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RELAÇÕES

INTERPESSOAIS NO
CONTEXTO EDUCACIONAL
Curso Andragogia e Formação de Adultos
Disciplina 2: Relações Interpessoais no Contexto
Educacional

Equipe Gestora

Diretor geral: Me. Eber Liessi


Diretora acadêmica: Me. Lilian Anabel Becerra de Oliveira
Coordenador da Pós-graduação: Me. Mérlinton Pastor de Oliveira

Coordenação do programa

Esp. Caio Beck., Andragogia Brasil


Me. Cláudio Silva de Sousa

Professor

Ana Marar

Núcleo de Tecnologias Educacionais- FADBA

Esp. Jean Magno Rodrigues do Ouro


Esp. Emerson Kiekow de Britto Rodrigues Alves

Produtores e Revisores

Produção e edição de vídeo: Juliano Luts Antunes


Revisão de língua portuguesa: Dr. Maria Rita Sousa Barbosa
Revisão de texto e vídeo: Me. Daniella Barbosa Silva
Revisão da diagramação: Esp. Kézia Ferreira Campos

Diagramação

Anthony Gregory Alves de Abreu


Teorias do Desenvolvimento - Aula 03

Prof. Ana Marar

Apresentação

A terceira aula é dedicada a três grandes teóricos de como


acontece a aquisição do conhecimento: Jean Piaget com o
Construtivismo, Lev Vygotsky com a teoria Sociointeracionista e
Henri Wallon com a teoria Socioafetiva.

Teoria Cognitivista – Jean Piaget

Piaget, biólogo de formação, tem mais de 50 livros e monografias,


além de centenas de artigos publicados durante 70 anos de
trabalho e pesquisa. Pesquisou e escreveu em diversos campos do
conhecimento, tais como: biologia, filosofia, psicologia, lógica,
sociologia, teologia, historia da ciência, física e matemática.

Esteve concentrado no estudo dos vários aspectos do


conhecimento e sua aquisição, principalmente no desenvolvimento
intelectual da criança. Seu principal foco de interesse era como se
dão os processos de pensamento presentes desde a infância até a
idade adulta, essa capacidade de cognição que nos torna “homo
sapiens”. Esse enfoque foi negligenciado por outras correntes
teóricas do desenvolvimento humano como o Behaviorismo e a
Psicanálise. Como já visto, o primeiro reduziu o aprendizado
humano ao controle do ambiente externo, pasteurizando o
processo de aprendizagem e o segundo se focou nos processos
emocionais e irracionais, enfatizando a presença de impulsos
primitivos como a base da conduta humana.

Piaget apresentou uma visão interacionista. Buscou entender quais


os mecanismos mentais que a pessoa utiliza nas diversas fases da
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vida para se adaptar, aprender e viver. Sua principal obra é a


“Epistemologia Genética”, preocupa-se com a gênese do
conhecimento, como a criança descobre o mundo, como interage
com ele, desde o bebê com suas estruturas mentais mais simples
até o pensamento lógico formal do adolescente.

Vejamos alguns conceitos fundamentais de Piaget para melhor


compreender o processo de desenvolvimento da inteligência.
- Hereditariedade – É um fator que deve ser levado em
consideração. As estruturas biológicas (sensoriais e neurológicas)
que predispõem ao surgimento de certas estruturas mentais, como
a cognição, herdamos, mas não a inteligência. A maturação do
organismo, basicamente do sistema nervoso central, através da
interação com o ambiente, que irá contribuir para que apareçam
novas dessas estruturas mentais cognitivas é que proporcionam a
possibilidade de adaptação cada vez melhor ao ambiente.

Mas a plena realização das diversas capacidades, como por


exemplo, o aprendizado da linguagem, dependerá dos estímulos
que a criança receber. Ela irá aprender a falar, mas a qualidade
dessa fala, como o vocabulário, por exemplo, dependerá do
vocabulário das pessoas que estão no seu entorno.

- Assimilação e acomodação – O ambiente, e incluímos aqui além


do ambiente físico também o social, coloca continuamente a
criança diante de situações em que as estruturas mentais são
requisitadas para haver uma melhor adaptação ao meio ambiente.
No caso da criança, quando a estrutura mental se mostra
ineficiente para solucionar o problema, esta será modificada a fim
de chegar a uma solução adaptativa mais adequada. Nesse
processo de adaptação dois conceitos são introduzidos na teoria: a
assimilação e a acomodação.

