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Produriío editorial
Oebora Fleck
lsadora Travassos
Jorge Viveiros de Castro
Marília Garcia
Valeska de Aguirrc

Benjamin Albagli

ClP-BRASIL CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORF.S DE LIVROS, RJ

HS79

História e linguagens : texto, imagem, oralidade e representações / organizadores


Antonio Herculano Lopes, Monica Pimenta Velloso e Sandra Jatahy Pesavento.-
Rio de Janeiro : 7Lecras, 2006

Inclui bibliografia
ISBN 85-7577-262-7

1. Culcura - Brasil. 2. Cultura - Brasil - História. 3. Literatura e história. 4.


Globalização.
I. Lopes, Antonio Herculano. II. Velloso, Monica Pimenta. III. Pesavento,
Sandra Jatahy, 1947-.

06-1082. CDD 306


CDU 316.74

LUUú
Viveiros de Castro Editora Leda.
R. J;udim Borinico 600 sl. 307
Rio de J2neiro RJ CEP 22461 -000
(21) 2540-0076
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A "NOVA" HISTÓRIA CULTURAL EXISTE?

Roga (Jú1rt1er

A CJ.tcgoria de "nova história cultural" entrou no léxico comum dos his-


toriadores há mais de urna dez.ena de anos, quando Lynn Hunt publicou, com
este título1 uma obra que reunia oito ensaios que apresentavam diferente!i
modelos e exemplos desse novo modo de fazer história (HUNT, 1989). Na sua
introdução, sublinhava os três traços essenciais que davam coerência a traba-
lhos cujos objetos (textos, imagens, rituais, etc.) eram muito diversificados.
Em primeiro lugar, centrando a sua atenção sobre as linguagens, as re-
presentações e as p~~~cas, a nova história cultural propõe um moâo inédito
de co~preender as relações entre as formas simbólicas e o mundo soéi;i. A
uma abordagem clássica, ligada à localiza~:ão objetiva das divisões e das dife-
renças sociais, ela opõe a sua construção móvel, instável, conflitual, a partir
das práticas sem disct1 rso, das lutas de repre)entação e dos efeitos performacivos
dos discursos.
Em seguida, a nova história cultural encontra modelos de inteligibilida-
de em vizinhos que até aí os historiadores tinham freqüentado pouco: de um
lado os ~E.ólog_os; e do outro, os críticos literários. fu antigas alianças, n
estabelecidas entre a história e as disciplinas amigas ou rivais, como eram a
geografia, a psicologia ou a sociologia, sucederam-se assim novas proximida-
des que obrigam os historiadores a ler de maneira menos diretamente docu-
mental os textos ou as imagens e a compreender nos seus significados simbó-
licos os comportamentos individuais ou os ritos coletivos.
Enfim, essa história, que se faz mais de ~tudos de casos do que de teorizaçáo
global, levou os historiadores a refletir sobre as suas próprias p_~~~~?-5 e, em par-
ticular, sobre as escolhas conscientes ou a!, determinações ignoradas que co-
mandavam o seu modo de construir as na~!.ª.!_ivas e as análises históricas.
Estas são as três características fundamentais que definiam, para Lynn
Hunt, uma nova prática historiográfica. Afirmava assim a convergência entre
. n:1sc1'd:is em eo n texroc
pesq1.us3.s - . .. -· diíPrPntes·
. • ~ SPnsi,,el1nPn(e •·- -· . '-} S'lbPr
- -·· rl~~n ---~
l'lt~n

am~ricano, 0 uso, por vários historiadores, de conceitos e modelos baseados


nos trabalhos de antropólogos (Victor Turner, Mary Douglas, Clifford Geerrr);
ou <lo lado francês, as críticas dirigidas do interior da tradição dos Annafes
1

tanco às defi nições clássicas da no\·5.o de mencalidadcs como ~1s ceno:i~ t ~r:1-
.

tístici.s da "hi ~t ri .i scri,il do tc:t ·cir ) nível" - t d:1 cultura. Seria neccssi ri o
,. cre, ccnr :1r (ai rh.!.1 que t m iü).ull ·nt c :1rdcrê n .i, esteja au ent e d o li vro cdira-
d p r L::nn Hun r) ,g prnpt . tas :1 1 rr .<: rn ta 1. . n.t mcsnu ::dtur a qu :i n co aos
d~·itt . ,~nirivus pr · Ju· i j 1s pela redu ção da e ,ala de ob crvação, cal como
.1 1 r .. .ni 7:1v.1 e~ pr;lti JVJ i1 umicrostoriti" icaJiana. Ao de~ignar sob uma rn cs-
111«1 n -:to . b( rdagc ns om cão variadas origens, o li vro de Lynn Hunr dava

