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Universidade Estadual de Goiás – Campus Morrinhos

Programa de Pós – Graduação Stricto Sensu em História


Disciplina: Metodologia da Pesquisa em História
Professores Dr. Robson Gomes Filho
Dra. Michelle dos Santos
Mestrandas: Ana Nóbrega; Recírio e Sheilla

TEMA: HISTÓRIA ORAL

TEXTO 1: HISTÓRIAS DENTRO DA HISTÓRIA.

OBJETO DO SEMINÁRIO

a. Debater o texto Histórias dentro da História de Verena Albert, no que diz respeito ao uso das fontes
orais na História.

BIOGRAFIA

FONTE:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4787983H3

PROBLEMÁTICA/PERGUNTA CENTRAL DO DEBATE

Como a História oral permite o registro de testemunhos e o acesso a "histórias dentro da história"
ampliando as possibilidades de interpretação do passado, diz respeito a metodologia científica
adequada?
OBJETIVOS

a. Objetivo central
§ Entender como a História Oral se definiu na História.
b. Específicos
§ Examinar as posibilidades de pesquisa e especificidades da fonte oral.
§ Analisar como usar essas fontes orais na pesquisa histórica.

PROPOSTA DO TEXTO

Estudar esta metodologia interdisciplinar que vem obtendo a atenção entre os historiadores e cientistas
sociais, enfatizando como o pesquisador acaba construindo sua própria fonte, estando inserida no que
tem sido chamado de história do tempo presente.

CONCEITOS

§ História da Experiência é, para o historiador Lutz Niethammer, uma possibilidade de nos


aproximarmos empiricamente de algo como o "significado da história dentro da história"; permitindo
questionar de modo crítico a aplicação de teorias macrossociológicas sobre o passado. p.166
§ A “memória oficial” e subordinada ou "memória dominada", como formas polarizadas da memória.
p. 167
§ Resíduo e relato, oriundo da sugerência de Peter Hittenberger em dividir os vestígios do passado; onde
aquele seria o clássico documento de arquivo, enquanto o outro, posterior a ele. p.168
§ “História dentro da história”, aquelas que alteram “hierarquia de significações históricas” segundo
Silvia Salvatici (historiadora italiana, conferencista do VII Encontro Nacional de História Oral –
Goiânia, 2004, que sublinhou como histórias contadas por mulheres revelam outras possibilidades
daquela que é transmitida pelos homens) p.166 e 197
§ “Ilusão biográfica” tomada de Pierre Bourdieu; que discute a ideia de uma identidade coerente; onde
a ordem cronológica de se organizar biografias imprime à vida uma lógica retrospectiva, preocupada em
dar um sentido à existência. Alimentando a ilusão de unidade, sendo na verdade, o eu fracionado e
múltiplo. p.169-170
§ “documento-monumento” , conforme definição do historiador francês Jacque Le Goff, de trazer para
o documento a ideia cuja reprodução resulta das relações de força que existiram e existem nas sociedades
que o produziram. p.183
§ “Ponto de saturação”, na exposição de Daniel Bertaux, é o momento em que as entrevistas começam
a se repetir. p. 186

