.
Até então, a sensação de catástrofe fora vaga, disforme. Porém, agora, passara assumir uma
realidade mais sólida. Algo estava errado, muito errado, mas seu cérebro recusava-se a
"Querido Brad... Sempre com amor, N." Palavras carinhosas, a inicial N... A sensação de
O retrato fora comprado no leilão pela mulher de cabelos escuros. Obviamente, a mesma
mulher providenciara para que fosse entregue no château e a mesma mulher escrevera o
recado.
Com o olhar perdido, não via nada á sua frente. A mulher do leilão! De repente, mentalizando
a figura daquela mulher elegante, reconhecia que seu rosto era-lhe vagamente familiar. Havia
alguma coisa peculiar nela que chamara-lhe a atenção. Evidente que ela era muito mais do
que simples colega de trabalho. Para falar em nome dos velhos tempos, para lembrar Brad dos
bons tempos...
Tal constatação provocou-lhe uma dor quase física, fazendo aumentar ainda mais sua
angústia. A mulher de cabelos escuros nas fotos da polícia, com escoriações no rosto... a
Kim não conseguia controlar o tremor que a sacudia por inteiro. Sentia-se fisicamente
doente. Essa mulher teria alguma relação com o misterioso compromisso em St. Germain des
representá-lo no leilão? Teria se aliado à ex-mulher para expor ao ridículo a atual esposa?
As dor de cabeça aumentava à medida que tentava encontrar algum sentido naquele
quebra-cabeça. Talvez fosse por isso que Brad se comportava tão cheio de segredos e
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encontro apaixonado dele com Natália ainda ecoava em sua mente. A atração por ela fora forte
desses casais que não conseguiam viver juntos, mas que também não podiam ficar separados.
Talvez, por essa razão, Brad nunca comentara sobre o primeiro casamento. Pelo sentimento de
marido no hotel, sem saber de nada. Talvez, Natália até risse com a facilidade com que Brad
Um pensamento novo, ainda mais cruel, passou a atormentá-la. A voz de americana que
madame Fleurie ouvira ao telefone, a ausência de Brad... Oh, ele teria se aproveitado do fato
de ela estar tomando banho, para sair sorrateiramente de casa e ir ao encontro de Natália?
Depois de toda intimidade que haviam compartilhado durante a noite, depois dos sentimentos
ridículos de esperança e posse, depois de sua entrega sem reservas, de seu comportamento
desinibido, das loucuras de amor com Brad... O sentimento de dor, de repente, tomou a
proporção de raiva, como uma chama que a queimava por dentro. Brad e a ex-esposa não
De tão chocada, tão revoltada, tão ultrajada, sentiu uma grande vontade de extravasar
sua ira através da força física. Porém, em vez disso, entrou em casa e com passos decididos,
marchou até o quarto principal. Tirando a mala do armário, começou a guardar suas roupas. A
Levou a mala para o carro, abriu a porta do lado do motorista e ia sentar-se quando, de
precipitado. Dessa vez, porém, não cometeria o mesmo erro. Esperaria Brad voltar. Ela o
enfrentaria com a descoberta, exigiria explicações convincentes, agiria como uma pessoa
Deixou as malas e a bolsa no carro, a chave no contato e, lentamente voltou para dentro
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de casa. Sentou-se no escritório. Não imaginara o quanto estava abatida e tensa até fitar-se
no espelho da parede.
Não precisou esperar muito. Logo ouviu o ruído do Porsche entrando no pátio, da porta
sendo fechada e, depois, o já familiar som dos passos de Brad no hall. Foi um esforço muito
grande para Kim levantar-se para ir ao encontro dele. Brad parecia descontraído, vestindo
calça preta e camisa de seda cinza. Ao vê-la, franziu as sobrancelhas, entre cauteloso e
preocupado.
— Você está bem, Kim? — Com olhar indecifrável, avaliou-lhe a expressão tensa. — O
que aconteceu?
Ele se mostrava tão irri-tantemente debochado que Kim conteve-se para não perder o controle.
