Você está na página 1de 8

70S e o Bmsíl

não. Todos os Estados da


I obrigação que o Estado
ade civil se mobilizam sob
11 a ser realizados.

portãncia fundamental da
que, se for necessário um
:ará nos lembrarmos deste

o PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA PROTEÇAo DOS


DIREITOS HUMANOS

WAGNER GONÇALVES
Subprocurador-Geral da República e
Procurador Federal dos Direitos do Cidadão,

Soubemos que hoje pela manhã um membro do Poder Judiciário


estranhou porque foi convidado para falar sobre direitos humanos. Sentiu-se
um peixe fora d'água. Só por isso, podemos perguntar inicialme.nte: o que são
direitos humanos? Parece que poucas pessoas ainda entendem, no início do
século XXI, o que sejam os direitos humanos e outras confundem-nos. Não
queremos fazer um histórico dos direitos humanos, porque outros palestrantes,
mais ilustres, já o fizeram. Mas é preciso salientar sempre que direitos
humanos estão ligados à afirmação da dignidade da pessoa humana frente ao
Estado. Esta é a gênese dos direitos humanos. São direitos inerentes à pessoa
humana e que se afirmam limitando os poderes daqueles que detêm o Poder.
Assim, entendemos ser pertinente firmar, de logo, alguns pontos
para dar unidade e clareza à nossa manifestação. São eles:
10 - a noção de direitos humanos corresponde com a afirmação da
dignidade do ser humano frente ao Estado;
2° - o Estado tem a obrigação de respeitar, garantir e proteger os
direitos humanos;
3° - são inerentes à pessoa humana e são direitos que se afirmam
frente ao Poder PÚblico;
4° - não são, portanto, direitos concedidos pelo Estado, nem
dependem de reconhecimento de qualquer Governo;
5° - pressupõe a limitação do exercício do Poder Estatal;

113
A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o Brasil A Proteçã

6° - O poder deEstado dever ser exercido a favor do indivíduo e não também a ação, de mOd<
contra ele; dar condições para que o:
7° - o exercício do Poder deve estar sujeito a certas regras ­ Daí se evide
princípio da reserva legal; direitos humanos, que f(
8° - são direitos universais, já que não se conformam somente em Mundial de Direitos Hum
um determinado território; quando se proclamou I
liberdades fundamentais ~
9° - são direitos progressivos, podendo alcançar outros não pollticos, sem gozo dos di
previstos na Constituição.
Quando da (
Vê-se, portanto, que o enfoque dos direitos humanos tem, de um denegação maciça de din
lado, o indivíduo ou os cidadãos e, de outro, o Estado. fundamentos da paz, da I
A primeira revolta de cidadãos contra o Poder Absoluto - e que fosso entre os países c
deu frutos - foi a dos barões da Inglaterra, em 1.215, quando fixaram limites, Infelizmente, tal situação I
pela Carta Magna, aos poderes do rei João Sem-Terra, que os extorquia, em Agora, entrar
excesso, com a cobrança de tributos para fazer face a gastos militares. Ministério Público na proh
Reconheceu-se, desde aquela época, que havia direitos inalienáveis, o Ministério Público tem a
correspondéntes à dignidade do ser humano e que tais direitos não eram
concedidos pelo Estado, nem dependiam do reconhecimento de qualquer Se abrirmos
Governo ou Poder. Reconheceu-se que o poder deve ser exercido a favor do Ministério Público Federal
ser humano e não contra ele. são objetivos inerentes à
avultam: defesa da democ
Com o tempo, consolidou-se a idéia de que os direitos humanos pública, da independêncié
não se conformam somente dentro de determinado território: são direitos interesses coletivos, pre~
transnacionais, irreversíveis e que os Estados não podem alegar soberania público e social; defesa de
para negar sua responsabilidade sobre as violações de tais direitos ocorridas é claro, da clássica funçãc
em seus territórios. São também direitos progressivos, ou seja, não se limitam
somente àqueles elencados na Constituição, podendo alcançar outros em face Na realidadl
dos tratados e convenções internacionais e dos princípios adotados na própria ombusdman. É o equivalel
Constituição. Aliás, tal entendimento vem expresso no art. 5°, § 2°, da nossa defensor do soberano, nc
Carta Maior. para, agora, ser o defens
sua luta trava-se hoje, I
Firmaram-se, com o tempo e muitas lutas, diversas gerações de Estado.
direitos humanos. Primeiro, os direitos civis e políticos (ex. direito à vida, à
liberdade, à privacidade, direito de reunião ou de participação). Segundo, os Essa evoluçã,
direitos econômicos, sociais e culturais (ex. emprego, saúde, educação, de discussões e de muita~
propriedade, etc). Terceiro, os direitos coletivos e difusos (ex. direito do com a Constituição de 1
consumidor, direito à qualidade de vida, de um meio ambiente sadio, etc). advogado da União.

