->PRINCÍPIOS
Pacta sunt servanda
● “Os pactos devem ser cumpridos”.
Artigo 27
Direito Interno e Observância de Tratados
Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o
inadimplemento de um tratado.
-Os tratados devem ser cumpridos, ainda que à custa do direito interno do Estado-parte.
-É qualificado pela boa-fé
->CONDIÇÕES DE VALIDADE
1. Agente capaz
2. Forma adequada
3. Objeto lícito
4. Vontade livre
1- AGENTE CAPAZ
-Plenipotenciários:
● Ministro das Relações Exteriores (Chanceler)
❖ Chefe da diplomacia do Estado
❖ Plenipotenciário de caráter especial
❖ Goza de presunção de sua qualidade de plenipotenciário
-Chefes de missões diplomáticas (para tratados bilaterais celebrados com o Estado
acreditado).
-Chefes de missões junto a Organizações Internacionais (para tratados com a respectiva OI).
-Teoria da Aparência:
Artigo 47, CVDT
Restrições Específicas ao Poder de Manifestar o Consentimento de um Estado.
-Tratados celebrados por agente não autorizado pelo direito interno do Estado serão válidos e
vinculantes para aquele Estado.
-Esta regra visa a proteger o terceiro de boa-fé (no caso, os demais Estados que consentiram
como tratado)
2- FORMA ADEQUADA
3- OBJETO LÍCITO
Tratado em Conflito com uma Norma Imperativa de Direito Internacional Geral (jus cogens).
É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de
Direito Internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de
Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional
dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só
pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza.
-Jus cogens:
● “Normas peremptórias de direito internacional geral (jus cogens) refletem e protegem
valores fundamentais da comunidade internacional, são hierarquicamente superiores
às demais normas de direito internacional e são universalmente aplicáveis.” (CDI)
● Estão associados à noção de “ordem pública internacional”
● Impõem limites ao poder de pactuar dos Estados
● Exemplos de normas de jus cogens (CDI):
❖ Proibição da agressão
❖ Proibição do genocídio
❖ Proibição de crimes contra a humanidade
❖ “Normas básicas” (basilares) de direito internacional humanitário
❖ Proibição da discriminação racial e do apartheid
❖ Proibição da escravidão
❖ Proibição da tortura
❖ O direito à autodeterminação
4- VONTADE LIVRE
-Vícios de consentimentos:
● Erro (art. 48, CVDT): ocorre quando um Estado supõe equivocadamente existir um
fato ou situação que constitui base essencial de seu consentimento; o erro é decorrente
do próprio Estado prejudicado por ele;
● Dolo (art. 49, CVDT): ocorre quando um Estado induz, de má-fé, outra parte
contratante a celebrar um tratado de forma fraudulenta; é motivado por conduta de
terceiro;
● Corrupção de representante do Estado ou da OI (art. 50, CVDT): ocorre quando um
Estado corrompe um agente de outra parte contratante, levando-o a assinar um tratado
não pretendido pelo Estado por ele representado;
● Coação sobre representante (art. 51, CVDT): ocorre quando um Estado coage o
representante de outro Estado a assinar um tratado;
● Coação sobre o Estado (art. 52, CVDT): ocorre quando um Estado coage outro
Estado, através da ameaça ou do uso da força, a celebrar um tratado.
Entrada em vigor:
1. Um tratado entra em vigor na forma e na data previstas no tratado ou acordadas pelos
Estados negociadores.
2. Na ausência de tal disposição ou acordo, um tratado entra em vigor tão logo o
consentimento em obrigar-se pelo tratado seja manifestado por todos os Estados
negociadores.
3. Quando o consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado for manifestado
após sua entrada em vigor, o tratado entrará em vigor em relação a esse Estado nessa
data, a não ser que o tratado disponha de outra forma.
4. Aplicam-se desde o momento da adoção do texto de um tratado as disposições
relativas à autenticação de seu texto, à manifestação do consentimento dos Estados
em obrigarem-se pelo tratado, à maneira ou à data de sua entrada em vigor, às
reservas, às funções de depositário e aos outros assuntos que surjam necessariamente
antes da entrada em vigor do tratado.
