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Elementos da Linguagem Cinematográfica II
Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Elementos da Linguagem
Cinematográfica II
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer o cinema como linguagem e seus elementos constituintes
como a fotografia, o som, os efeitos visuais e a montagem.
· Desenvolver e realizar pesquisas sobre o cinema como linguagem.
· Valorizar a pesquisa sobre o cinema como linguagem e seus elementos
constituintes para autoformação.
ORIENTAÇÕES
Você irá conhecer, nesta Unidade, elementos da linguagem cinematográfica
como a fotografia, o som, os efeitos visuais e a montagem.
Leia o conteúdo que disponibilizamos para você, com calma e atenção, não
se esquecendo de aprofundar seus conhecimentos acessando o Material
Complementar indicado, a Videoaula e a Apresentação Narrada. Lembre-
se que as dúvidas podem ser esclarecidas com o professor-tutor, que está à
sua disposição.
Bom estudo!
UNIDADE Elementos da Linguagem Cinematográfica II
Contextualização
O cinema talvez seja a arte que reúna o maior número de elementos para a
sua realização. Temos a fotografia (imagem em movimento), a cenografia (artes
visuais), o som e a iluminação (altamente técnicos), a cor (outra vez a direção
de arte), os efeitos visuais e sonoros (cada vez mais o formato digital presente),
entre tantos outros elementos. Assim, conhecê-los é fundamental para termos uma
noção mais abrangente desse mundo fantástico que vem entretendo o mundo há
mais de 100 anos.
A câmera pode ser utilizada para contar de diversas formas uma história. Um
exercício interessante é filmar uma pessoa poderosa / vulnerável (escolha o tipo)
entra em uma sala e, com um humor raivoso / alegre (defina, novamente), se dirige
a uma outra pessoa de forma ansiosa / tranquila (novamente, uma decisão sua). O
resultado é muito interessante.
O certo é que, de qualquer forma, o cinema nos atrai e, saber como as engrenagens
dessa indústria funcionam é, no mínimo, muito interessante e divertido, uma vez
que o cinema se faz com filmes e filmes fazem parte da nossa vida!
Boa sessão!
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Fotografia – Câmeras, Planos,
Iluminação, Cor
As leis da perspectiva no cinema são tais que uma barata filmada em
grande plano parece no ecrã cem vezes mais temível do que uma centena
de elefantes num plano geral. (Sergei Eisenstein, 1898-1948)
Fig. 1 – Cena de Santa Claus (1898), de G. A. Smith, que tirou a câmera de sua posição estática
Fonte: Wikimedia/Commons
A câmera
O diretor de fotografia é o responsável por tudo o que se refere à câmera – onde
ela deve estar localizada, como se movimenta, quais as lentes e tipos de filmes,
qual o foco... Como câmera e luz são parceiros inseparáveis, a forma como o set
de filmagem ou a locação são iluminados também são atribuições do diretor de
fotografia. Assim como o Departamento de Arte, na produção cinematográfica, é
responsável pelo estabelecimento do visual do filme, o de Fotografia é encarregado
pela captação fiel desse visual ao definir os tipos de câmeras, lentes, filtros, se o
material de suporte será película ou digital.
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Fig. 2 – Na primeira imagem à esquerda, a objetiva está ajustada na posição grande-angular.
Na imagem do meio, em um ponto entre grande-angular e teleobjetiva. Na imagem da direita,
a objetiva está regulada para a posição teleobjetiva
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images
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• Abertura: Diafragma (ou íris) ou abertura é o orifício pelo qual a luz entra através
da lente. Quanto maior a abertura, mais luz entra e mais clara é a imagem.
Assim, a abertura da lente afeta a exposição da imagem a e profundidade do
campo (veja a seguir), em que os assuntos aparecem em foco. A abertura pode
ser fechada para limitar a quantidade de luz ou aberta para permitir que mais
luz entre. Quando a imagem tem pouca exposição, a abertura da lente pode
ser aumentada ou pode-se usar iluminação adicional para se produzir uma
imagem mais equilibrada. Se o problema for superexposição, então a abertura
e/ou a iluminação podem ser reduzidas.
