Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HISTÓRIA
DA LÍNGUA PORTUGUESA
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01
S586m
Silva, José Pereira da, 1946–
História da língua portuguesa / José Pereira da Silva.
São Gonçalo (RJ) : O Autor, 2001. 105 p.; 14 X 21 cm.
(Cadernos de Pós-Graduação em Língua Portuguesa)
ISBN 85.314-0601-3
CDD-469.5
Reitora
Nilcéa Freire
Vice-Reitor
Celso Pereira da Sá
Sub-Reitor de Graduação
Isac João de Vasconcellos
Sub-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Maria Andréa Rios Loyola
Sub-Reitor de Extensão e Cultura
André Luís de Figueiredo Lázaro
Diretor do Centro de Educação e Humanidades
Lincoln Tavares Silva
Diretora da Faculdade de Formação de Professores
Mariza de Paula Assis
Vice-Diretor da Faculdade de Formação de Professores
Marco Antônio Costa da Silva
Chefe do Departamento de Letras
Flavio García de Almeida
Sub-Chefe do Departamento de Letras
Fernando Monteiro de Barros Júnior
Coordenador da Pós-Graduação em Língua Portuguesa
Afrânio da Silva Garcia
Coordenador de Publicações do Departamento de Letras
José Pereira da Silva
Editor dos Cadernos de Pós-Graduação em Língua Portuguesa
José Pereira da Silva
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
1- INTRODUÇÃO
Este trabalho visa a estudar a evolução dos pronomes
demonstrativos do latim ao português, como também o seu sen-
tido, emprego e funções.
Todo língua possui um sistema de formas, destinado a si-
tuar os elementos do mundo biossocial, que interessam à ex-
pressão lingüística, no quadro de um ato de comunicação. Em
vez de serem representados por formas lingüísticas que os evo-
quem e simbolizem de acordo com o conceito que tem de cada
um deles a comunidade falante, como sucede nas formas nomi-
nais e nas formas verbais, eles passam a ser indicados pela po-
sição que ocupam no momento de uma mensagem lingüística.
Essas formas, assim meramente indicativas, ou dêiticas em sen-
tido amplo, são os pronomes. Funcionam como o campo mos-
trativo da linguagem, em face do campo representativo ou sim-
bólico.
Em latim, como é a regra geral, o sistema de indicação
dos pronomes tinha para perto de partida o eixo falante–
ouvinte, que se estabelece num ato de comunicação.
Ao sistema dos pronomes pessoais correspondia um sis-
tema demonstrativo, em que os elementos exteriores ao falante
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 7
História da Língua Portuguesa
1a pessoa
masculino feminino neutro
aqueste aquesta aquesto
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 9
História da Língua Portuguesa
2a pessoa
aquesse aquessa aquesso
3a pessoa
aquele aquela aquelo
(NUNES, 1975, p. 247)
J. J. NUNES afirmou que no século XV não havia dife-
rença sensível entre os pronomes simples e os compostos. É
provável, porém, que nos primeiros tempos houvesse tal ou
qual ênfase que os diferenciasse no seu emprego; provavelmen-
te, porque essa pequena distinção se perdeu pouco a pouco e as
duas formas tornaram-se sinônimas, é que as últimas desapare-
ceram do uso, não sucedendo, todavia, nem podendo suceder o
mesmo ao pronome da terceira pessoa, aquele, porque o sim-
ples, ele, fora cedo escolhido, para suprir, nos pessoais, a mes-
ma pessoa, tendo a sua conservação, que assim se tornou ne-
cessária no masculino, em que, como o simples, e por igual ra-
zão, tomou também a forma aquel, e no feminino, obstado, por
motivo de simetria, ao desaparecimento do neutro aquelo.
NUNES mencionou que da posposição da partícula met
aos pronomes pessoais, principalmente do reforçamento destes
com o pronome ipse resultaram expressões, como ipsemet e
ego met ipse, nesta última desaparecendo o pessoal, ficou me-
tipse, que daria regularmente medesse, onde, depois, da queda
da última sílaba, em virtude da próclise, resultou a forma me-
dês, muito usada na antiga língua, a qual, como a maioria dos
nomes em –ês, era quase sempre invariável em ambos os gêne-
ros e números: todavia não é sem exemplo o plural medeses.
Mas ao pronome latino ipse o povo, como se tratasse de um ad-
jetivo, dava o superlativo, juntando-lhe a terminação costuma-
da, -issimus, de onde ipsissimus, que se encontra em Plauto;
depois esta forma, decerto por haplologia, converteu-se em ip-
simus, que se faz uso Petrônio. Ora, assim como se dizia metip-
10 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
tes.
3- OS PRONOMES DEMONSTRATIVOS
SENTIDO, EMPREGO E FUNÇÕES
3.1- Sentido e Emprego dos Pronomes Demonstrativos
Os pronomes demonstrativos portugueses formam um
sistema ternário, cuja organização é absolutamente divergente
do sistema dos demonstrativos franceses. Esta organização ba-
seia-se numa certa visão do espaço e, de um modo mais geral,
de todo o universo sensível e inteligível. É pois impossível fa-
zer compreender termo a termo um demonstrativo francês a um
demonstrativo português. Só compreendendo a organização do
sistema se poderá sentir, em cada caso particular, o valor exato
de um determinado demonstrativo e encontrar-lhe equivalente
no sistema francês.
Tudo se baseia na divisão do espaço e do mundo em três
domínios. Simplificando um pouco, poderemos dizer, com os
gramáticos portugueses e brasileiros, que estes três domínios
correspondem às três pessoas do verbo:
1) Domínio de este = Domínio do eu, nós (aquilo em que o
locutor se vê presente, aquilo que ele se atribui).
Adv. de lugar correspondente: aqui.
2) Domínio de esse = domínio do tu, vós (aquilo que o locutor
atribui ao interlocutor ou destinatário).
Adv. de lugar correspondente: aí.
3) Domínio de aquele = domínio do ele, ela, eles (aquilo que
o locutor atribui ao objetivo de que fala).
Adv. de lugar correspondente: ali.
