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RECURSOS REPETITIVOS STJ


Última atualização: 24.08.2022

Último informativo inserido: 745 (disponibilizado em 22.08.2022)

Informativos 2015 a 2021: inseridos repetitivos dos informativos 553 a 721

Não inclui direito previdenciário.

DIREITO CIVIL

2022

É válida a penhora do bem de família de fiador apontado em contrato de locação de


imóvel, seja residencial, seja comercial, nos termos do inciso VII, do art. 3º da Lei n.
8.009/1990.

REsp 1.822.040-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 08/06/2022.
(Tema 1091) – Info 740

Informações: O STF, no julgamento do RE 612.360/SP (Rel. Ministra Ellen Gracie, DJe de 3/9/2010),
reconhecida a repercussão geral (Tema 295), afirmou a seguinte tese: "É constitucional a penhora de bem
de família pertencente a fiador de contrato de locação, em virtude da compatibilidade da exceção
prevista no art. 3°, VII, da Lei 8.009/1990 com o direito à moradia consagrado no art. 6° da Constituição
Federal, com redação da EC 26/2000". Importante pontuar que no caso objeto de julgamento se tratava de
locação comercial.

Logo após, o STJ, na alçada dos recursos repetitivos, decidiu a tese de que "é legítima a penhora de
apontado bem de família pertencente a fiador de contrato de locação, ante o que dispõe o art. 3º,
inciso VII, da Lei n. 8.009/1990" (REsp 1.363.368/MS, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção,
DJe de 21/11/2014).

Temática que ensejou a edição, em 2015, da Súmula 549 pelo STJ, segundo a qual "é válida a penhora de
bem de família pertencente a fiador de contrato de locação".

Nota-se que os referidos precedentes não fizeram distinção, para fins de constrição judicial, entre o
contrato de fiança atrelado a locação residencial ou não residencial, surgindo a dúvida sobre a incidência de
tal posicionamento nos locatícios comerciais.

Nesse passo, em 2018, sobreveio o julgamento, pela Primeira Turma do STF, do RE 605.709/SP que, ao
apreciar a alegação de impenhorabilidade do bem de família do fiador de contrato de "locação comercial",
visualizou distinguishing apto a afastar a incidência da solidificada jurisprudência das Cortes Superiores.
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Naquela oportunidade, a maioria dos Ministros da Primeira Turma do STF decidiu que o bem de família do
fiador, destinado à sua moradia, não poderia ser sacrificado a pretexto de satisfazer o crédito de locador de
imóvel comercial ou de estimular a livre iniciativa.

Conforme se depreende do voto condutor, a adoção de exegese contrária ofenderia o princípio da isonomia,
pois o fato de eventual bem de família do locatário/afiançado (na locação comercial) não se submeter à
penhora configuraria situação mais gravosa ao fiador (garante), já que não haveria a justificativa de promoção
do direito fundamental à moradia (do locatário).

Destacou-se, ainda, a existência de instrumentos outros suscetíveis de viabilizar a garantia da satisfação do


crédito do locador de imóvel comercial, a exemplo da caução, seguro de fiança locatícia e cessão fiduciária de
quotas de fundos de investimento (art. 37 da Lei n. 8.245/1991). Em conclusão, afirmou-se que "admitir a
penhora de bem de família para satisfazer débito decorrente de locação comercial, em nome da promoção da
livre iniciativa, redundaria, no limite, em solapar todo o arcabouço erigido para preservar a dignidade humana
em face de dívidas".

Recentemente, a Suprema Corte julgou o mérito do Recurso Extraordinário, de relatoria do Ministro Alexandre
de Moraes, definido pela constitucionalidade da penhora do bem de família do fiador de contrato de locação
comercial.

Portanto, a Tese definida no Tema 1127 foi a de que "é constitucional a penhora de bem de família
pertencente a fiador de contrato de locação, seja residencial, seja comercial".

Nessa perspectiva, a Segunda Seção do STJ, assim como o fez o STF, deve aprimorar os enunciados definidos
no REsp Repetitivo 1.363.368/MS e na Súmula 549 para reconhecer a validade da penhora de bem de família
pertencente a fiador de contrato de locação comercial.

Isso porque a lei não distinguiu entre os contratos de locação para fins de afastamento do bem de
família, (art. 3º, inciso VII, da Lei n. 8.009/1990).

Como bem pontuado pelo Min. Alexandre de Moraes em seu voto condutor, não é possível criar distinção
onde a lei não distinguiu, pois haveria "flagrante violação ao princípio da isonomia relacionada ao instituto
da fiança, haja a vista que o fiador de locação comercial, embora também excepcionado pelo artigo 3º, VII,
teria incólume o seu bem de família, ao passo que o fiador de locação residencial poderia ter seu imóvel
penhorado. Teríamos uma diferenciação não prevista por lei e sem diferenciação, a meu ver, principiológica
que a embase".

Ao que parece, se realmente fosse para conferir algum tipo de proteção com base na igualdade, esta seria o
de salvaguardar o fiador que deu o seu imóvel para proteger o direito fundamental à moradia do locador
residencial e não o de socorrer aquele fiador que espontaneamente afiançou negócio jurídico voltado a
promover o comércio.

Ademais, verifica-se que remanesce a premissa dos antigos precedentes que reconheceram a
constitucionalidade e a legalidade da penhora do bem de família do fiador de contrato de locação residencial,
por haver prevalência ao princípio da autonomia de vontade e ao direito de propriedade, atraindo, assim, a
incidência do velho brocardo latino: ubi eadem ratio , ibi eadem legis dispositio, ou em vernáculo: onde existe a
mesma razão fundamental, prevalece a mesma regra de Direito.

Deveras, o fiador, no pleno exercício de seu direito de propriedade de usar, gozar e dispor da coisa (CC, art.
1.228), pode afiançar, por escrito (CC, art. 819), o contrato de locação (residencial ou comercial), abrindo mão
da impenhorabilidade do seu bem de família, por sua livre e espontânea vontade, no âmbito de sua
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autonomia privada, de sua autodeterminação. Aliás, "admitir o contrário se constituiria, a um só tempo, clara
violação do princípio da boa-fé objetiva" (RE 1.303.711, Rel. Min. Nunes Marques, Dje de 19/3/2021).

Não se pode olvidar que entender de forma diversa (reconhecendo a impenhorabilidade do imóvel do fiador)
acabaria por ensejar grave impacto na liberdade de empreender do locatário e no direito de propriedade
do fiador, notadamente porque a fiança é sabidamente a garantia menos custosa e a mais aceita pelos
locadores. Afastar a proteção do bem de família foi o instrumento jurídico de políticas públicas que o Estado
se valeu para enfrentar o problema público da ausência de moradia e de fomento da atividade empresarial
decorrente das dificuldades impostas aos contratos de locação.

Ademais, por uma análise econômica do direito, a interpretação que afasta a garantia fiduciária da locação
comercial, mais precisamente a possibilidade de penhora do imóvel do fiador, muito provavelmente acabará
retirando a eficiência do mercado imobiliário de locações para fins de exercício de atividade econômica,
influindo nas leis da oferta e da procura, já que haverá um aumento no custo do contrato, reduzindo o
número de possíveis locatários com poder de locação, diminuindo a riqueza e o bem-estar, com o aumento
do custo social, por reduzir o empreendedorismo, a oferta de empregos e, consequentemente, a renda da
população.

O marco inicial e o prazo de vigência previstos no parágrafo único do art. 40 da LPI não são
aplicáveis às patentes depositadas na forma estipulada pelo art. 229, parágrafo único, dessa
mesma lei (patentes mailbox).

REsp 1.869.959-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, Segunda Seção, por
unanimidade, julgado em 27/04/2022. (Tema 1065) – Info 734

Informações: O acórdão que acolheu a proposta de afetação do presente recurso especial como
representativo da controvérsia, proferido em 22/9/2020, delimitou a tese controvertida nos seguintes termos:
Fixação do prazo de vigência e do respectivo termo inicial das patentes mailbox (medicamentos e químicos) à
luz da legislação de propriedade industrial.

Sobreveio, contudo, julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.
5.529/DF (transitada em julgado em 11/9/2021), ocasião em que foi reconhecida a inconstitucional a norma
constante no parágrafo único do art. 40 da LPI.

Os efeitos do reconhecimento da inconstitucionalidade do dispositivo em questão foram modulados


parcialmente pela Suprema Corte, ocasião em que ficou consignado que a todas as patentes concedidas com
extensão de prazo (art. 40, parágrafo único, da LPI), relacionadas a produtos e processos farmacêuticos, bem
como a equipamentos e/ou materiais de uso em saúde, foi aplicado efeito ex tunc, o que resultou, conforme
expressamente decidido pelo STF, "na perda das extensões de prazo concedidas com base no parágrafo único
do art. 40 da LPI".

Para essas patentes, portanto - sejam elas ordinárias, sejam mailbox -, deve ser respeitado o prazo de vigência
estabelecido no caput do art. 40 da LPI (20 anos contados da data do depósito), sem exceção.

Limitou-se a discussão, por consequência, à análise da questão em relação aos produtos e processos que
foram submetidos à modulação de efeitos pelo STF, a respeito dos quais, sob o prisma estrito da
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constitucionalidade, não foram invalidadas as extensões de prazo concedidas com base no parágrafo único do
art. 40 da LPI.