Movimentos de câmera
Hoje, uma série de movimentos de câmera oferecem inúmeras dimensões
ao que filmamos, resultando em efeitos significativos (positivos e negativos) em
relação ao que queremos contar. Um plano filmado com uma câmera sobre trilhos
amplia a percepção de profundidade. Entretanto, esse uso pode ser irritante para o
espectador e, muitas vezes, desnecessário como, por exemplo, quando o trilho de
360 graus ao redor de um personagem é utilizado em demasia. Jean-Luc Godard
(1930-) rejeita o uso desse recurso, considerando-o artificial e menos honesto que
a câmera estática.
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A claquete deve ser utilizada para registrar o início de cada tomada com o
objetivo de que ela possa ser identificada posteriormente durante a montagem do
filme. As informações da cena devem estar contidas na claquete como o número
da tomada – que é falado enquanto ela é fechada – de forma que imagem e som
possam ser sincronizados.
Planos
O cinema é feito de planos, assim como a literatura é feita de palavras. O plano
é a unidade que cria o filme, é o resultado das palavras mágicas do diretor “Ação”
e “Corta”, ou seja, desde que a câmera liga até o seu desligamento. Um conjunto
de planos rodados no mesmo tempo e no mesmo lugar é uma sequência. Uma ou
várias sequências, que se relacionam com a mesma ação e ocorrem em vários locais
e tempos, formam uma cena. É a partir da noção de plano, como unidade fílmica
de base, que identificamos uma linguagem cinematográfica e é em função de certos
tipos de planos que podemos falar de uma evolução da linguagem cinematográfica
como no uso do primeiro plano por Sergei Eisenstein (1898-1948) e do plano-
sequência por Orson Welles (1915-1985).
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Quanto ao tamanho
• Grande plano geral (GPG): Planos bastante abertos, servindo para situar o
espectador no local onde a cena se desenvolve. É o plano das paisagens, das
multidões. Tem como principal função descrever o cenário. Devido à grande
quantidade de detalhes, o GPG necessita de um tempo maior de projeção.
No cinema, normalmente, um grande plano geral tem duração entre 8 e 12
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segundos, mas cada diretor tem total autonomia para definir esse tempo.
Spartacus (1960), de Stanley Kubrick, tem alguns dos mais belos grandes
planos gerais da história do cinema.
Fig. 7 – Grande plano geral em Blade Runner – O Caçador de Androides (1982, Ridley Scott)
Fonte: imdb.com
• Plano geral (PG): Utilizado para mostrar o prédio ou a casa onde a cena
se desenvolve. Possui um ângulo de visão menor que o GPG, em que é pos-
sível se perceber a figura humana, porém sem reconhecer personagens e
própria ação. É um plano descritivo e serve, principalmente, para mostrar
a posição dos personagens em cena. No cinema, tem duração aproximada
de 5 a 9 segundos.
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• Plano americano (PA): O personagem é mostrado do joelho para cima. Sua ori-
gem vem dos westerns americanos, cuja função era mostrar a cartucheira do re-
vólver na cintura. É um plano clássico, suas dimensões correspondem à vida real.
Fig.11 – John Wayne em No Tempo das Diligências (1939), de John Ford. Típico plano americano
Fonte: http://zip.net/bjsTFm
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• Plano médio (PM): O enquadramento é da cintura para cima do personagem.
Usado normalmente para mostrar o movimento das mãos.
Fig. 12 – Plano médio usado por Quentin Tarantino em Kill Bill (2003)
Fonte: imdb.com
Fig. 13 – Muitos primeiros planos em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), de Jean-Pierre Jeunet
Fonte: imdb.com
Fig. 14 – Não precisa muita explicação sobre esse PPP, de Stanley Kubrick, em Laranja Mecânica (1971)
Fonte: imdb.com
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a) b) c)
d) e)
Fig. 15 – Alfred Hitchcock, mestre dos planos de detalhe: a) O Homem que sabia demais (1956),
b) A Sombra de uma Dúvida (1943), c) Interlúdio (1946), d) Um Corpo que cai (1958) e, e) Psicose (1961)
Fonte: http://zip.net/bpsVn4
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Fig. 17 – Um dos tantos contraplongées de Orson Welles em Cidadão Kane (1941)
Fonte: http://zip.net/blsTd2
• Câmera sobre o ombro: Esse plano auxilia na criação de uma dinâmica entre
o personagem e o que ele está vendo. Também pode ser usado para sugerir
que alguém está sendo seguido ou observado por outra pessoa.
