Princípios
As ideias de igualdade e de liberdade, apanágios do Iluminismo, deram ao Direito Penal um
caráter formal menos cruel do que aquele que predominou durante o Estado Absolutista,
impondo limites à intervenção estatal nas liberdades individuais.
Muitos desses princípios limitadores passaram a integrar os Códigos Penais dos países
democráticos e, afinal, receberam assento constitucional,como garantia máxima de respeito
aos direitos fundamentais do cidadão.
Todos esses princípios são garantias do cidadão perante o poder punitivo estatal e estão
amparados pelo novo texto constitucional de 1988.
Embora seja hoje um princípio fundamental do Direito Penal, seu reconhecimento percorreu
um longo processo, com avanços e recuos, não passando, muitas vezes, de simples“fachada
formal”de determinados Estados.
O princípio da legalidade é um imperativo que não admite desvios nem exceções e representa
uma conquista da consciência jurídica que obedece a exigências de justiça, que somente os
regimes totalitários o têm negado.
Princípio da Legalidade e Princípio da Reserva Legal
A lei deve definir com precisão e de forma cristalina a conduta proibida.
Art.1o do Código Penal - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.(Redação dada pela Lei no 7.209,de 11.7.1984)
Analogia é um processo de interpretação que integra uma lacuna existente na lei a partir de
um argumento de semelhança.
Se uma conduta não se amoldar perfeitamente ao modelo abstrato da ação ou da omissão que
a norma penal descreve,não é possível a aplicação da dita norma.
O juiz não pode ocupar o papel do legislador para criar um novo tipo penal ou para agravar a
punibilidade dos crimes já previstos no ordenamento.
Art. 269 do CP - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é
compulsória:
Autor:médico
É impossível a extensão dessa incriminação por via analógica a quaisquer outras pessoas,como
enfermeiros,técnicos,auxiliares,etc.
Princípio da Legalidade e Princípio da Reserva Legal
Exigência de Lei Certa
Para que o Princípio da Legalidade não fique com seu conteúdo esvaziado, é necessário que o
legislador se atenha à obrigação de definir com clareza e individualizar a conduta
delituosa,além de cominar a pena.
A própria história nos mostra a realidade: se tomarmos como exemplo o Direito Penal na
Alemanha hitlerista, veremos que a norma dispunha que poderiam ser declaradas criminosas
as ações contra o sadio sentimento popular.
Fonte:https://www.conjur.com.br/2019-mai-15/porciuncula-direito-penal-sentimento-povo-
nazismo
O costume é uma norma jurídica que brota espontaneamente, sendo o resultado da realização
de uma sucessão reiterada de atos aliada a um aspecto subjetivo: a convicção da
obrigatoriedade desse procedimento.
O costume não pode ser utilizado para a incriminação de condutas nem para a inflição das
penas, porque isso acarretaria uma violação à segurança do ordenamento jurídico.
Por fim,é exigência do Princípio da Legalidade a irretroatividade da lei penal que de qualquer
forma prejudique o réu.
Art. 2o do CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação
dada pela Lei no 7.209,de 11.7.1984)
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica- se aos
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
(Redação dada pela Lei no 7.209,de 11.7.1984)
Nesse princípio reside o limite mínimo a que está subordinada toda e qualquer legislação.
Antecede, portanto, o juízo axiológico do legislador e vincula de forma absoluta sua atividade
normativa,mormente no campo penal.
Daí porque toda lei que viole a dignidade da pessoa humana deve ser reputada
inconstitucional.
Princípio da Culpabilidade
Segundo o princípio de culpabilidade, em sua configuração mais elementar, “não há crime sem
culpabilidade”
Em primeiro lugar, a culpabilidade, como fundamento da pena, significa um juízo de valor que
permite atribuir responsabilidade pela prática de um fato típico e antijurídico a uma
determinada pessoa para a consequente aplicação de pena.
Em segundo lugar, entende-se a culpabilidade como elemento da determinação ou medição
da pena. Nessa acepção a culpabilidade funciona não como fundamento da pena, mas como
limite desta, de acordo com a gravidade do injusto.
Assim, se para o restabelecimento da ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis ou
administrativas, são estas as que devem ser empregadas, e não as penais.
Quando nos referimos à proteção subsidiária de bens jurídicos como limite do ius puniendi
estatal, avançamos, portanto, ainda mais na restrição do âmbito de incidência do Direito
Penal.
Pois o caráter subsidiário da proteção indica que a intervenção coercitiva somente terá lugar
para prevenir as agressões mais graves aos bens jurídicos protegidos, naqueles casos em que
os meios de proteção oferecidos pelos demais ramos do ordenamento jurídico se revelem
insuficientes ou inadequados para esse fim.
