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MUNICIPIO - CRIAÇÃO - LEI ORGÂNICA


- A lei OTdinária pode determinar a criação de Municípios, sem
observância dos princípios estabelecidos na respectiva lei orgânica.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul e outra versus

Prefeitura Municipal de Santo André

Recurso extraordinário nO 5;.432 - Relator: Sr. Ministro

Luís GALLOTII

ACÓRDÃO biscito relativo à desanexação de "vila


Prosperidade". do Município de Santo An·
Vistos e relatados êstes autos de Recur- dré. que pretendia anexar-se ao Munici-
so Extraordinário n9 57.432. do Estado de pio de São Caetano do Sul. ficando. em
São Paulo. em que são recorrentes a Pre- conseqüência mantida a integridade terri·
feitura Municipal de São Caetano do Sul torial do Município impetrante.
e a Assembléia Legislativa do Estado de
São Paulo e recorrida a Prefeitura Munici- Custas na forma da lei.
pal de Santo André. decide o Supremo Tri.
bunal Federal. em Sessão Plenária. por o Município de Santo André impetrou
maioria de votos. conhecer do recurso e êste mandado de segurança contra ato
também. por maioria. lhe dar provimento. da Mesa da Colenda Assembléia Legislati.
de acôn:lo com as notas juntas. va do Estado de São Paulo. alegando.
em sintese: que deferindo irregularmente
Distrito Federal. 16 de junho de 1966. - a pretensão de alguns moradores de "Vila
Cândido Mota Pilho, Presidente - Alio. Prosperidade". situada em seu território. a
mar Baleeiro, Relator para o acórdão. nobre Assembléia autorizou a realização
de plebiscito de consulta à população lo·
RELATÓRIO
cal. visando à desanexação do Município
o Sr. Ministro Luís Gallotti - :este o primitivo e anexação ao Município de São
acórdão. da lavra do ilustre Desembarga. Caetano do Sul. autorização essa concreti·
dor Lopes Meireles (fõlha 76.91): zada na Resolução n9 477. de 8.11.63. ora
impugnada nestes autos: que essa Resolu-
"Vistos. relatados e discutidos êstes au· ção foi tomada e expedida ilegalmente. con·
tos de Mandado de Segurança n9 131.491. tra expressa disposição do art. 19 e pará.
da Comarca de Santo André. em que é grafo único da Lei estadual n" 8.001. de
impetrante a Prefeitura Municipal de San· 11.10.63. que suspendera. até 31 de dezem-
to André. e impetrada a Assembléia Legis. bro do mesmo ano. a vigência do art. 20 e
lativa do Estado de São PalIo. parágrafo único da Lei Orgânica dos Mu-
nicípios (Lei n 9 1. de 18.9.47). com are·
Acordam. em Quinta Câmara Civil do dação dada pela Lei n" 4571. de 3.1.58:
Tribunal de Justiça, rejeitar as prelimina· que a referida Lei n9 8.001.63 Só permitia
res por maioria de votos. e. por votação a transferência de território. de um Muni-
unânime. conceder a segurança para anu· cípio para outro. quando o pedido de desa·
lar a Resolução número 477. de 8.11.63. nexação e anexação obtivesse a concor·
da Mesa da Assembléia Legislativa do Es· dânda do Instituto GeográfiCo e Geológi.
tado. que determinou a realização do ple- co do Estado. ou quando a modificação
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territorial fõsse proposta pelo próprio Ins- bre informante, que a Lei n9 8.001 entrou
tituto; que, entretanto, a despeito de o pe- em vigor em 1l-lO-ó3, quando a represen-
dido não ter partido do Instituto Geográfi- tação dos moradores de "Vila Prosperida-
Co e Geológico, e dêle receber parecer con- de" já estava em estudo na Assembléia. com
trário, a nobre Assembléia o deferiu ao o parecer contrário do Instituto Geográfico
arrepio da lei que ela mesma elaborou. de- e Geológico, o que a coloca fora do alcance
terminando a realização do plebiscito pela da citada lei. por Ihé faltar efeito re-
ilIdigitada Resolução número 477-63; que troativo. Remata afirmando que a lei
essa Resolução fere direito líquido e certo não poderia delegar atribuições legislati-
do Município impetrante. qual seja o de vas a um órgão administrativo, e que a
manter íntegro o seu território e de só elaboração da Lei Qüinqüenal é da compe-
vê-lo desmembrado na forma que a lei tência exclusiva da Assembléia, não ad-
prescreve; que a Resolução n 9 477-63. ten- mitindo a interferência do Judiciário em
do desatendido às exigências da lei para a face do principio constitucional da inde-
desanexação de território, é nula de pleno pendência dos Podêres, pelo que espera a
direito. e assim deve ser reconhecida neste denegação da segurança.
mandado de segurança. para que não pro-
duza qualquer efeito juridico ofensivo de A Procuradoria-Geral da Justiça, em su-
direito subjetivo do Município impetrante; cinto parecer. secundou as informações da
que o próprio texto da impugnada Resolu- Presidência, aditando a preliminar de que a
ção revela a sua ilegalidade, uma vez que matéria em julgamento é da competência da
se refere à Lei n~ 8.00 I, de 1963, como Justiça Eleitoral, por se referir a plebiscito.
sendo o seu suporte legal. quando na rea- que, a seu ver, é assunto eleitoral.
lidade a descumpriu, por inexistentes os
Admitida a intervenção do Municipio de
motivos que autorizariam a sua expedição;
São Caetano do Sul como assistente (fi.
que a questionada Resolução é ato admi-
72), o seu ilustrado procurador fêz susten-
nistrativo vinculado à lei, e. desde que afas-
tação oral. reiterando a preliminar de des-
tada da norma legislativa, toma-se ilegí-
cabimento do mandado contra o ato impug-
tima e passivel de invalidação judicial.
nado e renovando a defesa de mérito adu-
como se pleiteia nestes autos, pelo que a
impetrante pede a sua suspensão liminar, zida nas informações. Na sua oportunidade.
e, afinal. espera o reconhecimento defini- o nobre advogado do impetrante reafirmou
o cabimento e a procedência do pedido
tivo de sua nulidade, com a concessão da
inicial.
segurança.
No decorrer do julgamento o eminente
A inicial trouxe para os autos os do-
Desembargador Pinheiro Franco suscitou a
cumentos de fõlhas 16-59.
preliminar de carência do mandado. em
face da promulgação da lei qüinqüenal de
Concedida parcialmente a liminar e so- organização administrativa e judiciária do
licitadas as informações, prestou-as no de- Estado.
vido tempo o ilustre Presidente da Assem-
bléia Legislativa do Estado, argüindo, em Feito o relatório, foram rejeitados, por
preliminar, a incompetência do Judiciário votação unânime, as preliminares de in-
para conhecer da impetração, por versar, competência da Justiça comum para conhe-
ao seu entender, sõbre ato legislativo da cer da impetração, e de descabimento da
Assembléia. No mérito sustentou a legiti- via usada pelo impetrante, sendo, por maio-
midade do procedimento impugnado e ar- ria de votos, repelida a de carência do man-
gumentou que o parecer do Instituto Geo- dado; no mérito. concedeu-se a segurança.
gráfiCO e Geológico tem apenas caráter in- à unanimidade, pelos fundamentos a seguir
formativo no processo de desmembramento aduzidos.
de território municipal, .. podendo ser con-
trariado pelo Plenário em sua função sobe- Prel~s - A preliminar de incom-
rana de editar as leis." Aduziu, ainda, o no- petência da Justiça ordinária para conhecer
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da controvérsia relativa a plebiscito não Revista de Direito Administrativo, 57-329,


meR!ce acolhimento, uma vez que não se 60-247. 61-175 - R.T., 288-262; 289-152,
trata de matéria eleitoral. Consulta à po- 291-153). Até mesmo a lei de efeitos co~
pulaçAo interessada em desmembramento eretos, como a de organização administra-
territorial ou em elevação de distrito a mu- tiva e Judiciária. é atacável por mandado
nicípio é assunto tipicamente administrati- de segurança por se equiparar ao ato
vo, sem nenhuma vinculação com a Justiça administrativo na sua auto-executoriedade
Eleitoral. que apenas empresta, quando so- imediata. como explicam os publicistas.
licitada, a sua organização e o seu pessoal ( Gonçalves de Oliveira. in Revista de
para realizar o plebiscito. O nosso plebis- Direito Administrativo, 9-151 - Seabno
cíto municipal filia-se ao recall do direito Fagundes. O Contrôle dos Atos Admi-
norte-americano pelo qual se indaga de nistrativos. 3' edição. pág, 300). e tem
uma comunidade sõbre determinada preten- admitido êste mesmo Tribunal em repe-
são administrativa. Nada tem que ver com tidas oportunidades (Tribunal de Justi-
o processo político representativo de com- ça de São Paulo. Revista dos TribunBis.
posição do govêrno, que a Constituição fe- 242-314. 285-188, 289-152 e 291-171).
deral de 1946 atribuiu à Justiça Eleitoral.
Quanto à preliminar de carência do man-
Quanto à preliminar de descabimento do dado. em virtude da promulgação da lei
mandado por se tratar de ato legislativo, qüinqüenal. é repelida pela maioria dos jul-
é também inacolhivel. A segurança dirige- gadores. data venia do entender do ilustra-
-se contra um ato formal e materialmente do suscitante. E assim a rejeitam. porque
administrativo, que é a Resolução da Mesa a segurança está enderaçada diretamente
n'477, de 8-11-63. concretizadora de uma
contra a Resolução da Mesa n 9 477-63. que
autorização especial para a realização de
é ato ~::!rnin;str~tivo autônomo no procedi-
plebiSCito de consulta à população interes-
mento de desanexação do território do Mu-
sada no desmembramento de determinada
área territorial do Municipio impetrante. nicípio impetrante, e. como tal. invalidável
independentemente de quaisquer outras de-
Resolução legislativa não é lei; é delibera-
ção administrativa, sempre sujeita ao con- liberações subseqüentes.
trõle de legalidade pelo Judiciário, Não
ocorre, portanto. qualquer invasão da Jus- Mérito - No mérito. a segurança é con-
tiça na área dos intema corporis da Assem- cedida. à unanimidade. porque o ato im-
bléia Legislativa do Estado. O exame judi- pugnado realmente desatendeu a lei e feriu
cial da indigitada Resolução é perfeitamen- direito subjetivo. líquido e certo. do Muni-
te cabivel dentro do nosso sistema consti- cípio impetrante. qual seja o de manter a
tucional de "freios e contrapesos". expres- integridade de seu território. cujo fraciona-
so na tripartição dos Podêres e na sujeição mento só se pode realizar com observância
de todos ao pronunciamento de legitimi- de tôdas as prescrições legais. Desatendi-
dade do Judiciário. Desde que o impetran- das que foram as normas do desmembra-
te se queixa de um ato ofensivo de seu di- mento territorial. ferido está o direito do
reito subjetivo. cabe ao Poder Judiciário Municipio que teve o seu território muti-
verificar se ocorre a alegada lesão. ainda lado ilegalmente.
que provenient~ do Legislativo no desem-
penho de suas atribuições ou a pretexto de Em sintese. o que ocorreu no caso em
exercê-las. E uma vez que a alegação é de exame. Senão. vejamos.
ofensa a direito liquido e certo. contida na
determinaçAo ilegal de um plebiscito. cabi- A Lei estadual n 9 8.001. de 11-10-63. sus-
vel é o mandado de segurança. como reite- pendeu até 31 de dezembro do mesmo ano
radamente se tem decidido em casos análo- os dispositivos da Lei Orgânica dos Muni-
gos (Supremo Tribunal Federal). Revj8ta cípios que autorizavam a desanexaçAo de-
de Direito Admini8trativo, 65-174 - TJPR. territórios municipais. ou seja, o art. 20 e
RI, 49-426 - THRGS. R.J. 48-171 - TJSP. parágrafo único da Lei n· 1. de 18-9-47.
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com a redação que lhes foi dada pela Lei var" (fl. 44). De nada valeu a advertên-
n9 4.571, de 3-1-58. cia. A nobre Mesa da Assembléia expediU
a Resolução nO 477, contra a lei e ferindo
Embora suspendendo as desanexações de direito subjetivo liqUido e certo do Municí-
areas municipais, a citada Lei n' 8.001-63, pio impetrante, qual seja o de manter a in-
abriu duas exceções permissivas de deSA tegridade de seu território, cujo desmem-
membramento: a primeira, quando o pedi- bramento só poderia ser feito nos precisos
do da população interessada obtivesse pa- têrmos da Lei n9 8.001, de 1963, elaborada
recer favorável do Instituto Geográfico e pela Assembléia Legislativa, e ~r sua
Geológico do Estado: a segunda, quando Mesa desrespeitada flagrantemente.
o mesmo Instituto propusesse o desmem-
bramento. ~ o que consta, expressamente, Além disso, tendo a questionada Resolu-
do parágrafo único, do art. 19 da indigita- ção declarado que determinava o plebiscito
da Lei n9 8.001. "em face do disposto no parágrafo único
M