OS HISTORIADORES E AS FONTES - Definições e história

§ Metodologia para o estudo da história contemporânea surgida em meados do século XX, realizadas por
entrevistas produzidas em de projetos de pesquisa, determinando quantas e quais pessoas entrevistar, o
que e como perguntar e que destino será dado ao material produzido. p.155
§ Se beneficia de ferramentas teóricas de diferentes disciplinas das Ciências Humanas, sendo
interdisciplinar, aplicáveis nas diversas áreas do conhecimento. Não se constituindo uma estratégia
nova, por haver sido empregada por historiadores na Antiguidade; como por pesquisadores poloneses
radicados nos EUA, que publicaram entre 1918 e 1920, história de vida de imigrantes Polacos. p. 156
Invenção do gravador a fita, reconhecida como “Primeira geração” da História Oral, segundo
historiador francês Philippe Joutard. p. 157
EUA e Europa América Latina
. 1948 – Marco Teórico da História . No final dos anos 50, o Instituto de
oral “moderna”, com a formação do Antropologia do México começa a
Columbia University Oral History registrar recordações sobre a
Research Office, por Allan Nevis e Revolução Mexicana, intensificado
Louis Starr em Nova York, para por Alicia Olivera e Eugenia Meyer
coleta de entrevistas de personalidade entre 60 e 70. p.157
da história norte-americana; que
considerava a transcrição e não a
gravação, como documento original.
p156-157
. Relatos europeus sobre a Resistência
Francesa no pós-Guerra; ou a
transcrição de testemunhos sobre a II
Guerra Mundial, na Alemanha. p.157
Uso do gravador portátil e da contra História (definida por Michel Trebitsch, pesquisador do
Institut d’Histoire du Temps Présent), passando ao local e ao comunitário (em oposição à
chamada História da nação), reconciliando o saber com o povo; para a História dos humildes,
dos primitivos, dos “sem História” (em oposição à História da civilização e do progresso,
como História dos vencedores). p. 157-158
EUA e Europa América latina
. Nos anos 60, entrevistas de história . Pesquisas mexicanas, intensificadas
de vida” de grupos sociais, como por Alicia Olivera e Eugenia Meyer
História oral “militante”, para “dar entre 60 e 70. p.157
voz” às minorias e possibilitar uma
História “vinda de baixo”.
Diferenciando-se da linha do
Columbia History Office, de estudo
das elites e exemplo daquilo que não
se deve fazer. p. 157
. Nos EUA, entrevistas com
camponeses e trabalhadores e na
França, publicação de uma coleção de
“Vivências” com relatos que
marcaram a própria metodologia.
p.157
OBSERVAÇÕES DA AUTORA
Ainda que o reconhecimento dessa linha, após movimento de transformação das ciências, que
deixaram de pensar em termos de uma única história ou identidade nacional, para a existência
de múltiplas histórias, memórias e identidades em uma sociedade. Onde a resistência se deu
à própria forma como eram realizadas as pesquisas; levara a equívocos que convêm evitar. O
primeiro consiste em considerar o relato como a própria “História”, levando à ilusão da
“verdade do povo” pelo levantamento do testemunho oral. A entrevista como revelação do
real, não apenas como fonte que necessita de interpretação e análise. O outro, diz respeito aos
usos da noção de História “democrática”, ou História “vista de baixo”. Onde, tais
polarizações, contribuem para diluir a especificidade e relevância da História oral. p.158
É certo que os que se situam “acima” costumem deixar mais registros pessoais; e nesse
sentido, é possível admitir que entrevistas de História oral com os que se situam “abaixo” na
escala social possam ser prioritárias, levando a uma curiosa conclusão, de que a ênfase sobre
a História “de baixo” acaba vinculada à noção de “povos sem escrita”; e a História oral torna-
se uma “compensação” para a incapacidade daqueles grupos de escreverem sobre si mesmos.
Assim, corre o risco de acabar reforçando esse preconceito. A ideia de “dar voz” às minorias,
acaba reforçando as diferenças sociais. Ao invés de uma “missão democrática”, onde o
pesquisador deve reconhecer que a necessidade de ouvir os “de baixo” parte dele mesmo;
consciente do fato e das implicações de sua decisão. p. 159
Sistematização da Metodologia (EUA: Oral History Review, Oral History Association,
fundada em 1966 e manuais de História oral; UK, a revista Oral History da Oral History
Society britânica)
EUA e Europa América Latina e outros países
. Começam a surgir pesquisas menos . Em 75, a História oral chegou ao
“populistas” (Itália, Franco Ferraroti, Brasil, com o Curso Nacional de
Alessandro Portelli e Luisa Passerini; História Oral, organizado pelo
Alemanha, projeto Lusir; França Subgrupo de História Oral do GDCS,
pesquisa sobre a previdência social de representantes da Biblioteca
Dominique Aron-Schnapper e Nacional; do Arquivo Nacional; da
Danièle Hanet), aliando atividade FGV e do Instituto Brasileiro de
científica e prática arquivística, com a Bibliografia e Documentação. Com
preocupação de preservar e permitir alunos membros de diferentes
acesso aos depoimentos, subordinada instituições do país. Sendo realizadas
a um projeto de pesquisa. Momento as primeiras entrevistas do CPDOC
em que pesquisadores da Europa e dos da FGV, para estudar a trajetória e o
EUA começam a se reunir em desempenho das elites brasileiras
encontros internacionais. p.160 desde os anos 30; examinando o
. A década de 80, traz um processo de processo de montagem do Estado
consolidação, onde se publica uma brasileiro, compreendendo o regime
coletânea de artigos (Las histórias de militar vigente (formação das elites,
vida em ciências sociales, de Jorge influências políticas e intelectuais,
Balán-1974; Biography and Society, conflitos e formas de conceber o
de Daniel Bertaux-1981; números mundo e o país). Abarcando neste
especiais das revistas Annales-1980; acervo políticos, intelectuais,
Cahiers Internationaux de Sociologie- tecnocratas, militares e diplomatas. p.
1980; Dados-1984; Actes de la 160-161.
Recherche em Sciences Sociales- Publicação do manual de História
1986 e Cahiers de l’Institut d’Histoire oral, pelo Laboratório de História
du Temps Présent-1987). Oral do Programa de Pós-graduação
. No plano internacional, o decênio de em História da UFSC, criado por
1990, trouxe a criação da Carlos Humberto Pederneiras Corrêa.
International Oral History p. 161.
Association (IOHA-1996), durante o Em 88, o MORA, na cidade do
IX Congresso Internacional de México, sedia o I Encontro de
História Oral, na Suécia (que teve a historiadores Orais de América Latina
participação de pesquisadores e Espanha, por Eugenia Meyer, para
brasileiros, incentivando a realização constituir uma rede de intercâmbio
de eventos fora do eixo Europa – alternativa, fora do eixo Europa-EUA
América do Norte). p. 162. (participaram pesquisadores da
. Ao lado desse movimento em Argentina; BR; Costa Rica; Cuba; El
direção ao “Sul”, foram incorporando Salvador; Espanha; EUA-Centro de
experiências desenvolvidas no Leste Estudos Porto-riquenhos; Peru; Porto
europeu; frequentes após a queda dos Rico; Uruguai; Venezuela e México).
regimes socialistas. p. 162. p. 161.
No Brasil, formaram-se outros
núcleos e programas de História oral
(com 21 instituições de pesquisa,
conforme levantado pelo CPDOC,
entre 1988 e 1989; em 10 estados-BA;
DF; CE; MG; PA; PE; RS; RJ; SC e
SP. p. 161
. A década de 1990, resulta em intensa
participação de pesquisadores e
instituições nos encontros acadêmicos
organizados a partir daí; onde durante
o II Encontro Nacional de História
Oral, realizado no Rio de Janeiro em
abril de 1994, foi criada a Associação
Brasileira de História Oral (ABHO).
Criaram-se possibilidades de
discussão da metodologia em outros
fóruns, com participação de várias
instituições (a exemplo da Anpocs). p.
162
. Em 1998, 2000 e 2002, ocorreram no
Brasil, Turquia e África do Sul.

História oral e História

§ A autora contextualiza que após as décadas de 70 e 80, a História oral já se inseria nos departamentos
de História e admitiam dissertações e teses que discutiam e analisavam as "fontes orais". p. 163
§ E que esse novo quadro se devia a mudanças na disciplina, oriunda do debate do espaço e papel do
indivíduo na história, que caminhava sobre a perspectiva positivista do século XIX (o qual preconizava
o escrito em detrimento do oral; de um passado remoto em detrimento de temas contemporâneos); com
ênfase nos processos de longa duração e estudo das fontes seriais, defendida pelos Annales. p. 163
§ Assim, se estabelecia a História do tempo presente; com a concepção de que fontes escritas poderiam
ser subjetivas e se constituiriam pelo pensamento científico (em novos objetos baseados na vida
cotidiana, investigados no presente e abordados por entrevistas). p. 163
§ Nesse quadro foram trazidas mudanças importantes nos conteúdos dos arquivos e na concepção do que
é uma fonte. Tecnologicamente, se alteraram os hábitos de comunicação e de registros diversos -
passiveis de serem fontes ao estudo da história - alterando o conteúdo dos arquivos históricos; e
valorizando a interdisciplinaridade. p. 163-164
§ Para Verena, a reconciliação da História oral com a academia se deveu sobretudo ao fim da polarização
maniqueísta (“vencedores” e “vencidos”, “nacional” e “local”, “escrito” e “oral”, “erudito” e “popular”
etc.); onde a entrevista não foi tomada como fonte a ser interpretada e analisada, mas como instrumento
que teve efeito sobre a comunidade; como forma de reforçar e legitimar a identidade (fora ou dentro da
academia e em outras práticas – pedagógicas, terapêuticas, sociais etc.). p. 164-165
As possibilidades de pesquisa e a especificidade da fonte oral