— Tudo bem. Vou lhe contar porque estou assim — ela falou lentamente, pronunciando
muito bem as palavras. — Sei onde você esteve até agora e sei também com quem era seu
compromisso.
estreitaram, fulminando-a. Kim não se intimidou. Embora com o coração aos saltos e as mãos
— Continue. — Sua voz soou sinistramente terna. Kim soltou um longo suspiro. Girando
nos calcanhares,
foi para o escritório e arrancou a folha de recado grudada no verso da pintura. Brad a
seguira. Estava atrás dela, enervando-a com sua proximidade. Estendeu-lhe o pedaço de
papel com a mão tão trémula que o deixou cair ao chão. Brad o apanhou. Leu o contexto sem
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— Prefiro não responder à sua pergunta. Acho que agora estamos entrando em outro
território. Estou sendo acusado de quê, precisamente? De ter um caso extra-conjugal apenas
— Tudo o que sei é que você tem visto alguém cujo nome começa com a letra N. — Kim
lutava com as lágrimas. — Alguém que o trata por querido Bradl Alguém a quem você conhece
há muito tempo! Alguém que diz que o amará para sempre. Pelo amor de Deus, Brad! Mais
claro do que isto, só se essa pessoa escrevesse este recado em letras garrafais à néon e o
— Ora, você não pretende negar que a mulher que escreveu este bilhete é a mesma
Kim sentiu um calor sufocante. O rosto estava em brasas. Seu corpo tremia. Estava
— Muito bem! Então, tenho certeza de que não negará que essa mulher é a mesma com
que encontrou-se em Paris. Acertei? A mulher que compareceu ao leilão. A mulher que
providenciou a entrega deste retrato. — Pegando o quadro nas mãos, agitou-o na direção de
— Não vejo razão para negar absolutamente nada enquanto você insistir nesse papel
— Suponho que não há razão para continuar perguntando qualquer coisa a você,
enquanto insistir nesse seu papel ridículo de homem misterioso, enigmático, cheio de segredos.
Enquanto insistir em esconder-me as coisas... em usar-me por motivos que desconheço, mas
— Foi? Talvez você tenha razão. Você não vai poder enganar-me por muito tempo, não é
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mesmo? Quem quer que tenha enviado aquela carta anónima bem no dia do nosso
você, não é? Tentaram me dizer que eu havia casado com um homem sem moral, que usa as
pessoas...
— Kim...
— Diga-me apenas uma coisa — ela continuou hesitante. — Até entendo que não
consiga ficar longe de sua ex-esposa. Porém, eu gostaria que me falasse a verdade pelo
menos uma vez, Brad. Vocês estão divorciados? Ou você me escondeu a existência de Natália
As últimas palavras foram abafadas pela mão de Brad. Ao mesmo tempo que tapava-lhe
a boca, com a outra mão, segurava-a pelo ombro. A raiva transformara o rosto dele numa
máscara de pedra. Ele aumentava a pressão dos dedos na boca e no ombro de Kim,
Kim ainda segurava o quadro com a mão esquerda. O instinto de preservação, mais a
revolta, deram-lhe forças para reagir. Num movimento rápido, deu um pontapé na canela de
Brad. Aproveitando o momento de surpresa causado pela dor, ela conseguiu livrar-se das
mãos dele. Inconsciente do ato de vandalismo que estava prestes a praticar, ergueu o quadro,
batendo-o contra a cabeça de Brad, que não conteve um gemido e uma imprecação. A
comoção deu tempo para Kim fugir pela porta da frente, correr pelo pátio, já escuro àquela
O motor pegou na primeira tentativa. Felizmente, tivera a boa ideia de deixar a chave no
contato. Cantando os pneus, saiu à toda velocidade, como se estivesse sendo perseguida por
demónios.