No início, como se vê, buscava-s~ uma prestação negativa do Assim, a atua


Estado. Ou seja, o Estado não tem o direito de me matar, de me torturar, de administrativa e do patrim
cercear minha liberdade, de negar minha cidadania ou de fazê-Ia letra morta. principalmente os que detl
Era a obrigação de não molestar, de não privar. A partir do reconhecimento Executivo muitas vezes
dos direitos econômicos, sociais e culturais, passou-se a exigir uma prestação agrada Governantes ela n
positiva do Estado. Não se quer somente a abstenção, quer-se do Estado

114
!S'eoBrasil A ProteÇão Internacional dos Direitos Humanos e o Blãsil

a favor do indivíduo e não também a ação, de modo a se poder garantir a vida humana com dignidade e
dar condições para que os cidadãos busquem a própria felicidade.
lujeito a certas regras ­ Daí se evidenciou, além da inter-relação, a interdependência dos
direitos humanos, que foi reconhecida na memorável Primeira Conferência
! conformam somente em Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena, em 13 de maio de 1968,
quando se proclamou (§ 13): "Uma vez que os direitos humanos e as
liberdades fundamentaís são indivisíveis, a realização plena dos direitos civis e
do alcançar outros não pollticos, sem gozo dos direitos económicos, sociais e cuNurais, é ímpossfvel."
Quando da Conferência, reconheceu-se que havia, no mundo, a
tos humanos tem, de um denegação maciça de direitos humanos; que tal situação colocava em risco os
fundamentos da paz, da liberdade e da justiça; que aumentava, a cada dia, o
Poder Absoluto - e que fosso entre os países desenvolvidos e os chamados subdesenvolvidos.
, quando fixaram limites, Infetizmente, tal situação permanece até hoje.
Ta, que os extorquia, em Agora, entrando no tema de nossa exposição, ou seja, "o papel do
face a gastos militares. Ministério Público na proteção dos direitos humanos", pode-se perguntar: o quê
a direitos inalienáveis, o Ministério Público tem a ver com isso?
~ tais direitos não eram
1hecimento de qualquer Se abrirmos a Constituição e a Lei Orgânica, por exemplo, do
! ser exercido a favor do
Ministério Público Federal, veremos que os direitos humanos, na sua plenitude,
são objetivos inerentes à própria existência da Instituição. Entre suas funções,
avultam: defesa da democracia, do regime jurídico, dos serviços de relevância
que os direitos humanos pública, da independência e harmonia entre os Poderes; defesa de direitos e
o território: são direitos interesses coletivos, preservação do meio ambiente, defesa do patrimônio
podem alegar soberania público e social; defesa dos serviços de saúde e educação, entre outros, além,
de tais direitos ocorridas é claro, da clássica função de promotor da ação penal.
;, ou seja, não se limitam
alcançar outros em face Na realidade, é o Ministério Público no Brasil verdadeiro
pios adotados na própria ombusdman. É o equivalente ao "defensor el pueblo" em espanhol. Ou seja, de
defensor do soberano, nos seus primórdios, passou a defensor do Estado,
10 art. 5°, § 2°, da nossa
para, agora, ser o defensor da sociedade e dos interesses sociais. Por isso,
sua luta trava-se hoje, mais acentuadamente, contra agentes do próprio
IS, diversas gerações de Estado.
:os (ex. direito à vida, à
rticipação). Segundo, os Essa evolução não foi conseguida com facilidade. Foram décadas
·ego. saúde. educação, de discussões e de muitas lutas. Para se ter uma idéia, basta salientar que só
difusos (ex. direito do com a Constituição de 1988 o Ministério Público Federal deixou de ser o
mbiente sadio, etc). advogado da União.