§ Uma das riquezas, segundo Verena, está em permitir como pessoas ou grupos efetuaram e elaboraram
experiências, incluindo aprendizado e decisões estratégicas. p. 165
§ Que em textos alemães, recebeu o nome de "História de experiência" e apareceu em combinação com
a ideia de mudança de perspectiva; de entender como pessoas e grupos experimentaram o passado,
possibilitando questionar interpretações de acontecimentos e conjunturas (a exemplo citado da
desmistificação da ideia de autogestão operária pelo estudo de uma organização anarco-sindicalista
durante a Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939; ou a influência comunista sobre os trabalhadores
da República de Weimar, numa situação entre proletariado e aparelho partidário). p. 165-166
§ Nesse sentido, proporcionou uma aproximação empírica do "significado da história dentro da história"
e permitiu questionar de modo critico a aplicação de teorias macrossociológicas sobre o passado;
ampliando a percepção histórica e permitindo a “mudança de perspectiva”. Relacionando o fato de
permitir que o conhecimento de experiências e modos de vida de diferentes grupos sociais; acessasse a
multiplicidade de "histórias dentro da história", úteis a História do cotidiano como: a política, o estudo
das diferentes formas de articulação de atores e grupos de interesses; os padrões de socialização e de
trajetórias; as comunidades, inclusive na investigação de genealogias; as instituições; as tradições
culturais e memoriais. p.166
§ Sendo a análise das distorções subjetivas da entrevista, responsável por compreender valores coletivos
e ações de um grupo (como escolhas de uma eleição, por exemplo); a constituição da memória passa a
ser objeto de continua negociação, atrelada à construção de identidade; resultante da organização e
seleção do que é importante para a unidade, continuidade e coerência – por isso, mutante. p.166-167
§ Tratada de forma polarizada: pela oposição entre “memória oficial” e subordinada ou dominada; e hoje,
pela multiplicidade de memórias em disputa (trazendo como exemplos a observação de Michael Pollak,
a existência de memórias coletivas numerosas na composição da sociedade; Robert Frank, na
classificação de - memória oficial da nação; memória dos grupos; memória erudita e memória pública
ou difusa; e, Alessandro Portelli que atenta a sociedades complexas, com diversas memórias
idiossincráticas – como em sua análise do Massacre de Civitella Val di Chiana, trazendo uma memória
dividida, fragmentada e ideológica, e culturalmente mediada). p. 167
§ Assim a autora reconhece que a diversidade constitui alternativa para evitar a polaridade simplificadora
entre "memória oficial" e "memória dominada", e a uma análise mais rica dos testemunhos obtidos. p.
167-168
§ E que, estudar a constituição de memórias não é construí-las, sendo a entrevista tomada como processo
de “conscientização” e de construção de identidade, diferente daquela. Onde, na fonte oral, é preciso
considerar as condições de sua produção, à sua especificidade; por ser a entrevista de História oral,
intencionalmente produzida e colhida a posteriori.
§ Verena atenta ainda que, para o historiador alemão Peter Hiittenberger, em sua obra “Reflexões sobre
a teoria das fontes; os vestígios do passado podem ser divididos em resíduos (documento de arquivo) e
relatos ( posterior a ação ou resíduo dela – como uma carta, memórias ou autobiografias. p. 168
§ Pois do mesmo modo que uma autobiografia, uma entrevista seria um relato de ações passadas e um
resíduo de ações desencadeadas nela própria; sendo parte de seu próprio relato, como resíduo de uma
ação interativa e específica de interpretar o passado; de construção de memórias. Compreendida como
documento de cunho biográfico, da ideia do individuo como valor - único e singular, do ser psicológico,
reforçando esses valores. p.169
§ Expõe ainda, a “ilusão biográfica” definida por Pierre Bourdieu, como o fato de a unidade do eu ser uma
abstração. p. 169-170
§ Verena coloca que o entrevistado, leitores ou ouvintes de uma entrevista, partilham a crença na vida
como trajetória que faz sentido. Conferindo ao pesquisador reproduzir uma visão retrospectiva de
significados e escolhas passadas, que confira sentido as experiências narradas.
§ Reconhecer os paradigmas não é renunciar a ampliar o conhecimento do passado; mas melhorar seu
potencial. Tendo como vantagem a experiência vivida que torna o passado concreto; sendo a entrevista
não um “relato” do passado. p. 170
§ Outro ponto discutido pela autora, é a de que que biografias de indivíduos comuns concentram
características do grupo; mostrando o que é estrutural e próprio, ilustrando formas típicas de
comportamento. (exemplificado pelo caso de Menocchio, o moleiro personagem do livro O queijo e os
vermes de Carlo Ginsburg). Biografias, histórias de vida, entrevistas; mostram o que é possível numa
sociedade ou grupo, sem esgotar possibilidades. p. 170
§ Outra especificidade é a narrativa como alicerce da entrevista; onde o entrevistado transforma o que foi
vivenciado em linguagem, selecionando e organizando os acontecimentos com sentido (a exemplo do
“trabalho da linguagem” na Teoria da literatura); sendo utilizado na História oral. p. 170-171
§ Uma conversa como narrativa oral, torna essa fonte especial a outros documentos, como as
memórias e as autobiografias. O que o entrevistado fala depende da circunstância da entrevista
e do modo pelo qual percebe seu interlocutor (falta de costume; inibição; forma da transcrição);
fatores importantes quando da produção e da análise da fonte oral. p. 170
COMO USAR FONTES ORAIS NA PESQUISA HISTÓRICA – A preparação de entrevistas:
projeto de pesquisa e roteiros