Pela estrada escura, Kim atravessava os campos da Bretanha. Com exceção de um velho
Citroen na outra pista, Kim não via mais nenhum outro carro. Quando dois faróis possantes
surgiram, refletidos no espelho retrovisor, vindos do nada, ela sabia que era Brad. Ira e revolta
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fizeram com que pisasse mais fundo no acelerador. Seu Renault não era páreo para o Porsche
Kim ofegava, enquanto seu cérebro trabalhava rápido. Decidiu blefar. Também reduziu a
velocidade, esperando até Brad pensar que ela pararia ao lado dele. De repente, virando o
A sua frente, a estrada serpenteava como uma cobra escura. A direita, as árvores
imensas formavam uma barreira como gigantes ameaçadores. Pelo retrovisor, avistou os faróis
de novo. Piscaram duas vezes, mas parecia que o Porsche perdia velocidade.
A curva seguinte era tortuosa demais. O volante não obedeceu aos comandos dela. Um
solavanco e o carro saiu da estrada, desorientado, sem controle. Tudo aconteceu muito rápido,
ao mesmo tempo que parecia acontecer em câmera lenta. A derrapagem, a queda, o impacto.
O Porsche parou na estrada. Kim ouviu a voz de Brad gritando seu nome. Após algumas
tentativas, abriu o cinto de segurança, mas não conseguiu abrir a porta do carro. Então, a porta
do lado do passageiro foi aberta e Brad apareceu, tirando-a do carro. Estava sendo levada
rapidamente para cima, para a segurança da estrada, nos braços fortes de Brad. Assim que
CAPÍTULO VIII
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O médico saiu e Brad o acompanhou. Ela sentia o corpo num lugar e a mente em outro.
Tinha muita sorte por estar viva. Brad a salvara. Não lhe passara despercebida a peça que o
perfume de lavanda, sã e salva. A cabeça ainda doía muito, mas, apesar da gravidade do
acidente, tudo o que sofrera fora alguns cortes e escoriações. Nada de mais preocupante.
emoções.
— Refere-se ao ladrão de bolsas? — Ela riu um riso abafado. Pôs a mão na testa
machucada.
Brad parecia tão distante, tão indiferente, que o coração de Kim se contraiu de dor. Por
um louco momento, ela desejou tocá-lo, agarrar-se a ele, dizer-lhe que, independente do que
De repente, sentiu-se uma grande angústia invadi-la. De alguma forma, conseguira entrar
num beco sem saída. Se ficasse ou se partisse, dava na mesma. Brad não a amava. Ainda
estava apaixonado, ou pelo menos, envolvido numa relação de amor e ódio com a ex-mulher.
Como poderia confiar em Brad, se ele insistia em mantê-la à parte de sua vida?
— Creio que devo agradecer-lhe por ter me tirado do carro — disse num fio de voz. —
— Eu teria feito a mesma coisa com qualquer pessoa — ele brincou. — Conversaremos
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Ela o olhou ansiosa. O rosto dele era uma máscara. Simplesmente impossível imaginar
seus pensamentos ou sentimentos. Sem mais nenhuma palavra, ele saiu do quarto, fechando
Vencida pelo cansaço e pelo sedativo que o médico lhe ministrara, Kim logo adormeceu,
caindo num sono profundo e agitado. E sonhou com um retrato. No sonho, ela estava numa
espécie de igreja, olhando para o quadro. Era o retrato da mesma mulher de cabelos escuros
que vira no leilão. Natália, a ex-esposa de Brad, sorrindo, serena, altiva. De repente, a pintura
tornou-se disforme, surgindo o mesmo rosto machucado das fotos da polícia, com-um talho
bem no centro da tela. Era uma imagem horrível, assustadora, e Kim gritava, corria, tropeçava,
Brad estava ao lado dela, na penumbra do quarto. Sentiu a mão dele em sua testa, ouviu
— Abrace-me, Brad, por favor... — Ela não controlava as palavras. Eram palavras tolas,
Pelo brilho radiante do sol que entrava pelas frestas das janelas, Kim deduziu que seria
constatou que, na verdade, já passava das três. Dormira a noite inteira e quase todo dia
seguinte ao acidente.
