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1-0. Estudo da Exposição a Agentes Químicos.

Avaliação do Risco

Sendo os produtos químicos utilizados em praticamente todas as actividades, a exposição a


agentes químicos é frequente no meio laboral, contribuindo de forma significativa para a
morbilidade da população activa.
Note-se que a exposição a agentes químicos tem vindo a ser reconhecida com causa directa
ou indirecta de doença oncológica.
Embora exista evidência científica sobre a relação de casualidade entre exposição a agentes
químicos e doença, esta não se encontra reflectida nas estatísticas de doenças profissionais,
havendo claramente uma sub-notificação destas. Do mesmo modo, nas estatísticas de
mortalidade não está patente a contribuição da exposição profissional, como causa de morte.
O estudo da exposição profissional a agentes químicos, com consequente tomada de
decisões sobre meios para o seu controlo e prevenção, é, portanto, um meio fundamental para
a criação e manutenção de ambientes de trabalho saudáveis.
A prevenção dos riscos profissionais constitui uma obrigação legal, determinando-se no artigo
15.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro a necessidade de assegurar que as exposições
aos agentes químicos, físicos e biológicos nos locais de trabalho não constituam risco para a
saúde os trabalhadores.
Por outro lado, o Decreto-Lei n.º 290/2001, de 16 de Novembro (que transpôs a Directiva
comunitária Agentes Químicos) prevê no seu artigo 4.º que o empregador deve avaliar os
riscos e verificar a existência de agentes químicos perigosos nos locais de trabalho.
Também o Regulamento Geral das Instalações Industriais (Portaria n.º 53/71, de 3 de
Fevereiro) refere no seu artigo 23.º que «… os níveis da concentração de substâncias nocivas
existentes nos locais de trabalho não devem ultrapassar os definidos em norma portuguesa».
Do exposto se evidencia a importância da caracterização da exposição a agentes químicos
como uma das acções a desenvolver nos locais de trabalho para a prevenção dos riscos
profissionais.
A estratégia de prevenção e controlo do risco químico passa pelo conhecimento das
substâncias químicas presentes no local de trabalho, provenientes de produtos
manuseados e/ou de processos industriais. A informação recolhida e trabalhada constitui um
meio para que todos os intervenientes interiorizem as boas práticas de trabalho.
Como para qualquer tipo de risco profissional, a gestão do risco químico tem de ser integrada
na gestão da organização, o que significa que todas as acções a desenvolver têm de estar
integradas no ciclo produtivo e serem aplicadas por toda a hierarquia.
Conforme a norma ISO/IEC Guide 73:2002, gestão do risco (risk manegement) define-se
como o conjunto de «actividades coordenadas para dirigir e orientar uma organização no que
respeita ao risco».
Na gestão de risco estão incluídas as acções de avaliação do risco (risk assessment) e de
comunicação do risco (risk communication), sendo estas acções definidas do seguinte modo:
Avaliação do risco: engloba os processos de:

 Identificação dos perigos e fontes;

 Estimativa do risco (risk analyis – análise do risco);

 Comparação com critérios estabelecidos, ou seja de ponderação do risco (risk


evaluation – cálculo do risco);

 
Comunicação do risco: difusão e partilha de informação entre os decisores e os outros
intervenientes. Estas informações dizem respeito à existência, natureza, forma, probabilidade,
gravidade, aceitabilidade, tratamento e outros aspectos do risco.

Do exposto se conclui que a avaliação do risco é parte fundamental da gestão do risco e,


por consequência, da prevenção dos riscos profissionais.

No que concerne aos riscos químicos, as actividades desenvolvidas na avaliação do risco


químico permitem conhecer em pormenor os processos produtivos e os métodos de
trabalho e, através da análise da informação recolhida, conceber e implementar os
procedimentos de boas práticas de trabalho mais bem adaptados às condições existentes.

Avaliação do risco químico (chemical risk assessment)

A metodologia da avaliação do risco químico desenvolve-se em quatro fases:

– Identificar e caracterizar os perigos: produtos químicos manuseados (estruturas químicas,


propriedades físicas e perfil toxicológico); reacções químicas envolvidas no processo fabril;
práticas de trabalho;

– Apreciar a «exposição do trabalhador»: por estimativa ou por forma quantificada, através


da monitorização ambiental e/ou da monitorização biológica;

– Caracterizar o risco: face ao nível atribuído à exposição, o risco é classificado como baixo,
médio ou elevado. No caso em que a apreciação da exposição é feita de modo quantificado
(monitorização ambiental), os valores obtidos através da monitorização ambiental e da
monitorização biológica são comparados com os valores limites admissíveis (valor limite e
exposição – VLE e valor limite biológico – VLB);

– Estudo de medidas de controlo/prevenção adequadas.

Gestão do risco químico (risk management)

Na gestão do risco estuda-se a informação e os resultados produzidos na avaliação do risco,


adoptam-se decisões sobre as prioridades de actuação, fixa-se o grau de incerteza
associado ao risco e seleccionam-se as medidas a implementar e os indicadores de
acompanhamento a utilizar.

Comunicação do risco (risk communication)

A comunicação do risco visa dar a conhecer a todos os intervenientes os resultados da


avaliação do risco e as decisões tomadas na gestão do risco. Esta acção é determinante para
a adesão informada de todos na utilização dos meios de controlo/prevenção e na
implementação de boas práticas de trabalho.

Como se pode concluir do exposto, o processo de avaliação do risco é uma peça


fundamental para a criação de espaços de trabalho mais seguros e saudáveis.

 
Na informação veiculada por este processo, assentam as medidas de controlo e prevenção a
adoptar, bem como a informação aos intervenientes dos riscos inerentes às suas actividades e
o modo de os prevenir e controlar. Esta acção é também determinante para a sensibilização de
toda a hierarquia para as boas práticas de trabalho

Na metodologia tradicional da Higiene do Trabalho procede-se à avaliação do risco para a


saúde associado à exposição a agentes químicos através de dois tipos de estudo:

– Monitorização ambiental;

– E, no caso de certas substâncias que exerçam acção sistémica, monitorização biológica.

Considerando que estas metodologias tradicionais da higiene do trabalho exigem formação


especializada, equipamentos e técnicas diversificadas, foram desenvolvidas outras estratégias
que permitem tomadas de decisão quanto aos riscos profissionais, de que são exemplos as
seguintes: COSHH Essentials (Reino Unido), SOBANE (Bélgica) e GTZ (Alemanha).

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial de Saúde (OMS)


tendo em consideração a dificuldade em certas situações, nomeadamente nas PME’s, em
proceder a uma avaliação quantificada da exposição, internacionalizaram uma ferramenta,
designada por Chemical Control Tool Kit (CCTK), que tem por base o COSHH Essentials
(podem obter-se informações sobre a validação deste instrumento em Portugal no Instituto
Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge – Porto, Centro de Saúde Ambiental e Ocupacional –
csao.porto@insa.min-saude.pt).

 
1-1. Monitorização Ambiental. Identificação e Quantificação

A monitorização ambiental é um processo que permite apreciar, de forma quantificada, a


exposição profissional a factores do ambiente, nomeadamente a agentes químicos, através da
via inalatória.

De referir que a «exposição do trabalhador», no caso dos agentes químicos, representa a


concentração da substância no ar inalado pelo trabalhador, pelo que é expressa em unidades
de concentração (em massa ou em volume); contudo, não é necessariamente a concentração
da substância no ar de um determinado local.

O processo produtivo pode ser descontínuo ou o trabalhador pode desenvolver actividades em


diferentes locais, o que implica situações ambientais diversas.

Assim, a exposição ao agente por via respiratória será uma média ponderada das
concentrações do agente, nas diferentes situações ambientais.