do art. 1° da Lei n' 8.001. de ll_1O-63


No caso, não houve parecer favorável (fI. 49), vinculou-se espontânea e expres-
do Instituto Geográfico e Geológico, nem samente às exigências dêsse dispositivo le-
foi por êle proposto qualquer desmembra- gal. E não tendo atendido, na realidade, às
mento e anexação do território em litigio. referidas exigências da lei, ficou apoiada
Ao revés, o Instituto deu parecer contrário em falso motivo, que conduz à nulidade do
à pretensão desanexadora de "Vila ProSA ato, por inexistente a razão determinante
peridade", que desejava anexar-se ao Mu- de sua prática. ~ o que está convincente-
nicipio de São Caetano do Sul, desmem- mente demonstrado na inicial, com apoio
brando-se do de Santo André. ~ o que na moderna e exata doutrina da motivação
consta do fundamentado parecer de fI. 27, dos atos administrativos.
do mencionado Instituto, ao concluir que
não se apresentam razões plausíveis que Por outro lado, são inaceitáveis os argu-
justifiquem 11 transferência dessa área, pelo mentos da impetrada, de que "a Assembléia
que "não se deve efetuar consulta popular pode contrariar o parecer do Instituto Geo-
ou qualquer alteração territorial do Muni- gráfico e Geológico, que é, apenas, uma
cipio de Santo André" (fi. 28, in fine). peça informativa do processo" (fi. 65), e
que a Lei n' 8.001. tendo entrado em vigor
A douta Assessoria Técnica da Comis-
em 11-10-63, não se aplica ao caso dos au-
são de Divisão Administrativa e JudiCiá-
tos, porque a representação da "Vila Pros-
ria, da Assembléia Legislativa, deu, igual-
mente, parecer contrário à desanexação tex- peridade" já tinha dado entrada na Casa, e
tualmente: - "Face ao disposto no pará- por isso não poderia ser alcançado pela Lei
grafo único do art. to, da Lei n 9 8.001. en- n9 8.001, só aplicável aos pedidos recebi-
tendemos que o processo ora em exame dos após a sua promulgação (fI. 65).
deve ser arquivado (fl. 39),
Ambos os argumentos são irrelevantes.
A despeito disso, e ao arrepio da Lei n'
8.00 I, a Mesa da nobre Assembléia legis- Quanto ao parecer do Instituto Geográ-
lativa do Estado expediu a Resolução n' fico e Geológico, deixou de ser simples
477, determinando a realização de plebisci- peça informativa do processo porque a L~i
to de consulta à população da áre a ser n' 8.001 o erigiu em elemento vinculante, e
desmembrada (fl. 48), contra o voto de um mais que isso, em condição sine qua non do
ilustre Deputado que, como membro da C0- desmembramento. territorial. O parecer é,
missão de Divisão Administrativa e Judi- em princípio, ato opinativo, mas a lei pode
ciária, percebeu a ilegalidade, e sugeriu o tamsformá-lo, como (> transformou, no
arquivamento do processo, finalizando o caso, em ato-condição do processo adminis-
seu voto com estas palavras bem significa- trativo de desanexação de áreas munici-
tivas: "~ a lei e a ela devemol nos CUf- pais. Passou assim de elemento inEormati-
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vo a requisito de legalidade a que ficam enquanto estiver em vigor. Poderá, sim, a
adstritas as autoridades que devam pronun- qualquer tempo, revogá~la ou derrogá~la,
ciar~se I!6bre a pretensão das partes, sujei- no uso de sua soberania legislativa. Mas
tas ao Juzo técnico indicado pela lei. Essa não poderá afrontar a lei, enquanto fôr lei.
vinculação ao parecer, que o legislador exi~
ge no processo, é normal em direito admi- Por derradeiro. rebate~se a alegação da
nistrativo, como informam os mais abaliza- impetrada de que a citada Lei nt 8.001 não
dos publicistas que escreveram sôbre a se aplica ao caso em exame, porque o pedi-
matéria (Corso, La funzione cOl1.!Ultiva. do cie desmembramento teria entrado na
19S2, pág. 64 e seguintes - Fraichini. 11 Assembléia antes de sua promulgação. O
parere nel diritto amminútrativo. 194i, argumento é sofístico e inane, uma vez que
pág. 139 e seguintes). a indigitada lei não ressalvou qualquer pre-
tensão anteriormente manifestada. Além
Desde que a Lei nt 8.001 condicionou os disso, os seus mandamentos não se dirigem
desmembramentos de territórios municipais à forma e época de apresentação dos pedi-
ao parecer favorável de um órgão técnico do de desmembramento; endereça~se, sim
como é o Instituto Geográfico e Geológico à atuação da Assembléia na apreciação e
do Estado. não podia a Mesa da Assem- julgamento da representação I!6bre desane-
bléia Legislativa expedir uma Resolução xação e retificação de divisas que se acha-
em desacOrdo com essa exigência legal. vam em tramitação, mesmo porque a Lei
Nessa observância à lei não há qualquer Orgânica dos Municípios determina que
supressão de prerrogativa do Legislativo, tais representações devem ser entregues "à
mesmo porque o ato em exame não é le- Assembléia Legislativa até o dia 30 de abril
gislativo, mas sim administrativo, como já de cada ano da lei qüinqüenal, não poden~
se demonstrou precedentemente. Dal decor- do ser considerada a que der entrada de-
re a nulidade da indigitada Resolução n' H
pois dêsse prazo (art. S', § S9). E a Lei
i77, por atentatória do parágrafo único, do Orgânica permanece em vigor. Por aí se
at't. l' da Lei n9 8.001. vê, que a vingar a interpretação da douta
Mesa da Assembléia, a lei por ela votada
Nem se diga, como insinua a impetrada
para vigorar até 31~12-63 não teria apli-
em suas informações, que podendo a As-
cação a caso algum, porque todos os pedi~
sembléia fazer a lei, pode contrariar a lei.
dos de plebiscito eram anteriores à essa lei.
Não e nunca. No poder institucional de
E se a Lei nt 8.001 não se aplicasse aos
elaborar a lei nlio se contém o de desrespei-
pedidos já em tramitação na Assembléia,
tar a lei promulgada. A norma legal é "0- tais pedidos ficariam sob as normas comuns
gente para todos, inclusive para o poder
da Lei Orgânica, sendo, então, necessária
que a faz.
a aprovação da anexação do território por
Como bem assinala o Professor Caio Tá- lei especial do Município anexador - o
cito: "O episódio central da história admi- que não houve no caso - para legitimar
nistrativa do século XX é a subordinação o desmembramento (art. 20. parágrafo úni-
do Estado ao regime da legalidade. A lei. co). Ilegal, pois, a anexação, por falta de
como expressão da vontade coletiva. incide lei municipal anexadora, se é que não se
tanto s6bre os indivíduos como sObre as aplica a Lei estadual n 9 8.001 à espécie em
autoridades públicas" (in O Ensino do Di- julgamento.
reito Administrativo no Brasil. 19S7. pá-
gina 3). Mas a verdade é que a Lei n' 8.001 tem
inteira aplicação ao caso, e foi descumpri-
Uma vez que a Assembléia Legislativa da pela Augusta Assembléia, como já se
autolimitou os podêres da sua Comissão de demonstrou anteriormente. Além disso, ou-
Divisa0 Administrativa e Judiciária e da tras ilegalidades existem na representação
sua própria Mesa, pela Lei n9 8.001. não que ensejou o plebiscito. Com efeito, a
poderá, por qualquer de seus órgãos, nem mencionada representação (fi. 19) elltá da-
meSBO pelo Plenário, descumprir esta lei tada de 30-3-63, mas o reconhecimento das
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.:firmas dos eleitores que a subscreveram é Na oportunidade, o douto publicista, hoje


de 7 de agsõto do mesmo ano. vale dizer. eminente Ministro do Supremo Tribunal
fora do prazo estabelecido na Lei Orgânica Federal. acentuou que nos limites qUi! lhe
(art. S9. § S'). Diante dessa realidade, de foram traçados, "a competência municipal
duas uma: ou a representação foi feita de- não é, pois, suscetivel de mutilação. nem
pois da data em que deveria ser entregue por obra da lei federal. nem da estadual."
à Assembléia (30 de abril). e nesse caso
não poderia ter sido processada; ou o pe- No caso sub judice houve desll\embra-
dido de desmembramento foi recebido pela mento ilegal de território do Município im·
Assembléia sem a lista dos ele\tores que petrante. o que representa mutilação de SU..l
deveria instrui-Ia. o que também invalida- competência administrativa e tributária. eu-
ria o pedido. Em qualquer dessas duas hi- . sejadora dêste mandado.
póteses, a representação não poderia ser
Pelos fundamentos expostos. por unaai-
conhecida. por falta de requisitos legais.
midade de votos. concede-se a segurança
E, uma vez conhecida, é nula por ilegal.
para invalidar a Resolução n' 4.77. de
8-11-63. da Mesa da Assembléia Legisla-
Essa conclusão deflui naturalmente dos
tiva do Estado, e os efeitos dela resultan-
princípios de legalidade a que estão sujei-
tes, por contrários à Lei n? 8.001-63 e ofen-
tos todos os atos administrativos - inclu-
sivos de direito líqUido e certo do Muni-
sive os praticados pela Assembléia Legis-
cípio de Santo André, ora' impetrante.
lativa - , como do art. 6' da Lei Orgânica
dos Municípios, que soa: "Estando a re- O voto do ilustre Desembargador Pi-
presentação em forma legal, mandarã a As- nheiro Franco, qut' foi vencido quanto a
sembléia proceder a plebiScito de consulta uma das preliminares, está a fls. 92-93:
à população do distrito." A contrario senso,
nAo estancúJ a representação em forma le- 1. "Meu voto, em preliminar, declarava
gaI. não poderia a Assembléia mandar rea- a impetrante Prefeitura Municipal de San-
lizar o plebiscito. Nula é, pois. a Resolução to André carecedora do pedido.
que ordenou o plebiscíto.
2. É que - como conseqüência da Reso·
lução n' 4.77, de 8-11-63. da egré{lia As-
E como os atos nulos não geram direito,
sembléia Legislativa do Estado, acoimada
nenhum direito pode nascer da indigitada
de ilegal. tendo-se realizado o plebiscito
Resolução n" 4.77, que ora se reconhece in-
por via do qual foi votada a anexação da
válida em todos os seus pretensos efeito~.
Vila Prosperidade ao Município de São
Caetano (v. fi. 4.8 e fi. SO); e, como con-
O desmembramento de "Vila Prosperi-
seqüência dêsse plebiscito, tendo a egrégia
dade", não tendo atendido às exigências
Assembléia Legislativa, aprovando-Q. de-
legais, é nulo e ofensivo do direito líqUido
terminado essa incorporação ao votar o
e certo do Município de Santo André, a projeto da Lei Qüinqüenal. que dispôs sô·
que legitimamente pertence. A desanexa- bre 'o Quadro Territorial. Administrativo e
ção dessa vila, pela maneira ilegal como
Judiciário do Estado - foi o projeto trans-
foi feita, viola o direito do Município à formado na Lei estadual n 8.0S0, de"
Q

integridade de seu território, e ao exercício 31-12-63 (republicada sob o n 8.~2, de