Com cuidado e passos vacilantes, foi para o banheiro. A imagem que viu refletida no
espelho era quase tão assustadora quanto o pesadelo que tivera. Um círculo escuro ao redor
do olho e uma escoriação na face. Brad a ajudara a despir-se e emprestara-lhe uma camiseta
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outros ferimentos. Com exceção de um corte no perna e de um joelho esfolado, parecia estar
milagrosamente ilesa.
Tomou banho, lavou os cabelos, depois escolheu um vestido estampado, um dos tantos
comprados em Paris e que largara no guarda-roupa, junto com sapatos, bolsas, jóias,
perfumes, cremes e outras tantas inutilidades que Brad insistira em presenteá-la. Depois do
triste acidente, ela até achava que fora uma decisão acertada ter deixado tudo aquilo no
château. Afinal, todos aos seus pertences haviam sido queimados junto com o carro. Além do
mais, as flores púrpuras do vestido combinavam perfeitamente com o roxo do olho, ela concluiu
Brad entrou no quarto no momento em que ela tentava disfarçar os hematomas do rosto
testa. Estava irritantemente charmoso e atraente. Kim cerrou os dentes. Não queria sucumbir
ao seu poderoso carisma. Odiava-o por tudo o que lhe fizera, pela farsa em que transformara o
casamento deles, por tê-la enganado e conspirado pelas costas, fazendo-a de boba...
irónica. — Com essas provas irrefutáveis, você poderá bater algumas fotos e mandá-las para a
polícia, acusando-me de agressão. Com duas esposas agredidas no meu currículo, com
— Agora você está apelando, não acha? Aliás, digo mais. Você está sendo muito
inconveniente.
Acho que outra acusação não vai me fazer muita diferença, não?
— Brad, por favor, pare com isso! — Kim não conteve o soluço que saiu sentido do fundo
da alma.
A expressão de ironia de Brad foi reforçada por um sorriso de desprezo quase ofensivo. A
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muito custo, Kim conteve uma explosão de raiva. Respirou fundo, esperando alguns segundos
discussão?
— Ok. Madame Fleurie a espera ansiosamente. Vamos... No caminho até a porta, Kim
esbarrou acidentalmente
acelerada e tentando disfarçar tanta perturbação, ela o seguiu até o terraço. Sentou-se na
com um verdadeiro breakfast inglês. As fatias de bacon bem mais grossas do que as
de cumplicidade.
Exatamente do que eu precisava! — Comida era a última coisa que desejava naquele
momento. Pelo menos, era o que pensava. Quando começou a comer, descobriu que estava
absolutamente faminta.
— Não como nada desde nosso piquenique de ontem à tarde — ela se defendeu, meio
tensa.
— Ora, não precisa justificar-se — ele rebateu, sempre com aquele ar divertido. — Não
Ela comeu quase toda a comida e tomou café. Brad também bebeu café, recostado na
— Não sei por que você tem que ficar aí, me observando tomar café — ela reclamou,
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— Achei que preferia estar fora, divertindo-se com Natália, em vez de divertir-se às
minhas custas.
— Acho muito difícil divertir-me com Natália. — Brad falou, por fim, com os olhos fixos no
— Morta? — Ficou estarrecida. — Você está dizendo que ela... ela sofreu um acidente?
Ontem?
— Não a encontrei na cidade, tampouco a matei, se é o que sua imaginação fértil está
segredos que escondiam. De novo, a raiva, a revolta, insurgiam em seu íntimo. — Não estou
entendendo...
— Claro que não — Brad concordou, encolhendo os ombros. — Você não está
— Suspirou. — Sim, porque se soubesse desse... pequeno detalhe, com certeza, já teria
tirado as próprias conclusões. Quando vai parar de bancar o juiz, o júri e o executor das leis,
Kim?
Ela sentiu que a cor fugia-lhe das faces. Sentia-se oprimida por uma terrível sensação de
mal-eslar.
— Se não conheço os fatos, é porque você sempre se recusou a contá-los para mim.