No local de trabalho, os objectivos da monitorização ambiental da exposição a agentes


químicos podem ser equacionados do seguinte modo:

– Calcular a concentração do agente no ar inalado pelo trabalhador, ou seja, a designada


«dose externa» do agente químico;

– Verificar se o nível de dose externa apresenta risco para a saúde do trabalhador;

– Encontrar, para as situações de risco, medidas adequadas para o seu controlo e prevenção.

A monitorização ambiental para apreciar a exposição a agentes químicos é um processo que


se desenvolve em quatro fases:

– Identificar os agentes químicos presentes e respectivas fontes emissoras (equipamentos,


processos, operações, etc.);

– Quantificar a concentração dos agentes químicos identificados, para as diferentes situações


ambientais criadas no processo produtivo;

– Apreciar a exposição / Avaliar o risco – com base nos valores obtidos na quantificação e
tarefas desempenhadas por cada trabalhador, calcular a dose externa do agente e, por
comparação com valores de referência, classificar a situação quanto a risco para a saúde;

– Estabelecer medidas de prevenção / controlo ajustadas às situações de risco detectadas.

Vejamos, de seguida, como se desenvolvem estas fases.

Identificação

A identificação de potenciais riscos do ambiente de um local de trabalho exige conhecimento


sobre a actividade desenvolvida e recolha sistemática de informações sobre o local e
circunstâncias determinantes para o seu ambiente interno, com destaque para os seguintes
aspectos:

– Condições estruturais do edifício e espaços interiores;

– Processo produtivo e condições de laboração;

– Organização do trabalho e métodos de trabalho.


 
Esta etapa é concretizada por consulta a bibliografia sobre a actividade industrial em causa, e
visita ao local para observação e preenchimento de um questionário que permita, de forma
sistematizada, descrever a situação observada.

Como informação fundamental a recolher destaca-se a seguinte:

 – Condições de higiene e salubridade das instalações: observação com base na


legislação existente para as unidades industriais (Portaria n.º 702/80, de 22 de
Setembro e respectivas alterações) que permite avaliar as condições de laboração.
Devem ser observados com especial atenção os seguintes itens:

Condições de manutenção do edifício;

Organização e limpeza dos espaços;

Condições de arejamento dos locais (ventilação);

Área útil do posto de trabalho;

Métodos de trabalho;

 – Análise do processo (diagrama fabril):

Identificação das operações e tarefas;

Caracterização;

Localização dos postos de trabalho.

 – Equipamento e respectivas condições de funcionamento;

– Listagem das matérias-primas, dos produtos intermediários (aditivos e produtos resultantes


de reacções durante o processo produtivo), e dos produtos finais; fichas de dados de
segurança;

– Descrição dos postos de trabalho (operações e tarefas), sua localização e duração;

 – Recursos humanos (dados demográficos) e distribuição pelos postos de trabalho;

– Horários de trabalho (existência de trabalho extraordinário);

– Descrição das medidas de controlo / prevenção existentes;

– Dados sobre doença profissional e/ou de sintomatologia apresentada.

 

 
A análise desta informação permite identificar:

– Os perigos (substâncias químicas) e respectivas fontes, e

– Os potenciais riscos presentes.

Esta informação é também fundamental para o estabelecimento das estratégias de


amostragem e decisão sobre técnicas a utilizar para a quantificação da exposição.

Por outro lado, e depois de definidas as situações de risco, a informação recolhida nesta fase é
importante para a escolha das medidas de controlo / prevenção mais adequadas e forma de
as implementar.

Quantificação

A quantificação dos contaminantes presentes no ar do local de trabalho é obtida através de


dois processos:

– Métodos directos e

– Métodos que requerem análise laboratorial posterior.

– Métodos directos

Estes métodos utilizam equipamentos que, de imediato, dão resposta sobre a nível de
contaminação do ar no local de medição.

Existem vários tipos de equipamento de leitura directa.

Para o caso dos contaminantes químicos, os métodos directos englobam:

 Os aparelhos de leitura directa, e

 Os tubos colorimétricos.

As vantagens deste tipo de quantificação são as seguintes:

 Rapidez (conhecimento imediato do risco e da fonte emissora);

 Identificação de picos de concentração (leituras imediatas);

 Não se colocam os problemas de amostragem, acondicionamento e transporte das


amostras.

Contudo, estes métodos apresentam, também, algumas limitações, nomeadamente na


amostragem: sendo as leituras instantâneas, se não existir a possibilidade de integração de
valores medidos durante um período de tempo, os resultados serão pouco representativos da
concentração no ar inalado pelo trabalhador.

Por outro lado, há dificuldades na calibração dos aparelhos, tendo em consideração


potenciais interferências e no local de trabalho nem sempre estão reunidas as condições
ambientais em que é previsível a sua utilização para se obterem resultados com qualidade.

 
 Equipamentos de leitura directa

Aparelho de leitura directa (monitores contínuos e monitores descontínuos)

Estes equipamentos, através de um sinal analógico ou digital ou de ambos, fornecem


concentração em contínuo ou a concentração pontual do contaminante específico para o qual
foi concebido.

Os princípios de actuação baseiam-se nas propriedades físicas ou químicas das substâncias


que se pretende medir.

Existem vários equipamentos que recorrem a diferentes técnicas analíticas, nomeadamente a


cromatografia gasosa, a espectrofotometria e a fotoionização.

A qualidade da medição, fulcral para o resultado e portanto para a decisões a tomar, depende
da calibração do equipamento e, também, da sua manutenção.

Na maioria dos locais de trabalho existe uma contaminação múltipla, muitas vezes com
substâncias do mesmo grupo químico. Nestes casos pode haver interferências, sendo, por
isso, necessário analisar com cuidado a resposta obtida com o equipamento.

Existem vários equipamentos de leitura directa para medição das concentrações de


contaminantes químicos e alguns destes monitores permitem a leitura simultânea de mais do
que um contaminante no estado gasoso.

 Tubos colorimétricos

Os tubos colorimétricos são dispositivos analíticos integrados, constituídos por um tubo com
um enchimento que reage com o contaminante em causa produzindo um novo composto
corado, permitindo uma resposta qualitativa e quantitativa.

 
Os tubos em causa são acoplados a uma bomba manual, de fole ou de pistão.

No caso de tubos de longa duração são utilizadas bombas alimentadas a baterias ou eléctricas.
Existem tubos colorimétricos para uma gama muito alargada de gases.

As limitações deste método directo são a sua resposta, que deve ser considerada apenas
como semiquantitativa, e as interferências quando, para além da substância que se pretende
medir, estão presentes outras que reajam do mesmo modo com o enchimento, ou, pelo
contrário, anulem a reacção química em que se baseia a medição.

– Métodos que requerem análise posterior

Métodos passivos

Nos métodos (selectivos) que exigem análise laboratorial posterior, os contaminantes


(substâncias químicas) são retidas num meio. Esta retenção pode ser efectuada por um
processo passivo e, neste caso, os colectores designam-se por amostradores passivos.

Este método consiste em reter o contaminante gasoso utilizando um adsorvente recoberto com
uma solução que reage com a substância a dosear.

O fenómeno que preside à recolha da substância no colector é a difusão. Este amostrador


pode tomar a forma de uma banda ou de um disco que é colocado directamente no vestuário
do trabalhador. O meio colector é depois submetido a análise laboratorial utilizando técnicas
instrumentais adequadas.

 
Métodos activos

Nestes métodos, o ar é forçado a atravessar o colector onde se encontra o meio para retenção
da substância a estudar.

O processo utilizado para forçar o ar a atravessar o colector é uma bomba dotada de bateria
interna recarregável e de um medidor de fluxo. De referir que é também fundamental um
sistema de calibração do caudal de aspiração (fluxo de colheita).