Q

pleno de sua competência administrativa e 28-2-64.. já agora promulgada pelo Sr. Pre-
tributária sõbre tõda a área municipal for- sidente da egrégia Assembléia com os dis·
madora da comuna. Nesse sentido é a lição positivos que, vetados pelo Sr. Governado!'
de Vitor Nunes Leal em trabalhos especia- do Estado, não tiveram o veto confirma-
lizados sõbre o assunto (cf. "Alguns Pro- do): e ai, na descrição das divisas do Mu-
blemas Municipais em face da Constitui- nicípio de São Caetano. vê-se que elas
ção", in Revi8ta Forense, 14.7-9, e também abrangem a Vila Prosperidade.
"Restrições à Autonomia Municipal", in
Revista de Direito AdministlYltivo, 17-4.50, 3. A mim me parece evidente que, pou·
18-384 e 19-4.24.). co importa a natureza dela (material :>u
- 187·-
simplesmente formaI), se uma lei existe in- mais sentido. B vazia de efeitos juridicoa.
corporando a Vila Prosperidade ao Muni- Está prejudicada.
cípio de São Caetano, enquanto essa· lei
vigir - e ela está plenamente vigente - , Recursos extraordinários da Prefeitura
sem que se a ataque e a nulifique na parte de Santo André (alíneas a e c) e da As-
que à Impetrante interessar, a Vila Pros- sembléia Legislativa (alíneas a e d).
peridade há de continuar integrada no Mu-
A Procuradoria-Geral, após resumir o
nicípio de São Caetano do Sul.
caso, em parecer do ilustre Procurador
4. O ataque aos atos da egrégia Assem- Oscar Corrêa Pina, aprovado pelo então
bléia Legislativa, tendentes ao atendimento Procurador-Geral, hoje nosso eminente co-
da representação dos moradores da Vila, lega Ministro Oswaldo Trigueiro, aaim se
transformou-se numa questão meramente pronuncia (fls. 167-169):
acadêmica (como acadêmica foi a conces-
são da segurança) porque, lei existindo de- "Em assim decidindo, para conhecer da
cretando a incorporação. tal questão esta- impetração, que entendeu cabível, e defe-
va definitivamente superada. ri-la, no mérito, o venerando acórdão re-
corrido não contrariou os dispositivos cons-
5. Certo a impetração se fê:z; antes que titucionais e de lei ordinária invocados pe-
o projeto da Lei Orgânica tivesse seus trâ- las recrrentes, nem por outro lado, se de-
mites normais e antes que em lei se con- monstrou a ocorrência de dissídio jurispru-
vertesse o projeto: mas, s~nsa a limi- dencial. a autori:z;ar o conhecimento do re-
rI!Ir (v. fi. 60), o projeto que autori:z;ava curso, acrescendo que a alegada invalidade
a incorporação, prosseguiu e em lei con- da Lei estadual n 9 8.001. de 1963, em face
verteu-se. g lei e, como tal. deve ser cum- da Constituição federal (art. 36, § ~), ar-
prida. güida no primeiro recurso, nAo foi aprecia-
da pelo ilustre Tribunal de Justiça, pelo
6. B verdade que o ilustre Relator, ao que não podia constituir objeto do apêlo
revogar a liminar, determinou ficassem sus- extraordinário.
pensos quaisquer atos de execução. (ibi).
Preliminarmente, pois, opino pelo MO
7. A meu ver, porém, a- Lei Qüinqüenal, conhecimento dos recursos, por incabíveis.
nessa parte em que altera divisas ou de-
termina incorporações, é self-executing, a De meritis, caso, todavia, dêles se conhe-
incorporação da Vila Prosperida ao Mu- ça. pelo fundamento da alínea d, na parte
nicípio de São Caetano do Sul tendo-se referente ao cabimento do mandado de se-
operado, assim, automàticamente, no caso gurança, em hipóteses como a dêstes au-
pela simples descrição das divisas do Mu- tos, será de se lhes denegar provimento,
nicípio, que estão exatamente de acôrdo confirmado, assim, o venerando acórdão
com a Resolução (fi. 48). Demais, é evi- recorrido, que conheceu da impetraçAo. para
dente que, enquanto de um lado a egrégia julgá-la no mérito, como de direito.
Assembléia Legislativa não poderia, mes-
mo, praticar "quaisquer atos de execução", Decidiu nesse sentido. entre outras vê-
doutro lado, o despacho não poderia atin- :z;es, pelo cabimento da segurança, o egré-
gir o ato do Governador do Estado ao san- gio Supremo Tribunal Federal, -em hipótese
cionar a lei, estranho que era, e é, esta au- idêntica à dêstes autos, ao receber. unAni-
toridade à presente impetração. memente, em 20-11-61, os embargos infrin-
gentes OpostOI pela Prefeitura Munidpal
8. Assim, sem que se procure atingir de Capltavi ao acórd!o da egrégia Segun..-
êste ato do Governador do Estado, a Vila da Turma que conhecera do recurso ex-
Prosperidade está incorporada ao Municí- traordinário n9 43.137 e lhe dera pro~
pio de São Caetano do Sul: a impetração to, para cassar a segurança, por incabivel,
da presente segurança contra os atos da de acOrdo com o voto do eminente Minis-
egrégia Assembléia Legislativa já não tem tro Henrique D'Avila.
- 188-
Recebendo os embargos, o egreglo Tri- em certa fue. a própria função legislati-
bunal Pleno reformou a decisão embarga- va. !ele emitirá parecer decisivo, isto é. do
da. porque o recurso era incabível, e. as- seu parecer favorável dependerá a aprova-
sim. restaurou a segurança, unânimemente. ção da lei, quando. no sistema constitucio-
pelos votos dos eminentes Ministros CAn· nal vigente, a interferência do Poder Exe-
dido Mota Filho, Relator, Ribeiro da Cos- cutivo só cabe a posteriori, através de san-
ta, Hahnemann Guimarães, Luis Gallotti. ção ou veto, que competem ao Governa-
Ari Franco, de saudosa memória, Vilas- dor. Seria uma sanção ou veto, durante a
Boas, Gonçalves de Oliveira, Vítor Nunes elaboração legislativa, emanados não do
Leal e Pedro Chaves." Governador mas de outro órgão do Poder
Executivo, órgão que. quanto à atribuição
A 3' Turma teve como conveniente a re- de sancionar ou vetar, não pode substituir
messa dos autos ao Tribunal Pleno, inclu- o Governador, pois dêste privativamente,
sive porque se argúi matéria constitucional é a competência constitucional, de que se
(assim votei como relator e assim decidiu trata, a ser exercida no momento próprio.
a Turma).
Entretanto, o reconhecimento da incons-
];: o relatório. titucionalidade do parágrafo único do art.
19 da Lei n~ 8.001, de 11-10-63 não conduz
VOTO
ao provimento do recurso.
o Sr. Ministro Luís Gallotti (Relator) Porque o art. 19 suspendeu, até 31-12-63,
- A Assembléia Legislativa, 2' recorrente, a vigência do art. 20 da lei orgânica dos
sustentou ser contrária à Constituição fe- Municípios que permitia o desmembramen-
deral a Lei estadual n~ 8.001. de 11-10-63, to de parte do território de um Município
no ponto em que dá fôrça vinculativa aos para anexá-Ia a Município limítrofe. O pa-
pareceres do Instituto Geográfico e Gec>- rágrafo único é que, abrindo exceção, fa-
lógico, órgão do Poder Executivo, isto é, cultava a desanexaçães e conseqüentes ane-
faz depender de parecer favorável dêsse xações no referido periodo. mediante o pro-
órgão a aprovação do projeto de lei, pois nunciamento favorável do Instituto Geo-
isso importa delegação de atribuições, ve- gráfico e Geológico. Considerando incons-
dada pela Carta Magna (fi. 66). titucional o parágrafo, não se segue que
também o seja o artigo, pois a inconstitu-
E a lei do Estado foi julgada válida, o cionalidade de uma lei, como é pacífico,
que toma cabível o recurso extraordinário pode ser reconhecida em parte. Utile per
da invocada alínea c. inutile non vitiatur.
Caberia, também, o da alínea d, porque As demais alegações das recorrentes te-
é citado acórdão, embora muito antigo, de nho como improcedentes (e devo apreciá-
que foi Relator o eminente Sr. Ministro las, porque, pela norma regimental agora
Edgard Costa. no sentido de que, sendo vigente, quando remetido o recurso ex-
caso de representação, não cabe mandado traordinário ao Tribunal Pleno, êste o jul-
de segurança. ga totalmente, não mais o devolve à Tur-
ma, como acontecia antigamente, para
A questão constitucional existe. portan-
apreciação das questões outras que não a
to, e é relevante. constituCional) .
Tenho como inconstitucional a Lei n9 A Lei n 9 8.001 era. na verdade. obstáculo
8.001, quando subordina, no caso, a apro- a que a Assembléia procedesse como pro·
vaç!o do projeto de lei, não apenas à con· cedeu.
diçAo de existir parecer do Instituto (;eo.
E não foi aplicada retroativamente.
gráfico e Geológico, órgão do Poder Exe.
cutivo. mas à existência de parecer favorá- Vou ler um trecho do acórdão recorrido
vel do mesmo Instituto, pois isso importa que, a meu ver, convence plenamente. Diz
tran~ferir a em órgão do Poder Executivo, o acórdão:
-189 -
"O argumento é sofistico e inane, uma instrui-la. o que também invalidaria o pe-
vez que a Indigitada lei não ressalvou quaJ.. dido. Em qualquer dessas duas hipóteses a
quer pretendo anteriormente manifestada. representação não poderia ser conhecida,
Além diaso, os seus mandamentos não se por falta de requisitos legais. E, uma vez
clfrigem à forma e época de apresentação conhecida. é nula por ilegal."
dos pedidos de desmembramento: endere-
ça-«. sim, à atuaçAo da Assembléia ne Prossigo. então. meu voto: Nesses pon-
apreciação e julgamento da representação tos. é irrespondivel a fundamentação do
a6bre desanexação e retificação de divisas acórdAo recorrido.
que se achavam em tramitaçAo. mesmo por- E acrescenta (fi. 125) o ilustre patrono
que a Lei Orgânica dos Municipios deter- do Município de Santo André que, negada
mina que tais representações devem ser en- aplicação à Lei n" 8.001, como retroativa,
tregues .. à Assembléia Legislativa até o isso importaria ter como vigente a lei or-
dia 30 de abril de cada ano da lei qüinqüe- gânica. que ela suspendera transitõriamen-
1I8l. não podendo ser considerada a que der te. Neste caso. mister se fazia que O pedido
entrada depois dEsse prazon (art. S·. § S'). de anexação ao Municipio recorrente f6sse
E a Lei Orgânica permanece em vigor. Por aprovado por lei dfsse Municipio (art. 20.
aí se vf. que a vingar a interpretação da parágrafo único, da Lei Orgênica) e tal
douta Mesa da Assembléia, a lei por ela lei inexiste.
votada para vigorar até 31-12-63 não teria
aplicação a caso algum porque todos os O caso é diferente do que julgou a 3.
pedidos de plebiscito eram anteriores a essa Turma DO recurso extraordinârio n" 57.684,
lei. E se a Lei n9 8.001, não se aplicasse de que foi relator o eminente Ministro Her-
aos pedidos já em tramitação na Assem- mes Lima (recorrente a Assembléia legiS-
bléia, tais pedidos ficariam sob as normas lativa de São Paulo e recorrido o Municí-
comuns da Lei Orgânica. sendo. então. ne- pio de São Vicente).
cessária a aprovação da anexação do ter- Ali. não se tratava, como aqui se trata.
ritório por lei especial do Municipio ane- de desaneiação e conseqüente anexação de
xador - o que não houve DO caso - para território municipal, mas de criação de Mu-
legitimar o desmembramento (art. 20. pará- nicipio. o que colocava o caso fora da ór-
grafo único). Ilegal. pois, a anexação, por bita da Lei n9 8.001, donde não se ter dis-
falta de lei municipal anexadora, se é que cutido a sua constitucionalidade.
DIa se. aplica a Lei estadual n" 8.001 à es-
pécie em julgamento. Por outro lado, não houvera liminar. o
que permitiu se prosseguisse. Aqui, houve
Mas a verdade é que a Lei n' 8.00 I tem liminar, embora, depois. fõssem os efeitos
inteira aplicação ao caso, e foi descumprida desta restringidos (fi. 60). o que levou o
pela Augusta Assembléia, como já se de- voto vencido a julgar prejudicada a im-
monstrou anteriormente. Além disso. outras petração, em face da superveniente lei
ilegalidades existem na representação que qüinqüenal que manteve a desanexação
emejou o plebiscito. Com efeito. a mencio- questionada. visto se ter realizado o ple-
nada representação (fi. 19), está datada de biscito. por efeito da ResoluçAo contra a
JO..3-63. mas o reconhecimento das firmas qual se requerera e fõra concedido o pre-
dos eleitores que a subscreveram é de 7 de sente mandado de segurança.
ag6sto do mesmo ano, vale dizer. fora do
prazo estabelecido na Lei Orgânica ( art. Meu voto no recurso extraordinário n"
5", § 5'"). Diante dessa realidade, de duas 57.684 foi o seguinte:
uma: o. a representação foi feita depois
"Também acompanho o eminente Re-
da data em que deveria ser entregue à As-
lator.
sembléia (30 de abril), nesse caso não po-
deria ter sido processada: ou o pedido de Apenas pediria vênia para não concor-
desmembramento foi recebido pela Assem- dar com um dos fundamentos do voto de S.
bléia sem a lista dos eleitores que deveria Exa. que. aliás. estaria apoiado num anti-
- 190-