I prestação negativa do Assim, a atuação do Ministério Público, em defesa da moralidade


natar, de me torturar, de administrativa e do patrimônio público - por exemplo, desagrada. E desagrada
u de fazê-Ia letra morta. principalmente os que detêm o Poder. Daí porque a relação MP com o Poder
.artir do reconhecimento Executivo muitas vezes se torna difícil. Entendemos que se a Instituição
~ a exigir uma prestação
agrada Governantes ela não esta exercendo sua função.
ção, quer-se do Estado

115
A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil
A Proteção.

Como disse um congressista americano, ao se criar o imposto de


com atividades básicas. :
renda naquele País: "Deus nlJo me deu o dom de fiscalizar e agradar". Ora,
prestação dos serviços de
como fiscais da lei e em defesa dos direitos coletivos e sociais, os membros do
mas deve ser comprada dE
Ministério Público incomodam. E não poderia ser de outra maneira.
Constituição e a Lei nO 808
Podemos dar exemplo concreto de algumas dificuldades. Mas, por
A Constituiçã
exemplo, há uma dificuldade maior, que é a falta de políticas públicas para
Único de Saúde é siste
cumprir as obrigações constitucionais, ou a existência de políticas públicas que
participação da iniciativa
vão à contramão daquelas obrigações. É por intermédio de tais políticas que o
preferência às entidades
Governo pode cumprir os objetivos de erradicação da pobreza, da miséria e da
facultada a prestação de s
formação de sociedade pluralista, harmônica e justa. O que acontece? Várias
nos interessa. Conseqüe
políticas públicas não caminham para a solução de problemas sociais; ao
sistema de saúde em que
contrário, muitas vezes, elas caminham para o agravamento de tais problemas.
hospitais públicos, ao mesl
Entendemos que a eficácia dos direitos humanos depende da instalada da iniciativa pri\i
definição e implementação de políticas públicas que criem condições objetivas por sua capacidade instala
para que todas as pessoas sejam beneficiadas e não somente determinados
Ora, com o pl.
segmentos ou grupos sociais e econômicos, a fim de ser implementada a
foi convertida em lei, trar
ordem constitucional vigente, que pressupõe a erradicação da pobreza e da
iniciativa privada. Transfel
marginalização, redução das desigualdades sociais, regionais, e a construção
pagos pelos cofres púb
de sociedade igualitária, justa, solidária, fraterna e socialmente harmônica.
lucrativos", facultando-li
Dentro desse raciocínio, podemos afirmar que a ordem mecanismos de controle
constitucional vigente estabelece, por si só, várias políticas públicas para o princípios da moralidade
exercício dos direitos sociais. As normas constitucionais de ordem social nesses dois. Em alguns
delimitam os parâmetros dessas políticas públicas, que são vinculantes, aliás, públicos para fins privados
para o administrador. Os conceitos de bem-estar e justiça social devem ser
A idéia da pl
interpretados a partir dos fundamentos e objetivos da República Brasileira,
Governo Paulo Maluf, na F
assente nos arts. 1°, 3° e 4°, da CF. Conseqüentemente, a própria
cooperativas de médicos,
discricionariedade do administrador, em face da referida ordem constitucional,
infra-constitucionais. ESSE
está mitigada.
implantação equivale a co
O nosso grande desafio é como enfrentar isso judicialmente, de direito privado. Há bUI
porque sabemos que o Poder Judiciário detesta entrar em questões de contratar determinada ass
políticas públicas, só admitindo, dentro da visão tradicional. atuar na questão concurso público; ofensa
da legalidade ou, quando muito, na questão da moralidade administrativa. atividade típica de Estad(
Assim, se a ordem econômica e as políticas implantadas pelo Governo poucos, apadrinhados, be
atentam contra os objetivos constitucionais sociais o que fazer? Vem à tona a para exercerem a atividé
questão principal: quais os limites da discricionariedade do administrador e prédios públicos, recursos,
como dirimir isso no Judiciário.
Assim, nesse
Daremos exemplo objetivo. A Constituição estabelece que saúde da obrigação de implar
é direito de todos e dever do Estado. Ora, o ex-Ministro Bresser Pereira, conseqüentemente, direitl
quando chefe do Ministério da Administração, elaborou o plano de fundamental básico e obri~
modernização e reforma do Estado. Nesse plano pretende-se o Estado
Este é um ex
Gerencial, o Estado Mfnímo, o Estado dinâmico, o Estado que fique somente
dos direitos humanos e evi

