Você está na página 1de 5

DEPARTAMENTO DE AGRICULTURA

COLHEITA DO CAFÉ: época, planejamento, materiais, tipos de colheita,


importância social e econômica.

Aspectos econômicos e sociais da colheita


A época da colheita é talvez a mais importante do ano, tanto para os
cafeicultores que estarão colhendo os frutos de seu trabalho executado durante todo o
ano , quanto para os colhedores que nessa época conseguem uma maior remuneração.
Sabe-se que o custo da colheita (apenas para a retirada do café da planta) pode chegar a
40%. Assim, nessa época do ano há uma concentração de despesas para o cafeicultor e
conseqüente maior distribuição de renda para os trabalhadores rurais.
Devido a essa oportunidade de melhor remuneração, muitos problemas sociais
são criados nessa época, pois há intensa migração de mão-de-obra de outras regiões e
Estados para as regiões cafeeiras. Famílias inteiras, incluindo crianças que acompanham
seus pais, se deslocam de suas regiões para a colheita do café, com chance de
multiplicar a renda familiar pelo menos por alguns meses. Nesse período do ano, por
incrível que pareça, chega a faltar mão-de-obra no campo, pois o período de colheita
não deve ultrapassar 3 a 4 meses sob pena de se prejudicar a lavoura e sua safra no ano
seguinte.

Materiais utilizados na colheita do café


- Enxada: Usada na arruação (podem ser usados também arruadores mecânicos).
- Escada: Usada para a colheita de lavouras mais altas.
- Pano: Feito de polietileno trançado de cerca de 3 metros de largura por 4 metros de
comprimento. Usado para isolamento do café caído ao chão antes da colheita
propriamente dita, com objetivo de se evitar mistura com cafés fermentados e portanto
melhorar a qualidade do produto final.
- Peneira: Usada por ocasião da abanação (podem também ser usados abanadores
mecânicos).
- Rastelo: É uma espécie de rodo usado para recolher o café caído no chão para
posterior ensacamento e transporte para o terreiro (existem no mercado também
recolhedores mecânicos).
- Latão de medida: É um recipiente de metal (normalmente zinco) com capacidade de
60 litros, graduado para volumes menores internamente. Usado para medir, em litros, o
café colhido na lavoura que será transportado para o terreiro.
- Sacos (normalmente de polietileno trançado): Usados para acondicionar o café na
lavoura até que seja recolhido pela carreta da fazenda. Essa operação deve durar o
mínimo de tempo quanto possível, pois o café acondicionado dessa forma pode sofrer
fermentações indesejadas, que poderão prejudicar a qualidade do produto final.

Etapas da colheita do café


- Arruação tradicional: É a limpeza feita debaixo das plantas, para receber os frutos que
vão caindo até que se atinja o ponto de colheita (maturação da maioria dos frutos), pois
aqueles frutos da primeira florada caem antes, ficando sujeitos a fermentação até que
sejam recolhidos pela “varreção”. Com essa operação esses frutos são resgatados com
mais facilidade.
- Arruação química: É uma forma de manutenção da limpeza da área localizada sob a
projeção da copa dos cafeeiros com o uso de herbicidas. Dessa forma, essa operação
alcança os mesmos objetivos da arruação tradicional, sem porém causar o estresse da
retirada do solo sob as plantas.