No sistema de colheita, que integra a bomba e o colector, devem ser calibrados os


equipamentos antes e depois das amostragens, sendo o caudal de colheita ajustado para o
colector e método analítico seleccionados.

Amostragem de ar

Existem vários tipos de colectores de acordo com o contaminante a quantificar e a técnica mais
adequada à sua retenção.

Os colectores mais utilizados e a respectiva técnica de retenção são os seguintes:

Suportes sólidos - técnica de retenção: adsorção

Nos métodos activos, os suportes sólidos que retêm o contaminante por adsorção estão
contidos em tubos de vidro ou metálicos, através do qual o ar circula.

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O enchimento é disposto em duas camadas dentro do tubo: a primeira camada a ser
atravessada contém uma quantidade de enchimento dupla da camada seguinte. A segunda
camada serve para garantir que não houve saturação do meio colector e, consequente, perda
do poder de captação do contaminante.

Existem vários enchimentos adsorventes, quer de origem natural – carvão activo, sílica gel,
alumina – quer sintéticos, de que são exemplos o Chromosorb, o Tenax e a Amberlit.

Suportes líquidos - técnica de retenção: absorção

Neste sistema de colheita, o ar é obrigado a borbulhar numa solução com a qual o


contaminante a dosear reage, ficando retido.

A solução de colheita é contida em recipientes de vidro ou plástico que são designados por
frascos lavadores ou impingers .

Estes recipientes, com uma capacidade total de 30 – 50ml (solução de colheita de 10–20 ml),
caracterizam-se por terem uma tubuladura central que preferencialmente termina numa placa
porosa. É por esta tubuladura que penetra o ar a analisar e que é obrigado a borbulhar na
solução. Lateralmente existe uma outra tubuladura, ligada à bomba de colheita, para a saída
do ar já sem o contaminante em causa.

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O contaminante ficou retido na solução de colheita, por reacção química com esta. O processo
é designado por absorção, estando particularmente indicado para gases, nomeadamente o
amoníaco, o ozono e o cloro e para nevoeiros ácidos.

Filtros - técnica de retenção: filtração

Neste processo, utilizado para partículas, a retenção do contaminante é por filtração.

Os filtros são de material e porosidade adequada às partículas que se pretendem estudar,


sendo colocados em porta - filtros.

Nos porta - filtros podem ser acoplados sistemas de separação das fracções do
empoeiramento, e.g. ciclones; nestes casos, ao filtro apenas chega a fracção que interessa
quantificar, em geral a designada fracção respirável.

O filtro é atravessado por ar forçado, e as partículas presentes nesse ar, de dimensão


aproximada ao poro, ficam retidas. No decorrer do processo de filtração são geradas forças
gravitacionais e electrostáticas, que vão permitir recolher no filtro partículas de dimensão
inferior ao seu poro.

Os materiais utilizados nos filtros são o papel (celulose e acetato de celulose), as micro fibras
(minerais – vidro e quartzo; orgânicas – poliestireno) e membranas (policarbonato, nitrato de
celulose, ésteres de celulose e PVC).

Representatividade das colheitas de ar

As colheitas de ar têm de ser representativas das situações em análise.

A representatividade das colheitas está dependente do local, do tipo e duração, do momento


em que é efectuada e do seu número. Também é determinante a eficiência do sistema de
colheita (colector e caudal de ar).

Considerando o objectivo das colheitas de ar, na análise do ar inalado pelo trabalhador deverá
utilizar-se como local de colheita preferencial a zona junto das suas vias respiratórias.

No caso de o trabalhador realizar várias tarefas e, portanto, verificar-se a sua deslocação, o


sistema de colheita deve ser pessoal.

No caso de postos de trabalho fixos, posicionados num único local, pode optar-se pela
utilização de sistemas estacionários.

Em qualquer dos casos, o colector deve situar-se junto das vias respiratórias do trabalhador.

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Por vezes é também conveniente realizarem-se colheitas referentes ao ambiente em geral;
neste caso, a colheita deve ser realizada a cerca de 1,5 m do pavimento.

Quando o objectivo é caracterizar a emissão de uma fonte, a colheita de ar deve ser realizada
no local de emissão.

Relativamente ao tipo e duração das colheitas, o período de recolha deve estar de acordo
com o tempo de execução da tarefa a analisar e deve cumprir os requisitos do método
analítico utilizado para o doseamento do contaminante.

Estima-se como volume mínimo a colher o que é calculado através da fórmula seguinte:

Por outro lado, o período de colheita da amostra deve ter em consideração as flutuações da
concentração e, consequentemente, a existência de picos, de forma a caracterizar
correctamente os resultados obtidos.

A duração da colheita – tempo de amostragem – é calculada com base no volume que se


pretende colher e no caudal de colheita.

O momento escolhido para efectuar as colheitas de ar está relacionado com a natureza do


processo e o que se pretende quantificar.

O sistema colector tem de ser adequado à situação que se pretende estudar e, por isso, terá
de ser analisada a possibilidade de existirem interferências ao processo de retenção e
encontrarem-se formas da sua eliminação, por exemplo através da utilização de dois sistemas
colectores em série (um filtro prévio a um frasco lavador).

Por outro lado, o caudal de colheita de ar deve ser ajustado de modo a permitir tempo
suficiente de contacto entre o contaminante e o material colector, de forma a permitir o
processo da retenção daquele.

Nos suportes sólidos activos o caudal deve ser muito baixo, inferior a 0,2ml/min, para que o
ar atravesse os grãos do enchimento, os rodeie e seja possível a retenção por adsorção;

No caso dos filtros, o caudal já pode ser mais elevado, 1,5 – 2 l/min, pois a retenção é
essencialmente um processo mecânico.

Análise laboratorial

Após a recolha das amostras de ar e da retenção do contaminante no meio de retenção


(amostradores passivos e colheita de ar), procede-se ao seu doseamento qualitativo e/ou
quantitativo, em laboratório.

A análise laboratorial permite conhecer a composição química da contaminação do ar, a


nível dos átomos e moléculas, identificando as substâncias presentes.

Esta análise qualitativa permite conhecer os contaminantes secundários produto de impurezas


das matérias-primas ou de reacções não previstas no processo produtivo.

Por outro lado, é através da análise laboratorial que se quantifica o contaminante (analito) e,
considerando o volume de ar colhido, se determina a sua concentração no ar.
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As técnicas instrumentais utilizadas para o doseamento dos diferentes contaminantes são
muito diversificadas, dependendo do tipo de analito.

De um modo geral, no exercício da actividade da Higiene Analítica (ramo da Higiene do


Trabalho) é regular o recurso às seguintes técnicas instrumentais de análise:

 Gravimetria;

 Microscopia (directa, contraste de fase);

 Espectrofotometria (UV-VIS – visível; infravermelho – IR; absorção atómica – AA;


massa – MS);

 Cromatografia (iónica; gasosa –GC; líquida de alta pressão – HPLC);

 Difracção de raios X.

Os métodos analíticos utilizados no laboratório têm que estar validados e, sempre que
possível, devem ser utilizados métodos de referência, nomeadamente os propostos pelo
National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH – Manual of Analytical Methods).

Existem outros organismos credenciados na área que disponibilizam métodos validados – são
exemplos o Health Safety Executive (HSE) e o Institut National de Recherche et Sécurité
(INRS).

O laboratório deve ter implementado o programa de garantia de qualidade interno e deve


estar integrado em programas interlaboratoriais de controlo de qualidade.

Os programas de garantia de qualidade internos incluem:

 Duplicação das determinações para garantia de precisão;

 Calibração externa dos equipamentos por entidades certificadas, com carácter


periódico;

 Calibração interna dos equipamentos, de acordo com procedimento interno


adequado às situações;

 Utilização de material de laboratório certificado;

 Repetição contínua de padrões para garantir a qualidade dos resultados.