- Contemporânea ao consentimento
● Quando o tratado entra em vigor imediatamente após a expressão definitiva do
consentimento
❖ Tratados não-solenes: momento da assinatura
❖ Tratados solenes: momento da ratificação (após aprovação legislativa)
-Deferida
● Quando as partes postergam a entrada em vigor (“vacatio legis”)
● Muito comum em tratados multilaterais
● Visa a garantir um espaço de tempo para que o ato seja internalizado e publicizado
internamente a fim de que o tratado entre em vigor simultaneamente nos planos
internacional e interno dos Estados-partes
Artigo 84, CVDT
Entrada em Vigor
2. Para cada Estado que ratificar a Convenção ou a ela aderir após o depósito do
trigésimo quinto instrumento de ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor
no trigésimo dia após o depósito, por esse Estado, de seu instrumento de ratificação
ou adesão.
b) tiver expressado seu consentimento em obrigar-se pelo tratado no período que precede a
entrada em vigor do tratado e com a condição de não ser indevidamente retardada.
-Assinatura diferida:
● Possibilidade de qualquer Estado assinar um tratado após sua conclusão, mas antes de
qualquer processo de autenticação de seu texto.
-Adesão:
● Processo pelo qual um Estado manifesta sua vontade de se tornar parte de um tratado
(aberto) já em vigor.
● O ato de adesão produz os mesmos efeitos que a assinatura e a ratificação.
● Os tratados podem vedar adesão, limitá-la por qualquer critério (p. ex.: circunscrição
geográfica) ou, ainda, impor condições à adesão.
-Exceções:
Efeitos relativos (terceiro Estado é objeto do tratado) (arts. 35 e 36, CVDT):
● Um tratado pode estabelecer direitos e obrigações a terceiros Estados
● Em ambos os casos, o terceiro Estado deve aceitar o direito ou a obrigação
● No caso de direitos, a ausência de aceitação expressa implica anuência tácita
(presunção de aquiescência)
● Já no caso de obrigações, a ausência de aceitação expressa significa não
consentimento
-Efeitos aparentes:
● Quando um Estado é beneficiado por um tratado celebrado entre outros 2 Estados por
força de um tratado prévio celebrado com um deles
❖ O novo tratado não produz efeitos jurídicos para o terceiro Estado, mas
funciona como mero fato que lhe ativa um direito previsto em tratado prévio
(do qual ele – terceiro Estado – é parte)
❖ P. ex.: cláusula de nação mais favorecida
❖ O novo tratado não produz efeitos jurídicos para o terceiro Estado, mas
funciona como mero fato que lhe ativa um direito previsto em tratado prévio
(do qual ele – terceiro Estado – é parte)
- Efeitos difusos:
● São aqueles tratados que criam regimes jurídicos objetivos(ou situações objetivas):
❖ P. ex.: tratados de limites/fronteiras e tratados sobre navegação entre Estados
condôminos de águas interiores
● Neste caso, mesmo terceiros Estados são obrigados a aceitar e obedecer esses
tratados.
-> INTERPRETAÇÃO
-Tipos:
● Autêntica: feita pelos próprios Estados-partes em conjunto
● Não autêntica: feita por um Estado-parte (individualmente) ou por quaisquer outros
órgãos (inclusive pela CIJ), internacionais ou estatais
-Princípios:
● Literalidade do texto: os tratados devem ser interpretados com base nos seus textos.
● Sentido natural e corrente: palavras e expressões devem ser interpretadas com o seu
sentido normal, natural e corrente de acordo com o contexto em que se inserem
● Integração: interpretação sistemática (interna e externa)
● Efetividade: os tratados devem ser interpretados de acordo com seus objetivos e
finalidades declarados ou aparentes; em caso de dúvida, deve ser aplicada a
interpretação que garanta o maior efeito possível às disposições convencionais.
● Prática ulterior: a prática dos Estados posterior à entrada em vigor do tratado pode ser
levada em consideração na interpretação de seus dispositivos
● Contemporaneidade: palavras e expressões devem ser interpretadas de acordo com o
seu uso linguístico corrente no momento da conclusão do tratado.