(CARVALHO, 1989, p. 141)
É importante ressaltar que este sistema é, no essencial,
16 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
idêntico ao do espanhol.
Lins do Rego:
“Amarelo infeliz. Se fosse outro, dizia Deodato, já tinha
mandado este mondrongo para as profundas dos infernos.”
(MR, 45)
“– Este Alfredo Gama é um danado, dizia D. Júlia, elogi-
ando o compositor.” (U, 89)
Pode-se afirmar que o pronome demonstrativo este, a i-
maginação aproxima de nós, coisas da realidade afastada; com
o pronome esse, a imaginação afasta de nós coisas que estão ou
poderiam estar próximas.
anafórica.
4- CONCLUSÃO
Esta exposição teve como um dos objetivos fazer um le-
vantamento dos pronomes demonstrativos do latim ao portu-
guês e a evolução que se deu do pronome “ille”.
Do pronome “ille” originou os artigos na língua portu-
guesa, como também o pronome pessoal de 3a pessoa “ele”.
Observamos que na língua latina não possuía artigos e quando
queriam enfatizar um substantivo utilizavam o pronome “ille”
diante do mesmo.
Na língua portuguesa temos os artigos, os quais têm a
função de substantivar as palavras de qualquer classe morfoló-
gica.
Após refletirmos sobre as funções dos pronomes demons-
trativos chegamos a uma conclusão, que as funções dêitica e
anafórica têm uma importância relevante na comunicação, pois
as mesmas funcionam não só para uma indicação no espaço em
que se situam falante e ouvinte, mas também, no âmbito do
contexto lingüístico.
Acreditamos que este trabalho venha nos auxiliar no co-
nhecimento da “História da Língua Portuguesa” e motivar ou-
tras pesquisas, uma vez que o assunto oferece possibilidades de
ser ampliado.
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina. Curso
único e Completo. 27a ed. São Paulo : Saraiva, 1997.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37a
ed. Revista e ampliada. Rio de Janeiro : Lucerna. 2001.
CAMARA, Junior, J. Matoso. História e Estrutura da Língua
Portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro : Padrão, 1976.
CARDOSO, Zélia de Almeida. Iniciação ao Latim. Série Prin-
cípios. 3a ed. São Paulo : Ática.
CARVALHO, Margarida Chorão de. Manual da Língua Por-
tuguesa (Portugal – Brasil) – Tradução. Editora: Coimbra.
Coleção: Lingüística. 1989. p.: 139 a 147.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica.
7a ed. Rio de Janeiro : Livro Técnico, 1976.
CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática de Língua Portuguesa.
11a ed. Rio de Janeiro : FAE. 1986.
FARIA, Ernesto. Gramática da Língua Latina. Revisão de Ru-
th Junqueira de Faria. Brasília : FAE, 1995.
NUNES, José Joaquim. Compêndio de Gramática Histórica
Portuguesa – Fonética e Morfologia. 8ª ed. Livraria Clás-
sica Editora, 1975.
SAID ALI, Manuel. Gramática Histórica da Língua Portugue-
sa. Melhoramentos. Volume: 19. 1971.
TEYSSIER, P. História da Língua Portuguesa. São Paulo:
Martins Fontes, 1997.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem objetivo mostrar a evolução dos tem-
pos verbais do modo Indicativo desde o Latim até o Português
atual. Mostrando, assim, as perdas e inovações ocorridas.
AS CONJUGAÇÕES LATINAS
Segundo a gramática latina, os verbos distribuíam-se por
quatro conjugações, caracterizadas pela vogal do tema, as quais
tinham as seguintes terminações no infinitivo:
1ª - áre (amáre)
2ª - ére longo (debére)
3ª - êre breve (vendêre)
4ª - íre (puníre)
Tal distribuição era um tanto artificial, visto que não cor-
respondia totalmente às formas vivas da língua corrente, e, as-
sim não era respeitada em todas as minúcias.
Ora, no latim corrente lusitânico os verbos da terceira in-
corporavam-se à segunda; passando alguns à quarta.
Desse modo as quatro conjugações reduziram-se a três:
1ª - are: mais numerosa de todas.
2ª - ére: contém os da segunda e a maioria dos da tercei-
ra.
3ª - íre: é a antiga quarta, acrescida com alguns da tercei-
ra.
OS TEMPOS VERBAIS
A conjugação do verbo latino tem por base a oposição de
dois grupos de tempos: o do infectum e o do perfectum. Os
tempos do infectum exprimiam a ação ou processo em seu cur-
so de duração (aspecto imperfeito), ao passo que os do perfec-
tum indicavam uma ação ou processo concluídos ou terminados
(aspecto perfeito).
Assim, pertenciam ao tema do infectum: o presente, o
imperfeito, e o futuro imperfeito do indicativo. E se formavam
do tema do perfectum: o perfeito, o mais-que-perfeito e o futu-
ro perfeito do indicativo.
3ª (ate- 3ª (te-
Conjugações 1ª 2ª 4ª
mática) mática)
Infectum
Mais-que-
Amáveram Víderam Légeram Céperam Audíveram
perfeito
Futuro Perfeito Amávero Vídero Légero Cépero Audívero
Presente
O Presente do Indicativo manteve-se: amo > amo; debo
(por debeo) > devo; vendo > vendo; puno (por punio) > puno.
Imperfeito
O Imperfeito do Indicativo igualmente se manteve: ama-
bam > amava; debeam (por debebam) > devia; vedeam (por
vendebam) > vendia; puniam (por punibam) > punia.
Futuro Imperfeito
O Futuro Imperfeito do Latim Clássico não se manteve
no latim vulgar. Quer se tratasse da forma em -bo, da 1ª e da 2ª
conjugações (amabo, debebo), quer se tratasse da forma em –
am, da 3ª e da 4ª (vendam, puniam), foi substituído por uma
perífrase, que já aparecia nos escritores da decadência, a qual
era construída de um verbo no infinitivo e do presente do indi-
cativo de habere: Amare habeo (compare-se ao português hei
de amar). Tendendo a se transformarem em simples termina-
ções verbais, as formas do presente do indicativo de habere
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 27
História da Língua Portuguesa
Perfeito
O Pretérito Perfeito do Indicativo manteve-se: amai (por
amavi) > amei; debei (por debui) > devi; vendei (por vendedi e
este por vendidi) > vendi; punivi > puni.