,·i: ibili fad e e un idade a um conjunto de mudanças que até a{ tinham passado
dc.:sp ·rcebidas - ou tinham sido mal percebidas . .É assim que, cerca de uma
d c1da antes, a categoria de nova história cultural não aparecia de forma algu-
ma no exame de consciência historiográfica proposto por Dominick LaCapra
e Sceve Kaplan (LAO\PRA; KAPLAN, 1982).
A nova história cultural dos anos 1980 era claramente definida em opo-
sição a postulados que até entio tinham governado a história das mentalida-
des (LE GOFF, 1974). Em primeiro lugar, o objeto da história das mentalida-
des é o oposco daquele da história intelectual clássica. Às idéias, que resultam
da elaborétção consciente de um espírito singular, opõe-se a mentalidade, sem-
pre coletiva, que rege automaticamente o conteúdo impessoal dos pensamen-
tos comuns. Tendo por objeto o coletivo, o automático, o repetitivo, a histó-
ria das mentalidades pode e deve tornar-se serial e estatística. Nisso, inscreve-
se na herança da história das economias, das populações e das sociedades que,
no horizonte da grande crise dos anos I 930, e em seguida no imediato pós-
guerra, constituiu o domínio mais inovador da historiografia. Quando, nos
anos 1960, a história das mentalidades define um novo campo de estudos,
promissor e original, fá-lo recomando com freqüência os métodos que asse-
guraram os triunfos da história econômica e social: ou seja, as técnicas da es-
tatística regressiva e a análise matemática de séries.
Duas conseqüências decorrem do primado concedido às séries, e por
conseguinte ao estabelecimento e tratamento de dados homogêneos, repeti-
dos e comparáveis, com intervalos temporais regulares. A primeira é o privilé-
gio dado às fontes mais numerosas, largamente representativas e disponíveis
para um período longo: por exemplo, os inventários post-mortem, os testamen-
tos, os catálogos de bibliotecas, os arquivos judiciais, etc. A segunda consiste
na ten cativa de articular, de acordo com o modelo brauddiano das diferentes
temporalidades (longa duração, conjuntura, acontecimento), o tempo iongo
<las mentalidades, que com freqüência resiscen1 à transformação, com o tem-
po curto dos abandonos brurais ou de rápid as rransferênciJs de crenças e de
sensibilidade.
Urna terceira característica d:1 história. das mentalidades na sua idade de
ouro procede da forma ambígua de pensar a sua relação com a sociedade. A
noção parece, efetival1iente, destinada a apagar diferenças a fim de encontraí
categorias partilhadas por todos os membros de uma mesma época. Entre o~
praticantes da história das mentalidades, Philippe Aries é, sem dúvida, quem
mais fortemente se ligou a uma tal identificação da noção com um sentimen-
to comum. O reconhecimento dos arquétipos de civilização partilhados por
uma soci~dade inteira não significa certamente a anulação de toda a diferença
entre os grupos sociais ou entre clérigos e laicos. Mas estas distâncias são sem-
pre pensadas no interior de um processo de longa duração que produz repre-
sentações e comportamentos essencialmente comuns. Postulando assim a
unidade fundamental (pelo menos tendencialmente) do inconsciente coleti-
vo, Philippe Aries lê os textos e as imagens, não como manifestações de sin-
gularidades individuais, mas para decifrar a expressão ·inconsciente de uma
sensibilidade coletiva ou para encontrar o fundo vulgar de representações
comuns que era espontânea e universalmente partilhado (ARit.S, 1977).
Para outros historiadores das mentalidades, mais diretamente inscritos
na herança da história social, o essencial reside no nó que liga as distâncias
entre as maneiras de pensar e de sentir e as diferenças sociais. Uma tal pers-
pectiva organiza a classificação dos faros d,e mentalidade a partir das divisões
estabelecidas pela análise da sociedade. Daí a sobreposição entre as fronteiras
sociais que separam grupos ou classes e as que diferenciam mentalidades
(MANDROU, 1961). Esse primado do reco.rte social é sem dúvida o traço mais
nítido da dependência da história das mentalidades em relação à história so-
cial na tradição francesa.
Como explicar o sucesso, tanto entre- historiadores como entre leitores,
na França e fora da França, da história das mentalidades, nos anos 1960 e 1970?
Sem dúvida porque uma cal abordagem permitia, na própria diversidade, a
criàção de um novo equilíbrio entre história e ciências sociais. Contestada na
sua primazia intelectual e institucional pdo desenvolvimento da psicologia,
da sociologia e da antropologia, a história enfrentou-as anexando as questões
das disciplinas que punham em causa a sua dominação. A atenção deslocou-
se então para objetos (sistemas de crença, atitudes coletivas, formas rituais ,
etc.) que até ai pertenciam aos seus vizinhos, ma:> yuc: êntravam pler.3.~e~~~
numa história das mentalidades coletivas. Ao apropriar-se dos procedimen-
tos e dos métodos de análise que eram os da história econômica e social, en-
quanto marcava uma deslocação do questionário histórico, a história das
menralídades (no seu sentido mais abran gente) pôde ocup:u a di~uneir.1JJ (e n ;i
h_iscoriogdfica e constituir uma re~posca eftca.z. ao desafio lançado pelas ciên -
Cl3.S sociais.

