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CADERNOS DE APOIO AO ENSINO


DA TECNOLOGIA DA CONSTRUÇÃO
E DA REABILITAÇÃO DE ANOMALIAS
NÃO ESTRUTURAIS EM EDIFÍCIOS

ANOMALIAS EM COBERTURAS
Coordenação Editorial de José António Raimundo Mendes da Silva
Departamento de Engenharia Civil | Faculdade de Ciências e Tecnologia | 2009
.
10
CADERNOS DE APOIO AO ENSINO
DA TECNOLOGIA DA CONSTRUÇÃO
E DA REABILITAÇÃO DE ANOMALIAS
NÃO ESTRUTURAIS EM EDIFÍCIOS
J. A. R. Mendes da Silva | Vitor Abrantes | Romeu Vicente
Pedro Gonçalves | Marta Silva | Isabel Torres | Carla Maurício

ANOMALIAS EM COBERTURAS
Coordenação Editorial de José António Raimundo Mendes da Silva
Departamento de Engenharia Civil | Faculdade de Ciências e Tecnologia | 2009
Anomalias em Coberturas.

Cadernos de apoio ao estudo da Tecnologia da Construção e da Reabilitação


de Anomalias não Estruturais em Edifícios é uma das faces do projecto
pedagógico que venho ensaiando e amadurecendo desde a conclusão do
Doutoramento em 1999,mas que só quase dez anos mais tarde ganha expressão
formal, reunindo sob o mesmo título, com “ar de família”, alguns dos materiais de
apoio ao ensino produzidos durante este período.

Ao longo destes anos, a leccionação de matérias no domínio da Tecnologia da


Construção e da Reabilitação não Estrutural nas Licenciaturas de Engenharia Civil e
Arquitectura na Universidade de Coimbra – e ainda nos diversos cursos de mestrado
e pós-graduação – tem sido apoiada com a produção de materiais próprios, com
resultados da investigação, com muitos casos de estudo resultantes, quer de
colaborações com o exterior, quer de iniciativa própria com objectivos pedagógicos e,
também, com o resultado do melhor trabalho produzido pelos alunos dos cursos mais
avançados, devidamente enquadrado e orientado. A diversidade de assuntos nestes
domínios e o aparecimento de diversos manuais nos últimos anos aconselham a não
enveredar pela criação de um texto único, com a pretensão de síntese global, mas
sim de textos direccionados para sub-temas específicos, que reúnam, eles próprios,
várias perspectivas e abordagens.

Estes cadernos são, assim, um misto de pós-publicação e pré-publicação porque


reúnem, sob uma nova capa e uma nova forma, materiais já anteriormente
publicados, mas agora organizados para um público em formação, e, noutros casos,
compilam, organizam e disponibilizam materiais até agora dispersos, criando a
eventual expectativa da sua divulgação futura mais alargada, eventualmente sob a
forma de livro.

Os limites deste projecto são apenas os da capacidade de produção de materiais


pedagógicos nestas áreas e do interesse que vierem suscitar. Serão sempre aceites
novos formatos e conteúdos e novos colaboradores e co-autores.

O arranque, em finais de 2008, dá-se com 3 títulos que são resultado de trabalho de
2003 e 2004 com os alunos de 5º ano da licenciatura em Engenharia Civil
“Levantamento de defeitos e definição de estratégias de reabilitação da envolvente
dos edifícios do Pólo 2 da Universidade de Coimbra”, de ferramentas de motivação
produzidas em 2005-06 para as aulas de Tecnologia da Construção sob a
designação de “Casos da Semana” e do guião de apoio a diversos cursos de curta
duração e palestras em 2007 sobre “12 Erros na Construção de Fachadas”, que já foi
objecto de publicação em capítulo de livro e que agora é revisto e alargado, de forma
breve, à realidade das coberturas.

É firme intenção sistematizar e divulgar também por esta via algumas das mais
relevantes apresentações em formato “Powerpoint” elaboradas como suporte às
palestras realizadas, bem como materiais de avaliação comentados, de forma a que
possam constituir ferramentas de aprendizagem.

Prof. Doutor José A. Raimundo Mendes da Silva


Departamento de Engenharia Civil
Faculdade de Ciências e Tecnologia
Universidade de Coimbra

2
Preâmbulo

PREÂMBULO

A definição das linhas orientadoras de mais um texto pedagógico sobre as


anomalias das coberturas confronta-se, desde logo, com a existência de
diversas publicações específicas e de grande mérito no contexto nacional e
internacional que, por si só, constituem manuais de referência e que não se
podem ignorar, nem se justifica repetir. Para os tipos de cobertura mais
comuns em Portugal há publicações incontornáveis: no domínio das
coberturas planas devem referir-se, por exemplo, as diversas publicações do
LNEC e para as coberturas de telha cerâmica o Manual editado pelo CTCV,
em que tivemos a oportunidade de participar da forma mais activa.

O primeiro passo num texto pedagógico sobre as anomalias das coberturas


consiste na recomendação de leitura desses e de outros documentos de
referência, começando, naturalmente pelas publicações relativas à tecnologia
e à física das construções, com prévio estudo dos materiais, e, depois, o
estudo das anomalias, suas causas, modos de prevenção e reparação.

São, no entanto, muitas as temáticas específicas que interessa abordar e


sobre as quais não é demais promover a reflexão e o debate. Assim se faz
nesta brochura, para a qual se elegeram, apenas, trabalhos de investigação
ou casos de estudo em que estivemos directa ou indirectamente envolvidos.
A selecção é sempre difícil e, naturalmente, poderá haver lugar a outras
publicações complementares que valorizem, por exemplo, os aspectos do
comportamento térmico, da segurança contra incêndios, ou mesmo do
dimensionamento, que aqui não foram directamente abordados.

Para as coberturas planas, apresenta-se uma comunicação a um congresso


(que se espera venha a dar origem a uma futura tese sobre as anomalias e
os custos de reparação associados) e um exemplo de caso de estudo, com a
reprodução, em versão académica, de um relatório de inspecção que, como
sempre acontece nestes casos, não deve ser encarado como matéria de
facto, nem juízo de valor. Aqui, é devido um agradecimento a todos os
envolvidos no processo pela preciosa colaboração involuntária.

Nas coberturas inclinadas, o leque é mais vasto, desde logo pela referência
ao “Manual de Aplicação de Telhas Cerâmicas”, pela sistematização dos
defeitos deste tipo de telhados em artigo científico e pela apresentação
exaustiva da caracterização das coberturas da Baixa de Coimbra. Termina-se
com a referência a um recente trabalho de mestrado que orientámos, sobre
as anomalias das coberturas de zinco, uma solução emergente na
arquitectura nacional.

3
Anomalias em Coberturas.

Títulos anteriores
1 Defeitos na envolvente dos edifícios do Pólo 2
2 O caso da semana
3 12 erros na construção de fachadas
4 Observação e registo de defeitos de construção
5 Estratégias e técnicas de reparação de fissuras em alvenarias
6 Grampeamento pós-construção em paredes duplas de alvenaria
e reforço de cunhais
7 Anomalias de revestimentos de fachada e soluções de
reabilitação
8 Isolamento térmico exterior de fachadas (sistema ETICS)
9 Anomalias em revestimentos de piso

Coordenação editorial
J. A. R. Mendes da Silva | Prof. Auxiliar DEC-FCTUC

Autores (vide cada capítulo/secção)


J. A. R. Mendes da Silva | Prof. Auxiliar DEC-FCTUC
Vitor Abrantes | Prof. Catedrático FEUP
Romeu Vicente | Prof. Auxiliar DEC-UA
Pedro Gonçalves | Eng.º Civil (Mestrando FCTUC)
Marta Silva | Engª Técnica Civil
Isabel Torres | Prof.ª Auxiliar DEC-FCTUC
Carla Maurício | Arquitecta – Mestre em Reabilitação do Espaço Construído FCTUC

Colaboradores
Cátia Marques | Arquitecta
Victor Conceição | Eng.º Civil

Capa
Luísa Silva

Departamento de Engenharia Civil


Faculdade de Ciências e Tecnologia
Universidade de Coimbra
2009

4
Índice

ÍNDICE
Preâmbulo
Ficha Técnica
Índice

1 DEFEITOS DE CONCEPÇÃO E EXECUÇÃO DE COBERTURAS DE


TELHA CERÂMICA. CASOS DE ESTUDO
J. A. R. Mendes da Silva, Vitor Abrantes, Romeu Vicente
A partir de: SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de
concepção execução de coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional
sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003
(inclui apresentação “Powerpoint” correspondente)

2 PATOLOGIAS CORRENTES EM COBERTURAS PLANAS EM


PORTUGAL
J. A. R. Mendes da Silva, Pedro Gonçalves
A partir de: SILVA, J. Mendes; GONÇALVES, Pedro – “Patologias frequentes em coberturas
planas em Portugal”. Congresso Nacional da Construção, IST, Lisboa, Dezembro 2001
(inclui apresentação “Powerpoint” correspondente)

3 CARACTERIZAÇÃO E ANOMALIAS DAS COBERTURAS NA


BAIXA DE COIMBRA
Romeu Vicente, J. A. R. Mendes da Silva
A partir de: VICENTE, Romeu - “Estratégias e metodologias de observação, registo e
diagnóstico de anomalias em edifícios - Contribuição para uma abordagem no âmbito da
reabilitação urbana. Avaliação da vulnerabilidade e do risco sísmico do edificado da Baixa de
Coimbra.", Tese de Doutoramento, Universidade de Aveiro, Aveiro Julho 2008.

4 FICHAS DE PATOLOGIA
J. A. R. Mendes da Silva

ANEXOS

I “MANUAL DE APLICAÇÃO DE TELHAS CERÂMICAS”


(apresentação)
J. A. R. Mendes da Silva, Marta Silva

II EXEMPLO DE RELATÓRIO DE PATOLOGIA


J. A. R. Mendes da Silva, Vitor Abrantes

III “COBERTURAS DE ZINCO. ANOMALIAS E SOLUÇÕES DE


REABILITAÇÃO” (apresentação)
Carla Maurício, J. A. R. Mendes da Silva (*), Isabel Torres (*)
A partir de: MAURÍCIO, Carla - “Coberturas de zinco. Anomalias e soluções de reabilitação”,
Tese de Mestrado em Reabilitação do Espaço Construído, DEC – FCTUC, Coimbra, Março de
2008 (orientação (*)).

5
DEFEITOS DE CONCEPÇÃO
1
E EXECUÇÃO EM COBERTURAS
DE TELHA CERÂMICA

Casos de Estudo

J. A. R. Mendes da Silva, Vitor Abrantes, Romeu Vicente

A partir de:
SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de concepção execução de coberturas
de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios
(PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003
SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de concepção execução de
coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

DEFEITOS DE CONCEPÇÃO E EXECUÇÃO DE


COBERTURAS DE TELHA CERÂMICA
Casos de Estudo
J. A. R. Mendes da Silva*
Correio electrónico: raimundo@dec.uc.pt

Vitor Abrantes†
Correio electrónico: abrantes@fe.up.pt

Romeu S. Vicente‡
Correio electrónico: romvic@civil.ua.pt

Resumo
O presente artigo apresenta diversos casos de obra em que não foram sal-
vaguardadas elementares preocupações em termos de concepção e execução
de coberturas de telha cerâmica, comentando as consequências desses defei-
tos, sublinhando as medidas que deveriam ter sido tomadas para que tal não
tivesse sucedido e, ainda, as estratégias de reabilitação a adoptar. Apresenta,
também, de forma mais sucinta, algumas situações de patologia decorrentes
da falta de qualidade das telhas ou materiais complementares e da falta de
manutenção das coberturas.

Palavras-chave: Coberturas, telha cerâmica, patologia, reabilitação.

1 Introdução
As coberturas são um elemento construtivo fundamental na protecção dos
edifícios contra a chuva, pelo que os seus defeitos representam sempre um ris-
co de patologia para o edifício.

*
Prof. Auxiliar do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnol o-
gia da Universidade de Coimbra, Laboratório de Construções.

Prof. Catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Secção de Con s-
truções.

Assistente da Secção autónoma de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro.

9
Anomalias em Coberturas

Até meados do século XX as coberturas inclinadas de telha cerâmica foram


dominantes em Portugal para todo o tipo de edifícios. Apesar de nas últimas
décadas se ter assistido a um aumento muito significativo na utilização das
coberturas planas – nas suas mais diversas variantes – com total domínio no
caso dos edifícios altos e das grandes superfícies, ainda subsiste a construção
intensa de coberturas inclinadas de telha cerâmica, em particular para edifícios
de pequeno e médio porte, não só por questões relacionadas com a tradição
arquitectónica e construtiva, como também pela baixa tecnologia exigida para
a sua execução, baixo custo, versatilidade, facilidade de manutenção e expec-
tativa de durabilidade. Não pode considerar-se alheia a esta realidade a ocor-
rência frequente de casos de patologia grave das coberturas planas, com sign i-
ficativas dificuldades de diagnóstico e reparação.
Na construção de coberturas inclinadas em telha cerâmica pode fazer-se
uso de um complexo sistema de peças cerâmicas, fabricadas com o objectivo
de satisfazer as exigências dos diversos pontos singulares, e ainda de acessó-
rios complementares não cerâmicos destinados a melhorar as condições de
estabilidade e estanquidade.
O mercado nacional dispõe, quer de fábricas tradicionais, quer de fábricas
recentes com tecnologia de ponta, e disponibiliza vários tipos de telhas com
diversas geometrias, texturas e cor. Estes sistemas de cobertura só são eficazes
e duráveis se for garantido o rigor e a qualidade da concepção, dos materiais,
da execução e da manutenção.

2 Principais Exigências das Coberturas Inclinadas


Na concepção de uma cobertura em telha cerâmica há que definir exigên-
cias ao nível dos materiais constituintes – telha cerâmica, argamassa, grampos,
materiais de suporte e fixação, acessórios, etc.- e exigências ao nível do fun-
cionamento global do telhado e da cobertura.
Os diversos materiais utilizados têm sido progressivamente objecto de
normalização nacional e europeia (cuja aplicação é dificultada, por vezes, por
um certo carácter regional que estes materiais sempre apresentam) e muitas
das produções nacionais de telha estão já certificadas.
Para o funcionamento da cobertura no seu conjunto as principais exigê n-
cias funcionais são:
— Estanquidade água;
— Susceptibilidade de condensações;
— Comportamento sob acção do gelo;
— Permeabilidade ao ar;
— Isolamento Térmico;
— Comportamento mecânico;
— Comportamento sob acção do vento;

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SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de concepção execução de
coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

— Estanquidade aos materiais em suspensão no ar;


— Isolamento sonoro;
— Exigências geométricas e de estabilidade dimensional;
— Uniformidade de aspecto;
— Reacção ao fogo;
— Resistência aos agentes químicos;
— Economia, durabilidade e facilidade de manutenção e reparação.
De entre estas exigências assumem um papel fundamental o comportame n-
to mecânico, a estanquidade à água, o comportamento térmico e a durabilida-
de, entre as quais nem sempre é fácil estabelecer uma hierarquia em termos de
importância. No que diz respeito à contribuição da telha cerâmica para o
desempenho da cobertura, é iniludível que a estanquidade à água e a estabili-
dade sob a acção do vento e da gravidade ou de outras eventuais acções mec â-
nicas são os aspectos mais relevantes.

3 Defeitos das Coberturas de Telha Cerâmica


As consequências mais temíveis resultantes de anomalias dos telhados de
telha cerâmica, quer individualmente, quer associados entre si, são as seguin-
tes:
— Infiltrações (perda de estanquidade à água);
— Arrancamento sob acção do vento;
— Deslizamento e queda;
— Degradação do aspecto;
— Degradação precoce do material.
Os diversos defeitos conhecidos acabam sempre por ter como resultado
uma das consequências atrás referidas. Naturalmente, algumas consequências
são, elas próprias, causas de nova degradação ou disfunção.
Na Tabela 1 identificam-se, com maior detalhe, eventuais defeitos das
coberturas, associando cada um deles à sua origem mais provável ou significa-
tiva: concepção, execução, serviço ou qualidade dos materiais. Como adiante
se discute, existe uma grande interdependência entre estas quatro origens.
Muitos dos defeitos podem ser associados, em simultâneo, às fases de concep-
ção e de execução, nomeadamente os que resultam da omissão de pormenores
em projecto. Na realidade são defeitos de concepção, em sentido lato, mas
poderiam, eventualmente, ter sido supridos por uma execução cuidada e crite-
riosa.
Consideram-se defeitos em serviço, que englobam os defeitos de utiliza-
ção, aqueles que se traduzem em alteração do estado da cobertura durante a
sua vida útil, sem relação causal evidente com as fases de concepção e exec u-
ção. No limite, poderíamos sempre dizer que essas fases anteriores poderiam
ter prevenido as situações de uso, potencialmente nocivas.