Estas acções (selecção dos métodos e garantia da qualidade) visam a qualidade dos
resultados emitidos.

Pretende-se que estes resultados cumpram os conceitos de exactidão e precisão:

Exactidão: obtenção de resultados próximos do valor real;

Precisão: obtenção de resultados concordantes por aplicação do método diversas vezes em


condições pré-determinadas.

Considerando o objectivo das análises desta área, são também importantes os seguintes
parâmetros:

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Sensibilidade do método (possibilidade de dosear, com qualidade, quantidades reduzidas de
analito);

Custo analítico, e Rapidez de resposta.

Face ao acima exposto, fica patente a necessidade, na área de Higiene Analítica, de se dispor
de recursos técnicos sofisticados e de recursos humanos diferenciados e tecnicamente
habilitados.

1-2. Avaliação da Exposição do Trabalhador. Definição das Situações de Risco

A avaliação da exposição do trabalhador tem por objectivo definir as situações de risco, as


suas características e grandeza.

Na indústria são utilizados muitos compostos, alguns de grande toxicidade, mas nem sempre
esta situação está associada à existência de risco. Convém portanto fazer a distinção entre
estes dois conceitos. Assim temos que:

– Toxicidade: é característica de uma substância, descreve a natureza, grau e extensão dos


seus efeitos nocivos, quando em contacto com o organismo. É uma propriedade biológica da
substância e reflecte a sua capacidade de induzir um risco;

– Risco: significa ou descreve a probabilidade da toxicidade da substância se manifestar. É,


portanto, a probabilidade de resultarem efeitos nocivos pelo contacto com a substância de
determinado modo.

Quando se avalia a situação de risco é necessário ter em consideração não só a toxicidade da


substância em causa, mas acima de tudo, a quantidade que contacta com o organismo, a via
de entrada, a frequência e a duração do contacto, ou seja a exposição.

Nestas condições é possível ter um alto risco associado a uma substância de baixa toxicidade
quando, pelas condições de trabalho, são criadas oportunidades para a entrada daquela no
organismo em grandes quantidades. No entanto, é possível ter um baixo risco associado à
utilização de substâncias de alta toxicidade quando estão criadas todas as condições de
isolamento entre a substância e o trabalhador.

A exposição do trabalhador, é calculada tendo em consideração todas as tarefas executadas


ao longo do dia de trabalho ou da semana de trabalho. É expressa através da média
ponderada dos níveis atingidos pelo contaminante nas diferentes tarefas em função da duração
de cada uma delas. Deste modo, a avaliação da exposição implica:

– Estabelecer o perfil de contacto do trabalhador com a substância, ou seja, definir as tarefas


do trabalhador ao longo do dia ou da semana de trabalho e estabelecer o tempo da sua
execução;

– Conhecer os níveis de contaminante no ar durante cada tarefa e calcular a média ponderada


daqueles valores em função do tempo de duração de cada tarefa/exposição;

– Comparar os valores obtidos para a exposição do trabalhador com os valores-limite de


exposição (VLE) fixados em legislação própria ou normas.

Em Portugal existe legislação específica que fixa os valores-limite de exposição para alguns
contaminantes químicos:
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– Chumbo e seus compostos iónicos: Decreto-Lei n.º 274/89, de 21 de Agosto;

– Amianto (asbesto): Decreto-Lei n.º 266/2007, de 24 de Julho;

– Agentes cancerígenos: Decreto-Lei n.º 301/2000, de 18 de Novembro;

– Poeiras (pedreiras): Decreto-Lei n.º 162/90, de 22 de Maio.

No que diz respeito aos outros produtos químicos existe a norma NP1796, cuja última versão
data de 1988, que fixa os valores - limite de exposição definidos como a «concentração de
substâncias nocivas que representam condições às quais se julga que a quase totalidade dos
trabalhadores possa estar exposta, dia após dia, sem efeitos prejudiciais para a saúde».

Esta norma segue os conceitos e limites fixados no documento Threshold Limit Values for
Chemical Substances and Physical Agents and Biological Exposure Indices – TLV’s publicados
pela ACGIH. Esta publicação é revista anualmente e no momento lista aproximadamente 700
entradas e inclui as substâncias químicas mais utilizadas na indústria

Distinguem-se dois tipos de valores-limite:

– VLE-MP: valor-limite de exposição média ponderada – valor-limite expresso em concentração


média diária, para um dia de trabalho de 8 horas e uma semana de 40 horas, ponderada em
função do tempo de exposição;

– VLE-CM: valor-limite expresso por uma concentração que nunca pode ser excedida, mesmo
para períodos curtos de exposição.

Por outro lado, o documento dos valores-limite de exposição também prevê as seguintes
situações:

– Efeitos aditivos de produtos com características toxicológicas semelhantes;

– Flutuação das concentrações do contaminante ao longo de um dia ou semana de trabalho;

– Toxicidade percutânea;

– Efeitos aditivos de produtos com características toxicológicas semelhantes.

Efeitos aditivos de produtos com características toxicológicas semelhantes

Quando no ar inalado estão presentes mais do que uma substância com perfis toxicológicos
semelhantes, ou seja, com acção nos mesmos órgãos ou sistemas, coloca-se a situação de os
seus efeitos se adicionarem. Assim, mesmo que, quando consideradas separadamente não se
atingirem níveis de risco, pode acontecer que a adição dos efeitos de todas as substâncias se
faça sentir. Esta situação é analisada através da seguinte fórmula:

C1/VLE1 + C2/VLE2 + … + Cn/VLEn < 1

– C1, …, Cn = nível que representa a exposição do trabalhador a cada uma das substâncias;

– VLE1, …, VLEn = valor-limite de exposição de cada produto químico.

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Exemplo:

Na avaliação da exposição a compostos orgânicos voláteis de um trabalhador foram obtidos os


seguintes resultados:

Substância Exposição (ppm) Vle (ppm)

xileno 65 100

tolueno 25 50

n-hexano 30 50

Embora a exposição individual a cada uma das substâncias seja inferior ao respectivo valor-
limite de exposição, a situação é de risco porque:

65/100 + 25/50 + 30/25 = 0,65 + 0,50 + 0,60 = 1,15 > 1

Flutuação das concentrações do contaminante ao longo de um dia ou semana de


trabalho

Conforme já foi referido, o risco de uma exposição profissional verifica-se quando a


concentração média ponderada da substância no ar inalado é superior a um dado limite, ou
seja é possível existirem situações (tarefas ou fases do processo) em que o nível de substância
no ar ultrapasse o valor-limite, desde que devidamente compensado por períodos de menor
exposição. Contudo, os valores máximos atingidos não deverão ultrapassar determinado valor,
sob pena de surgirem efeitos na saúde; a fixação destes valores máximos é feita através de
factores de flutuação que podem ser de 3 (exposição 30 minutos por dia de trabalho) ou 5
(para situações esporádicas de curta duração).

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Exemplo:

Um trabalhador, durante o seu dia de trabalho, executa duas tarefas:

– A: manuseamento de anidrido acético;

– B: outros trabalhos.

A concentração de anidrido acético durante as duas tarefas atinge os seguintes valores:

Tarefa Anidrido acético (ppm) VLE = 5 ppm

A (0,5 hora) 30

B (7,5 horas) 1

Anidrido acético: VLE (MP) = 5 mg/m3

Apesar da exposição do trabalhador (durante o dia de trabalhado) não ser superior ao valor-
limite de exposição,

a situação do posto de trabalho é de risco, porque a concentração de anidrido acético durante


a tarefa A, 30 mg/m3, é superior a 5×3 (factor de flutuação).

Toxicidade percutânea

Na listagem dos valores-limite de exposição estão assinalados os casos das substâncias para
as quais existe fácil absorção pela pele. Esta característica é sublinhada pela letra P.