— E, se você não tivesse fugido no dia do nosso casamento, talvez eu até me sentisse
inclinado a contá-los.
— E, se você tivesse aberto o jogo sobre seu passado antes do nosso casamento, talvez,
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Kim respirava rápido. Passou a mão impacientemente pelos cabelos, observando o rosto
Você não tem feito outra coisa senão jogar comigo, desde que recebi aquele envelope
misterioso...
— Não? Então por que escondeu deliberadamente que sua ex-esposa está morta?
— Nunca pensei em esconder esse fato. Foi há tanto tempo, Kim... Faz parte de um
passado remoto. Só por esse motivo preferi omiti-lo. Confesso que nunca me ocorreu que você
Kim torceu as mãos, num gesto nervoso. Havia ansiedade no olhar dela.
— Minha ex-cunhada.
que, até então, parecia muito confuso. Lembrou-se que ele comentara que Natália tinha uma
irmã gémea.
A mulher que arrematou o quadro, que o mandou para cá, que escreveu o bilhete?
— Foi ela quem mandou aquele envelope com as acusações contra você? — A cabeça
de Kim doía tanto que parecia prestes a explodir. Arrancar informações de Brad era o mesmo
— Será que não desiste de tirar conclusões precipitadas? — Brad se levantou. Com as
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mãos nos bolsos, deu alguns passos pelo terraço, parando junto ao parapeito. — Eu contei que
Natália e Naomi eram proprietárias de uma galeria de arte em Los Angeles. Na verdade, quem
cuidava de tudo era Naomi. Para Natália, a galeria era apenas um divertimento, mais um
brinquedo de menina rica. Graças à Naomi, a galeria tornou-se um sucesso, muito respeitada e
bem conceituada. Ao longo destes anos todos, temos mantido con-tato, por motivos
profissionais e pessoais...
— Você a ama? — A pergunta escapou sem que Kim pudesse censurá-la, estimulada
— Não acredito no que estou ouvindo, Kim! — Brad parecia ter atingido o limite de sua
paciência. Os olhos azuis pareciam fulminá-la. — Agora você está imaginando que estou
apaixonado pela irmã gémea de Natália! Só por que são fisicamente parecidas?
— Por que não? — Ela odiava aquele tom de zombaria na voz dele. — Sou apenas sua
esposa, lembra-se? Aquela pessoa que não sabe absolutamente nada a seu respeito!
As feições de Brad se endureceram. Seu rosto parecia moldado em pedra. Sua voz, de
— Ok. Preste atenção, Kim. Naomi e eu somos amigos. Apenas amigos, nada mais.
Ficamos amigos porque tínhamos um interesse em comum: tentar impedir que Natália
— Como assim?
— Infelizmente, sim. Acabou morrendo de overdose acidental três anos depois de nosso
divórcio. — Após uma breve pausa, ele prosseguiu. — Bem, mas, voltando ao assunto Naomi,
ela veio à Europa cuidar de interesses da galeria. Pedi para Curtis localizá-la. Por isso ela foi
— Qual a razão de tanto mistério? — Kim insistiu, querendo saber a verdade a todo
custo. — Por que recorreu a Naomi para representar aquela farsa no leilão?
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— A presença de Naomi em Paris veio a calhar, só por isso. Na verdade, não foi por
— Naomi era a pessoa indicada para descobrir quem enviou aquele maldito envelope
com a única finalidade de acabar com o nosso casamento. Ela concordou em ajudar-me. Deu
muitos telefonemas, bancou a detetive entre seus familiares e alguns amigos de Los Angeles.
Na noite passada, ligou-me para contar que, finalmente, arrancara a confissão do pai dela...
— O pai dela... seu sogro? — Kim se levantou. Estava agitada demais para permanecer
sentada. — Foi o pai de Natália quem enviou aquele envelope para mim?
— Talvez, fosse essa sua ideia de justiça. — O rosto de Brad ainda revelava aquela
expressão cínica. — Ou para evitar que outra pobre garota caísse nas minhas garras
diabólicas? Olhe, nunca me envolvi com drogas, mas ele jura de pés juntos que sou o
responsável pelo vício de Natália. Antes mesmo de nos conhecermos, ela já transava drogas.