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Anomalias em Coberturas

Tabela 1: Principais defeitos das coberturas de telha cerâmica e sua origem.

DEFEITOS ORIGEM
concepção execução materiais uso
 Geometria incompatível com o sistema (cobertura
(1)
de telha cerâmica)
 Falta de pormenorização de pontos singulares
(1)
 Falta de especificações técnicas para materiais e
(1)
execução
 Falta de resistência, contraventamento ou rigidez
(1) (2) (3)
do suporte
 Inclinação excessiva ou insuficiente da cobertura
(1)
 Remates inadequados contra elementos construti-
(2) (1)
vos emergentes
 Remates ou fixações inadequadas em bordos
(2) (1)
livres
 Incumprimento do projecto
(2)
 Encaixe das telhas incorrecto
(1) (2)
 Sobreposição das telhas por excesso ou por defeito
(1)
 Utilização inadequada de acessórios cerâmicos
(2) (1)
 Uso inadequado ou falta de qualidade de acessó-
(1)
rios não cerâmicos
 Desalinhamento das fiadas de telhas
(1)
 Aplicação de argamassa em excesso (cumeeiras e
(1)
rincões)
 Fracturas da telha, na capa, no canal, e nas nervu-
(3) (2) (1)
ras, rebordos e encaixes
 Acumulação de musgos e detritos
(1)
 Drenagem insuficiente (fraca inclinação e secção
(1)
de caleiras)
 Descasque por acção do gelo
(2) (1)
 Deslocamento ou escorregamento das telhas
(1) (2)
 Falta de ventilação da face inferior das telhas
(2) (1)
 Colocação incorrecta ou ausência da barreira pára-
(1) (2)
vapor
 Colocação incorrecta do isolamento térmico
(2) (1)
 Degradação precoce dos materiais
(1) (2)
 Diferenças de tonalidade
(1)
(1), (2), (3) - Ordenação da maior para a menor probabilidade de origem do defeito.

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SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de concepção execução de
coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

4 Exemplos Comentados de Defeitos das Coberturas


de Telha Cerâmica (Casos de Estudo)

4.1 Enquadramento
São inúmeros os exemplos reais de defeitos em todos os tipos de telhados,
alguns dos quais facilmente evitáveis com pequenas precauções nas diversas
fases do processo construtivo. Não é intenção desta comunicação ilustrar todos
os defeitos identificados na Tabela 1. Deste modo, seleccionaram-se, a título
de exemplo, quatro grupos de situações de patologia:
— Degradações frequentes em telhados de edifícios históricos;
— Geometria inadequada ao sistema de cobertura em telha cerâmica;
— Pontos singulares mal concebidos ou mal executados;
— Deficiência de apoio de alvenaria e elementos pré-fabricados, numa
cobertura corrente de telha cerâmica (caso de estudo).
Os grupos de defeitos apresentados não têm, por agora, fundamentação
estatística conhecida em Portugal.

4.2 Degradações frequentes em telhados de edifícios históricos


A designação usada em título (―edifícios históricos‖) é vaga e pouco cor-
recta do ponto de vista formal, mas permite agrupar um vasto conjunto de edi-
fícios que têm em comum, com frequência, diversas características: valor
patrimonial elevado, revestimento em telha canudo (com canal e capa distintos
e sem nervuras de encaixe) e reduzidas acções de manutenção.
Os defeitos mais comuns a estas coberturas são os seguintes: degradação
das estruturas de madeira, com deformações progressivas significativas e ap o-
drecimento de elementos da estrutura primária (asnas e madres) e da estrutura
secundária (varas e ripas), fractura de telhas (face à sua natural degradação
com o tempo e à circulação de pessoas para acções de manutenção), acumul a-
ção de lixo e vegetação e deslocamento (ou deslizamento) de telhas sob a
acção do vento e sob acção da gravidade (em particular nas coberturas mais
inclinadas). As infiltrações são frequentes.
A reabilitação destas coberturas dificilmente pode ser parcial e implica, em
geral, o levantamento global do telhado, reparação, reforço ou substituição dos
elementos estruturais (incluindo tratamentos de preservação das madeiras),
substituição e realinhamento da estrutura secundária de apoio, colocação de
subtelha, limpeza e escolha das telhas a reutilizar, fabrico de telhas para sub s-
tituição parcial e recolocação do telhado com reconstrução de todos os pontos
singulares (beirais, cumeeiras, rufos, etc.).

13
Anomalias em Coberturas

Deformação exces-
siva ou ruína par-
cial da estrutura de
apoio e seu efeito
sobre o telhado.

Telhado sem con-


servação ou limpe-
za, com beirais
deteriorados e ine-
ficazes.

Pormenor de tran-
sição entre águas
consecutivas com
soluções de recur-
so, muito degrada-
das e com total
ineficácia.

Telhado muito
inclinado argamas-
sado e com gram-
pos, submetido a
uma reparação
local da pior quali-
dade.

Degradação da
telha canudo (capa
e caleira) e falta de
limpeza e manu-
tenção.

Figura 1: Ilustração de defeitos em coberturas de edifícios históricos.

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SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de concepção execução de
coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

A reabilitação destas coberturas encontra dificuldades frequentes, que são


agravadas nas situações de reparação parcial: dificuldade em realinhar inte-
gralmente a estrutura de apoio face às deformações acumuladas (que muitas
vezes são inócuas do ponto de vista da segurança estrutural), dificuldade em
remover e substituir argamassas de fixação (ou grampos metálicos) de capas,
caleiras e cumeeiras sem degradação da telha, dificuldade de limpeza (escova-
gem) sem fragilização das telhas; dificuldade em conciliar a cor e estereotomia
do telhado com a introdução de lotes de telha nova e, ainda, dificuldade em
fabricar telha com dimensões e geometria compatíveis com as existentes.
Na Figura 1, apresentam-se algumas fotografias de coberturas de edifícios
com carácter histórico, que ilustram algumas destas situações. As fotografias
são acompanhadas de uma breve legenda-comentário que não abrange, natu-
ralmente, a explicação de todos os fenómenos que lhe estão subjacentes.

4.3 Geometria inadequada ao sistema de cobertura em telha


cerâmica
As coberturas de telha cerâmica têm uma grande versatilidade, como se
tem demonstrado ao longo dos anos. No entanto, também existem limitações
que, por vezes, podem ser ultrapassadas com recursos a novos materiais com-
plementares, cuja utilização deve ser criteriosa. Algumas soluções geométricas
são, no entanto favoráveis à utilização das soluções correntes de telha cerâmi-
ca, nomeadamente com os materiais e tecnologias correntes em Portugal. Estão
nestas condições coberturas de baixa inclinação ou excessivamente inclinadas,
coberturas sobre corpos redondos ou com planos de apoio não plano, cobertu-
ras com muitos recortes e pequeno desenvolvimento, em termos de área, de
cada água parcial. Na Figura 2, ilustram-se algumas destas situações.

4.4 Pontos singulares mal concebidos ou mal executados


Os pontos singulares das coberturas de telha cerâmica são geralmente
omissos no projecto e, em obra, são resolvidos à custa da maior ou menor
experiência e habilidade do operário. É, pois, facilmente explicável que sejam
os pontos singulares, as principais fontes de infiltração das coberturas. A
bibliografia da especialidade contempla já informação detalhada para os pon-
tos singulares das coberturas, pelo que se considere urgente que a informação
seja divulgada, de forma criteriosa, aos vários agentes do processo construtivo.
Na Figura 3 apresentam-se fotografias de diversos pontos singulares mal exe-
cutados ou ineficazes e ainda de alguns defeitos em zona corrente.

15
Anomalias em Coberturas

Telhado redondo e
telhado muito
inclinado

Pequenas águas,
pouco inclinadas,
com muitos recor-
tes de difícil exe-
cução com acessó-
rios adequados

Figura 2: Ilustração de geometrias não adequada às soluções de telhado tr adicionais.

Remate lateral ins-


tável, com meia
telha, e conflito
entre rufo e
cumeeira baixa

Cumeeira total-
mente desalinhada
e cumeeira com
excesso de arga-
massa.

Fiada desalinhada
e telha assente
directamente sobre
o isolante térmico,
sem possibilidade
de ventilação.

Figura 3: Ilustração de defeitos em pontos singulares e zona corrente.

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SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de concepção execução de
coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

4.5 Deficiência de apoio de alvenaria , numa cobertura corren-


te de telha cerâmica (caso de estudo)
O apoio das coberturas inclinadas sofreu grandes transformações nos últi-
mos anos, com particular relevo para adopção crescente de suporte contínuos
em betão armado. Todavia, a utilização de suportes descontínuos – que se
demonstra muito interessante do ponto de vista económico e de conforto tér-
mico em desvãos não utilizados, não tem encontrado soluções construtivas
consensuais com o desaparecimento progressivo da madeira e a sua substitu i-
ção por outros materiais. O exemplo apresentado na Figura 4 demonstra que,
com os novos materiais, em princípio menos vulneráveis, nem sempre se adop-
tam soluções eficazes, seguras e com elevada durabilidade.

Aspecto exterior
do telhado e estru-
tura de apoio em
alvenaria e perfis
de betão.

Apoio corrente das


varas sobre as
paredes de alvena-
ria e apoio instável
sobre tijolo não
travado.

Deslocamento de
ripa, com perda do
apoio da telha e
escoramento de
recurso das pare-
des.

Figura 4: Aspecto de estrutura de apoio em alvenaria, sem condições de est abilidade.

A estrutura principal da cobertura, com duas águas, é constituída por pare-


des longitudinais de alvenaria que não têm qualquer travamento em grande
parte do seu comprimento. Não é possível considerar, do ponto de vista formal,

17
Anomalias em Coberturas

que esteja garantida a estabilidade destas paredes, razão pela qual se procedeu
ao seu escoramento, uma vez que a medida recomendável seria o seu contra-
ventamento com paredes transversais, o que não é possível, face à existência
de condutas de ventilação longitudinais sobre a laje de esteira.
O apoio das varas nestas paredes de alvenaria provoca tensões localizadas
muito elevadas que conduziram, em muitos casos, à fissuração do tijolo, que
chega a atingir toda a parede.
A amarração das varas às paredes que as suportam é muito deficiente, o
pode provocar deslizamentos, impulsos excessivos e o desalinhamento pro-
gressivo do telhado. Algumas paredes de alvenaria acabaram por fissurar ou
ser parcialmente derrubadas por acção desses impulsos.
Algumas ripas não estão devidamente alinhadas ou estão deficientemente
fixadas às varas, deslocando-se – com eventual risco de queda – sob qualquer
pequena acção (por exemplo, ao levantar e recolocar uma telha). As ripas não
são contínuas e têm comprimento igual à distância entre varas, o que dificulta
a sua fixação e alinhamento.

5 Nota Final
As coberturas inclinadas de telha cerâmica em Portugal são um elemento
construtivo corrente, com grande capacidade de resposta às exigências funci o-
nais que lhe são aplicáveis, mas apresentam, actualmente, graves defeitos, com
origem, sobretudo, na deficiente concepção e execução.
As explicações para este fenómeno não são evidentes, face ao carácter tr a-
dicional da solução, à informação técnica disponível e à evolução positiva do
processo de certificação das telhas.
A ausência ou insuficiência de projecto, a reduzida formação específica da
mão de obra, a adopção de novos materiais complementares, com desconhec i-
mento do seu comportamento e princípios de utilização e a desadequação da
geometria de algumas coberturas ao sistema em análise, poderão constituir
causas principais que urge combater. Os processos de manutenção periódica e
hierarquizada das coberturas, tal como dos restantes elementos construtivos
dos edifícios, constituem a ferramenta adicional e imprescindível para dimi-
nuir as disfunções que actualmente se verificam.

6 Bibliografia
[1] APPIC, CTCV e IC (FEUP). Manual de Aplicação de Telhas Cerâmicas.
Associação Portuguesa de Industriais de Cerâmica de Construção, Coim-
bra, 1998.
[2] LNEC. Coberturas de edifícios. Curso de Formação Profissional - CPP
516 – Lisboa: LNEC, 1976.

18
SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de concepção execução de
coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

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Anomalias em Coberturas

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SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de concepção execução de
coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

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coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

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coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

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coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

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coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

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SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de concepção execução de
coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

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SILVA, J. Mendes; ABRANTES, Vitor; VICENTE, Romeu S. – “Defeitos de concepção execução de
coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

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coberturas de telha cerâmica - casos de estudo”. 1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação
de Edifícios (PATORREB-2003), FEUP, Porto, 18-19 Março 2003

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Anomalias em Coberturas

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PATOLOGIAS CORRENTES EM
2
COBERTURAS PLANAS EM
PORTUGAL

J. A. R. Mendes da Silva, Pedro Gonçalves

A partir de:
SILVA, J. Mendes; GONÇALVES, Pedro – “Patologias frequentes em coberturas planas em
Portugal”. Congresso Nacional da Construção, IST, Lisboa, Dezembro 2001
SILVA, J. Mendes; GONÇALVES, Pedro – “Patologias frequentes em coberturas planas em Portugal”.
Congresso Nacional da Construção, IST, Lisboa, Dezembro 2001

PATOLOGIAS CORRENTES
EM COBERTURAS PLANAS EM PORTUGAL

J. MENDES DA SILVA PEDRO A. GONÇALVES


Eng. Civil, Prof. Auxiliar Eng.º Civil
Dep. Eng. Civil Mestrando do Dep. Eng. Civil
Faculdade de Ciências e Tecnologia Faculdade de Ciências e Tecnologia
da Universidade de Coimbra da Universidade de Coimbra

SUMÁRIO

No presente artigo, recordam-se e sistematizam-se as exigências básicas de concepção e execução das


coberturas planas e identificam-se os principais defeitos observados. Tendo como base a análise de mais de uma
centena de casos de obra, analisam-se as causas dos defeitos mais frequentes e apresentam-se exemplos de
fichas de diagnóstico e reabilitação.

1. INTRODUÇÃO

As coberturas planas têm tido, ao longo dos últimos anos, uma significativa aplicação em Portugal, seguindo a
evolução das correntes arquitectónicas e usufruindo do aparecimento de novos materiais de impermeabilização
e da melhoria de desempenho dos existentes.

O projecto das coberturas planas é, frequentemente, incipiente e não contempla toda a complexidade de
exigências funcionais destas coberturas, nem prevê ou descreve todos os materiais envolvidos, nem as soluções
construtivas particulares e localizadas. Além da qualidade do projecto, as coberturas planas exigem adequadas
técnicas de execução e rigorosa preparação da mão-de-obra, que nem sempre se atingem. Deste modo, são
recorrentes os defeitos das coberturas planas em Portugal, que surgem agravados pela ausência de legislação
técnica específica e pelo reduzido impacto da homologação e certificação. As actuais acções de reabilitação das
coberturas planas têm custos anuais que representam uma parcela elevada do valor da inicial dessas coberturas.

39
Anomalias em Coberturas

2. SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE COBERTURAS PLANAS.

As coberturas em terraço – também designadas por coberturas planas, embora na realidade devam apresentar
inclinações desde 1 a 2% até 8 a 15%, consoante os países e a sua legislação específica [1, 2] - podem
apresentar uma grande diversidade de camadas e suas combinações, que nas situações actuais mais correntes se
sobrepõem pela seguinte ordem: estrutura resistente, camada de forma, camada de difusão de vapor de água,
barreira pára-vapor, revestimento impermeabilizante, isolamento térmico, camada de dessolidarização,
protecção do revestimento impermeabilizante e acabamento final.

Cada uma destas camadas desempenha funções específicas, num sistema cujo funcionamento é conjunto e
depende, não apenas das características de cada camada, mas também da sua ordem relativa de colocação, da
sua compatibilidade e, de modo significativo, das soluções construtivas adoptadas para os pontos singulares. De
entre todas as camadas, assume particular destaque o revestimento impermeabilizante porque é ele o garante
principal da estanquidade da cobertura, que constitui a exigência funcional mais reclamada, não obstante o
relevo de diversas outras, consoante a função do edifício.