Contudo, não fa.ltaram críticas contra os seus postulados e interesses. As


prin1ciras viera1n da Itália. Desde 1970 Franco Venturi denunciava O apaga-
1

mento da força criativa das novas idéias cm proveito de simples estruturas


1ncntais sem dinamismo nem originalidade (VENTURI, 1970). Alguns anos
n1ais tarde, Carlo Ginzburg ampliava a crítica (GINZBURG, 1976). Recusava
a noção de rnentalidade por três razões: para começar, pela sua insistência
exclusiva em elementos inertes, obscuros e inconscientes das visões do mun-
do, o que red~z a importância das idéias racional e conscientemente enun-
ciadas; em seguida, porque pressupõe indevidamente a partilha das mesmas
categorias e representações por todos os meios sociais; finalmente, pela sua
aliança com os procedimentos quantitativos e seriais que, em conjunto, reifica
os conteúdos do pensamento, liga-se às formulações mais repeútivas e ignora
as singularidades. Os historiadores eram assim convidados a privilegiar as
apropriações individuais, mais do que as distribuições estatísticas, a compre-
ender como um indivíduo ou urna comunidade interpretavam, em função da
sua própria cultura, as idéias e as crenças, os textos e os livros que circulavam
na sociedade que.era a sua.
Em 1990, Geoffrey Lloyd endureceu ainda mais a acusação (LLOYD,
1990). A crítica dirigia-se a dois postulados essenciais da história das menta-
lidades: por um lado, atribuir a uma sociedade inteira um conjunto estável e
homogêneo de idéias e de crenças; por outro lado, considerar que todos os
pensamentos e todos os comportamentos de um indivíduo são governados
por uma estrutura mental única. As duas operações são a própria condição
para que uma mentalidade possa ser distinguida de uma outra e para que seja
identificável, em cada indivíduo, a utensilagem mental que partilha com os
seus contemporâneos. Mas urna tal maneira de pensar apaga, nas recorrências
do coletivo, a originalidade de cada expressão singular e encerra numa coe-
rência artificial a pluralidade dos sistemas de crença e os modos de raciocínio que
um mesmo grupo ou um mesmo indivíduo pode mobilizar sucessivamente.
Lloyd propõe, por conseguinte, que se substitua a noção de mentalidade
pela de estilos de racionalidade, cujo emprego depende direta1nente dos con-
textos de discuiso e de registros de experiências. Cada urn dts5ts impõe regras
e convenções próprias, define uma forma específica de comunicação, pressu-
põe expectativas particulares. É por isso que é totalmente impossível subme-
ter a pluralidade das n1aneiras de pensar, de conhecer e de argumentar a un1a
mencalidJde homogênea e única.

32
O processo talvez fo sse injusto dado que a hiscóri:i. das mcncalidades nio
rcceve e aplicou apenas uma. definição globalizante da noção. Soube estar atent:i.
às <liscinçócs sociais que comandam, numa mesma sociedade, diferentes ma-
neiras de pensar e de sentir ou diversas visões do mundo, e nem sempre igno-
rou a presença possível, num mesmo i[ldivíduo, de várias mentalidades, dis-
tintas ou mesmo contraditórias. Porém, mesmo se excessiva, a crítica conduzida
contra a modalidade dominante da hi~:tória cultural abriu caminho a novas
maneiras de pensar as produções e as práticas culturais. Do exterior ou do
interior da tradição dosAnnaks, essas novas perspectivas partilharam um cer-
to número de exigências: privilegiar os usos individuais em desfavor das dis-
tribuições estatísticas; considerar, contra a suposta eficácia dos modelos e
normas culturais,.as modalidades específicas da sua apropriação; conceber as
representações do mundo social como constitutivas das diferenças e das lucas
que caracterizam as sociedades. São essas deslocações, concretizadas no recor-
te e na análise dos objetos históricos, que a categoria de nova história cultural
pretendia designar e reunir em 1989.

