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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Turma: CPIII A 22022


Disciplina/Matéria: DIREITO CIVIL CONTRATOS
Sessão: 04 - Dia 16/11/2022 - 08:00 às 09:50
Professor: FABIO DE OLIVEIRA AZEVEDO

04 Tema: Contrato preliminar. Noções gerais. Evolução do contrato preliminar. Aplicabilidade. O


contrato preliminar no Código Civil de 2002. Classificação, requisitos e efeitos do contrato
preliminar. Registro do contrato preliminar. Contrato com pessoa a declarar. Conceito.
Aplicabilidade. Regulamentação no Código Civil de 2002. Estipulação em favor de terceiro.
Promessa de fato de terceiro.

1ª QUESTÃO:
José, promitente vendedor, celebrou com Marcos, promitente comprador, contrato preliminar de
compra e venda de imóvel situado em Niterói, por instrumento particular não averbado no registro
imobiliário, sem qualquer cláusula de arrependimento. Pergunta-se:
a) Cumpridas todas as prestações por parte de Marcos, esclareça se é cabível, no caso em tela, pedido
de adjudicação compulsória do imóvel em face de José, considerando o que estabelecem os artigos
1417 e 1418 do Código Civil.
b) Supondo que na hipótese acima José, na pendência do contrato preliminar, alienou o referido
imóvel para Caio, esclareça se Marcos, cumprindo todas as prestações decorrentes do pré-contrato,
poderá legitimamente requerer a adjudicação compulsória do imóvel em face do adquirente do
aludido bem (Caio).

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RESPOSTA:
Existem três entendimentos sobre a questão. Um primeiro, sustentando a literalidade do art. 1.418,
afirma que o C.C./02 resgatou antiga jurisprudência do STF, exigindo o registro do contrato
preliminar para a adjudicação compulsória, pois o dispositivo disponibiliza essa demanda apenas ao
promitente comprador que seja titular de direito real, ou seja, o promitente que registrou o seu
contrato preliminar, de acordo com o art. 1.417.

Um segundo entendimento diz prevalecer a Súmula 239 do STJ ("o direito à adjudicação compulsória
não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis"). É a
posição majoritária da doutrina e a conclusão do Enunciado 95 do Conselho de Justiça federal:

Um terceiro entendimento, defendido pelo Prof. Fábio Azevedo (in Direito Contratual - Temas Atuais
- Ed. Método - Organizado pelos Professores Giselda Hironaka (USP) e Flavio Tartuce, Pag. 399 a
425), entende, assim como a primeira posição, que a adjudicação compulsória depende sim do
registro do contrato preliminar. No entanto, caso não tenha sido realizado o registro, não será a
questão resolvida através de perdas e danos, como defendia o STF, mas sim por uma sentença
substitutiva da vontade, proferida com base no art. 466-B, do CPC. Em síntese, quando o contrato
tiver sido registrado, caberá a adjudicação compulsória, de natureza real e que transfere a
propriedade. No entanto, não havendo registro, caberá a demanda de outorga de escritura definitiva,
de natureza obrigacional (obrigação de fazer) e que não transfere a propriedade, equiparando-se ao
contrato que deveria ter sido celebrado, o que significa que a sentença não poderá ser oposta contra o
terceiro que adquiriu o imóvel e registrou o seu contrato, diferentemente da adjudicação compulsória,
que é oponível contra terceiros.