Revestimentos tradicionais são aqueles, em relação aos quais, existe uma prática consolidada de utilização e
cujas características e comportamento são suficientemente conhecidos, estando os restantes sujeitos a
exigências de homologação previstas pelo art.º 17º do RGEU [1]. Face à actual evolução das soluções de
impermeabilização de coberturas planas, considera-se que a maior parte deste tipo de soluções ainda ser
considerada como tradicional.

Recorda-se que os revestimentos de impermeabilização podem ser usados em sistemas “monocapa” ou


“multicapa”, em que, neste último, por oposição ao primeiro, a impermeabilização é obtida por duas ou mais
membranas sobrepostas, aderentes entre si e com juntas desencontradas. O conjunto pode ser aderente ao
suporte, semi-aderente, independente, fixado mecanicamente ou em sistema misto que reuna várias destas
técnicas.

Do ponto de vista normativo, assumem particular destaque as directivas gerais da UEATC, publicadas em 1982
[3] e diversas outras directivas específicas publicadas posteriormente, relativamente a cada tipo de material e de
sistema (por exemplo para betumes do tipo APP[4]).

O Comité Europeu de Normalização criou a CT 254 que publicou entre o mês de Agosto de 1999 e Março 2000
mais de uma dezena de Normas Europeias. Em Portugal, têm sido publicadas, desde 1988, sob a
responsabilidade do IPQ, diversos Projectos de Normas Portuguesas, cujo enquadramento europeu se impõe
avaliar face a estas recentes evoluções.

3. DEFEITOS MAIS FREQUENTES EM PORTUGAL

Em Portugal são quase inexistentes os estudos estatísticos das anomalias da construção. Em todos os domínios
da patologia da construção – e em particular nas coberturas planas - tais estudos teriam o maior interesse, quer
em termos preventivos, quer em termos correctivos, e poderiam constituir um valioso contributo para uma
estratégia de melhoria da qualidade da construção, tanto mais que já existem obras de referência sobre a
concepção e execução [5 a 7].

O trabalho que agora se apresenta, integra-se numa tese de mestrado em que se tomou como base de trabalho a
informação relativa à inspecção e orçamentação de mais de duas centenas de casos reais de reabilitação de
coberturas planas. Estes dados dizem respeito aos pedidos de intervenção registados por uma empresa líder do

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SILVA, J. Mendes; GONÇALVES, Pedro – “Patologias frequentes em coberturas planas em Portugal”.
Congresso Nacional da Construção, IST, Lisboa, Dezembro 2001

sector da construção e reabilitação de coberturas planas, durante cinco anos (1995-2000), na zona centro do
País.

A análise das obras permitiu identificar 25 causas distintas, que se classificaram em quatro grandes categorias, e
cujo número de ocorrências se apresenta na Tabela 1. Na mesma Tabela pode ainda consultar-se a percentagem
relativa a cada grupo principal de anomalias.

Tabela 1: Tipo de anomalia das coberturas em terraço analisadas


TIPO DE ANOMALIA Nº de Casos %
Observaados

ANOMALIAS EM SUPERFÍCIE CORRENTE DA COBERTURA 76 28,4

1 – Ausência de revestimento impermeabilizante 11


2 – Revestimento impermeabilizante inadequado 9
3 – Perfuração do revestimento impermeabilizante 7
4 – Ausência ou deficiente dessolidarização da protecção pesada 3
5 – Envelhecimento do revestimento impermeabilizante 10
6 – Descolagem das soldaduras nas juntas do revestimento impermeabilizante 11
7 – Degradação do revestimento impermeabilizante por acção de raízes 6
8 - Deficiente regularização do suporte 4
9 – Anomalias devido à acção do vento 2
10 – Água retida no suporte sob o revestimento impermeabilizante 7
11 – Anomalias devido à presença prolongada da água 6

ANOMALIAS EM ZONAS PERIFÉRICAS DA COBERTURA 101 37,7

12 – Anomalias no revestimento impermeabilizante aparente em paredes 21


13 – Anomalias em paredes onde o revestimento impermeabilizante é inserido 31
14 – Deficiente remate do revestimento impermeabilizante em soleiras de portas 26
15 – Infiltração de água através de paramentos verticais contíguos à cobertura 12
16 – Infiltrações devido a deficiente capeamento em platibandas 11

ANOMALIAS NOS DISPOSITIVOS DE RECOLHA E EVACUAÇÃO DE 55 20,5


ÁGUAS PLUVIAIS
17 – Obstrução das embocaduras dos tubos de recolha de águas pluviais 8
18 – Dispositivos de entrada de águas pluviais de dimensões insuficientes 18
19 – Ascensão e retorno das águas escoadas nos tubos de queda 3
20 – Infiltrações através de troços horizontais de tubagens 3
21 – Deficiente remate junto a embocaduras dos tubos de queda 23

ANOMALIAS EM PONTOS SINGULARES DA COBERTURA 36 13,4

22 – Anomalias em juntas de dilatação horizontais 17


23 – Infiltrações através de tubagens emergentes 10
24 – Anomalias em lanternins e clarabóias 3
25 – Infiltrações através de chaminés emergentes 6
Totais 268 100%

Os registos utilizados forem feitos na sua maioria, por um dos autores, no âmbito da sua actividade profissional,
e posteriormente tratados durante a investigação em curso. Cada caso foi caracterizado segundo diferentes
parâmetros: ano de construção do edifício, ano de registo da anomalia, área total da cobertura em terraço, tipo
de edifício, tipo de revestimento impermeabilizante, tipo de protecção do impermeabilizante, existência ou não
de isolamento térmico, tipo de anomalia registada, estimativa de custo global e por metro quadrado de

41
Anomalias em Coberturas

reparação e, por fim, identificação da causa da anomalia. Neste artigo relatam-se apenas conclusões relativas às
causas das anomalias e aos custos da sua reparação.

4. PRINCIPAIS GRUPOS DE CAUSAS

Uma breve análise da Tabela 1 mostra uma grande incidência dos defeitos em zonas periféricas da cobertura,
onde, não só a execução é mais difícil, mas também a concepção dos pormenores é mais exigente, de modo a
garantir a desejada durabilidade do sistema. Repare-se nos gráficos da Figura 1, onde estes resultados são
apresentados em conjunto com a distribuição percentual da origem dos defeitos. Pode verificar-se que mais de
80% dos defeitos se fica a dever – em partes quase iguais - a erros de concepção e aplicação.

Os materiais têm sofrido melhorias técnicas significativas e são actualmente submetidos, na sua maioria, a
testes exaustivos, por exigência dos diversos processos de certificação da qualidade em vigor em muitos países.
Já os erros de utilização, apesar de surgirem como a causa menos significativa, poderiam ser francamente
reduzidos, uma vez que estão relacionados com a falta de manutenção de sistemas de evacuação de águas
pluviais e com perfurações acidentais da camada impermeabilizante, nomeadamente pela inadequada fixação de
equipamentos e acessórios diversos.

Dispositivos Pontos
de evacuação singulares
21% 13% Concepção Aplicação
38%
44%
Superfície
corrente
Zonas 28% Utilização M ateriais
periféricas 8% 10%
38%

Distribuição dos defeitos pelas zonas Distribuição dos defeitos de acordo


da cobertura com a sua origem

Figura 1: Distribuição dos defeitos de acordo com as zonas da cobertura e com a sua origem

5. O CUSTO DA REABILITAÇÃO

O custo médio de reparação das coberturas analisadas foi de 6.900$00/m2 (34.42 Euro/m2); os custos de
reparação são, no entanto, muito variáveis em função do tipo de anomalia a corrigir (reflectindo, sobretudo, a
necessidade de intervenção em toda a cobertura ou apenas em zonas localizadas), da área total da cobertura a
intervencionar (com agravamento para áreas reduzidas) e das características do sistema de protecção da camada
impermeabilizante.

O custo médio mínimo foi obtido para as situações de água retida sob o revestimento impermeabilizante, com
apenas 400$00/m2 (2,00 Euro/m2), enquanto o custo máximo se obteve para situações de deficiente
regularização do suporte com o valor médio de 21.100$00/m2 (105,25 Euro/m2). Outras anomalias que
implicam a reabilitação integral da cobertura apresentam custos muito próximos do valor máximo, como é o
caso da degradação da impermeabilização por acção de raízes.

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SILVA, J. Mendes; GONÇALVES, Pedro – “Patologias frequentes em coberturas planas em Portugal”.
Congresso Nacional da Construção, IST, Lisboa, Dezembro 2001

Na Tabela 2, apresentam-se os custos médios de reparação das coberturas por metro quadrado, em função do
tipo de protecção da impermeabilização. Repare-se que os casos mais baratos correspondem, naturalmente, às
situações em que a protecção é inexistente, o que não significa que a sua utilização seja de desaconselhar, uma
vez que tal procedimento tem, em geral, consequências ao nível da durabilidade da camada impermeabilizante.

Estes valores, apesarem de merecerem toda a reserva resultante do facto de cada tipo de protecção englobar
situações de anomalia de natureza muito diversa, evidenciam uma clara relação entre o grau de dificuldade da
execução ou remoção do acabamento e o custo da reparação. A colocação de lajetas amovíveis é o processo
mais vantajoso, deste ponto de vista. Convém recordar que este revestimento pode ter custos iniciais superiores
e que a redução de custo da reparação em relação a outras soluções pode ser considerada irrisória. Todavia, não
deve subvalorizar-se, nem a importância da rapidez de actuação que este tipo de revestimento
permite, nem a possibilidade de repor o mesmo revestimento, mantendo o aspecto inalterado.

Na Tabela 2, é ainda importante observar o peso relativo do número de casos registados para cada um dos tipos
de protecção ou revestimento. A grande expressão das protecções com betonilha registadas neste trabalho pode
reflectir, não só a adopção generalizada deste tipo de protecção em Portugal, mas também o risco que lhe está
associado e que resulta, frequentemente, da ausência ou deficiência da camada de dessolidarização.

Tabela 2 – Custo médio por m2 para cada tipo de protecção


Tipo de protecção
Sem
Betonilha Godo Lajetas Terra
protecção
Nº Total de Registos 121 35 42 17 53
Custo de reparação por m2 9.100$00 5.500$00 5.400$00 15.800$00 1.700$00

6. EXEMPLOS DE FICHAS DE ANOMALIAS

Tomando como referência as anomalias mais frequentes em coberturas planas, analisadas no presente artigo,
elaboraram-se fichas ilustrativas de cada uma dessas anomalias, com a descrição respectiva e a indicação, quer
das formas mais frequentes de manifestação, quer dos princípios de prevenção e reparação. A título ilustrativo
apresentam-se, nas páginas seguintes, duas dessas 25 fichas. Escolheram-se as situações relativas à “ausência
ou deficiente dessolidarização da protecção pesada” e ao “deficiente remate do revestimento em soleiras de
portas”. Este último é dos mais frequentes, com 26 casos registados, metade dos quais, resultado de erros de
concepção, traduzidos, maioritariamente, pela ausência do necessário desnível entre a soleira e o pavimento do
terraço.

43
Anomalias em Coberturas

DEFICIENTE REMATE DO REVESTIMENTO IMPERMEABILIZANTE


EM SOLEIRAS DE PORTAS

Identificação da anomalia:
Em zonas de soleiras, o revestimento impermeabilizante deve atingir em todos os pontos uma cota
superior à cota máxima do pavimento final da superfície da cobertura. As soleiras devem igualmente
apresentar uma configuração adequada de modo a não permitirem a penetração de água. Quando estas
condições não se verificam ocorrem, habitualmente, infiltrações de água.

Principais situações registadas:


Soleiras em que o revestimento impermeabilizante se encontra a uma cota inferior ao acabamento final
da cobertura; soleiras constituídas por duas pedras coladas, permitindo a passagem de água na zona de
união; descolagem do revestimento impermeabilizante à face inferior das soleiras; infiltração de água
através de ombreiras onde foi interrompida a impermeabilização; soleiras fissuradas devido a uma
espessura insuficiente; soleiras perfuradas para fixação de caixilharias; soleiras planas, sem rebaixo,
permitindo a passagem de água para o interior.

Como prevenir:
Colocando um degrau exterior de tal modo que o pavimento do terraço fique rebaixado relativamente ao
pavimento do espaço interior; prolongando a aplicação das membranas impermeabilizantes e soldando-
as à face interior da soleira; utilizando soleiras com uma configuração adequada.

Como reparar:
A reparação deste tipo de anomalia implica, habitualmente, a remoção e recolocação das soleiras
executando todos os remates necessários. Trata-se dum tipo de reparação que envolve custos
significativos, dada a necessidade de reconstituir os acabamentos interiores e exteriores. Nalgumas
situações é necessário reduzir a altura das portas de modo a poder executar a soleira a uma cota
adequada.

Figura 2: Ficha de patologia - Deficiente impermeabilização em soleiras de portas

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SILVA, J. Mendes; GONÇALVES, Pedro – “Patologias frequentes em coberturas planas em Portugal”.
Congresso Nacional da Construção, IST, Lisboa, Dezembro 2001

AUSÊNCIA OU DEFICIENTE DESSOLIDARIZAÇÃO


DA PROTECÇÃO PESADA

Identificação da anomalia:
Quando não se procede à aplicação duma camada de dessolidarização entre o revestimento
impermeabilizante e a sua protecção pesada, os movimentos dessa protecção pesada, resultantes da
variação de temperatura ou de retracção dos materiais, são transmitidos directamente à
impermeabilização, contribuindo para a sua degradação.

Principais situações registadas:


Aplicação de betonilha directamente sobre o revestimento impermeabilizante sem qualquer camada de
dessolidarização; aplicação de lajetas em betão directamente sobre o revestimento impermeabilizante
através de apoios sem qualquer tipo de protecção, provocando a sua perfuração.

Como prevenir:
Aplicando sempre uma camada de dessolidarização entre o revestimento impermeabilizante e a sua
protecção pesada, normalmente constituída por um feltro de poliester não tecido ou por manta de
geotextil, com espessura adequada.

Como reparar:
A reparação deste tipo de anomalia implica, habitualmente, a remoção e posterior aplicação da protecção
pesada e do revestimento impermeabilizante, colocando uma camada de dessolidarização entre esses dois
elementos. Se esta deficiência se manifestar apenas em zonas localizadas, pode a intervenção de
reparação ser efectuada somente em zonas pontuais.

Figura 3: Ficha de Patologia – Ausência ou deficiente dessolidarização da protecção pesada

45
Anomalias em Coberturas

7. CONCLUSÕES

As coberturas planas em Portugal representam já uma parcela significativa das coberturas de edifícios mas, não
obstante os desenvolvimentos tecnológicos, as anomalias continuam a ocorrer com muito mais significado do
que seria aceitável e com custos de reparação muito próximos das coberturas de origem.

Verifica-se todavia, que os defeitos são recorrentes e facilmente elimináveis com a conjugação criteriosa do
projecto, da execução, da qualidade dos materiais e do comportamento dos utentes. A criação e adopção
progressivas de legislação Europeia no sector poderão também contribuir para o aumento da qualidade deste
tipo de coberturas.

A prevenção dos defeitos de concepção e execução carece, não só de legislação adequada, mas também de listas
de verificação e procedimentos normalizados para a revisão de projecto e para as acções de fiscalização e
controlo em obra. A difusão da informação sobre patologia das coberturas planas – nomeadamente através de
fichas de patologia, com carácter sistemático e ordenado – pode contribuir para a redução do número de casos
registados.

8. REFERÊNCIAS

1 PORTUGAL - Leis, Decretos, etc. - Regulamento Geral das Edificações Urbana. Decreto-Lei n.º 38382
de 7 de Agosto de 1951.
2 AFNOR – NF P 84-204-1 – Travaux d’étanchéité des toitures-terrases avec éléments porteurs en
maçonnerie - DTU 43.1 (Document Technique Unifié), Paris, octobre, 1981.
3 UEATC-Union Européenne pour l’Agrément Technique Dans la Construction – Directives Générales
UEAtc pour l’agrément des revêtements d’étanchéité de toitures. Paris, juillet, 1982.
4 UEATC-Union Européenne pour l’Agrément Technique Dans la Construction – Directives Particulières
UEAtc pour l’agrément des revêtements d’étanchéité en bitume polymère APP armés. Paris, janvier,
1984.
5 Gomes, Ruy José– Coberturas em terraço. LNEC, Lisboa, 1968.
6 Lopes, J. Grandão – Anomalias em Impermeabilizações de Coberturas em terraço. ITE 33, LNEC,
Lisboa, 1994.
7 Lopes, J. Grandão – Revestimentos de impermeabilização de coberturas em terraço. ITE 34, LNEC,
Lisboa, 1994.