A HISTÓRIA CULTURAL: UMA DEFINIÇÃO IIVIPOSSIVEL?

Neste início do século XXI, como avaliar as trajetórias que marcaram a


história cultural? Ainda que hoje se tenha tornado dominante, não é tarefa
fácil defini-la na sua especificidade. Devemos fazê-lo a partir dos objetos e das 1
práticas cujo escudo constituiria a especificidade dessa história?~ grande o risco
de não se conseguir traçar uma fronteira segura e nítida entre a história cultu-
ral e outras histórias: história das idéias, história da literatura, história da arte,
história da educação, história dos media, história das ciências, etc. Deveremos,
desde logo, mudar de perspectiva e corisiderar que toda a história, qualquer
que ela seja, econômica ou social, demográfica ou política, é cultural, e isco,
na medida em que todos os gestos, todc~s os comportamentos, todos os fenô-
menos, objetivamente mensuráveis, são sempre resultado dos significados que
os indivíduos atribuem às coisas, às p:Javras e às ações? Nesta perspectiva,
fundamencalmente antropológica, o risco é o de uma definição imperialista da
categoria que, ao identificar-se com a própria história, conduz à sua dissolução.
Esta dificuidade tem a sua principal razão na muiciplicidade de acepçõe~
do termo "cultura". Elas podem ser esquematicamente distribuídas em duas
famílias de significações: a que designa as obras e os gestos que, numa dada
sociedade, se subtraem às urgências do quotidiano e se submetem a um juízo
est ético ou inrelecrnal; a que vi sa a.., pdticas vulgares através das qu;iis 11m 3
. . íl la ão com o mundo,
comunidade, qualquer que cb sep, vive e re ete a sua re · ç,
com os ourros ou com ela própria. . , . ·i .
. ·e-. - l , 1 b
A primeira. ordem de s1gn1I1caçoes cone uz. a e a or. ~-tção da hisro ri a
. _
los
d
. l ·
textos, das obras e das práticas cu lturats como uma 11st
ória de d1mensao
·
u-
pb. É o que propõe Carl Schorske:
. . . • ( poralmencc: num campo em
O lmtonador procura local1z.ar e interpretar o arte aco cem l -
. 1 d. • .
4uc dua.s linhas se cruzam. Uma é vemca , ou 1acronica, e: ne ª
1 ele c:scabelecc: a re açao
, d
- . ores da mesma area e
de um texto ou sistema de pensamento com exprcssoes ancen .
. , h ·
atividade cultural (pintura, política, etc.). A outra e onzene
al ou sincrônica, e nessa
, • • 1 al
de afirma a relação do conccudo do obJeto mce ectu com o que
se manifesta em oucras
. ..)
áreas ou aspectos da culcur.l no mesmo momento. (SCHORSKE, 1979, P· XXt-XXll ·

Trata-se, por conseguinte, de pensar cada produção cultural ao 1:1esmo


tempo na história de um gênero, da disciplina ou do campo em que se inscre-
ve e nas suas relações com as outras criações estéticas ou intelectuais e as ou-
tras práticas culturais que lhe são contemporâneas.
Estas últimas remetem para a segunda família de definições de cultura.
Ela apóia-se fortemente sobre a acepção que a antropologia simbólica confere
à noção - e em particular Clifford Geertz:
O .onceito de cultura ao qual me filio[ ... ] denota um padrão de significados historica-
mente transmitido que coma corpo em símbolos, um sistema de concepções herdadas,
expressas em formas simbólicas, através do qual os homens comunicam, perpetuam e
desenvolvem seu conhecimento e atitudes a respeito da vida. (GEERTZ, 1973, p. 89).

A cultura de uma comunidade será, portanto, a totalidade das lingua-


gens e das ações simbólicas que lhe são próprias. Daí a atenção que os historia-
dores inspirados pela antropologia prestam às manifestações coletivas nas quais
um sistema cultural se enuncia de forma paroxística: rituais de violência, ritos
de passagem, festas carnavalescas, etc. (DAVIS, 197 5; DARNTON, 1982).