Efeitos carcinogéneos da substância

Face à importância desta propriedade da substância, esta característica toxicológica é também


assinalada na listagem dos valores-limite de exposição, adoptando a classificação utilizada
pela International Agency for Research on Cancer (IARC). Este efeito é assinalado pela letra C.

18 

 
Exemplo:

Um posto de trabalho compreende três tarefas diárias: pesagem de uma matéria-prima (óxido
de titânio), transporte da mesma e enchimento de um reactor. Na quantificação dos níveis do
contaminante no ar inalado pelo trabalhador foram obtidos os seguintes resultados:

Tarefa (duração – horas) Concentração (ppm)

Pesagens (4) 14

Transporte (1) 2

Enchimento (3) 4

Dióxido de titânio – VLE = 10 mg/m3

Exposição do trabalhador:

1-3. Controlo das Situações de Risco. Prevenção

Após a caracterização das situações de risco de um local de trabalho terão de ser


desenvolvidos programas de prevenção para controlo e correcção. Estes programas
comportam actuações de vária ordem, nomeadamente, legal, médica, psicotécnica,
organizativa e técnica. À Higiene do Trabalho, nomeadamente nas suas actividades operativas,
compete a intervenção a nível da prevenção técnica.

Nas situações de risco, a sequência das intervenções deve ser a seguinte: na fonte emissora,
sobre ambiente geral (arejamento) e por fim sobre o próprio indivíduo.

Os processos de controlo do risco devem portanto ser aplicados nesta sequência:

– Eliminar/reduzir o risco

– Circunscrever o risco

– Afastar o homem da fonte emissora

– Proteger o homem

Os dois primeiros passos implicam medidas construtivas ou de engenharia, que actuam nos
processos produtivos, nos equipamentos e nas instalações (arejamento). Esta actuação é a
mais eficaz e a que deve ser encarada na fase de concepção ou de projecto.

19 

 
Nos casos em que, mesmo com o processo controlado, o risco de exposição está presente,
deve intervir-se no sentido de proteger o trabalhador, afastando-o da fonte de risco ou
reduzindo o tempo de exposição. Para o efeito são aplicadas medidas de carácter
organizacional, como, por exemplo, a rotação dos trabalhadores nos postos de trabalho de
maior risco.

Por fim, quando as outras intervenções não resultarem, ou quando a exposição se limitar a
tarefas de curta permanência (por exemplo: casos de manutenção e de limpeza), há o recurso
a medidas de prevenção de carácter individual, ou seja, a utilização de equipamento de
protecção individual (EPI).

De um modo geral, as medidas correctoras de uma situação de risco de exposição a factores


ambientais podem ser classificadas em:

– Medidas técnicas de prevenção para reduzir ou eliminar situações de risco nos locais de
trabalho, por alteração do ambiente de trabalho ou dos processos;

– Medidas que poderão ser tomadas para diminuir o risco potencial de um local de trabalho
sem efectivamente este ser alterado.

Medidas técnicas de prevenção para reduzir ou eliminar situações de risco nos locais de
trabalho, por alteração do ambiente de trabalho ou dos processos

Substituição de substâncias perigosas por outras de menor toxicidade.

Nota: Sempre que possível todos os potenciais cancerígenos devem ser substituídos por
outros. Deve também, sempre que possível, proceder-se à substituição dos produtos mais
tóxicos por outros de menor toxicidade.

Instalação de sistemas de controlo

– Arejamento dos locais de trabalho (ventilação geral);

– Exaustão localizada (sistema de ventilação adequado);

– Isolamento parcial ou total de processos perigosos (fonte emissora).

Alteração de práticas de trabalho

– Embalagens vedadas e bem rotuladas;

– Localização do trabalhador.

Medidas que poderão ser tomadas para diminuir o risco potencial de um local de
trabalho sem efectivamente este ser alterado

– Formação, aconselhamento, treino do trabalhador (deve ser devidamente informado sobre os


riscos inerentes ao seu posto de trabalho e modo de os controlar);

– Utilização de equipamento de protecção individual (EPI). De salientar o uso de luvas e fatos


próprios no caso de substâncias com grande poder de penetração cutânea;

– Medidas administrativas – rotação de trabalhadores;

– Rastreio para detecção atempada de situações de alteração da saúde dos trabalhadores


(vigilância do estado de saúde).
20 

 
1-4. Ventilação. Considerações Gerais

A ventilação é uma técnica que permite a substituição do ar de um ambiente interior por ar do


exterior, com o objectivo de reduzir as concentrações dos contaminantes e/ou por razões de
conforto.

A concepção de um sistema de ventilação deverá, portanto, corresponder às exigências de


higiene do local (criação de ar mais limpo), mas por outro lado tem de ser compatível com o
ciclo produtivo e aceite pelas pessoas que permanecem no local.

A ventilação dos locais de trabalho pode ser obtida por dois processos: ventilação geral ou
ventilação local.

Ventilação geral

Este sistema de ventilação, também designado por ventilação por diluição, consiste na
introdução de ar limpo em quantidade suficiente para que as concentrações dos contaminantes
no ar ambiente se reduzam a níveis aceitáveis.

A ventilação geral, considerando as quantidades de ar que terão de ser movimentadas, tem


limitações, nomeadamente:

– Quando as quantidades de poluente libertadas são importantes e, portanto, para o controlo


das concentrações é necessário movimentar grandes massas de ar;

– Quando os postos de trabalho estão localizados muito perto da fonte emissora e, portanto,
ser difícil apenas por diluição atingir os níveis aceitáveis.

Este tipo de ventilação só pode ser aplicado eficazmente quando os contaminantes em causa
são de baixa toxicidade, são libertados uniformemente e em pequenas quantidades, estando
contra-indicado no caso do controlo do empoeiramento. Como este método não é circunscrito à
fonte de poluição, mas abrange todo o local de trabalho, para garantir que os níveis de
contaminante se reduzam a valores aceitáveis o volume de ar a renovar deve ser multiplicado
por um factor de segurança. Este factor vai depender da toxicidade da substância, caudal de
libertação e pode tomar valores compreendidos entre 3 e 10.

A ventilação geral envolve, portanto, a movimentação de grandes massas de ar e como tal é


preferível utilizá-la como complemento da ventilação local.

Ventilação local

O objectivo da ventilação local é captar os contaminantes o mais perto possível da sua fonte
emissora e antes do trabalhador. Este processo necessita de movimentar quantidades de ar
muito menores que a ventilação geral e, por isso, os custos de investimento e de manutenção
são menores. Tem, contudo, um aspecto condicionador; uma vez instalado o sistema, o
processo produtivo não deve ser mudado de lugar para garantir a sua eficiência.

Na ventilação local, ou ventilação por aspiração localizada, é feita a captação do contaminante


na fonte, a sua condução em tubagem até a um colector que o retém lançando o ar na
atmosfera. Em certas situações pode não existir colector do contaminante, mas sim um
percurso suficiente do ar poluído de modo a que por «diluição» sejam atingidos níveis
aceitáveis, mesmo para as emissões (existe legislação específica para as emissões).

21 

 
Na montagem de um sistema de ventilação por exaustão devem ser tomados em
consideração alguns aspectos:

– O dispositivo de captação deve ser colocado o mais perto possível da emissão do


contaminante e de forma envolvente da fonte;

– O trabalhador não deve estar colocado entre a captação e a fonte, ou seja, a deslocação do
ar aspirado deve estar no sentido contrário às vias respiratórias do trabalhador;

– O sistema de aspiração deve corresponder ao movimento natural dos contaminantes. Por


exemplo, no caso de poluentes mais densos que o ar, a sua movimentação é no sentido
descendente por isso a aspiração deve ser a nível inferior;

– A velocidade de captação deve corresponder ao caudal de emissão do contaminante e às


suas características físicas;

– Para uma captação eficiente, o ar aspirado deve ser compensado com entrada de ar exterior.
Recomenda-se que o ar entrado tenha um caudal 10 % superior ao caudal de aspiração;

– As saídas de ar poluído não devem ser colocadas perto das entradas do ar novo.