O processo de assimilação mental ocorre, segundo Piaget, como o


processo de assimilação de um alimento. Após a deglutição, o
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corpo prepara as enzimas necessárias para digerir e absorver os


nutrientes daquele determinado alimento. Quando um novo tipo de
alimento for introduzido, o corpo assimilará as propriedades físicas
e químicas deste e terá um preparo enzimático diferente do
primeiro alimento. No processo mental ocorre o mesmo. Para
situações conhecidas a criança responde facilmente e para novas
situações, a criança irá tentar fazer da mesma maneira que na
situação anterior, não obterá sucesso e as estruturas mentais se
modificarão para a realização da nova tarefa. Por exemplo, no
aspecto motor: a criança aprende a andar e anda por todos os
lados até se deparar com uma escada, ela tentará caminhar e não
conseguirá subir. Quando o cérebro altera a estrutura enviando um
sinal para que a perna levante mais do que quando se caminha, a
criança será capaz de alcançar o degrau e subi-lo. A partir do
momento que esse comando é aprendido, ela poderá subir qualquer
escada. A esse processo Piaget chama de acomodação. A criança
se acomodou à nova tarefa de subir escadas, ou seja, se adaptou
ao ambiente com esse obstáculo.

Os processos de assimilação e acomodação são complementares e


acompanharão o indivíduo por toda sua vida. Trazendo este
processo ao mundo adulto, e em nosso caso, ao ambiente escolar,
temos o exemplo de um professor que prepara uma aula,
assimilando os conhecimentos e passando a seus alunos, mas, se
ele for ministrar o mesmo conteúdo a turmas diferentes, terá que
acomodar a metodologia, para que cada turma tenha o maior
proveito por serem turmas com características diferentes.

- Esquema – para Piaget, os bebês nascem apenas com alguns


reflexos, não há nenhuma capacidade mental pronta, portanto o
ato de chorar de fome é um ato reflexo e não um pedido de comida
por compreender que aquela indisposição significa falta de
alimento. Há um desconforto interno e o bebê chora, mas pode ser
fome, frio, sono ou cólica. Ainda não há uma conscientização dos
processos internos e nem mesmo qualquer conhecimento do mundo
exterior, como pessoas, objetos ou situações. O sistema
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neurológico e psicológico ainda está imaturo.

Portanto a partir das estruturas biológicas (sensoriais e


neurológicas) herdadas, a criança formará estruturas mentais com
a finalidade de organizar as sensações e estados internos
desconhecidos. O cérebro vai construindo esquemas. Pode-se
considerar um esquema como uma unidade estrutural básica de
pensamento ou de ação que tem correspondência com a estrutura
biológica que muda e se adapta. Pode ser um esquema simples,
como agarrar algo que está à frente ou complexo, como solucionar
um problema matemático, ou ainda o esquema de se relacionar
com as pessoas.

O ato reflexo de agarrar se diferencia do ato de querer agarrar


determinado objeto, nesse caso é necessário um esquema para
pegar aquela forma específica. Nas palavras de John Flavell,
psicólogo especialista em desenvolvimento cognitivo infantil:
“Sendo uma estrutura cognitiva, um esquema é uma forma mais ou
menos fluida de uma organização mais ou menos plástica, à qual as
ações e os objetos são assimilados durante o funcionamento
cognitivo” (FLAVELL, ano, página).

- Equilíbrio das estruturas cognitivas – Como biólogo, Piaget


traçou um paralelo entre o desenvolvimento biológico e mental. O
organismo sempre tende a tentar voltar ao equilíbrio quando está
desequilibrado, pois deste depende sua sobrevivência. Por
exemplo: quando o organismo está muito cansado, o indivíduo
adormece, descansa e acorda com o corpo novamente equilibrado.
No processo mental o indivíduo recebe estímulos que se misturam
no cérebro causando um desequilíbrio. Nesse momento o cérebro
precisa montar esquemas mentais para lidar com esses estímulos
perante a realidade. Por exemplo: a criança com meses de vida que
precisa lidar com os diversos estímulos que lhe são dados, ela os
organiza no esquema sensóriomotor que lhe permitirão organizar o
caos inicial de sensações internas e externas, criando assim
condição de atuar sobre o ambiente que o cerca.
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Então, pode-se dizer que o desenvolvimento é um processo que


busca atingir formas de equilíbrio cada vez melhores, até que se
atinja a total abstração do pensamento e esteja bem adaptado ao
meio. As estruturas mentais até chegar ao pensamento formal
ocorrerão até a adolescência, após esse período, o adulto estará
sempre em um equilíbrio dinâmico, ou seja, a cada nova situação ou
resolução de problema, ele se desequilibrará, utilizará as estruturas
mentais desenvolvidas anteriormente e ao solucionar a questão,
voltará ao equilíbrio.

