Você está na página 1de 13

Revisão de Direito Penal

Principais Pontos do Direito Penal- Parte Geral

Conceito de Direito Penal


Esse conjunto de normas, valorações e princípios, devidamente sistematizados, tem a
finalidade de tornar possível a convivência humana, ganhando aplicação prática nos casos
ocorrentes, observando rigorosos princípios de justiça. (BITENCOURT, Cezar Roberto).

Princípios
As ideias de igualdade e de liberdade, apanágios do Iluminismo, deram ao Direito Penal um
caráter formal menos cruel do que aquele que predominou durante o Estado Absolutista,
impondo limites à intervenção estatal nas liberdades individuais.

Muitos desses princípios limitadores passaram a integrar os Códigos Penais dos países
democráticos e, afinal, receberam assento constitucional,como garantia máxima de respeito
aos direitos fundamentais do cidadão.

Hoje poderíamos chamar de princípios reguladores do controle penal, princípios


constitucionais fundamentais de garantia do cidadão, ou simplesmente de Princípios
Fundamentais de Direito Penal de um Estado Social e Democrático de Direito.

Todos esses princípios são garantias do cidadão perante o poder punitivo estatal e estão
amparados pelo novo texto constitucional de 1988.

Princípio da Legalidade e Princípio da Reserva Legal


O princípio da legalidade constitui uma efetiva limitação ao poder punitivo estatal.

Embora seja hoje um princípio fundamental do Direito Penal, seu reconhecimento percorreu
um longo processo, com avanços e recuos, não passando, muitas vezes, de simples“fachada
formal”de determinados Estados.

Feuerbach, no início do século XIX, consagrou o princípio da legalidade através da fórmula


latina nullum crimen,nulla poena sine lege.

O princípio da legalidade é um imperativo que não admite desvios nem exceções e representa
uma conquista da consciência jurídica que obedece a exigências de justiça, que somente os
regimes totalitários o têm negado.
Princípio da Legalidade e Princípio da Reserva Legal
A lei deve definir com precisão e de forma cristalina a conduta proibida.

Assim, seguindo a orientação moderna, a Constituição brasileira de 1988, ao proteger os


direitos e garantias fundamentais, em seu art. 5o, inc. XXXIX, determina que “não haverá crime
sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.

Art.1o do Código Penal - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.(Redação dada pela Lei no 7.209,de 11.7.1984)

Princípio da Legalidade e Princípio da Reserva Legal


Proibição de Analogia

NULLUM CRIMEN,NULLA POENA SINE LEGE STRICTA

Analogia é um processo de interpretação que integra uma lacuna existente na lei a partir de
um argumento de semelhança.

A analogia possibilita a regulação de um determinado caso que não se encontra tratado na


perspectiva linguística-conceitual da norma,a partir de um processo de comparação.

A proibição de analogia é uma decorrência do Princípio da Legalidade.

Se uma conduta não se amoldar perfeitamente ao modelo abstrato da ação ou da omissão que
a norma penal descreve,não é possível a aplicação da dita norma.

O juiz não pode ocupar o papel do legislador para criar um novo tipo penal ou para agravar a
punibilidade dos crimes já previstos no ordenamento.

Princípio da Legalidade e Princípio da Reserva Legal


Proibição de Analogia

Art. 269 do CP - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é
compulsória:

Pena - detenção,de seis meses a dois anos,e multa.

Autor:médico

É impossível a extensão dessa incriminação por via analógica a quaisquer outras pessoas,como
enfermeiros,técnicos,auxiliares,etc.
Princípio da Legalidade e Princípio da Reserva Legal
Exigência de Lei Certa

NULLUM CRIMEN,NULLA POENA SINE LEGE CERTA

Para que o Princípio da Legalidade não fique com seu conteúdo esvaziado, é necessário que o
legislador se atenha à obrigação de definir com clareza e individualizar a conduta
delituosa,além de cominar a pena.

A própria história nos mostra a realidade: se tomarmos como exemplo o Direito Penal na
Alemanha hitlerista, veremos que a norma dispunha que poderiam ser declaradas criminosas
as ações contra o sadio sentimento popular.