REPRESENTAÇÕES COMUNS EOBRAS SINGULARES

De acordo com as suas diferentes heranças e tradições, a nova história


cultural privilegiou objetos, domínios e métodos diferentes. Seria i1npossível
fazer o seu inventário. Sem dt'1Vida mais pertinente é a idenrificaçio de :1.lgt!-
mas questões comuns a estas abordagens tão diversa.s. Um primeiro desa.fio
diz respeito à articulação necessária entre as obras singulares e as represe nta-
ções ~omuns. A questão essencial que aqui se coloca é a do processo pelo quaJ
os leHores, os es pectadores ou os ouvintes dJo se ntido aos tex to de que se

.)·1
apropri;u11. A intcrrogaç:io levou a um :i reação co nrra o estriro form:1lismo tb
no1wellc critique ou do ntw aiticism, de todas JS ahonhgens qu e qui scr:1111
pensar a produção da signil1caç:ío como construída na relação entre os leito -
res e os tcxrns.
O projeto assumiu formas diversas no seio da história liredria, cenrrand0
3 atenção, seja na relação dialógica enue as propostas das obras e as categoria~
estéticas e interpretativas dos seus públicos QAUSS, 1974); seja sobre a interação
dinâmica entre o texto e o seu leitor, entendido numa perspectiva fenome-
nológica (ISER, 1976); seja sobre as transações que ocorrem entre as próprias
obras e os discursos ou as práticas vulgares que são, ao mesmo tempo, as ma-
trizes da criação estética e as condições da sua inteligibilidade (GREENBLATI,
1988). ,.
Abordagens semelhantes obrigaram ao afastamento em face de rodas as
leituras estruturalistas ou semióticas que remetiam o sentido das obras exclu-
sivamente para o funcionamento automático e impessoal da linguagem, mas
se tornaram, por sua vez, o alvo das críticas da nova história cultural. Por um
lado, elas consideram freqüentemente os textos como existindo em si mes-
mos, independentemente dos objeto:, e vozes que os transmitem, enquanto
que uma leitura cultural das obras relembra que as formas que as dão a ler, a
ouvir ou a ver, também participam na construção do seu sentido. Daí a im-
ponância reconquistada pelas disciplinas ligadas à descrição rigorosa dos ob-
jetos escritos que sustentam os textos: a paleografia, a codicologia, a biblio-
grafia (MCKENZIE, 1986; PETRUCCI, 1995). Daí também a atenção prestada
à historicidade primeira dos textos, aquela que lhes vem do cruzamento entre
as categorias de fixação, de designação e de classificação dos discursos próprios
de um tempo e de um lugar e a sua materialidade, entendida como a modali-
dade da sua inscrição sobre a página, ou da sua distribuição no objeto escrito
(DE GRAZIA; STALLYBRASS, 1993).
Por outro lado, as abordagens críticas que consideraram a leitura como
1
uma "recepção" ou uma 'resposta" universalizaram implicitamente o proces-
so de leitura, tomando-o como um arn sempre semelhante cujas circunstân-
cias e modalidades concretas não teriam importância. Contra um tal apaga-
mento da historicidade do leitor, é bom lembrar que também a leitura tem
uma história (e uma socioiogia) e que a significação dos textos depende das
capacidades, das convenções e das práticas de leitura próprias às comunidades
que constituem, na sincronia ou na diacronia, os seus diferenres públicos
(CAVALLO; CHARTIER, 199 5; BOUZJ\, 1999). A "sociologia :!os textos", en -
rendida h. man eir:1 de D. F lvfcKcmie, tem, pois, por objeto 0 es tudo da.
n1t.xLi id.tJ 'S dt p ublic 1ção , de disse minaçJ.o e de apropriaç:ío dos rc: xros.
·rn~idcra ''mund o <lo texto'' co mo um mundo de objetos e de performances
e o "m und do leitor' como o da "comunidade de interpretação" (FI SH, 1980)
à qual pertence e que define um mesmo conjunto de competê ncias, de nor-
nus e de usos.
Apoiada na tradição bibliográfica, a ((sociologia dos textos" coloca a tô-
nica sobre a materialidade do texto e a historicidade do leicor com uma dupla
intenção. Trata-se, por um lado, de identificar os efeitos produzidos sobre 0
estatuto, a classi6cação e a percepção de uma obra acravés _das transformações
da sua forma manuscrita ou impressa. Por outro lado. trata-se de mostrar que
as modalidades próprias da publicação dos textos antes do século XVIII põem
em questão a estabilidade e a pertinência das categorias que a crítica associa es-
· como as de "obra", "autor", "personagem,, , etc·
pontaneamcnte à literatu..ra.: tais
Essa dupla atenção é fundamento da definição de domínios de investi-
gação próprios a uma abordagem cultural das obras (o que não quer dizer que
sejam específicas a tal ou tal disciplina constituída): ou seja, as variações his-
tóricas dos critérios que definem a "literatura"; as modalidades e os instrumen-
tos de constituição de repenórios de obras canônicas; os efeitos das restrições
exercidas pdo mecenato, os patronos, a academia ou o mercado sobre a cria-
ção literária; ou ainda a análise dos diversos atores {copistas, editores, tipógra-
fos, revisores, etc.) e das diferentes operações implicadas no processo de pu-
blicação dos textos.
Produzidas numa ordem especifica, as obras fogem dela e assumem a sua
existência, sendo investidas por significações que lhes atribuem. por vezes a
longo prazo, os seus diferentes públicos. Assim, o que é necessário pensar é a
articulação paradoxal entre uma diferença- aquela pela qual todas as socieda-
des, em modalidades variáveis, separaram um domínio particular de produ-
ções, de experiências e de prazeres - e dependências - aquelas que tornam a
invenção estética ou intdectual possível e intdig{vel. quando essa invenção é
inscrita no mundo social e no sistema simbólico dos seus leitores ou especta-
dores (CHARTIER, 1998). O cruzamento inédito de abordagens durante muito
tempo estranhas entre si (a crítica textual, a história do livro, a sociologia cul-
tural), mas reunidas pdo projeto da história cultural, enfrenta também um
Jcsafio fundamental: o de compreender como as apropriações particuiares e
inventivas dos leitores singulares (ou dos espectadores) dependem, globalmen-
te, dos efeitos de sentido visados pelas próprias obras, dos usos e das significa-
ções imposca.s pelas formas da sua publicação e circulação, e das competências.