Época e duração da colheita


- Ponto de colheita: É o ponto de maturação dos frutos recomendado para se iniciar a
colheita. Recomenda-se, sempre que possível o início da colheita quando a lavoura
apresentar um máximo de 5% de frutos verdes (em grandes fazendas 20%). Porém, é
sabido que em grandes áreas, para que se consiga a colheita total até setembro (quando
normalmente ocorrem as primeiras floradas), inicia-se a colheita propriamente dita com
até 20% de frutos ainda verdes. Os prejuízos causados pela colheita tardia são um maior
depauperamento das plantas (principalmente as mais novas) e o comprometimento da
próxima safra, visto que ao colher os frutos, também flores serão colhidas.
Tipos de colheita:
Após a arruação, enquanto se aguarda o ponto de colheita, os frutos da primeira florada
vão caindo até que se inicie a colheita propriamente dita.
- Derriça no pano: Neste caso inicia-se isolando o café, já caído, com o “pano” e
derriçando-se o café da planta sobre o mesmo para ser em seguida abanado e ensacado e
entregue para ser levado ao terreiro de secagem. Posteriormente, volta-se rastelando e
varrendo o café caído no chão que será também abanado, ensacado e entregue
separadamente para ser levado ao terreiro de secagem, pois possivelmente será de
qualidade inferior.
- Derriça no chão: Neste tipo, invertem-se as operações de colheita para se evitar
a mistura de “café da árvore” com “café do chão”. Assim, primeiro se recolhe o café
caído antes do início da colheita propriamente dita, rastelando e varrendo, depois
abanando e ensacando separadamente para ser levado ao terreiro de secagem. Em
seguida, derriça-se o café “da árvore” no chão limpo e repetem-se as operações de
rastelar e varrer, para em seguida abanar, ensacar e levar ao terreiro de secagem.
- Colheita mecânica: Essa pode ser feita no pano ou no chão, ou ainda ser recolhida pela
própria máquina sem contato com o chão por meio de esteiras recolhedoras. São vários
os tipos e marcas existentes no mercado como tracionadas, automotrizes, agromáticas e
manuais.
- Colheita a dedo (colheita típica da Colômbia): Nas condições de 12 a 15 floradas
anuais, faz-se de 8 a 9 colheitas ao ano, obrigando os cafeicultores dessas regiões a
colherem o café de forma seletiva. Assim, com um balaio amarrado à cintura os
colhedores vão colhendo somente o café no estádio de “cereja” conseguindo por isso
um café com maiores chances de uma melhor qualidade.

Sistemas de Colheita
- Vários são os sistemas de colheita utilizados pelos cafeicultores. Entre eles citamos:
a) Aquele em que os colhedores trabalham de segunda a sexta feira derriçando e
recolhendo o “café do pano” (aquele que ainda permanecia na planta até a
colheita propriamente dita) e no sábado voltam nas áreas colhidas para varrer o
café do chão.
b) Sistema de entrega (ou recebimento) de “ruas” (ou linhas): nesse numera-se as
linhas de café da lavoura para que cada colhedor ou grupo de colhedores receba
determinada linha para ficar sob sua responsabilidade de colheita. O sistema
consiste na fiscalização, pelo fiscal de colheita da fazenda, do trabalho
executado na linha numerada. Assim, pode-se fiscalizar com que cuidado se
está colhendo, se ramo s estão sendo quebrados ou torcidos, se restaram muitos
frutos a serem colhidos, necessitando de “repasse”, ou ainda se a “varreção” foi
bem executada. Por esse sistema, que aliás é o mais utilizado, o colhedor ou
grupo de colhedores somente receberá outra linha para colheita se o fiscal
aprovar o serviço executado na linha anterior.