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Congresso Nacional da Construção, IST, Lisboa, Dezembro 2001

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Anomalias em Coberturas

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Congresso Nacional da Construção, IST, Lisboa, Dezembro 2001

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Anomalias em Coberturas

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CARACTERIZAÇÃO E ANOMALIAS
3
DAS COBERTURAS NA BAIXA DE
COIMBRA

Romeu Vicente, J. A. R. Mendes da Silva

A partir de:
VICENTE, Romeu - “Estratégias e metodologias de observação, registo e diagnóstico de
anomalias em edifícios - Contribuição para uma abordagem no âmbito da reabilitação urbana.
Avaliação da vulnerabilidade e do risco sísmico do edificado da Baixa de Coimbra.", Tese de
Doutoramento, Universidade de Aveiro, Aveiro Julho 2008.
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

OBSERVAÇÂO, REGISTO E DIAGNÓSTICO DE ANOMALIAS EM


EDIFÍCIOS NA BAIXA DE COIMBRA [1]

1.1. Enquadramento

O processo de Reabilitação Urbana e Social da Baixa de Coimbra iniciou -se, no terreno,


com um levantamento exaustivo da realidade, conduzido ao abrigo de um protocolo
celebrado entre a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e a Universidade de Coimbra
(UC) em 2003. A identificação completa e inspecção da área de intervenção (ver figura
1) foram levadas a efeito por três equipas em domínios diferentes: Arquitectura,
Sociologia e Engenharia Civil, com objectivos específicos mas interdisciplinares: (i)
levantamento arquitectónico, identificação de tipologias e valor patrimonial, (ii)
caracterização construtiva e levantamento de anomalias do edificado, (iii)
caracterização sócio-demográfica. Uma quarta equipa de sistemas de gestão de
informação desenvolveu e concebeu um sistema de organização do enorme volume de
diversificados dados recolhidos permitindo o seu armazenamento, interrelacionamento e
análise. A interacção adequada entre equipas foi sempre uma preocupação, apesar da
especificidade das acções que lhes competiam para atingir um objectivo final comum.

No presente texto apenas será apenas apresentado trabalho relacionado com a equipa
de engenharia (e deste apenas uma pequena parte) e com os tratamento estatístico e
informático realizado no âmbito de uma tese de doutoramento [2], que não só esteve na
origem da estratégia desta parte dos levantamentos, como também veio a
consubstanciar uma das primeiras abordagens científicas dos dados construtivos.
Outros trabalhos se seguirão para um domínio mais completo da realidade.

1.2. Acção de inspecção e registo em edifícios antigos

A inspecção é o primeiro passo na avaliação da condição de um edifício e na


identificação de anomalias e deficiências que comprometem a sua segurança estrutural
e habitabilidade. No caso de edifícios antigos, as acções de diagnóstico são
frequentemente inadequadas e infrutíferas ao serem conduzidas com insuficiente
conhecimento, quer da tecnologia tradicional da construção, quer dos materiais e dos
defeitos sistemáticos destas construções. Um diagnóstico débil terá um efeito negativo
na forma como se analisa o edifício, comprometendo a eficiência das futuras
intervenções.

De modo a inspeccionar toda a Baixa, a área contida no perímetro do projecto (ver


figura 1) foi dividida em oito zonas. Em cada zona, apesar da sua diversidade, os
edifícios partilham algumas características: tipologia arquitectónica e construtiva,
funcionalidade e tipos de ocupação.

É na escolha da forma de inspecção, registo e diagnóstico que reside a tarefa mais


complexa que influenciará o sucesso ou fracasso dos projectos e acções decorrentes

57
Anomalias em Coberturas

desta fase. Esta preocupação torna-se mais relevante quando se pretendem


inspeccionar mais de 700 edifícios num curto espaço de tempo (18 meses), e obter um
registo de dados suficientemente fiável e rigoroso.

Definição de zonas Área de projecto

Figura 1: Perímetro do projecto, zonas e edificado urbano [1]

Um conjunto desta dimensão coloca, de imediato, a necessidade de estabelecer


diferentes níveis de inspecção e registo para diferentes escalas de intervenção e seus
objectivos, isto é, a metodologia é distinta se o objectivo for o planeamento estratégico
ou o ordenamento (exigindo-se uma caracterização global) ou a reabilitação de um
conjunto de edifícios ou quarteirão (em que são relevantes diversos indicadores gerais,
mas específicos) ou, ainda, se se tratar da reabilitação de um edifício com valor
arquitectónico singular (cuja caracterização exaustiva é imprescindível, recorrendo, se
necessário, a técnicas de ensaio, quer destrutivas, quer não destrutivas). A influência da
escolha das acções da inspecção deve vir a reflectir-se na qualidade das acções de
renovação, reabilitação e manutenção propostas, justificando o esforço e os recursos
mobilizados.

58
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

1.3. Fichas de inspecção e registo

A inspecção dos cerca de 800 edifícios foi feita com recurso ao levantamento fotográfico
exaustivo e ao preenchimento de fichas de inspecção e diagnóstico, criadas no âmbito
deste projecto, estruturadas por elemento ou componente do edifício. Estas fichas estão
organizadas de forma hierarquizada e contêm informação exaustiva e detalhada, a
seleccionar posteriormente para melhor responder, quer aos objectivos da auta rquia,
que promoveu o estudo, solicitando apoio da Universidade de Coimbra, quer a
objectivos científicos diversos. Nestas fichas, cuja hierarquia se apresenta na Figura 2,
são registadas características gerais do edifício mas também – e sobretudo – as
características de cada tipo de elemento construtivo (materiais, estado de conservação,
anomalias, etc.)

Fichas de inspecção

A Identificação do Edifício

B
Avaliação das Coberturas
1
B
Avaliação das Paredes de Fachada
2
B
Avaliação dos Pavimentos
3
B
Avaliação das Paredes Interiores/Caixilharias/Tectos
4

C Qualidade e Segurança Estrutural

D
Condições de Ventilação/Salubridade e Iluminação
1
D
Condições Térmicas e Acústicas
2
E
Eficiência das Redes de Águas e Drenagem
1
E
Eficiência das Redes Eléctrica e Telefónica
2

Figura 2: Organização das fichas de registo [1]

Foram ainda desenvolvidas fichas específicas de inspecção e diagnóstico para edifícios


em situação de pré-ruína, edifícios remodelados ou recentemente intervencionados,
armazéns e estabelecimentos comerciais.

A enorme quantidade de informação produzida durante a fase de observação e registo


exigiu, naturalmente, o apoio de sistemas de informação específicos. O sistema
informático de base para suporte da utilização dos dados por parte da autarquia
também foi desenvolvido no âmbito do protocolo em causa e é constituído por sistema
de gestão de informação integrando a tecnologia SIG. Outras aplicações têm sido
desenvolvidas para permitir uma resposta mais adequada a diversos sub-projectos de
investigação, como é o caso da análise construtiva e das anomalias dos edifícios a que
se refere o presente texto.

59
Anomalias em Coberturas

1.4. Caracterização das coberturas da Baixa de Coimbra

A presente abordagem, integrada num texto pedagógico sobre coberturas, apenas se


refere a este tipo de elemento construtivo, determinante para a conservação, segurança
e habitabilidade dos edifícios.

A Figura 3 ilustra as fichas de registo relativas às coberturas, sempre complementadas


pelo registo fotográfico, desenhos, esquemas explicativos e outra pormenorização e
descrição detalhada, quando necessário.

Nas secções seguintes, transcrevem-se, com pequenas adaptações editoriais, dois


trechos da Tese de Doutoramento de Romeu Vicente [2], sobre a caracterização das
coberturas da Baixa de Coimbra e o seu estado de conservação.

Figura 3: Exemplo de uma ficha de registo e base de dados [1]

60
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

2. INFORMAÇÃO E INVENTÁRIO SOBRE O EDIFICADO DA BAIXA


DE COIMBRA

2.1. Descrição de resultados: abordagem estatística

2.1.1. Introdução

Os edifícios da Baixa de Coimbra foram caracterizados de forma exaustiva com recurso às


fichas apresentadas no capítulo anterior, Secção 2.5.2. Esta caracterização consistiu na
identificação dos materiais, das soluções construtivas e da tecnologia construtiva, para além
de um levantamento completo das anomalias estruturais e não-estruturais. A inspecção dos
edifícios foi feita, quer ao nível da envolvente externa, quer do seu interior. As inspecções
foram efectuadas por observação visual, levantamento fotográfico exaustivo e registo em
fichas de inspecção e diagnóstico. As fichas servem essencialmente dois grandes
objectivos: inspecção e diagnóstico dos elementos construtivos (paredes de fachada,
coberturas, pavimentos, etc.) e para apoio à identificação das condições de funcionalidade e
habitabilidade (redes interiores, condições de salubridade, riscos).

Como referido no capítulo anterior, foi criada uma equipa para organizar e informatizar os
dados de todas as equipas que recolheram informação no terreno. No entanto, a base de
dados que apoia todos os resultados e análises expostas nesta dissertação, foi criada
especificamente para organizar toda a informação recolhida, que foi naturalmente reavaliada
e reagrupada, para também apoiar o estudo da vulnerabilidade sísmica discutida nos
Capítulos 6 e 7. Refira-se que no processo da Baixa foi criado, por equipa própria, um
sistema de informação autónomo numa perspectiva de gestão de informação e apoio à
decisão para a autarquia.

São apresentados os resultados globais das inspecções desenvolvidas, que permitiram um


levantamento quantificado das soluções construtivas e o diagnóstico das anomalias mais
observadas. Esta “imagem” muito detalhada da Baixa de Coimbra, permite a análise e a
avaliação sustentada dos problemas mais relevantes em termos de habitabilidade e
segurança dos seus edifícios. Dar-se-á particular atenção à envolvente externa dos
edifícios, pelo seu carácter fundamental na preservação dos edifícios, na segurança
estrutural e nas condições de salubridade e conforto mínimas. A envolvente responde às
necessidades básicas, sem as quais as condições interiores não conseguem atingir
qualquer eficácia.

2.1.2. Dificuldades e condicionantes

A caracterização da área de estudo do processo de reabilitação e renovação da Baixa de


Coimbra, com cerca de 800 edifícios, foi efectuada com um grau de detalhe singular no
nosso País. Este levantamento, para além de singular, também é representativo ao nível
nacional, em que as soluções construtivas do edificado histórico partilham muitas
características, reflectindo a imagem degradada e preocupante de muitos dos centros

61
Anomalias em Coberturas

históricos nacionais. As soluções construtivas dos edifícios da Baixa de Coimbra são


marcadas pela disponibilidade de material local e ainda, pela tecnologia construtiva e mão-
de-obra regional. O grau de degradação é muito variado, atingindo, por vezes, situações
mais graves que podem implicar acções de reconstrução e, em casos extremos e mais
pontuais, a sua demolição.

As acções de inspecção a esta escala enfrentam dificuldades próprias de natureza variada:


logística, relutância de proprietários e residentes às acções de inspecção, desconhecimento
da “história do edifício”, ausência de desenhos ou elementos gráficos para apoiar as acções
de inspecção, necessidade de interpretação do comportamento estrutural e de identificação
cronológica de alterações (supressão de elementos construtivos, adição de pisos) e
restrições físicas e financeiras que não permitem conduzir uma inspecção mais detalhada
em alguns casos.

Atendendo às limitações de acessibilidade, identificação visual, heterogeneidade de


soluções e situações que introduzem alguns graus de incerteza, os resultados expostos
neste trabalho baseiam-se nos seguintes pressupostos:

i. Os resultados principais incidem sobre um universo de cerca de 800 edifícios;


ii. Alguns resultados são expressos para sub-universos mais pequenos, isto é, por
grupos, uma vez que será de mais fácil análise e tratamento
iii. As características construtivas e anomalias levantadas estão referenciadas com
diversos níveis de discretização: umas a fracções (poucos casos), outras aos
edifícios (no caso de paredes de fachada) e ainda outras aos andares (no caso dos
pavimentos);
iv. Foi registado mais do que um tipo de cobertura em alguns edifícios, por se
encontrarem inclinações diferentes, materiais de revestimento distintos, etc;
v. Uma cobertura pode estar referenciada a um espaço comum, a um edifício, a uma
fracção e ainda a uma divisão (embora esta última situação não se tenha verificado
na prática);
vi. Num levantamento desta dimensão é natural que se observam casos raros,
situações únicas de determinada solução construtiva, revestimento ou material, não
contempladas no formulário adoptado por não terem expressão estatística - remeteu-
se a sua identificação para um campo de “observações”;
vii. Para cada item previsto nas fichas de inspecção, o número de registos com
significado válido é variável em função das condicionantes do levantamento. Isto é,
existem resultados melhores para alguns aspectos simples, como por exemplo, o tipo
de revestimento das coberturas, e resultados menos conclusivos, por exemplo nas
estruturas das coberturas em que nem sempre é possível a visualização pelo interior;
viii. Incerteza associada à tarefa de inspecção e registo, nomeadamente pela diferente
percepção de cada técnico, não obstante a sua formação específica e as orientações
comuns.

62
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

2.1.3. Organização, tipo e estruturação da informação

Todas as acções de caracterização e levantamento de edifícios antigos exigem meios e uma


organizada rede de formação e logística, de forma a obter bons resultados. Toda a
informação recolhida foi armazenada num sistema de base de dados. Com base no
tratamento dessa informação são expostos de forma estatística os resultados mais
importantes da informação recolhida. As ferramentas utilizadas foram o Microsoft Access e
Visual Basic [Microsoft Access, 2003; Microsoft Visual Basic Suite, 2003] para organizar e
manipular a base de dados composta por 97 tabelas interrelacionáveis. A informação
recolhida é armazenada e apresentada em tabelas. As tabelas criadas serão utilizadas para
efectuar pesquisas, com possibilidade de cruzar toda a informação recolhida. Esta
ferramenta permite, além de cruzar informação das fichas, introduzir nova informação e
ainda programar aplicações.

Nesta secção apresenta-se a base de dados desenvolvida no âmbito desta dissertação, que
inclui as características físicas dos edifícios e respectivos elementos construtivos. A base de
dados e respectiva estrutura, constituem uma primeira tentativa de gerir informação sobre o
edificado a esta escala de detalhe, ambicionando-se a sua inclusão, numa fase posterior,
numa base de dados actualizável de gestão municipal. Esta base de dados específica,
criada sobretudo para efeitos de investigação, permite correlacionar dados novos ou
existentes, bem como elaborar estatísticas e gráficos de comparação para os parâmetros
estudados neste tipo de edificado antigo. Relativamente à informação dos edifícios a incluir
nesta base de dados, procurou-se recolher a informação mais completa e rigorosa. A
qualidade da informação é condicionante, limitando o seu tratamento, e deverá ser
convenientemente pré-processada e analisada antes de ser tratada, averiguando se o
resultado ou indicador que daí advém pode ser interessante e válido. A informação recolhida
que alimenta a base de dados terá de ser actualizada de forma periódica. Um critério de
actualização poderá ser o que se propõe na Tabela 1.

Tabela 1: Critério de actualização de informação

Edifício devoluto (mais de 50% das fracções


1 vez ao ano
desocupadas)
Edifício desocupado ao nível do piso ou pisos superiores
1 vez ao ano
(incluindo sótão)
Edifício totalmente ocupado 1 vez de 2 em 2 anos
Inspecção coordenada e
Após um evento sísmico ou outra catástrofe (derrocada)
imediata

63
Anomalias em Coberturas

2.2. Análise de resultados

2.2.1. Aspectos gerais do edificado e do espaço urbano

Alguma informação geral acerca do espaço urbano, volumetria e morfologia dimensional do


edificado constituído por 770 edifícios, foi tratada, apresentando-se agora os resultados
mais importantes e que melhor caracterizam morfologicamente os aspectos mencionados.
Antecede a apresentação dos resultados, uma grelha que sintetiza os parâmetros que se
seleccionaram para análise, bem como o seu âmbito e, ainda, a identificação dos
cruzamentos de variáveis que se consideraram mais relevantes e também se apresentam.