Mais-que-perfeito
O Pretérito-mais-que-perfeito do Indicativo manteve-se
através das formas sincopadas, que predominaram no latim
vulgar: amaram (por amavêram) > amara; deberam (por debiê-
ram) > devera; venderam (por vendidêram) > vendera; puniram
(por punivêram) > punira.
Futuro Perfeito
O Futuro Perfeito do Indicativo, fundindo-se com o pre-
térito perfeito do subjuntivo produziu um tempo novo: o futuro
do subjuntivo.
Para indicar o Futuro do Perfeito ou o sentido condicio-
nal, desenvolveu-se tardiamente, no latim vulgar, uma nova
forma verbal – o Futuro do Pretérito. Constituindo-se, a exem-
plo do Futuro Imperfeito do Indicativo, de um infinitivo segui-
28 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
A CONJUGAÇÃO PORTUGUESA
De conformidade com isso, podemos dizer que a conju-
gação portuguesa se compõe de suas famílias: a do presente e a
do perfeito.
À primeira, pertencem:
· Presente
· Imperfeito
· Futuro do presente
À segunda, pertencem:
· Pretérito perfeito
· Pretérito mais-que-perfeito
· Futuro do pretérito
Conjugações 1ª 2ª 3ª
Presente Amo Vendo Parto
Presente
Pretérito Per-
Amei Vendi Parti
feito
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 29
História da Língua Portuguesa
Pretérito mais-
Amara Vendera Partira
que-perfeito
Futuro do Pre-
Amaria Venderia Partiria
térito
CONCLUSÃO
À proporção que se distanciava do seu centro, e língua
latina ia sofrendo alterações e simplificando sua estrutura. Lo-
go, foram várias as transformações ocorridas na língua até o
Português atual.
Um exame superficial das formas verbais nos mostra que
na evolução do latim para o Português, nem sempre os verbos se
conservavam nas conjugações de origem. Podemos citar como
exemplos os verbos: fazer, agir e pôr; que de acordo com a gra-
mática latina, pertencem à 3ª Conjugação.
Há correspondência entre formas verbais latinas e portu-
guesas, embora nem sempre se empreguem do mesmo modo
em uma língua e em outra língua. Podemos citar como exem-
plos: o imperfeito (era < erat) o perfeito (pensou < pensavit) e o
mais-que-perfeito do indicativo (voltara < vol (u) tarat, por vol
(u) taverat).
Como compensação às evoluções ocorridas, o latim criou
novas formas verbais: os futuros do indicativo (presente e pre-
térito) o último também chamado de condicional e o futuro do
subjuntivo.
BIBLIOGRAFIA
ALI, M. Said. Gramática Secundária e Gramática Histórica
da Língua Portuguesa. [Brasília] : UnB, 1964.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 13ª
ed. São Paulo, 1968.
BUENO, Francisco da Silveira. A Formação Histórica da Lín-
30 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
I. INTRODUÇÃO
Sabemos que o português vem do latim, porém, esse la-
tim não é o mesmo das classes cultas de Roma. Foi do latim
vulgar que nasceram as línguas românicas, da modalidade fala-
da, da qual pouca história escrita restou e chegou a nossos dias.
Objetiva-se, neste trabalho, realizar um breve estudo so-
bre os pronomes, que são na sua forma lingüística elaborada e
complexa, “sinais” que indicam em vez de nomear.
Na presente pesquisa, serão adotados procedimentos de
análise descritiva e histórica. Tomar-se-á como ponto de parti-
da o latim vulgar, visando depreender sua estrutura conforme
apresentado por Mattoso Câmara (1979), Silva Neto (1952) e
Ismael Coutinho (1976).
32 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
II. DESENVOLVIMENTO
A- Considerações gerais
A língua possui um conjunto de elementos destinados a
situar o universo biossocial, que interessam à expressão lin-
güística, no ato da comunicação.
Dentre este, há um certo grupo de vocábulos, que, se di-
ferenciam. Esses vocábulos, meramente indicativos são os pro-
nomes. De maneira geral, eles possuem três noções gramati-
cais:
a- A primeira é a noção de pessoa gramatical. Assim
se situa a referência do pronome no âmbito do falan-
te, no do ouvinte ou fora da alçada dos dois interlo-
cutores.
A noção de pessoa gramatical se realiza lexicalmen-
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 33
História da Língua Portuguesa
1.2. Os possessivos
O latim clássico usava a forma adjetiva do pronome
pessoal em concordância com o nome substantivo dado. São
esses pronomes pessoais adjetivos que a gramática latina de-
nominou os “possessivos”, partindo das construções em que o
adjetivo pronominal designava o possuidor de uma coisa.
Os possessivos eram da 2ª declinação, no masculino, e,
no feminino, da 1ª declinação.
Eram quatro séries, correspondentes aos quatro pro-
nomes pessoais:
a - meus, mea (ego, genitivo mei)
b - tuus, tua (tu, genitivo tui)
c - noster, nostra (nos, genitivo nostrum)
d - uester, uestra (uos, genitivo uestrum)
O pronome pessoal reflexivo de 3ª pessoa apresenta desi-
nências causais paralelas às de tu (sui, sibi, se) e o possessivo
reflexivo de 3ª pessoa era da estrutura dos demais (masc. suus,
2ª declinação; fem. sua, 1ª declinação).
O sistema de possessivos portugueses continua o padrão
estabelecido em latim. O português refez os masculinos da 2ª e
3ª pessoa pelo modelo da 1ª: meu, teu, seu (+ - /s/ no plural);
feminino minha, tua, sua (+ - /s/ no plural). No plural da 1ª e
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 37
História da Língua Portuguesa
1.3. Os demonstrativos
Havia no latim clássico, três pronomes demonstrativos,
correspondentes às três pessoas gramáticas hic para a primeira,
este para segunda e ille para a terceira.
No latim vulgar, observa-se certa confusão no uso desses
pronomes. É freqüente encontrar-se empregado um em lugar
do outro.