go acórdão, de que foi relator o eminente -Geral da República. Ninguém, a não ser
Ministro Edgard Costa, no recurso de man- êle, pode oferecê-la. Assim. não será ra-
dado de segurança n 9 1.247 ... zoável, data venia. impedir que o poaaível
lesado em seu direito ingresse em Juízo
o Sr. Ministro Prado Kelly - Também pela via cabível.
me prrmito não acompanhar o eminente
Relator nessa parte. O Sr. Ministro Prado Kelly - Como
remédio jurídico sucedâneo.
O Sr. lUinistro Gonçalves de Oliveira -
Eu t3mbém, nessa parte, tenho opinião di- O Sr. Ministro Luís Gallotti (Presiden-
versa da de V. Exa., Sr. Presidente. te) - Tanto mais que pode ser caso ur-
gente. Na representação, por exemplo, não
O Sr. Ministro Luís Gallotti (Presiden- cabe a liminar. Já não cabia antes, porque
te) - ... no sentido de que, por caber a o acórdão proferido na representação é
representação do art. 8" da Constituição, meramente declaratório, depende, pela
não caberia o mandado de segurança. Constituição (arts. 8' e 13), de uma lei
Tenho entendido, com o apoio do Tri- federal superveniente, para que se tome
ex~qüível. Assim, não haveria como per-
bunal, que, como essa representação é pri-
vativa do Procurador-Geral da República, mitir-se ao relator uma liminar com fôrça
ela não exclui a possibilidade de os inte- executória, quando tal fôrça não tem a de-
ressados, as pessoas que tenham sofrido ou cisão do Supremo Tn"bunal antes que ve-
que estejam ameaçadas de sofrer uma le- nha a lei exigida pela Constituição. Seria
são no seu direito, recorrerem às outras dar-se ao Relator maior poder do que ao
vias judiciais, como o mandado de segu- Tribunal. A última lei sôbre as represen-
rança ou a ação ordinária. tações, atendendo a isso, expressamente
proíbe a liminar.
O Sr. Ministro Hermes Lima (Relator)
O Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira -
- Os interessados não poderiam dirigir-se
Aí há dualidade de competência.
ao Procurador-Geral da República.
O Sr. Ministro Luís Gallotti (Presiden-
O Sr. Ministro Luís Gallotti (PreSiden- te) - Pouco importa. O Supremo Tribu-
te) - No caso, o interessado era o Mu- nal tem competência para conhecer da
nicípio que se diz prejudicado, titular do mesma matéria em mandado de segurança
direito alegado. originário, ou em ação ordinária, que lhe
O Sr. Ministro Hermes Lima (Relator) chegue em grau de recurso. Aqui se trata
- l\hs não poderia dirigir-se ao Procura- de recurso. Mas êsses aspectos não têm
dor-Geral. interêsse maior, porque vou concordar com
o eminente Relator por outras razões.
O Sr. Ministro Luís Gallotti (Presiden-
te) - Poderia. O Procurador-Geral da A outra dúvida que restaria é quanto ao
República poderia, ou não, acolher seu pe- decumprimento do acórdão do Tribunal de
dido. Eu, por exemplo, fui Procurador-Ge- São Paulo, porque, tendo êle dado o man-
ral da República e apresentava, ou não, a dado de segurança, para invalidar não só a
representação, conforme a convicção que resolução da Assembléia. mas. por via de
formava. Isso fica a critério de cada Pro- conseqüêncía. o que a seguir se fizesse. a
curador-Geral. rigor - em respeito ao julgado e dado que
o recurso extraordinário não tem efeito sus-
O Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira - pensivo não se poderia ter prosseguido.
De qualquer forma, há um mecanismo a como Se' prosseguiu.
ser seguido.
Mas, como agora estamos julgando o re-
O Sr. Ministro Luís Gallotti (Presiden- curso extraordinário e temos de examinar o
te) - O fato é que a representação, pela acórdão recorrido, para ver se êle merece.
Constituição, é privativa do Procurador- ou lldO, confirmação. penso que, realmente.
- 191

tem razão o eminente Relator, pelas demais Acresce ainda que o acórdão da S' Cl~
razões que invocou e também porque, como mara também se apoiou em que outras i1e~
bem acentuou o eminente Ministro Prado galidades existem ( defeitos de forma ou
Kel1y e, igualmente, o eminente Relator, no de prazo), na representação que ensejou o
caso não se configura um direito liqUide e plebiscito.
certo, que pudesse ter amparo em mandado
de segurança. Há controvérsia sôbre maté~ O recorrido, Municipio de Santo André.
ria de fato. parece ter uma vocação de infortúnio. na
matéria de que se cuida. Lembra o seu
Assim, também estou de acõrdo em co~ ilustre patrono que já houvera deamem~
nhecer do recurso e dar~lhe provimento." bramento de uma porção do seu território
em favor do Município de Mauá e que,
AqUi, a questão é puramente de direito. concedido mandado de segurança em SIo
Não julgo prejudicado os recursos, por~ Paulo contra tal desmembramento, o Su~
premo Tribunal o manteve (Recurso ex~
que, como acentua o próprio voto vencido,
traordinário n 9 58.692, de que foi relator o
a questionada desanexação foi incluida na
eminente Ministro VUas--Boas), contra os
lei qüinqüenal em conseqüência do plebis~
votos, é verdade, dos eminentes Miniatros
cito ordenado por uma Resolução que an~
tes daquela lei fõra impugnada neste man~ Vitor Nunes, Gonçalves de Oliveira e Cân~
dido Mota, que tiveram como inadmissível
dado de segurança, e o acórdão, que o con~
o mandado de segurança, visto caber a
cedeu. anulou: aquela Resolução e os efei~
representação do art. 8·, parágrafo único
tos dela resultantes ( fi. 90).
da Constituição (acórdão de 29~1l~S, pro-
Por isso, entendo que não é possivel jul~ ferido já com a participação dos cinco no~
gar prejudicados os recursos. vos Ministros que vieram honrar esta
Cõrte) .
A 2' recorrente ainda sustenta que a
competência, para. em mandado de segu~ Meu voto foi êste:
rança, anular a Resolução da Assembléia
"Sr. Presidente, ainda há poucos dias,
Legislativa (fi. 64), era do Tribunal Ple~
num caso de São Paulo, em que ficou ven~
no e não da 5'!- Câmara do Tribunal de Jus~
cido o eminente _Ministro Gonçalves de
tiça, invocando o art. 200 da Constituição
Oliveira, decidimos que a representação
(fls. 130~13l).
criada pela Constituição de 1946 (art. 8')
Penso que assiste razão à Assembléia compete privativam,ente ao Procurador-Ge~
neste ponto. em face do invocado art. 200. ral da República. Assim, ela não exclui a
poSSibilidade de os interessados, que ha~
Assim, conheço dos recursos e lhes dou jam sofrido lesão em seus direitos, recor~
provimento, em parte, para que a referida rerem às outras vias judiciais, seja o man~
questão constitucional seja apreciada, em dado de segurança, seja a via ordinária.
São Paulo, pelo Tribunal Pleno.
O Sr. Ministro Pedro Chaves - Nem
Dir~se~á que, podendo decidir a causa se pode falar em usurpação do Supremo
independentemente da matéria constitucio~ Tribunal porque vem em grau de recurso
nal ou apesar dela, não devemos devolver a extraordinário.
apreciação desta ao Tribunal Pleno de São
Paulo. Mas ocorre que êste Tribunal pode~
O Sr. Ministro Luis Gallotti - O Su-
premo Tribunal, se provocado, dirá sempre
ria acolher a argüição de inconstituciona~
a palavra derradeira.
lidade e não aceitar as outras razões, em
que me baseio, para negar provimento ao O Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira -
recurso. Mas a função do Supremo Tribunal é jul~
gar originàriamente.
S.: vencido quanto a êsse ponto, aos re-
cursos nego provimento, pelas razões ex- O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro - O
postas. próprio Procurador-Geral da República não
- 192

se convenceu das razões invocadas pela Voto, pois, pelo não provimento dos re-
parte e teria trancado a porta do Supre- cursos, se vencido no ponto concernente
mo Tribunal a um direito legitimo. ao invocado art. 200 da ConstituiçAo.