Fig. 18 – Kill Bill (2003), de Quentin Tarantino. Exemplo de câmera sobre o ombro
Fonte: http://zip.net/bbsTz5
Fig. 19 – Exemplo de câmera subjetiva em Além da Linha Vermelha (1998), de Terrence Malick
Fonte: http://zip.net/bwsTmz
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Fig. 20 – Campo (a) e contracampo (b) em 2046 – Os Segredos do Amor (2004), do cineasta chinês Wong Kar-Wai
Fonte: http://zip.net/bksTW9
Quanto à duração
• Plano-sequência: É o plano de toda uma cena com a câmera se deslocando
no espaço cênico (câmera na mão, trilhos, steadycam, dolly, etc.). A filmagem
é realizada em um único plano, ou seja, desde que a câmera seja ligada até o
seu desligamento.
Fig. 21 – Hitchcock tinha a ideia de filmar Festim Diabólico (1948) em um único plano-sequência,
livre de cortes. Mas claro que, na época, as câmeras não suportavam esse tempo de gravação e, então,
o filme foi dividido em planos-sequências de dez minutos, em média, cada, quase imperceptíveis.
O filme é um marco dentro da técnica de plano-sequência
Fonte: imdb.com
Iluminação
A evolução da iluminação no cinema mostra que, de um papel eminentemen-
te físico, no qual se limitava a proporcionar luz suficiente sobre os atores para
permitir a filmagem, passou a integrar a estética e a narrativa cinematográfica
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por meios artísticos, dramáticos e psicológicos. A iluminação determina o tom
emocional e dá aos atores: cenários, acessórios e figurino um caráter adequado
às cenas em climas diversos e contribui para a criação de espaços pictóricos e
cênicos, alterando não só a superfície iluminada, como também a estrutura da
realidade – expressiva ou sutil.
Cada plano em Festim Diabólico, de Hitchcock, como vimos, durava dez mi-
nutos, correspondente à totalidade da metragem de filme contida em um carregador
de câmera na época. Em seu projeto de rodar o filme em um único plano-sequência, o
diretor teve dificuldade não somente com a câmera, mas também com a iluminação,
pois a ação começava à luz do dia e terminava com o cair da noite. O filme inicia
com um assassinato executado dentro de um apartamento. O crime foi cometido
dentro do apartamento com as cortinas fechadas, no final da tarde. Porém, à
medida que a festa se desenrola, a passagem do dia para a noite é construída com
a iluminação do céu, de janelas e letreiros na maquete dos prédios da cidade e,
sutilmente, também dentro do apartamento: Quando todos os convidados saem e
o professor Rupert Cadell (James Stewart) volta, suspeitando dos anfitriões, a luz
de um letreiro em néon fora do apartamento é ligada. As mudanças das cores desta
iluminação nos últimos minutos de filme compõem a atmosfera de surpresa com a
descoberta do cadáver pelo professor. Uma verdadeira aula de iluminação.
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blicos etc. Entretanto, essas locações criavam problemas ao diretor de fotografia que
precisava colocar filtros sobre janelas e portas para balancear a luz externa com a
utilizada dentro do espaço, evitando reflexos de vidro e outras superfícies brilhantes.
