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PARECER Órgão: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
Número: 122508 Data Emissão: 2018
Ementa: Gravação de Consultas Médicas. Áudio e Vídeo. Possibilidade. Ressalvas. Comportamento Ético do Médico. Adoção de medidas
preventivas e protetivas da relação médico-paciente. Exceção às situações de urgência e emergência.
Consulta nº 122.508/18
Relator: Dr. Osvaldo Pires G. Simonelli - OAB/SP 165.381 - Advogado do Departamento Jurídico.
Parecer subscrito pela Conselheira Silvana Maria Figueiredo Morandini, Diretora Secretária.
PARECER
A presente questão representa uma situação bastante frequente nos dias atuais, em
decorrência do fato de que praticamente todos os cidadãos possuem aparelhos celulares -
smartphones - que permitem o fácil registro das situações cotidianas, muitas vezes de modo
imperceptível aos interlocutores.
Os pacientes têm se utilizado de tal artifício para registro das consultas médicas, seja de boa
fé, no intuito de registrarem a informação detalhada para consulta posterior, como também
para utilização indevida, como expor o médico em redes sociais e congêneres.
O fato é que a gravação, por si só, não é um ato ilícito, inclusive no que se refere à consulta
médica. A Jurisprudência já firmou entendimento quanto a este aspecto:
É certo que esta Corte não admite a utilização de provas obtidas por meios ilícitos. Contudo, no
caso dos autos, segundo o acórdão recorrido, não se trata de gravação clandestina, constando
do voto que:
"O autor gravou conversa própria que manteve com os médicos sobre assunto de seu exclusivo
interesse, ouvindo deles explicações técnicas para atos a que se submeteu para tratamento de
sua saúde" (fls. 81)."
E, mais adiante:
"Na espécie, não se cuida de sigilo algum protegido. E nada há de imoral nessa gravação,
mesmo que da gravação não tivessem ciência os outros interlocutores. O autor apenas
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28/09/2020 CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo - Versão para impressão - Área de Legislação
registrou em gravação magnética a conversa própria mantida com os médicos que lhe
prestaram um serviço de assistência à saúde, e que versou sobre um assunto ligado
exclusivamente à sua saúde" (fls. 82/83).
Neste sentido, a gravação oculta de uma conversa privada - mesmo que sem o conhecimento do
outro interlocutor, in casu, o médico - não implica em ilegalidade.
Entretanto, o uso que se faz dessa gravação é que pode implicar em alguma ilegalidade,
passível, inclusive, de medida indenizatória em face do paciente; não se pode, por exemplo,
fazer uso público dessa gravação, como divulgação em redes sociais, imprensa, sem que haja a
autorização prévia do outro interlocutor.
Como já decidiu o STJ, "a voz é parte integrante do direito inerente à pessoa" (REsp n.
1.630.851), não sendo possível a sua utilização ou exploração indevida por parte de terceiros,
sendo que, mais importante ainda, é a proteção da imagem, quando há uma gravação não
autorizada, em vídeo, pelo paciente.
O direito à imagem é protegido pela legislação pátria, como um dos direitos da personalidade,
indenizável por intermédio do respectivo processo judicial, o que significa dizer que, para que
o paciente possa registrar a consulta, deve ser precedido de consentimento expresso do
profissional.
Na relação médico-paciente o profissional também é sujeito de direitos e que devem ser
respeitados.
Assim, como uma forma de atender à essa nova realidade da relação entre médico e paciente,
podemos indicar algumas recomendações exemplificativas, para que os próprios profissionais
possam se adaptar, invertendo um pouco a atual situação, apresentando aos pacientes as
seguintes propostas, já no início ou durante a consulta:
1. Caso o paciente deseje gravar a consulta médica, solicitar que ele assine um termo de
confidencialidade/preservação da imagem e da voz do médico, destacando que qualquer uso
indevido poderá ser alvo de responsabilização judicial;
2. Anotar no prontuário que a consulta foi gravada pelo paciente e que ele assinou o respectivo
termo;
3. Caso ele se recuse a assinar o termo ,o médico pode lançar mão de duas possibilidades: a.
pedir a alguém que assine como testemunha no termo, informando que o paciente gravou a
consulta e se recusou a assinar (podendo ser a própria secretária ou algum funcionário
administrativo); b. não sendo uma situação de urgência ou emergência, pode se recusar a
prestar o atendimento, utilizando-se da ressalva contida no artigo 36, §1º do atual Código de
Ética Médica (§1º Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom relacionamento com
o paciente ou o pleno desempenho profissional, o médico tem o direito de renunciar ao
atendimento, desde que comunique previamente ao paciente ou a seu representante legal,
assegurando-se da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias ao
médico que lhe suceder);
4. Caso o médico se sinta inseguro, poderá, também, gravar o atendimento médico, anotando
tudo no prontuário.
A proteção, nestes casos, não recai sobre o sigilo médico - pois este é um direito do paciente,
que pode abrir mão a qualquer momento - mas sim do direito do profissional em ter a sua
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Evidentemente que a melhor condição envolve sempre o saudável diálogo a ser estabelecido
entre profissional e seu paciente, inclusive quanto a questão da gravação, que não deve ser
entendida como uma "agressão" à relação, mas a introdução de um elemento tecnológico entre
o médico e seu interlocutor.
O paciente que chega à consulta médica de maneira defensiva deve ser acolhido pelo
profissional que poderá, por intermédio de uma agradável interlocução, entender as razões
pelas quais o paciente pretende gravar a consulta e, se for o caso, demovê-lo de tal ideia, ou
adotar as indicações acima realizadas.
São situações práticas as quais o médico deverá se adequar ao longo do tempo e, na medida do
possível, adotar práticas para fortalecer a relação com seu paciente e, ao mesmo tempo,
proteger-se, em que pese a eventual burocratização da relação, ônus a ser suportado com a
evolução da tecnologia e do amplo e fácil acesso à informação.
Finalmente, quanto aos médicos ocupantes de cargos no serviço público, acaso a discussão
chegue a pontos extremos, o que não é obviamente o indicado e não se espera - há a previsão
quanto ao crime de desacato, tipificado no artigo 331 do Código Penal: "desacatar funcionário
público no exercício da função ou em razão dela."
Entretanto, esta é uma medida última a ser adotada, na hipótese do paciente não conseguir
compreender as razões apontadas pelo profissional quando do diálogo a respeito da gravação da
consulta, como indicado nos parágrafos acima.
Ademais e, por óbvio, estas orientações não são aplicáveis em situações de urgência e
emergência, exceto se for possível adotá-las sem prejudicar o paciente.
Assim, esperando ter atingido os objetivos propostos, apresentamos nosso parecer, colocando-
nos à inteira disposição para eventuais esclarecimentos que se fizerem necessários.
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