§ Segundo a autora, isso se dá pela preparação das entrevistas com o projeto de pesquisa e na
escolha da metodologia e roteiros das entrevistas; realização e; tratamento. p. 171
§ Discutindo e definindo o tipo de pessoa, quantidade de entrevistados (recorte do objeto) e tipo
de entrevista condicionadas aos objetivos da pesquisa; tomando critérios qualitativos e
conhecimento prévio do universo estudado; e o papel dos participantes do tema investigado,
pela sua representatividade e reconhecimento no grupo. p.172
§ Listando e revisando permanentemente, nomes dos candidatos em breve biografia
justificativa; onde ao final da pesquisa se define os entrevistados do projeto pretendido. p. 172
§ Esclarece que, trabalhos assim tem imponderabilidade de valor no tempo, e podem servir de
base a outros estudos (caso da entrevista com participante da Revolta de Formoso – GO, pela
historiadora Janaína Amado que serviu para difundir o romance D. Quixote no estado de
Goiás, de 1950). p.172-173
§ Para produzir entrevistas diferentes em qualidade e densidade, depende dos entrevistados; a
justificativa dos objetivos do estudo e sua relevância deve tomar economia do discurso como
reflexão (exemplificado pela definição do “bom entrevistado” de Aspásia Camargo). p. 173
§ Pode ainda, se utilizar do complemento de outras fontes significativas; ou outras comparações
dela. p.174
§ A decisão de encerrar as entrevistas se configura à medida que a investigação avança;
chegando ao seu ‘”ponto de saturação” (conceito formulado por Daniel Bertaux, após
insuficiência de informações, entre outras fraquezas), devendo-se evitar a homogeneidade de
entrevistados. Convém conter entrevistados de diferentes origens e papéis desempenhados,
no universo estudado, para que várias funções, procedências e áreas de atuação sejam cobertas
pela pesquisa. p. 174-175
§ É possível escolher o tipo de entrevista a ser realizado: temáticas ou de história de vida.

TIPOS DE ENTREVISTAS
TEMÁTICAS HISTÓRIA DE VIDA
. Versam sobre a . Tem centro de interesse no próprio
participação do entrevistado indivíduo da história; podendo
no tema escolhido. p.175 conter em seu interior, diversas
entrevistas temáticas pelo
. A escolha de entrevistas aprofundamento dos temas
temáticas parece adequada relevantes a pesquisa. p.175.
no caso de temas definidos
na trajetória de vida dos . Numa entrevista de história de
depoentes (pelo período; vida, a preocupação não é o tema e
desempenho ou sim a trajetória do entrevistado e
envolvimento e relevância. p. 176
experiência). p. 175

. Ambas, pressupõem relação com o método biográfico (tema; indivíduo e cortes


temáticos; tendo como eixo a biografia, vivência e experiência). p.175
PREPARAÇÃO
. O primeiro passo é o contato com o entrevistado, a possibilidade de conceder o
depoimento; explicando os objetivos da pesquisa e o método de realização de
entrevistas (se for o caso, assina-se documento permitindo a utilização e
divulgação quando da publicação). p. 176
PROJETO DE PESQUISA ROTEIROS DAS ENTREVISTAS
. Deve explicitar claramente . O roteiro geral de entrevistas,
o tema e qual questão está servirá de base para os roteiros
sendo perseguida. Estudar individuais dos entrevistados. Tendo
exaustivamente o assunto, dupla função: sistematizar os dados
levantando dados e análises levantados durante a pesquisa e
a respeito. p. 176 permitir a articulação com as
questões que impulsionam o projeto.
Deve reunir cronologia minuciosa,
análises sobre o assunto e dados
sobre documentos considerados
centrais; podendo sofrer alterações;
incorporando informações e
interpretações obtidas nas
entrevistas e em outras fontes. p.
176

. O estudo da biografia do
entrevistado é importante para
elaboração do roteiro individual.
Além do currículo, é preciso outros
dados a seu respeito; permitindo
elaborar a cronologia de sua vida. p.
177

. O roteiro individual é resultado do


cruzamento entre o que há de
particular àquele entrevistado e o
geral a todos os que foram listados.
Atentando a formatação escrita para
auxiliar o entrevistador;
organizando os dados de forma
tópica, para facilitar visualização no
momento da gravação. p. 178

Quando a entrevista se estende por


mais de uma sessão, convém
elaborar roteiros parciais com base
nos individuais. p. 178
A realização de entrevistas

§ Verena estabelece observações que devem ser seguidas, durante a prática, pelo entrevistador:

1.A gravação como fonte de pesquisa pública, deve ser iniciada por "cabeçalho" informando:
nome do entrevistado, do(s) entrevistador(es), data, local e projeto no qual se insere. p.180.

2. Quando aberta à consulta de outros pesquisadores, deve ser informado ao entrevistado com
antecedência, necessitando documento de cessão de direitos, assinado pelo entrevistado ao
final do depoimento. p. 180

3. Convenciona reservar um tempo relativamente longo a realização da entrevista, por ser uma
relação entre pessoas diferentes, diante de uma situação atípica. Considerando a duração por
sessão de duas horas, conforme ritmo do entrevistado (diferente da jornalística que depende do
espaço disponibilizado pelo meio).

4. Esperar o entrevistado concluir seu raciocínio antes de nova pergunta, analisando


incoerências e lacunas, sanáveis em sessões posteriores. p. 178 Evitar falas superpostas,
priorizando a palavra do entrevistado. p.180.

5. Ter sensibilidade para reconhecer fatores que influenciam a entrevista, avaliando e


analisando com constância. p. 178

6. Manter um caderno de campo, para anotações e registro da escolha do entrevistado,


descrevendo no contato impressões da entrevista em si; que podem auxiliar a pesquisa
posteriormente, na análise do material colhido. Evitando possíveis problemas técnicos. p. 178-
179

7. Anotar palavras proferidas sem clareza para recuperá- las no momento da transcrição,
analisando gestos, à compreensão do áudio. p.180

8. Preferir perguntas abertas, simples e direta; obtendo respostas discursivas. Onde a utilização
de fotografias, recortes de jornal, documentos e menção a fatos específicos podem ser uteis para
lembrar acontecimentos passados. p. 179

9. Lidar com recuos e avanços no tempo, abordando temas conforme suscitados pela conversa
e não cronologicamente. Repetições podem trazer informações relevantes a análise, para
significação do fato relatado. p. 179
O tratamento de entrevistas

Verena observa que o destino do material produzido depende do projeto inicial e deve seguir
os seguintes pontos:

1. Se destinado a consulta pública, com acesso ao áudio, vídeo ou sua forma escrita; deve haver
instrumentos auxiliares, como sumários e índices temáticos, para evitar a manutenção de
acervo "mudo". p.180

2. A duplicação imediata da gravação em cópias de segurança, impede a perda irremediável do


documento, viabilizando sua consulta. Para formalizar a escrita, convém estimar cerca de cinco
horas à transcrição para cada hora de fita gravada. Necessitando conferência de fidelidade da
gravação, daquilo que foi transcrito. p.180

3. Requerer um copidesque, ajusta a leitura e corrige erros de linguagem e normas projetuais,


adequando a linguagem escrita a oral. p. 181

4. A publicação, pode requerer editorações, utilizando-se recursos como cortes e ordenação da


entrevista por assuntos; desde que mantida a correspondência entre o que será publicado e o
que foi gravado. p.181

5. A utilização de notas, pode esclarecer: passagens obscuras, informando fatos e pessoas


citadas; corrigir equívocos do entrevistado ou do entrevistador e; explicar circunstâncias
importantes à compreensão do que foi dito.