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Fig. 24 – Cenas de As Aventuras de Pi (2012), de Ang Lee. Contraluz no cinema digital
Fontes: http://zip.net/blsTw7 e http://zip.net/bhsVkZ
Fig. 25 – Luz lateral em cena de Trash – A Esperança vem do Lixo (2014), de Stephen Daldry e Christian Duurvoort
Fonte: http://zip.net/bbsTT9
Fig. 26 – A luz de baixo para cima de Alfred Hitchcock em Rebecca, a Mulher Inesquecível (1940)
Fonte: http://zip.net/btsVVB
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Cor
Em Dick Tracy (Warren Beatty, 1990), são utilizadas cores primárias (verme-
lho, verde e azul) como as encontradas nas histórias em quadrinhos e, em China-
town (Roman Polanski, 1974), os tons áridos de marrom dominam o filme, uma
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vez que ele é sobre a ausência de água. Um desejo do cinema, desde o seu nas-
cimento, e transformada em padrão de produção a partir da década de 1950, a
cor abriu espaço para o envolvimento emocional que a iluminação já vinha reali-
zando. Assim, cada filme passou a ter uma paleta específica de cores, empregada
em toda a sua extensão como nos figurinos, nos cenários, na tonalidade da luz.
Ao Departamento de Arte cabe aplicar a paleta definida ajustada à temperatura
emocional de cada momento.
Assim, vemos tons pastéis de balas e doces em Maria Antonieta (Sofia Coppola,
2006), uma referência à sua juventude e ao seu amor pelas confeitarias da Áustria,
sua terra natal. O filme apresenta uma paleta de cores exuberantes, com destaque
para rosa, azul, amarelo, vermelho e estampas florais e geométricas, mistura
elementos contemporâneos com a moda setecentista. O filme foi gravado em
locações como o palácio de Versalhes.
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Som
Em 1927, O Cantor de Jazz (The Jazz Singer), dirigido por Alan Crosland
(1894-1936), primeiro longa-metragem com som sincronizado, iniciava uma nova
era do cinema. Logo, o público acolheu com entusiasmo a novidade do cinema
sonoro e falado, embora uma grande personalidade, na época, Charlie Chaplin
(1889-1977), tenha vaticinado: “Os talkies (filmes falados)? Podem dizer que os
detesto. Eles vão acabar com a arte mais antiga do mundo, a arte da pantomima.
Aniquilam a grande beleza do silêncio”. Entretanto, o ator e diretor francês
René Clair (1898-1981) disse: “A palavra deve ter apenas um valor emotivo,
permanecendo o cinema uma expressão internacional falada por imagens”.
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pelo Departamento de Som. Os estúdios oferecem um ambiente controlado para a
produção, enquanto que as locações podem ser barulhentas como o trânsito, aviões,
ruído de fontes elétricas como lâmpadas e refrigeradores. É o som ambiente. Alfred
Hitchcock – mais uma vez – oferece uma aula de uso de som ambiente em Janela
Indiscreta (1954), utilizando os sons naturais que partem do apartamento de Jeff
(James Stewart) e de seus vizinhos.
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Importante! Importante!
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Música
A trilha sonora tem um grande poder, talvez o mais importante seja o de fazer
com que o espetador relembre um filme, criando memórias permanentes. A música
não é uma mera ilustração ou acompanhamento do filme, ela é parte integrante e
importante, tenha sido composta especialmente para a produção ou não. Alguns
exemplos são clássicos como 2001 – Uma Odisseia no Espaço (Stanley Kubrick,
1968), que marcou musicalmente com Assim falou Zaratustra, de Richard Strauss
(1864-1949) e Danúbio Azul, de Johann Strauss Filho (1825-1899); e Tubarão
(1975), Indiana Jones (1981) e ET – O Extraterrestre (1882), todos de Steven
Spielberg, com trilhas de John Williams (1932-).
mais populares e bem-sucedidos da era moderna, venceu cinco prêmios Oscar, 17 Gram-
mys, três Globos de Ouro, dois Emmys e cinco prêmios Bafta da Academia Britânica de
Cinema e Televisão. Williams compôs a música e atuou como diretor musical em quase
oitenta filmes, incluindo O Resgate do Soldado Ryan, Sete Anos no Tibet, A Lista de Schin-
dler, Jurassic Park, JFK, a trilogia Indiana Jones, a trilogia Star Wars, Superman, Encontros
Imediatos do Terceiro Grau... John Williams consegue a incrível marca de 50 indicações ao
Oscar com o seu novo trabalho para Star Wars (2015). Além de seus trabalhos em trilhas
de filmes, é conhecido também por obras eruditas e concertos para fagote e orquestra,
violoncelo, trompete, violino e trompa.
