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Instituto de Economia, UFRJ

Novo-clássicos
Referências: Froyen (1999): cap.11; Snowdon, Vane (2005):
cap.5; Humphrey (19850): p.15-20

Profª. Lídia Brochier


lidia.brochier@ie.ufrj.br

10 de novembro de 2022
Novo-clássicos
Introdução

• Monetarismo e economia novo-clássica têm origem em


aspectos da economia clássica.
• Ambas escolas chegam a conclusões similares em termos
de política econômica (não-intervenção).
• Monetarismo, porém, não rompe com aparato teórico da
síntese neoclássica.
• A economia novo-clássica, sim. Apresenta uma nova
metodologia em termos teóricos.

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Novo-clássicos
Introdução

• Novo-clássicos vão além dos monetaristas: sugerem que


demanda agregada não afeta variáveis reais, como produto
e emprego.
• Ou seja, políticas fiscal e monetária com o intuito de alterar
a demanda agregada não teriam efeito sobre essas
variáveis nem no curto prazo.
• Essa é a proposição de ineficácia das políticas
econômicas.
• Diferentemente dos monetaristas que acreditavam que as
medidas de política monetária teriam efeitos reais no curto
prazo.

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Novo-clássicos
Introdução

• Os novo-clássicos não aceitavam as conclusões da síntese


neoclássica nem dos monetaristas que diferenciavam
efeitos da demanda agregada sobre o produto e o emprego
no curto e no longo prazo.
• Um dos pontos centrais da crítica novo-clássica era a
formação de expectativas de preços assumida tanto pelos
keynesianos ortodoxos quanto pelos monetaristas.

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Crítica à hipótese de expectativas adaptativas
Novo-clássicos

• Criticavam a ideia de que os trabalhadores formariam suas


expectativas para o nível de preços (ou para a inflação)
com base no comportamento passado dos preços.
• Para os keynesianos ortodoxos e monetaristas,
expectativas de preços se ajustariam lentamente (por isso
que poderiam ser consideradas fixas no curto prazo para
análise de política econômica).
• Para os novo-clássicos, essa formulação de expectativas
seria “ingênua”, pois implicaria que agentes estariam
sistematicamente errados em relação às alterações na
demanda e ao efeito subsequente sobre os preços.
• Expectativas de inflação estariam sistematicamente
erradas, haveria um viés, até que inflação atingisse um
valor estável.

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Hipótese de expectativas
racionais
Hipótese de expectativas racionais
Novo-clássicos

• Origem: artigo de Muth (1961) – Rational Expectations and


the Price Movements
• Lucas (1972) introduz a hipótese de expectativas racionais
(HER) na análise macroeconômica.
• Agentes formariam expectativas racionais, o que significa
que não cometem erros sistemáticos.

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Hipótese de expectativas racionais
Novo-clássicos

De acordo com a HER:


As expectativas são formadas com base em todas as infor-
mações relevantes disponíveis sobre a variável que está sendo
prevista.
(...) os indivíduos utilizam as informações disponíveis de
maneira inteligente; ou seja, compreendem como as variáveis
que observam afetarão a variável que tentam prever.
Froyen, 1999, p.294
O que isso implica para as expectativas de inflação?

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Hipótese de expectativas racionais
Novo-clássicos

Expectativa de inflação, seguindo a HER, depende:


(1) Inflação efetiva (πt )
(2) Conjunto de informações disponíveis até último período
(Ωt−1 )
πte = E (πt |Ωt−1 ) (1)
Ou seja, agentes utilizam toda informação disponível que
pode afetar a inflação e não apenas a inflação passada para
formar expectativa de inflação (πte )

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Hipótese de expectativas racionais
Novo-clássicos

• Versão forte da HER: expectativas sobre valor da variável


estão corretas (em média)
• Para a expectativa de inflação:

πte = πt + ϵt (2)

Onde ϵt representa um termo de erro com média zero


• Agentes possuem informação imperfeita → erro
• Erro não está contemporaneamente relacionado às
informações disponíveis
• Nem à capacidade de avaliação e à qualidade das
informações, mas à possível incompletude das
informações.