A Tabela 2 apresenta toda a informação relevante da ficha A e o grau de tratamento dos


dados, isto é, a informação recolhida mais relevante é interpretada como uma variável que
pode ser tratada e apresentada de diferentes modos (indicador geral, indicadores por zona
ou ainda com um maior nível de detalhe). A informação de cada ficha poderá ainda ser
cruzada e relacionada com mais do que uma variável, isto é, um aspecto da própria ficha
poderá ser inter-relacionada com variáveis de outras fichas, como se de uma pesquisa
cruzada se tratasse. O tratamento desta informação pretende criar um conjunto de
resultados, cuja utilidade se prende essencialmente com caracterizar e identificar
indicadores que, mais do que “espelhar” a imagem e situação do estado de conservação
actual, oriente a escolha das melhores estratégias de reabilitação e a identificação das mais
urgentes intervenções.

Tabela 2: Resultados da ficha A – Identificação do edifício

Dados Cruzamento de dados Cruzamento com outras fichas


Maior detalhe
Por zona
Geral

FICHA A - Identificação do edifício

1. Generalidades
1.1 Nível de inspecção
1.2 Classificação do edifício
1.3 Interesse arquitéctónico
1.4 Numero de pisos
1.5 Tipologia estrutural
1.6 Implantação
1.7 Edifícios em ruína
1.8 Número de fachadas com aberturas
2. Utilização do edifício
2.1 Uso
2.2 Área de compartimentos
2.3 Acessibilidades
2.4 Espaços comuns
3. Possibilidade de alteração/mutabilidade
4. Últimas intervenções de beneficiação
5. Observações

2.2.2. Coberturas

As coberturas são, por excelência, o elemento de maior fragilidade e que mais condiciona o
estado de conservação de todo o edifício. De seguida, na Tabela 3 estão indicados os

64
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

resultados que caracterizam as soluções construtivas e materiais encontrados e ainda as


anomalias mais recorrentes.

Tecem-se, de seguida, comentários acerca dos vários aspectos assinalados na Tabela 11,
com o intuito de fazer a mais fiel interpretação e caracterização deste elemento da
envolvente externa. Como já referido na Secção 3.1.2, a dificuldade de acesso pelo interior,
para avaliar e registar as características das coberturas, condiciona os resultados obtidos
(ver Figura 4-a). No entanto este facto é minorado pela proximidade e semelhança de
soluções encontradas em edifícios vizinhos e ao nível do quarteirão e, ainda, pelo facto de
ser muito significativa a percentagem de coberturas observadas pelo interior (superior a
70%).

A pendente das coberturas é importante no escoamento das águas pluviais e condiciona a


infiltração por acção do efeito combinado do vento com a precipitação. A pendente mínima
recomendável é condicionada pelo tipo de telha, geometria, zonamento climático e tipo de
exposição que, por sua vez, condiciona o cálculo da acção do vento. O critério para a
inclinação mínima utilizado nesta análise (Figura 4-b) foi de 50%, cerca de 26º [MATC,
1999]. Cerca de 32% das coberturas inspeccionadas não têm uma inclinação suficiente,
como se verifica pela análise da Figura 4-b.

Tabela 3: Resultados da ficha B1 – Avaliação das coberturas

b)
Dados Cruzamento de dados Cruzamento com outras fichas
3.2 Ficha B1
2.1 Ficha B1

1.1 Ficha B2
Maior detalhe
Por zona
Geral

FICHA B1 - Avaliação das coberturas

1. Geometria da cobertura
1.1 Tipo
2. Constituição da cobertura
2.1 Zona corrente e tipo de revestimento
2.2 Visualização pelo interior e inclinação da cobertura
2.3 Singularidades
2.4 Estado de conservação
3. Estrutura de suporte
3.1 Tipo
3.2 Estado de conservação
4. Patologias
5. Evolução das patologias no tempo
6. Últimas intervenções de beneficiação
7. Observações

A geometria da maioria das coberturas não é complexa. As coberturas inclinadas com duas
águas são as mais vulgares (ver Figura 5). A maior complexidade da cobertura, isto é, um
maior número de vertentes/águas implica sempre mais pontos singulares e remates
susceptíveis de originar problemas.

65
Anomalias em Coberturas

Visualização interior da cobertura Inclinação da cobertura


60% 100%
45% Não Sim Suficiente Insuficiente
80%
30%
15% 60%
% edifícios

0%

% edifícios
40%
-15%
-30% 20%
-45% 0%
-60%
-20%
-75%
-90% -40%
Z1 Z2 Z3 Z4 Z5 Z6 Z7 Z8 Total Z1 Z2 Z3 Z4 Z5 Z6 Z7 Z8 Total
Zonas Zonas
a)

Figura 4: Visualização pelo interior e inclinação das coberturas

Número de águas
a) b) Geometria da cobertura
600 100
540 90 800 100
720 90
480 80

.
640 80
Número de coberturas

420 70

.
Número de coberturas
560 70
% coberturas

% coberturas
360 60 480 60
300 50 400 50
240 40 320 40
180 30 240 30
160 20
120 20
80 10
60 10 0 0
0 0 Não Plana ou
Inclinada
sem observado Terraço
1 água 2 águas 3 águas 4 águas 5 águas 6 águas
registo
Número 12 17 749
Número 64 115 511 54 26 3 5 % 1.5 2.2 96.3
% 8.2 14.8 65.7 6.9 3.3 0.4 0.6

Figura 5: Avaliação do número de águas e geometria da cobertura

Sobre as 778 coberturas analisadas, foram identificados 808 revestimentos. Isto acontece
porque existem coberturas com mais do que um tipo de revestimento. Existem casos de
utilização de dois tipos de telhas cerâmicas, fruto de reparações e correcções na cobertura e
ainda a utilização de chapas contínuas em coberturas secundárias. Em muitos casos, esta
situação corresponde à criação de fragilidades funcionais últimas.

O material de revestimento das coberturas é, na sua grande maioria, telha cerâmica.


Notoriamente, a telha tipo lusa e tipo marselha são as mais expressivas com cerca de 35%
e 34% respectivamente (ver Figura 6-a). A solução em telha canudo, em geral indicando
uma solução original, observou-se em cerca de 14% dos edifícios. Cerca de 15% das
coberturas dos edifícios estão revestidas com soluções de chapas em fibrocimento,
metálicas ou de vidro. Estes valores indiciam duas situações: o uso da telha tipo lusa que se
presume estar associada a acções de conservação, e o uso significativo dos revestimentos
em chapa como soluções de recurso, mais económicas, mas inadequadas à imagem e valor
arquitectónico das soluções e do edificado.

66
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

Tipo de revestimento
a)
300 100
270 90
240 80
Número de ocorrências

210 70

% acumulada
180 60
150 50
120 40
90 30
60 20
30 10
0 0
Telha Revestimento
Não Telha de Chapas Telha tipo Telha tipo
cerâmica cobertura Fibrocimento Telha tipo lusa
identificado cimento metálica/vidro canudo marselha
romana plana
Número 3 1 2 7 44 82 114 274 281
% 0.4 0.5 0.7 1.6 7.1 17.2 31.3 65.2 100.0

b) Tipo de revestimento
c) Outros revestimentos
d) Telha cerâmica
100 350
1000 100
.

82 300 274 281


.

80

Número de ocorrências .
Número de ocorrências

800 80 250
Número ocorrências
% acumulada

600 60 60 200
44
400 40 150
40 114
100
200 20 20
50
0 0 7
1 2
Não Telha 0 0
Outros
identificado cerâmcia Telha de Revestimento Chapas Fibrocimento Telha tipo Telha tipo Telha tipo Telha tipo
cimento cobertura metálica/vidro romana canudo marselha lusa
Número 3 134 671
plana
% 0.4 16.6 83.0

Figura 6: Tipo de revestimento das coberturas

As estruturas de suporte das coberturas, continuam a ser mais expressivas em madeira


(60%). No entanto, regista-se uma preocupante proliferação de soluções em betão armado,
como se visualiza na Figura 7-a. Apenas foi possível identificar a tipologia das coberturas
em estrutura de madeira em 74% dos casos, dos quais a maioria corresponde à solução de
apoio sobre as paredes meeiras (ver Figura 7-c). Apenas 43 dos casos apresentam asnas
fechadas (asnas com linha inferior contínua), quando os vãos envolvidos também são
maiores e existe uma maior nobreza construtiva. As estruturas consideradas, mistas, são
constituídas pela combinação das outras tecnologias de construção de pavimentos.

A distribuição dos tipos de soluções de revestimento e de tipologia construtiva, por zonas,


pode ser observada na Figura 8-a e 8-b.

Dos edifícios com coberturas em betão armado, interessa identificar aqueles com estrutura
resistente em alvenaria. Identificaram-se cerca de 47 casos de coberturas constituídas por
elementos de betão armado em edifícios com estrutura em alvenaria resistente (ver Figura
9-a e 9-b para resultados gerais e por zona). Estes casos devem ser analisados com maior
cuidado no que diz respeito à segurança estrutural, no caso de acções sísmicas, e ainda
avaliados quais os danos que poderão ter tido origem em acções desta natureza.

67
Anomalias em Coberturas

a) b) Estruturas de betão
100

.
Número de coberturas
80 69
Tipo de estrutura de suporte 60
500 100 42
40
450 90
.

400 80 20

.
Número de coberturas

350 70
0

% coberturas
300 60
Laje betão Perfis pré-moldados
250 50
200 40 Tipo
150 30
100 20
c)
Estruturas de madeira
50 10 350
0 0 286
Não 300

.
Metálica Mista Betão Madeira
identificado 250

Número de coberturas
Número 189 8 9 111 461
200
% 24.3 25.3 26.5 40.7 100.0
150
105
100
43
50 27

0
Não identificado Apoiada em Asna aberta Asna fechada
vigas
Tipo

Figura 7: Tipo de suporte das coberturas

No que diz respeito ao levantamento das anomalias das coberturas, diversos são os
problemas que se observaram, desde problemas de humidade, degradação e
envelhecimento dos materiais, erros de concepção, negligência na execução, fissuração e
fractura do revestimentos e deformações dos sistemas de suporte. Os problemas de
formação de musgos e bolores atingem mais de 50% das coberturas, as infiltrações mais de
30% do total e os problemas de deformabilidade do suporte atingem mais de 20% (ver
número de ocorrências na Figura 10).

A garantia da estanquidade das coberturas é essencial. A acção da água é a mais


problemática e tem consequências directas sobre os elementos subjacentes à cobertura. As
infiltrações surgem sempre associadas a outros problemas e são potenciadas por diferentes
situações. Na Figura 11-a, podemos observar a associação dos problemas de infiltração
com potenciais causas. Verifica-se que mais de 55% dos casos com deformação dos
elementos de suporte, têm problemas de infiltração associados. A acção combinada da falta
de acções de manutenção, envelhecimento e degradação das soluções estão na origem de
muitos dos problemas observados.

Na Figura 12-a e 12-b observa-se a distribuição de anomalias pelos dois grandes grupos de
revestimentos de coberturas, com telha cerâmica e outros tipos de revestimentos. A
distribuição de problemas é muito semelhante nos dois grupos.

68
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

a) Tipo de revestimento por zona b) Tipo de suporte das coberturas


100 225 100 200
90 200 90 180

.
80 175 80 160

.
Número de ocorrências

.
70 70 140

Número de coberturas
150
% ocorrências

% coberturas
60 60 120
125
50 50 100
100
40 40 80
75
30 30 60
20 50 20 40
10 25 10 20
0 0 0 0
Z1 Z2 Z3 Z4 Z5 Z6 Z7 Z8 Total Z1 Z2 Z3 Z4 Z5 Z6 Z7 Z8 Total
Zonas Zonas
Não identificado
N.Identificado Betão
Não identificado Outros
Madeira Metálica
Telha cerâmica Número de ocorrências
Mista Número coberturas

Figura 8: Tipo de revestimento e suporte das coberturas por zonas

a) b) Edificios em alvenaria com coberturas em betão armado


Coberturas em betão armado
14
45
12
40
.
10
.

35
Número de casos
Número de casos

30 8
25
6
20
15 4
10 2
5
0
0 Z1 Z2 Z3 Z4 Z5 Z6 Z7 Z8
Alvenaria Betão Armado Outro
Perfis pré-moldados 2 1 0 6 4 3 1 0
Perfis pré-moldados 18 22 2
Laje maciça ou aligeirada 1 2 4 6 3 6 3 1
Laje maciça ou aligeirada 29 40 0
Total 3 3 4 12 7 9 4 1

Figura 9: Identificação de coberturas em betão armado

No que diz respeito ao estado de conservação das coberturas, tanto o suporte como o
revestimento apresentam valores muito próximos (ver Figura 13-a e 13-b). Este facto
evidencia uma indissociável relação entre o estado de conservação do suporte e do
revestimento, na maioria dos casos, como indicado na Figura 13-c.

Por último, constatou-se que, de todas as coberturas inspeccionadas, apenas uma baixa
percentagem (4%) incluem na sua constituição algum tipo de isolamento térmico (em 90%
dos casos foi observado o poliestireno extrudido).

2.2.12. Comentários finais

A imagem do centro histórico, na globalidade, denota que uma intervenção concertada é


absolutamente urgente, não só pelo estado de conservação medíocre do edificado, mas
pela progressiva e acelerada degradação e perda de imagem do centro histórico,
introduzindo soluções e materiais correntes e inadequados à filosofia de conservação e
restauro genericamente defendida em toda a Europa.

69
Anomalias em Coberturas

Para uma aplicação mais discretizada dos resultados, por exemplo, edifício a edifício,
poderá ser necessário inspeccionar com mais detalhe alguns aspectos do edificado. O
cruzamento de alguns resultados, que não é o objectivo primeiro desta dissertação, poderá
esclarecer melhor algumas causas, tendências e até estratégias num diagnóstico mais
detalhado e objectivo para determinado tipo de elemento construtivo.
Apesar de alguns resultados menos conseguidos e fiáveis (em alguns parâmetros), esta
caracterização é necessária para perceber o estado de conservação actual e o grau de
intervenção que se poderá perspectivar.

No capítulo seguinte, faz-se uma análise mais detalhada das principais soluções
construtivas e anomalias decorrentes da caracterização do edificado da Baixa de Coimbra.
Enquanto que no presente capítulo, o objectivo foi realizar uma análise quantitativa dos
resultados de caracterização, evidenciando tendências, indicadores e estados, no capítulo
seguinte faz-se um exercício mais direccionado, discutindo em detalhe as situações mais
relevantes que estão subjacentes aos resultados aqui apresentados.