Como é sabido, o privilégio garantido pelas patentes, consoante previsto no art. 40, caput, da LPI, perdura
pelo prazo de 20 anos para patentes de invenção e 15 anos para modelos de utilidade, contados da data do
respectivo depósito. Esse lapso temporal, segundo a regra do parágrafo único do mesmo dispositivo
(revogada pela Lei 14.195/2021), não pode - excetuadas as hipóteses de o INPI estar impedido de proceder ao
exame do pedido por pendência judicial ou força maior - ser inferior a 10 anos (invenção) e sete anos
(modelos de utilidade) desde a respectiva concessão.

Tratando-se, contudo, de patentes excepcionalmente depositadas pelo sistema mailbox, a Lei de Propriedade
Industrial, em suas disposições finais e transitórias (art. 229, parágrafo único), estabeleceu regra expressa
assegurando proteção limitada unicamente ao lapso de 20 anos (ou 15, para modelos de utilidade) contados
do dia do depósito (conforme estipulado pelo citado art. 40, caput).

Vale dizer, o fato de o texto do art. 229, parágrafo único, da LPI dispor que referido prazo de vigência está
somente limitado àquele previsto no caput do artigo 40 afasta, como corolário, a incidência do prazo do
respectivo parágrafo único (10 ou sete anos contados da concessão).

Esse dispositivo legal (art. 40, parágrafo único, da LPI), ademais, não deve incidir sobre a presente hipótese
fática também por estar inserido em capítulo da lei que versa sobre regras gerais aplicáveis ao sistema
ordinário de patentes, não podendo irradiar efeitos sobre matéria a qual foi conferido tratamento especial
pela mesma lei (sistema transitório mailbox).

Noutro vértice, no que concerne às alegações de que os titulares dos direitos em questão não podem ser
punidos com a redução indevida da duração de seu privilégio patentário em razão da demora na análise dos
requerimentos pelo INPI, igualmente não assiste razão.

Sopesados os interesses em conflito, não se afigura razoável impor pesados encargos à coletividade em
benefício exclusivo dos interesses econômicos dos titulares de direitos patentários, sendo certo que eventual
prejuízo causado pela demora do INPI não autoriza que tal ônus seja transferido à sociedade.

Importa consignar, outrossim, que a partir da data da publicação do pedido (e não apenas a partir do
momento em que a patente é concedida) o depositante já possui tutela legal que lhe garante impedir o uso,
por terceiros, do produto ou processo a que se refere seu requerimento, além de indenização por exploração
indevida, conforme estipulam os arts. 42 a 44 LPI.

São lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta-


corrente, ainda que utilizada para recebimento de salários, desde que previamente
autorizados pelo mutuário e enquanto esta autorização perdurar, não sendo aplicável, por
analogia, a limitação prevista no § 1º do art. 1º da Lei n. 10.820/2003, que disciplina os
empréstimos consignados em folha de pagamento.

REsp 1.863.973-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
09/03/2022. (Tema 1085)
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Informações: A controvérsia está em definir se, no bojo de contrato de mútuo bancário comum, em que há
expressa autorização do mutuário para que o pagamento se dê por meio de descontos mensais em sua
conta-corrente, é aplicável ou não, por analogia, a limitação de 35% (trinta e cinco por cento) prevista na Lei n.
10.820/2003, que disciplina o contrato de crédito consignado em folha de pagamento (chamado empréstimo
consignado).

O empréstimo consignado apresenta-se como uma das modalidades de empréstimo com menores riscos de
inadimplência para a instituição financeira mutuante, na medida em que o desconto das parcelas do mútuo
dáse diretamente na folha de pagamento do trabalhador regido pela CLT, do servidor público ou do segurado
do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, sem nenhuma ingerência por parte do mutuário/correntista, o
que, por outro lado, em razão justamente da robustez dessa garantia, reverte em taxas de juros
significativamente menores em seu favor, se comparado com outros empréstimos.

Uma vez ajustado o empréstimo consignado em folha de pagamento, não é dado ao mutuário, por expressa
disposição legal, revogar a autorização concedida para que os descontos afetos ao mútuo ocorram
diretamente em sua folha de pagamento, a fim de modificar a forma de pagamento ajustada.

Nessa modalidade de empréstimo, a parte da remuneração do trabalhador comprometida à quitação do


empréstimo tomado não chega nem sequer a ingressar em sua conta-corrente, não tendo sobre ela nenhuma
disposição. Sob o influxo da autonomia da vontade, ao contratar o empréstimo consignado, o mutuário não
possui nenhum instrumento hábil para impedir a dedução da parcela do empréstimo a ser descontada
diretamente de sua remuneração, em procedimento que envolve apenas a fonte pagadora e a instituição
financeira.

É justamente em virtude do modo como o empréstimo consignado é operacionalizado que a lei estabeleceu
um limite, um percentual sobre o qual o desconto consignado em folha não pode exceder. Revela-se claro o
escopo da lei de, com tal providência, impedir que o tomador de empréstimo, que pretenda ter acesso a um
crédito relativamente mais barato na modalidade consignado, acabe por comprometer sua remuneração
como um todo, não tendo sobre ela nenhum acesso e disposição, a inviabilizar, por consequência, sua
subsistência e de sua família.

Diversamente, nas demais espécies de mútuo bancário, o estabelecimento (eventual) de cláusula que autoriza
o desconto de prestações em conta-corrente, como forma de pagamento, consubstancia uma faculdade dada
às partes contratantes, como expressão de sua vontade, destinada a facilitar a operacionalização do
empréstimo tomado, sendo, pois, passível de revogação a qualquer tempo pelo mutuário. Nesses
empréstimos, o desconto automático que incide sobre numerário existente em conta-corrente decorre da
própria obrigação assumida pela instituição financeira no bojo do contrato de conta-corrente de
administração de caixa, procedendo, sob as ordens do correntista, aos pagamentos de débitos por ele
determinados, desde que verificada a provisão de fundos a esse propósito.

Registre-se, inclusive, não se afigurar possível - consideradas as características intrínsecas do contrato de


conta-corrente - à instituição financeira, no desempenho de sua obrigação contratual de administrador de
caixa, individualizar a origem dos inúmeros lançamentos que ingressam na conta-corrente e, uma vez ali
integrado, apartá-los, para então sopesar a conveniência de se proceder ou não a determinado pagamento,
de antemão ordenado pelo correntista.

Essa forma de pagamento não consubstancia indevida retenção de patrimônio alheio, na medida em que o
desconto é precedido de expressa autorização do titular da conta-corrente, como manifestação de sua
vontade, por ocasião da celebração do contrato de mútuo. Tampouco é possível equiparar o desconto em
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conta-corrente a uma dita constrição de salários, realizada por instituição financeira que, por evidente, não
ostenta poder de império para tanto. Afinal, diante das características do contrato de conta-corrente, o
desconto, devidamente avençado e autorizado pelo mutuário, não incide, propriamente, sobre a remuneração
ali creditada, mas sim sobre o numerário existente, sobre o qual não se tece nenhuma individualização ou
divisão.

Ressai de todo evidenciado, assim, que o mutuário tem em seu poder muitos mecanismos para evitar que a
instituição financeira realize os descontos contratados, possuindo livre acesso e disposição sobre todo o
numerário constante de sua conta-corrente.

Não se encontra presente nos empréstimos comuns, com desconto em conta-corrente, o fator de
discriminação que justifica, no empréstimo consignado em folha de pagamento, a limitação do desconto na
margem consignável estabelecida na lei de regência, o que impossibilita a utilização da analogia, com a
transposição de seus regramentos àqueles. Refoge, pois, da atribuição jurisdicional, com indevida afronta ao
Princípio da Separação do Poderes, promover a aplicação analógica de lei à hipótese que não guarda
nenhuma semelhança com a relação contratual legalmente disciplinada.

Não se pode conceber, sob qualquer ângulo que se analise a questão, que a estipulação contratual de
desconto em conta-corrente, como forma de pagamento em empréstimos bancários comuns, a atender aos
interesses e à conveniência das partes contratantes, sob o signo da autonomia da vontade e em absoluta
consonância com as diretrizes regulamentares expedidas pelo Conselho Monetário Nacional, possa, ao
mesmo tempo, vilipendiar direito do titular da conta-corrente, o qual detém a faculdade de revogar o ajuste
ao seu alvedrio, assumindo, naturalmente, as consequências contratuais de sua opção.

A pretendida limitação dos descontos em conta-corrente, por aplicação analógica da Lei n. 10.820/2003,
tampouco se revestiria de instrumento idôneo a combater o endividamento exacerbado, com vistas à
preservação do mínimo existencial do mutuário.

Essa pretensão, além de subverter todo o sistema legal das obrigações - afinal, tal providência, a um só
tempo, teria o condão de modificar os termos ajustados, impondo-se ao credor o recebimento de prestação
diversa, em prazo distinto daquele efetivamente contratado, com indevido afastamento dos efeitos da mora,
de modo a eternizar o cumprimento da obrigação, num descabido dirigismo contratual -, não se mostraria
eficaz, sob o prisma geral da economia, nem sequer sob o enfoque individual do mutuário, ao controle do
superendividamento.

Tal proceder, sem nenhum respaldo legal, importaria numa infindável amortização negativa do débito, com o
aumento mensal e exponencial do saldo devedor, sem que haja a devida conscientização do devedor a
respeito do dito "crédito responsável", o qual, sob a vertente do mutuário, consiste na não assunção de
compromisso acima de sua capacidade financeira, sem que haja o comprometimento de seu mínimo
existencial. Além disso, a generalização da medida - sem conferir ao credor a possibilidade de renegociar o
débito, encontrando-se ausente uma política pública séria de "crédito responsável", em que as instituições
financeiras, por outro lado, também não estimulem o endividamento imprudente - redundaria na restrição e
no encarecimento do crédito, como efeito colateral.