Quando nos referimos à proteção subsidiária de bens jurídicos como limite do ius puniendi
estatal, avançamos, portanto, ainda mais na restrição do âmbito de incidência do Direito
Penal.
Pois o caráter subsidiário da proteção indica que a intervenção coercitiva somente terá lugar
para prevenir as agressões mais graves aos bens jurídicos protegidos, naqueles casos em que
os meios de proteção oferecidos pelos demais ramos do ordenamento jurídico se revelem
insuficientes ou inadequados para esse fim.
Jogos de Azar
Art.50 da Lei de Contravenções Penais.Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público
ou acessivel ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele: (Vide Decreto-Lei no
4.866,de 23.10.1942) (Vide Decreto-Lei 9.215,de 30.4.1946)
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de dois a quinze contos de réis,
estendendo-se os efeitos da condenação à perda dos moveis e objetos de decoração do local.
§ 2o Incorre na pena de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, quem é encontrado a
participar do jogo,como ponteiro ou apostador.
§ 2o Incorre na pena de multa,de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais),quem é encontrado a participar do jogo, ainda que pela internet ou por qualquer outro
meio de comunicação, como ponteiro ou apostador. (Redação dada pela Lei no 13.155,de
2015)
§ 3o Consideram-se,jogos de azar:
b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde sejam autorizadas;
Jogo do Bicho
Art. 58 da Lei de Contravenções Penais. Explorar ou realizar a loteria denominada jogo do
bicho, ou praticar qualquer ato relativo à sua realização ou exploração:
Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, de dois a vinte contos de réis.
Parágrafo único. Incorre na pena de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, aquele
que participa da loteria, visando a obtenção de prêmio, para si ou para terceiro.
Princípio da Fragmentariedade
Segundo este princípio, só devem os bens jurídicos ser defendidos penalmente diante de
certas formas de agressão,consideradas socialmente intoleráveis.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Redação dada pela Lei no 12.408,de
2011)
Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro,e
multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Ex.: Adultério era crime tipificado no art. 240, do CP e deixou de ser em 2005, quando a Lei no
11.106,revogou o tipo penal.
Princípio da Irretroatividade da Lei Penal
A irretroatividade, como princípio geral do Direito Penal moderno, embora de origem mais
antiga, é consequência das ideias consagradas pelo Iluminismo,insculpida na Declaração
Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.
Desde que uma lei entra em vigor até que cesse a sua vigência rege todos os atos abrangidos
pela sua destinação. “Entre estes dois limites — entrada em vigor e cessação de sua vigência
— situa-se a sua eficácia. Não alcança, assim, os fatos ocorridos antes ou depois dos dois
limites extremos: não retroage e nem tem ultraatividade. É o princípio tempus regit actum”
Admite-se, no Direito intertemporal, a aplicação retroativa da lei mais favorável (art. 5o, XL, da
CF). Assim, pode-se resumir a questão no seguinte princípio: o da retroatividade da lei penal
mais benigna.
Deduz-se, consequentemente, que há condutas que por sua “adequação social” não podem
ser consideradas criminosas.
Jurisprudência- TJMA
Penal. Processual. Apelação. Favorecimento da Prostituição. Casa de Prostituição. Extinção da
punibilidade. Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa. Reconhecimento. Possibilidade.
***Casa de Prostituição. Teoria da Causa Madura. Supremacia do mais benéfico ao réu.
Conduta materialmente atípica. Princípio da adequação social. Aplicabilidade. Conjunto
probatório desarmônico. Absolvição. Imperatividade. I - Se tomado de base a pena in concreto,
ao réu, imposta, verificado que entre o recebimento da denúncia e o prolatar da sentença,
transcorrido lapso temporal superior ao prazo prescricional previsto em lei, imperativo o
reconhecer da prescrição da pretensão punitiva. II - Se de pleno conhecer e literalmente
tolerado pela comunidade e autoridades locais, o manter pelo agente, de aposentos a que se
presume destinados a práticas sexuais, incongruente sustentar de edito condenatório, aos
auspícios de que configurado o tipo "Casa de Prostituição". Prevalência do Princípio da
Adequação Social. III - Ainda que, em fase judicial, a indicar as colhidas provas, manutenção,
pelo agente, de "Casa de Prostituição", insuficientes os indícios a firmar certeza quanto à
habitualidade da prática, e, porquanto isso, se lhe carente elemento normativo indispensável
ao perfazer do tipo, daí porque, não obstante a incidência da prescrição retroativa, impositivo
o se lhe absolver. IV - Recurso a que se dá o requerido provimento, ao fim de que reconhecida
a prescrição retroativa quanto ao crime de Favorecimento da Prostituição e, a ré, se lhe
absolver do de Casa de Prostituição. Unanimidade. (TJ-MA - APR: 98502004 MA, Relator:
ANTONIO FERNANDO BAYMA ARAUJO, Data de Julgamento: 13/09/2005, COELHO NETO)
Princípio da Insignificância
O princípio da insignificância foi cunhado pela primeira vez por Claus Roxin em 1964.