O professor Francisco Eduardo Loureiro, afirma que admitir interpretação literal do art. 1418 do CC,
ou seja, o registro como requisito para a adjudicação compulsória, criaria manifesta contradição em
termos. Os demais contratos preliminares admitiriam execução específica, à exceção do mais
relevante deles, que é o compromisso de compra e venda. Além disso, geraria situação de manifesta
injustiça. Colocaria o promitente comprador, cujo contrato não obteve registro por falha meramente
formal, por exemplo, nas mãos do promitente vendedor, que poderia exigir vantagem indevida para
outorgar a escritura devida.
Para contornar a exigência absurda da lei, segundo o mencionado autor, necessária se faz uma
interpretação construtiva, com saída técnica e razoável para a questão. Basta entender que
adjudicação compulsória é espécie do gênero execução de obrigação de fazer, de prestar declaração
para concluir contrato (art. 461 do CPC). Logo, o promitente comprador com título registrado usa a
espécie adjudicação compulsória (art. 1.418 do CC), enquanto o promitente comprador sem título
registrado usa o gênero do art. 461 do CPC, que alberga todos os contratos preliminares. O resultado
prático é rigorosamente o mesmo e produzirá a sentença judicial todos os efeitos do contrato ou
declaração não emitida. (LOUREIRO, Francisco

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Eduardo.Código Civil Comentado. Cesar Peluso (Org.). 7ed. São Paulo: Manole. 2013. P. 1504)

REsp 1698807 / RJ RECURSO ESPECIAL 2017/0210880-0 RELATOR Ministro HERMAN


BENJAMIN (1132) ÓRGÃO JULGADOR T2 - SEGUNDA TURMA DATA DO JULGAMENTO
21/11/2017 DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 19/12/2017
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. CESSÃO DE DIREITOS.
ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA. SÚMULA 239/STJ. REEXAME DOS CONTRATOS FIRMADOS
E DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF.
1. Hipótese em que o Tribunal local consignou (fl. 172, e-STJ):
"Diante da cessão de direitos oriundos de promessa de compra e venda, os cessionários podem exigir do
promitente vendedor - já quitado o preço - a outorga da escritura definitiva. Trata-se de exigir
cumprimento de obrigação de fazer, e não há necessidade de registro da cadeia de cessões, imponível
apenas a quem quer o efeito real da promessa e posteriores cessões. Como não há terceiro afetado, e já
passadas décadas desde a promessa, a cessionária faz jus à adjudicação do imóvel em seu favor (súmula n
º 239 do STJ)".
2. O STJ possui jurisprudência de que na "ação de adjudicação compulsória não é necessária a
participação dos cedentes como litisconsortes, sendo o promitente vendedor parte legítima para figurar no
pólo passiva da demanda" (AgRg no Ag 1.120.674/RJ, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJe
13.5.2009).
3. O entendimento adotado pelo Tribunal de origem, ou seja, de que a falta de registro do instrumento
particular de promessa de compra e venda não impede a propositura de ação de adjudicação compulsória,
está em sintonia com a orientação jurisprudencial do STJ, consolidada na Súmula 239/STJ. 4. Além disso,
para modificar o entendimento firmado no acórdão recorrido, seria necessário exceder as razões
colacionadas no acórdão vergastado, o que demanda incursão no contexto fático-probatório dos autos,
bem como examinar os contratos firmados, o que é impossível no Recurso Especial, ante os óbices
contidos nas Súmulas 5 e 7 do STJ. 5. Finalmente, ainda que se afastassem tais óbices, não se pode
conhecer da irresignação contra a ofensa aos arts. 195 e 237 da Lei 6.015/1973 e aos arts.
4º, § 4º, e 20 do Decreto 55.738/1965, uma vez que os mencionados dispositivos legais não foram
analisados pela instância de origem.
Ausente, portanto, o indispensável requisito do prequestionamento, o que atrai, por analogia, o óbice da
Súmula 282/STF.
6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.

APL 3359317920098260000 SP 0335931-79.2009.8.26.0000 Relator(a): Paulo Eduardo Razuk


Julgamento: 06/12/2011 Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado Publicação: 13/12/2011
Adjudicação compulsória Compromisso de venda e compra de imóvel Preliminares de carência da ação e
de cerceamento de defesa afastadas O registro da promessa de venda e compra não é requisito da
adjudicação compulsória Súmula 239 do STJ Registro só importa para a eficácia do contrato perante
terceiros As partes concordaram com o julgamento antecipado da lide Toda a prova documental da defesa
deveria ter vindo com a contestação (art. 396 do CPC)