36
r
1

1 categorias e representações qu e domina.ma rclaçáo que cada com uni dade cem
l com essas obras.

O ERUDITO E O POPULAR

Uma segunda questão que mobili:wu a nova história cultural é a das re-
lações entre cultura popular e cultura erudita. Pode-se reduzir os modos de
conceber essas relações a dois grandes modelos de descrição e de interpreta-
ção. O primeiro, desejoso de abolir todas as formas de etnocentrismo cultu-
ral, trata a cultura popular como um sistema simbólico coerente e autônomo,
que se organiza segundo uma lógica estranha e irredutível à lógica da cultura
letrada. O segundo, preocupado em fai:er ver a existência das relações de do-
minação e das desigualdades do mundo social, compreende a cultura popular
a partir das suas dependências e das suas carências face à cultura dos domi-
nantes. De um lado, por conseguinte, a cultura popular é pensada como um
sistema simbólico autônomo, independente, fechado sobre si mesmo; do outro,
ela é inteiramente definida pela sua distância face à legitimidade cultural.
Os historiadores oscilaram durante muito tempo entre estas duas pers-
pectivas, como demonstram, ao mesmo tempo, os trabalhos sobre a religião
ou a literatura, tidas como especificamente populares, e a construção de uma
oposição, reiterada ao longo do tempo, entre a idade de ouro de uma cultura
popular livre e vigorosa e os tempos de censuras e de constrangimentos que a
condenam e a desmantelam.
Os trabalhos de história cultural levaram a recusar tais distinções tão ca-
tegóricas. Para começar, é claro que o esquema que opõe esplendor e miséria
da cultura popular não é adequado à Idade Moderna. Encontramo-lo nos
medievalistas que designam o século XJII como o tempo de uma a.culturação
cristã, que destruiu as tradições da cultura popular laica dos séculos XI e XII.
Caracteriza, igualmente, a oscilação que faz passarem entre 1870 e 1914 as
sociedades ocidentais de uma cultura tradicional, camponesa e popular, para
uma cultura nacional homogênea, unificada, aberra. E um cal contraste dis-
tinguiria no século XX a cultura de mas:ias imposta pelos novos media de uma
cultura oral, comunitária e criadora. O destino historiográfico da cultura po-
1oular é 1d.).'.)!
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.. ld 1 - -bac,1.
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verdadeiro problema não é, pois, datar o desaparecimento irremediávd de uma