Anomalias em coberturas

Fragilização da ligação da estrutura à parede

Geometria Inadequada

Fissuração/esmagamento em asnas de madeira

Fractura por acção térmica

Descolagem do revestimento

Corrosão em elementos metálicos

Fractura por acção humana

Problemas de pendente

Sobreposição do revestimento
.
Anomalias

Pontos singulares e remates mal concebidos

Uso de argamassa excessiva

Desalinhamento do revestimento

Condensações interiores (manchas)

Encaixe deficiente do revestimento

Deformação dos elementos de suporte

Vegetação pioneira

Infiltrações

Degradação e envelhecimento dos materiais

Rufagem deficiente ou inexistente

Musgos e bolores

0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450
Número de de
Número ocorrências
occorrências

Figura 10: Anomalias em coberturas

70
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

Potenciais origens das infiltrações


a) 60

50

40
% casos

30

20

10

0
Pontos singulares e
Problemas de Uso excessivo de Desalinhamento e Problemas de Deformação dos
remates mal
pendente argamassa deficiente encaixe rufagem elementos de suporte
concebidos
Potenciais origens 25.0 43.0 47.2 47.6 50.2 57.2

b) Problemas de rufagem c) Uso excessivo de argamassa

Chaminés Beiral

Clarabóias
Entre telhas
Remates
Empena
Empenas
Rincão/Laró
Encontros

Inexistente Cumieira

0 5 10 15 20 25 30 0 20 40 60 80 100
% ocorrências % ocorrências

Figura 11:Anomalias associadas a problemas de infiltração, rufagem e uso excessivo de


argamassa

a) Anomalias em coberturas com revestimento em telha cerâmica


b) Anomalias em
Anomalias em coberturas
cobertura com
com outros
outros revestimentos
revestimentos

Esmagamento na entrega das vigas Esmagamento na entrega das vigas

Fragilização da ligação da estrutura à parede Fissuração/esmagamento em asnas de madeira

Geometria Inadequada
Geometria Inadequada
Fissuração/esmagamento em asnas de madeira
Corrosão em elementos metálicos
Fractura por acção témica
Fractura por acção témica
Descolagem do revestimento
Fractura por acção humana
Corrosão em elementos metálicos
Condensações interiores (manchas)
Fractura por acção humana
Problemas de pendente
Problemas de pendente

Sobreposição do revestimento Uso de argamassa excessiva

Pontos singulares e remates mal concebidos Sobreposição do revestimento

Uso de argamassa excessiva Desalinhamento do revestimento

Desalinhamento do revestimento Pontos singulares e remates mal concebidos

Encaixe deficiente do revestimento


Encaixe deficiente do revestimento
Vegetação pioneira
Vegetação pioneira
Deformação dos elementos de suporte
Deformação dos elementos de suporte
Condensações interiores (manchas)
Infiltrações
Infiltrações
Rufagem deficiente ou inexistente
Degradação e envelhecimento dos materiais

Rufagem deficiente ou inexistente Degradação e envelhecimento dos materiais

Musgos e bolores Musgos e bolores

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
% ocorrências % ocorrências

Figura 12:Anomalias em coberturas: a) Revestidas em telha cerâmica; b) Outros tipos de


revestimentos

71
Anomalias em Coberturas

Estado de conservação médio das coberturas


a) b) 5
Estado
Estado de conservação
de Conservação dasCoberturas
das coberturas
4

EC (1-5)
45
3

40 2

1
35 Z1 Z2 Z3 Z4 Z5 Z6 Z7 Z8
.

Revestimento 3.3 3.2 3.0 3.4 3.3 3.4 3.4 3.2


30 Suporte 3.2 3.1 2.9 3.6 3.5 3.6 3.6 3.1
% coberturas

25 Correlação entre o estado de conservação


c) 5.0
20 1≤EC≤5
4.5

.
15 4.0

Estado de conservação da estrutura


3.5
10
3.0

5 2.5

2.0
0
1≤EC<2 2≤EC<3 3≤EC<4 4≤EC<5 EC=5 1.5
y = 0.7983x + 0.8115
Estrutura de suporte 1.2 15.6 36.0 33.6 13.5 1.0 2
R = 0.5716
Revestimento 1.8 17.3 42.2 29.0 9.7 0.5
0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0
EC=Estado de conservação
Estado de conservação do revestimento

Figura 13: Indicadores do estado de conservação das coberturas

2.3. Caracterização das coberturas com estrutura em madeira

2.3.1. Materiais, soluções e tecnologia construtiva

As estruturas das coberturas são quase na totalidade em madeira, existindo muito poucos
casos de coberturas com estrutura metálica, coberturas planas ou outras geometrias. Esta
secção debruça-se sobre as coberturas inclinadas com estrutura em madeira, por
representarem mais dos 95% das coberturas do perímetro de estudo da Baixa de Coimbra.
Observaram-se diferentes soluções estruturais de coberturas, ao nível da configuração das
asnas, dos elementos de contraventamento, das mansardas, lanternins, etc. Após
observação de centenas de coberturas, verificou-se a recorrência de soluções estruturais
elementares, com casos pontuais de estruturas muito mais complexas [GECoRPA, 2000;
Tratado de Rehabilitacion, 2000] (ver Figura 14).

O facto de muitos edifícios estarem construídos em banda e terem uma largura reduzida,
conduz a que as soluções de telhado com duas águas sejam as mais utilizadas: i) a solução
estrutural é muito simples e consiste em vigas/barrotes principais de madeira paralelos à
fachada, descarregando sobre as paredes meeiras ou meãs; ii) estrutura de barrotes que
descarrega sobre um lintel no topo das paredes de fachada e uma viga de cumeeira, como
se fossem asnas desprovidas de escoras, pendural e linha; e ainda, iii) solução com uma
geometria de asna fechada simples (ver Figura 15).

72
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

Figura 14: Exemplos de coberturas observadas na Baixa de Coimbra

73
Anomalias em Coberturas

Nos casos de coberturas de grandes dimensões (maiores vãos e número de vertentes), a


solução estrutural torna-se mais complexa em termos das suas ligações e geometria dos
elementos de madeira. As asnas mais complexas foram observadas nos edifícios mais
nobres. As asnas compostas, asnas de lanternim e asnas de mansarda foram observadas
em edifícios mais altos, que normalmente recorrem, em geral, a melhor técnica construtiva.
Foram ainda observados casos singulares de geometria não convencional.

Relativamente às dimensões das peças de madeira inferiores a 4 metros (vigas, barrotes,


linhas, pernas, madres), a secção transversal destas peças é baseada em critérios
empíricos. No caso de serem superiores a esta dimensão teriam que respeitar dimensões
indicadas por tabelas de cálculo [Pereira da Costa, 1955].

A inclinação das águas revelou-se por vezes insuficiente, o valor aceitável para edifícios
antigos seria em média, 26º a 27º para as vertentes principais (valor usual para a inclinação
das pernas das asnas), sendo ainda mais inclinada no Norte de Portugal do que no Sul.
Actualmente, sabemos que a escolha destes valores é dependente de vários factores,
desde a acção combinada do vento e precipitação, ao conceito de exposição e ao tipo de
telha e seu encaixe [MATC, 1998].

Barrotes/vigas apoiadas
directamente sobre as paredes
h l/h<20

Meia-asna simples e

asna simples

Figura 15:Geometria e constituição da estrutura de suporte das coberturas da Baixa de


Coimbra

74
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

As ligações, na sua maioria, são pregadas, mas nem sempre apresentam cuidados de
samblagem entre as peças de madeira e uso de ferragens (ver Figura 16). As ligações com
ferragens são apenas observadas em asnas de coberturas mais complexas e
consequentemente de maior vão. A dimensão destas ligações, suportada por critérios
empíricos, pode variar entre larguras de 3 a 6cm e espessuras de 0.5 a 1.2cm, determinada
pela dimensão da estrutura.

Tal como exposto no Capítulo 3, predominam as coberturas revestidas a telha cerâmica. A


telha do tipo marselha e a telha do tipo lusa representam a maioria das soluções, com
predominância para esta última (ver Figura 17). As coberturas revestidas com telha canudo,
na sua maioria argamassadas, apresentam um estado de degradação muito avançado. Os
revestimentos de telhado em telha de canudo (também designada por “telha portuguesa”)
têm desaparecido, representando hoje uma pequena minoria (ver Figura 18-a). Existem
diversas formas de assentamento para este tipo de telha (mouriscado, meio mouriscado,
cravado e valladio), no entanto, a forma de assentamento mais observada é do tipo
“valladio” com duplo coberto, sem juntas argamassadas e do tipo cravado, com argamassa
na zona da boca das telhas. As zonas de beirado e cumeeira são sempre assentes com
argamassa.

[Pereira da Costa, 1955]

Figura 16: Ligações entre elementos da estrutura das asnas de cobertura (samblagens e
ferragens)

A heterogeneidade de materiais e soluções é muito grande em alguns casos, podendo


observar-se em situações singulares, três a quatro tipos de revestimento diferentes (ver
Figura 18-b). É evidente, mas lamentável, o facto de intervenções ao nível da reparação e
conservação da cobertura, na maioria dos casos, não se estenderem à zona dos beirados,

75
Anomalias em Coberturas

onde claramente se observam duas a três fiadas de telhas de meia-cana originais (ver
Figura 18-c).

Figura 17: Vistas aéreas da Baixa de Coimbra

a) b) c)

Figura 18: Revestimentos de coberturas inclinadas: a) Cobertura em telha tipo canudo com
assentamento do tipo “valladio”; b) Heterogeneidade de soluções; c) Coberturas com
cuidados exclusivos na zona corrente

Os beirais têm sempre uma quebra de inclinação (contrafeito) obtida através de um


elemento de madeira (ponta de vara) que é pregado a um frechal sobre a parede e em
outros casos, devido à existência de um algeroz de recolha de água pluvial. Existem ainda
alguns casos em que o beirado é o prolongamento da vertente.

Na reabilitação de coberturas, incluindo a sua substituição, há novas preocupações,


nomeadamente a colocação de isolamento térmico, a ventilação e a definição do sistema
adequado de recolha de águas, que fazem com que muitas destas intervenções prolonguem
a vida útil destas construções, quando devidamente enquadradas e compatibilizadas com a
estrutura existente. No entanto, os remates e os pontos singulares são sempre zonas de
maior complexidade e, por isso, geralmente menos cuidados (ver Figura 19).

76
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

As intervenções ao nível dos revestimentos consistem, essencialmente, na resolução das


infiltrações, recorrendo à substituição das telhas (em geral, adaptando telhas do tipo lusa ou
marselha) e à aplicação de telas e sistemas de subtelha (ver Figura 20). Muitas destas
intervenções constituem uma oportunidade para substituir alguns dos elementos de madeira
mais degradados e ainda reconstruir a estrutura da cobertura parcialmente ou até de forma
integral, se necessário.

Telha canudo Telha lusa Telha marselha

Chapa de fibrocimento Chapa metálica Outras soluções

Figura 19:Exemplos de soluções de revestimentos de coberturas inclinadas na Baixa de


Coimbra

77
Anomalias em Coberturas

As medidas de reforço e reparação observadas são diversas: tirantes, perfis metálicos,


escoras nas zonas de apoio e outros tipos de elementos metálicos usados em reforços
locais (ver Figura 21). É frequente observar reforço local de secções e escoramento com
outras peças de madeira, mas a execução destas intervenções é, em geral, pouco cuidada e
com carácter pouco duradouro.

Figura 20: Uso de subtelha

Figura 21: Exemplos de sistemas de reforço observados na Baixa de Coimbra

2.3.2. Identificação das principais anomalias das coberturas

As anomalias mais comuns das coberturas em estrutura de madeira, são


essencialmente consequentes da deformação progressiva das suas estruturas, devido
principalmente a três problemas fundamentais: o processo de degradação e

78
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

envelhecimento natural da madeira do sistema de suporte da cobertura; a distorção e


empeno significativo dos elementos da estrutura primária (asnas e madres); e a
infiltração de água da chuva que agrava e condiciona todo o sistema da cobertura,
desde o revestimento até ao topo das paredes de alvenaria, onde descarregam as
estruturas de suporte das coberturas.

Da Figura 22 à Figura 25 apresentam-se os problemas mais importantes e recorrentes


que afectam as coberturas.

Os problemas não estruturais, que são muitos, poderão ainda agravar as condições de
estabilidade estrutural. Os pontos singulares da cobertura são os que mais defeitos
apresentam, uma vez que são geralmente omissos. É, pois, facilmente explicável que sejam
os pontos singulares as principais fontes de infiltração das coberturas. Da configuração em
banda dos edifícios, resulta que as coberturas inclinadas têm necessidade de cuidados
especiais ao nível dos remates com paredes emergentes paralelas ou perpendiculares às
vertentes, sob pena de risco de graves infiltrações. Outras potenciais origens de infiltração
são as deficiências nos remates de cumeeiras, nos rincões, nos larós, na inclinação das
vertentes e dos beirados e ainda no encaixe e na sobreposição das telhas.

Na Figura 26 apresentam-se fotografias de diversos pontos singulares mal executados


ou ineficazes e ainda outros problemas, também frequentemente observados e que se
descrevem:

A formação de musgos e vegetação pioneira sobre as coberturas e telhas propicia a


acumulação de detritos e microrganismos, dificultando o escoamento das águas
pluviais. Coberturas com geometria complexa de pequenas águas, pouco inclinadas e
com muitos recortes de difícil execução, apresentam em geral infiltrações. Os sistemas
de drenagem e recolha de água ineficientes, envelhecidos e ainda corroídos
(tradicionalmente eram em zinco ou chapa quinada pintada ou galvanizada) provocam
escorrências nas fachadas ao nível das cimalhas e dos beirais. O excesso de
argamassa no assentamento das telhas prejudica o processo de secagem, provocando
um humedecimento prolongado de determinadas zonas da cobertura, degradando os
materiais vizinhos e enfraquecendo e propiciando a sua fissuração. A substituição
integral das coberturas por soluções em betão armado (mais pesadas que as originais)
é desaconselhável do ponto de vista sísmico porque introduzem uma massa adicional e
ainda carga nas paredes meeiras e/ou de fachada. A existência de equipamento pesado
(por exemplo, reservatórios de acumulação de água) introduz esforços não previstos
sobre as estruturas de cobertura, que muitas vezes afectam também as paredes, e que
do ponto de vista sísmico, são francamente prejudiciais.

Refira-se por último, que existem outros problemas como a acção da radiação ultra-violeta
que enfraquece e origina a decomposição da estrutura interna da madeira (secagem
excessiva, decomposição da lenhina) e ainda a acção do fogo e a corrosão das peças
metálicas.

79
Anomalias em Coberturas

Deformabilidade excessiva da estrutura de suporte da cobertura

Descrição
Deflexão da viga de cumeeira ou fileira, das pernas das asnas e
madres. Esta deflexão afecta todo o sistema de vara e ripa e o
revestimento da cobertura.

Causas e observações
São essencialmente deformações que ocorrem pela combinação de
dois aspectos: envelhecimento natural da madeira e o efeito da fluência.
Uma vez deflectida a estrutura, é facilitada a entrada de água que
acaba por degradar ainda mais a estrutura da cobertura.
Refira-se que os espaços de desvão são normalmente espaços
fechados sujeitos a grandes amplitudes térmicas, particularmente
temperaturas muito elevadas na estação de Verão, propiciando e
amplificando os problemas de empeno, abertura de fendas e retracção
que comprometam a estabilidade da estrutura da cobertura.
Era corrente o uso de madeira de menor qualidade, com problemas de
estabilidade dimensional, isto é, madeiras com grande potencial para
empenar, abrir fendas decorrentes da secagem, etc. (a gravidade
destes fenómenos é muito dependente da própria espécie de madeira
empregue).
Outros problemas podem agravar esta anomalia: uso de secções
transversais das peças de madeira com insuficiente capacidade de
carga; o ataque xilófago e degradação biológica; deficiente
contraventamento das asnas; eventual exposição à radiação ultra-
violeta.
A deformação sofrida pode em alguns casos evoluir até à ruína parcial
de parte da cobertura.
A deformabilidade das estruturas de cobertura pode ainda provocar
impulsos sobre as paredes exteriores como já exposto na Figura 95.

Figura 22: Deformabilidade excessiva da estrutura de suporte da cobertura

80
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

Ataque xilófago e degradação biológica dos elementos de suporte em madeira da


cobertura
[Arriaga, 2002]

Descrição (semelhante à anomalia apresentada na Figura 114 para os pavimentos em madeira)


Normalmente o ataque xilófago é visível pelo exterior das peças,
apresentando sinais de perfuração de pequeno diâmetro, que pode atingir
toda a secção da peça de madeira, favorecendo o desenvolvimento de
bolores e podridão.
Este problema é particularmente sensível nas zonas de ligação e apoio.

Causas e observações
A susceptibilidade de degradação por agentes biológicos, nomeadamente
fungos (de podridão ou azulamento) e insectos (carunchos e térmitas),
depende fortemente das condições higro-térmicas a que a madeira está
sujeita. O teor em água para desenvolvimento dos agentes biológicos terá
de ser superior a 20%. No entanto, a madeira seca pode ser atacada pelo
caruncho.
A deterioração interna provocada pela podridão (branca, parda ou branda),
desfazendo a madeira, atacando a lenhina e celulose, e o ataque dos
insectos (mais comum: caruncho e térmitas) consumindo a madeira e
criando galerias, traduzem-se em termos estruturais numa redução da
secção resistente. No caso do ataque xilófago, o aspecto exterior da
madeira pode ser bom.

Figura 23: Ataque xilófago e degradação biológica dos elementos de suporte em madeira da
cobertura

81
Anomalias em Coberturas

Fragilização das ligações e zonas de apoio nas paredes

Descrição
Fissuração localizada sobre a própria peça de madeira ou localmente na
zona de apoio.