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Oimóvel foi prometido em pagamento de serviços de advocacia Os recibos acostados à contestação


referem-se a outros serviços prestados pelo autor Não demonstrado houvesse o contrato sido quitado de
outra maneira Só restava adjudicar o imóvel ao autor A verba honorária foi arbitrada em 20% do valor
dado à causa, que correspondia a R$na data do ajuizamento, o que não comporta redução Recurso
improvido.
Versão para impressão
0003860-88.1997.8.19.0008 - APELACAO
1ª Ementa
DES. MARCELO LIMA BUHATEM - Julgamento: 18/01/2011 - QUARTA CAMARA CIVEL
APELAÇÃO CÍVEL - PROCESSUAL CIVIL - INVENTÁRIO - EXTINÇÃO DO FEITO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO, COM FULCRO NO ARTIGO 267, VI, DO CPC, SOB O
FUNDAMENTO DE FALTA DE INTERESSE-ADEQUAÇÃO, POR SE TRATAR DE POSSE DO
IMÓVEL - PROMESSA DE COMPRA E VENDA QUE CONFERE AO PROMITENTE-
COMPRADOR O DIREITO À ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA, TRANSMISSÍVEL POR
SUCESSÃO AOS HERDEIROS - PRESENTE O INTERESSE-ADEQUAÇÃO NULIDADE DA
SENTENÇA - ENTENDIMENTO DO STJ E DESTE E. TRIBUNAL ACERCA DO TEMA.1. Trata-se
de processo de inventário pelo rito de arrolamento, nos termos do art. 1031, §1º, do CPC, com a
finalidade de ver adjudicado à única herdeira o direito e ação sobre o imóvel constante das primeiras
declarações de fls. 40, em razão do falecimento de Pedro Manoel de Oliveira e Deolinda da Conceição
Oliveira.2. O juízo a quo fundamentou a sentença de extinção, sem resolução do mérito, por falta de
interesse-adequação, no sentido de que a expedição de formal de partilha ou carta de adjudicação seria
inútil, posto que o documento não possuiria eficácia para a transferência da propriedade, já que o
inventariado era apenas possuidor do bem. Entendeu que os herdeiros por terem continuado na posse do
bem, faziam jus à ação de usucapião, para aquisição originária da propriedade, não havendo que se falar
em abertura de inventário.3. Constituindo o direito e ação bem inventariáveI elencado na alínea "g", do
item IV, do art. 993 do Código de Processo Civil, pode e deve ser objeto de inventário.4. Ressalte-se que
a referida promessa de compra e venda confere ao promitente-comprador direito real à aquisição do
imóvel, mediante a outorga de escritura definitiva, ex vi do art. 1225, VII c/c 1.417, ambos do CC. Na
hipótese de recusa da outra parte do contrato, o ordenamento jurídico viabiliza ao compromissário-
comprador o aforamento da ação de adjudicação compulsória, como denota a leitura do art. 1.418 do
CC.5. Desta forma, findo o inventário daquele que figurava como promitente-comprador, o direito à
obtenção da escritura definitiva ou o direito potestativo à ação adjudicatória se transfere aos herdeiros,
como a respeito a jurisprudência desta E. Corte.6. Inegável, portanto, o interesse de agir da inventariante,
tanto na modalidade necessidade, como adequação, em suceder o direito e ação relativo aos direitos
aquisitivos do bem deixado pelo seu finado pai, a fim de que juntamente com este suceda o direito à
adjudicação compulsória do bem, que conforme Súmula 239 do STJ, não se condiciona ao registro do
compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.7. Ademais, cumpre notar que conforme decidiu
o

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E.Superior Tribunal de Justiça, verbis: entre os modos de aquisição de posse, encontra-se o ex lege, visto
que, não obstante a caracterização da posse como poder fático sobre a coisa, o ordenamento jurídico
reconhece, também, a obtenção desse direito pela ocorrência de fato jurídico - a morte do autor da
herança -, em virtude do princípio da saisine, que confere a transmissão da posse, ainda que indireta, aos
herdeiros independentemente de qualquer outra circunstânciaDOU PROVIMENTO AOS APELOS, NA
FORMA DO ART. 557, §1º-A, DO CPC, PARA ANULAR A SENTENÇA E DETERMINAR O
REGULAR PROSSEGUIMENTO, COM A DEVOLUÇÃO DOS AUTOS AO JUÍZO A QUO.