A tecnologia de gravação

§ Neste ponto a autora atenta que a escolha do equipamento será́ condicionada pelos propósitos
do trabalho (se destinado a complementação de material de pesquisa ou a formação de um
acervo permanente, por exemplo). p. 182
§ Pela especificidade de fontes orais e audiovisuais se torna difícil sua conservação, não podendo
ser consultadas sem a intermediação de um equipamento específico; considerando a
longevidade e suportes requeridos. p. 182-183
§ Existindo constante dúvida sobre a melhor técnica de conservação e arquivamento utilizados;
devido as inúmeras possibilidades de backups para a guarda do material pesquisado. Sendo as
tecnologias digitais uma das melhores opções, caso o objetivo seja manter um acervo; visto que
equipamentos e mídias analógicas tenderão a desaparecer do mercado. p. 182
§ Sem soluções definitivas e tranquilizadoras; deve-se estabelecer cuidados para que as
informações continuem em condições de se reproduzirem, sendo regravadas em formatos mais
novos. p. 183
§ O suporte profissional deve ser constantemente atualizado frente a novas tecnologias, buscando
informações técnicas atualizadas no meio de atuação - como fóruns ou programas que discutem
esses assuntos (a exemplo citado no texto, da Associação Internacional de Arquivos Sonoros e
Audiovisuais e da Unesco Memory of the World). p. 183
Interpretação e análise de entrevistas

§ Segundo a autora, a entrevista deve ser tratada como um “documento monumento”; de que teria a
intencionalidade de perpetuar a recordação (tal qual as obras comemorativas de arquitetura e das
esculturas em praça pública). p.183
§ Citando Le Goff, esclarece que o dever do historiador é "a crítica do documento”; sendo capaz de
"desmontá-las" e analisar suas condições de produção, para utilização com pleno conhecimento de
causa. Verena esclarece que um documento assim, oficializado, não pode se comparar a uma mentira
ou ficção; complementando Le Goff. Devendo compreender as condições de produção de
documentos-monumentos e reconhecer a distância com os textos de ficção; onde neste, o imaginário
se pretende real. p. 184
§ Seu caráter intencional de perpetuação de uma memória passada, fica patente pela escolha do
testemunho a ser ouvido e enaltecimento monumental, pelo historiador. No entanto, tomando o
historiador José Miguel Arias Neto, é necessário verificar as intenções do pesquisador para evitar
hiato (s) na comunicação (a exemplo da entrevista realizada em 1968 pelo Museu da Imagem e do
Som do Rio de Janeiro com o marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata – 1910). p.
184-185
§ Onde a análise de depoimento em História oral, deve considerar a fonte como um todo; sabendo
"ouvir" a entrevista, tanto pelas condições de sua produção quanto pela narrativa do entrevistado;
observando como vai constituindo significados sobre o passado e o presente, e a própria entrevista;
atentando para relatos, interpretações e pontos de vista "desviantes". p. 185
§ Esse modo de interpretar pode ser adotado na análise de qualquer fonte, não se afastando da lógica
hermenêutica; onde o todo fornece sentido às partes, e vice-versa. Por essa lógica, numa entrevista;
compreendemos os conceitos utilizados pelo entrevistado, à medida que se relaciona com o
depoimento, e vice-versa - surgindo o sentido. p.185
§ Atenta ainda, a importância de transcrever as palavras ditas pelo entrevistado, exatamente como
expostas por ele; não cabendo acrescentar novas palavras, ou substituí-las por sinônimos. Ao
interpretar uma entrevista, deve haver fidelidade à lógica e às escolhas do entrevistado. p.185-186
§ A narrativa cristaliza realidades condensadas e carregadas de sentido à sua compreensão,
fornecendo passagens passíveis de serem citadas. Cabendo, pois, atentar a ocorrência de narrações
especialmente pregnantes (sentido conforme citado em capítulos de suas obras: “Além das versões:
possibilidades da narrativa em entrevistas de história oral” e “Dramas da vida: direito e narrativa na
entrevista de Evandro Lins e Silva”). p.186
§ Por está condicionada a um caso particularizado, a contextualização é necessária para reconhecer a
própria qualidade do trecho "citável". No entanto, quando a pesquisa pressupõe entrevistas com
diversas pessoas do grupo investigado, é possível estabelecer padrões. O conceito de "ponto de
saturação" (segundo Daniel Bertaux), por exemplo, ajuda a visualizar a possibilidade de
generalização. p.186
§ Na análise do material produzido, podem ser estabelecidas tipologias; cabendo ao pesquisador
indagar até onde se revela como tal, no grupo de pessoas entrevistadas.
§ No caso das passagens especialmente "citáveis", ocorre uma espécie de "generalização" quando
reveladora das possibilidades do grupo, ainda que apresentado por uma pessoa em particular. p. 187
§ Deve-se ter em mente outras fontes sobre o assunto estudado. Muitas podem ter sido utilizadas
quando da pesquisa anterior à realização das entrevistas. Comparar o que dizem as entrevistas com
outros documentos de arquivo, seja por um deslocamento temporal ou de sentido, permite verificar
como a memória sobre o passado vai se constituindo no grupo. Atentando a necessidade de se tomar
os fatos (o que realmente aconteceu) e suas representações, simultaneamente (citando a análise da
história do massacre de Civitella Val di Chiana, de Alessandro Portelli; interpretado de diferentes
modos, pela situação política da Itália na região da Toscana, onde ocorreu; bem como exemplos
oriundos de situações observadas por historiadores, diz respeito a pesquisas Europeias, relativas a
cronologias diferenciadas do período da Segunda Guerra Mundial, como: a ascensão de Hitler ao
poder e o desemprego em massa pelo crescimento da indústria bélica, na Alemanha; o fim da
Segunda Guerra e a libertação de Paris, na França). p. 187
§ Deslocamento temporal não pode ser negligenciado na análise, ajudando a compreender o contexto
(exemplificado no caso do Brasil, pela historiadora Hebe Mattos, na análise de entrevistas com
descentes de escravos, membros da comunidade de São José da Serra, em Valença/RJ; no tocante
ao reconhecimento da formação da comunidade, havendo ali um deslocamento semântico, oriundo
da “generosidade” em acolher escravos fugidos e à abolição da escravatura). p.189
§ Trabalho simultâneo com diferentes fontes e o conhecimento aprofundado do tema permite perceber
"dissonâncias" que podem indicar caminhos profícuos de análise das entrevistas de História oral.
Tanto sua produção como sua análise necessitam de preparação consistente e aprofundada.
Responsabilizando o pesquisador, em relação ao conhecimento que produz e ao grupo que investiga.
Onde em certos casos, a exemplo das comunidades quilombolas, podem servir de provas a litígios
jurídicos (como o direito à terra). P. 189
§ Dito isso, a autora pontua como o universo da História oral é complexo e diversificado. Sendo
necessário ter claro o porquê, o como e o para que se fará uma pesquisa com esse tipo de fonte;
excluindo posturas ingênuas de "dar voz aos vencidos", esquecendo que a entrevista é um
"documento-monumento" (exemplificando o esquema a ser seguido, conforme página 190). p. 189
§