cultura dominada, por exemplo, em l 600 ou 1650 (BURKE, 1978), mas com-
preender coino, em cada époo., se tecem relações complex:is emre fo rma
.. itnpost:i~, mais ou menos res triti vas, e identidades sal vaguardad.is, m~iis ou
menos a.lteradJs.
A força dos modelos culturais dominantes não anula o espaço próprio
cb sua recepção. Existe sempre uma distância enrre a norma e o vivido, 0 dogma
e a crença, os mandamentos e os comportamentos. É nessa distância que se
insinuam reformulações e desvios, apropriações e resistências (CERTEAU ,
1980). Pelo contrário, a imposição de disciplinas inédicaS-:o inculcar de novas
submissões, a definição de novas regras de comportamento devem sempre
compor ou negociar com representações enraizadas e tradições partilhadas.
(( ul "
É, pois, inútil _querer identificar a cultura, a religião ou a literatura pop ar
a partir de práticas, de crenças ou de textos que lhes seriam específicos. Uma
tal constatação levou a considerar, globalmente, os mecanismos que levam à
interiorização, pelos dominados, da sua própria inferioridade ou ilegitimida-
de, e as lógicas graças às quais uma cultura dominada chega a preservar alguma
parte da sua coerência simbólica. A lição vale tanto para o confronto entre os clé-
rigos e as populações rurais na velha Europa (GINZBURG, 1976) como pu-a as
rdações entre vencidos e vencedores no mundo colonial (GRUZINSKI, 1988).

DISCURSOS EPRÁTICAS

Um outro desafio lançado à história cultural, quaisquer que sejam as suas


abordagens e objetos, diz respeito à articulação entre práticas e discursos. O
colocar em questão as antigas certezas tomou a forma do linguistic turn, que
se baseia em duas idéias essenciais: a linguagem é um sistema de signos cujas
relaçõe~ produz.em a partir delas próprias significações múltiplas e instáveis,
fora de qualquer intenção ou de qualquer controle subjetivos; a "realidade''
não é uma referência objetiva, exterior ao discurso, mas é sempre construída
na e pela linguagem. Uma tal perspectiva considera que os interesses sociais
nunca são uma realidade preexistente, mas são sempre o resultado de uma
construção simbólica e lingüística, e considera que toda a prática, qualquer
que ela seja, está situada na ordem do discurso (BAKER, 1990).
Contra esses postulados, muitos lembraram que, se as práticas antigas não
são ~a maior parte das vezes acessf veis senão através de textos que as pretendi-
am representar ou organizar, prescrever ou proscrever, t;:,l não impli(d por isso
atirmar a identidade das duas lógicas: a que governa a produção e a recepção
dos discursos e a que regula comportamentos e ações. Para pensar essa
irredutibilidade da experiência ao discurso, <la lógica prática à ló gica