Direito Penal Nazista


Em 28 de junho de 1935, o regime nazista acabou por eliminar o princípio da legalidade
(nullum crimen nulla poena sine lege) através da nova redação dada ao parágrafo 2o do
Código Penal alemão: “Será punido todo aquele que cometa um fato que a lei declare punível
ou que mereça uma pena segundo a ideia básica de uma lei penal ou segundo o são
sentimento do povo” (grifo nosso). Permitia-se, assim, ao juiz o recurso à analogia in malam
partem, sempre que o sentimento popular indicasse a necessidade de punição de um sujeito
(rectius: de um inimigo da comunidade do povo).

Fonte:https://www.conjur.com.br/2019-mai-15/porciuncula-direito-penal-sentimento-povo-
nazismo

Princípio da Legalidade e Princípio da Reserva Legal


Exigência de Lei Prévia

NULLUM CRIMEN,NULLA POENA SINE LEGE SCRIPTA

O costume é uma norma jurídica que brota espontaneamente, sendo o resultado da realização
de uma sucessão reiterada de atos aliada a um aspecto subjetivo: a convicção da
obrigatoriedade desse procedimento.

O costume não pode ser utilizado para a incriminação de condutas nem para a inflição das
penas, porque isso acarretaria uma violação à segurança do ordenamento jurídico.

O princípio da legalidade implica primeiro termo a exclusão do Direito consuetudinário. Isso


significa que por essa via não se pode criar nenhum novo tipo penal.
Princípio da Legalidade e Princípio da Reserva Legal
Exigência de Lei Prévia

NULLUM CRIMEN,NULLA POENA SINE LEGE PRAEVIA

Por fim,é exigência do Princípio da Legalidade a irretroatividade da lei penal que de qualquer
forma prejudique o réu.

Se as normas penais incriminatórias pudessem retroagir, o princípio em comento não atingiria


a sua finalidade de garantir o homem em face do poder penal do Estado.

Princípio da Legalidade e Princípio da Reserva Legal


Exigência de Lei Prévia

Art. 2o do CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação
dada pela Lei no 7.209,de 11.7.1984)

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica- se aos
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
(Redação dada pela Lei no 7.209,de 11.7.1984)

Excepcionalmente, porém, a norma operará retroativamente, alcançando, por conseguinte,


situações anteriores à sua entrada em vigor, sempre que for mais benéfica para o infrator, ou
porque lhe é mais branda (LEX MITIOR) ou porque descriminaliza a conduta (ABOLITIO
CRIMINIS)

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana


A dignidade da pessoa humana, como dado inerente ao homem enquanto ser, é guindada à
condição de princípio constitucional insculpido no artigo 1.o, III da Constituição Federal.

Nesse princípio reside o limite mínimo a que está subordinada toda e qualquer legislação.

Antecede, portanto, o juízo axiológico do legislador e vincula de forma absoluta sua atividade
normativa,mormente no campo penal.

Daí porque toda lei que viole a dignidade da pessoa humana deve ser reputada
inconstitucional.

Princípio da Culpabilidade
Segundo o princípio de culpabilidade, em sua configuração mais elementar, “não há crime sem
culpabilidade”

Em primeiro lugar, a culpabilidade, como fundamento da pena, significa um juízo de valor que
permite atribuir responsabilidade pela prática de um fato típico e antijurídico a uma
determinada pessoa para a consequente aplicação de pena.
Em segundo lugar, entende-se a culpabilidade como elemento da determinação ou medição
da pena. Nessa acepção a culpabilidade funciona não como fundamento da pena, mas como
limite desta, de acordo com a gravidade do injusto.

E, finalmente, em terceiro lugar, entende-se a culpabilidade, como conceito contrário à


responsabilidade objetiva. Nessa acepção, o princípio de culpabilidade impede a atribuição da
responsabilidade penal objetiva. Ninguém responderá por um resultado absolutamente
imprevisível se não houver obrado,pelo menos,com dolo ou culpa.

Princípio da Intervenção Mínima


O princípio da intervenção mínima, também conhecido como ultima ratio, orienta e limita o
poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só se
legitima se constituir meio necessário para a prevenção de ataques contra bens jurídicos
importantes.