O pronome da 2ª pessoa iste substitui o da 1ª hic, que
nos últimos tempos desaparece inteiramente. O pronome de i-
dentidade ipse, da 3ª pessoa, passa então a ocupar o lugar de
iste.
Havia, em latim, a partícula ecce, que se combinava com
algumas palavras, para pôr em relevo a idéia por elas expressa:
eccum (ecce + hunc), eccilum (ecce + illum), eccistrum (ecce +
istum). O composto eccum, pronunciado eccu, influenciado
provavelmente por atque, o que melhor explica os pronomes
arcaicos aqueste < accu + iste, aquesse < accu + isse por ipse e
o atual aquele < accu + ille.
38 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
2. Os Indefinidos
2.1. Os pronomes indefinidos
A língua latina possuía um sistema de formas vocabula-
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 39
História da Língua Portuguesa
2.2. Os interrogativos.
As formas pronominais interrogativas, em português,
provém do latim quis – quid, e de qualis, que é um composto
na base do radical Kwo-.
A forma masculina – feminina na forma de acusativo
quem ficou em português reservada ao gênero “pessoal”, que já
foi mencionado nos indefinidos alguém, ninguém, outrem.
A forma neutra quid passou ao português sob a forma
que e é do gênero neutro, para “coisas".
Qual, do acusativo qualem de qualis, tem a função de
assinalar a indefinição dentro de um grupo limitado de seres e
definido em seu conjunto. Singular qual; plural quales > quais.
Há assim, uma relação muito grande do português com o
latim nos pronomes interrogativos.
2.3. O relativo
O pronome relativo tinha, em latim, três formas: uma pa-
ra o masculino qui, outra para o feminino qual, uma terceira
para o neutro quod.
Pelo fim do Império, o pronome relativo ficou assim:
qui; que (m), cui; quid ou quod.
Sobreviveram em nossa língua os acusativos que (m) á-
tono e quid > que, quem (tônico) > quem, cuju (m) > cujo.
Como qui – qual – quod latino, português que só fun-
ciona na oração relativa e aí se reporta anaforicamente a um
nome ou pronome substantivo da outra oração. Em decorrência
de sua função na oração relativa, pode vir regido de qualquer
preposição.
Ao lado de que, há como pronome relativo uma locução
42 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
III. CONCLUSÃO
O individual e o social interpenetram-se. As palavras,
pronunciadas só por uma pessoa, não sobreviveriam. As pala-
vras só têm história porque a coletividade as repete.
A língua é eminentemente mutável no tempo e o seu
movimento de mudança tem o caráter de uma evolução, isto é,
um processo dinâmico, gradual e coerente.
A evolução é muito complexa. A história de uma língua
não é um esquema pré-estabelecido. Não se pode partir do la-
tim e chegar diretamente aos dias de hoje.
No latim estavam reunidas todas as condições de instabi-
lidade lingüísticas. A experiência mostra que os povos invaso-
res são levados a eliminar as particularidades locais de sua lín-
gua: é a conseqüência dos contatos que se verificam durante
esses movimentos sociais. A unificação, como se compreende,
escolhe as formas que são sentidas como m ais regulares: as
anomalias são desfeitas, adaptando-se aos modelos.
A inovação é, pois, um fato individual, que pode, ou não
se tornar coletivo. Quando isso acontece, temos um fato con-
creto, realizado.
Aí, entendemos que o uso e a evolução dos pronomes
serviram não só para que as pessoas pudessem comunicar suas
idéias e pensamentos da melhor forma, uma vez que o pronome
mostra o ser no espaço, visto esse espaço em função do falante:
eu, mim, me, este e assim por diante, mas também para desig-
nar elementos desconhecidos sobre o que se queira informar.
ABREVIATURAS
al. alameda .............................av. avenida
b. bairro.................................est. estrada
Jd. Jardim ...............................r. rua
tv. travessa..............................var. variante(s)
INTRODUÇÃO
A influência da língua indígena, em especial o tupi, na
formação do léxico da língua portuguesa falada no Brasil é
muito expressiva. Pretende-se, então, neste trabalho, fazer o le-
vantamento de alguns topônimos de procedência indígena exis-
tentes no Município de São Gonçalo (Região Metropolitana do
Estado do Rio de Janeiro), dando sua localização e seu signifi-
cado.1
Os missionários jesuítas foram os grandes defensores do
ensino do tupi e, no afã de catequizar os selvagens, contribuí-
ram decisivamente para o conhecimento e a permanência do i-
dioma. Da mesma forma, o advento das bandeiras fez com que
tal língua tivesse considerável expansão:
1
Por ser um trabalho sucinto, não foram transcritas todas as definições encontradas nos dicio-
nários pesquisados, porém aquelas mais conhecidas ou aceitas pelo senso comum. E ainda res-
salto que não foram encontrados os significados de alguns termos, embora sejam de origem tu-
pi.
2 Pontos de Gramática Histórica, 323.
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 45
História da Língua Portuguesa
A
Abaeté (av. – b. Antonina): Do tupi aba, homem, etê, por excelên-
cia: homem de valor. Var. Abaetê.
Acari (r. – b. Trindade): Do tupi acari, isto é, acará, cascudo, esca-
moso e i, pequeno. Peixe de água doce do Brasil.
Anaiá (est. – b. Tribobó): Do tupi: palmeira de fruto drupáceo,
verde-amarelo.
Andira (r. Expedicionário Andiras Nogueira de Abreu – b. Porto
do Rosa): Do taxonomia Andira, de origem tupi: gênero de plan-
tas da família das leguminosas.
Araçatuba (r. – b. Trindade): Do tupi araçá-tyba, o sítio dos ara-
çás, onde há araçás em abundância.
Araguaia (r. – b. Boa Vista): Do tupi ara-guá-y, rio do vale dos
papagaios; ou ara, dia, tempo e guaia, caranguejo: tempo, época,
estação de apanhar caranguejo.
3
Dados do IBGE, 2000.
46 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
B
Baependi (r. – b. Trindade): Do tupi: clareira na mata, atalho, pi-
cada que dá passagem.