No caso da criança, novas estruturas serão desenvolvidas conforme


os quatro estágios de desenvolvimento descritos abaixo:

- 1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos) – Representa a conquista,


através da percepção e dos movimentos, de tudo que cerca a criança
no mundo material. Os esquemas sensoriais-motores começam a
permitir que o bebê possa organizar os estímulos ambientais e
mesmo de forma rudimentar lidar com as situações apresentadas.
Segundo Piaget, no início da vida não existe nenhuma diferenciação
entre o eu e o mundo exterior. Tudo funciona como um bloco
indissociado. Por esse motivo, a consciência é totalmente
egocentrada, está no centro de tudo, pois tudo o que é percebido é
centralizado sob a própria atividade. Só aos poucos, com os
progressos da inteligência sensório-motora, é que os objetos
começam a opor-se, construindo assim um universo objetivo onde
seu próprio corpo aparece como um elemento entre os outros. Não
há nesse período, segundo Piaget, imagens mentais; as ações
começam como atos reflexos. No início o movimento é bastante
instintivo, o bebê suga o que encostar em seus lábios (seio, dedo,
chupeta), mais tarde já conseguirá segurar coisas, como uma
mamadeira, por exemplo.

- 2° período: Pré-operatório (2 a 7 anos) – Ao se aproximar dos 24


meses, a criança desenvolve ativamente a linguagem, o que lhe dará
a chance de iniciar a capacidade de representar uma coisa por outra,
ou seja, começa a formar os esquemas simbólicos. Ela poderá
transformar uma coisa em outra, por exemplo, panelas em bateria,
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ou uma caixa em carrinho. Segundo Piaget, a criança continua


egocêntrica nessa fase, mistura realidade e fantasia, tudo é lúdico,
os esquemas conceituais e de lógica, ainda não apareceram. Mas
também é a fase onde se diz, por exemplo, “sou todo ouvidos” e a
criança imagina imediatamente um corpo cheio de orelhas.

Assim temos uma criança que se comportará de forma lógica e


coerente, mas com o entendimento da realidade ainda
desequilibrado. É a fase dos porquês, quer entender o que ainda
não compreende.

- 3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos) –


Basicamente aqui se inicia o período escolar fundamental, onde há
grandes aquisições intelectuais, segundo Piaget.

O pensamento lógico se mostra cada vez mais frequente, assim a


razão passa a estruturar a realidade e não mais por uma
assimilação egocêntrica. A criança tem, nessa fase, um
conhecimento correto e adequado dos objetos e situações da
realidade externa, trabalhando de forma lógica com eles. Assim,
aquela tendência lúdica do pensamento, quando o real se
misturava com o fantasioso, será substituída pela crítica.

A fase se chama operações concretas, porque a criança internaliza


as ações físicas e não há a necessidade de fazer experiências no
externo. Por exemplo, se damos vários lápis de cor de tamanhos
diferentes, a criança na fase pré-concreta irá comparar cada par
para descobrir a diferença de tamanho dos mesmos, quer dizer,
usará de recursos físicos para ordenar os tamanhos dos lápis. Já a
criança da fase operacional concreta solucionará as diferenças de
tamanho mentalmente e depois colocará os lápis em ordem de
tamanho.

Em relação ao comportamento, Piaget observou que as crianças


fundamentam seu comportamento no princípio da autoridade, aqui
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representado pelos pais. O certo é o que a mãe diz, se os pais


exigem que seja feito algo “injusto”, a criança obedece, mais tarde
ela vai se basear em um princípio de igualdade linear, o
moralmente justo e certo, se os pais exigem algo injusto, a criança
contesta e não quer fazer. Por fim, utilizará o princípio da
equidade, que se baseia em dar a cada um o que é bom e adequado
na sua situação pessoal concreta.