o Sr. Ministro Luís Gallcttí - O Pro- Hoje de manhã, recebi memorial do ilus-
tre patrono da recorrente, feito com tal en-
curador-Gerai da Rep6blíca, liberalmente,
tem trazido as representações ao TribunaI, genho, que merece exame.
mesmo quando lhes é contrário, mas êle é O Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira -
o titular exclusivo da representação. Mas. V. Exa. aprecia a matéria constitu-
cional? Se V. Exa. manifesta seu doqto
Fui Procurador-Geral da República após voto, não deixa de ser um constrangimento
a Constituição de 1946. O eminente Minis- para o Tribunal de São Paulo acolher a
tro Carlos Medeiros também o foi e sabe tese, pois se trata de juizes dos mais ilus-
que a competência, no caso, é privativa do tres e eminentes. Será melhor que se subme-
Procurador-Geral. :ele trará, ou não, con- ta 8 preliminar a votos, para não constran-
forme entenda. a representação ao Tri- ger um Tribunal de hierarquia menos ele-
bunal. vada do que a nossa.
Evidentemente, se não o fizer, aos inte- O Sr. Ministro Luís Gallotti (Relator)
ressados, que possam alegar uma lesão de - Penso que o dispositivo é inconstitucio-
direito, ficarão abertas as outras vias ju- nal. mas isso não será constrangimento.
diciais. Tenho como inconstitucional o parágrafo
único do art. 1', e não êste artigo. Prosse-
o Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira - gui, porque podem os colegas entender que
Acho que trará complicação o apêlo a vá- há solução possível, sem entrar na argüi-
rias vias, para um só fim. ção de inconstitucionalidade. Acolho, po-
rém, a ponderação do eminente Sr. Minís-
O Sr. Ministro Luis Gallottí - Nem tro Gonçalves de Oliveira, e proponho, en-
há objetar que, concedido o mandado de tão, ao Ministro Presidente, que ponha a
segurança por um Tribunal superior, só ca- votos, primeiro, a questão relativa ao art.
bendo para o Supremo recurso extraordiná- 200 da Constituição, a saber se devemos.
rio, êstc recurso é mais restrito do que o ou não, devolver a questão ao Tribunal
ordinário, que caberia do acórdão denega- Pleno de São Paulo, uma vez que a decisão
tório da segurança. t!: que estarão em cau- foi proferida pela 5' Câm:ara.
sa princípios constitucionais da União, que
são os que podem servir de base à repre- Se OS colegas entenderem que há solução
sentação, a qual é uma forma de interven- possivel sem apreciarmos a argüição de in-
ção federal. Ora, a Constituição é clara: constitucionalidade, devemos julgar. Por
tratando-se de lei federal, para que caiba isso, quis trazer tôda a matéria ao conhe-
o recurRO extraordinário da alinea a. ela cimento do Tribunal.
exige ofensa à letra da lei; mas quando se Acolho a ponderação do eminente Minis-
trata de matéria constitucional, basta que a tro Gonçalves de Oliveira e proponho ao
decisão recorrida seja contrária a disposi- Sr. Presidente que ponha a votos a ques-
tivo da Constituição (art. 101. nO m, a). tão relativa ao art. 200, da ConstitUição.
Aqui não se exige ofensa à letra da Cons- isto é. se devemos, ou não, devolver a ques_
tituição, nem se poderia exigir, sabida, tão ao Tribunal Pleno de São Paulo.
como é, a importância dos podêres implí-
citos, contidos na Constituição. O Sr. Ministro Vilas-Boas - Segundo
a lição de Pedro Lessa, em Do Poder Judi-
Por estas razões, Sr. Presidente, data ciário: se houver um outro motivo para jul-
VlMla dos eminentes colegas que pensam de gar a causa, deve-se fazer abstração da
modo contrário, estou de ac6rdo com o questão constitucional e julgar a causa como
eminente Ministro Relator." Bormal e comumente deve ser julgada.
-193 -
o Sr. Mini3tro Prado Kellg - Há a tro está entrosada. Não podemos deliherar
preliminar de conhecimento do recurso. por partes, sem conhecer o teor do memo-
rial, dada a amplitude do debate que está
O Sr. Ministro Luís Gallotti (Relator) sendo travado.
- O ilustre advogado alega que o acórdão
se fundou em outras razões, em outras ir- O 61". Ministro Luís GaIlotti - (Rela-
regularidades ou ilegalidades. tor) - O eminente Ministro Vitor Nunes
entende que devo concluir o meu voto.
O Sr. Ministro Prado Kellg - Qual o
fundamento pelo qual Vossa Exc~ência co- O Sr. Ministro Prado Kellg - Será um
nheceriá do apêlo? prazer ouvir o voto de Vossa Excelência.
O Sr. Ministro Luís GsJlotti (Relator) O Sr. Mini3tro LuCs GaIlotti (Relator)
- Conheci pela letra c. porque, contesta- - O eminente Ministro Gonçalves de Oli-
da a validade da lei local, em face da veira sugeriu que se pusesse em votação,
Constituição, foi julgada válida. Foi ar- primeiro, a questão relativa ao art. 200 da
gÜida a inconstitucionalidade do parágra- Constituição. Eu me submeterei à decisão
fo único do artigo I' da lei em questão, e do Tribunal.
o Tribunal local julgou válido o preceito.
Por conseguinte, é caso de recurso extra- Trata-se da apreciação de um memorlal
ordiDârio pela alínea c. Seria também pela que recebi esta manhã, formulado com tal
alínea d, porque há acórdãos no sentido de engenho que entendia merecia ser resumido
que, cabendo representação, não cabe man- aqui. Diz o ilustre advogado recorrente que,
DO art. 20, a Lei Orgânica dos Munlcípios
dado Ile segurança.
dispõe:
O Sr. Ministro Pl'ado Kellg - Há, ain-
da, a invocação da Súmula 283: "Qualquer território que tenha mais de
1.000 moradores poderá ser anexado a mu-
"~ inadmissível o recurso extraordiná- nicípio vizinho, já existente ou a se criar,
rio, quando a decisão recorrida assenta em na mesma Lei Qüinqüenal, desde que, pelo
mais de um fundamento suficiente e o re- menos, 50 eleitores o requeiram, observado
curso não abrange todos êles". o disposto nos arts. 5', 6~, 7 9 , 8· e 9', da
presente lei."
Ora, a questão constitucional, nos leva-
ria a conhecer pt'la letra c do permissivo Transcreve, em seguida. o art. 9'. Ficam
constitucional, se ta I fôsse o único funda- faltando os arts. 59, 6', 79 e 8 9 • Mas isto
mento, o único motivo em que se baseasse não me impede de chegar a uma conclusão,
a decisão recorrida. Mas a decisão se ba- pelo que vou dizer depois.
seou noutro fundamento e se invoca a Sú-
mula 283 ... Passa à Lei n' 8.001 e cita o caput do
art. 19 :
O Sr. Ministro Luís G:Jllotti - Na ver-
dade, o acórdão recorrido, no trecho que "Fica suspensa até 31-12-63 a vigência
li, disse há outras ilegalidades, de forma. do art. 20 e seu parágrafo único da Lei 0.'
1. de 18.9.47, em redação que lhe foi dada
O Sr. Ministro Prado Kelly - N2ste pela Lei n' 4.571, de 3.1.58."
caso, a aplicação do entendimento da Sú-
mula levaria ao não conhecimento. Então, diz o ilustre advogado, a lei não
pode conter palavra inúteis, e o prazo para
O Sr. Ministro Vítor Nunes - Também entrada dessa representações é até 30 de
recebi os memoriais da parte. Se me per- abril do mesmo ano. enquanto a lei. -rue
mitem, parece-me que o eminente Relator suspendeu, é de 11.10.63, seis meses depois
devia dar conhecimento ao Plenário do se- da terminação do prazo.
gundo memorial, como ia fazendo há pou-
co, porque nêle se procura vincular o § I' Ai é que, a meu ver, o acórdão argumen-
ao caput do artigo. A matéria de um e ou- tou muito bem. Se não se entender que
- 194

essa lei visava a sustar ao prosseguimento "Ainda o in fine do parágrafo único é


do processo de desanexação naquele pró- uma redundância, uma vez que suspende a
prio ano, ela seria inútil, porque o perío- exigência de aprovação pelo município in-
do para entrada de representações é até 30 corporador, quando essa exigência já es-
de abril. A lei surgiu em outubro, proibin- tava suspensa pelo art. 1', quando, por sua
do a desanexação e conseqüente anexação vez, suspendeu a vigência do art. 20 e seu
de território, até 31 de dezembro. parágrafo único. "
Diz mais, o ilustre advogado: E prosseguI':
"Parágrafo único. Excluem-se dos efeitos "Assim, suspenso o art. 20, também es-
do presente artigo os pedidos de anexação tariam os artigos nêle expressos "5·, 6", 7·,
e os de retificação de divisas que, depen- 8 9 , 9" e 20, da Lei Orgânica". Com isso.
dendo para a sua efetivação de plebiscito, foi suspensa a vigência do art. 6·, que con-
obtiverem mesmo apresentando falhas em diciona o desmembramento à realização do
sua instrução, parecer favorável do Insti- plebiscito...
tuto Geográfico e Geológico bem como as
propostas de anexação que, por iniciativa Não há redundância, porque o parágra-
do referido Instituto Geográfico e Geológi- fo abriu I'xceções. E ficaram suspensos os
co, forem submetidas, por intermédio da Co- arts. 5· a 9', como conseqüência de se
missão de Divisão Administrativa e JudiCiá- ter suspenso a vigência do art. 20 até
ria, à consideração da Assembléia Legisla- 31.12.63 e, portanto, a possibilidade de de-
tiva. Esta, concordando com a proposta, sanexações e conseqüentes anexações nesse
determinará ex olfieio a realização do ple- periodo, salvo as execeções do parágrafo
biscito de consulta à população interessada. único, cuja primeira parte julgo inconsti-
~ dispensada, em relação a todos os casos, tucional. E, se fOsse constitucional, a pri-
aqui previstos, a exigência de aprovação meira parte não foi obedecida; a segunda
por lei do municipio incorporador." hipótese não ocorreu.

Então, digo eu: a possibilidade de apro- São essas as razões, Sr. Presidente, pe-
vação, apesar das falhas, existe mediante las quais, sem embargos do brilhante me-
parecer favorável do citado Instituto. morial que recebi esta manhã, mantenho
ml'u voto. Dou provimento, em parte, para
Ora, eliminado o parágrafo único do art. que a matéria constitucional seja devolvi-
20, aplicar-se-á a Lei Orgânica e esta não da à apreciação do Tribunal Pleno, uma
tolerava falhas. As falhas estão confessa- vez que a 5~ Câmara não podia conhecer
das (ver pág. -4 do memorial). da argüição de inconstitucionalidade.