No estudo da ventilação também devem ser cobertos os aspectos de conforto térmico, que
podem obrigar a tratamento do ar insuflado, e de correntes de ar, que podem ser remediadas
com a colocação de anteparos.

1-5. Metodologia Simplificada para a Avaliação do Risco da Exposição a Agentes


Químicos

Avaliação dos riscos derivados da presença de agentes químicos no local de trabalho

A abordagem que aqui se vai apresentar, relativa à avaliação dos riscos derivados da presença
de agentes químicos no local de trabalho, deve ser encarada como uma ajuda,
especialmente para as pequenas e médias empresas, mas de modo nenhum deve ser usada
como se fosse o único instrumento de avaliação de riscos de exposição a agentes
químicos existente.

Será importante referir que existem alguns problemas de ordem prática na identificação da
perigosidade dos agentes químicos e, consequentemente, na avaliação dos riscos daí
decorrentes. Referimo-nos aos seguintes casos:

– Substâncias não classificadas como perigosas (devido quer à ausência de perigo, quer ao
facto de não se dispor de informação técnica suficiente, em particular sobre os efeitos a longo
prazo, que leva a que não se considerem perigosas enquanto não se dispõe de mais dados
adicionais);

– Preparações para as quais a avaliação das respectivas propriedades perigosas pode ser
menos rigorosa que a avaliação das propriedades de cada uma das substâncias que as
compõem.

A problemática que deriva destes casos não é abordada no presente documento, pelo que se
recomendam consultas mais detalhadas sobre este assunto.

22 

 
Por agente químico entende-se qualquer elemento ou composto químico, só ou em misturas,
quer se apresente no seu estado natural, quer seja produzido, utilizado ou libertado por uma
actividade laboral, quer seja ou não produzido intencionalmente ou comercializado.

Constata-se com alguma frequência que os riscos associados aos agentes químicos são
atribuídos exclusivamente às indústrias químicas e afins, tais como a farmacêutica ou a do
petróleo, que são aquelas que basicamente produzem os agentes químicos. Ora, esta ideia
está totalmente errada, já que, hoje em dia, a utilização de agentes químicos é praticamente
universal não só no mundo do trabalho, mas, também, em actividades domésticas, educativas
e recreativas, sob a forma de produtos de limpeza, adesivos, produtos cosméticos, etc.. Por
esse motivo, os riscos ligados à utilização de agentes químicos podem encontrar-se num
grande número de postos de trabalho, tanto na indústria como na agricultura ou nos serviços.

Entre as actividades que, sem serem propriamente químicas, registaram nos últimos anos um
aumento mais significativo da utilização de agentes químicos, destacam-se as seguintes:

– A construção e as suas actividades complementares (carpintaria, pintura, instalações de


água, gás e electricidade, etc.);

– A limpeza profissional, especialmente em meios industriais e em certos serviços onde a


qualidade da limpeza é crucial, como os centros de saúde;

– Os hospitais, onde se utiliza uma grande variedade de agentes químicos, tais como
anestésicos, esterilizantes, citostáticos, etc.;

– A indústria de tratamento de resíduos, onde muito frequentemente os próprios resíduos


são ou podem conter agentes químicos e onde, além disso, estes são usados e incorporados
voluntariamente no processo a fim de obter os resultados pretendidos;

– A agricultura, onde é muito frequente a combinação do uso de espaços de cultivo fechados


ou semi-fechados (estufas) e a utilização em grande escala de diversos tipos de agentes
químicos, especialmente pesticidas.

Verifica-se, ainda, a existência de um conjunto de actividades não químicas, onde a


utilização de agentes químicos é, também, muito frequente, nomeadamente:

– Indústria metalomecânica;

– Oficinas mecânicas;

– Tipografias;

– Drogarias;

– Laboratórios;

– Restauro de obras de arte;

– Cabeleireiros e centros de estética.

É importante salientar que não são só as propriedades toxicológicas ou físico-químicas destes


agentes que conduzem à sua classificação como perigosos. Na realidade, a temperatura ou a
pressão a que o agente se encontra, a sua capacidade para deslocar o oxigénio ou a forma
física em que é utilizado ou manipulado constituem, de igual modo, características de
perigosidade. Assim, por exemplo, o vapor de água pode representar um risco caso se
23 

 
encontre a 150ºC, do mesmo modo que um sólido inerte sob a forma de um pó respirável
(alguns Estados-Membros têm um valor - limite de exposição profissional para este caso, como
partículas não classificadas de outra forma).

Tanto as propriedades intrínsecas do agente químico como a forma em que é utilizado ou se


encontra presente no local de trabalho constituem elementos da perigosidade do agente
químico, quando tenham potencial para provocar danos, isto é, quando constituam perigo.

Por outro lado, considerando as duas variáveis que entram na estimativa e valoração do risco –
o dano e a probabilidade da sua realização – deve conhecer-se não só a perigosidade
intrínseca do agente, mas, também, as condições da sua utilização e manipulação, incluindo
as medidas de protecção e prevenção existentes. Assim, pode afirmar-se, por exemplo, que,
perante a presença de ácido sulfúrico numa empresa, existirá sempre perigo. No entanto, pode
falar-se de um nível de risco quase inexistente se o ácido sulfúrico se encontrar acondicionado
em recipientes de segurança estanques, se o processo for fechado, etc..

Como já se referiu, para se determinar a capacidade de, no local de trabalho, se originarem


riscos devido à presença de agentes químicos, é necessário conhecer as suas propriedades
perigosas, assim como a forma como são usados ou estão presentes. A informação sobre as
propriedades perigosas dos agentes químicos presentes no local de trabalho, primeiro passo
para a avaliação desses riscos, pode ser obtida a partir das seguintes fontes:
Fontes de informação sobre a perigosidade dos agentes químicos

Procedimentos de avaliação de riscos – metodologias simplificadas

Com o objectivo de assegurar o controlo total dos riscos para a saúde das pessoas, a entidade
patronal tem a obrigação de detectar a presença de agentes químicos perigosos no local de
trabalho, de os eliminar e, quando isso não seja possível, de avaliar os riscos que deles
possam advir.
O objectivo inicial da análise de riscos é conhecer os perigos existentes ou potenciais com o
objectivo de os evitar. Infelizmente, nem sempre é possível evitar desta forma os riscos, sendo,
por este motivo, a avaliação uma base indispensável para identificarmos as medidas
necessárias ao seu controlo e estabelecermos as prioridades adequadas na sua execução.
A avaliação de riscos constitui um processo de estudo das propriedades perigosas dos agentes
químicos presentes no local de trabalho e das condições em que se trabalha com eles, daí
devendo resultar uma objectivação dos riscos existentes, dos trabalhadores expostos, das
condições da sua exposição a tais riscos, dos possíveis danos que podem originar e da
possibilidade de esses danos se concretizarem.
24 

 
A avaliação dos riscos deve ser efectuada com diferentes graus de profundidade. Nesse
sentido, e como alternativa às avaliações pormenorizadas e complexas, pode optar-se, em
alguns casos, por metodologias simplificadas de avaliação de riscos.
As metodologias simplificadas podem constituir uma boa ajuda (em especial para as pequenas
e médias empresas) na realização da avaliação inicial dos riscos, assim como para determinar
se é necessário implementar medidas de controlo.
O processo de avaliação dos riscos passa, então, pela elaboração, na maioria dos casos, de
uma avaliação pormenorizada, a menos que o risco detectado na primeira etapa seja reduzido.
Importa observar que estas metodologias não representam uma alternativa a uma
avaliação pormenorizada dos riscos, antes permitem efectuar um primeiro diagnóstico
da situação.
Algumas metodologias apontam recomendações sobre o tipo de medidas a implementar em
função do nível de risco e do tipo de operação ou processo produtivo em questão.
As variáveis geralmente analisadas pelas diferentes metodologias são as seguintes:

 Perigosidade intrínseca dos agentes químicos;


 Frequência/tempo de exposição;
 Quantidade utilizada ou presente de agente químico;
 Volatilidade ou pulverulência do agente químico;
 Forma de utilização;
 Tipo de controlo.