Por fim, a prevenção e o combate ao superendividamento, com vistas à preservação do mínimo existencial do
mutuário, não se dão por meio de uma indevida intervenção judicial nos contratos, em substituição ao
legislador. A esse relevante propósito, sobreveio - na seara adequada, portanto - a Lei n. 14.181/2021, que
alterou disposições do Código de Defesa do Consumidor, para "aperfeiçoar a disciplina do crédito ao
consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do superendividamento. (Informativo n. 728)
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É ânuo o prazo prescricional para exercício de qualquer pretensão do segurado em face


do segurador - e vice-versa - baseada em suposto inadimplemento de deveres
(principais, secundários ou anexos) derivados do contrato de seguro, ex vi do disposto no
artigo 206, § 1º, II, "b", do Código Civil de 2002 (artigo 178, § 6º, II, do Código Civil de 1916).

REsp 1.303.374-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por maioria, julgado em 30/11/2021, DJe
16/12/2021. (Tema IAC 2)

Informações: Nos termos da jurisprudência da Segunda Seção e da Corte Especial, o prazo trienal do artigo
206, § 3º, inciso V, do Código Civil de 2002 adstringe-se às pretensões de indenização decorrente de
responsabilidade civil extracontratual - inobservância do dever geral de não lesar -, não alcançando as
pretensões reparatórias derivadas do inadimplemento de obrigações contratuais.

Em relação ao que se deve entender por "inadimplemento contratual", cumpre salientar, inicialmente, que a
visão dinâmica da relação obrigacional - adotada pelo direito moderno - contempla não só os seus elementos
constitutivos, como também as finalidades visadas pelo vínculo jurídico, compreendendo-se a obrigação
como um processo, ou seja, uma série de atos encadeados conducentes a um adimplemento plenamente
satisfatório do interesse do credor, o que não deve implicar a tiranização do devedor, mas sim a imposição de
uma conduta leal e cooperativa das partes.

Nessa perspectiva, o conteúdo da obrigação contratual (direitos e obrigações das partes) transcende as
"prestações nucleares" expressamente pactuadas (os chamados deveres principais ou primários), abrangendo,
outrossim, deveres secundários (ou acessórios) e fiduciários (ou anexos).

Sob essa ótica, a violação dos deveres anexos (ou fiduciários) encartados na avença securitária implica a
obrigação de reparar os danos (materiais ou morais) causados, o que traduz responsabilidade civil contratual,
e não extracontratual, exegese, que, por sinal, é consagrada por esta Corte nos julgados em que se
diferenciam "o dano moral advindo de relação jurídica contratual" e "o dano moral decorrente de
responsabilidade extracontratual" para fins de definição do termo inicial de juros de mora (citação ou evento
danoso).

Diante de tais premissas, é óbvio que as pretensões deduzidas na demanda - restabelecimento da apólice que
teria sido indevidamente extinta, dano moral pela negativa de renovação e ressarcimento de prêmios
supostamente pagos a maior - encontram-se intrinsecamente vinculadas ao conteúdo da relação obrigacional
complexa instaurada com o contrato de seguro.

Nesse quadro, não sendo hipótese de incidência do prazo prescricional de dez anos previsto no artigo 205 do
Código Civil de 2002, por existir regra específica atinente ao exercício das pretensões do segurado em face do
segurador (e vice-versa) emanadas da relação jurídica contratual securitária, afigura-se impositiva a
observância da prescrição ânua (artigo 206, § 1º, II, "b", do referido Codex) tanto no que diz respeito à
pretensão de restabelecimento das condições gerais da apólice extinta quanto em relação ao ressarcimento
de prêmios e à indenização por dano moral em virtude de conduta da seguradora amparada em cláusula
supostamente abusiva.

Além disso, não se aplica o prazo prescricional quinquenal previsto no artigo 27 do CDC, que se circunscreve
às pretensões de ressarcimento de dano causado por fato do produto ou do serviço (o chamado "acidente de
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consumo"), que decorre da violação de um "dever de qualidade-segurança" imputado ao fornecedor como


reflexo do princípio da proteção da confiança do consumidor (artigo 12).

Registre-se, por fim, que o prazo prescricional ânuo não alcança, por óbvio, os seguros-saúde e os planos de
saúde - dada a natureza sui generis desses contratos, em relação aos quais esta Corte assentou a observância
dos prazos prescricionais decenal ou trienal, a depender da natureza da pretensão - nem o seguro de
responsabilidade civil obrigatório (o seguro DPVAT), cujo prazo trienal decorre de dicção legal específica
(artigo 206, § 3º, inciso IX, do Código Civil), já tendo sido reconhecida pela Segunda Seção a inexistência de
relação jurídica contratual entre o proprietário do veículo e as seguradoras que compõem o correlato
consórcio (REsp 1.091.756/MG, relator Ministro Marco Buzzi, relator para acórdão Ministro Marco Aurélio
Bellizze, Segunda Seção, julgado em 13/12/2017, DJe 5/2/2018).

2021

O atraso, por parte de instituição financeira, na baixa de gravame de alienação fiduciária no


registro de veículo não caracteriza, por si só, dano moral in re ipsa.

REsp 1.881.453-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
30/11/2021, (Tema 1078)

Informações: Para a jurisprudência desta Corte Superior, o dano moral pode ser definido como lesões a
atributos da pessoa, enquanto ente ético e social que participa da vida em sociedade, estabelecendo
relações intersubjetivas em uma ou mais comunidades, ou, em outras palavras, são atentados à parte
afetiva e à parte social da personalidade (REsp n. 1.426.710/RS, Relatora a Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, julgado em 25/10/2016, DJe 09/11/2016). Por outro lado, segundo o ordenamento jurídico, para haver
a reparação por danos morais, devem estar preenchidos os três pressupostos de responsabilidade civil
em geral, quais sejam: a ação, o dano e o nexo de causalidade entre eles. Apenas nessa hipótese,
surgirá a obrigação de indenizar. Assim, a regra é de que o ofendido que pretende a reparação por
danos morais deve provar o prejuízo que sofreu. Em algumas situações, todavia, o dano moral pode ser
presumido (ou in re ipsa). O dano moral, nesses casos, deriva necessariamente do próprio fato
ofensivo, de maneira que, comprovada a ofensa, ipso facto, surge a necessidade de reparação,
dispensando a análise de elementos subjetivos do agente causador e a prova de prejuízo. Quanto ao
caso em análise (atraso na baixa do gravame registrado), o atual entendimento de ambas as Turmas da
Segunda Seção desta Corte é no sentido de afastar o dano dano moral presumido, entendendo ser
necessária a comprovação de situação fática que ultrapasse os aborrecimentos normais do
descumprimento do prazo pactuado entre as partes. Não se desconhece que o CONTRAN, por meio da
Resolução n. 689, de 27/09/2017, estabeleceu o prazo de 10 (dez) dias para as instituições credoras
informarem ao órgão de trânsito acerca da quitação do contrato. Com efeito, é certo que a não
observância do referido prazo, ou daquele pactuado entre as partes, configura descumprimento do
ordenamento jurídico ou do contrato, todavia, não comprovado nenhum dano advindo em decorrência
desse ato, inexiste direito à reparação por danos morais. O possível aborrecimento suportado pelo
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proprietário que, mesmo após a quitação do contrato, precisa procurar a instituição credora para
providenciar a baixa na alienação fiduciária no registro do veículo, não passa de mero contratempo,
comum à moderna vida em sociedade, não podendo simples transtorno ser definido como dano moral,
sob pena de banalização do instituto.

Não é ilegal ou abusiva a cláusula que prevê a cobertura adicional de invalidez


funcional permanente total por doença (IFPD) em contrato de seguro de vida em
grupo, condicionando o pagamento da indenização securitária à perda da existência
independente do segurado, comprovada por declaração médica.

REsp 1.867.199-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
13/10/2021, DJe 18/10/2021. (Tema 1068) Info 714

Tema: Seguro de vida em grupo. Adicional de cobertura por Invalidez Funcional Permanente Total por
Doença - IFPD. Indenização securitária. Perda da existência independente do segurado. Condição. Legalidade.
Declaração médica. Necessidade. Concessão de aposentadoria por invalidez pelo INSS. Insuficiência.