Marco Aurélio Bezerra de Melo sustenta que efetivamente, a relação entre promitente comprador e
vendedor é obrigacional e não real. O registro e a sua inafastável oponibilidade erga omnes serve para
que se crie o chamado direito real de aquisição exercido em face de terceiros, mas não pode ser
condicionante do cumprimento de uma obrigação contratual em que ao comprador incumbe o pagamento
do preço e ao vendedor, um vez adimplida a obrigação, a outorga da escritura definitiva. Essas obrigações
não podem estar condicionadas ao direito real criado pelo registro, sob pena de transformar o ônus do
registro em obrigação propriamente dita. Em que pese a infeliz redação do Código sugerir que o registro é
requisito para a adjudicação compúlsoria, somos do entendimento de que continua em plena
aplicabilidade o verbete de jurisprudência nº 239 do STJ.
Melo, Marco Aurélio Bezerra de. Direito das Coisas. São Paulo: Atlas, 2015. p.434

REsp 1185383 / MG RECURSO ESPECIAL 2010/0043732-6 Relator(a) Ministro LUIS FELIPE


SALOMÃO (1140) Órgão Julgador T4 - QUARTA TURMA Data do Julgamento 08/04/2014 Data da
Publicação/Fonte DJe 05/05/2014
Ementa
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA.
DIREITO REAL QUANDO REGISTRADO. ART. 1.225 DO CÓDIGO CIVIL. ARROLAMENTO DE
DIREITOS. INVENTÁRIO. ART. 993, INCISO IV, ALÍNEA "G", DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. 1. Inexiste violação do art. 535 do Código de Processo Civil se
todas as questões jurídicas relevantes para a solução da controvérsia são apreciadas, de forma
fundamentada, sobrevindo, porém, conclusão em sentido contrário ao almejado pela parte.
2. A promessa de compra e venda identificada como direito real ocorre quando o instrumento público ou
particular é registrado no cartório de registro de imóveis, o que não significa que a ausência do registro
retire a validade do contrato.
3. A gradação do instituto da promessa de compra e venda fica explícita no art. 25 da Lei n. 6.766/1979,
que prevê serem irretratáveis os compromissos de compra e venda, cessões e promessas de cessão, os que
atribuem direito a adjudicação compulsória e, estando registrados, conferem direito real oponível a
terceiros.
4. Portanto, no caso concreto, parece lógico admitir a inclusão dos direitos oriundos do contrato de
promessa de compra e venda de lote em inventário, ainda que sem registro imobiliário. Na verdade, é
facultado ao promitente comprador adjudicar compulsoriamente imóvel objeto de contrato de promessa
de compra e venda não registrado, e a Lei n. 6.766/1979 admite a transmissão de propriedade de lote tão
somente

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emdecorrência de averbação da quitação do contrato preliminar, independentemente de celebração de


contrato definitivo, por isso que deve ser inventariado o direito daí decorrente.
5. O compromisso de compra e venda de imóvel é suscetível de apreciação econômica e transmissível
a título inter vivos ou causa mortis, independentemente de registro, porquanto o escopo deste é
primordialmente resguardar o contratante em face de terceiros que almejem sobre o imóvel em
questão direito incompatível com a sua pretensão aquisitiva, o que não é o caso dos autos.
6. Recurso especial provido.