Segundo esse princípio, que Klaus Tiedemann chamou de princípio de bagatela, é imperativa
uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se pretende punir e a
drasticidade da intervenção estatal. Amiúde, condutas que se amoldam a determinado tipo
penal, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma relevância material.
Jurisprudência - STJ
PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO. ESTABELECIMENTO
COMERCIAL. AGENTE REINCIDENTE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE.
INEXPRESSIVA LESÃO AO BEM JURÍDICO TUTELADO. MAIOR REPROVABILIDADE DA CONDUTA
NÃO DEMONSTRADA. ORDEM CONCEDIDA. 1. Sedimentou-se a orientação jurisprudencial no
sentido de que a incidência do princípio da insignificância pressupõe a concomitância de
quatro vetores, a saber: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma
periculosidade social da ação; c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e
d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada. 2. O furto a estabelecimento comercial
consistente em 13 tabletes de chocolate, 1 biscoito lata e 2 pisca-piscas, avaliados em R$
67,00, o que corresponde a 10,77% do valor do salário mínimo vigente à época dos fatos,
representa inexpressiva lesão ao bem jurídico tutelado, de modo a autorizar a incidência do
princípio da insignificância. 3. Ordem concedida a fim de restabelecer a decisão de absolvição
sumária proferida pelo Juízo de primeiro grau na Ação Penal 0462789-45.2012.8.19.0001 em
trâmite na 37a Vara Criminal da Comarca da Capital/RJ. (STJ - HC: 420450 RJ 2017/0264783-9,
Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 27/02/2018,T6 - SEXTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 08/03/2018)
Jurisprudência - STJ
HABEAS CORPUS. FURTO TENTADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. VALOR
ÍNFIMO DAS RES FURTIVAE. IRRELEVÂNCIA DA CONDUTA NA ESFERA PENAL. PRECEDENTES DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DESTA CORTE. RÉU REINCIDENTE. POSSIBILIDADE DA
APLICAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. A conduta perpetrada pelo Paciente –tentativa de furto
de uma garrafa de uísque da marca 'Bell ́s" e três desodorantes – insere-se na concepção
doutrinária e jurisprudencial de crime de bagatela. 2. O fato não lesionou o bem jurídico
tutelado pelo ordenamento positivo, dado o reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento do agente, que tentou furtar objetos avaliados em R$ 40,00 (quarenta reais),
sendo de rigor o reconhecimento da atipicidade da conduta. 3. Segundo a jurisprudência
consolidada nesta Corte e no Pretório Excelso, a existência de condições pessoais
desfavoráveis, tais como maus antecedentes, reincidência ou ações penais em curso, não
impedem a aplicação do princípio da insignificância. Precedentes. 4. Ordem concedida para
absolver o Paciente do crime imputado, por atipicidade da conduta. (STJ - HC: 170260 SP
2010/0074393-7, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 19/08/2010, T5 -
QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 20/09/2010)
Princípio da Ofensividade
Para que se tipifique algum crime, em sentido material, é indispensável que haja, pelo menos,
um perigo concreto, real e efetivo de dano a um bem jurídico penalmente protegido.
http://www.btadvogados.com.br/pt/artigo/os-crimes-de-perigo-abstrato-e-o- supremo-
tribunal-federal/)
Exemplos:
Art. 306 do CTB. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão
da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:
(Redação dada pela Lei no 12.760, de 2012)
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Art. 16 da Lei 10.826/03. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar: (Redação dada pela Lei no 13.964, de
2019)
Princípio da Humanidade
Dignidade da pessoa humana é um bem superior aos demais e essencial a:
Todos os direitos fundamentais do Homem, que atrai todos os demais valores constitucionais
para si.
O princípio de humanidade do Direito Penal é o maior entrave para a adoção da pena capital e
da prisão perpétua.
Esse princípio sustenta que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a
dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico- psíquica dos condenados.
Princípio da Humanidade
A proscrição de penas cruéis e infamantes, a proibição de tortura e maus-tratos nos
interrogatórios policiais e a obrigação imposta ao Estado de dotar sua infraestrutura carcerária
de meios e recursos que impeçam a degradação e a dessocialização dos condenados são
corolários do princípio de humanidade.
Art. 5.o, inciso XLV da CF - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido;
Art. 5.o inciso XLVI da CF - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as
seguintes:
b) perda de bens;
c) multa;
O princípio ne bis in idem ou non bis in idem constitui infranqueável limite ao poder
punitivo do Estado.