Assim, se para o restabelecimento da ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis ou
administrativas, são estas as que devem ser empregadas, e não as penais.

Princípio da Intervenção Mínima


Assim,o Direito Penal assume uma feição subsidiária.

Quando nos referimos à proteção subsidiária de bens jurídicos como limite do ius puniendi
estatal, avançamos, portanto, ainda mais na restrição do âmbito de incidência do Direito
Penal.

Pois o caráter subsidiário da proteção indica que a intervenção coercitiva somente terá lugar
para prevenir as agressões mais graves aos bens jurídicos protegidos, naqueles casos em que
os meios de proteção oferecidos pelos demais ramos do ordenamento jurídico se revelem
insuficientes ou inadequados para esse fim.

Princípio da Intervenção Mínima


Assim,o Direito Penal assume uma feição subsidiária.

Quando nos referimos à proteção subsidiária de bens jurídicos como limite do ius puniendi
estatal, avançamos, portanto, ainda mais na restrição do âmbito de incidência do Direito
Penal.

Pois o caráter subsidiário da proteção indica que a intervenção coercitiva somente terá lugar
para prevenir as agressões mais graves aos bens jurídicos protegidos, naqueles casos em que
os meios de proteção oferecidos pelos demais ramos do ordenamento jurídico se revelem
insuficientes ou inadequados para esse fim.
Jogos de Azar
Art.50 da Lei de Contravenções Penais.Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público
ou acessivel ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele: (Vide Decreto-Lei no
4.866,de 23.10.1942) (Vide Decreto-Lei 9.215,de 30.4.1946)

Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de dois a quinze contos de réis,
estendendo-se os efeitos da condenação à perda dos moveis e objetos de decoração do local.

§ 1o A pena é aumentada de um terço, se existe entre os empregados ou participa do jogo


pessoa menor de dezoito anos.

§ 2o Incorre na pena de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, quem é encontrado a
participar do jogo,como ponteiro ou apostador.

§ 2o Incorre na pena de multa,de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais),quem é encontrado a participar do jogo, ainda que pela internet ou por qualquer outro
meio de comunicação, como ponteiro ou apostador. (Redação dada pela Lei no 13.155,de
2015)

§ 3o Consideram-se,jogos de azar:

a) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte;

b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde sejam autorizadas;

c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.

Jogo do Bicho
Art. 58 da Lei de Contravenções Penais. Explorar ou realizar a loteria denominada jogo do
bicho, ou praticar qualquer ato relativo à sua realização ou exploração:

Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, de dois a vinte contos de réis.

Parágrafo único. Incorre na pena de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, aquele
que participa da loteria, visando a obtenção de prêmio, para si ou para terceiro.

Princípio da Fragmentariedade
Segundo este princípio, só devem os bens jurídicos ser defendidos penalmente diante de
certas formas de agressão,consideradas socialmente intoleráveis.

Ou seja, significado do princípio constitucional da intervenção mínima ressalta o caráter


fragmentário do Direito Penal. Ora, este ramo da ciência jurídica protege tão somente valores
imprescindíveis para a sociedade. Não se pode utilizar o Direito Penal como instrumento de
tutela de todos os bens jurídicos.

E neste âmbito,surge a necessidade de se encontrar limites ao legislador penal.


Princípio da Fragmentariedade
Resumindo, “caráter fragmentário” do Direito Penal significa que o Direito Penal não deve
sancionar todas as condutas lesivas dos bens jurídicos, mas tão somente aquelas condutas
mais graves e mais perigosas praticadas contra bens mais relevantes.

Lei de Crimes Ambientais- 9. 605/98


Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou instrumentos
próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem licença da
autoridade competente:

Pena - detenção,de seis meses a um ano,e multa.

Lei de Crimes Ambientais- 9. 605/98


Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano: (Redação
dada pela Lei no 12.408, de 2011)

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Redação dada pela Lei no 12.408,de
2011)

Lei de Telecomunicações – 9.472/97


Art.183.Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação:

Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro,e
multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Parágrafo único.Incorre na mesma pena quem,direta ou indiretamente,concorrer para o crime.

