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CAPÍTULO 2.

O tripé
Introdução do tripé…

2.1 O espírito científico


Na construção do espírito científico houve uma passagem do pensamento
concreto e imediato para o abstrato e metafórico, o qual eventualmente
contradiz-se diretamente com a experiência primeira. Seja na evolução da
ciência ou na formação do cientista, a primeira tarefa do espírito científico é
tornar geométrica a experiência, para assim então transcender abstratamente
para configurações menos sensíveis.
A fim de expor uma breve e provisória clareza acerca da evolução do espírito
científico, Bachelard distingue três períodos [Bachelard 1996]:
“O primeiro período, que representa o estado pré-científico, compreenderia
tanto a Antiguidade clássica quanto os séculos de renascimento e de novas
buscas, como os séculos XVI, XVII e até XVIII.
O segundo período, que representa o estado científico, em preparação no fim
do século XVIII, se estenderia por todo o século XIX e início do século XX.
Em terceiro lugar, consideramos o ano de 1905 como o início da era do novo
espírito científico, momento em que a Relatividade de Einstein deforma
conceitos primordiais que eram tidos como fixados para sempre.”

Semelhantemente, na formação individual do espírito científico, Bachelard


expõe três estados:
“1° O estado concreto, em que o espírito se entretém com as primeiras
imagens do fenômeno e se apoia numa literatura filosófica que exalta a
Natureza, louvando curiosamente ao mesmo tempo a unidade do mundo e sua
rica diversidade.
2° O estado concreto-abstrato, em que o espírito acrescenta à experiência
física esquemas geométricos e se apoia numa filosofia da simplicidade. O
espírito ainda está numa situação paradoxal: sente-se tanto mais seguro de
sua abstração, quanto mais claramente essa abstração for representada por
uma intuição sensível.
3° O estado abstrato, em que o espírito adota informações voluntariamente
desligadas da experiência imediata e até em polêmica declarada com a
realidade primeira, sempre impura, sempre informe.”

O progresso desses períodos e estados é marcado por dificuldades presentes


na essência do conhecer, são obstáculos epistemológicos. Destarte, são os
conflitos internos, não a fragilidade dos sentidos ou fugacidade dos fenômenos.
A exemplo, a inocência metafísica e a avareza de ruminar os mesmo
conhecimentos geram lentidão no desenvolvimento. Conhecimentos sabidos
cedo demais obstruem o novo, engarrafa num paradigma.
Os obstáculos epistemológicos não apenas são razões de inércia, mas
também de retrocesso. Inclusive, tanto do desenvolvimento histórico da ciência
como na prática da educação. “O conhecimento do real é luz que sempre
projeta algumas sombras”.
Ademais, os períodos e estados são marcados, sobretudo na Física, pelo
papel da Matemática na estruturação do pensamento. No segundo
período/estado a Matemática tem um caráter descritivo, satisfazendo-se com o
“como” fenomenológico. Já no terceiro, tem um caráter formador, sedento do
“porquê” matemático.
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