Preço pago pelo cafeicultor por medida de 60 litros colhida


- O preço pago pelos cafeicultores por medida de 60 litros colhidos varia com a região
(preço maior onde a demanda de mão-de-obra é maior), com o preço da saca de café
no mercado, com a carga pendente da lavoura, com a distância da lavoura da
residência da maioria dos colhedores, com preço pago pelos vizinhos mais
próximos, etc. Porém tem-se mantido uma relação de ganho médio de colhedores
que varia de 1,5 a 2,0 salários mínimos por mês. Parece que essa relação é o
equilíbrio encontrado pelos cafeicultores e colhedores na hora da negociação de
valores. Pois assim se mantém correspondência com outras oportunidades de
trabalho, que embora fixos não passem de 1,0 salários mínimos mensal. Já o
adicional de 0,5 a 1,0 salários mensais, encoraja a pessoas a deixarem seus
empregos (empregadas domésticas, serventes de pedreiro, balconistas, entre outras
profissões) para tentarem um aumento de renda embora temporariamente. Assim
tem sido comum se fazer a seguinte conta:
 1,5 a 2,0 salários mínimos por mês
 +/- 24 dias trabalhados por mês
 Supondo o salário mínimo a US$ 100 : de US$ 150 a US$ 200
mensais, ou seja, de US$ 6,25 a US$ 8,33 por dia trabalhado
 Como o pagamento é feito por medida de 60 litros colhidos, leva-se
em conta o rendimento médio de colheita em consideração
(dependerá da rapidez dos colhedores e da carga pendente da
lavoura). Ex.: média de 5 medidas por colhedor por dia.
 Assim é só dividir o ganho por dia pelo rendimento, o que vai dar de
US$1,25 a US$ 1,66 por medida. Logicamente a proposta do
empregado estará em torno de US$1,66 e a do cafeicultor próximo de
US$ 1,25.

Cuidados a serem tomados durante a colheita do café


- Deve-se buscar a maior precisão possível na confecção da medida (normalmente de
latão), a ser utilizada para aferir a quantidade de café colhido e portanto o valor a ser
pago ao colhedor.
- Fiscalização a fim de se evitar possíveis desvios da produção no trajeto lavoura /
terreiro.
- Exigência de abanação razoável do café colhido e entregue pelo colhedor,
principalmente do café “do chão”, que normalmente vem misturado com mais
impurezas como terra, folhas e pedras.
- Fiscalizar danos causados às plantas durante as operações de colheita, bem como
café remanescente nas plantas após a colheita: nesse momento é muito importante
proibir o uso de varas ou paus para a derriça, bem como o “torcimento de ramos” ou
mesmo a desfolha excessiva, o que poderá comprometer safras futuras.

Obs: Sempre que possível, tentar melhorar as condições de trabalho dos colhedores
como oferecimento de creches, transporte seguro, ou mesmo alimentação suplementar.
Além de ser um ato humanitário, certamente trará benefícios também aos cafeicultores,
que passarão a contar com um maior rendimento da colheita, um número maior de
colhedores interessados em trabalhar em suas propriedades e consequentemente um
menor custo de colheita.