Exemplo: rádio transceptor instalado em interior de automóvel com perfeito Funcionamento

Fragmentariedade “ás avessas”


A fragmentariedade às avessas (ou ao avesso) ocorre quando o direito penal perde o interesse
sobre uma conduta inicialmente criminosa, em razão da mudança dos valores da sociedade.

Em outras palavras, o crime deixa de existir, pois a incriminação se tornou desnecessária.

Os demais ramos do Direito já são suficientes para resolver o problema.

Ex.: Adultério era crime tipificado no art. 240, do CP e deixou de ser em 2005, quando a Lei no
11.106,revogou o tipo penal.
Princípio da Irretroatividade da Lei Penal
A irretroatividade, como princípio geral do Direito Penal moderno, embora de origem mais
antiga, é consequência das ideias consagradas pelo Iluminismo,insculpida na Declaração
Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.

Desde que uma lei entra em vigor até que cesse a sua vigência rege todos os atos abrangidos
pela sua destinação. “Entre estes dois limites — entrada em vigor e cessação de sua vigência
— situa-se a sua eficácia. Não alcança, assim, os fatos ocorridos antes ou depois dos dois
limites extremos: não retroage e nem tem ultraatividade. É o princípio tempus regit actum”

Contudo, a despeito do supra afirmado, o princípio da irretroatividade vige somente em


relação à lei mais severa.

Admite-se, no Direito intertemporal, a aplicação retroativa da lei mais favorável (art. 5o, XL, da
CF). Assim, pode-se resumir a questão no seguinte princípio: o da retroatividade da lei penal
mais benigna.

A lei nova que for mais favorável ao réu sempre retroage.

Princípio da Adequação Social


Segundo Hans Welzel, o Direito Penal tipifica somente condutas que tenham uma certa
relevância social; caso contrário, não poderiam ser delitos.

Deduz-se, consequentemente, que há condutas que por sua “adequação social” não podem
ser consideradas criminosas.

Em outros termos, segundo esta teoria, as condutas que se consideram “socialmente


adequadas” não se revestem de tipicidade e, por isso, não podem constituir delitos.

Jurisprudência- TJMA
Penal. Processual. Apelação. Favorecimento da Prostituição. Casa de Prostituição. Extinção da
punibilidade. Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa. Reconhecimento. Possibilidade.
***Casa de Prostituição. Teoria da Causa Madura. Supremacia do mais benéfico ao réu.
Conduta materialmente atípica. Princípio da adequação social. Aplicabilidade. Conjunto
probatório desarmônico. Absolvição. Imperatividade. I - Se tomado de base a pena in concreto,
ao réu, imposta, verificado que entre o recebimento da denúncia e o prolatar da sentença,
transcorrido lapso temporal superior ao prazo prescricional previsto em lei, imperativo o
reconhecer da prescrição da pretensão punitiva. II - Se de pleno conhecer e literalmente
tolerado pela comunidade e autoridades locais, o manter pelo agente, de aposentos a que se
presume destinados a práticas sexuais, incongruente sustentar de edito condenatório, aos
auspícios de que configurado o tipo "Casa de Prostituição". Prevalência do Princípio da
Adequação Social. III - Ainda que, em fase judicial, a indicar as colhidas provas, manutenção,
pelo agente, de "Casa de Prostituição", insuficientes os indícios a firmar certeza quanto à
habitualidade da prática, e, porquanto isso, se lhe carente elemento normativo indispensável
ao perfazer do tipo, daí porque, não obstante a incidência da prescrição retroativa, impositivo
o se lhe absolver. IV - Recurso a que se dá o requerido provimento, ao fim de que reconhecida
a prescrição retroativa quanto ao crime de Favorecimento da Prostituição e, a ré, se lhe
absolver do de Casa de Prostituição. Unanimidade. (TJ-MA - APR: 98502004 MA, Relator:
ANTONIO FERNANDO BAYMA ARAUJO, Data de Julgamento: 13/09/2005, COELHO NETO)

Princípio da Insignificância
O princípio da insignificância foi cunhado pela primeira vez por Claus Roxin em 1964.