- 4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante) – Na


fase das operações formais, o adolescente utiliza o pensamento
formal, no qual predomina o pensar abstratamente, isto é, o
indivíduo é capaz de se desprender do real e raciocinar sem se
apoiar em fatos, não precisa operacionalizar nem movimentar toda
a realidade para chegar a conclusões.

Dessa maneira, é capaz de formar esquemas conceituais abstratos,


trazendo uma imensa riqueza em termos de conteúdo e
flexibilidade de pensamento. Passa a conceituar amor, fantasia,
justiça, valores morais, política e com isso passa a criticar os
sistemas sociais e propõe novos códigos de conduta, discute os
valores morais dos pais e constrói os seus. Torna-se consciente de
seu próprio pensamento, refletindo sobre ele a fim de oferecer
justificações lógicas para os julgamentos que faz.

Curiosidade
Segundo Piaget, cada período é caracterizado por

aquilo que de melhor o indivíduo consegue fazer

nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por

todas essas fases ou períodos; nessa sequência, porém, a idade do início

e o término de cada uma delas dependem das características biológicas

do indivíduo e de fatores educacionais, sociais. Portanto, a divisão

nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida.


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Toda essa capacidade de pensamento abstrato é uma das


responsáveis pelas mudanças que ocorrem em todo o
comportamento de adolescente, ajudando-o na busca de sua
identidade e autonomia.

Teoria Sociointeracionista – Lev Vygotsky

Um pressuposto básico da obra de Vygotsky é que os pensamentos,


raciocínio, atenção voluntária, amor, etc, ou seja, as formas
superiores de comportamento consciente que nos diferencia dos
animais irracionais têm suas origens nas relações sociais que o
homem mantém; não passivamente como consequência dessas
relações, mas sim ativamente, agindo sobre o mundo, sempre em
relações sociais, e transformando essas ações para que constituam
a formação do indivíduo. Portanto, esta interação social é que
desenvolve a cognição.

Ao nascer, o ser humano possui apenas as funções psicológicas


elementares. É na convivência com o meio cultural e social que a
criança vai aprendendo e, consequentemente, desenvolvendo as
funções psicológicas superiores. Exemplificando: a criança que
deseja um objeto inacessível apresenta movimentos de alcançá-lo,
e esses movimentos são interpretados pelo adulto como “quero
este objeto”, e então lhe dá o que está desejando. (Os movimentos
da criança afetam o adulto e não o objeto diretamente; e a
interpretação do movimento pelo adulto permite que a criança
transforme o movimento de agarrar em gesto de apontar. O gesto é
criado na interação e a criança passa a ter controle de uma forma
de sinal, a partir das relações sociais). Portanto, as funções
psicológicas têm um suporte nas funções biológicas, neste caso
motoras. O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações
entre o indivíduo e o mundo exterior.

O desenvolvimento da criança é visto sob três principais aspectos:


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Curiosidade
Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 1896, na Bielo-

Russia, e faleceu prematuramente aos 37 anos de

idade. Vygotsky buscou uma alternativa dentro do ma-

terialismo dialético para o conflito entre as concepções idealista e

mecanicista na Psicologia.

- Aspecto instrumental – Diz que toda atividade humana é mediada.


Não apenas respondemos aos estímulos apresentados no ambiente,
mas os alteramos e usamos suas modificações como um
instrumento de nosso comportamento. Os instrumentos criados
pelo homem são mediadores entre o que o homem deseja realizar e
a tarefa pronta. Ex.: um arado para preparar a terra para o plantio.
Mas pode ser também uma ação comportamental, como por
exemplo, trocar o relógio do pulso normalmente usado para
lembrar-se de algo. A princípio há quem pode pensar apenas que a
pessoa é canhota, mas para essa pessoa o relógio é um mediador
entre seu desejo de fazer algo e a lembrança de fazê-lo no
momento correto.

- Aspecto cultural – aborda os meios socialmente estruturados


pelos quais organiza as tarefas de um ser em crescimento. A
linguagem também é uma ferramenta com função mediadora,
através dela a criança se expressa nos seus desejos e
necessidades, assim como o professor pode passar o conteúdo da
matéria a seus alunos. (Por isso, Vigotsky deu ênfase, em toda sua
obra, à linguagem e sua relação com o pensamento).