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEXTO

a. Este texto se baseou na pesquisa em história oral, sob a análise de vários autores, conforme
fontes citadas acima e sua Bibliografia Básica, no que diz respeito a questão da interação e confiança
entre entrevistador e entrevistado que somam-se às variáveis de tempo e lugar. Sendo os elementos
que permeiam e condicionam a pesquisa oral e todo o seu universo, no qual os atores históricos
interessados em uma temática compõem seus próprios arquivos, constroem conhecimentos e
socializam experiências. Assim, a dialética do encontro e elaboração da pesquisa, envolvendo sujeitos
plurais, realiza sua função histórica de transformar os pesquisadores em produtores deste processo a
serviço da humanidade e da humanização dos indivíduos, na História presente.

SUGESTÕES DE LEITURA CLÁSSICA NA ÁREA DE URBANISMO, USANDO DENTRE


OUTRAS FONTES, A ORAL
(https://www.academia.edu/4233468/19823634_A_Imagem_Da_Cidade_Kevin_Lynch)

.LINCH, Kevin. A imagem da Cidade. Lisboa: Edições 70.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA NO URBANISMO, COM USO DA FONTE ORAL


(https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/resgate/article/view/8654339/21067)

• DERNTL, Maria Fernanda. “Dos espaços modernistas aos lugares da comunidade:


memórias da construção das cidades-satélites de Brasília.” In. Dossiê Cidades Imaginadas, Cidades
Reais. v. 27 n. 1 Campinas: Unicamp, 2019.
Universidade Estadual de Goiás – Campus Morrinhos
Programa de Pós – Graduação Stricto Sensu em História
Disciplina: Metodologia da Pesquisa em História
Professores Dr. Robson Gomes Filho
Dra. Michelle dos Santos
Mestrandas: Ana Nóbrega; Recírio e Sheilla

TEMA: HISTÓRIA ORAL


TEXTO 2: PALAVRAS NO TEMPO E NO ESPAÇO – A GRAVAÇÃO E O TEXTO DE
HISTÓRIA ORAL

OBJETO DO SEMINÁRIO
a. Debater o texto Palavras no Tempo e no Espaço – A Gravação e o Texto de História Oral de
Ricardo Santhiago, no que diz respeito a sua discussão teórica-metodológica e editorialista.

BIOGRAFIA
.

FONTE:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do

PROBLEMÁTICA/PERGUNTA CENTRAL DO DEBATE

a. Como a História oral é capaz de estender o caráter dialógico da fonte oral, envolvendo pesquisadores,
sujeitos e audiência, na academia e no mercado editorial?
OBJETIVOS
a. Objetivo central
i. Demonstrar e investigar as formas como o trabalho com história oral pode afetar a percepção
pública sobre toda uma comunidade.
b. Específicos
i. Focalizar categorias identitárias, espaços geográficos, e personalidades individuais; como uma
visão mais amplificada sobre história pública.
ii. Analisar o compartilhamento de tais produtos com a comunidade, tanto pelos “historiadores
públicos” quanto os historiadores orais, respectivamente.

PROPOSTA DO TEXTO

a. Reportar a influência que “histórias de vidas” causam aos expectadores em geral, e como tal
abordagem se conformou no seio da História Oral. Tanto internacionalmente como nacionalmente.
Abarcando um filão editorial em que o acadêmico se faz presente, em luta com outras categorias
profissionais da comunicação em massa; alertando ainda a responsabilidade que este historiador deve
assumir em relação a verdade dos fatos.

CONCEITOS
a. História pública ou “história amadora”, definida como ações que história emprega para difundir
trabalhos entre um público não acadêmico, feita por historiadores não profissionais, como a empregada
em museus ou associações comunitárias. p.97.

b. Histórias de vida, sendo aquelas que possuem conteúdo emotivo a atrair e encantar,
independentemente da apreensão intelectual. Que diz respeito a capacidade do pesquisador para manejá-
la. p. 98

c. Autoridade compartilhada, como capacidade de estender o caráter dialógico da entrevista,


envolvendo pesquisadores, sujeitos e audiências. Associado ao princípio de “empoderamento”. p. 97.
PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA NA HISTÓRIA ORAL