Informações: Na Invalidez Funcional Permanente Total por Doença (IFPD), a garantia do pagamento da
indenização é no caso de invalidez consequente de doença que cause a perda da existência independente do
segurado, ocorrida quando o quadro clínico incapacitante inviabilizar de forma irreversível o pleno exercício
das suas relações autonômicas (art. 17 da Circular SUSEP n. 302/2005). Na cobertura de Invalidez Laborativa
Permanente Total por Doença (ILPD), há a garantia do pagamento de indenização em caso de incapacidade
profissional, permanente e total, consequente de doença para a qual não se pode esperar recuperação ou
reabilitação com os recursos terapêuticos disponíveis no momento de sua constatação, para a atividade
laborativa principal do segurado (art. 15 da Circular SUSEP n. 302/2005). A garantia de invalidez funcional não
tem nenhuma vinculação com a incapacidade profissional, podendo inclusive ser contratada como uma
antecipação da cobertura básica de morte. Embora a cobertura IFPD (invalidez funcional) seja mais restritiva
que a cobertura ILPD (invalidez profissional ou laboral), não há falar em sua abusividade ou ilegalidade,
tampouco em ofensa aos princípios da boa-fé objetiva e da equidade, não se constatando também nenhuma
vantagem exagerada da seguradora em detrimento do consumidor. Nesse contexto, os produtos existentes
no mercado securitário devem ser disponibilizados com o devido esclarecimento, isto é, ser oferecidos com
informações claras acerca do tipo de cobertura a ser contratada e suas consequências, de modo a não induzir
o proponente em erro. No que tange à comprovação da natureza e da extensão da incapacidade para fins
securitários, o simples fato de o segurado ter sido aposentado pelo INSS por invalidez permanente não
confere a ele o direito automático de receber indenização de seguro contratado com empresa privada, sendo
imprescindível a realização de perícia médica para atestar o grau de incapacidade e o correto enquadramento
na cobertura contratada. Com efeito, ainda que o contrato de seguro preveja cobertura para incapacidade por
doença ou por acidente, se existir controvérsia quanto à natureza (temporária ou permanente) e à extensão
(total, funcional ou parcial) da invalidez sustentada pelo segurado, é de rigor a produção de prova pericial
médica, sob pena de caracterização de cerceamento de defesa. Isso porque a concessão de aposentadoria
por invalidez pelo INSS não induz presunção absoluta da incapacidade total do segurado, não
podendo, dessa forma, vincular ou obrigar as seguradoras privadas. Como cediço, a autarquia
previdenciária afere apenas a incapacidade profissional ou laborativa, de modo que a aposentadoria
por invalidez não é apta a demonstrar a ocorrência de riscos securitários diversos, como as
incapacidades parcial, temporária ou funcional.
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A partir da vigência da Circular/SUSEP n. 11/1996, É POSSÍVEL ser pactuado que os


reajustes dos benefícios dos planos administrados pelas entidades abertas de
previdência complementar passem a ser feitos com utilização de um Índice Geral de
Preços de Ampla Publicidade (INPC/IBGE, IPCA/IBGE, IGPM/FGV, IGP-DI/FGV, IPC/FGV ou
IPC/FIPE). Na falta de repactuação, deve incidir o IPCA-E.

REsp 1.656.161-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 16/09/2021.
(Tema 977) Info 710

Tema: Previdência complementar aberta. Reajuste dos benefícios. Circular/SUSEP n. 11/1996. Índice geral de
preços de ampla publicidade. IPCA-E. Índice na falta de repactuação. Taxa Referencial (TR). Não cabimento.

Informações: A questão controvertida consiste em saber se, com o advento do art. 22 da Lei n. 6.435/1977,
é possível a manutenção da utilização da Taxa Referencial (TR), por período indefinido, como índice de
correção monetária de benefício de previdência complementar operado por entidade aberta. O advento
da Lei n. 6.435/1977 trouxe ao ordenamento jurídico disposições cogentes e o claro intuito de disciplinar o
mercado de previdência complementar, protegendo a poupança popular, e estabelecendo o regime financeiro
de capitalização a disciplinar a formação de reservas de benefícios a conceder. Destarte, o art. 22, parágrafo
único, da Lei n. 6.435/1977 deixa expresso que os valores monetários das contribuições e dos benefícios dos
planos de previdência complementar aberta sofrem correção monetária, e não simples reajuste por algum
indexador inidôneo. Tal norma tem eficácia imediata, abrangendo até mesmo os planos de benefícios já
instituídos, em vista da inexistência de ressalva e do disposto nos arts. 14 e 81 do mesmo Diploma,
disciplinando que não só os benefícios, mas também as contribuições, sejam atualizados monetariamente
segundo a ORTN, ou de modo diverso, contanto que instituído pelo Órgão Normativo do Sistema Nacional de
Seguros Privados. Nessa toada, em se tratando de contrato comutativo de execução continuada, em linha de
princípio, não se pode descartar - em vista de circunstância excepcional, imprevisível por ocasião da
celebração da avença -, que possa, em estrita consonância com a legislação especial previdenciária de
regência, provimentos infralegais do órgão público regulador e anuência prévia do órgão fiscalizador, ser
promovida modificação regulamentar (contratual), resguardando-se, em todo caso, o valor dos benefícios
concedidos. Na verdade, a doutrina anota que nos contratos as partes nem sempre regulamentam
inteiramente seus interesses, deixando lacunas que devem ser preenchidas. Além da integração
supletiva, cabível apenas diante de lacunas contratuais, há a denominada integração cogente. Esta se
opera quando, sobre a espécie contratual, houver normas que devam obrigatoriamente fazer parte do
negócio jurídico por força de lei. São normas que se sobrepõem à vontade dos interessados e integram
a contratação por imperativo legal. Em outro prisma, no multicitado e histórico julgamento da ADI 493,
Relator Ministro Moreira Alves, realizado em 1992, o Plenário do STF já apontava ser a TR índice
inadequado para correção monetária, estabelecendo balizas para o alcance até mesmo de lei de ordem
pública (cogente) nos efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela (retroatividade
mínima). Ademais, o Plenário virtual do STF, em sessão encerrada em 9 de novembro de 2019, julgando
a ADI n. 5.348, Relatora Ministra Cármen Lúcia, declarou a inconstitucionalidade do art. 1º-F da Lei n.
9.494/1997, alterado pela Lei n. 11.960/2009, que estabeleceu a aplicação da Taxa Referencial da
poupança como critério de atualização monetária nas condenações da Fazenda Pública, determinando
a utilização do IPCA-E. Com efeito, é imprestável ao fim a que se propõe benefício previdenciário de
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aposentadoria que sofra forte e ininterrupta corrosão inflacionária, a ponto de os benefícios, no tempo,
serem corroídos pela inflação. Ora, a correção monetária não é um acréscimo que se dá ao benefício de
caráter alimentar previdenciário, e a Súmula 563/STJ esclarece que o CDC é aplicável às entidades
abertas de previdência complementar. Assim, o art. 18, § 6º, III, do CDC dispõe que são impróprios ao
consumo os produtos que, por qualquer motivo, se revele inadequados ao fim a que se destinam. Já o
art. 20, § 2º, estabelece que são impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que
razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de
prestabilidade. Registre-se, por fim, que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido
mensalmente pelo IBGE, foi criado para aferir a variação de preços no comércio ao público final, com
renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos. É utilizado pelo Banco Central como índice oficial de
inflação do País, inclusive para verificar o cumprimento da meta oficial de inflação.

É CABÍVEL a aquisição de imóveis particulares situados no Setor Tradicional de


Planaltina/DF, por usucapião, ainda que pendente o processo de regularização urbanística.

REsp 1.818.564-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 09/06/2021.
(Tema 1025) – Informativo 700

TEMA: Imóvel particular desprovido de registro. Loteamento irregular. Usucapião. Possibilidade. Tema 1025.

INFORMAÇÕES: Tem-se, inicialmente, que a possibilidade de registro da sentença declaratória da usucapião


não é pressuposto ao reconhecimento do direito material em testilha, o qual se funda, essencialmente, na
posse ad usucapionem e no decurso do tempo. A propósito da questão da regularização fundiária, a doutrina
esclarece que ela compreende três dimensões: (a) a dimensão urbanística, relacionada aos investimentos
necessários para melhoria das condições de vida da população; (b) a dimensão jurídica, que diz respeito aos
instrumentos que possibilitam a aquisição da propriedade nas áreas privadas e o reconhecimento da posse
nas áreas públicas; e (c) a dimensão registrária, com o lançamento nas respectivas matrículas da aquisição
destes direitos, a fim de atribuir eficácia para todos os efeitos da vida civil. Não há, portanto, como negar o
direito à usucapião sob o pretexto de que o imóvel está inserido em loteamento irregular, porque o direito de
propriedade declarado pela sentença (dimensão jurídica) não se confunde com a certificação e publicidade
que emerge do registro (dimensão registrária) ou com a regularidade urbanística da ocupação levada a efeito
(dimensão urbanística). O reconhecimento da usucapião não impede a implementação de políticas públicas de
desenvolvimento urbano. Muito ao revés, constitui, em várias hipóteses, o primeiro passo para restabelecer a
regularidade da urbanização. No mesmo sentido, o Pleno do STF, ao julgar o RE 422.349/RS, sob a relatoria do
Ministro Dias Toffoli, fixou a tese de que preenchidos os requisitos do art. 183 da Constituição Federal, o
reconhecimento do direito à usucapião especial urbana não pode ser obstado por legislação
infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos na respectiva área em que situado o imóvel (dimensão
do lote). Admitindo-se que aquele não era o único imóvel da região com metragem inferior ao módulo
mínimo legal, parece razoável sustentar que o STF, ao fim e ao cabo, reconheceu a possibilidade de usucapião
de glebas inseridas em loteamentos não regularizados. Nesse contexto, é preciso ter em mente que Poder
Público não faz favor nenhum quando promove a regularização de áreas ocupadas irregularmente. Muito pelo
contrário, limita-se a desempenhar uma obrigação que lhe foi expressamente confiada pela CF. Admitindo-se
que a regularização fundiária concorre para a segurança, saúde e bem estar da população e, bem assim, que
esses são deveres essenciais do Estado, nada mais lógico do que concluir que a Administração Pública tem o
dever de promover a regularização fundiária. Não parece acertado assumir como linha de princípio que que as
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ocupações irregulares do solo atentem, todas elas, contra o interesse público. Muito ao revés, o que atenta
contra o interesse público é a inércia do Estado em promover e disciplinar a ocupação do solo. No caso, essa
omissão estatal é mais do que flagrante. A ocupação da área está sedimentada há décadas e contou com a
anuência implícita do Poder Público, que fingiu não ter visto nada, tolerou durante todos esses anos e ainda
providenciou a instalação de vários serviços e equipamentos públicos, como pavimentação de ruas,
iluminação pública, linhas de ônibus, praça pública, posto do DETRAN; etc. Não por outro motivo, a região é
conhecida como Setor Tradicional de Planaltina, o que bem denota a idade do parcelamento do solo.