Segundo esse princípio, que Klaus Tiedemann chamou de princípio de bagatela, é imperativa
uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se pretende punir e a
drasticidade da intervenção estatal. Amiúde, condutas que se amoldam a determinado tipo
penal, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma relevância material.

Jurisprudência - STJ
PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO. ESTABELECIMENTO
COMERCIAL. AGENTE REINCIDENTE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE.
INEXPRESSIVA LESÃO AO BEM JURÍDICO TUTELADO. MAIOR REPROVABILIDADE DA CONDUTA
NÃO DEMONSTRADA. ORDEM CONCEDIDA. 1. Sedimentou-se a orientação jurisprudencial no
sentido de que a incidência do princípio da insignificância pressupõe a concomitância de
quatro vetores, a saber: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma
periculosidade social da ação; c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e
d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada. 2. O furto a estabelecimento comercial
consistente em 13 tabletes de chocolate, 1 biscoito lata e 2 pisca-piscas, avaliados em R$
67,00, o que corresponde a 10,77% do valor do salário mínimo vigente à época dos fatos,
representa inexpressiva lesão ao bem jurídico tutelado, de modo a autorizar a incidência do
princípio da insignificância. 3. Ordem concedida a fim de restabelecer a decisão de absolvição
sumária proferida pelo Juízo de primeiro grau na Ação Penal 0462789-45.2012.8.19.0001 em
trâmite na 37a Vara Criminal da Comarca da Capital/RJ. (STJ - HC: 420450 RJ 2017/0264783-9,
Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 27/02/2018,T6 - SEXTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 08/03/2018)

Jurisprudência - STJ
HABEAS CORPUS. FURTO TENTADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. VALOR
ÍNFIMO DAS RES FURTIVAE. IRRELEVÂNCIA DA CONDUTA NA ESFERA PENAL. PRECEDENTES DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DESTA CORTE. RÉU REINCIDENTE. POSSIBILIDADE DA
APLICAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. A conduta perpetrada pelo Paciente –tentativa de furto
de uma garrafa de uísque da marca 'Bell ́s" e três desodorantes – insere-se na concepção
doutrinária e jurisprudencial de crime de bagatela. 2. O fato não lesionou o bem jurídico
tutelado pelo ordenamento positivo, dado o reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento do agente, que tentou furtar objetos avaliados em R$ 40,00 (quarenta reais),
sendo de rigor o reconhecimento da atipicidade da conduta. 3. Segundo a jurisprudência
consolidada nesta Corte e no Pretório Excelso, a existência de condições pessoais
desfavoráveis, tais como maus antecedentes, reincidência ou ações penais em curso, não
impedem a aplicação do princípio da insignificância. Precedentes. 4. Ordem concedida para
absolver o Paciente do crime imputado, por atipicidade da conduta. (STJ - HC: 170260 SP
2010/0074393-7, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 19/08/2010, T5 -
QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 20/09/2010)

Princípio da Ofensividade
Para que se tipifique algum crime, em sentido material, é indispensável que haja, pelo menos,
um perigo concreto, real e efetivo de dano a um bem jurídico penalmente protegido.

Somente se justifica a intervenção estatal em termos de repressão penal se houver efetivo e


concreto ataque a um interesse socialmente relevante, que represente, no mínimo, perigo
concreto ao bem jurídico tutelado.

Obs: Delitos de Perigo Abstrato


A ânsia pela prevenção, pela intervenção antecipada do controle penal, por controlar o acaso e
a tragédia decorrente de inúmeros riscos assumidos pela sociedade atual, leva o legislador a
estabelecer como penalmente relevante o mero comportamento, independentemente de seu
resultado de perigo ou de lesão. Não é por acaso que a produção legislativa penal atual tem
como núcleo o tipo de perigo abstrato. (Pierpaolo Cruz Bottini -

http://www.btadvogados.com.br/pt/artigo/os-crimes-de-perigo-abstrato-e-o- supremo-
tribunal-federal/)

Exemplos:

Art. 306 do CTB. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão
da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:
(Redação dada pela Lei no 12.760, de 2012)

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Art. 16 da Lei 10.826/03. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar: (Redação dada pela Lei no 13.964, de
2019)

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.