Considero inconstitucional o dispositivo O Sr. Ministro Vilas-Boas - Vou ler


na sua primeira parte (a segunda não in- um trl'cho do acórdão:
teressa, porque não houve a iniciativa).
"E se a L~i n' 8.001 não se aplicasse
Diz o ilustre advogado:
aos pl'didos já em tramitação na Assem-
.' Se o objetivo da Il'i fôsse suspender a bléia, tais pedidos ficariam sob as IlDrmas
tramitação de pedidos regularmente instrui- comuns da Lei Orgânica, sendo, então, ne-
dos, como o dos autos, teria dito de manei- cessária a aprovação da anexação do terri-
ra clara e insofismável num simples ar- tório por lei especial do Município anexa-
tigo." dor - o que não houve no caso - para
legitimar o desmembramento (art. 20, pa-
Ora, o acórdão nega que o pedido esti- rágrafo único)".
vesse regularmente instruído. Houve fa-
lhas, aliás confessadas. Essa lei deve ser aplicada. Mas, se não
o fósse, incidiria o caso no direito c0-
Acrescenta o douto advogalio: mum e seria nl'cl'ssária essa outra diligên-
- 195

eia, a saber: uma lei especial do mumcl~ o Sr. Ministro Carlos Medeiros SÜVB -
pio anexador, que Dio houve. Acho que a DBta venia, entendo que a matéria pode
questAo da aplicaçlo da Lei n' 8 .001 ser resolvida desde logo. Não vejo neces-
fica afastada de qualquer modo, e a dlii~ sidade dessa diligência ao Tribunal local.
gência ficaria dispensada. Conheço do recurso pela letra a, e lbe dou
provimento, porque o mandado de seguran~
o Sr. Minisro Luís Gallotti (Relator) ça foi requerido contra deliberação da Mesa
- Voto, pois, pelo não provimento, se ven- da Assembléia que determinou a realização
cido DO ponto concernente ao invocado art. de um plebiscito. Tenho votado no Tribu~
200 da Constituição. nal no sentido de que não cabe mandado de
segurança contra ato ordenatório. e a or~
VOTO
denação de um plebiscito não vincula a
Assembléia; não é um ato final. A Assem-
o
Sr. Ministro Carlos Medeiros Süva - bléia pode aceitar a conclusão do plebis-
Sr. Presidente, o eminente Relator já se cito ou rejeitá~la. ainda que a maioria da
pronunciou pela inconstitucionalidàde, já população se pronuncie favoràve1mente.
votou no mérito. Então, por que devolver
o processo ao Tribunal local para apreciar O Sr. Ministro Luís Gallotti (Relator)
que já estamos apreciando? - No caso, a população já se manifestou.
o Sr: Ministro Luis Gallotti (Relator) O Sr. Ministro Carlos Medeiros Süva;
- Dei o voto completo. Mas como a As- - V. Exa. dá licença que eu termine o
sembléia invocou o art. 200 da Constitui- meu voto?
ção, dizendo que quem devia ter julgado
lá não era a 5'" Câmara, mas o Tribunal O Sr. Ministro LUÍ3 Gallotti (Relator)
Pleno, penso que ela tem razão nesse pon- - Com muito prazer. Mas, como Relator,
tenho o dever de dar esclarecimentos. quan-
to.
do necessários.
o Sr. Ministro Pedro Chaves - O art.
200 trata do quorum exigido para declarar O Sr. Ministro Carlos Medeiros Süva
a inconstitucionalidade, e não a constitucio- - V. Exa. votou longamente. peço que
nalidade por presunção. me permita terminar meu voto.

O Sr. Ministro Luis Gallotti (Relator) No caso. o plebiscito se realizou e foi


- Quando começamos um julgamento de favorável à emancipação. Uma lei qüin~
matéria constitucional. além de exigir que qüena! homologou a criação dêsse munici-
se faça no Tribunal Pleno, exigimos o pio. Esta lei é de 1963 e está em pleno vi~
quorum de doze Ministros, sem saber se goro De modo que. a meu ver. estamos
a lei ou ato será constitucional ou incons- julgando aqui fora de foco.
titucina!. Depois do julgamento, é que' se
vai saber o resultado. O Sr. Ministro Luís Gallotti (Relator)
- Mas a lei qüinqüenal foi baseada no
O Sr. Ministro Carlos Medeiros Silva plebiscito.
- Sr. Presidente, a conclusão do eminente
Relator é DO sentido de remeter o processo O Sr. Ministro Carlos Medeiros Süva
ao Tribunal local, conhecendo do recurso - Estamos julgando aqui uma questAo fora
com base na letra a. de foco. O mandado de segurança, a meu
ver, era inidôneo para impedir a realiza~
O Sr. Ministro Luís Gallotti (Relator) ção do plebiscito. Não obstante êste man-
- Conheço do recurso e lbe dou provimen- dado de segurança, o plebiscito se realizou.
to, em parte, com base DO art. 200, da Não foi por ato da mesa da Assembléia,
Coastituiçlo, para mandar que o Tribunal mas por fôrça de uma lei do ordem ge-
Pleno de SIo Paulo aprecie e julge a ma- ral; uma lei qüinqüenal é que homologou a
téria constitucional. desanexação dêsse município.
- 196-

Meu voto é conhecendo do recurso pela território dos municípios. Esta a lei em sen-
letra a e lhe dando provimento. tido material que foi contrariada por uma
lei em sentido meramoote formal.
VOTO
O Sr. Ministro Aliomar &leeiro - O
o Sr. Ministro Aliomar Baleeiro - Se- venerando acórdão recorrido se baseou na
nhor Presidente, entendi pelos memoriais. Lei n' 8.001 e em dispositivos que suspen-
pelo que ouvi agora e é confirmado pelo deram a Lei n9 8.001?
eminente Ministro Carlos Medeiros, que a
O Sr. Ministro Luís Gallotti - Não. A
junção do subdistrlto de Prosperidade ao
Lei n' 8.001 é que suspendeu a vigência da
Município nôvo de São Caetano do Sul foi
lei orgânica na parte em que permitia d2-
ft'ita por lei no sentido material, a qüin-
sanexação e anexação de parte de municí·
qüenal. Exato, Sr. Ministro Relator?
pio. Essa suspensão foi até 31.12.63 e, den-
o Sr. Ministro Luís Gallotti (Relator) tro dêsse periodo. veio uma lei em st:ntido
Não. Em sentido material não. Em sentido formal e fêz a desanexação. este é o pro-
. formal, porque não é uma lei que estabe- blema .
leceça normas. é uma lei que tira pedaço
O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro - O
de um município e o incorpora a outro. e assunto já foi discutido em outros casos e.
uma lei em sentido formal. Lei em sentido
se não me engano. por ocasião daquele me-
material é a lei orgânica. a Lei n9 8.001.
morável voto do eminente Ministro Prado
o
Sr. Ministro Aliomar Baleeiro - Hou- Kelly, em processo para a criação de mu-
ve uma 12i que mandou juntar Prosperida- nicípio. em que se discutiu o alcance das
chamadas leis orgânicas.
de a São Caetano do Sul?

oSr. Ministro Luís GalLotti - Sim. com O Sr. Ministro Lui3 Gallotti - Sob êste
base num plebiscito. que havia sido anu- aspecto. é o mesmo problema.
lado pelo acórdão recorrido.
O Sr. Ministro Aliomar &leeiro - Al-
o Sr. Ministro Aliomar &1eeiro - Hou- guns eminentes juízes têm dado a essa lei
orgânica uma precedência sõbre as outras.
ve uma lei?
Mas para mim é uma lei como qualquer ou-
o Sr. Ministro Luís Gallotti - Mas fei- tra. é a mesma coisa. Seus dispositivos po-
ta contra o decidido por um acórdão. do dem ser revogados. alterados por qualquer
qual houve recurso sem efeito suspensivo. lei. Se uma lei orgânica resolve criar mu-
nicípio de maneira diferente. sem plebisci-
o Sr. Ministro Carlos Medeiros Silva to. é lei. .•
- O mandado de segurança foi requerido
para impedir a realização do plebiScito. O Sr. Ministro Luís Gallotti - Realmen-
te. V. Exa. votou assim.
O Sr. Ministro Alíomar Beleeiro -
Acompanho o voto do eminente Ministro O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro - Foi
Carlos Medeiros, data venia do ilustre Re~ o meu voto quando se discutiam aqui os
lator. de quem divirjo em parte. porque o casos do Rio Grande do Norte. e o emi-
mandado de segurança se baseia em que nente Ministro Hermes Lima foi Relator
não teriam sido observadas as formalida- de um dêsses casos.
des. digamos processuais ou regimentais. ou
que melhor nome tenha. estabelecidas pela A meu ver. a lei desanexou de Santo
Lei n' 8.001. para anexação ou desanexa- André o subdistrito de Prosperidade e o
ção. anexou ao nôvo Município de São Cae-
tano do Sul. do qual êste subdistrito era in-
O Sr. Ministro Luís Gallotti - Não só tegrante. voltando outra vez a com~lo
isso. Também se baseia numa lei que sUSo- como o de Santo André, é uma lei que tem
pend~ra até 31.12.63 as desanexações de a mesma eficácia das anteriores, que. de
-197
acôrdo com o acórdão, teriam sido viola- Por esta razão e para não perder mais
das. tempo, acompanho o voto do eminente Mi-
nistro Carlos Medeiros, dando provimen-
O Sr. Ministro Luís Gallotti - O voto to ao recurso.
de V. Exa. está coerente com o anterior,
onde sustentou que uma lei em sentido for- VOTO PRELIMINAR
mal pode modificar uma lei em sentido ma-
terial. O Sr. Ministro Prado Kellg. - Sr. Pre-
sidente, vou versar a questão preliminar.
O Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira -
Não conheço do recurso.
~ uma lei orgânica ao que diz respeito ao
conteúdo, quando estabelece condições para Pelo acórdão, se verifica que diferentes
criação de municipios etc. No caso, não é foram os motivos adotados pelo Tribunal
lei orgânica, _é uma lei formal comum. es- de São Paulo para conceder a segurança.
tadual. Só um dêsse motivos se refere à questão
O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro - A constitucional. Então, a meu ver, tem pre-
meu ver, isto já foi discutido em novem- valência a regra do verbete 283 da Sú-
bro do ano passado, no julgamento de um mula que me permito repetir:
recurso em mandado de segurança, se não
.. ~ inadmissivel o recurso extraordiná-
me engano, de Santo André.
rio, quando a dedsão recorrida assenta em
O Sr. Ministro Luís Gallotti. - este mais de um fundamento suficiente e o re-
acórdão está aqui. curso não abrange todos êles."

O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro - A Poderia, entretanto, conhecer do recurso,


matéria é politica. Acho que o Supremo para enfrentar a questão de inidoneidade do
Tribunal Federal - e não preciso arrom- mandado de segurança. Mas outro verbete
bar €ssas portas abertas - é um órgão po- deixou também assentado que não se co-
lítico. Mas não valI!OS exagerar isso. Nos- nhece do recurso extraordinário fundado
so poder de revisão judicial, em matéria em divergênda jurisprudencial, quando a
de atos políticos é limitado. Não desejo orientação do Plenário do Supremo Tribu-
aqui recordar aquelas páginas, .que todos nal Federal já se firmou no mesmo sentido
sabemos muito bem, de Rui Barbosa, no O da decisão recorrida.
Direito do Amazonas ao Acre Setentrional
ou quando féz aquéle discurso na Ordem O Sr. Ministro Aliomar Beleeiro - Só
dos Advogados, em 1914, sõbre as chama- há um acórdão nesse sentido?
das questões políticas. Ble fêz um rol de
vinte e uma, salvo êrro de memória, mas oSr. Ministro Prado Kellg - Há vá-
há muitas outras e, mesmo depois, houve rios acórdãos. A matéria não foi reduzida
à Súmula mas não é preciso o ingresso na
outras que poderia ter invocado em causa
própria, mas não o quis, como no caso da publicação oficial para caracterizar a juris-
chamada invalidez de Epitácio Pessoa, mais prudência. A jurisprudência vitoriosa no
tarde eleito Presidente da República. Tribunal afirma que cabe mandado de se-
gurança.
Se o Municipio de Santo André invocas-
se uma questão constitudonal, e se o vene- o Sr. Ministro Carlos Medeiros Silva
rando acórdão do colendo Tribunal de São - Estou de acõrdo.
Paulo fundamentasse com violação da Cons- O Sr. Ministro Prado Kellg - Neste
tituição Federal, ou mesmo da Constitui- caso, também, não tenho por que admitir
ção de São Paulo, o ato da Assembléia, eu o recurso com fundamento na letra d.
admitiria. Mas uma lei de Estado contra
outra lei de Estado, não vale a velha e o Sr. Ministro Carlos Medeiros Silva
surrada regra da Introdução do Código Ci- - Admito. O mandado de segurança se-
vi!. ria, não contra um ato preparatório, con~
- 198-

tra um ato que determina~se a realização cimento do recurso, e cheguei a manifestar