Em ação civil pública proposta por associação, na condição de substituta processual,


possuem legitimidade para a liquidação e execução da sentença todos os beneficiados pela
procedência do pedido, independentemente de serem filiados à associação promovente.

REsp 1.438.263/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por maioria quanto à redação da tese,
julgado em 24/03/2021 (Tema 948).

TEMA: Legitimidade do não associado para a execução da sentença. Ação civil pública manejada por
associação na condição de substituta processual. Representação prevista no art. 5º, XXI, da Constituição
Federal. Tema 948.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia acerca da legitimidade daquele que não seja filiado à associação
autora para a execução da sentença proferida em ação civil pública . A atuação das associações em
processos coletivos pode se verificar de duas maneiras: (a) por meio da ação coletiva ordinária, hipótese de
representação processual, com base no permissivo contido no artigo 5º, inciso XXI, da CF/1988; ou (b) ou na
ação civil pública, agindo a associação nos moldes da substituição processual prevista no Código de Defesa
do Consumidor e na Lei da Ação Civil Pública. Esta Corte, a partir deste julgamento, firma o entendimento de
que todos os substituídos numa ação civil pública que tem por objeto a tutela de um direito individual
homogêneo, possuem legitimidade para liquidação e execução da sentença, e que esses substituídos
são todos aqueles interessados determináveis que se unem por uma mesma situação de fato. Vale
destacar que os direitos individuais homogêneos (art. 81, parágrafo único, III do CDC) são direitos
subjetivos individuais tutelados coletivamente em razão de decorrerem de uma mesma origem, resultam "não
de uma contingência imposta pela natureza do direito tutelado, e sim de uma opção política legislativa, na
busca de mecanismos que potencializem a eficácia da prestação jurisdicional". Também é certo que a coisa
julgada formada nas ações coletivas fundadas em direitos individuais homogêneos é estabelecida pela
legislação (art. 103, III, do CDC), portanto, proposta uma ação coletiva fundada em direitos individuais
homogêneos, já se sabe que a sentença irá formar coisa julgada pro et contra em relação aos legitimados
coletivos, enquanto terá efeitos erga omnes no caso de procedência do pedido (secundum eventum litis).
Importante, ademais, ressaltar que a sentença de uma ação coletiva fundada em direitos individuais
homogêneos será sempre genérica, fixando apenas a responsabilidade do réu pelos danos causados
(art. 95, do CDC). Sendo assim, a partir da disciplina já existente, o mérito deste julgamento pelo rito especial
é dizer, em complemento, que aqueles a quem os comandos da sentença condenatória se estenderem são
legitimados para promoção da execução da decisão judicial, filiados ou não à associação que promoveu a
ação civil em substituição. (Informativo n. 694)
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a) "A disponibilização de equipamentos em quarto de hotel, motel ou afins para a


transmissão de obras musicais, literomusicais e audiovisuais permite a cobrança de direitos
autorais pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD". b) "A contratação
por empreendimento hoteleiro de serviços de TV por assinatura não impede a cobrança de
direitos autorais pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD, inexistindo
bis in idem".

REsp 1.870.771/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
24/03/2021 (Tema 1066)

TEMA: ECAD. Direitos autorais. Aparelhos (rádio e televisão) em quartos de hotel, motel e afins. Transmissão
de obras musicais, literomusicais e audiovisuais. Leis n. 9.610/1998 e 11.771/2008. Compatibilidade. TV por
assinatura. Bis in idem não configurado. Tema 1066.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia acerca da possibilidade de cobrança pelo Escritório Central de


Arrecadação e Distribuição - ECAD de direitos autorais por utilização de obras musicais e audiovisuais,
inclusive de TV por assinatura, em quarto de hotel, de motel e afins. Após muitos debates, com oscilações
nos entendimentos adotados em diversos julgamentos, a Segunda Seção firmou orientação no sentido de ser
devido o pagamento de direitos autorais envolvendo sonorização nos quartos dos hóspedes, levando em
consideração precisamente o flagrante incremento na lucratividade da empresa hoteleira, vinculada ao
objetivo comercial do empreendimento. Posteriormente, também em relação aos fatos geradores ocorridos
na vigência da antiga Lei n. 5.988/1973, a Segunda Seção ajustou a jurisprudência com o propósito de
distinguir "transmissão" de "retransmissão" para efeito da cobrança de direitos autorais. Com efeito,
consolidou-se o entendimento de que não seria obrigatório o referido pagamento quando se cuidasse de
simples "transmissão" mediante aparelho receptor (v.g. TV ou rádio) instalado no aposento do hóspede. No
entanto, com a edição da Lei n. 9.610/1998, objeto de interpretação para firmar tese em recurso especial
repetitivo, os contornos do fato gerador para a cobrança de direitos autorais em quartos de hotéis,
motéis e afins foram bastante modificados, sendo desnecessário invocar lucros da empresa e distinguir
"transmissão" de "retransmissão". A atual lei é ampla, referindo-se à utilização, "por quaisquer processos,
inclusive a radiodifusão ou transmissão por qualquer modalidade", em "hotéis, motéis", sem excluir do
conceito de "locais de frequência coletiva" nenhuma parte ou cômodo específico do estabelecimento. À luz
da atual lei, portanto, são devidos direitos autorais quando disponíveis em quartos de hotel, motel ou
afim aparelhos de televisão e de rádio. Ademais, a Lei n. 11.771/2008 não é incompatível com a Lei n.
9.610/1998 nem veda a cobrança de direitos autorais pela sonorização em aposentos de clientes em
empreendimentos de hotelaria. Deste modo, a disponibilização de equipamentos em quarto de hotel, motel
ou afins para a transmissão de obras musicais, literomusicais e audiovisuais permite a cobrança de direitos
autorais pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD". Vale ressaltar a ausência de bis in idem
mesmo quando contratado pelo empreendimento hoteleiro serviço de TV por assinatura, com instalação de
televisões em ambientes de frequência coletiva do estabelecimento, incluindo os quartos dos hóspedes.
Assim, a contratação por empreendimento hoteleiro de serviços de TV por assinatura não impede a cobrança
de direitos autorais pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD, inexistindo bis in idem.
(Informativo n. 692)

2020
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Nos contratos de plano de saúde NÃO É ABUSIVA a cláusula de coparticipação


expressamente ajustada e informada ao consumidor, à razão máxima de 50% (cinquenta
por cento) do valor das despesas, nos casos de internação superior a 30 (trinta) dias por
ano, decorrente de transtornos psiquiátricos, preservada a manutenção do equilíbrio
financeiro.

REsp 1.809.486-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 09/12/2020, DJe
16/12/2020 (Tema 1032)

TEMA Plano de saúde. Cláusula de coparticipação à razão máxima de 50% (cinquenta por cento). Informação e
ajuste ao consumidor. Transtorno psiquiátrico. Internação superior a 30 (trinta) dias por ano. Abusividade
afastada. Validade. Equilíbrio financeiro. Tema 1032.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a definir se é legal ou abusiva a cláusula que impõe


coparticipação para a hipótese de internação psiquiátrica, uma modalidade de tratamento para indivíduos
acometidos por transtornos mentais, comorbidades ou dependência química, que corresponde a um serviço
de saúde de enorme relevância pública. Ao contratar um plano de saúde e despender mensalmente relevantes
valores na sua manutenção, o consumidor busca garantir, por conta própria, acesso a um direito fundamental
que, a rigor, deveria ser prestado pelo Estado de modo amplo, adequado, universal e irrestrito. Ocorre que, se
a universalização da cobertura - apesar de garantida pelo constituinte originário no artigo 198 da
Constituição Federal e considerada um dos princípios basilares das ações e serviços públicos de saúde nos
termos do artigo 7º da Lei n. 8.080/90 que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências - não é viabilizada pelo Estado no tempo e modo necessários para fazer frente às adversidades
de saúde que acometem os cidadãos, tampouco pode ser imposta de modo completo e sem limites ao setor
privado, porquanto, nos termos do artigo 199 da Constituição Federal e 4º, § 1º, da Lei n. 8.080/90, a
assistência à saúde de iniciativa privada é exercida em caráter complementar. A presente discussão
vincula-se, exatamente, às entidades privadas de assistência à saúde que, embora prestem - de modo
secundário e supletivo - serviços de utilidade pública relacionados a direito fundamental estabelecido na Carta
Constitucional, exercem, no âmbito do sistema da livre iniciativa, o seu mister com foco na obtenção de lucro
inerente à atividade exercida, ressalvadas aquelas instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos. Assim,
diferentemente do Estado, que tem o dever de prestar assistência ampla e ilimitada à população, a
iniciativa privada se obriga nos termos da legislação de regência e do contrato firmado entre as partes,
no âmbito do qual são estabelecidos os serviços a serem prestados/cobertos, bem como as limitações e
restrições de direitos. A Lei n. 9.656/98 rege os planos e seguros privados de assistência à saúde e permite
à operadora dos respectivos serviços custear, total ou parcialmente, a assistência médica, hospitalar e
odontológica de seus clientes, estabelecendo no artigo 16, inciso VIII, que os contratos, regulamentos ou
produtos colocados à disposição dos consumidores podem fixar "a franquia, os limites financeiros ou o
percentual de co-participação do consumidor ou beneficiário". Como se vê da lei de regência, os planos de
saúde podem ser coparticipativos ou não, sendo, pois, lícita a incidência da coparticipação em
determinadas despesas, desde que informado com clareza o percentual deste compartilhamento, nos
termos dos artigos 6º, inciso III e 54, §§ 3º e 4º da Lei n. 8.078/90, nos quais estabelecido que eventuais
limitações a direitos, ressalvas e restrições de cobertura, bem como estipulações e obrigações carreadas aos
consumidores devem ser redigidos de modo claro, com caracteres ostensivos e legíveis e com o devido
destaque a fim de permitir a fácil compreensão pelo consumidor. A prescrição da internação em virtude de
transtornos psiquiátricos ou doenças mentais é considerada uma medida terapêutica excepcional, a ser
15