OUTROS PAÍSES BRASIL


. Discussão teórica e metodológica, . O campo da história oral brasileira
oriunda de A shared authority: Essays teve entre suas raízes: pesquisas
on the craft of oral and public history, sociológicas com depoimentos
de Michael Frisch, 1990; que pessoais feitas por Maria Isaura
extrapolou os propósitos, com o Pereira de Queiroz desde 1953;
debate no periódico norte-americano trabalhos realizados pelo CPDOC da
Oral History Review, que FGV, a partir de 1975; e a obra
demonstrava este circuito mediado de Memória e sociedade: Lembrancas
produção-recepção das ideias. p. 97 - de velhos, de Ecléa Bosi, discutindo
98. memória com a forma literária de
. Oral history and public memories, de apresentação das entrevistas. p. 99.
Paula Hamilton e Linda Shopes
publicado em 2008; investigou formas
como o trabalho com história oral
pode afetar a percepção pública sobre
uma comunidade, focalizando
categorias identitárias, de espaços
geográficos e personalidades
individuais. p. 98.
. Donald Ritchie em Oxford oral
history handbook, de 2011, reuniu
ensaios de figuras continentais
expressivas, incluindo texto de
Graham Smith, Towards a public
history. Apesar de já publicado em
1986, ensaio chamado The oral
history/public history connection –
seguindo o caminho de Douglass
(1980) e Morrissey (1980); adotava
uma visão mais amplificada sobre
história pública e responsabilidade de
compartilhar tais produtos com a
comunidade, tanto pelos historiadores
públicos quanto pelos orais,
respectivamente. p. 98.
. Na cultura escrita norte-americana
Studs Trekel, autor de best sellers ou
“oral history”, contribuiu para que
editoriais tivessem tais títulos em seu
catálogo. Publicações pela
StoryCorps, como Listening is na act
of love (Isay, 2008) e Mom: A
celebration of mothers from
StoryCorps (Isay, 2010), são
exemplos de séries de história oral
resultantes de trabalhos da academia e
arquivos. p. 99-100.
OBSERVAÇÕES DO AUTOR
Por ser essencialmente acadêmica, a nossa história oral não se beneficiou de muitas das
aventuras norte-americanos e inglesas; por não responder a várias demandas originadas fora
da academia. p. 99.
Trazendo como resultado espaços deixados por historiadores orais, que foram ocupados por
profissionais da comunicação e das artes; na produção de histórias de vida narradas.
Difundidas e rotuladas como “memórias”, “histórias”, “depoimentos” e até mesmo “tradição
oral”. Vistos como pistas dos caminhos que se pode perseguir na difusão destas pesquisas. p.
99
Tais produtos midiáticos contribuem para moldar mentalidades históricas à ocupação que
fazem do mercado editorial com histórias narradas, com informação e conhecimento;
apresentadas de forma atraente e prazerosa. Que além de cumprirem o propósito de difundir
pesquisas de valor e interesse, cultivam um espaço que a história oral poderia melhor ocupar.
p. 100

ALÉM DE “REPORTAR”

§ O autor destaca que para a efetivação e associação entre história oral e pública, necessário cuidados
com a pesquisa intelectual (pela solidez, rigor e técnica); com estratégias que levam a sua eficacidade.
Não equivalendo a mera gravação de vozes, nem a prática do jornalismo noticioso. p. 100
§ Cita como bons trabalhos o Manual de história oral, de Verena Alberti (2004) quanto as técnicas e
procedimentos à pesquisa em história oral, e o livro História oral: Memória, tempo, identidades; de
Lucília de Almeida Neves Delgado (2006), que combina metodologia, teoria e temas. Enfatizando, a
viabilidade destes profissionais no mercado editorial brasileiro, destacando também obras fora do
âmbito acadêmico (como A entrevista de história oral e suas representações literárias, de Alessandro
Portelli (2010, com a inserção da oralidade em obras ficcionais) e Publicando história oral, de Richard
Cándida Smith (2011 – com insights sobre a narração e autoria na história oral). p. 101
A ESCRITA DE UMA VIDA

§ Neste ponto Ricardo esclarece que uma forma clássica para publicar entrevistas é a apresentação de
transcrições, editadas e tratadas, integralmente; numa única entrevista ou em um conjunto delas. Onde,
o primeiro costuma ser “biografia” ou “autobiografia”, (utilizando a expressões como: “em depoimento
a...” para introduzir o pesquisador responsável) com autoria frequentemente atribuída ao narrador. No
entanto, afirma que os autores, podem alternar esses modos (a exemplo das obras da jornalista Regina
Echeverria – na biografia Furacão Elis-1985, narrada pela autora; e o livro Só as mães são felizes-1997,
narrado em primeira pessoa por Lucinha a mãe do Cazuza e em forma de depoimento); assegurado pelo
uso dos recursos expressivos da linguagem escrita. p. 101-102
§ Santhiago atenta que muitas vezes, esse tipo de trabalho é realizado por profissionais de mesma área,
que podem atuar de forma diversificada dentro dos circuitos editoriais (cita o exemplo da jornalista
Carla Mühlhaus, que em Por trás da entrevista (2007), reúne metaentrevistas com vários jornalistas
brasileiros, refletindo uma técnica de diálogo e obtenção de informações, na base tanto do jornalismo
quanto da história oral) p. 102
§ Atenta ainda, que esse também é o foco narrativo da Coleção Aplauso, editada pela Imprensa Oficial
para o registro da memória das artes no Brasil (sendo projeto de Hubert Alqueres e do crítico Rubens
Ewald Filho; descrito em centenas de títulos, com álbuns fotográficos, roteiros de filmes e textos
teatrais, além de monografias e biografias; tendo como núcleo o segmento “Perfil” - nomenclatura usual
para textos biográficos escritos por um jornalista, a respeito de uma determinada faceta de um
personagem; onde uma agremiação destes textos poderia transformar-se numa biografia). p. 102
§ Para o autor, o nome mais adequado a esta obra, seria “autobiografia narrada”, a partir de entrevistas
gravadas e tratamento “mais próximo da escrita” (segundo Philippe Lejeune), onde os textos se
construíram e as perguntas foram elididas num conjunto de transcrições, reelaboradas em primeira
pessoa. Sua organização, geralmente cronológica, seguiu uma estrutura comum as histórias orais de vida
(exemplificado pela autobiografia narrada de Bete Mendes). p. 102-103
§ Onde nem jornalistas nem profissionais de outras áreas discutiram tanto as técnicas, os estilos, as
possibilidades de transposição que conduziram a fala e que se projetava o texto, no tempo e no espaço.
Segundo Ricardo, isso se fez notar pela disparidade qualitativa encontrada nesta obra (destacando a
excelência de Tânia Carvalho e Eliane Pace); num desequilíbrio entre os níveis dos perfilados
escolhidos. Terreno que para ele os historiadores orais poderiam atuar com competência. p.103
§ Nota ainda, que houve adequação da séria a novos padrões, com o fim do contrato de Edwald Filho na
Imprensa Oficial, em 2011. P. 103