1. Um tratado deve ser interpretado de boa fé segundo o sentido comum atribuível aos termos
do tratado em seu contexto e à luz de seu objetivo e finalidade.
b) qualquer instrumento estabelecido por uma ou várias partes em conexão com a conclusão
do tratado e aceito pelas outras partes como instrumento relativo ao tratado.
4. Um termo será entendido em sentido especial se estiver estabelecido que essa era a
intenção das partes.
-Critérios ou métodos:
● Literal: interpretação do sentido comum das palavras
● Contextual: análise do contexto das palavras e do próprio tratado
❖ Obs.: interpretação sistemática (art. 31(3)(c))
● Teleológico: investigação do objeto e dos propósitos do tratado
-> MODIFICAÇÃO
-Antes da vigência:
-Reserva:
Artigo 2, CVDT
Expressões Empregadas
Um Estado pode, ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, formular
uma reserva, a não ser que:
a) a reserva seja proibida pelo tratado;
b) o tratado disponha que só possam ser formuladas determinadas reservas, entre as quais não
figure a reserva em questão;
ou
c) nos casos não previstos nas alíneas a e b, a reserva seja incompatível com o objeto e a
finalidade do tratado.
-Antes da vigência:
Reserva:
● É uma declaração unilateral por meio da qual um Estado “exclui pura e simplesmente
do seu compromisso as disposições que não merecem a sua concordância, ou que
entende atribuir-lhes, no que lhe diz respeito, um significado particular, suscetível de
sua aceitação.” (Dinh, Daillier e Pellet)
● É um qualificador do consentimento expressado pelo Estado
● Pode ser formulada tanto no momento da assinatura (consentimento prenunciativo)
quanto no momento da ratificação ou adesão (consentimento definitivo)
● Apenas tratados multilaterais podem ser objeto de reserva
● O próprio tratado pode vedar a formulação de reservas ao seu texto, no todo ou em
parte
● As reservas, mesmo que, a princípio, não vedadas, devem estar em conformidade com
os propósitos, objeto e finalidade do tratado
❖ v. Opinião Consultiva da CIJ sobre Reservas à Convenção para Prevenção e
Punição do Crime de Genocídio
Artigo 22
1. A não ser que o tratado disponha de outra forma, uma reserva pode ser retirada a
qualquer momento, sem que o consentimento do Estado que a aceitou seja necessário
para sua retirada.
2. A não ser que o tratado disponha de outra forma, uma objeção a uma reserva pode
ser retirada a qualquer momento.
b) a retirada de uma objeção a uma reserva só produzirá efeito quando o Estado que
formulou a reserva receber notificação dessa retirada.
-Declaração interpretativa:
● Não está prevista na CVDT
● Declaração unilateral por meio da qual um Estado expõe como entende
(interpreta) uma determinada obrigação constante no tratado
● Tem caráter meramente explicativo
● Somente é possível em tratados multilaterais
● Pode ser feita no momento da assinatura, ratificação ou adesão
● Outros Estados podem aderir a essa declaração interpretativa, hipótese em que
ela passa a ser chamada de acordo interpretativo
-Depois da vigência
Revisão:
● Procedimento de modificação geral do tratado
● Salvo disposição expressa em contrário, demanda unanimidade entre os
Estados contratantes
❖ Caso seja admitida a revisão por maioria, o texto revisado não
será aplicável aos Estados recalcitrantes, aplicando-se o texto
não revisado.
Emenda:
● Procedimento de modificação parcial do tratado
● Pode reduzir, excluir ou acrescentar obrigações ao tratado
● Deve seguir os mesmos procedimentos (nacionais) de conclusão dos tratados
● A emenda valerá para todos os Estados que a propuserem e a aceitarem
Costume superveniente:
● Esta possibilidade não foi incluída no texto final da CVDT
● Contudo, é uma hipótese admitida atualmente
● Condições:
❖ A alteração das circunstâncias deve ser fundamental (i.e., as circunstâncias
alteradas devem ter constituído base essencial do consentimento do Estado a
se vincular ao tratado)
❖ A alteração deve ter por efeito a transformação radical do alcance das
obrigações
● Exceções:
❖ Tratados de limites/fronteiras
❖ Quando o próprio Estado prejudicado provocou a alteração das circunstâncias em
violação a normas de direito internacional (fortuito interno).