Eu não sabia. Só descobri quando já estávamos casados. Porém, aos olhos do pai, ela era a
princesinha perfeita, incapaz de fazer qualquer coisa errada. Portanto, quem mais poderia
— Oh, Brad...
— Naomi era a única pessoa da família que conhecia Natália suficientemente bem para
Brad.
-— Seus sogros o responsabilizam pelo envolvimento da filha com as drogas... Então, por
— Com certeza. Ned Suzman é o típico autocrata que não admite imperfeições em sua
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— Como já lhe disse uma vez, a história sobre Natália é muito sórdida. E também essa
coisa toda faz com que me sinta muito mal. Por isso não gosto de falar no assunto. —
Respirou fundo, como se quisesse tomar fôlego para prosseguir a narrativa. — Bem, Natália
era a rebelde das duas gémeas. Namorou um viciado em drogas. Na verdade, eram amantes
antes de nosso casamento. O que demorei para descobrir foi que continuaram amantes mesmo
— Foi ele, o amante, quem a agrediu. Nunca soube direito o motivo. Parece que tinha a
ver com um dinheiro que Natália devia a ele. Por isso, ela escondeu a identidade de seu
agressor. Preferiu deixar que eu fosse preso a confessar a verdade e enfrentar represálias do
pessoal das drogas. Sem falar que, nesse caso, a família descobriria o lado obscuro, marginal,
de sua vida.
intensa ironia, escondia os sentimentos dele. A distância entre ele e Kim parecia
— Ainda não entendi por que você não me contou que estava se encontrando com
Naomi.
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descobrir com certeza quem havia enviado o tal envelope. — Semicerrou os olhos. — Na noite
passada, finalmente, tive a confirmação. Voltei para o châ-teau para levá-la para conhecer
Naomi no restaurante da cidade. Já que você insistia em não acreditar em mim, só havia um
modo de acabar com suas suspeitas e convencê-la de que realmente não fiz nada de errado.
— Brad abriu os braços num gesto resignado. — Esse modo era fazê-la ouvir uma terceira
pessoa, alguém que, aparentemente, tinha todas as razões do mundo para ficar do lado de
Kim desviou o olhar. Sentiu o coração pesado, cheio de angústia. Então Brad voltara para
inocência. No entanto, tudo o que ela fizera, fora atingi-lo com novas acusações.
— Não sei o que dizer... — Sacudiu a cabeça num misto de culpa e tristeza. — Exceto...
— Eu também.
Os olhares se encontraram, travando uma batalha silenciosa e árdua. Uma veia pulsava
— Eu deveria ter confiado em você — confessou ela, tomada pela tensão. — Porém, em
vez de confiar, comecei a especular se você era realmente culpado por todas aquelas
acusações. Em me perguntava se você agredira mesmo sua esposa, se você tinha com regra
de vida casar-se com mulheres ricas, de famílias tradicionais, para depois exibi-las como
trofeus. Cheguei até mesmo a acreditar que você estava se encontrando com sua ex-mulher!
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— Respirou fundo para manter-se controlada. — Talvez isso signifique que... que não o amo
tanto assim. — Depois dessa confissão, Kim se sentia fisicamente ferida. Estava morrendo,
— Verdade. — O tom era desprovido de qualquer emoção. O olhar mais duro do que
A sensação de peso no coração intensificou-se. Ela queria chorar, mas os olhos estavam
secos.
— Então, vou...
— Ah, não! — Kim reagiu prontamente, furiosa. — Você está se divertindo muito, não!
— E, além do retrato danificado, existe a agressão física do qual fui vítima e que...
brilho travesso nos olhos de Brad. Sentiu o rosto ruborizado. — Brad, você está achando graça
pretos que caía-lhe na testa, exibindo um ferimento. — Sorte minha não ter tido uma
concussão.