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Hipótese de expectativas racionais
Novo-clássicos

Se válida, a hipótese de expectativas racionais implica que:


• Erros de previsão só podem ocorrer a partir de choques
aleatórios e não previstos na economia.
• Num primeiro momento, erros de previsão podem ocorrer
devido à informação incompleta.
• Porém, como agentes são racionais identificam fonte do
erro (regularidades) e a eliminam. Utilizam a informação
nova para formar suas expectativas.

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Pressupostos novo-clássicos

Além da hipótese de expectativas racionais, os novo-clássicos


baseavam suas recomendações de política econômica em
outros dois pressupostos:
1 o market-clearing contínuo.
2 uma das hipóteses de curva de oferta de Lucas.

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Market-clearing contínuo
Market-clearing contínuo
Novo-clássicos

• Ideia de que todos os mercados da economia estão


continuamente em equilíbrio.
• Preços são plenamente flexíveis.
• A cada momento do tempo, oferta e demanda agregada
tem reações ótimas às percepções de modificações nos
preços.
• Decisões (de oferta e demanda) tomadas de acordo com
sinalização de preços relativos → agentes são tomadores de
preços.
• Observação: pressuposto mais controverso dos
novo-clássicos.

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Curva(s) de Oferta de
Lucas
Curva de Oferta de Lucas I

• Primeira formulação (curva de Oferta de Lucas I): Lucas e


Rapping (1969)
• Foco no mercado de trabalho
• Oferta de trabalho → alocação intertemporal: trabalho x
lazer
• Trabalhadores têm noção de qual é o salário real esperado
médio
• Ls ↑ com salário real
• Todo desemprego é voluntário
• Será importante para a teoria dos ciclos reais de negócios.

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Curva de Oferta de Lucas II

• Lucas (1972), (1973)


• Foco: reação das firmas às mudanças de preços relativos

• Como identificar se aumento de preços é geral ou relativo?


• ↑ P relativo →↑ Demanda produtos →↑ Oferta
• ↑ P geral → Oferta permanece constante

Problema da extração dos sinais

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Curva de oferta de Lucas II

Curva de oferta agregada de Lucas pode ser apresentada da


seguinte forma:

Yt = Yn + ϕ [πt − E (πt |Ωt−1 )] (3)

• Também se utilizam (como monetaristas) dos conceitos de


taxa natural de produto e desemprego
• Yt ̸= Yn quando inflação desvia da inflação esperada de
acordo com as expectativas racionais dos agentes

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Curva de Phillips aumentada pela HER

Curva de oferta agregada de Lucas → curva de Phillips


modificada pelas expectativas racionais:

ut = un − α [πt − E (πt |Ωt−1 )] (4)

• Para novos-clássicos, quando a inflação desvia (ou não) da


inflação esperada de acordo com a HER?

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A “surpresa” monetária

• Informações processadas pelos agentes de acordo com


verdadeiro modelo que afeta os preços:

πt = gmt + dt (5)

∆M
• Onde gmt = é a taxa de expansão da oferta monetária
M
e dt choques não antecipados de demanda (dt = 0)

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A “surpresa” monetária

• Expectativas de inflação diretamente relacionadas a


expectativas de expansão do estoque monetário:

π e = gemt (6)

• Temos, então, na curva de Phillips:

ut = un − α gmt − gemt
 
(7)

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A “surpresa” monetária

• Suponha que a autoridade monetária adote um


procedimento para expansão da oferta de moeda:

gmt = ψ(ut−1 − un ) + ϕ (8)

• Onde ψ(ut−1 − un ) representa a tentativa da autoridade


monetária em reduzir o desemprego;
• E ϕ representa um elemento de política monetária
“surpresa”
• Agentes formam expectativas com base na regra conhecida
de PM:
gemt = ψ(ut−1 − un ) (9)

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A “surpresa” monetária

• Substituindo (8) e (9) na curva de Phillips:

ut = un − α [ψ(ut−1 − un ) + ϕ − ψ(ut−1 − un )] (10)

ut = un − αϕ (11)
Implicação:
Apenas choques de política monetária não antecipados
poderiam afetar o produto e o emprego no curto prazo

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