ARRANJOS VOCAIS

§ Aqui Santhiago afirma que a autobiografia narrada costuma encontrar espaço mercadológico quando
aborda personagens excepcionais, sejam célebres ou anônimos, mas que possuam algo único (como uma
testemunha – Uma brasileira contra a máfia/1998, ou uma prostituta – O doce veneno do
escorpião/2005; o QUE APRENDI COM Bruna Surfistinha: Lições de uma vida nada fácil/2006 e Na
cama com Bruna Surfistinha: Receitas de prazer e sedução/2007). p.103-104
§ Temas de grande apelo popular (a máfia e a sexualidade); seja em livros, filmes e documentários; com
única história ou coleção articuladas. Podendo reunir depoimentos, memórias, cartas, diários (a exemplo
de Vozes roubadas: Diários de guerra-2008; Vidas em arco-íris: Depoimentos sobre a
homossexualidade-2006; Entre mulheres: Depoimentos homoafetivos-2009; As meninas da Daspu e Eu
que amo tanto-2008). Trazendo uma “interpretação” que consiste num tratamento literário das histórias
que chegam ao público no invólucro ideal para conquistá-lo. p. 104
À ESPERA DE UM LUGAR

• O autor relata que o fato de o mercado editorial estar aberto a histórias de vida por entrevistas, não
significa que a pesquisa em história oral e obras em formato-livro se confundam – elas podem se
intersectar. O historiador oral tem habilidades necessárias para atuar nos dois campos, seja por
oportunidade de trabalho, ou para escoar pesquisas acadêmicas a outros ambientes que não o cientifico.
p.105
• Esclarece que as “regras da arte” variam de um campo a outro, e a preparação de um manuscrito para
publicação deve considerar as necessidades de transformação que exigem. Pressionados pela exigência
de produtividade, ou pela vaidade pessoal, muitos pesquisadores estão dispostos a verem suas
dissertações e teses transformadas em livro por qualquer empresa; perdendo a oportunidade de aprimorar
seus trabalhos pela análise crítica, da discussão e da reflexão que um processo sério implica. p.105
• Atenta que no momento de publicizar o resultado de seu estudo na forma de livro, deve compreender as
especificidades da cultura editorial de seu país e achar o melhor ponto intermédio para comunicar com
eficácia a própria pesquisa. p. 107
• O praticante de história oral deve responder a inúmeros questionamentos...INTERESSE, PÚBLICO
REAL, SIMILARIDADE E DIFERENCIAL; FORMATO IDEAL; PERFIL EDITORIAL,
POTENCIALIDADE DO ASSUNTO, ESPECIALIZAÇÕES OU TEMAS; PROMOÇÃO, INSERÇÃO
E DIVULGAÇÃO; AUXÍLIO FINANCEIRO OU PARCERIA E CONDIÇÕES; TRABALHAR EM
EQUIPE; ADAPTAÇÃO; MATERIAL CONTEXTUAL AGREGADO, ÊNFASE; DESIGNER E
RECURSOS VISUAIS; ETC. p. 105-107

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEXTO

a. Este texto se baseou na pesquisa e conformação das fontes em história oral, sob a análise de
vários autores, conforme Bibliografia Básica. Toma ainda como objetos de análise documentos de
persuasão diversas, rotulados como depoimentos, memórias, histórias, entre outros. Além de editoriais
de público em geral, sob forma de escritas de vida. Enfatizando aí uma análise do mercado editorial
global.
SUGESTÕES DE LEITURA COMPARATIVA NA ÁREA DE ARQUITETURA
a. Escritos pelo Oscar Niemeyer ou em colaboração com outros autores

"Casas onde Morei"


A proposta do livro é contar os detalhes arquitetônicos e sentimentais de cada casa em que Oscar
Niemeyer viveu com sua família. São lembranças da casa das Laranjeiras, onde passou a infância, da
casa de avenida no Leblon, assim como projetos da casa das Canoas, sua obra mais conhecida e
comentada. Vemos em cada casa a marca das curvas e a liberdade dos ambientes.
"Conversa de Amigos"
José Carlos Sussekind é há décadas o engenheiro calculista preferido de Oscar Niemeyer. É quem o
acompanha no Brasil e no exterior e nesse período assinou os cálculos que permitiram pôr e manter em
pé́ as principais obras do "Arquiteto do Século". Este livro contém 56 cartas trocadas entre os dois, que
falam sobre literatura, filosofia e assuntos políticos atuais.

b. Livros escritos por outros autores

"Folha Explica - Oscar Niemeyer"


Não há quem duvide que o arquiteto Oscar Niemeyer será um dos únicos, senão o único brasileiro ainda
lembrado no século 30. Escrito por Ricardo Ohtake, este livro segue os cem anos de vida deste grande
arquiteto e fala de trabalhos antigos, como o conjunto da Pampulha -- projeto pioneiro de novas faces
da arquitetura no mundo--, e dos mais recentes, como o Sambódromo.

"Oscar Niemeyer: Uma Arquitetura da Sedução (Edição em Caixa Especial)"


Apoiado em escritos de Niemeyer, na opinião de críticos e em esclarecimentos prestados pelo próprio
arquiteto, André́ Corrêa do Lago conduz o leitor à compreensão de uma das mais importantes obras
arquitetônicas do século 20, iluminando também questões relativas ao modernismo e à arquitetura em
geral.

"Oscar Niemeyer: uma Arquitetura da Sedução"


Este livro acompanha a trajetória do mais famoso arquiteto brasileiro e traz imagens de fotógrafos de
três gerações - Marcel Gautherot, Cristiano Mascaro e Nelson Kon, que revelam, cada um a seu modo,
a singular plasticidade das construções de Niemeyer. Da junção entre texto e fotografias emerge uma
análise esclarecedora das ideias e do estilo de Niemeyer, focado no equilíbrio entre racionalismo e
intuição.

"Arquitetura Contemporânea no Brasil"


Yves Bruand faz um estudo dos mais completos sobre os promotores do movimento arquitetônico no
país, cuja profunda marca de originalidade pessoal e da expressão coletiva permitiu caracterizar o que
se poderia chamar de arquitetura brasileira. Niemeyer, Artigas e outros são objeto de análises rigorosas
quanto às suas realizações individuais e suas participações em projetos.

FONTE: https://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/ult10082u666335.shtml

FILMOGRAFIA ASSOCIADA A LEITURA COMPARATIVA

https://www.youtube.com/watch?v=AYRNEzQBdlM

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