REsp 1698807 / RJ RECURSO ESPECIAL 2017/0210880-0 Relator(a) Ministro HERMAN


BENJAMIN (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento 21/11/2017 Data
da Publicação/Fonte DJe 19/12/2017
Ementa
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. CESSÃO DE DIREITOS.
ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA. SÚMULA 239/STJ. REEXAME DOS CONTRATOS
FIRMADOS E DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF.
1. Hipótese em que o Tribunal local consignou (fl. 172, e-STJ): "Diante da cessão de direitos oriundos
de promessa de compra e venda, os cessionários podem exigir do promitente vendedor - já quitado o
preço - a outorga da escritura definitiva. Trata-se de exigir cumprimento de obrigação de fazer, e não
há necessidade de registro da cadeia de cessões, imponível apenas a quem quer o efeito real da
promessa e posteriores cessões. Como não há terceiro afetado, e já passadas décadas desde a
promessa, a cessionária faz jus à adjudicação do imóvel em seu favor (súmula n º 239 do STJ)".
2. O STJ possui jurisprudência de que na "ação de adjudicação compulsória não é necessária a
participação dos cedentes como litisconsortes, sendo o promitente vendedor parte legítima para
figurar no pólo passiva da demanda" (AgRg no Ag 1.120.674/RJ, Rel. Ministro Sidnei Beneti,
Terceira Turma, DJe 13.5.2009).
3. O entendimento adotado pelo Tribunal de origem, ou seja, de que a falta de registro do instrumento
particular de promessa de compra e venda não impede a propositura de ação de adjudicação
compulsória, está em sintonia com a orientação jurisprudencial do STJ, consolidada na Súmula
239/STJ. 4. Além disso, para modificar o entendimento firmado no acórdão recorrido, seria
necessário exceder as razões colacionadas no acórdão vergastado, o que demanda incursão no
contexto fático-probatório dos autos, bem como examinar os
contratos firmados, o que é impossível no Recurso Especial, ante os óbices contidos nas Súmulas 5 e
7 do STJ. 5. Finalmente, ainda que se afastassem tais óbices, não se pode conhecer da irresignação
contra a ofensa aos arts. 195 e 237 da Lei 6.015/1973 e aos arts. 4º, § 4º, e 20 do Decreto
55.738/1965, uma vez que os mencionados dispositivos legais não foram analisados pela instância de
origem. Ausente, portanto, o indispensável requisito do prequestionamento, o que atrai, por analogia,
o óbice da Súmula 282/STF.
6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.

2ª QUESTÃO:
A partir do contrato com pessoa a nomear, estabeleça as principais diferenças entre este e a
estipulação em favor de terceiros e a cessão de contratos.

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RESPOSTA:
Ensina o Professor Marco Aurélio Bezerra de Melo que o instituto mais próximo do contrato com
pessoa a declarar ou nomear é inegavelmente a estipulação em favor de terceiro, sendo inclusive
tratada no mesmo capítulo no direito civil italiano, pois em ambos o direito decorrente do contrato
básico é transferido pelo estipulante para um terceiro, que assumirá os direitos e deveres decorrentes
do contrato, ainda que não tenha participado do pacto no momento de criação do vínculo. Contudo, na
estipulação em favor de terceiro há sempre uma vantagem para o terceiro. O beneficiário pode exigir
o cumprimento daquilo que foi estipulado em seu favor, na forma do parágrafo único do artigo 436 do
Código Civil. Sem embargo dessa possibilidade jurídica, o beneficiário jamais fará parte da relação
contratual, enquanto no contrato com pessoa a declarar, se o nomeado aceitar a designação feita,
assumirá, ipso facto, os direitos e obrigações daí decorrentes, exonerando, em regra, o estipulante que
o nomeou. No contrato com pessoa a nomear, o terceiro assume, querendo, a posição contratual, ao
passo que não se inclui na estrutura ou função da estipulação em favor de terceiro o projeto de o
beneficiário figurar como parte no contrato celebrado entre os contratantes originários. Repise-se que
o comparecimento do beneficiário no contrato em favor de terceiro encerra sempre uma liberalidade
que, no máximo, poderá contar com a presença de um encargo.