116
nos e o Brasil
A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil

10, ao se criar o imposto de


, fiscalizar e agradar". Ora, com atividades básicas. Sob tais pressupostos, entre outros, afirma que a
IS e sociais, os membros do prestação dos serviços de saúde não deve ser feita diretamente pelo Estado,
~ outra maneira. mas deve ser comprada de terceiros, em completo confronto com o art. 195 da
Constituição e a Lei n° 8080/90.
Jmas dificuldades. Mas, por
de politicas públicas para A Constituição e lei mencionada estabelecem que o Sistema
;ia de políticas públicas que Único de Saúde é sistema público, sendo dever do Estado. Permite a
lédio de tais polfticas que o participação da iniciativa privada no SUS de maneira complementar, dando
la pobreza, da miséria e da preferência às entidades sem fins lucrativos. À mesma iniciativa privada é
a. O que acontece? Várias facultada a prestação de serviços de saúde fora do SUS - mas esta parte não
de problemas sociais; ao nos interessa. Conseqüentemente, o legislador constituinte pensou em um
,amento de tais problemas. sistema de saúde em que fossem otimizados, nos três níveis de Governo, os
hospitais públicos, ao mesmo tempo em que permitiu utilizar-se da capacidade
tos humanos depende da instalada da iniciativa privada para complementar os serviços que o Estado,
, criem condições objetivas por sua capacidade instalada, não estaria apto a atender.
lão somente determinados
n de ser implementada a Ora, com o plano Bresser, que resultou em Medida Provisória, que
~dicação da pobreza e da foi convertida em lei, transfere-se p capacidade instalada do Estado para a
regionais, e a construção iniciativa privada. Transferem-se prédios, equipamentos, recursos, servidores
Icialmente harmônica. pagos pelos cofres públicos, etc., para uma sociedade civil "sem fins
lucrativos", facultando-lhe comprar sem licitação, ou seja, afrouxando
; afirmar que a ordem mecanismos de controle, fundamentais para que sejam respeitados os
políticas públicas para o princípios da moralidade administrativa e da legalidade, para ficar somente
Jcionais de ordem social nesses dois. Em alguns Estados já está ocorrendo a utilização de leitos
lue são vinculantes, aliás, públicos para fins privados, dentro desses hospitais terceirizados.
justiça social devem ser
, da República Brasileira, A idéia da privatização de hospitais públicos ganhou força no
üentemente, a própria Governo Paulo Maluf, na Prefeitura de São Paulo. Hospitais foram entregues a
rida ordem constitucional, cooperativas de médicos, havendo a infringência de normas constitucionais e
infra-constitucionais. Esse sistema na cidade de São Paulo já faliu. E sua
implantação equivale a confundir vários institutos jurídicos de direito público e
:mtar isso judicialmente, de direito privado. Há burla à licitação, seja para compras, bem como para
entrar em questões de contratar determinada associação de médicos ou sociedade civil; há burla ao
licional, atuar na questão concurso público; ofensa à Constituição e, no mínimo, a transformação de
oralidade administrativa. atividade típica de Estado, prestação de saúde, em atividade cartorial. Uns
)Iantadas pelo Governo poucos, apadrinhados, beneficiam-se da decisão do príncipe de os escolher
que fazer? Vem à tona a para exercerem a atividade de prestação de saúde, com recebimento de
dade do administrador e prédios públicos, recursos, equipamentos, etc.
Assim, nesse ponto - por exemplo - o Governo vai desviando-se
fio estabelece que saúde da obrigação de implantar a ordem constitucional vigente, violando,
~inistro Bresser Pereira, conseqüentemente, direitos humanos. Saúde, como dito, é direito humano
elaborou o plano de fundamental básico e obrigação do Estado.
I pretende-se o Estado

stado que fique somente Este é um exemplo da atuação do Ministério Público na defesa
dos direitos humanos e evidencia também o conflito que há, na prática. entre o

11:7
A Proteçiio Intemadonal dos Direitos Humanos e o Brasil A Proteçâ

Ministério Público e segmentos do Poder Executivo. Em vários Estados, ações No caso do