— Já disse que lamento muito. O que você quer que eu faça? Que me humilhe pelo resto
da vida? — Tentou passar por ele, mas um braço forte a impediu de afastar-se.
Vamos jantar com Naomi no restaurante da cidade. Ela faz questão de pedir desculpas
pessoalmente, pelo pai dela. Promete que não tentará fugir, pelo menos hoje? Ou será que
precisarei trancá-la à chave no quarto da torre? Ela o fitou entre frustrada e resignada.
— Não será necessário. Não se preocupe — assegurou com o nariz empinado e muita
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dignidade.
A meia-noite, quando voltavam da cidade, Kim lançou outro olhar frustrado ao marido.
Bem, em primeiro lugar, Kim imaginara que não simpatizaria com Naomi. Entretanto, a
irmã de Natália era calorosa, amistosa e autêntica. Morena, alta, esbelta, com vestido amarelo
e um discreto colar de ouro, ela pedira mil desculpas pelo comportamento do pai, com um
charme irresistível. Voltaria para Paris naquela mesma noite e parecera sinceramente aliviada
por ver que o novo casamento de Brad sobrevivera àquela confusão toda.
Kim estremeceu ao refletir naquela nova farsa. A atitude impassível de Brad não se
alterara. Depois da discussão ocorrida à tarde, ele a deixara sozinha pelo resto do dia.
Avisando-a que tinha um encontro com um perito em restauração, em Rennes, ele saíra,
levando o retrato danificado. Antes de sair, porém, repetiu que esperava encontrá-la no
Durante todo o jantar, muitas vezes ele passara o braço possessivamente pelo encosto
unido e feliz. O toque suave dos dedos nos ombros nus parecia queimar-lhe a pele.
O brilho do luar iluminava o interior do carro. O rosto de Brad estava meio encoberto pela
sombra.
— Que comédia?
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que sua ex-cunhada não percebesse que seu novo casamento já foi por água abaixo!
— Não foi preocupação. Foi consideração pelos sentimentos de Naomi. Ela já estava
constrangida demais com a atitude do pai. Imagine se soubesse das consequências! Naomi é
Kim mordeu o lábio. Estava prestes a incorrer no mesmo erro novamente: pensar sempre
— Entendo. Também gostei muito dela — admitiu com franqueza. Lançou um olhar rápido
para Brad. — Não seria mesmo justo. Afinal, ela ia acabar se considerando culpada pelo
fracasso de nosso casamento. — De calças e camisa pretas, Brad parecia um estranho ao lado
— Muito nobre de sua parte — ele ironizou. — Achei que você faria uma cena quando
Naomi a repreendeu por causa de Philip. Ela é uma típica californiana. Às vezes, é despachada
demais!
Kim riu. Comentara que precisava desculpar-se com Philip por tê-lo acusado
injustamente. Naomi quisera saber quem era Philip. Quando Brad explicara que era o ex-noivo
de Kim, Naomi ficara meio preocupada. Num tom amistoso, aconselhara Kim a certificar-se que
— Não me ofendi — Kim garantiu. — Pelo contrário, fiquei muito sensibilizada com o fato
de Naomi preocupar-se com nossa felicidade. Obviamente, ela temia que a história se
repetisse, que eu continuasse com meu ex-noivo, como Natália continuou com o dela.
— Com certeza. — Os olhos de Brad eram impenetráveis; o sorriso, frio. — Ela sequer
imagina que você está contando os minutos para voltar à Londres e correr para os braços do
Seguiu-se um pesado silêncio. Imóvel, Kim temia que qualquer movimento seu pudesse
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desencadear o fim...
— Isso significa que decidiu ficar? — A voz profunda de Brad não foi mais do que um
sussurro.
culpada? — ela protestou com veemência. — É isso? Talvez você prefira mesmo uma mulher-
acessório, uma esposa para controlar, manipular e, ocasionalmente, exibir seu efeito
— Kim, não... — Pegando-lhe o braço, puxou-a contra o peito. — Meu bem, você não é
— Não sou? — Sua voz soou enrouquecida, o pulso batia acelerado. Depois, o corpo
inteiro tremia, em resposta ao beijo voraz de Brad. Beijou-a de um modo tal que todas as suas
defesas caíram por terra. Quando ele se afastou, seus olhos estavam escuros de emoção.