Baturité (r. – b. Trindade): Do tupi ybytyra-etê, alteração de ubu-
tur-etê, montanha verdadeira, a serra por excelência.
Birigui (r. – b. Boa Vista): Do tupi: mosca pequena.
Boaçu (b.): Do tupi mboy-açú, serpente, cobra grande; Rio de Ja-
neiro.
C
Caçapava (r. – b. Trindade) : Do tupi caá-çapaba, clareira da ma-
ta, aberta, travessia ou vereda na mata.
Caetés (r. – b. Jardim Catarina): No singular Caeté. Do tupi caá-
êtê, mata real ou verdadeira, mato virgem.
Caiçara (tv. Jardim Caiçara – b. Barro Vermelho): Do tupi: caa,
folha, mato ou folhagem e içara, tronco ou haste: tapume, paliça-
da, cercado, trincheira.
Cambuci (r. – b. Trindade): Do tupi: cambú-chi, vaso de água,
pote, cântaro, tina; var.: camuci, camucim, camutim, camoti, caá-
mboci, fruto feito de duas partes juntas.
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 47
História da Língua Portuguesa
G
Guanabara (r. – b. Gradim ): Do tupi: baía tão vasta que parece
mar.
Guaporé (r. – Santa Isabel): Do tupi wa, campo, e po’ré, catarata,
cachoeira no campo, no campestre.
Guaraci (r. – b. Estrela do Norte) : Do tupi wa’ra sü, a mãe dos
viventes, o criador, o sol, ou então, ko ara sü , a mãe deste dia, a
mãe do dia.
Guarani (r. Tenente Guarani – b. Estrela do Norte): De origem
obscura, mas certamente de idioma indígena da América do Sul.
Segundo Baptista Caetano deriva do tupi guarini, guerrear.
Guarapari (r. – b. Trindade): Do tupi.
Guaxindiba (b.): Do tupi gwaxi’ndiba: vassouras em abundân-
cia.
I
Iara (r. – b. Laranjal): Do tupi: senhor, senhora.
Ibicuí (tv. – b. Colubandê) : Do tupi i’bi, terra, e ku’i, farinha, pó:
pó de terra, areia, praia.
Ibirapitanga (r. – b. Guaxindiba): Do tupi ibirá, pau, e pitãga,
vermelho.
Ibituruna (r. – b. Monjolo): Do tupi ibi’tu, nuvem, e una, preta;
ou ibitu’roi, vento frio.
Iguaba (r. – b. Trindade ):Do tupi ü, água, e wab, particípio de u ,
beber, aquilo em que se bebe, lugar onde se bebe, bebedouro
d’água.
Iguaçu (al. – b. Rio do Ouro ): Do tupi-guarani ü, água e wa’su,
grande: rio caudaloso.
Imbé (r. – b. Guaxindiba): Do tupi: a planta rasteira; trepadeira.
Ipê (r. – b. Arsenal) : Do tupi y-pê, árvore cascuda.
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 49
História da Língua Portuguesa
Itajuru (r. – b. Vista Alegre) Do tupi ita, pedra, jurú (yurú), boca:
boca de pedra ou caverna.
Itamarati (av. – Guaxindiba/Monjolo): Do tupi ita, pedra, marati,
branca: rio das pedras brancas.
Itambé (r. – b. Monjolo): Do tupi ita, pedra e aymbé, afiada, pon-
tiaguda, cortante.
Itambi (r. – b. Laranjal) Do tupi ita, pedra, e mbi, alçada, o pene-
do em pé; ou ü, água e ã’ bü, muco, água de muco; ou ainda ita,
pedra, e ã’bi, muco, rochedos mucosos.
Itamirim (r. – b. Barracão) : Do tupi ita, pedra, e mirim, pequena.
Itanguá (r. – b. Barracão): Do tupi ytã-guá, a baixa das conchas.
Itanhandu (r. – b. Guaxindiba): Do tupi ita, pedra, e nhan’du,
nhandu, nhandu de pedra.
Itaoca (est. - b. Itaoca): Do tupi ita, pedra e oca, casa : casa de
pedra.
Itaocara (r. - b. Trindade): Do tupi ita, pedra e ocara onde há
oca, casa e ara lugar: lugar da casa de pedra.
Itapagipe (r. – b. Vista Alegre): Do tupi, segundo Von Martius é
alteração de utapugipe, rio que dá vau, que dá caminho.
Itaparica (r. - b. Guaxindiba): Do tupi ita, pedra; pari, cercado:
lugar cercado de pedras.
Itapemirim (r. – b. Monjolo): Do tupi ita’pé, laje, e mi’ri, pe-
quena.
Itaperuna (r. – b. Vista Alegre): Do tupi ita, pedra; pe, caminho
ou passagem e una, preta.
Itapetininga (r. - b. Guaxindiba): Do tupi itape, laje; tininga, se-
ca.
Itapeva (r. – b. Guaxindiba/Monjolo): Do tupi ita, pedra, e pewa,
chata.
Itaporanga (r. – b. Guaxindiba) : Do tupi ita, pedra; porang, bela,
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 51
História da Língua Portuguesa
bonita.
Itapuca (r. - b. Monjolo) : Do tupi ita, pedra e puca, arrebentada,
amassada.
Itararé (r. - b. Boa Vista): Do tupi ita, pedra e raré, escavada, on-
de há um buraco.
Itatiaia (r. – b. Laranjal): Do tupi ita, pedra, tiai, gancho, croque,
dente, o penhasco cheio de pontas, a crista eriçada.
Itaú (r. - b. Guaxindiba): Do tupi ita, pedra e u, preta: pedra preta,
isto é, o ferro.
Itaúna (b.): Do tupi ita, pedra e una, preta : pedra preta.
Itaverava (r. – b. Monjolo) : Do tupi ita, pedra, verava, corruptela
de beraba, luzente.
Itororó (r. - b. Jardim Catarina): Do tupi ita, pedra e roró, que faz
barulho, ou então: i, água, rio, e tororó, sussurrante.
Itu (r. - b. Monjolo) : Do tupi i, água, rio; tu, fazer barulho: água
rumorejante.