Aspecto histórico – este se funde com o cultural, pois os


instrumentos que o homem usa para dominar seu ambiente e seu
próprio comportamento foram criados e modificados ao longo da
história social da civilização. Os instrumentos criados expandiram
os poderes da humanidade e estruturaram seu pensamento; dessa
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maneira, o desenvolvimento da escrita e da matemática, por


exemplo, nos possibilitou a organização dos processos superiores
que possuímos.

As crianças, desde o nascimento, estão em contato com os adultos


e suas rotinas. Isso traz a criança para o meio social, primeiro para
o núcleo familiar, depois para um núcleo um pouco mais expandido:
os vizinhos e amigos e, por fim, a escola.

Enquanto bebês, as respostas são dominadas por processos


naturais, especialmente aqueles proporcionados pela herança
biológica. Através da mediação dos adultos é que os processos
psicológicos mais complexos tomam forma. No início dessa
interação esses processos são interpsíquicos, isto é, só acontecem
durante o contato e na relação entre a criança com os adultos. À
medida que ela cresce, os processos são interiorizados, ou seja, se
tornam intrapsíquicos. É através dessa interiorização dos meios de
operação das informações, meios estes historicamente
determinados e culturalmente organizados, que a natureza social
das pessoas torna-se igualmente sua natureza psicológica.

Isso nos leva a outro conceito elaborado por Vygotsky, a Zona de


Desenvolvimento Proximal, que é tudo o que a criança pode
adquirir em termos intelectuais quando lhe é dado o suporte
educacional devido, ou seja, mediado por alguém mais preparado,
quando ela não consegue fazer sozinha, mas o faz auxiliada por
outra pessoa.

Aqui o papel do professor é fundamental, pois ele trabalhará como


mediador na dinâmica das relações interpessoais e na interação
das crianças com os objetos de conhecimento. O bom ensino é
aquele que se adianta ao desenvolvimento!
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Teoria Socioafetiva - Henri Wallo

Henri Wallon nasceu em Paris, em 1879 e faleceu em 1962, se


formou em filosofia, medicina e psicologia. Presenciou as duas
grandes guerras mundiais, tendo, inclusive, atuado como médico
na primeira, cuidando de pessoas com distúrbios psiquiátricos.
Tornou-se um marxista convicto e grande crítico do método de
ensino de sua época. Foi o primeiro teórico a reconhecer a
importância da afetividade no ensino infantil.

Wallon propôs o estudo integrado do desenvolvimento humano, ou


seja, abrangendo os vários campos funcionais nos quais se
distribui a atividade infantil, afetividade, motricidade e inteligência.
Assim como Vygotsky, viu o desenvolvimento do homem como um
ser geneticamente social, para o qual os processos têm estreita
dependência das condições em que ocorrem. Por isso tem como
proposta o estudo da criança contextualizado, isto é, nas suas
relações com o meio. Seu estudo foi sempre o comparativo entre
indivíduos saudáveis e os com problemas, sejam eles neurológicos
ou emocionais.

Jamais pude dissociar o biológico do social, não porque os creia


redutíveis entre si, mas porque eles me parecem tão estreitamente
complementares, desde o nascimento, que a vida psíquica só pode
ser encarada tendo em vista suas relações recíprocas (WALLON,
ano, página).

Foi intensa a interlocução de Wallon com as teorias de Piaget e


Freud. No diálogo mantido com o primeiro, de quem foi
contemporâneo, alimenta o tom de polêmica. Quanto ao segundo,
enquanto Wallon pretendia realizar uma psicogênese das pessoas,
Piaget realizava uma psicogênese da inteligência.

Nas numerosas referências que faz à psicanálise de Freud, Wallon


mantém uma atitude ambivalente, ao mesmo tempo de interesse e
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de reserva. Os dois tinham formação similar (neurologia e


medicina), mas, enquanto Freud “abandonou” o domínio da
neurologia para criar as terapias das neuroses, Wallon manteve-se
ligado às categorias neurológicas, provavelmente pelo atendimento
clínico a crianças com distúrbios de comportamento.

Para Wallon há 4 fatores para explicar o desenvolvimento


psicológico da criança:

- A emoção – O estudo das emoções é exemplar para demonstrar a


utilidade da dialética como método de análise e ensino. A emoção
encontra-se na origem da consciência, operando a passagem do
mundo orgânico para o social, do plano fisiológico para o psíquico.
A emoção é orgânica, altera as funções corporais: rubor, coração
acelerado, tônus muscular que ajudam a pessoa a se conhecer, não
podendo ser confundida com afetividade. Esta tem um conceito
mais abrangente que inclui além das emoções, os sentimentos. Os
sentimentos são uma resposta às emoções e vice-versa. Exemplo: o
amor pode se manifestar com alegria ou tristeza.