civis públicas vêm sendo propostas em defesa do SUS e contrárias à simplesmente pelo fato d
implantação das terceirizações de hospitais públicos. federal para a área esté
nada - até hoje - lhe teril
Outro conflito entre MPF e Governo Federal deu-se recentemente
com a edição, pelo Advogado Geral da União, de ofício/circular no qual este Todos os f
condiciona o atendimento de requisições do Ministério Público Federal, feitos conhecimento do Ministé
aos órgãos ou departamentos de Ministérios, ao prévio conhecimento da AGU, investigações por interm
além de mencionar que só devem ser atendidas aquelas feitas pelo Humana do Ministério da
Procurador-Geral da República. Ou seja, mediante dita circular, quer a AGU federal, na época, busco
limitar a atuação dos Procuradores, na medida em que os chefes de para respaldar as invest
departamento ou todo o segundo escalão de qualquer Ministério, por estar investigação federal err
ligado à pasta do Ministro, não podem responder as requisições, cabendo Como estas, no caso do
devolver as mesmas para que o Procurador-Geral as faça diretamente ao omissas, foram as invE
Ministro. Há, assim, além de ilegalidade, censura prévia, seja contra o ato do possibilitaram desmont,
gestor administrativo, seja contra a atividade do Ministério Público Federal. Tal Deputado Hildebrando Pa
ofício pode até dar azo, inclusive, a crime de responsabilidade, porque ele Os fatos do
atenta contra as atividades do Ministério Público. principalmente no que
Outra questão que merece aqui ser mencionada refere-se à criminosas, evidenciarr
relação institucional Ministério Público e Poder Judiciário, quanto às questões desconcertante.
que envolvam direitos humanos. O Judiciário, como todos sabem, é hermético. Quando saíé
Formado por pessoas que, nas faculdades, tiveram formação privativista. Ter recebemos o segl,linte
visão dos direitos humanos, a partir de normas constitucionais, tratados e Federação:
convenções internacionais é novidade. Por isso mesmo, os juízes praticamente
não usam tais normas para fundamentar suas sentenças. Limitam-se, na
maioria dos casos, às normas internas infraconstitucionais. Aliás, diga-se de o funcioname
passagem, que o próprio Ministério Público está começando a usar tais normas por um Coro
mais recentemente, já que tiveram, nas faculdades, a mesma formação dos com a coniv
juízes. E isso decorre da demanda e pressão social que sofrem por parte das Estado, de jl.i
de policiais CJ
ONGs que atuam na defesa de direitos humanos.
crimes de toCJ
Por último, queremos mencionar aqúi nossa atuação, no que se roubos, extc
refere à defesa dos direitos civis e políticos, mais especialmente no combate à federais, fra
violência e à impunidade que grassa por todo o País. co"upção pa~

São três os elementos ou condições, que geram, nos Estados, Interrompemc


violência e impunidade: poder econômico, poder político e agente do Estado. corre risco de vida e tem
Concorrendo estes três elementos, a impunidade é quase natural. Ou seja, se em outros Estados. Contin
o autor do crime tem poder econômico, detém parte do poder político
(Municipal ou Estadual) e está ligado a agentes do Estado (Polícia, Secretaria perículosidad~
de Segurança, etc), dificilmente haverá qualquer punição. Se for parlamentar Geral da J,
então, apená-lo se torna empreitada impossível, devido a espúria e Superintende
injustificável imunidade. estavam e cc
manifestaçôe~

118
JSe o Brasil A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o Brasil

Em vários Estados, ações No caso do ex-Deputado Hildebrando Pascoal, ocorreu exceção,


do SUS e contrárias à simplesmente pelo fato de ele ter saído, com seus métodos primários, da área
federal para a área estadual. Se ele tivesse sido eleito deputado estadual,
nada - até hoje - lhe teria acontecido.
eral deu-se recentemente
fício/circular no qual este Todos os fatos envolvendo o referido ex-Deputado é do
10 Público Federal, feitos conhecimento do Ministério Público Federal há vários anos, que vem fazendo
io conhecimento da AGU, investigações por intermédio do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
as aquelas feitas pelo Humana do Ministério da Justiça. Ou seja, não sendo os fatos da competência
jita circular, quer a AGU federal, na época, buscou-se o referido Conselho, onde o MPF tem assento,
em que os chefes de para respaldar as investigações. É a maneira que se tem hoje de se fazer
uer Ministério, por estar investigação federal em área da competência das autoridades estaduais.
as requisições, cabendo Como estas, no caso do Acre, na oportunidade, se mostravam inoperantes e
as faça diretamente ao omissas, foram as investigações federais, pelo referido Conselho, que
via, seja contra o ato do possibilitaram desmontar a organização criminosa comandada pelo ex­
tério Público Federal. Tal Deputado Hildebrando Pascoal.
::Insabilidade, porque ele
Os fatos do Acre, aliados a outros relatados pela imprensa,
principalmente no que se referf! à participação de policiais em ações
lencionada refere-se à criminosas, evidenciam que o nível de violência no País é absurdo e
ária, quanto às questões desconcertante.
dos sabem, é hermético. Quando saíamos da Procuradoria para vir a este Seminário,
)rmação privativista. Ter recebemos o segl,linte ofício de colega lotado em um dos Estados. da
lstitucionais, tratados e Federação:
l, os juízes praticamente
tenças. Limitam-se, na "Após oito meses de escuta telef6nica comprovou-se
anais. Aliás, diga-se de o funcionamento de postos de organizaçlJo criminosa comandada
ando a usar tais normas por um Coronel da Polícia Militar, cujo funcionamento contaria
~ mesma formação dos com a conivência do Comandante-Geral da Policia Militar do
Je sofrem por parte das Estado, de juiz de direito, de promotor público, além de dezenas
de policiais civis e militares. Foram obtidos indícios veementes de
crimes de toda a espécie: homicídios, lesões corporais, ameaças,
;sa atuação, no que se roubos, extorsões, estelionato, desvio de recursos públicos
:ialmente no combate à federais, transferidos para mais de setecentas prefeituras,
corrupçlJo passiva, prevaricação... ".
e geram, nos Estados, Interrompemos para esclarecer que o colega que assina o ofício
:o e agente do Estado. corre risco de vida e temos várias situações, semelhantes a essa, ocorrendo
Ise natural. Ou seja, se em outros Estados. Continuamos a leitura:
Irte do poder político
"... cuja organizaçlJo criminosa com elevado nível de
ido (Polícia, Secretaria periculosidade, tanto que, durante as investigações, o Procurador­
ão. Se for parlamentar
Geral da Justiça do Estado, o Presidente da OAB, o
devido a espúria e
Superintendente da Polícia Federal e autoridades eclesiásticas
estavam e continuam sendo ameaçadas de morte por conta de
manifestações públicas. "