Princípio da Proporcionalidade
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, já exigia expressamente que se
observasse a proporcionalidade entre a gravidade do crime praticado e a sanção a ser aplicada,
in verbis:“a lei só deve cominar penas estritamente necessárias e proporcionais ao delito” (art.
15).

No entanto, o princípio da proporcionalidade é uma consagração do constitucionalismo


moderno (embora já fosse reclamado por Beccaria), sendo recepcionado, como acabamos de
referir, pela Constituição Federal brasileira, em vários dispositivos, tais como: exigência da
individualização da pena (art. 5o, XLVI), proibição de determinadas modalidades de sanções
penais (art. 5o, XLVII), admissão de maior rigor para infrações mais graves (art. 5º, XLII, XLIII e
XLIV). Portanto, exige-se moderação.

Princípio da Humanidade
 Dignidade da pessoa humana é um bem superior aos demais e essencial a:

Todos os direitos fundamentais do Homem, que atrai todos os demais valores constitucionais
para si.

A Constituição brasileira elevou, para Valério de Oliveira Mazzuoli, a dignidade da pessoa


humana a valor fundante da ordem normativa interna, reflexo do movimento expansionista
dos direitos humanos iniciado no período pós-Segunda Guerra.

O princípio de humanidade do Direito Penal é o maior entrave para a adoção da pena capital e
da prisão perpétua.

Esse princípio sustenta que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a
dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico- psíquica dos condenados.

Princípio da Humanidade
A proscrição de penas cruéis e infamantes, a proibição de tortura e maus-tratos nos
interrogatórios policiais e a obrigação imposta ao Estado de dotar sua infraestrutura carcerária
de meios e recursos que impeçam a degradação e a dessocialização dos condenados são
corolários do princípio de humanidade.

Segundo Eugênio Raúl Zaffaroni (jurista argentino), esse princípio determina “a


inconstitucionalidade de qualquer pena ou consequência do delito que crie uma deficiência
física (morte, amputação, castração ou esterilização, intervenção neurológica etc.), como
também qualquer consequência jurídica inapagável do delito”.
Princípio da Pessoalidade
Por esse princípio se impede a punição por fato alheio, vale dizer, só o autor da infração penal
pode ser apenado.

Art. 5.o, inciso XLV da CF - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido;

Princípio da Individualização da Pena


Este princípio obriga o julgador a fixar a pena, conforme a cominação legal (espécie e
quantidade) e a determinar a forma de sua execução.

Art. 5.o inciso XLVI da CF - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as
seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos;

Princípio NE BIS IN IDEM


 O princípio ne bis in idem ou non bis in idem constitui infranqueável limite ao poder
punitivo do Estado.

 Através dele procura-se impedir mais de uma punição individual – compreendendo


tanto a pena como a agravante – pelo mesmo fato (a dupla punição pelo mesmo fato).

Princípio NE BIS IN IDEM


(“ VEDAÇÃO DA DUPLA PUNIÇÃO PELA MESMO FATO”)

 O princípio ne bis in idem ou non bis in idem constitui infranqueável limite ao poder
punitivo do Estado.

 Através dele procura-se impedir mais de uma punição individual – compreendendo


tanto a pena como a agravante – pelo mesmo fato (a dupla punição pelo mesmo fato).
Princípio da Segurança Jurídica
 Nas palavras de José Afonso da Silva, "a segurança jurídica consiste no 'conjunto de
condições que tornam possível às pessoas o conhecimento antecipado e reflexivo das
consequências diretas de seus atos e de seus fatos à luz da liberdade reconhecida'.
Uma importante condição da segurança jurídica está na relativa certeza que os
indivíduos têm de que as relações realizadas sob o império de uma norma devem
perdurar ainda quando tal norma seja substituída" (SILVA, J., Comentário Contextual à
Constituição. São Paulo: Malheiros, 2006).

 O exemplo clássico de aplicação do princípio da segurança jurídica é o que decorre do


art.5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal (CF) de 1988, segundo o qual "a lei não
prejudicará o direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito".

Você também pode gostar