utilizada somente quando outras formas de tratamento ambulatorial ou em consultório se mostrarem


insuficientes para a recuperação do paciente/consumidor. Diante desse contexto, em obediência aos ditames
da Lei n. 9.656/98, que admite a coparticipação de algumas despesas, e aos princípios orientadores da
internação segundo a Lei n. 10.216/2001, o Conselho Nacional de Saúde Complementar - CONSU e a Agência
Nacional de Saúde Suplementar - ANS, a fim de regulamentarem a questão, editaram diversas Resoluções
Normativas para o trato da matéria ao longo das últimas duas décadas. Consoante os ditames legais e
regulamentares acerca da questão jurídica, verifica-se que não é abusiva a cláusula de coparticipação
expressamente contratada e informada ao consumidor, limitada ao máximo de 50% do valor
contratado entre a operadora de planos privados de assistência à saúde e o respectivo prestador de
serviços de saúde, para a hipótese de internação superior a 30 (trinta) dias decorrente de transtornos
psiquiátricos, pois destinada à manutenção do equilíbrio entre as prestações e contraprestações que
envolvem a gestão dos custos dos contratos de planos privados de saúde. (Informativo n. 684)

A pretensão de cobrança de valores relativos a despesas de sobre-estadias de contêineres


(demurrage) previamente estabelecidos em contrato de transporte marítimo (unimodal)
prescreve em 5 (cinco) anos, a teor do que dispõe o art. 206, § 5º, inciso I, do Código Civil
de 2002.

REsp 1.819.826-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
28/10/2020, DJe 03/11/2020 (Tema 1035)

TEMA Ação de cobrança por sobre-estadia de contêineres. Transporte marítimo. Unimodal. Despesas de
sobre-estadia. Previsão contratual. Prazo prescricional. Art. 206, §5º, inciso I, do Código Civil. Tema 1035.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a definir qual o prazo prescricional para a pretensão de cobrança de
despesas de sobreestadia de contêineres (demurrage) em contrato de transporte marítimo após a vigência do
Código de Civil de 2002.O advento do Código Civil de 2002 é marco temporal de significativa importância
para a questão porque até então prevalecia na jurisprudência pátria a orientação (firmada por esta Corte
Superior a partir do julgamento do REsp no 176.903/PR - cujo acórdão foi publicado no DJ de 9/4/2001) de
que a devolução tardia da unidade de carga (contêiner) se equiparava à sobre-estadia do navio, aplicando-se,
assim, o mesmo prazo prescricional de 1 (um) ano previsto no art. 449, 3, do Código Comercial.Faz-se
necessário aqui um breve adendo. Em 20 de fevereiro de 1998 entrou em vigor a Lei n. 9.611/1998 que, dentre
outras providências, dispôs sobre o que denominou "Transporte Multimodal de Cargas", definido como
"aquele que, regido por um único contrato, utiliza duas ou mais modalidades de transporte, desde a origem
até o destino, e é executado sob a responsabilidade única de um Operador de Transporte Multimodal" (art.
2º).A distinção entre o que se denominou ser transporte multimodal e o transporte dito unimodal, pelo menos
para fins de definição do prazo prescricional aplicável à eventual pretensão de cobrança de despesas de
sobre-estadia de contêineres, até a entrada em vigor do novo Código Civil não se fazia relevante, já que, ainda
que se admitisse a existência de demurrage no transporte multimodal, o prazo previsto para ambos os casos
necessariamente seria ânuo. No caso do transporte unimodal, por força do estabelecido pelo Código
Comercial, e no do transporte multimodal em virtude da específica regra do art. 22 da Lei n.
9.611/1998.Ocorre que o referido art. 449 do Código Comercial foi revogado expressamente pelo Código Civil
de 2002 (art. 2.045), o que ensejou a necessidade de reexame da legislação vigente para o fim de definição do
prazo prescricional a ser aplicado à pretensão de cobrança de despesas de sobre-estadia decorrentes da
tardia devolução da unidade de carga (contêiner) em contrato transporte marítimo (unimodal).Quanto ao
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eventual ajuizamento de ações fundadas no não cumprimento das responsabilidades decorrentes do


transporte multimodal, não há nenhuma dificuldade. O prazo prescricional para pretensões de tal natureza
permanece sendo de 1 (um) ano, haja vista a existência de expressa previsão legal nesse sentido (art. 22 da Lei
no 9.611/1998).A dúvida surge no tocante à sobre-estadia oriunda de contrato do chamado transporte
unimodal, ou seja, aquele realizado a partir da utilização de uma única modalidade de transporte. É
justamente essa a hipótese dos autos, sendo incontroverso que a presente ação tem como pano de fundo a
execução de contrato de transporte meramente marítimo (unimodal, portanto). Cumpre anotar, de pronto,
que a questão ora controvertida não encontra solução no art. 8º do Decreto-Lei n. 116/1967.De igual maneira,
a aplicação analógica do art. 22 da Lei n. 9.611/1998 na hipótese vertente, ainda que se afirme patente a
similitude de algumas das atividades desempenhadas em transporte unimodal e multimodal, afigura-se
absolutamente incabível, pois não se coaduna com os princípios gerais que regem o Direito Civil brasileiro,
além de constituir verdadeiro atentado à segurança jurídica, cuja preservação se espera desta Corte
Superior.Vale destacar que, no caso do transporte unimodal (marítimo), a responsabilidade do transportador é
restrita ao percurso marítimo, que se inicia após o recebimento da carga a bordo do navio no porto de
origem, cessando imediatamente após o içamento das cargas e o consequente desembarque no porto de
destino. Ou seja, os demais serviços e atos correlatos, tais como desembaraço aduaneiro, transporte,
desunitização dos contêineres etc. são de exclusiva responsabilidade do afretador e, por tal motivo, a demora
na conclusão desse procedimento pode resultar em demasiado atraso na devolução dos contêineres
utilizados no transporte da carga ao transportador.Em outras palavras, em nenhum momento a unidade de
carga deixa de estar sob a posse e o controle do operador de transporte multimodal, sendo descabido falar,
em caso tal, na existência de responsabilidade do contratante por suposta sobre-estadia de contêineres.Além
da dessemelhança das situações em apreço, certo é que, em se tratando de regras jurídicas acerca de prazos
prescricionais, a interpretação analógica ou extensiva nem sequer é admitida pelo ordenamento jurídico
brasileiro.A própria inteligência do caput do art. 205 do Código Civil evidencia a impossibilidade de
interpretação analógica ou extensiva de norma sobre prescrição, visto que estabelece o prazo prescricional
decenal como regra geral a ser aplicada nas hipóteses em que prazo inferior não seja expressamente fixado
por lei.Desse modo, diante da certeza de que o art. 22 da Lei n. 9.611/1998 não alcança as ações de cobrança
de despesas de sobre-estadia decorrentes da execução de contrato de transporte de cargas unimodal e de
que inexiste lei especial vigente que defina prazo prescricional específico para a referida pretensão, a matéria
deve ser regida pelas disposições insertas no Código Civil.Assim, em se tratando de transporte unimodal de
cargas, quando a taxa de sobre-estadia objeto da cobrança for oriunda de disposição contratual que
estabeleça os dados e os critérios necessários ao cálculo dos valores devidos a título de ressarcimento pelos
prejuízos causados em virtude do retorno tardio do contêiner, será quinquenal o prazo prescricional. Caso
contrário, ou seja, nas hipóteses em que inexistente prévia estipulação contratual, aplica-se a regra geral do
art. 205 do Código Civil, ocorrendo a prescrição em 10 (dez) anos. (Informativo n. 682)

2019
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Em contrato de promessa de compra e venda de imóvel na planta, no âmbito do Programa


Minha Casa, Minha Vida, para os beneficiários das faixas de renda 1,5, 2 e 3, na aquisição de
unidades autônomas em construção, o contrato deverá estabelecer, de forma clara,
expressa e inteligível, o prazo certo para a entrega do imóvel, o qual não poderá estar
vinculado à concessão do financiamento, ou a nenhum outro negócio jurídico, exceto
o acréscimo do prazo de tolerância.