119
A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o BnJsíl

No caso, a organização criminosa não só elimina seus desafetos,


como tem o despautério de, antes disso, fazer seguro de vida para a vítima,
tendo por beneficiários os integrantes da própria organização.
É preciso esclarecer que a atuação do Ministério Público só é
eficaz, nesses casos, quando feita em conjunto com a sociedade organizada.
Dirigimos o Fórum Nacional contra a Violência no Campo, que se reúne de
dois em dois meses. Das reuniões extraímos o material necessário para o PROPOSTA DE UMA
combate à violência e à impunidade na área rural. Remetemos ofícios às PÚBLICA
autoridades estaduais cobrando ações e providências, e, de vez em quando,
realizamos os éncontros do Fórum em alguma Unidade da Federação.
Recentemente, organizamos encontro no Estado do Paraná, diante da
violência policial no cumprimento de mandados judiciais de reintegração de
posse. Nessas oportunidades, visitamos as autoridades estaduais (Presidente
de Tribunal, Ministério Público, Secretaria de Segurança, Governo do Estado,
etc.), no intuito de alterar práticas ilegais, coibir a violência, além de apelar
para a necessidade dos processos, administrativos ou judiciais, terem
andamento célere.
Tudo isso é novo e difícil? Sim, é profundamente difícil, mas Por que é ti
se torna impossível hoje uma Instituição, como o Ministério Público, quedar-se para o estado do Rio dI
em gabinetes a espera de processos (normalmente entre particulares), sendo lugar, até para que se c
que 'lá fora campeia a injustiça, a omissão, o crime, a não prestação dos trigo: o que se costum
serviços públicos essenciais e a corrupção. passa de um conjunto (
Assinale-se, além disso, que as ações do Ministério Público dão determinadas pelas tragé
mais resultados, em alguns casos, com atuação meramente administrativa, já ditada pela visibilidade p
que os processos, no Judiciário, são quase intermináveis. isso porque somos arro~
iluminados? Não, em at
Finalizando, queremos lembrar que o Ministério Público, a partir único mérito é justament
da Constituição de 1988, passou por uma revolução. Revolução que impõe a de formular uma política
seus membros cobrar ações do Poder Público e não se tornar conivente com a a coragem para admitir a
omissão, o descaso e a inércia. o problema. Por que é t
Temos que sair em campo. Temos de nos indignar, ver a pública, em nosso estac
realidade social e contribuir para garantir, nos termos constitucionais, os diagnóstico, e não há dial
direitos humanos, contribuindo para que o País seja uma sociedade mais justa, No campo da segurança
onde todos, principalmente os menos favorecidos, possam fazer valer sua descrever com precisão l
dignidade humana e ter condições de procurar a própria felicidade. a elaboração de uma po
eficientes. O mais grave
clareza quanto às meta5
saber onde e quand.o se
métodos adotados e dé
acompanhamento crítico
fatal para qualquer polític
importante é produzir me
serviço do processo de

Você também pode gostar