do plebiscito. Permitiria o mandado de se~ esta tendência. Mas verifiquei o seguinte:
gurança contra ato final. as irregularidades proventura existentes na
origem ou tramitação do pedido de anexa J
O Sr. Ministro Prado Kelly - Neste ção foram sanadas por dois fatos. PrimeiJ
ponto, o argumento de Vossa Excelência ro, o plebiscito, que revelou a vontade da
se acrescenta à corrente que admite o manJ população do território. O povo há de' ser
dado de segurança em tais hipóteses. ,",uvido, é uma parcela importante no proJ
Não tenho, portanto, de aceitar e cO J
blema da criação de municípío e anexação
nhecer do recurso em virtude de divergênJ de território.
cia que está pràticamente superada. Re5J
Ora, o povo dessa Vila Prosperidade
taria conhecer do recurso pela letra c. Mas manifestou o desejo de fazer parte do MUJ
essa matéria, a meu ver, já está resolvida nicípio de São Caetano do Sul.
na parte do meu voto em que se invoca
o verbete número 283 da Súmula. Se ti J
O Sr. Ministro Aliomar Balaeeiro - Do
vesse de considerar a matéria constitucio- qual sempre foi parte.
nal, não a acharia bem situada no art. 36,
da Constituição, porque ,êste artigo se reJ O Sr. Ministro Evandro Lins - As forJ
fere tão~só aos podêres federais. Ela, a meu malidades, na traIÍlitação do pedido, são
ver, teria assento no art. 7°, inciso VII, secundárias.
quanto à independência e harmonia dos poJ
dêres. E se chegasse ao mérito, votaria de O Sr. Ministro Luís GaIlotti (Relator)
acõrdo com V. Exa., Sr. Carlos Medeiros. - O plebiScito foí anterior ao mandado
de segurança.
A preliminar é que não tenho como tran5J
por. Desde que o Tribunal aplicou a um O Sr. Ministro Luiz GaIlotti (Relator)
só tempo a lei que se argúi de inconstiJ mais. O plebiScito é anterior ao mandado
tucional, mas abstraindo dela os preceitos de segurança.
da lei orgânica e dando por não cumpridas Vamos ao segundo fato: é a lei qüin~
as formalidades que a lei orgânica exigia, qüenal, não é uma lei ordinária da Assem~
tenho de me cingir aos procedentes judiciáJ bléia, é uma lei qüinqüenal do quadro terJ
rios para considerar que não é caso de reJ ritorial dos municípios, votada pela AssemJ
curso extraordinário. Fico na preliminar, bléia, em conseqüência dessa manifestação
Sr. Presidente. do povo do território.
VOTO ~tes dois fatos, realmente me impressio-
naram muito. As questões formais ai, como
o Sr. Ministro EvancJ.o Lins - Sr. PreJ acentuou o eminente Ministro Aliomar BeJ
sidente, confesso que fiquei várias vêzes leeiro, são secundárias. A questão políti~
perplexo, antes de chegar a uma conclusão. ca e prevalente no caso.
O Sr. Ministro Luís Gallotti (Relator) O plebiscito rea1izou~se em virtude de
- Também fiquei perplexo. Levei êste aUJ resolução da Assembléia, tomada em reque J
tos para cas", três vêzes. Ia recebendo me J rimento de cinqüenta eleitores da Vila Pro5J
moriais, calendários ... peridade, moradores no local, de acOrdo
O Sr. Ministro Evandro Lins - Diante com a Lei Orgânica dos Municípios de São
da exposição dos ilustres advogados, meu Paulo. !9:sse requerimento é anterior à Lei
pensamento ficou assim como um pêndulo, n 9 8.001, de 11.10.63.
até encontrar o rumo que minha consciên-
cia me indica deva ser adotado. Acrescenta o eminente Relator, em inforJ
mações valiosas, acho eu, para o deslinde
Comecei até a escrever um voto. Estava da questão, que o próprio plebiscito também
mesmo inclinado a votar pelo não conhe~ é anterior à lei. Portanto, êsse plebiscíto se
- 199-
realizou regularmente. legalmente. de acôr- aquela outra lei ficara suspensa. Aplicando
do com a Lei Orgânica dos Municípios. a Lei Orgânica. considerava irregular a
tramitação do projeto de alteração dos li-
Ora. a Assembléia. dentro de suas atri- mites do Município. por falta de represen-
buições. quando ainda não vigia a Lei n9 tação adequada. reconhecimento de firmas.
8.001. mandou que se realizasse o plebiscí- etc. Portanto. o argumento das irregularida-
to. Era o ano da divisA0 territorial dos mu- des. o acórdão só o adotaria na hipótese
nicípios. Era o ano terceiro da lei qüinqüe- alternativa de afastar a Lei n 9 8.001.
nal. De modo que. votando a lei. cumpria
a Assembléia. rigorosamente dentro de suas Portanto. o que está em causa. em pri-
atribuições. o que entendeu acertado em meiro lugar, é o problema de ser. ou não.
relação ao pronunciamento do povo dêsse constitucional a Lei n' 8.001. porque. por
território. A mim me parece. Sr. Presidente. essa lei. o fundamento aceito pelo acórdão
que as irregularidades argüidas. como as foi o de não haver parecer favorável do
firmas. as assinaturas não reconhecidas na Instituto.
data própria. foram sanadas pela própria
lei. Se essa lei não é inconstitucional. deve Ora. como o eminente Ministro Luís
prevalecer. As irregularidades são anterio- Gallotti só considera inconstitucional esta
res à lei. parte da Lei n 9 8.001. e Dão as demais. não
caberia. a meu ver. de modo algum. invo-
o Sr. Ministro Aliomar BaJeeiro - O car o outro fundamento - das irregulari-
ato está dentro da competência da Assem- dades - mencionado pelo acõrdão recorri-
bléia. do. Por que? Porque a Lei n' 8.001. afora
êsse problema do plebiscito. suspendeu all
O Sr. Mini3tro Evandro Lins - A ir- condições que a Lei Orgânica exigia par"
regularidade é inteiramente secundâria. para se alterar a divisão dos Municípios. e uma
o desate da questão. dessas condições. como consta do art. 20.
era justdJIlente a representação de 50 elei-
Com a devida vênia do eminente Minis- tores. Logo. válida a Lei n' 8.001. sal~
tro Relator. conheço do recurso e lhe dou Quanto à exigência de parecer favorável do
provimento. acompanhando o eminente Mi- Instituto. estava suspensa a exigência di
nistro Carlos Medeiros Silva. representação de 50 eleitores. Com mais
forte razão. a irregularidade formal deSSi'
VOTO representação de 50 eleitores do podia seI'
vir de fundamento para a decisão contrá'
O Sr. Ministro Vitor Nunes - Sr. Pre- ria. porque essa exigência estava suspensa.
sidente. quando sugeri que o eminente Mi- Regular ou não a representação. isso nã"
nistro Luís Gallotti concluísse o exame da importava. porque nenhuma representação
matéria posta em debate. foi porque me pa- era necessária.
receu que o segundo memorial dos recor-
rentes trouxe grande luz ao esclarecimen- . Outra condição que a lei orgânica exi-
to da questão. gia. no paráRrafo único. era a "aprovação
por lei do município incorporador". maJ
Falou-se que o acórdão recorrido teve e:ssa eXlgencia. pelO mesmo artigo. não ca-
mais de um fundamento. cada qual sufici- beria. quanqo se tratasse de lei qüinqüenal
ente. Da leitura que fê% o eminente Minis- Portanto. a irregularidade apontada se-
tro Relator. ficou-me a impressão de que ria importante na hipótese de do 110: fazer
do se tratava de mais de um fundamento. a anexação na lei qüinqüenal. mas. no caso.
cada qual suficiente. mas de fundamentos como observou um dos eminentes colegas.
alternativos. O Tribunal aplicava a Lei n 9 a anexação parcial se fh através da lei
8.001. ou seja. a exigência de ser favorá- qüinqüenal.
vel o parecer do Instituto Geográfico e
Geológico. Mas se a lei fOsse inconstitucio- Além do mais. Sr. Presidente. a Lei n'
nal. aplicaria a Lei Orgânica. que por 8.001 suspendeu estes dispOsitivos - art.
- 200-
20 e parágrafo único - da Lei Orgânica. jetos irregulares. que estavam na Assem-
por um período. muito curto aliás. desde ... bléia. permitindo que fõssem aprovados ...

O Sr. Ministro Luis Gallotti (Relato:-) O Sr. Ministro Aliomar Baleeiro - In-
- A lei é de outubro c a suspensão foi dependentemente das falhas.
até 31 de dezembro.
O Sr. Ministro Vitor Nunes ... in-
o Sr. Ministro Vitor Nunes Exato. dependentemente das falhas. O que fêz a
A Lei n~ 8.001 suspendeu aquêles outros lei foi isto e não o contrário.
dispositivos da Lei Orgânica desde outu-
Como. então. em nome de uma lei que
bro de 1963 até 31.12.63. mandou aproveitar projetos de alteração
Como se explica um3 suspensão assim municipal falhos. deficientes. defeituosos.
vamos anular uma alteração de municipio
tão curta?
que foi realizada pela lei qüinqüenal?
o Sr. Ministro Luis Gallotti (Relator)
- Mas essa suspensão tão curta importa- O Sr. Ministro Prooo KelIy - Mas note
va realmente suspensão maior. porque ou- V. Exa. que a inconstitucionalidade dessa
tra lei qüinqüenal só poderia vir em 1968. lei é argüida pelo recorrente. :E:le conside-
ra a lei. tõda ela. inconstitucional. O emi-
o Sr. Ministro Vitor Nunes - Estava nente Ministro Relator é que dá pela cons-
em elaboração essa lei qüinqüenal. O que titucionalidade do caput do art. I" e pela
fêz. realmente. a Lei n" 8.001 foi suspen- inconstitucionalidade do parágrafo único.
der condições para alteração de divisas mu- mas o recorrente não. O recorrente não in-
nicipais e não suspender alteração de divi- voca seu direito baseado nessa lei.
sas municipais.
O Sr. Ministro Vitor Nunes - Mas. emi-
Temos um precedente do eminente Mi- nente Ministro Prado Kelly. não estou vin-
nistro Hahnemann Guimarães. recentíssimo culado a aceitar totalmente o raciocinio do
(Representação 641. 18-11-65. Revista do recorrente. em se tratando de matéria cons-
Tribunal de Justiça 35/500). que traz im- titucional. O recorrente apresenta o pro-
portante subsídio ao debate. Tratava-se da blema e eu o julgo segundo o meu critério.
desanexação de uma parte do Munícipio de de acõrdo com a Constituição.
Ubirajara. para ser anexada ao Município Além disso. no segundo memorial. o re-
de Alvilândia. o que fõra feito sem a ini- corrente trouxe ao nosso conhecimento os
ciativa dos eleitores e sem lei municipal. esclarecimentos em que me estou baseando.
embora com parecer favorável do Instituto Demonstrou êle que essa lei não tem outro
Geográfico e Geológico. Fêz-se. então. a sentido senão o de suspender condições pa-
anexação. ra alteração de limites municipais. Lem-
Vê-se. pois. que essa lei não veio proi- brei então. como exemplo. um caso que jul-
bir tais anexações. Ao contrário. Veio fa- gamos recent~mente. de aprovação de al-
cilitá-las. ainda que não houvesse iniciati- teração municipal onde aquelas condições
va dos eleitores. ainda que não houvesse porque suspensas. não tinham sido obser-
aprovação de lei municipal. vadas.