Causas e observações
No caso da fragilização do elemento estrutural de madeira na zona de
apoio na parede, normalmente não existe um elemento de distribuição de
carga, que poderia ser um frechal, alvenaria assente com pedra bem
talhada e de maior dimensão, ou ainda um cachorro. É comum a
fissuração originada pela concentração de tensão excessiva na zona de
apoio, associada à fraca capacidade de corte da alvenaria nesta área.
A fragilização das ligações entre elementos resistentes de madeira pode
ser despoletada pela combinação de vários problemas: ataque xilófago,
humidificação prolongada, defeitos naturais da madeira e carga pontual
excessiva, diminuindo de forma progressiva as propriedades mecânicas
da peça até à rotura.
O fenómeno da fragilização das zonas de apoio e entrega dos vigamentos
de madeira nas paredes é semelhante à dos pavimentos sobre as
paredes resistentes.
Quando se observa a rotura de algumas secções por carga excessiva
(pernas das asnas, fileira, vigamentos) é frequente na proximidade
dessas roturas, observar defeitos (nós, fissuras, empenos), que por si só,
já constituem um risco ao bom desempenho estrutural. Pode também
estar associado a problemas de corrosão de peças de ligação metálica.

Figura 24: Fragilização das ligações e zonas de apoio nas paredes

82
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

Infiltrações e apodrecimento (acção da chuva)

[Arriaga, 2002]

Descrição
Apodrecimento dos elementos de madeira nas zonas mais sensíveis à
entrada de água da chuva.

Causas e observações
As infiltrações que normalmente têm origem em deficiências e problemas
de desempenho de outros elementos do sistema da cobertura, tais como:
a deformação do suporte, desencaixe ou deficiente sobreposição das
telhas, fractura do revestimento e ainda falta de rufagem nos bordos,
chaminés e remates com paredes emergentes.
A presença de argamassa excessiva, muito vulgar nas zonas de remates,
entre telhas (no caso de tratar-se do tipo canudo) promove a
humidificação prolongada dessas zonas e do suporte subjacente.
Outros problemas como a inclinação insuficiente das vertentes face à
acção combinada do vento com a precipitação, propiciam eventuais
infiltrações. A ineficiência do sistema de drenagem pluvial pode constituir
um factor agravante.
A falta de ventilação do desvão agrava o problema descrito.

Figura 25: Infiltrações e apodrecimento (acção da chuva)

83
Anomalias em Coberturas

Remates com paredes emergentes


Rufagem de chaminé deficiente Sistema de drenagem deficitária
paralela e perpendicular

Falta de impermeabilização junto da


Reparações pontuais incorrectas Geometria complexa
platibanda/algeroz

Formação de musgos e bolores Vegetação pioneira Instalação de equipamentos pesados

Depósito de água Introdução de estruturas de betão armado aligeirado (carga excessiva)

Figura 26: Outras anomalias das coberturas

84
Caracterização e Anomalias das Coberturas na Baixa de Coimbra

Referências específicas:

[1] VICENTE, R.; SILVA, J. Mendes; VARUM, H. – “Observação, registo e diagnóstico de


anomalias em edifícios no âmbito da reabilitação urbana”. Encontro Nacional sobre
Qualidade e Inovação na Construção (QIC2006), LNEC, Lisboa, 21-24 de Novembro, 2006.

[2] VICENTE, R. – “Estratégias e metodologias de observação, registo e diagnóstico de


anomalias em edifícios - Contribuição para uma abordagem no âmbito da reabilitação
urbana. Avaliação da vulnerabilidade e do risco sísmico do edificado da Baixa de Coimbra.",
Tese de Doutoramento, Universidade de Aveiro, Aveiro Julho 2008.

85
FICHAS DE PATOLOGIA
4
José Ant. R. Mendes da Silva
Fichas de Patologias

COBERTURA PLANA - INFILTRAÇÃO

Descrição sumária do defeito ou anomalia


Infiltração para o interior, visível através de manchas, humedecimento ou gotejamento no tecto (ou
eventualmente nas paredes) sob a cobertura.

Causas possíveis

Constituem as causas principais e habituais das infiltrações nas coberturas planas dotadas de
camada de impermeabilização, as seguintes:

Deterioração localizada da membrana de impermeabilização, com maior frequência nas


ligações entre faixas, motivada por diversos erros de projecto, execução ou utilização;
Deterioração das ligações a elementos emergentes (paredes, chaminés, antenas, etc.);
Deterioração ou má execução dos remates periféricos (nomeadamente pela reduzida altura
do remate);
Inadequação do remate nas zonas de soleira das portas confinantes, em geral com desnível
muito reduzido;
Deterioração ou ineficácia das ligações a dispositivos de drenagem de águas;
Deterioração nas zonas das juntas estruturais do edifício ou em arestas e outras mudanças
de direcção angulosas.
Fixação inadequada de acessórios e equipamentos com esmagamento ou perfuração da
camada de impermeabilização (guardas, aparelhos de ventilação, etc.).
Embora menos frequentes, podem verificar-se situações de deterioração global das membranas de
impermeabilização ou o seu arrancamento por acção do vento. Nos casos de terraços-jardim, a
deterioração fica a dever-se, em geral, à acção das raízes. Em zonas de circulação pesada, a
deterioração pode ocorrer por excessiva deformação do suporte por acção das cargas, sem que as
camadas (e a sua capacidade de movimentação independente) possam acompanhar essa
deformação.

Consequências

Degradação do aspecto e das condições de conforto e salubridade. Degradação progressiva dos


revestimentos do texto e paredes. Degradação potencialmente grave de revestimentos de piso,
mobiliário e equipamentos existentes no interior.

Estratégia de reabilitação

A estratégia de reabilitação assenta, em geral, numa ou várias das seguintes tarefas:


Correcção localizada dos defeitos, quando forem identificáveis e fáceis de reparar;
Substituição integral da camada de impermeabilização;
Reforço da solução impermeabilizante.
No caso de serem evidentes e exclusivos os defeitos periféricos ou em pontos singulares (ligações,
juntas de dilatação, etc.) é adequado proceder-se ao reforço criterioso, mas tanto quanto possível
generalizado, destas zonas e dispositivos.
Sempre que possível, devem corrigir-se as pendentes das coberturas e privilegiar soluções de
impermeabilização dessolidarizada, devidamente protegida, do ponto de vista térmico e mecânico.

89
Anomalias em Coberturas

COBERTURA PLANA – ERRO DE UTILIZAÇÃO / MANUTENÇÃO

Descrição sumária do defeito ou anomalia

Deslocamento ou deformação excessiva de componentes ou ligações. Proliferação de vegetação.


Acumulação de detritos.

Causas possíveis

Constituem as causas principais destes defeitos o uso indevido, fortuito, da cobertura (circulação
descuidada ou excessiva) e a ausência de manutenção periódica (limpeza, verificação de fixações e
posicionamento).

Consequências

Incapacidade de resposta funcional eficaz. Risco elevado de infiltrações (em geral por transbordo).

Estratégia de reabilitação

A estratégia de reabilitação assenta, em geral, em acções de carácter sintomático:


Levantamento e reposição (adequada) das dos componentes, para repor pendentes e
fixações;
Limpeza de caleiras e ralos de pinha, permitindo um escoamento adequado.

90
Fichas de Patologias

COBERTURA PLANA – ERRO DE CONCEPÇÃO/PROJECTO

Descrição sumária do defeito ou anomalia

Incapacidade do sistema de drenagem para garantir uma resposta funcional eficiente: escoamento
rápido, sem entupimentos, sem transbordos, sem perda de estanquidade e sem ruídos
significativos.
Causas possíveis

Em geral, quando não se trata de erros de projecto fortuitos e ocasionais, podem ter origem no
deficiente conhecimento do comportamento tecnológico dos materiais e dos elementos construtivos
em causa ou em atitude negligente. Muitos projectos carecem de pormenorização, o que, na prática,
se traduz num potencial erro.

Estes erros de concepção e projecto traduzem-se, frequentemente, nos seguintes aspectos:

- Erro no dimensionamento (secção e/ou inclinação) de caleiras e tubos de queda (secção),


tendo em consideração a pluviosidade do local e a área drenada;
- Inexistência ou inadequação de dispositivos de prevenção do entupimento (ralos de pinha) no
cimo dos tubos de queda;
- Inexistência ou inadequação dos dispositivos de ligação entre caleiras e tubos de queda;
- Ineficiência das ligações, abas ou remates periféricos das caleiras, frequentemente
associados à sua reduzida dimensão ou inadequada ligação a outros elementos e materiais.

Consequências

Incapacidade de resposta funcional eficaz. Risco elevado de infiltrações (em geral por transbordo)
e/ou de acumulação excessiva de água sobre a cobertura.

Estratégia de reabilitação

A reabilitação de dispositivos de drenagem mal concebidos ou projectados pode implicar a sua


substituição integral, por soluções adequadas, tendo particular atenção às novas ligações aos
dispositivos existentes e ao revestimento ou impermeabilização.
Quando se trata de sub-dimensionamento pode ser possível, nalguns casos, o reforço da drenagem
vertical, nomeadamente, através da inserção de tubos de queda adicionais.
Em diversas situações pode adoptar-se uma estratégia de correcção localizada, nomeadamente da
correcção ou reforço de ligação, na utilização de ralos de pinha adequados, etc.

91
Anomalias em Coberturas

COBERTURA PLANA – ERRO DE EXECUÇÃO

Descrição sumária do defeito ou anomalia

Incapacidade do sistema de drenagem para garantir uma resposta funcional eficiente: escoamento
rápido, sem entupimentos, sem transbordos, sem perda de estanquidade e sem ruídos
significativos. Os erros mais frequentes são:

Dimensão ou geometria inadequada de caleiras, tubos de queda e outros elementos de


drenagem, em desrespeito pelo projecto, nomeadamente a dimensão insuficiente dos
remates laterais das caleiras e elementos afins, propiciando o transbordo;
Falta de estanquidade das ligações entre os vários componentes do sistema;
Inclinação deficiente das caleiras, dificultando o escoamento e propiciando a estagnação
da água;

Causas possíveis

Os erros de execução, tal como entendidos na presente ficha ficam a dever-se, de forma evidente à
negligência no acto da construção ou à acentuada inabilidade técnica dos executantes.

Consequências

Incapacidade de resposta funcional eficaz. Risco elevado de infiltrações (em geral por transbordo)
e/ou de acumulação excessiva de água sobre a cobertura.

Estratégia de reabilitação

A reabilitação de dispositivos de drenagem de coberturas que sofreram erros de execução depende


do tipo específico de anomalia, passando em geral pela execução de trabalhos que permitam repor
as características definidas em projecto e que se traduzem, com grande frequência, levantamento e
reposição dos vários acessórios, após correcção de geometria, com adequada execução de ligações.
Quando os erros de execução se traduzem do afastamento das soluções definidas em projecto, a
reabilitação das anomalias implica, em geral, a substituição dos sistemas.
Quando se trata de utilização de calibres inferiores aos de projecto pode ser possível, nalguns casos,
o reforço da drenagem vertical, nomeadamente, através da inserção de tubos de queda adicionais.
No caso de acessórios em falta ou inadequados (por exemplo, ralos de pinha) a reabilitação traduz-se
na sua colocação ou substituição.

92
Fichas de Patologias

COBERTURA INCLINADA – INFILTRAÇÃO

Descrição sumária do defeito ou anomalia

Infiltração para o interior, visível através de manchas, humedecimento ou gotejamento, nas


paredes ou no tecto sob a cobertura.

Causas possíveis

Constituem as causas principais e habituais das infiltrações nas coberturas inclinadas com
revestimento descontínuo (telhas ou chapas de cobertura):
A quebra, ausência ou deslocamento de elementos de revestimento;
A deficiente execução dos remates, ligações e fixações ou a sua deterioração;
A deficiente sobreposição de diversas chapas ou telhas.

Estes fenómenos resultam, em geral, de acções mecânicas sobre a cobertura (vento, circulação
fortuita, vandalismo, queda de objectos ou ramos), erros de execução ou, ainda, deformação
excessiva ou mesmo rotura das peças suporte (ripas, varas, madres, asnas ou elementos
equivalentes).

Constituem factores de agravamento destes fenómenos eventuais erros de concepção, a


desadequação dos materiais, a falta de manutenção das coberturas e a ocorrência de condições
atmosféricas excepcionalmente adversas.

Consequências

Degradação do aspecto e das condições de conforto e salubridade. Degradação progressiva dos


revestimentos do texto e paredes. Degradação potencialmente grave de revestimentos de piso,
mobiliário e equipamentos existentes no interior.

Estratégia de reabilitação

A estratégia de reabilitação assenta, em geral, numa ou várias das seguintes tarefas:


Correcção e reforço estrutural dos elementos de apoio;
Correcção da geometria da cobertura;
Levantamento e reposição (adequada) das telhas, corrigindo as sobreposições, os remates e
as ligações;
Eventual substituição total ou parcial das telhas (ou chapas de revestimento).

93
Anomalias em Coberturas

COBERTURA INCLINADA – ERRO DE UTILIZAÇÃO / MANUTENÇÃO

Descrição sumária do defeito ou anomalia

Deslocamento ou quebra de placas de revestimento. Proliferação de vegetação. Acumulação de


detritos ou pó.

Causas possíveis

Constituem as causas principais destes defeitos o uso indevido, fortuito, da cobertura (circulação
descuidada ou excessiva, fixação inadequada de acessórios, etc.), a ausência de manutenção
periódica (limpeza, realinhamento ou substituição pontual de telhas e placas).

Consequências

Degradação do aspecto e redução da durabilidade.


Degradação progressiva dos revestimentos.
Elevada probabilidade de infiltrações.

Estratégia de reabilitação

A estratégia de reabilitação assenta, em geral, em acções de carácter sintomático:


Levantamento e reposição (adequada) das telhas ou chapas de revestimento com a sua
eventual substituição total ou parcial, em caso de quebra ou deterioração grave;
Limpeza das coberturas e dos seus acessórios.

94
Fichas de Patologias

COBERTURA INCLINADA – ERRO DE CONCEPÇÃO / PROJECTO

Descrição sumária do defeito ou anomalia

Coberturas inclinadas incapacitadas para dar resposta às exigências funcionais correntes. Na


maior parte dos casos o erro de projecto traduz-se numa inclinação desadequada ou numa
geometria pouco compatível com o tipo de revestimento.

Embora menos frequente, também há erros de projecto que se traduzem na deformação excessiva
do suporte, com posterior desalinhamento das chapas de revestimento.

Causas possíveis

Em geral, quando não se trata de erros de projecto fortuitos e ocasionais, podem ter origem no
deficiente conhecimento do comportamento tecnológico dos materiais e dos elementos construtivos
em causa ou em atitude negligente. Muitos projectos carecem de pormenorização, o que na prática,
se traduz num potencial erro.

Consequências

Incapacidade de resposta funcional eficaz. Durabilidade reduzida. Risco elevado de infiltrações.

Estratégia de reabilitação

A reabilitação de coberturas mal concebidos ou projectados corresponde, frequentemente, à


correcção da sua geometria, o que obriga à alteração ou revisão de todos os remates e ligações ou
mesmo à alteração do revestimento.

95
Anomalias em Coberturas

COBERTURA INCLINADA – ERRO DE EXECUÇÃO

Descrição sumária do defeito ou anomalia

Os erros de execução do revestimento de coberturas inclinadas traduzem-se nos mais diversos


defeitos descritos em fichas próprias, que traduzem as consequências funcionais correspondentes.
Os erros mais frequentes são:
Deficiente alinhamento das chapas de revestimento;
Deficiente fixação dessas chapas, nos casos em que tal é exigido.
Dimensão reduzida ou geometria inadequada de elementos de remate (caleiras, etc.)
Utilização de materiais de revestimento ou fixação não adequados, por exemplo, a
colocação de excesso de argamassa nas cumeeiras de telhados cerâmicos;
Afastamento entre a execução e as definições de projecto, particularmente notória em
soluções construtivas não tradicionais.

Causas possíveis

Os erros de execução, tal como entendidos na presente ficha ficam a dever-se, de forma evidente à
negligência no acto da construção ou à acentuada inabilidade técnica dos executantes.

Consequências

Incapacidade de resposta funcional eficaz. Durabilidade reduzida. Risco elevado de infiltrações.