Atribuindo índices semiquantitativos a algumas destas variáveis (por norma, não se


seleccionam todas, pois trata-se de metodologias simplificadas), obtém-se uma categorização
do risco.
Como exemplo, apresenta-se, seguidamente, uma destas metodologias simplificadas para a
avaliação do risco derivado da exposição (por via respiratória ou cutânea) a agentes químicos
– metodologia COSHH Essentials.

Metodologia simplificada Coshh Essentials

Esta metodologia foi elaborada pela Health & Safety Executive britânica para a avaliação do
risco de exposição a agentes químicos perigosos e designa-se COSHH Essentials.
É uma metodologia que determina a medida de controlo adequada à operação que se está
a avaliar e não o nível de risco existente. Este é o seu principal ponto forte, uma vez que
proporciona soluções de cariz prático.
Assumir-se-á a partir daqui que os níveis de controlo obtidos com este método
correspondem a níveis de risco «potencial», dado que, como variável de entrada do
método, as medidas de controlo existentes não são tidas em linha de conta.
Depois de categorizar o risco em quatro níveis, o método refere algumas indicações gerais
sobre o procedimento aconselhado em cada um dos níveis.
A metodologia Coshh Esssentials apresenta algumas limitações na sua aplicação que devem
ser consideradas, nomeadamente:
– É aplicável apenas a pequenas e médias empresas (PME);
– Executa um primeiro diagnóstico de situação;

25 

 
– Não é alternativa a uma avaliação pormenorizada, a menos que o risco detectado seja
reduzido;
– Determina a medida de controlo adequada à operação que se está a avaliar, e não
propriamente o nível de risco;
– Não considera como variável de entrada do método as medidas de controlo existentes.
Este método baseia-se na consideração de três variáveis:
a) A perigosidade intrínseca da substância;
b) A sua tendência para passar para o ambiente;
c) A quantidade de substância utilizada em cada operação.

VARIAVEL 1 - Quanto à perigosidade intrínseca das substâncias:


De acordo com o indicado no quadro seguinte, a perigosidade intrínseca das substâncias é
classificada em cinco categorias, A, B, C, D e E, em função das «frases R» que devem constar
no rótulo do produto e na respectiva Ficha de Dados de Segurança.
Esta classificação de perigosidade, aumenta de A até E.
Perigosidade intrínseca por inalação das substâncias químicas

26 

 
Além disso, algumas substâncias podem apresentar riscos quando em contacto com a pele
ou com as mucosas externas: são as substâncias às quais foram atribuídas as «frases R»
contidas no quadro que se segue.

Substância perigosa em contacto com a pele, olhos, ou com as mucosas externas

R21 R27 R38 R48/24


R20/21 R27/28 R37/38 R48/23/24
R20/21/22 R26/27/28 R41 R48/23/24/25
R21/22 R26/27 R43 R48/24/25
R24 R34 R42/43 R66
R23/24 R35 R48/21
R23/24/25 R36 R48/20/21
R24/25 R36/37 R48/20/21/22
R36/38 R48/21/22
R36/37/38

Não se estabelece um nível objectivo de perigosidade, no entanto estas 4 colunas


correspondem a uma perigosidade crescente.
Sempre que estes riscos se manifestam imediatamente após o contacto (frase R34 «Provoca
queimaduras», por exemplo), a avaliação do risco associado a este efeito deverá ser efectuada
de acordo com outras metodologias que não esta (por exemplo, metodologia de W. T. Fine).

VARIAVEL 2 - Quanto à tendência para passar para o ambiente:


De acordo com a metodologia Coshh Essentials, a tendência para passar para o ambiente
classifica-se como alta, média e baixa e quantifica-se, no caso dos líquidos, pela sua
volatilidade e pela temperatura de trabalho que definem a capacidade de evaporação do
agente químico e, no caso dos sólidos, pela sua tendência para formar poeiras (ver quadro
seguinte).
Níveis de volatilidade dos líquidos

27 

 
Tendência dos sólidos para formar poeirasa)

Baixa Média Alta


– Substância em forma – Sólidos granulares ou cristalinos. – Pós: finos e de baixa
de granulado (pellets) que densidade.
não tem tendência para
se desfazer.
– Quando utilizados, não – Quando utilizados, observa-se a – Quando utilizados, observa-
se observa a produção de produção de poeiras que se se a produção de nuvens de pó
poeiras. depositam rapidamente e são que permanecem no ar durante
visíveis nas superfícies adjacentes. vários minutos.
Exemplos: granulado de Exemplo: pó de detergente. Exemplos: cimento, negrode-
PVC, ceras em escamas, fumo, giz, etc..
grãos, etc..
a)
Em caso de dúvida, deve-se escolher a categoria superior.

VARIAVEL 3 - Quanto à quantidade de substância:


A quantidade utilizada classifica-se como pequena, média ou grande, conforme indicado no
quadro seguinte.
Quantidade da substância

Quantidade de substância Quantidade utilizada por operação


Pequena Gramas ou mililitros

Média Quilogramas ou litros

Grande Toneladas ou metros cúbicos

A aplicação da metodologia Coshh Essentials consiste, então, no cruzamento dos dados


recolhidos das três variáveis, obtendo-se o nível de risco previsível em função da categoria
de perigosidade, da tendência para passar para o ambiente e da quantidade de substância
utilizada.
O método considera quatro níveis, com a correspondente estratégia de prevenção que se
apresenta descrita no quadro seguinte e que, em todo caso, deve incluir a aplicação dos
princípios gerais de prevenção.

Os níveis de risco obtidos através deste método são 1, 2, 3, ou 4.

28 

 
Depois de se apurar o nível de risco (categorização do risco), o método apresenta soluções
técnicas diferentes em função da operação que se está a avaliar, e que podem ser resumidas
do seguinte modo:

29 

 
Nível de risco 1:
De um modo geral, nestas situações o risco para a segurança e a saúde dos trabalhadores
poderá considerar-se baixo.
Como consequência, estas situações não requerem geralmente a comprovação da eficácia das
medidas preventivas mediante a realização de medições ambientais, a não ser que esta seja
exigida por alguma disposição nacional.
Normalmente, é possível controlar estas situações através de um sistema de ventilação geral.

Nível de risco 2:
Neste tipo de situações, será necessário recorrer a medidas de prevenção específicas
para controlar o risco. O tipo de instalação específica mais utilizado é a extracção
localizada, que geralmente deve ser concebida e construída por fornecedores especializados.
Ao seleccionar o fornecedor, há que ter em conta a sua experiência comprovada neste tipo de
instalações e especificar com clareza que o objectivo da instalação é conseguir que a
concentração de agentes químicos no local de trabalho se encontre o mais abaixo possível do
valor-limite de exposição (VLE).
Após a implementação das medidas de controlo, deve efectuar-se uma avaliação quantitativa
pormenorizada da exposição dos trabalhadores aos agentes químicos analisados. O resultado
da avaliação quantitativa revelará a eventual necessidade de medidas de controlo adicionais ou
mesmo de um programa de medições periódicas da exposição.
Os parâmetros associados ao correcto funcionamento das instalações deverão ser
periodicamente alvo de verificação a fim de assegurar a sua permanente eficácia. Também
a eficácia das medidas de prevenção utilizadas deve ser aferida periodicamente mediante a
quantificação das substâncias no ambiente.
Pode, ainda, ser adequado verificar outras características do sistema que forneçam
informações sobre o seu funcionamento correcto (como, por exemplo, a velocidade à entrada
de uma campânula de extracção).
No entanto, estas verificações devem ser complementares e não substitutas da quantificação
da concentração do agente no posto de trabalho.