Fig. 31 - John Williams, amigo de Steven Spielberg, assina várias trilhas de filmes do cineasta
Fonte: Wikimedia/Commons
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pingue-pongue. No começo da cena, os jogadores de cartas murmuram baixinho,
enquanto o som do pingue-pongue é alto, direcionando nossa atenção para ele.
Mas, no final da cena, não há som no jogo de pingue-pongue (que continua). A
partir desse momento, prestamos atenção ao jogo de cartas.
Até os anos 1980, os efeitos visuais eram realizados exclusivamente com truques
ópticos. Hoje, a pós-produção digital realiza tudo aquilo que se fazia com recursos
ópticos e ainda expandiu as possibilidades de manipulação da imagem, com a
colocação de cenários e elementos de cena em movimento, com maior controle da
correção de cor e da composição de imagens, entre outras funções.
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se uma câmera estive apontada para um projetor. O projetor é carregado com uma
imagem positiva e a câmera captura essa imagem, quadro a quadro. Podem ser
colocados filtros, lentes e máscaras no caminho da projeção para se obter efeitos,
assim como misturar duas ou mais projeções.
Fig. 33 – Percy Jackson e o Mar de Monstros (2013), de Thor Freudenthal: avalanche de efeitos visuais
Fonte: imdb.com
Montagem
A colaboração entre o que a câmera capta e o que a mente do espectador
acrescenta é a essência do conceito da montagem, que se constitui em um dos
fundamentos mais específicos da linguagem fílmica. Montagem é a organização
dos planos de um filme em condições de ordem e de duração. A associação dos
planos permite ligar situações, reunir ou separar elementos, articular...
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Fig. 34 – Kuleshov e Eisenstein: referências em montagem
Fonte: Wikimedia/Commons
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O editor tem, ainda, o domínio sobre o tempo e o espaço no seu trabalho
de montagem. Temos os tempos subjetivo, comprimido (passagem de tempo),
simultâneo, ambíguo e natural. Vejamos como são:
• Tempo subjetivo: Tempo como é percebido por determinado personagem
(lento demais, rápido demais...). As imagens são aceleradas ou desaceleradas
para acompanhar o ponto de vista do personagem.
• Tempo comprimido / passagem de tempo: Pode ser breve (subir em uma
escada) ou longo (vários dias e anos). É obtido por meio de fusões, dissolves e
superposições, frequentemente acompanhadas de música. É uma das formas
mais eficientes de comprimir grandes blocos de informação visual em uma
sequência curta, que indique o estilo de vida ou as mudanças na personalidade,
aparência ou relacionamento dos personagens. Exemplo: sequência do
treinamento de Rocky Balboa em Rocky, um Lutador (John G. Avildsen,
1976) ao som de Gonna fly Now (tema instrumental do filme), na qual Stallone
percorre várias ruas da Filadélfia, faz flexões com um braço só, dá murros em
grandes peças de carne e sobre a escadaria do Museu de Arte da Filadélfia. A
intenção é mostrar, em três minutos, os meses de preparação do lutador.
• Tempo simultâneo: Eventos diferentes, em lo-
cais e possivelmente momentos diferentes, pa-
recem ocorrer no mesmo tempo porque as ima-
gens são inseridas em blocos sucessivos dentro
de uma ação principal, ou colocadas em subdi-
visões na tela, como Steven Soderbergh fez em
seus filmes Onze Homens e um Segredo (2001)
e Doze Homens e outro Segredo (2004).
• Tempo ambíguo: Ao intercalar dissolves e fu-
sões em uma sequência de cortes, é criado um
espaço visual que pode indicar lembrança, de-
vaneio, raciocínio, impressão subjetiva. O tem-
po subjetivo, quando o sujeito em questão está
alterado por algum motivo (apaixonado, sonha- Fig. 37 – Onze Homens e um Segredo
dor, drogado, bêbado), aparece frequentemen- (Steven Soderbergh, 2001): muita
te como ambíguo, ou seja, o espectador perde utilização de tempo contínuo
tempo juntamente com o personagem. Fonte: imdb.com
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Princípios da Cinematografia
O termo é usado nos Estados Unidos como sinônimo de “fotografia para cinema”, uma
vez que a cinematografia subentende a captação de uma imagem cinematográfica, cuja
técnica é de responsabilidade da equipe de fotografia. Entretanto, o termo aqui no
Brasil tende a ser mais amplo, envolvendo todas as funções do cinema.