Estratégia de reabilitação

A reabilitação de coberturas inclinadas sujeitas a erros de execução depende do tipo específico de


anomalia, passando em geral pela execução de trabalhos que permitam repor as características
definidas em projecto e que se traduzem, com grande frequência, no levantamento do telhado,
correcção da geometria e fixação de acessórios e recolocação correcta das mesmas telhas ou
chapas de revestimento.

96
Fichas de Patologias

COBERTURA INCLINADA – DEGRADAÇÃO DE MATERIAIS /


APODRECIMENTO / CORROSÃO

Descrição sumária do defeito ou anomalia

Degradação acentuada dos materiais constituintes dos acessórios da cobertura:


Apodrecimento (ataque biológico) ou secagem excessiva com desagregação de fibras nas
madeiras;
Empolamento e/ou desagregação nos derivados de madeira;
Corrosão nos materiais metálicos (em particular nos ferrosos);
Pulverulência, fragilização e quebra nos matérias plásticos.

Causas possíveis

Acção isolada ou conjugada de agentes atmosféricos (chuva, sol, radiação ultra-violeta, variação da
humidade e temperatura do ar, gelo), agravada pela eventual inadequação dos materiais às suas
condições de exposição e recorrente falta de manutenção. Os materiais ou técnicas de revestimento
ou protecção (tintas e vernizes, anodização, galvanização, etc.) apresentam, frequentemente,
durabilidade e eficácia diferenciadas em zonas de ligação.

Consequências

Degradação muito significativa do aspecto e degradação funcional severa provocando infiltrações


graves.

Estratégia de reabilitação

Reabilitação local dos elementos afectados, com sua eventual substituição. Limpeza e protecção
integral da cobertura.

97
ANEXOS
Anexo I
“MANUAL DE APLICAÇÃO
DE TELHAS CERÂMICAS”

Apresentação do livro

J. A. R. Mendes da Silva, Marta Silva

A partir de:
"Manual de Aplicação de Telhas Cerâmicas" publicado pela APICC, através CTCV, em 1998 e
integralmente financiado pelo programa PEDIP.
Aplicação de Telhas Cerâmicas

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Anomalias em Coberturas

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Aplicação de Telhas Cerâmicas

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Anexo II
EXEMPLO DE RELATÓRIO
DE PATOLOGIA

J. A. R. Mendes da Silva; Vitor Abrantes


Exemplo de Relatório de Patologia

EDIFÍCIO A
CASO DE ESTUDO
PATOLOGIAS DE TERRAÇOS
RELATÓRIO TÉCNICO DA VISITA AO LOCAL

1. ENQUADRAMENTO, OBJECTIVOS E ÂMBITO DO RELATÓRIO

O presente relatório diz respeito à visita realizada em (…data) ao edifício A, com o objectivo
de analisar as patologias dos terraços do mesmo edifício.

O Relatório é feito com base na referida visita, na consulta das peças desenhadas gerais de
arquitectura (plantas à escala 1:100), na observação da “maquete” e ainda na informação
oral sobre o processo construtivo utilizado e posteriores intervenções. Não foram feitas
quaisquer sondagens no local estritamente destinadas à elaboração deste relatório. Nessa
medida, não obstante a convicção do diagnóstico e soluções gerais adiante apresentadas, é
necessário esclarecer que só uma análise local, com levantamento de zonas significativas
dos terraços, pode identificar e confirmar com total certeza as situações aqui relatadas.

O Relatório descreve as principais patologias observadas e apresenta uma opinião


preliminar sobre a estratégia a seguir para a reparação do terraço/cobertura, pesando
vantagens e desvantagens das várias hipóteses.

Este relatório inclui a descrição fotográfica de algumas zonas críticas da obra, mas não
inclui a definição ou estudo de pormenores construtivos desenhados, específicos para os
pontos singulares da cobertura.

2. DESCRIÇÃO GERAL DO EDIFÍCIO E ÂMBITO DA VISITA

O edifício A tem vários corpos centrais, destinados preferencialmente a habitação, com


desenvolvimento em altura; o corpo mais alto ultrapassa a dezena de pisos. Na base, o
edifício tem 2 pisos de maior extensão em planta, que envolvem todo o edifício. Na maior
parte da área, um destes pisos é enterrado e o outro situa-se acima da cota do terreno
circundante.

As coberturas são todas em terraço. Face à geometria do edifício, desenvolvem-se dois


grupos principais de terraços:
coberturas superiores dos blocos de habitação;
coberturas das zonas de serviços e afins existentes nos pisos inferiores.

Na visita realizada não foram visitados os terraços do primeiro grupo (pisos superiores), face
às condições atmosféricas e ao facto de as queixas serem localizadas, já estarem

143
Anomalias em Coberturas

identificadas e poderem ser enquadradas em situações típicas de patologia, a descrever


mais adiante.
Foi visitada a maior parte dos terraços no nível inferior, bem como espaços que com eles
confinam ao mesmo nível e alguns espaços subjacentes.

Quer nas plantas, quer na “maquete”, os terraços do nível inferior são em número de 3, com
insignificantes perturbações. Na realidade, estes 3 grandes terraços encontram-se
subdivididos e apresentam algumas perturbações de geometria, como floreiras e muretes
(ao que se julga, vigas invertidas aparentes).

3. INFILTRAÇÕES OBSERVADAS

As principais queixas em relação ao comportamento destes terraços estão relacionadas com


infiltrações acentuadas.

No local observaram-se, fundamentalmente, 2 tipos de infiltração: nas zonas


correspondentes às juntas de dilatação da estrutura de betão armado e em zonas de soleira
de portas. Podem ainda observar-se algumas infiltrações em zonas subjacentes às floreiras
de betão que, nalguns casos, poderão estar a dissimular ou ocultar outras causas e
singularidades responsáveis pelas infiltrações.

Em algumas paredes emergentes do terraço (espaço devoluto destinado a restaurante e


espaço subjacente à sala do condomínio) foram observadas infiltrações através do
embasamento das paredes, isto é da zona que está acima e em contacto directo com o
terraço.

Numa das zonas da garagem, sob o espaço reservado à Clínica, puderam ainda observar-
se sinais de humidade junto ao solo e na parede enterrada, que tudo indica terem origem
em água livre no solo.

Não foram observadas, em geral, infiltrações em zona corrente, fora destes pontos críticos.

4. APRECIAÇÃO GERAL DA SOLUÇÃO CONSTRUTIVA ACTUAL

Os terraços são constituídos por uma laje de suporte em betão armado, com nervuras em
duas direcções e lajeta maciça de compressão superior de pequena espessura (como é
típico deste tipo de laje). Sobre esta laje, após regularização, terá sido aplicada uma tela de
impermeabilização e posteriormente um revestimento com “calçadinha” de cálcareo.

Não se sabe se a camada de forma - com a função de criar pendente de escoamento para
as águas pluviais - terá sido executada antes ou depois da impermeabilização, nem se a
impermeabilização está dessolidarizada da laje inferior e do revestimento superior.

144
Exemplo de Relatório de Patologia

Acredita-se que a pendente tenha sido executada antes da aplicação da tela de


impermeabilização, todavia, as pendentes finais do revestimento são muito reduzidas e,
nalgumas zonas, foram já anuladas ou invertidas, por deformação da base de assentamento
do revestimento ou pela deformação natural a longo prazo da laje de betão, por efeito de
fluência.

É importante afirmar que a actual pendente da superfície do revestimento é insuficiente e


agrava as consequências de qualquer eventual defeito de estanquidade dos terraços, uma
vez que a permanência da água propicia a sua entrada pelos defeitos mais diminutos.
Apesar de ser recomendável a adopção de pendentes de cerca de 2%, aceitar-se-iam, aqui,
pendentes de1,0% a 1,5%, face às condicionantes geométricas do edifício.

Quanto à aderência entre a tela impermeabilizante e as camadas vizinhas (superior e


inferior), ela é sempre prejudicial face à imposição de dilatações, contracções e fenómenos
de atrito, por parte da laje e do revestimento, que a impermeabilização suportará com
dificuldade. Tendo em atenção o tipo de tela, a inexistência de isolamento térmico e a data
de execução (há cerca de 10 anos) admite-se que não tenham sido aplicadas quaisquer
membranas de dessolidarização.

Nas coberturas deste nível inferior não foi detectada qualquer camada de isolamento
térmico, que, se tivesse sido colocada por cima da impermeabilização, contribuiria para a
aumentar a sua durabilidade.

O sistema construtivo geral apresenta ainda de algumas desvantagens que estão


relacionadas com o grande número de pontos singulares, que serão tratados no próximo
parágrafo.

5. PONTOS SINGULARES CRÍTICOS

De acordo com o que se pode observar no local, existem diversos pontos críticos nestes
terraços:
As juntas de dilatação;
As paredes emergentes dos terraços;
As soleiras das portas e envidraçados exteriores;
As floreiras;
Os “muretes” de betão salientes nos terraços;
A colmatação (com folhas e outros detritos) do sistema de evacuação das águas.

As juntas de dilatação são, de forma evidente, as principais responsáveis pelas infiltrações


observadas. Contra esta teoria pode afirmar-se que as juntas de dilatação constituem o
canal mais fácil para a saída de água, qualquer que seja o seu ponto de entrada. Todavia,
com o tipo de laje em questão, com a extensão dos terraços e com a sua fraca pendente,

145
Anomalias em Coberturas

não se considera provável que haja roturas localizadas da impermeabilização em zona


corrente, uma vez que não se observam infiltrações na face inferior da laje fora das zonas
das juntas.

As paredes emergentes dos terraços estavam insuficientemente “rufadas” (isto é, era


insuficiente a elevação da impermeabilização sobre o pano emergente), o que foi corrigido,
de forma adequada, em intervenção anterior.

As soleiras de diversas portas não estão elevadas em relação ao pavimento do terraço, o


que favorece a entrada de água, quer por acumulação sobre o terraço, quer por acção do
vento. Como factor de agravamento desta situação podem ainda observar-se, nalguns
casos, as seguintes anomalias: pedras de soleira partidas, pedras com pequena projecção e
pingadeira, pedras sem inclinação para o exterior, pedras sem batente ou ressalto para a
porta, portas sem “pestana” deflectora da água da chuva sobre o batente da soleira.

As floreiras, que foram já alvo de alguma intervenção de reabilitação, constituem pontos


frágeis de todo o sistema. Pelo que nos é dado observar, são constituídas por elementos em
betão à vista, que sofrem significativas expansões e contracções e, consequentemente,
fissuram regularmente e com facilidade. Por outro lado, a necessidade de drenagem da
água em excesso dos canteiros obriga à colocação de tubos de drenagem, cuja vedação
periférica é difícil de obter.

Por seu turno, a impermeabilização interior é essencial mas pode ter uma durabilidade muito
reduzida, não só pela acção química da terra e das plantas, mas sobretudo por causa das
raízes que conseguem perfurar quase todos os materiais. Recomenda-se, por exemplo, nos
terraços-jardim, a criação de uma camada de betão sobre a impermeabilização para garantir
a sua protecção contra essas acções.

Por último, não convém esquecer que as floreiras são em betão, que é material poroso por
excelência e que se apresenta bastante degradado face às acções atmosféricas.

Os “muretes” ou “vigas invertidas” aparentes nos terraços apresentam o mesmo tipo de


fragilidade das paredes das floreiras, agravada pela maior superfície horizontal exposta às
intempéries.

A colmatação dos sistemas de drenagem resolve-se, naturalmente, com uma limpeza e


manutenção permanentes, com particular atenção ao início do Inverno em que ainda há
muitas folhas secas e existe a probabilidade de chuvas intensas.

6. COMENTÁRIO A DIVERSAS SOLUÇÕES ESPECÍFICAS

Das diversas soluções de reparação já levadas a cabo, merecem destaque as seguintes:


a) Revisão geral de rufos, remates nas paredes, algumas juntas de dilatação caleiras e

146
Exemplo de Relatório de Patologia

algumas floreiras.
b) Remate da impermeabilização contra “muretes” de betão e paredes de floreira, com
perfil metálico revestido a PVC e “mastique” de elevado desempenho;
c) Reparação de junta de dilatação horizontal e vertical com pintura membranosa
sintética (em curso, à data da visita).

Quanto às tarefas compreendidas em a), consideram-se úteis e adequadas, embora fiquem


aquém do necessário, nomeadamente nas floreiras em que o revestimento interior deveria
ser protegido.

A solução b) é uma boa opção, do ponto de vista do remate da impermeabilização em


superfícies verticais sem chanfro ou de difícil corte. Tem apresentado, no entanto, um
envelhecimento precoce, que aconselha a adoptar soluções alternativas.

Quanto à reparação actualmente em curso, da junta de dilatação do terraço que serve a sala
de condomínio, não nos parece adequada a solução proposta, uma vez que esta se destina
sobretudo a fachadas e outros locais onde a acção mecânica é menos intensa. Para
tratamento efectivo das juntas de dilatação, dever-se-á recorrer sem reservas aos
esquemas-tipo tradicionais, com reabertura, lira metálica, mastique de protecção e
impermeabilização solta e reforçada. Pode mesmo encarar-se a necessidade de execução
de dois muretes (um dum lado, outro do outro) ladeando a junta de dilatação, de modo a
permitir o remate vertical das telas e o uso de capeamento metálico superior independente.

7. PROPOSTA DE ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO

A estratégia já anteriormente adoptada de verificação e correcção das zonas singulares da


cobertura com levantamento dos revestimentos e execução de reforços sistemáticos na
impermeabilização, continua a considerar-se vantajosa.

É sabido, no entanto, que uma impermeabilização geral semelhante à que está aplicada tem
uma durabilidade limitada e não tardará a que posteriores patologias, desta feita, em zona
corrente, venham a constituir razão suficiente para a sua integral substituição. Não se
afigura, todavia, que essa intervenção global, apesar de recomendada, seja de imediato
exigível.

A realização de uma reparação de pontos singulares comporta diversos riscos, pelo que só
deve ser executada por empresa da especialidade, depois de observação e identificação
atenta dos trabalhos a executar, bem como da garantia de compatibilidade química entre os
velhos materiais e os novos. Nessa eventual reparação localizada devem ser tidos em conta
os diversos aspectos referidos nos parágrafos 5 e 6 deste relatório, sendo ainda
francamente desejável a correcção das zonas de pendente mais desfavorável.

147
Anomalias em Coberturas

Aspectos da “maquete” do edifício onde


são visíveis os diversos terraços

148
Exemplo de Relatório de Patologia

Aspectos gerais dos terraços onde é


evidente a reduzida pendente e a
estagnação das águas

149
Anomalias em Coberturas

Aspectos de deterioração de guardas e


floreiras

150
Exemplo de Relatório de Patologia

Outros aspectos das floreiras


(drenagem e zonas já reparadas)

151
Anomalias em Coberturas

Deterioração de elementos salientes


em betão armado

152
Exemplo de Relatório de Patologia

Remates da ligação da
impermeabilização a muretes e
floreiras e sua deterioração

153
Anomalias em Coberturas

Obstrução do sistema de drenagem

154
Exemplo de Relatório de Patologia

Soleiras deterioradas ou com altura ou


protecção não adequada (I)

155
Anomalias em Coberturas

Soleiras deterioradas ou com altura ou


protecção não adequada (II)

156
Exemplo de Relatório de Patologia

Infiltrações junto à base de paredes


exteriores

157
Anomalias em Coberturas

Aspectos das infiltrações pelas juntas


de dilatação do edifício

158
Exemplo de Relatório de Patologia

Junta de dilatação em reparação, com


sistema de reduzida resistência
mecânica

159
Anomalias em Coberturas

Outros remates de impermeabilização


com membrana líquida

160
Anexo III
“COBERTURAS DE ZINCO.
ANOMALIAS E SOLUÇÕES DE
REABILITAÇÃO”

Apresentação

Carla Maurício, J. A. R. Mendes da Silva, Isabel Torres

A partir de:
MAURÍCIO, Carla - “Coberturas de zinco. Anomalias e soluções de reabilitação”,
Tese de Mestrado em Reabilitação do Espaço Construído
, DEC – FCTUC, Coimbra, Março de 2008:
Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Anomalias em Coberturas

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Anomalias em Coberturas

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Anomalias em Coberturas

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Anomalias em Coberturas

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Anomalias em Coberturas

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Anomalias em Coberturas

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Anomalias em Coberturas

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Anomalias em Coberturas

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Anomalias em Coberturas

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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Coberturas de Zinco – Anomalias e Soluções de Reabilitação

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