Com o instituto da representação já tivemos oportunidade de divisar as diferenças, uma vez que o
estipulante que se reservou contratualmente o direito potestativo de nomear um terceiro para realizar
o contrato não é representante do outro contratante, mas age em nome próprio. Tanto assim que se o
nomeado não quiser assumir o contrato, ficará ele vinculado com o promitente. Preocupando-se com a
confusão dos institutos, o anteprojeto de obrigações elaborado por Caio Mário da Silva Pereira em
1963 previa no artigo 314 que “o terceiro, pelo qual alguém contratou fora dos casos de
representação, não é obrigado enquanto não dá o seu assentimento”.

A designação do terceiro tem, em regra, força extintiva da relação jurídica entre o estipulante e
promitente, mas não há, por assim dizer, uma novação subjetiva ou objetiva e nem se cria um novo
contrato. Primeiro, porque a novação é modalidade de extinção das obrigações diversas do pagamento
direto e encerra o ingresso de alguém no polo ativo (novação subjetiva ativa - art. 360, III, CC) ou no
polo passivo (novação subjetiva passiva - art. 360, II, CC), enquanto no contrato com pessoa a
declarar o mesmo contrato é assumido em sua inteireza pelo contratante nomeado. Segundo, porque a
novação exige consentimento posterior entre os contratantes no sentido de criarem outra obrigação
com força extintiva da anterior e no contrato com pessoa a declarar essa circunstância é previamente
estabelecida entre os contratantes originários.

Também não se confunde com a cessão do contrato, em que o contrato é cedido a um terceiro com
efeitos ex nunc. No contrato com pessoa a nomear, não há sucessão contratual, pois o contrato é feito
em atenção à pessoa designada que, ao aceitar a

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nomeação,produzirá efeitos ex tunc (art. 469, CC) como se o estipulante não tivesse existido naquela
relação negocial. Nesse sentido, aduz Luiz Roldão de Freitas Gomes17 que não há que se falar em
sucessão, sequer cronológica, tendo em vista a retroatividade da aquisição do direito por parte do
electus e por ser o cessionário do contrato parte do contrato, diferentemente do terceiro designado.
Ademais, a nomeação é feita no momento da conclusão do contrato, ao passo que somente se saberá o
cessionário da posição contratual na fase eficacial do contrato e não na sua formação.

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Turma: CPIII A 22022


Disciplina/Matéria: DIREITO CIVIL CONTRATOS
Sessão: 05 - Dia 16/11/2022 - 10:10 às 12:00
Professor: FABIO DE OLIVEIRA AZEVEDO

05 Tema: Elementos naturais do contrato. Vícios redibitórios. Conceito. Requisitos. Efeitos. Ações
edilícias. Prazos. Evicção. Conceito. Requisitos. Cláusula de reforço, diminuição e exclusão da
garantia. Efeitos da evicção. Evicção parcial.

1ª QUESTÃO:
João propõe demanda indenizatória em face de Pedro. Aduz, em síntese, que adquiriu do réu um bem
móvel e que veio a perdê-lo por evicção. Diante da perda, pleiteia o direito reparatório, com fulcro no
artigo 450 do Código Civil.
Em defesa, sustenta o demandado pela prescrição, uma vez que o trânsito em julgado do
reconhecimento da evicção se deu em janeiro de 2013, enquanto que a presente demanda somente foi
distribuída agora, em 2017, sendo certo que o pedido em questão se submete ao prazo prescricional
previsto no artigo 206, §3º, IV ou V do CC/02.
Em réplica, sustenta o autor que o ordenamento jurídico não prevê expressamente o prazo
prescricional da pretensão indenizatória em decorrência da evicção, e assim sendo, deve a evicção se
submeter ao prazo geral legal de 10 anos previsto no artigo 205 do mesmo diploma legal.
Decida fundamentadamente a questão.