COLHEITA DE CAFEEIROS ATINGIDOS PELA GEADA


A incidência da geada em cafeeiros com carga pendente por provocar sensíveis
danos aos frutos. A extensão destes danos estará na dependência da época em que
ocorrer a geada, em relação ao estádio de maturação dos frutos.
Variedades de maturação mais precoce, como a ‘Bourbon amarelo’, apresentam
vantagens neste aspecto, pois possibilitam a colheita mais cedo, antes da época em que a
geada incide com maior freqüência. Geralmente, o mesmo não ocorre com a ‘Mundo
Novo’ e principalmente com a ‘Catuaí’, que atingem ponto de colheita mais
tardiamente, ficando seus frutos mais sujeitos à ação da geada.
Estando o café com o processo de maturação completo (seco e cereja), sua
qualidade não será prejudicada. Neste caso, deve-se apenas apressar a colheita, para
evitar, principalmente a queda dos frutos.
Havendo desigualdade na maturação, algumas opções podem ser caracterizadas.
Se a planta foi atingida apenas por crestamento ou uma queima superficial da parte
foliar, sem que a maioria das folhas, dos ramos e tronco seja afetada procede-se à
colheita normal como nos anos sem geada. Neste caso, não haveria prejuízo para a
qualidade do fruto, que, não atingido, poderá completar a maturação uma vez que a
planta tem condições de suportar tal encargo. Mesmo assim, é necessário avaliar se o
ganho em qualidade do fruto compensará o prejuízo na planta, o que dependerá da
intensidade de carga e da porcentagem de frutos verdes. Se a carga de frutos for
pequena (indicio de que a próxima será grande) e a porcentagem de frutos verdes
também, é aconselhável proceder à colheita o mais rápido possível, pois, embora
havendo prejuízo na qualidade do fruto, haverá benefício para a planta que disporá de
mais reservas para recuperação das partes atingidas.
Em caso de grande colheita e alta porcentagem de frutos verdes, em que os
prejuízos para a qualidade dos frutos seriam de grande monta, é conveniente aguardar
que se complete a maturação, embora com algum sacrifício fisiológico para as plantas.
O fato de estar pendente uma grande produção, significa que esta será baixa no próximo
ano, com exceção, evidentemente das lavouras novas. Nestas em qualquer situação, o
café deve ser colhido de imediato, para evitar prejuízo no desenvolvimento das plantas,
o que é bastante importante para a próxima colheita.
Quando a planta afetada pela geada tem o seu tronco atingido, deve-se efetuar a
colheita o mais rápido possível, independente de carga e porcentagem de maturação.
Haverá, certamente, perda no tocante à qualidade e rendimento do produto. Mas, é mais
importante que todas as reservas contidas no caule e raízes da planta sejam utilizadas
para sua recuperação. Os prejuízos causados na qualidade do produto, em função da
colheita precoce, serão compensados pela recuperação mais eficiente da planta. O que
pode ser feito em benefício da qualidade, é não misturar o café colhido antes da geada
ao colhido depois de a planta ser atingida por ela. Outra opção será após a geada, colher
em separado a cereja dos demais frutos, o que, no entanto, tornará a colheita mais difícil
e onerosa. A execução desta separação fica na dependência da porcentagem de cereja e
no interesse do cafeicultor em obter frações ou lotes qualitativamente distintos.
Se for considerada apenas a fonte de produção, que é a planta, qualquer que seja
a situação, a execução imediata da colheita possibilitará maior eficiência na recuperação
dos cafeeiros.
EFEITOS DA GEADA NA QUALIDADE DO CAFÉ
Vários constituintes químicos do grão-cru influenciam a qualidade da bebida do
café, entre eles ressaltam-se o pH, Brix, teor de sólidos totais, açúcares redutores e não
redutores, compostos fenólicos, lipídeos, proteína, aminoácidos, etc. O teor destes
constituintes varia com as cultivares, condições de solo e de clima, método de cultivo,
estádio de maturação do grão no momento da colheita, tipo de secagem e do
processamento deles.
Em todas as circunstâncias, para que o grão tenha boa qualidade, é necessário
que ele complete sua maturação, isto é, seus constituintes químicos devem atingir níveis
adequados e coincidir com as condições propícias à colheita. É importante também que
sejam colhidos grãos com o máximo possível de uniformidade de maturação. A
presença de grãos verdes e ardidos, resultantes de frutos colhidos prematuramente,
baixaria muito a qualidade da bebida, uma vez que os cafés com estes defeitos não tem
níveis suficientes de constituintes precursores dos compostos aromáticos voláteis,
responsáveis pelas suas características sensoriais.
A geada afeta os frutos verdes de café que ainda estão nas árvores, e salienta os
defeitos denominados verdes, ardidos ou pretos-verdes. Estes defeitos são comumente
conhecidos como os mais prejudiciais à qualidade do café processado. Em cafeeiros
geados, o percentual de grãos classificados como defeitos verdes prejudicará o sabor da
bebida, em que as alterações percentuais se processam superiores a 5%.
Diretamente a geada provoca os defeitos verdes, ardidos ou pretos-verdes. De
modo indireto, prejudica a qualidade da bebida. Tudo isso porque, normalmente, após a
geada, a colheita é feita às pressas sem a separação de frutos verdes, maduros e secos.
Em conseqüência desta desuniformidade, a bebida será afetada, independente dos
cuidados havidos na secagem e no beneficiamento do café.

ANTÔNIO NAZARENO GUIMARÃES MENDES


RUBENS JOSÉ GUIMARÃES
Professores - DAG/UFLA

Você também pode gostar