— Não, não é. Olhe, eu deveria ter lhe contado tudo. Sobre Natália, sobre toda aquela
— Porque... eu queria apagar meu passado. Esquecer que existiu. — A expressão dele
era tensa. — Acho que faz sentido, não, Kim? Você fez-me sentir tão bom. Estar com você era
assim... tão certo, tudo tão direito. Além disso, aquele pesadelo todo aconteceu há mais de dez
anos... Era como se tivesse acontecido em outra vida. — Suspirando, acariciou-lhe levemente
a face. — Achei que ignorando, simplesmente, varreria tudo da minha memória e da realidade.
Porém, existem pessoas que estiveram envolvidas e que ainda se ressentem dos fatos, que
não me perdoam... Enganei a mim mesmo pensando que poderia começar uma vida nova ao
— Não quis correr o risco de perdê-la, Kim — ele sussurrou com voz emocionada.
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história do fracasso do meu primeiro casamento. Mais ainda. Era tudo tão sórdido que não tive
coragem de contar-lhe.
— Hoje, já não tenho mais tanta certeza de tê-la amado mesmo. O que se seguiu depois,
acho que foi mais uma dor de cotovelo de um jovem imaturo. Ela feriu meu ego, meu orgulho,
Kim. Meu coração permaneceu intocado. Acho que fiquei muito mais vulnerável depois que
conheci você...
sempre esteve tão presente, tão solícito, nos momentos mais complicados da minha vida.
— É sério! Você foi paciente demais quando eu exagerei na champanhe, sem falar que
— E o que eu fiz por você? — ela se queixou, sentindo o peso das injustiças cometidas.
— De ter posto em dúvida minhas habilidades sexuais! Ela estava meio rindo, meio
angustiada.
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gesto positivo, romântico, que veio na forma de uma pequena explosão de consciência. —
— Kim...
Escapando dos braços dele, pulou do carro. Correu para o château, subiu as escadas
ansiosamente.
Quase em pânico, olhou ao redor, deparando-se com Brad parado na porta. Os olhos
— Meus anéis!
— Aqui... — Lentamente, tirou uma caixa preta do bolso, abrindo-a. Os dois anéis
— Fiz questão de colocá-los de novo na caixa como uma oferta de paz — ele murmurou
meio sem jeito. — Levei-os para Rennes, ontem, junto com o retrato. Admito que também
preciso penitenciar-me.
— Oh, Brad! Será que você realmente me vê como uma esposa-troféu? — desafiou-o
— Não, não a beijei apenas. Eu disse: beije-me e verá. Kim fitou-o com os olhos
radiantes.
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— Oh, Brad...
Ela ofereceu-lhe as mãos. Brad pegou os anéis, colocando-os no dedo trémulo de Kim,
um por vez. A mão forte, bronzeada, também tremia levemente. Depois, apertou-a nos braços
com força. O calor dos corpos unidos provocou a sensação maravilhosa de estar finalmente
— Fique comigo, Kim. Não fuja mais de mim... — As palavras foram sussurradas contra
cabelos dela.
— Nunca mais — ela prometeu com voz trémula. — Acha mesmo que eu queria ficar
Ele levantou a cabeça. Kim notou os olhos dele cheios de emoção e não conteve as
será que será capaz de me perdoar também, sra. Baldwin? — Ele lhe acariciava os braços
nus, a pele macia das costas. Com olhar possessivo, perscrutou-lhe o rosto.
— Absolvição mútua? — ela murmurou à beira das lágrimas. — Será que aquele anjo de
— Seja lá o que tiver que ser perdoado, eu perdoo — ela afirmou simplesmente.
— Tem certeza? E de coração que você diz isso? — Brad a abraçou com tanta força que
Fim.
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