- A pessoa – o eu e o outro, o desenvolvimento, a construção do


eu, depende da relação com o outro. A dinâmica funcional é uma
integração de conjuntos, do ato motor, da afetividade e
conhecimento e também a interação com o outro não é apenas uma
justaposição. Essa combinação permite o aparecimento de funções
mais complexas.

Segundo Wallon, o estado inicial da consciência do bebê confunde-


se com o próprio sujeito e a realidade exterior. O recém-nascido
não se percebe como indivíduo diferenciado. A distinção entre o eu
e o outro só se adquire progressivamente, em um processo que se
faz nas e através das interações sociais.

Até que a criança saiba identificar sua personalidade e a dos


outros – correspondendo a primeira ao eu e as segundas à
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categoria do não eu – encontra-se em um estado de dispersão e


indiferenciação, percebendo-se como que fundida ao outro e
aderida às situações e circunstâncias. Portanto, o sentido do
processo de socialização é de crescente individuação. Isso ocorre
tanto corporalmente como psicologicamente. Wallon cita o caso de
uma criança de 2 anos que quebrou um copo e, cada vez que ouvia
o ruído de um copo quebrando, se colocava em uma atitude
defensiva, como que se culpando pela quebra do copo, quer dizer,
para ela tudo que acontecia ao redor era como se fosse ela.

- O movimento – Para Wallon, além do seu papel na relação com o


mundo físico, o de realizar tarefas, o movimento tem um papel
fundamental na afetividade e também na cognição. Um dos pontos
dessa perspectiva teórica consiste na ênfase que é dada à
motricidade expressiva, isto é, à dimensão afetiva do movimento,
como mostra o estudo sobre as emoções. Para que se compreenda
essa diversidade de significados, é preciso que se admita que a
atividade muscular pode existir sem que se dê deslocamento do
corpo (de segmentos ou do todo) no espaço. Wallon vincula o
estudo do movimento ao do músculo, responsável por sua
realização. A musculatura possui duas funções: a função cinética,
que regula o estiramento e o encurtamento das fibras musculares,
e é responsável pelo movimento propriamente dito; e a função
postural ou tônica, que regula a variação no grau de tônus
muscular. Antes de agir diretamente sobre o meio físico, o
movimento atua sobre o meio humano, mobilizando as pessoas
através das expressões. Podemos dizer que a primeira função do
movimento no desenvolvimento infantil é afetiva. O movimento vem
antes da linguagem, a criança, antes de falar, se expressa através
de movimentos.

Depois vem a do movimento com deslocamento. Para Wallon a


motricidade tem caráter pedagógico, por isso ele acreditava que as
salas de aula deveriam ser adaptadas para as crianças se
movimentarem mais.
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- A inteligência – o desenvolvimento das inteligências é função do


meio social. Segundo Wallon, a linguagem é o instrumento e o
suporte indispensável aos progressos do pensamento. Entre
pensamento e linguagem existe uma relação de reciprocidade: a
linguagem exprime o pensamento, ao mesmo tempo que age como
estruturadora do mesmo. É muito grande o impacto da linguagem
sobre o desenvolvimento do pensamento e da atividade global da
criança. Com a posse desse instrumento, a criança deixa de reagir
somente àquilo que se impõe concretamente a sua percepção;
descolando-se das ocupações ou solicitações do instante presente,
podendo planejar o futuro. A aquisição da linguagem representa,
assim, uma mudança radical na forma de a criança se relacionar
com o mundo. A linguagem e os símbolos usados no ambiente
influenciam este desenvolvimento.

Os Estágios de Desenvolvimento da Criança para


Wallo

- Impulsivo-emocional (0 a 1 ano) - Nos primeiros três meses de


vida há o predomínio das reações puramente fisiológicas (choro,
espasmos), mas há uma profunda ligação emocional principalmente
com a mãe; depois começam os sorrisos, as gargalhadas, a emoção
constrói uma simbiose emocional com o meio. A relação com o
meio desenvolve na criança sentimentos intraceptivos. A
orientação é para o interior, voltado para a construção do
indivíduo.