https://goo.gl/sU3ciL
Como fazer um Filme Simples
Aprenda a fazer um filme de qualidade que talvez não lhe traga o Oscar, mas que não
ficará feio diante dos amigos.
https://goo.gl/ZjsoGS
Livros
Fernando Duarte, um Mestre da Luz Tropical
CINEMATECA BRASILEIRA. Fernando Duarte, um mestre da luz tropical. São
Paulo: Cinemateca, 2011. O livro apresenta a trajetória do fotógrafo do Cinema
Novo, que dirigiu filmes como Ganga Bruta e A Grande Cidade. O livro destaca
seu trabalho com o cinema e com a fotografia fixa. Fernando Duarte, ao lado de
Mário Carneiro, Ricardo Aronovich, Waldemar Lima e Luiz Carlos Barreto, ajudou a
promover o debate por uma técnica fotográfica mais adequada à luz brasileira, diferente
dos padrões europeus e norte-americanos.
Meu Último Suspiro
BUÑUEL, L. Meu último suspiro. São Paulo: Cosac Naify, 2009. Com a ajuda de
seu roteirista Jean-Claude Carrière, o cineasta Luis Buñuel apresenta suas histórias,
contando fielmente, por meio de suas memórias, os erros e acertos de suas obras,
além de sua importância de trazer o Surrealismo para o Cinema, com parceria de
grandes artistas como Salvador Dalí e Garcia Lorca.
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Filmes
Rebobine, por favor
Direção: Michel Gondry. 2008, cor, 101 min, Reino Unido/Estados Unidos. O diretor
virou o queridinho de muitos cinéfilos após dirigir o já cult Brilho Eterno de uma
Mente sem Lembranças (2004), que merecidamente ganhou o Oscar de melhor
roteiro. Rebobine, por favor é uma comédia que conta a história de dois amigos que,
após acidentalmente terem apagado todo o acervo da videolocadora em que um deles
trabalhava, têm a inspirada ideia de refilmar alguns dos clássicos em VHS, com os
poucos recursos que possuem. Sobra para Robocop, Conduzindo Miss Daisy, Os
Caça-Fantasmas e até 2001 – Uma Odisseia no Espaço.
Super 8
Direção: J. J. Abrams. 2011, cor, 112 min, Estados Unidos. A trama, produzida por
Steven Spielberg, se passa no verão de 1979, quando um grupo de seis garotos, em
uma cidade industrial de Ohio, testemunha uma catastrófica colisão noturna de uma
caminhonete com um trem de carga. Eles registram tudo com a câmera Super-8 com
a qual estavam tentando fazer um filme. Não tarda para que eles comecem a desconfiar
que aquilo não foi um acidente.
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Referências
BAHIANA, A. M. Como ver um filme. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
BARNWELL, J. Fundamentos de produção cinematográfica. Porto Alegre:
Bookman, 2013.
BERGAN, R. Guia ilustrado Zahar – Cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
BRISELANCE, M. F e MORIN, J. C. Gramática do cinema. Lisboa: Texto &
Grafia, 2010.
CAGE, J. A cor na arte. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
COMPARATO, D. Da criação ao roteiro. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
EISENSTEIN, S. O sentido do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002.
FIELD, S. Manual do roteiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
GARDIES, R. Compreender o cinema e as imagens. Lisboa: Texto & Grafia, 2007.
MARTIN, M. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 2003.
RODRIGUES, C. O cinema e a produção. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (São Paulo). Caderno de artes cênicas: vo-
lume I. São Paulo: Sesi-SP, 2012.
Sites consultados
ABCINE – Associação Brasileira de Cinematografia. Cinematografia digital e
efeitos visuais. Disponível em: http://www.abcine.org.br/artigos/?id=1380&/
cinematografia-digital-e-efeitos-visuais Acesso em: 02 fev 2016.
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