Nível de risco 3:
Nas situações deste nível de risco será necessário recorrer à utilização do confinamento
ou de sistemas fechados que impeçam totalmente que o agente químico passe para a
atmosfera durante as operações ordinárias. Além disso, sempre que possível, o processo
deverá manter-se a uma pressão inferior à atmosférica para dificultar a fuga das substâncias
químicas.
Após a implementação das medidas de controlo, deve efectuar-se uma avaliação quantitativa
pormenorizada da exposição dos trabalhadores aos agentes químicos analisados. O resultado
da avaliação quantitativa revelará a eventual necessidade de medidas de controlo adicionais
ou, mesmo, de um programa de medições periódicas da exposição.
Os parâmetros associados ao correcto funcionamento das instalações deverão ser
periodicamente alvo de verificação para se assegurar a sua permanente eficácia. Também a
eficácia das medidas de prevenção utilizadas deve ser aferida periodicamente mediante a
quantificação das substâncias no ambiente.

30 

 
Pode, ainda, ser adequado verificar outras características do sistema que forneçam
informações sobre o seu funcionamento correcto (como, por exemplo, a velocidade à entrada
de uma campânula de extracção).
No entanto, estas verificações devem ser complementares e não substitutas da quantificação
da concentração do agente no posto de trabalho.

Nível de risco 4:
Trata-se de situações em que se usam substâncias extremamente tóxicas ou substâncias de
toxicidade moderada em grandes quantidades que podem ser facilmente libertadas para a
atmosfera. No caso de se utilizarem agentes cancerígenos ou mutagénicos durante o trabalho,
será ainda necessário respeitar as disposições nacionais.
Nestes casos, é imprescindível adoptar medidas especificamente concebidas para o
processo em questão, recorrendo ao aconselhamento de um especialista.
Este nível de risco requer a avaliação quantitativa da exposição, assim como o aumento da
frequência da verificação periódica da eficácia dos sistemas de controlo.
Exemplo de aplicação da metodologia Coshh Essentials
Considere-se um trabalhador que, ao executar uma determinada operação, encontra-se
exposto a três agentes químicos diferentes: tolueno, xileno e ácido clorídrico a 37 %.
Tal como já foi referido, para aplicação do método Coshh Essentials será necessário munirmo-
nos da informação necessária relativa a cada um dos agentes químicos mencionados,
nomeadamente:

Perigosidade do agente químico: «frases R» [dado que deve constar na Ficha de
Dados de Segurança (FDS) do produto];

Tendência para passar para o ambiente: temperatura de ebulição, referida na Ficha
de Dados de Segurança ou em documentos similares e temperatura de operação (dado
obtido «em campo»);

Quantidade da substância utilizada (dado obtido «em campo»).
Após esta sistematização dos dados necessários, poder-se-á, então, aplicar a metodologia
referida. Desta forma, no exemplo dos três agentes químicos mencionados, teremos:
Perigosidade intrínseca da substância:
Sistematizando a informação contida na FDS relativo às «frases R» associadas a cada agente
químico, poder-se-á, consultando as indicações do método, atribuir a categoria do risco.
Neste exemplo, temos:

31 

 
Agente químico Frases de risco Categoria do risco (classificação Coshh
associadas Essentials)

Tolueno R11 D
R48/20
R63
R65
R67

Xileno R10 B
R20/R21
R38

Ácido clorídrico (37 R34/37 C


%)

Tendência para passar para o ambiente:


Recolhendo os dados relativos ao processo produtivo (temperatura de operação) e também a
informação fornecida pela FDS (temperatura de ebulição), poder-se-á, consultando as
indicações do método, definir a tendência que cada um dos agentes químicos tem para passar
para o ambiente, sendo que, desta forma, representará a possível exposição do trabalhador.
Assim, reportando-nos ao exemplo:
Tolueno:
Temperatura de ebulição: 11ºC
Temperatura de operação: 22ºC
Xileno:
Temperatura de ebulição: 137-140ºC
Temperatura de operação: 23ºC
Ácido clorídrico (37 %):
Temperatura de ebulição: 85,03ºC
Temperatura de operação: 20ºC
Aplicando a metodologia:

32 

 
Agente químico Classificação Coshh Essentials

Tolueno Média

Xileno Média

Ácido clorídrico (37 %) Elevada

Quantidade de substância utilizada:


Esta última variável do método reporta-se às quantidades usadas de cada um dos agentes.
Este dado deverá ser recolhido de acordo com o processo em análise.
Assim, tendo-se em atenção o exemplo referido:

Agente químico Quantidade utilizada Classificação Coshh Essentials


Tolueno Litros Média

Xileno Mililitros Pequena

Ácido clorídrico 37 % Litros Média

Cruzando estas três variáveis referidas pelo método COSHH Essentials, obtêm-se os níveis
de risco previsíveis, aos quais está associada uma estratégia de prevenção.
Tendo em conta o método COSHH Essentials e aplicando ao exemplo referido:

De acordo com as referências do método, podem-se extrair as seguintes conclusões face a


cada um dos agentes químicos:

Tolueno – nível de risco 4


Trata-se de uma situação em que se usa uma substância extremamente tóxica, que pode ser
facilmente libertada para a atmosfera. Neste caso, é imprescindível adoptar medidas
especificamente concebidas para o processo em questão, recorrendo ao aconselhamento
de um especialista. Este nível de risco requer a avaliação quantitativa da exposição, assim
como o aumento da frequência da verificação periódica da eficácia dos sistemas de
controlo.

Xileno – nível de risco 1


Nesta situação, de uma forma geral, o risco para a segurança e saúde dos trabalhadores
poderá considerar-se baixo. Como consequência, esta situação não requer a comprovação
da eficácia das medidas preventivas mediante a realização de medições ambientais. É
possível controlar estas situações através de um sistema de ventilação geral.

33 

 
Ácido clorídrico (37 %) – nível de risco 3
Nesta situação de nível de risco, será necessário recorrer à utilização do confinamento ou
de sistemas fechados que impeçam totalmente que este agente químico passe para a
atmosfera durante a operação. Após a implementação das medidas de controlo, deve efectuar-
se uma avaliação quantitativa pormenorizada da exposição dos trabalhadores aos agentes
químicos analisados. O resultado da avaliação quantitativa revelará a eventual necessidade de
medidas de controlo adicionais ou, mesmo, de um programa de medições periódicas da
exposição.
Os parâmetros associados ao correcto funcionamento das instalações deverão ser
periodicamente alvo de verificação para se assegurar a sua eficácia permanente. Também a
eficácia das medidas de prevenção utilizadas deve ser aferida periodicamente, mediante a
quantificação das substâncias no ambiente. Pode, ainda, ser adequado verificar outras
características do sistema que forneçam informações sobre o seu funcionamento correcto. No
entanto, estas verificações devem ser complementares e não substitutas da
quantificação da concentração do agente no posto de trabalho.
Bibliografia

COSHH Essentials, Health and Safety Executive, 2003 (consultado em www.coshh-
essentials.org.uk);

“Directrizes práticas de carácter não obrigatório sobre a protecção da saúde e da
segurança dos trabalhadores contra os riscos ligados à exposição a agentes químicos
no trabalho – Doc 1409/01/03-PT”, Comissão Europeia – ACT (Autoridade para as
Condições de Trabalho).

34 

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