- Sensório-motor e projetivo (1-3 anos) – Os pensamentos se


projetam em atos motores, a atividade sensório-motora com dois
objetivos básicos: manipulação de objetos/locomoção e imitação. O
andar dá liberdade de explorar o meio, começam as primeiras
palavras, o movimento se refina. O processo de imitação acontece
principalmente nas referências do entorno, como imitar a mãe ou
pai usando seus sapatos ou imitar um animal. Voltada para o
exterior.
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- Personalismo (3-6) - consciência e afirmação da personalidade na


construção de si mesmo, necessidade de afirmação, aceitação, por
isso acontecem os confrontos. Primeiro reinvindicação de
propriedade, habilidade motoras para chamar a atenção, gracinhas.
Começa o processo de autonomia. A imitação aqui acontece na
identificação com os super-heróis, personificando-os. Voltada
para o interior.

- Pensamento categorial (6-11) – conquistar e conhecer o mundo


exterior. A inteligência predomina sobre as emoções. Ao final do
período já agrupa categorias, seus usos, características ou
atributos, já é possível trazer conceitos abstratos sobre coisas
concretas. Orientado para o exterior.

- Puberdade e adolescência (a partir dos 11) – E na puberdade


volta a uma crise parecida com a dos 3 anos, querendo chamar a
atenção para si, confrontando, crise de identidade. Contradição
entre o conhecido e o que deseja conhecer. Orientado para o
exterior, necessidade de afirmação do Eu. Rompimento da
tranquilidade afetiva, impõe a necessidade de uma nova definição
dos contornos da personalidade, desestruturada pelas
modificações hormonais. Busca diferenciar-se do adulto. Entra em
oposição para se firmar em seu posicionamento.
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Leituras Recomendadas

Para Reflexão

Desenvolvimento Humano
... há várias maneiras de se conceituar o desenvolvimento humano.
Não há dúvida de que várias maneiras decorrem de condições
particulares vivenciadas pelos autores e pelo momento histórico-
científico em que surgiram. O que se nota de altamente positivo
numa apresentação diversificada de modelos teóricos sobre o
desenvolvimento humano é que, antes de se chocarem, eles se
complementam. Exemplificando: se a psicanálise não explica o
desenvolvimento dos processos cognitivos, Piaget o faz. Se esse,
por sua vez, não explica o desenvolvimento emocional, a
psicanálise o faz. Parece ficar claro que, devido à complexidade do
processo de desenvolvimento humano e à jovialidade da ciência
psicológica, nenhum modelo isoladamente tenha chegado à
compreensão profunda de todas as suas variáveis.

Fonte: RAPPAPORT, Clara Regina – Teorias do desenvolvimento, volume 1. Editora Pedagógica e


Universitária Ltda, 1981.

Livros

- PIAGET, Jean – A linguagem e o pensamento da criança. Fundo de


Cultura, 1973.
Livro escrito por Piaget para tratar dos planos da subjetividade
(desejos, caprichos) e do plano da objetividade (linguagem,
conceitos lógicos, realidade) na formação da criança.

- VYGOTSKY, Lev Semenovich – Pensamento e linguagem. Editora


Relógio D’água, 2008.
Publicado em 1934, Pensamento e Linguagem foi o último livro de
Vygotsky. Nele Vygotsky analisa as relações entre pensamento e
linguagem. Inclui nesta edição comentário de Jean Piaget.
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- WALLON, Henri – A evolução psicológica da criança. Editora


Martins Fontes, 2007.
Livro escrito pelo próprio Wallon a respeito da sua visão de
educação. É a obra mais sintética e mais completa do pensamento
deste teórico.

Filmes sugeridos

A Educação Proibida (Título original - La Educación Prohibida),


2012.
Um filme feito com livre acesso a cópias, discute a educação nos
dias de hoje, para responder algumas perguntas, tais como: Até
que ponto as escolas atuais nos auxiliam no desenvolvimento
individual e coletivo? Qual deveria ser a busca da aprendizagem e
da educação, que erros são cometidos e quais ideais continuar
buscando?

The Altruism Revolution, 2010.


Este filme mostra experiências ao redor do mundo mostrando que o
ser humano tem como valor inato o altruísmo, interessante
perceber as cenas com os experimentos com crianças pequenas e
bebês realizando escolhas que não são esperadas para a faixa
etária, contrapondo as teorias colocadas nesta aula.

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