Ituverava (r. – b. Monjolo): Do tupi ütu, cascata, cachoeira, salto,
e beraba, brilhante, luzente, resplandecente.
J
Jabaquara (r. – b. Itaúna): Do tupi yabá-quara: refúgio ou escon-
derijo dos fujões, vulgo, quilombo.
Jacarandá (r. – b. Arsenal): Do tupi y-acã-ratã: o que tem o miolo
duro, o cerne duro.
Jaceguai (r. – Almirante Jaceguai – b. Laranjal): Do tupi yasêwa
ü, rio da baixa das melancias, ou yasê wai , a cabeça edule, a me-
lancia.
Jaci (r. Jaci de Menezes – b. Barro Vermelho): Do tupi ya-cy, a
mãe dos frutos; ou do tupi ya’sü, lua.
Jaguaré (r. – b. Monjolo): Do tupi: sabe a onça, ou que tem cheiro
52 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
L
Lambari (r. – b. Trindade): Do tupi : peixe pequeno de água do-
ce. Var. de alambari.
M
Macaé (r. – b. Trindade): Do tupi ma’ka, abreviação de makaba,
macaba, e ê, doce; ou amaka ae, rede de dormir dele; ou ainda
mikié, rio dos bagres e céu enxuto.
Macapá (al. – b. Rio do Ouro): Do tupi: forma apocopada de ma-
ka’paba, a estância das macabas, o palmar das macabas.
Maceió (al. – b. Rio do Ouro): Do tupi ma por mbaé, coisa, e sai,
estendida, dilatada: o espraiado, extenso, ou ma-sai-ó, o que se
estende encobrindo ou tapando.
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 53
História da Língua Portuguesa
P
Paraíba (tv. – b. Gradim): Do tupi: variegado e o tupi : árvore; do
tupi : rio imprestável.
T
Tapuia (r. Tapuias – b. Jardim Catarina): De origem tupi, mas de
etimologia mal explicada. O que se sabe ao certo é que da deno-
minação se serviam, como alcunha injuriosa, tanto os nossos tu-
pinambás como os guaranis do Paraguai. Quanto à significação
desta alcunha, pode ser: bárbaro, selvagem; contrário, inimigo.
Taubaté (r. – b. Trindade ): Do tupi taba eté, aldeia verdadeira,
considerável.
Tietê (r. – b. Trindade): Do tupi, tié (pássaro) verdadeiro.
Tupi (r. – b. Raul Veiga): Do tupi: tu-upi, o pai supremo, o primiti-
vo, o progenitor.
Tupinambá (r. – b. Porto Novo): Do tupi: descendente dos tupis.
Turiaçu (r. – b. Laranjal): Do tupi. Pode ser torü wasu, a turiúva
grande, ou torä wasu, o facho grande, a fogueira, o incêndio.
U
Ubá (r. – b. Trindade): Do tupi: árvore.
Ubirajara (r. – b. Laranjal): Do tupi: senhor da terra.
Uruguai (al. – b. Tenente Jardim): Do guarani: rio de caracóis.
CONCLUSÃO
Depois de tão longo convívio com a língua portuguesa, as
línguas nativas dos nossos índios deixaram importante influên-
cia na fala brasileira e, principalmente, no vocabulário – nomes
próprios de pessoas e de lugares.
Apesar da constante tentativa de extermínio dos povos in-
dígenas através da destruição da sua cultura e língua, esta resis-
te bravamente e continua viva nos topônimos das diversas regi-
ões do país.
56 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
BIBLIOGRAFIA
ASSIS, Cecy Fernandes. Dicionário guarani-português. São
Paulo : O Autor, 2000.
BUENO, Francisco da Silveira. Grande dicionário etimológi-
co-prosódico da língua portuguesa. São Paulo : Saraiva,
1963.
BUENO, Francisco da Silveira. Vocabulário tupi-guarani por-
tuguês. 3 ed. São Paulo : Brasilivros, 1984.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica.
7 ed. Rio de Janeiro : Ao Livro Técnico, 1976.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da
língua portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro : Nova Fronteira,
1986.
GUIA POSTAL BRASILEIRO. Empresa Brasileira de Correi-
os e Telégrafos. 8 ed. Fotomática, 1992.
MACHADO, José Pedro. Dicionário etimológico da língua
portuguesa. 2 ed. São Paulo : Confluência, 1967.
NASCENTES, Antenor. Dicionário etimológico da língua por-
tuguesa. Rio de Janeiro : F. Alves, 1952.
SAMPAIO, Theodoro. O tupi na geografia nacional. 3 ed. Ba-
hia : Secção Graphica da Escola de Aprendizes Artifices,
1928.
VIANA, Eliane Rodrigues da Costa. A influência indígena na
língua portuguesa do Brasil. Rio de Janeiro : CiFEFiL,
2000.
CONTRIBUIÇÕES AFRICANAS
NOS FALARES DO BRASIL
Jaline Pinto da Silva
I - INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo promover uma re-
flexão acerca das contribuições dos falares africanos para a his-
tória do Português do Brasil. Para tanto, faz-se necessário citar
informações, ainda que sintéticas, a respeito dos países que
compõem os territórios de fala portuguesa. Sabendo-se, no en-
tanto, que a proposta desta pesquisa delimita-se às influências
que as comunidades de origem africana exerceram no Brasil.
Situando geograficamente os países que possuem como
língua oficial o português, tem-se hoje: Portugal, Brasil, São
Tomé e Príncipe, Ilhas de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçam-
bique, Angola, Macau, Goa e uma parte de Timor, sendo o por-
tuguês, nestes últimos territórios asiáticos, bastante ameaçado
pela expansão do inglês, dentre outros fatores políticos e eco-
nômicos.
Vale ressaltar que a investigação do presente trabalho, deu-
se a priori através de pesquisa de fatores sociais. Já que estes, a-
lém de variações dos enunciados lingüísticos, da existência de
dialetos, das situações de contato de línguas encerram em si con-
ceitos que têm implicações na definição de uma língua, sendo ne-
cessário envolvê-los par se dar conta da realidade a que poderá
corresponder o rótulo de língua portuguesa.