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logocê nui c1, os. hisco ría lorc.:~ ·n <,ntr.1r~rn1 ·1pr, 10 n: di ~ 11 H1 ;1r1 ,,) , ,.J'.i ;i . <i :
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foucault entre ''f ormaçôc: · discur ·iv;i ;1' • \ 1:,t ·11 :.l!i 11~<, Í:A-;ur·,i•,, •:" <. <J ~{ \ : :·
1969) ou aquela esta\_ d ·<: i L p<,r Bo11 rd í u nm; '\ ·míd,, pi , , { . · raz: ,,
escolástica" (BOU RDIEU . l 9~7) .
Tais distinções levam a ter cuidado comra un u~Jo it fm ro , 0 a L <, -
ção de "cexco", com freqüêncía indevidamente aplicada a pr~ü , se j prv-
cessos não são de modo nenhum parecid s com a- estrat gías que gov ~ . arr
os enunciados dos discursos. Por outro lado, elas levam a pcmar ue a con -
uuçáo de interesses pelas linguagens disponíveis num d.ado cerr po é el;i pró-
pria limicada pela desigualdade de recursos (materiais, lingüí 'tÍcos e
conceituais) de que os indivíduos disp6em. fu propriedades e ~ posições o-
dais que caracterizam, nas suas distâncias, os diferentes grupos sociais, não
são apenas um efeito dos discursos. Üe!;ignam, igualmente, as s as condições
de possibilidade.
O objeto fundamental de uma história que visa reconhear a maneira
pela qual os atores sociais dão sentido às suas práticas e aos seus enunciado5
situa-se, portanto, na tensão entre, de um lado, as capacidades inventivas dos
indivíduos ou das comunidades e, do outro, as restrições e as convenções que
limitam - com mais ou menos força segundo as posições que ocupam nas
relações de dominação - o que lhes é possível pensar, dízer e fazer. A consta-
tação vale para as obras eruditas e as criações estéticas, sempre inseriras nas
heranças e nas referências que as tornam concebíveis, comunicáveis e com-
preensíveis. Vale, igualmente, para todas as práticas vulgares, disseminadas,
silenciosas, que inventam o quotidiano.
É a partir de uma tal constatação que se deve compreende a releúura..
pelos historiadores, dos clássicos das ciências sociais (Elias, Weber, Durkhe m.
Mauss, Halbwachs) e a importância de um conceico como o de "representa-
ção", que, por si s6, quase chegou a designar a nova história cultural. Esta noção
permite, com efeito, ligar estreitamente as posições e relações sociais com o
modo como indivíduos e grupos se concebem e concebem os ouuos. As re-
presentações coletivas, definidas à maneira da sociologia durkheimiana~ in-
corporam nos indivíduos, sob a forma de esquemas de classifica.ção e juízo, as
próprias divisões do mundo social. São elas que suportam as diferentes moda-
lidades de exibição de identidade social ou de força política, (ai como os sig-
nos, os comportamentos e os ricos os dão a ver e crer. Enfim , as rep t 5en a·
ções coletivas e simbólicas encontram na existência de represenca tes, · dívi-
duais ou oletivos, concretos ou Jb ·rratos, as ga ranti3s da sua e~rab ~i·
sua continuidade.
Nc te · últim o · anos . os cr abalh s de hi stó ri a cultur al fi zeram largo uso
J c.: , ~.l tri pia~ epçã de represent ação. H á du as ra1.õc essen ciais para isso. De
um IJdo, 0 rccu da violência entre os indivíduos que cu acterin as soci eda.-
~i ·s o ·i k rn :lis enue a Id ade Média e o século XV111 , e que decorre do confis-
c p "I menos tendencial) pelo estado do uso legítimo da forç a, subsrituiu
os .o nfronto diretos, brutais e sangrentos pelas luras que têm as representa-
ções co mo instrumento e desafio (ELlAS, 1939). Por outro lado, a autoridade
de um poder ou a dominação de um grupo dependem do crédito concedido
ou recusado às representações·que esse grupo propõe de si mesmo. A nova
história cultural ·propôs assim à história política e à história social que se tra-
tassem as relações de poder como relações de forças simbólicas, como a histó-
ria da aceitação ou da rejeição pelos dominados das representações que visam
assegurar e perpetuar a sua sujeição.
A atenção prestada à violência simbólica, que pressupõe que quem aso-
fre contribui para a sua eficácia pela interiorização da sua legitimidade
(BOURDIEU, 1989), transformou profundamente a compreensão de várias
realidades essenciais, a saber: o exercício da autoridade, baseada na adesão aos
signos, ritos e imagens que a mostram e produzem a obediência (MARIN, 1981;
BOUZA, 1999); a construção de identidades sociais ou religiosas, situada nas
tensões entre as representações impostas pelos poderes ou as ortodoxias e a
consciência de pertencimento de cada comunidade (GINZBURG, 1966;
GEREMEK, 1980); ou, ainda, as relações entre os sexos, pensadas como o in-
culcar, pelas representações e pelas práticas, da dominação masculina e como
afirmação de uma identidade feminina própria, enunciada com ou sem con-
sentimento, pela apropriação ou a recusa dos modelos impostos (DUBY;
PERROT, 1990-92; SCOTT, 1996; BOURDIEU, 1998).
A reflexão sobre a definição de identidades sexuais, que Lynn Hunt refe-
ria em 1989 como um dos uaços originais da nova história cultural, constitui
uma ilustração exemplar da exigência que está presente hoje em toda a prática
histórica: compreender, ao mesmo tempo, como as representações e os dis-
cursos constroem relações de dominação e como eles próprios são dependen-
tes de recursos desiguais e de interesses contrários, que separam aqueles cujo
poder é legitimado daqueles de que essas representações e discursos assegu-
ram (ou devem assegurar) a submissão.
A coerência da nova história cultural será tão forte como o proclamava
Lynn Hunt? A diversidade dos objetos da investigação, das perspectivas
n1ecodológicas e das referências teóricas que conduziram, nestes últimos dez
~nos, a hi stóri a cultural, qualquer que seja a definição que dela se dê, permite-

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nos ter dúvidas. Seria muiw arriscado junrar numa mesma categoria os rrab,1-
lhos mencionados neste breve ensaio. O que fica, no entanto, é um conjunto
de questões e de exigências parcilhacla,s indepen<lenremenre de fronteiras. Nesce
sentido, a nova história cultural não é, ou já não é, definida pela unidade da
sua abordagem, mas pelo espaço de intercâmbio e de debates construído en-
cre os historiadores que têm como identidade comum a sua recusa <le reduzir
os fenômenos históricos a uma só das suas dimensões, e que se afastaram tan-
to das ilusões do finguistic turn como das heranças redutoras que postulavam
ou o primado do político ou o poder ab5:oluco do social.

BIBLIOGRAFIA

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