o Sr. Ministro Prado Kelly - Obser-


o Sr. Ministro Luis GalIotti (Relator)
Qual era o Estado?
vados os arts. 59. 6". 7". 8" e ~. diz o art.
20 da Lei Orgânica. O Sr. Ministro Vitor Nunes - São
Paulo.
O Sr. Ministro Vitor Nunes - Mas és-
tes dispositivos é que foram suspensos. Fo- Pelo exposto. Sr. Presidente. não posso
ram todos suspensos. Essa lei suspendeu. interpretar uma lei. que veio facilitar alte-
portanto. as condições para alteração da rações de limites municipais. mandando
divisão municipal. Mandou aproveitar pro- aproveitar ,projetos falhos ou defeituosos.
- 201-

no sentido de negar validade à alteração conceituar os princlplos constitucionais do


de limites que ora estamos examinando. art. 7·. n9 VII. da Constituição. cuja ofen-
:Bste é o meu voto. quanto ao mérito. dan~ sa enseja a representação. que o princípio
do provimento ao recurso. da autonomia municipal. que é um dêles. se
integra. em primeiro lugar. com a Consti-
Talvez devesse esclarecer. quanto à pre~ tuição do Estado. na parte definidora do
liminar. que conheço do recurso. afora as seu regime municipal. e em segundo lugar.
razões já apontadas. por uma outra consi~ com as léis orgânicas dos municí.pios. Por-
deração que aqui já discutimos. mais de tanto. em certa medida. segundo o entendi-
uma vez. especialmente os Srs. Ministros mento predominante no Tribunal. a Lei Or-
Pedro Chaves. Luís Gallotti e eu (ERE n' gânica municipal complementa a concei-
45328. 1963. Direito Judiciário 19.9.63. tuação constitucional da autooomia dos
pág. 895; Recursos Extraordinários 53.927. municípíos.
1963. Direito JudiCiáriO 16.4.64. pág. 164;
Recursos Extraordinários 48.655. 1964. Di~ Ora. se uma questão desta natureza. ao
reitos Judiciários 29.8.64. página 612). ao invés de chegar ao nosso conhecimen~
to por vía de representação. onde a exa-
O Sr. Ministro Pedro Chaves - Recur~ minaríamos com tôda a amplitude que men-
so extraordinário em mandado de seguran~ cionei. nos aparece em recurso extraordi~
ça. nário. por haver a parte antecipado o seu
debate em mandado de segurança perante
O Sr. Ministro Vitor Nunes - Exata~ a Justiça local. como pode esta circunstân-
mente. cia impedir o Supremo Tribunal de exami~
nar o problema com a mesma amplitude
Se em casos de concessão de mandado de
com que o faria. se viesse pela via mais
segurança. adotarmos critério extremamen~
regular da representação? Não seria justo.
te severo para o conhecimento do recurso
extraordinário. criaremos uma inadmissível para as partes em litígio. aceitar~se tal res-
desigualdade para as partes. e em prejuí~ trição.
zo da presunção de vaUdade do ato da au~ Assim. Sr. Presidente. também acompa-
toridade. que se impugna no mandado de nho o voto do eminente Ministro Carloa
segurança. Quando o impetrante perde o Medeiros. conhecendo do recurso. para lhe
mandado de segurança. êle tem recurso am~ dar provimento.
pIo. ordinário. sem qualquer limite. Quan~
do é concedido o mandado de segurança. a VOTO
autoridade pública. apesar de contar com
a presunção de legitimidade do seu ato. te~ O Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira
ria apenas um recurso estritissimo. A vis~ - Sr. Presidente. no mérito. estou com
ta da desigualdade. que daí resultaria. o a recorrente. Na preliminar do recurso ex-
Supremo Tribunal. em tais casos. enten~ traordinário. também chegarei pelo conhe-
deu que deveria ter mais tolerância no en~ cimento. pelas razões agora aduzidas. com
quadramento da questão de direito federal. tanta clareza. pelo eminente Sr. Ministro
nos recursos extraordinários interpostos con- Vítor Nunes.
tra decisão concessiva de segurança.
Entendo que. quando há um mandado de
No caso presente. milita outra circuns- segurança denegado pelo Tribunal de Jus-
tância em favor dessa orientação. estes tiça. a parte tem o recurso ordinário. En-
problemas de criação de município. ou de tão. a pessoa jurídica de direito público.
alteração de limites municipais. vinham ao se tem apenas o recurso extraordinário. não
Supremo Tribunal. normalmente. por via haverá uma igualdade das partes. em Juizo;
de representação. oferecida pelo Procura- e o Supremo Tribunal Federal. por issO
dor-Geral. O pressuposto da Representa- mesmo. tem amenizado o rigor no conhea,
ção é o enquadramento de uma questão mento do recurso. para haver uma equi-
constitucíonal. e o Tribunal entendeu. ao valência das partes em JUízo.
- 202-

Há uma presunção de legalidade cios atos mi'lis fortalecido, diante dall observações
das autoridades. Se o Supremo admille ree~ feitas pelo não menos eminente Ministro
xaminar o mérito da controvérsia para ad~ Vitor Nunes, porque S. Excia. aplicou o
mitir êsse recurso - e o argumento aqui § 1~ da Lei nO 8.001, entendendo que a
apresentado pelo eminente Sr. Ministro questão da inconstituciolidade só afetaria
Vítor Nunes reforça o conhecimento do - ao ver cio eminente Sr. Ministro Relator
recurso - entendo que o modo mais exato ao parágrafo único do mesmo dispositivo.
de vir esta causa ao Supremo Tribunal Fe~ Afastou a discussão da inconstituciona1ida~
deral, seria pela representação. de, que, neste caso, se impunha, para con~
cluir pela aplicação da lei.
A parte, então, recorre ao mandado de
segurança e, se vem em grau de recurso, Não sei se não será o caso de se apre~
podemos examiná-lo amplamente, como exa- ciar - se êste fôr o fundamento vitorioso
minaríamos se ela viesse pela via certa. pela - a matéria constitucional que foi apre~
via ordinária, que seria a representação. sentada.

Venço, assim. a preliminar do conheci- O Sr. Ministro Luis Gallotti - Mas, Sr.
mento do recurso. para, aclotando os votos Ministro Praclo Kelly, a maioria já deu pro-
cios eminen~s colegas que lhe deram pr~ vimento; de modo que o voto de V. Exa.
vimento, acompanhá-los. Também conheço é sõbre o mérito.
do recurso e lhe dou provimento. O Sr. Ministro Prado Kel1g - Nestas
condições, se não se vai versar a questão
VOTO PRELIMINAR
constitucional, acompanho V. Exda., em
tôdas as outras considerações; mesmo por~
o Sr. Ministro Vilas-BoBs - Sr. Prt'~ que, no memorial distribuído, os ilustres ad~
si dente , não tomo conhecimento do recurso, vogados declaram "pela simples leitura do
de acõrdo com o voto do eminente Sr. Mi~ texto se verifica que o único objetivo do
nistro Prado Kel!y. Trata-se de um reCur~ oaput da Lei nO 8.001 era dar origem ao
extraordinário, e devemos observar o que parágrafo único, que se declara inconstitu~
dispõe a Constituição, no art. 101. donal".
o Sr. Ministro Prado Kellg - Do con- Sub!istem, assim, os argumentos do Tri~
trário, haveria recurso extraordinário para bunal de São Paulo, referentes ao art. 20
ambas as partes, no mandado de seguran~ da Lei Orgânica, com a remissão aos arts.
ça. 5°, 6', 7', 8' e 9° da mesma lei.
O Sr. Ministro Vilas-Boas - Temos Sú- Acompanho, no mérito, o voto do emi~
mula regulando a matéria. nente Sr. Ministro Relator, negando provi~
mento ao recurso.
o Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira -
O impetrante que perde tem recurso ordi~ DECISAo
nário, e a parte impetrada só tem recurso
extraordinário, havendo, pois, uma desi~ Como consta da ata, a decisão foi a se_
gualdade frente à Constituição. guinte: Conhecido contra os votos dos Mi~
nistros Prado Kelly, Adalicio Nogueira, Pe~
o Sr. Ministro Vilas-Boas - Data ve·· dro Chaves e Vilas-Boas. E dado provi~
nia do eminente Sr. Ministro Relator, não mento contra o voto do Relator, Pedro
conheço do recurso. Chaves, Vilas-Boas e Prado Kelly.
VOTO SÕBRE O MÉRITO Presidência do Exmo. Sr. Ministro Cãn~
dido Mota, na ausência ocasional do Exmo.
O Sr. Mi:nistro Prado Kellg - Sr. Pre~ Sr. Ministro Ribeiro da Costa. Relator, o
sidente, no mérito, acompanho, também, o Exmo. Sr. Ministro Luís Gallotti. Tomaram
eminente Ministro Relator, e, i'lgora, já parte no julgalJlel1~Q os Exmos Srs. Minls~
- 203-
tros Carlos Medeiros, Aliomar Baleeiro, Luis Gallotti e Lafayette de Andrada. Im-
Prado Kelly, Adalido Nogueira, Evandro pedido, o Exmo. Senhor Ministro Oswaldo
Lins, Hermes Lima, Pedro Chaves, Vítor Trigueiro. Licenciado, o Exmo. Sr. Minis-
Nunes, Gonçalves de Oliveira, Vilas~Boas tro Hahnemann Guimarlies.

MUNICIPIO - CRIAÇÃO - MANDADO DE SEGURANÇA


- É admissível o mandado de segurança, como meio idôneo
para impugnar a criação de Municípios, não obstante a existência
da reclamação.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Estado de Pernambuco verSas Municipios de São Lourenço da Mata e Ipojuca
Agravo de instrumento n" 34.937 - Relator: Sr. Ministro
GoNÇALVES DE OUVEIRA

ACÓRDJ\O na. Inocorre. igualmente. dissídio jurispru~


dencial. Os arestos apontados não o confi~
Vistos, etc. guram. visto como inexiste controvérsia
Acorda a Terceira Turma do Supremo sObre matéria de fato. A segurança foi im-
Tribunal Federal, por decisão unlinime, ne- petrada contra a criação dos municípios de
gar provimento ao agravo, de acOrdo com Camêla e Nossa Senhora do Ó." (fOlha
as notas taquigrâficas. 36).
Custas na forma da lei. A Procuradoria-Geral opinou pelo provi~
mento:
Brasilia. 26 de agOsto de t 966. - Luí6 "Impressionam, sobremaneira. as razões
Gallottl. Presidente. - Gonçalves de Oli~ invocadas pelo Recorrente. bem como. à
veira, Relator. espécie. se ajustam as decisões trazidas à
RELATÓRIO
colação. A inidoneidade do Mandado de
Segurança para anular norma legal perti~
O Sr. Ministro GonçalveL! de Oliveira nente à reforma administrativa parece pa~
- Foi impetrado mandado de segurança tente. Merece. sem dúvida. melhor exame
contra a decisão dos Municipios de Camê- o recurso que se denegou.
la. Nossa Senhora do Ó e Camaragibe. Pelo provimento.
A segurança foi concedida. declarada a Brasília, 27 de outubro de 1965. - (a)
inconstitucionalidade das leis criadoras dos Olavo Drumond, Procurador da República.
munic!pios (fOlha 17~v. e segs.). Aprovado: (8) Oswaldo Trigueiro, Pro-
O Estado de Pernambuco interpôs eXtra~ curador~Geral da República."
ordinério pelas alineas a e d do permis- S o relatório.
sivo constitucional, alegando infrigência ao
art. 64 da Contituição federal porquanto o VOTO
mandado de segurança não é meio hãbil O Sr. Ministro Gonçalves de Oliveira
à declaração de inconstitucionalidade dE. lei (Relator) - A jurisprudência do Supremo
e apontando a divergência jurisprudencial. se modificou no sentido de admitir a se-
O seguimento do recurso foi indeferido gurança. como meio idôneo para impugnar
pelo despacho de fôlha 36 que assinala: a criação de município. não obstante a re-
NDescabem os recursos manifestados. A clamação prevista na Constituição Federal.
decisão recorrida nio contrariou dispositi~ também admissivel.
vos de lei federal ou da llQssa Carta Ma~~ Nego provÍlnento.

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