As considerações finais da pesquisa trazem uma peque-
na, porém bastante simbólica mostra dos vocábulos que são uti-
lizados hoje no Brasil e que têm suas origens nos povos africa-
nos.
sul da Bahia.
Num estudo apresentado no Colóquio Internacional so-
bre Crioulos de Base Lexical Portuguesa, realizado em Lisboa,
em 1992, Baxter destacou naquele dialeto de Helvécia os traços
morfossintáticos que não se encontram na maioria dos dialetos
rurais: uso de formas da terceira pessoa do singular do presente
do indicativo para retratar estados e ações pontuais e contínuas
que se situam no passado; uso variável de formas da terceira
pessoa do singular do presente do indicativo em contextos que
normalmente se usam formas do infinitivo; marcação variável
da primeira pessoa do singular; dupla negação, variação de
concordância de número e gênero do SN; orações relativas não
introduzidas por pronome; presença variável do artigo definido
em SN de referência definida; uso variável de formas no sub-
juntivo; ausência de formas sintéticas de futuro. Desse estudo
concluiu-se que o dialeto de Helvécia apresenta traços sugesti-
vos de processo irregular de aquisição e transmissão de lingua-
gem do tipo que caracteriza as línguas crioulas. Assinala tam-
bém que o sistema verbal encontrado nos dialetos rurais do
português do Brasil pode ser derivado de dialetos como os de
Helvécia, configurando assim um processo de descriolização.
A partir dessas pesquisas, passou Baxter admitir então,
que a crioulização e a atual descriolização é um fato que pode
ser ainda observado em algumas comunidades que se constitu-
em majoritariamente de negros e que se mantêm na zona rural,
isoladas de um contato mais intenso com os centros urbanos.
Observando de forma sintética os diferentes referenciais
teóricos apresentados no presente capítulo, pode-se dizer que o
estudo lingüístico das comunidades afro-brasileiras rurais é
uma contribuição necessária para os estudos dialetológicos do
Brasil para o levantamento das variedades do português brasi-
leiro e também para o conhecimento da cultura da população
brasileira de origem africana, já que esse aspecto vem sendo
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 65
História da Língua Portuguesa
—————————————< PB >————————————
LA à
ß PO
Crioulos desaparecidos N1 N2 N3 N4 N5
VI - CONCLUSÃO
A questão relativa à parte da influência de línguas africa-
nas nas diferenças que deram ao português do Brasil um caráter
distinto de sua matriz falada em Portugal tem sido objeto de si-
lêncio mais do que de reflexão entre lingüistas e filólogos bra-
sileiros. A resistência para tratar do assunto encontra razões de
ordem histórica e epistemológica, mas passa antes de tudo, pe-
lo prestígio atribuído à escrita face à oralidade, por uma peda-
gogia que durante séculos tem privilegiado o ler e o escrever
diante da não menos importante arte de falar e ouvir. Rejeita-se
a hipótese do influxo de línguas africanas no sistema lingüísti-
co do português do Brasil, a partir do princípio tácito de não
admitir que línguas de tradição oral pudessem influir em uma
língua de reconhecimento literário como a portuguesa. Conse-
qüentemente, segundo essa apreciação, os fatos que podem de-
nunciar um movimento em direção oposta, são vistos como tra-
ços mal disfarçados pelo português em lugar de expressões de
resistência e de defesa cultural dos falantes africanos ante um
novo sistema lingüístico que lhes foi imposto, a exemplo da re-
dução e simplificação dos modos verbais, de uso generalizado
na linguagem popular do Brasil.
Desta forma, vale ressaltar que o estudo lingüístico das
comunidades afro-brasileiras é uma contribuição necessária pa-
ra os estudos dialetológicos do Brasil, aos quais dever integrar-
se, dentro de uma metodologia comum e eficiente, no levanta-
mento e descrição das variedades do português brasileiro. Esse
72 Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001.
História da Língua Portuguesa
VII - BIBLIOGRAFIA
CASCUDO, Luís da Câmara. Made in África. 3ª ed. São Paulo
: Global, 2001.
IV CONGRESSO LUSO-AFRO-BRASILEIRO DE CIÊN-
CIAS SOCIAIS. 1996, Rio de Janeiro. Anais. Territórios
de língua portuguesa: culturas, sociedades, políticas. Rio
de Janeiro : Hamburg Gráfica, 1998.
ELIA, Sílvio. A unidade lingüística do Brasil. Rio de Janeiro :
Padrão, 1979.
NETO, Serafim da Silva. Introdução ao estudo da língua por-
tuguesa no Brasil. Rio de Janeiro : Presença, 1989.
_________. Introdução ao Estudo da Filologia Portuguesa. 2ª
ed. Rio de Janeiro : Grifo, 1976.
TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. São Paulo :
Martins Fontes, 1997.
II - A FORMAÇÃO E O USO
DO FUTURO DO SUBJUNTIVO
O Futuro do Subjuntivo no Português é formado a partir
ª
da 3 pessoa do plural do pretérito perfeito mediante a supres-
são do -am. Assim temos os verbos: fizeram, viram, vieram
que estão na 3ª pessoa do Pretérito Perfeito, partindo destes e
suprimindo a terminação -am, teremos o Futuro do Subjuntivo:
quando eu fizer, fizeres, fizer... quando eu vir, vires, vir, vir-
mos... quando eu vier, vieres, vier...
O subjuntivo é o modo que expressa dúvida, incerteza e
dependência de outro modo. Na oração: “Se ele insistir, fale
comigo” temos a suposição que “ele” irá insistir; não é certo
que haverá a insistência por parte do sujeito. Caso ocorra a a-
ção do verbo insistir será necessário a ação do verbo falar por
uma terceira pessoa (você) que, na oração acima, foi expressa
no modo imperativo (fale). Notamos, nesse caso, a dependên-
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 77
História da Língua Portuguesa
contemporâneos, exemplos:
“...Quando o tempo branquear os teus cabelos, vais um
dia, mais tarde, revivê-los nas lembranças que a vida não des-
fez...” (J.G. De Araújo Jorge, 1934)
“Disse-lhes Jesus: Quando levantardes o Filho do ho-
mem, então conhecereis quem eu sou, e que nada faço por mim
mesmo; mas falo como o Pai me ensinou.” (Bíblia - Evangelho
de S. João 8:28)
“O Brasil se tornará um país forte quando exportar tecno-
logia e acabar com a miséria de milhões de seus cidadãos.” (u-
mas das Manchetes da capa da Revista Veja, 18 de Julho de
2001, ano 34, n.º 28).