RESPOSTA:
RECURSO ESPECIAL Nº 1.577.229 - MG (2016/0005234-0) RELATORA : MINISTRA NANCY
ANDRIGHI
EMENTA CIVIL E PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REPARATÓRIA COM
BASE NA GARANTIA DA EVICÇÃO. INTERESSE DE AGIR CONFIGURADO. PRAZO
PRESCRICIONAL TRIENAL. DEVER DE INDENIZAR. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Ação de ressarcimento pela evicção ajuizada em 09/12/2009, da
qual foi extraído o presente recurso especial, interposto em 08/06/2015 e concluso ao Gabinete em
25/08/2016. 2. Discute-se a existência de interesse de agir do recorrido; o prazo prescricional
aplicável à pretensão de ressarcimento pela evicção; a configuração do dever de indenizar; e a
proporcionalidade dos honorários advocatícios arbitrados. 3. A análise quanto à eventual existência de
crédito a ser compensado entre as partes não prescinde do reexame do conjunto fático-probatório,
vedado pela súmula 7 do STJ, e não afasta o interesse de agir do adquirente de ter reconhecida a
evicção e o direito de reparação dela consequente. 4. Independentemente do seu nomen juris, a
natureza da pretensão deduzida em ação baseada na garantia da evicção é tipicamente de reparação
civil decorrente de inadimplemento contratual, a qual se submete ao prazo prescricional de três anos,
previsto no art. 206, § 3º, V, do CC/02. 5. Reconhecida a evicção, exsurge, nos termos dos arts. 447 e
seguintes do CC/02, o dever de indenizar, ainda que o adquirente não tenha exercido a posse do bem,
já que teve frustrada pelo alienante sua legítima expectativa de obter a transmissão plena do direito. 6.
Alterar o decidido no acórdão impugnado, no que se refere ao valor fixado para honorários
advocatícios, exige o reexame de fatos e provas, vedado em recurso especial pela Súmula 7 do STJ. 7.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido.

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2ª QUESTÃO:
Renato adquire um automóvel de João. Nos primeiros dias de uso do automóvel, um vício oculto que
já existia antes da aquisição vem a ser revelado pelo adquirente que comunica tal fato a João.
Todavia, Renato antes de optar pelas garantias previstas nos artigos 441 e 442 do Código Civil, teve o
veículo roubado por um meliante.
Apesar do caso fortuito ter gerado a perda da coisa, Renato, pretende a devolução dos valores pagos,
tendo em vista que a lei lhe conferia tal solução jurídica a partir da revelação do vício.
Restou demonstrado que Renato pagou R$ 15.000,00 (quinze mil reais) pelo veículo e que o vício
oculto depreciava a coisa em R$ 3.000,00 (três mil reais).
Diante do exposto, apresente a solução jurídica para o caso.

RESPOSTA:
Quem na doutrina melhor enfrenta a questão é o professor Marco Aurélio Bezerra de Melo, em sua
obra, aduz o autor que " para Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald, pela redação do artigo 444 do
Código Civil, haverá a elisão da responsabilidade do alienante e, ipso facto, suportará o alienatário
sozinho a perda patrimonial decorrente. Em que pese a juridicidade de tal ponto de vista, ousamos
divergir dos referidos mestres. Reconhecemos a dificuldade probatória, mas parece-nos que mais
justo será o arbitramento de um valor indenizatório, que deverá corresponder ao efeito que o vício
redibitório causava na quantificação econômica da coisa, pois nesse caso cada qual estará suportando
o risco da coisa no momento em que a mesma se encontrava nos respectivos domínios.
Exemplifiquemos. Se o bem foi comprado por R$ 1.000,00 e com o vício oculto deveria sofrer um
abatimento de R$ 300,00, fará jus o adquirente a essa importância a título de indenização, pois de fato
os R$ 700,00 foram perdidos pelo fato imputável a si, a terceiro ou ao acaso

DIREITO CIVIL - CP02 - 03 - CPIII - 2º PERÍODO 2022 16/11/2022 - Página 10 de 10

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