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O autor afirma que “o espírito científico deve formar-se contra a Natureza, contra o que é,
em nós e fora de nós, o impulso e a informação da natureza, contra o arrebatamento natural,
contra o fato colorido e corriqueiro. O espírito científico deve formar-se enquanto se reforma”
(p. 29).
Os livros de ensino científico moderno estão desligados das observações primeiras, o que
não ocorria no período pré-científico, no século XVIII. O livro de ensino científico moderno
comanda o aluno, formula suas próprias perguntas, enquanto os livros científicos do século
XVIII dialogavam com o aluno, e este e o autor pensavam num mesmo nível, além disso,
tinham por ponto de partida a natureza, e se interessava pela vida cotidiana, divulgava
conhecimentos populares, sem se preocupar com rigor ou vulgarização. A partir desse
momento o autor faz observações gerais sobre os livros didáticos para mostrar as diferenças
nos dois períodos que deseja caracterizar.
Outro aspeto que o autor destaca é a “ficção científica”, em que as considera como
divertidas, mas nunca instrutivas, uma vez que se apoiam na forma concreta se esquecendo da
abstrata do fenômeno, criando muitas vezes aberrações. “Chega-se, por meio de imagens tão
simplistas, a estranhas sínteses” (p. 46). Nesse sentido, o autor aponta a não aceitação de
imagens pela ciência. Segundo o autor, sem a devida racionalização da experiência
determinado por um problema, pode acabar surgindo o “inconsciente do espírito científico”
(p. 51). Para que isso não ocorra deve-se reavivar a crítica e sempre voltar continuamente a
origem de seu problema, pois este é o “estado de vigor psíquico, ao momento em que a
resposta saiu do problema” (p. 51). Para que se possa falar em racionalização a experiência
deve ser “inserida num jogo de razões múltiplas” (p. 51), sendo que estas se opõem as
primeiras perceções, ao imediatismo, a necessidade e a crença de partir do certo.
Através de vários exemplos Bachelard nos mostra que “o que existe de mais imediato na
experiência primeira somos nós mesmos, nossas surdas paixões, nossos desejos inconscientes”
(p.57). Romper com esse primeiro paradigma é condição para que o pesquisador consiga
mover-se assintoticamente a verdade. O autor destaca ainda que os professores, ao
propiciarem a experiência primeira aos seus alunos deve garantir que a observação não pare
por ai. Nesses primeiros capítulos, Bachelard deixa claro que existem outros obstáculos
epistemológicos que serão tratados nos próximos capítulos de sua obra.
Capítulo 3
O autor inicia o capítulo condenando a falsa doutrina do geral na ciência, a qual considera
como suspensão da experiência. Para se chegar ao que chama de teoria da abstração
científica, a psicanálise do conhecimento objetivo deve examinar aos encantos da facilidade.
Segundo Bachelard, as leis gerais bloqueiam as ideias, pois respondem sem que haja pergunta,
definindo palavras, e não as coisas, somente identificando a Natureza. Recorda a tendência de
o espírito científico seguir em duas direções: atração pelo particular e a atração pelo universal.
Define essas tendências como características de um conhecimento em compreensão e de um
conhecimento em extensão.
E trabalho com um meio termo, uma nova palavra entre compreensão e extensão, para
designar a atividade do que chamou de pensamento empírico inventivo. “A nuança
intermediária será realizada se o enriquecimento em extensão se tornar necessário, tão
articulado quanto a riqueza em compreensão. Para incorporar novas provas experimentais,
será preciso então deformar os conceitos primitivos, estudar as condições de aplicação desses
conceitos, e sobretudo, incorporar as condições de aplicação de um conceito no próprio
sentido do conceito. É nesta última necessidade que reside, a nosso ver, o caráter dominante
do novo racionalismo, correspondente a uma estreita união da experiência com a razão.” Há
que se fazer o teste do conceito, e para isso, através da experiência busca-se complica-lo, para
depois aplica-lo, apesar de sua resistência. Bachelard então correlaciona a cientificidade de um
conceito enquanto possuidor de uma técnica de verificação. A partir de um fenômeno bem
definido, o espírito deve mirar as variações, para depois transforma-las em variáveis
matemáticas.
Deve-se então provoca-las, buscar realizar certas possibilidades não reveladas a priori.
Aliando experiência e razão, alcançar a compreensão matemática do conceito fenomenal.