É importante verificar que na linguagem oral, o Futuro do
Subjuntivo é, da mesma forma, muito utilizado. Contudo, é co-
mum notar problemas na conjugação, especialmente quando se re-
fere ao verbo ver, assim como: “Quando você me ver de benga-
la...” , “Sempre que eu ver você fumando...” Esse tipo de cons-
trução se constitui erro, e dos graves, pois sabemos que a forma
do Futuro do Subjuntivo do verbo ver é: vir, vires, vir, virmos,
virdes, virem. A construção correta das orações são: “Quando vo-
cê me vir de bengala...”, “Sempre que eu vir você fumando...” Tal
problema se constitui devido à semelhança do verbo ver com o
vir, porém esta construção errônea, muitas vezes, passa desaper-
cebida, sendo comumente ‘aceitável’ e entendida pelos ouvintes e
falantes da língua.
CONCLUSÃO
Assim como a Língua de forma geral sofre mudanças
com o passar do tempo e, que tais modificações são determina-
das pelo usuário, os verbos que hoje utilizamos na fala e na es-
crita, sofreram alterações desde o Latim até chegar ao Portu-
guês.
Como vimos, o Futuro do Subjuntivo não existia no La-
tim, empregava-se em vez deste, o futuro do presente para ex-
pressar ações de incerteza e dúvidas quanto ao futuro.
Enfim, o Futuro do Subjuntivo é hoje e desde o século
XVI, utilizado na Língua Portuguesa, tanto na linguagem oral
quanto na escrita, aparecendo nos mais diversos textos literá-
rios, informativos, textos sagrados, além de ser também usado
com grande freqüência na linguagem oral.
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina: curso
único e completo. 23ª ed. São Paulo : Saraiva, 1990.
––––––. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. 37ª ed.
São Paulo : Saraiva, 1992.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37 ed.
cor. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.
BUENO, Francisco da Silveira. A formação histórica da Lín-
gua Portuguesa. 3ª ed. Revista. São Paulo : Saraiva, 1967.
CARDOSO, Wilton & CUNHA, Celso. Português através dos
Textos.
COUTINHO, Frederico dos Reys. (Seleção, prefácio e notas.)
As mais belas Poesias Brasileiras de Amor. 7ª ed. Rio de
Janeiro : Vecchi.
COUTINHO, Ismael Lima. Gramática Histórica. 7ª ed. Ao Li-
vro Técnico : 1976.
TERRA, Ernani & NICOLA, José. Verbos. Guia prático de
emprego e conjugação. 2ª ed. São Paulo : Scipione,
1995.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Mágoas, penas prazeres de meus longos dias
são freqüentemente ilustrados por uma citação;
enobreço minha dor de queixas murmuradas…
Ó mágico poder da encantação!
Ó colmeias de ouro que são as memórias ornadas!
(Léo Larguier)
Provérbio: sm. ‘máxima ou sentença de caráter prático e
popular, comum a todo um grupo social, expressa em forma
sucinta e geralmente rica em imagens’ XIV. Do lat. Proverbi-
um –ii // proverbiAL XVIII. Do lat. Proverbialis. (CUNHA,
Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
Ao conjunto de provérbios, adágio, ditado, anexim, bro-
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 83
História da Língua Portuguesa
nos deter.
O EQUILÍBRIO DA VIDA
O excesso de luz cega a vista.
O excesso de som ensurdece o ouvido.
Condimentos em demasia estragam o gosto.
O ímpeto das paixões pertuba o coração.
A cobiça do impossível destrói a ética.
Por isto, o sábio em sua alma
Determina a medida para cada coisa.
Todas as coisas visíveis lhe são apenas
Setas que apontam para o Invisível.
(TAO TE KING – O livro que revela Deus. LAO-TSE. Trad. e
notas de Humberto Rohden. São Paulo : Alvorada, 1982)
Tomemos alguns provérbios antagônicos:
1. Longe dos olhos, perto do coração. // O que os olhos não vêem, o co-
ração não sente.
2. Rei morto, rei posto. // Quem foi rei nunca perde a majestade.
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 85
História da Língua Portuguesa
28. Palavra de rei não volta atrás. // Palavra dada, palavra empenhada.
// Palavra não enche barriga. // Palavras o vento as leva; papel é do-
cumento.
29. Os grandes venenos estão nos frascos pequenos. // Os maiores perfu-
mes estão nos frascos menores
30. “Devagar se vai ao longe”,
Mas custa tanto a chegar
Só paciência de monge
Para agüentar esperar.
31. “Mentira tem perna curta”,
Todos sabem a oração.
Mas e se o tempo ela encurta
Viajando de avião?
32. “Longe dos olhos, longe do coração”,Dizia o cego, esnobando erudi-
ção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os Provérbios são uma fonte de conhecimento do passa-
do e do presente, e ao mesmo tempo, incorporam-se ao cotidia-
no, permanecendo muitas vezes com sua forma ‘arcaizante’ ou
com uma versão mais moderna, de acordo com a mudanças e
transformações inerentes ao próprio mundo, como:
1. “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura | Água mole em pe-
dra dura, tanto bate até que falta água.”
2. “Antes só que mal acompanhado. | Antes só que Malan acompanha-
do.”
3. “De grão em grão a galinha enche o papo. | De Fernando em Fernan-
do o Brasil vai-se afundando.”
4. “Depois da tempestade vem a bonança. | Depois da tempestade vem o
lamaçal.”
5. “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. | Não há
mal que sempre dure, nem mal que sempre se ature.”
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Renato. Inteligência do Folclore. 2ª ed. Rio de Ja-
Cadernos da Pós-Graduação em Língua Portuguesa, n. 01. São Gonçalo, 2001. 89
História da Língua Portuguesa