REsp 1.729.593-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
25/09/2019, DJe 27/09/2019

TEMA Programa Minha Casa, Minha Vida. Beneficiários das faixas de renda 1,5, 2 e 3. Promessa de compra e
venda de imóvel em construção. Entrega do imóvel. Prazo contratual certo. Cláusula expressa, clara e
inteligível. Vinculação à concessão de financiamento. Impossibilidade. Tema 996

INFORMAÇÕES: Convém destacar, inicialmente, que as circunstâncias econômicas especiais do Programa


Minha Casa, Minha Vida - PMCMV não são benéficas apenas para os adquirentes. São elas também muito
favoráveis às empresas, que diversamente do que ocorre nas operações convencionais do SFH, passam a ter
acesso à parte do crédito tão logo ele é aprovado pelo agente financeiro, seja no início ou durante a
realização da obra, o que diminui a necessidade do uso de capital de giro da empresa. A possibilidade de
comercialização de unidades futuras, antes do início das obras, também permite à incorporadora melhor
planejamento do processo construtivo como um todo, inclusive sob o aspecto financeiro. Desse modo,
considerando o número de unidades vendidas, poderá a empresa avaliar a necessidade de contratar um
mútuo com o agente financeiro, que lhe permita entregar a construção no prazo estipulado. Essa providência,
em princípio, nem sequer lhe trará maiores ônus, uma vez que os encargos decorrentes desse tipo de
operação só começarão a ser pagos após a conclusão da obra, e com os recursos obtidos com as vendas dos
imóveis. É forçoso reconhecer que, tratando-se de contratos que regulam as relações de consumo, o aderente
só se vincula às disposições neles inseridas se lhe for dada a oportunidade de conhecimento prévio do seu
conteúdo (CDC, arts. 4º, 6º, III, 46 e 54, § 4º). Ademais, os contratos de promessa de compra e venda de
imóvel caracterizam-se como de adesão, uma vez que suas cláusulas e condições são redigidas de forma
unilateral, segundo o interesse das incorporadoras, cabendo ao aderente apenas aceitá-las ou não em seu
conjunto, o que restringe, sensivelmente, a própria autonomia da vontade. De nada adianta, por conseguinte,
a estipulação de um prazo certo e expresso, se ele for fixado de maneira apenas estimativa e condicional,
ficando vinculado, ainda, a um evento futuro, no caso, à data de obtenção do financiamento pelo adquirente
ou àquela que for determinada pelo agente financeiro no referido contrato. Isso acaba por atribuir à
incorporadora o direito de postergar a entrega da obra por prazo excessivamente longo e oneroso para o
comprador, a ponto de afastar, inclusive, o próprio risco da atividade, que pertence à empresa. Vale lembrar,
ainda, que durante o prazo regular de construção, é permitida a incidência de atualização monetária pelo
INCC (Índice Nacional da Construção Civil), bem como de juros de obra. Logo, quanto maior for o prazo
contratual para a conclusão das unidades, em consequência, maior será a exposição do consumidor à
cobrança dos referidos juros e à aplicação de correção monetária de acordo com o índice setorial, o que
redundará em situação que lhe será desfavorável, também sob o ponto de vista econômico. Por sua vez,
embora o início da construção dependa da reunião de um grupo de adquirentes, a tese a ser fixada no
presente julgamento, será aplicada apenas às faixas de renda 1,5, 2 e 3, em relação às quais as contratações
muito se assemelham às realizadas no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação. Logo, para estes
seguimentos específicos, é importante acentuar, as unidades futuras são transacionadas não apenas no início
da construção, mas também ao longo ou ao seu final, razão pela qual esse período destinado à captação dos
18

promissários compradores já faz parte do planejamento inicial do projeto como um todo, por se tratar de algo
inerente à própria natureza da negociação. Por fim, deverá ser acrescido, tão somente, o prazo de tolerância
de 180 (cento e oitenta) dias, já admitido pela jurisprudência desta Corte e agora incorporado ao nosso
sistema jurídico - para os contratos futuros - pelo art. 43-A da Lei n. 13.786/2018 (que alterou a Lei n.
4.591/1964), dentro do qual a empresa poderá superar eventuais imprevistos relacionados a fortuitos internos
como falta de mão de obra, entraves burocráticos ou fatores climáticos. (Informativo n. 657.)

Em contrato de promessa de compra e venda de imóvel na planta, no âmbito do Programa


Minha Casa, Minha Vida, para os beneficiários das faixas de renda 1,5, 2 e 3, no caso de
descumprimento do prazo para a entrega do imóvel, incluído o período de tolerância,
o prejuízo do comprador é presumido, consistente na injusta privação do uso do bem, a
ensejar o pagamento de indenização, na forma de aluguel mensal, com base no valor
locatício de imóvel assemelhado, com termo final na data da disponibilização da posse
direta ao adquirente da unidade autônoma.

REsp 1.729.593-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
25/09/2019, DJe 27/09/2019 (Tema 996)

TEMA Programa Minha Casa, Minha Vida. Beneficiários das faixas de renda 1,5, 2 e 3. Promessa de compra e
venda de imóvel em construção. Entrega do imóvel. Descumprimento do prazo. Prejuízo presumido do
comprador. Indenização na forma de aluguel mensal. Cabimento. Termo final. Data da posse direta do
adquirente. Tema 996.

INFORMAÇÕES: A Jurisprudência desta Corte entende é pacífica quanto ao cabimento de lucros cessantes, no
âmbito de financiamento pelo SFH, em razão do descumprimento do prazo para entrega do imóvel objeto do
compromisso de compra e venda, incidindo a presunção de prejuízo do promitente comprador. O fato de o
imóvel ter sido adquirido sob a disciplina do Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV não afasta a
presunção de prejuízo, mesmo porque, na linha dos precedentes desta Corte Superior, a condenação da
vendedora por lucros cessantes independe, até mesmo, da demonstração da finalidade negocial da transação.
A indenização deve corresponder, por isso, à privação injusta do uso do bem e encontra fundamento não
necessariamente na interrupção da percepção dos frutos ou pela frustração daquilo que razoavelmente
poderia lucrar, mas na própria demora pelo cumprimento da obrigação (CC, art. 389). Isso porque a moradia é
fato dotado de expressão econômica aferível, ainda que o beneficiário não tenha que, diretamente, despender
recursos para tal. Por suas peculiaridades, no âmbito do PMCMV, o prejuízo material decorrente do atraso na
entrega de imóvel está mais próximo de um dano emergente do que de lucros cessantes, embora essa
questão, todavia, não se afigure de maior relevância, dado que, sob o ponto de vista pragmático, conforme
sublinhou a Ministra Maria Isabel Gallotti, são ambos "as duas faces da mesma moeda", pois "o dano, seja em
qual dessas rubricas for classificado, será o mesmo: a privação da fruição do imóvel" (AgInt no AgRg no AREsp
n. 795.125/RJ, Quarta Turma, DJe de 19/11/2018). Insta salientar, outrossim, que nos contratos submetidos à
modalidade do PMCMV é desinfluente que o comprador fique impossibilitado de alugar ou vender o imóvel,
antes de sua quitação, nos termos do que dispõe o art. 7º-B, I e II, da Lei n. 11.977/2009, haja vista que essa
proibição tem o intuito, tão somente, de evitar eventual desvio de finalidade, uma vez que a subvenção
econômica concedida pelo Governo Federal tem por único objetivo viabilizar o acesso das famílias,
destinatárias do programa, ao primeiro imóvel. Entretanto, essa circunstância diz respeito apenas à relação
19

jurídica estabelecida entre o adquirente e o órgão estatal, não podendo, por isso, seus efeitos irradiarem para
o negócio de compra e venda celebrado com a incorporadora, que é regido por regras protetivas específicas.
Com efeito, o termo final da indenização deverá corresponder à data do recebimento da unidade pelo
adquirente, mediante a entrega das chaves, por ser o momento em que ele tem a efetiva posse do imóvel,
fazendo cessar, por conseguinte, o fato gerador do dever de reparação, salvo disposição contratual diversa,
que lhe seja mais favorável (AgInt no REsp n. 1.723.050/RJ, Relator o Ministro Lázaro Guimarães,
Desembargador Convocado do TRF 5ª Região, Quarta Turma, DJe de 26/9/2018. Ficando evidenciado,
portanto, o atraso injustificado na entrega da obra, é devido o pagamento de indenização ao comprador
desde a data fixada no contrato, a qual será acrescida apenas do prazo de tolerância, a ser calculada com base
no valor locatício de imóvel assemelhado, a ser apurado em liquidação de sentença. (Informativo n. 657.)

Em contrato de promessa de compra e venda de imóvel na planta, no âmbito do Programa


Minha Casa, Minha Vida, para os beneficiários das faixas de renda 1,5, 2 e 3, é ilícito cobrar
do adquirente juros de obra ou outro encargo equivalente, APÓS O PRAZO
AJUSTADO no contrato para a ENTREGA DAS CHAVES da unidade autônoma, incluído
o período de tolerância.

REsp 1.729.593-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
25/09/2019, DJe 27/09/2019 (Tema 996)

TEMA Programa Minha Casa, Minha Vida. Beneficiários das faixas de renda 1,5, 2 e 3. Promessa de compra e
venda de imóvel em construção. Atraso na entrega das chaves. Juros de obra ou encargo equivalente. Não
cabimento. Tema 996

INFORMAÇÕES: Na disciplina do Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV, sob a modalidade do crédito
associativo, é legal a incidência de juros de obra durante o período de construção do imóvel, cessando a sua
aplicação com a entrega da unidade, quando terá início a fase de amortização do saldo devedor do
financiamento contratado com o agente financeiro. Durante esse período, o valor a ser financiado permanece
congelado, e até que a obra seja 22 concluída o promissário comprador pagará tão somente encargos que
contemplam os juros, atualização monetária, seguro de vida e de danos ao imóvel e, se for o caso, taxa de
administração. Após a entrega do bem, inicia-se efetivamente a fase de abatimento da dívida. Todavia,
havendo atraso na entrega do empreendimento, afigura-se descabido imputar ao adquirente o ônus de arcar
com juros de evolução da obra no período de mora da ré até a efetiva entrega das chaves, uma vez que não
se pode penalizar o mutuário com referida incidência, considerando não ter sido ele quem deu causa ao
atraso. Entendimento diverso teria o efeito de postergar, de maneira injustificada, o pagamento de valores
que são próprios da fase de construção da obra, em seu período regular. Contudo, impõe-se considerar que,
superado o período de entrega das chaves, o comprador passa a ter a legítima expectativa de destinar
recursos à amortização do saldo do seu débito. Deve-se ter como norte, nessas circunstâncias, o princípio de
que quem dá causa ao inadimplemento do contrato não pode se beneficiar da situação, sob pena de o atraso
da obra poder representar a possibilidade de vantagem financeira indevida em detrimento do adquirente do
imóvel, o que seria de todo inadmissível. (Informativo n. 657.)
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Em contrato de promessa de compra e venda de imóvel na planta, no âmbito do Programa


Minha Casa, Minha Vida, para os beneficiários das faixas de renda 1,5, 2 e 3, o
descumprimento do prazo de entrega do imóvel, computado o período de tolerância,
faz cessar a incidência de correção monetária sobre o saldo devedor com base em
indexador setorial, que reflete o custo da construção civil, o qual deverá ser substituído pelo
IPCA, salvo quando este último for mais gravoso ao consumidor

REsp 1.729.593-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
25/09/2019, DJe 27/09/2019 (Tema 996)

TEMA Programa Minha Casa, Minha Vida. Beneficiários das faixas de renda 1,5, 2 e 3. Promessa de compra e
venda de imóvel em construção. Entrega do imóvel. Descumprimento do prazo. Saldo devedor. Correção
monetária. Substituição do indexador setorial pelo IPCA - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.
Possibilidade. Tema 996.

INFORMAÇÕES: Vale observar, de início, que se a construtora deixa de entregar a unidade autônoma no prazo
previsto, pode o adquirente sustar as parcelas do preço que se vencerem no mesmo prazo e em datas
posteriores a tal prestação, invocando a exceptio non adimpleti contractus, prevista no art. 476 do CC.
Contudo, a suspensão da exigibilidade das parcelas do preço não afasta a incidência da atualização monetária
sobre o saldo devedor, salvo nas hipóteses em que o mencionado atraso derivar de comprovada má-fé da
empresa. Os valores das parcelas devem ser atualizados desde a data de vencimento prevista no contrato até
o efetivo pagamento, como simples modo de preservação do valor real da moeda, sem representar, portanto,
um benefício para a parte inadimplente ou punição para o adquirente. Nesse sentido, ambas as Turmas que
integram a Segunda Seção desta Corte firmaram o entendimento de que, embora o descumprimento do
prazo de entrega do imóvel objeto do compromisso de venda e compra não constitua causa de suspensão da
incidência de correção monetária sobre o saldo devedor, tal fato autoriza a substituição do indexador setorial,
em regra, o INCC (Índice Nacional de Custo de Construção), pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo), índice oficial calculado pelo IBGE, salvo se aquele for menor. Essa solução mostra-se
adequada ao reequilíbrio da relação contratual, nos casos de atraso na conclusão da obra, não devendo ser
implementada a substituição do indexador específico do saldo devedor pelo geral apenas quando o índice
previsto contratualmente for mais favorável ao consumidor, avaliação que se dará com o transcurso da data
limite estipulada no contrato para a entrega da unidade, incluindo-se eventual prazo de tolerância. Inviável,
portanto, a tese de utilização do INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) como fator de correção
monetária, durante todo o período necessário para a finalização da unidade imobiliária, independentemente
de descumprimento do prazo para a construção. (Informativo n. 657.)

Nos compromissos de compra e venda de unidades imobiliárias anteriores à Lei n.


13.786/2018, em que é pleiteada a resolução do contrato por iniciativa do promitente
comprador de forma diversa da cláusula penal convencionada, os juros de mora incidem a
partir do trânsito em julgado da decisão.

REsp 1.740.911-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, por maioria,
julgado em 14/08/2019, DJe 22/08/2019 (Tema 1002)
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TEMA Promessa de compra e venda de unidade imobiliária. Contrato anterior à Lei n. 13.786/2018. Resolução
imotivada pelo promitente comprador. Devolução de valores pagos. Cláusula penal. Pedido de alteração.
Sentença constitutiva. Juros de mora. Termo inicial. Trânsito em julgado. Tema 1002.

INFORMAÇÕES: Nos casos em que a iniciativa da rescisão do contrato parte do consumidor, sem culpa do
fornecedor, ante a ausência de disciplina legal - até a edição da Lei n. 13.786 de 27/12/2018, a qual irá reger
futuros contratos - não há culpa (ou mora) da incorporadora que vinha cumprindo regularmente o contrato.
De acordo com o art. 32, § 2º, da Lei n. 4.591/1964, os contratos de compra e venda, promessa de venda ou
cessão de unidades autônomas foram concebidos como irretratáveis, o que deveria conferir segurança tanto
ao empreendedor quanto ao adquirente da futura unidade. Apesar de irretratável, a jurisprudência
reconheceu excepcionalmente ao promissário comprador o direito (potestativo) de exigir a rescisão do
contrato com devolução das parcelas pagas de forma imediata e em parcela única. No caso, ante a
discordância do autor com os termos do contrato vigente, ausente previsão legal a propósito do distrato e,
consequentemente, da cláusula penal pertinente, não há objeto certo na obrigação a ser constituída por força
de decisão judicial. Não há, portanto, como reconhecer como preexistente o dever de restituir valores em
desconformidade com o que fora pactuado. A pretensão é exatamente alterar a situação jurídica, com a
mudança da cláusula. Dessa forma, a sentença que substitui cláusula contratual, sob esse aspecto, tem
claramente natureza constitutiva, com efeito ex nunc, isto é, a partir da formação da nova obrigação pelo
título judicial. Assim, a parte condenatória da sentença - restituição dos valores pagos após a revisão da
cláusula penal - somente poderá ser liquidada após a modificação, pela decisão judicial, da cláusula
questionada. Em consequência, os juros de mora relativos à restituição das parcelas pagas devem incidir a
partir da data do trânsito em julgado da decisão, porquanto inexiste mora anterior do promitente vendedor.
(Informativo n. 654.)

A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da


obrigação, e, em regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua
cumulação com lucros cessantes.

REsp 1.498.484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por maioria, julgado em 22/05/2019, DJe
25/06/2019 (Tema 970)

TEMA Compra e venda de imóvel na planta. Atraso na entrega. Negócio jurídico anterior à Lei n. 13.786/2018.
Não incidência. Contrato de adesão. Cláusula penal moratória. Cumulação com lucros cessantes. Inviabilidade.
Tema 970

INFORMAÇÕES: Inicialmente cumpre salientar que a Lei n. 13.786/2018 não será aplicada para a solução dos
casos em julgamento, de modo a trazer segurança e evitar que os jurisdicionados que firmaram contratos
anteriores sejam surpreendidos, ao arrepio do direito adquirido e do ato jurídico perfeito. A controvérsia
consiste em saber se é possível a cumulação de indenização por lucros cessantes com a cláusula penal
moratória, nos casos de inadimplemento (relativo) do vendedor, em virtude do atraso na entrega de imóvel
em construção objeto de contrato ou promessa de compra e venda. A interpretação dos arts. 389, 394 e 487
do CC deixa nítido que, não cumprida a obrigação no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção
estabelecer, a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir, se ainda lhe for útil, o cumprimento da
obrigação principal, indenização por perdas 24 e danos, mais juros de mora, atualização monetária e, se
necessário o ajuizamento de ação e honorários advocatícios. A um só tempo, consagrando o princípio da
reparação integral dos danos e prevenindo o enriquecimento sem causa do lesionado pela mora, o art. 402 do
22

CC estabelece que as perdas e danos devidos ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o
que razoavelmente deixou de lucrar. Registre-se, nesse sentido, que a natureza da cláusula penal moratória é
eminentemente reparatória, ostentando, reflexamente, função dissuasória. A reparação civil como também a
punição, ostentam função dissuasória. A dissuasória, no âmbito da responsabilidade civil (contratual ou
extracontratual), diferencia-se da meramente punitiva por buscar dissuadir condutas futuras mediante
reparação/compensação dos danos individuais. Tanto é assim que o art. 412 do CC/2002, em linha com as
mais modernas legislações que se extraem do direito comparado e com a natureza meramente reparatória da
cláusula penal moratória, estabelece, prevenindo o enriquecimento sem causa do lesionado, que o valor da
cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal. Já o art. 413 do diploma
civilista, com o mesmo intento de claramente conferir caráter reparatório, e não punitivo, da cláusula penal,
dispõe que a penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido
cumprida em parte ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo em vista a natureza
e a finalidade do negócio. Ademais, a doutrina amplamente majoritária anota a natureza eminentemente
indenizatória da cláusula penal moratória quando fixada de maneira adequada. Diante desse cenário, havendo
cláusula penal no sentido de prefixar, em patamar razoável, a indenização, não cabe a cumulação posterior
com lucros cessantes. (Informativo n. 651.)

2018

Tese aplicável a todo contrato de mútuo feneratício celebrado com instituição financeira
mutuante: "Descabimento da repetição do indébito com os mesmos encargos do contrato".

REsp 1.552.434-GO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
13/06/2018, DJe 21/06/2018 (Tema 968)

TEMA Negócios jurídicos bancários. Mútuo feneratício. Repetição de indébito. Juros remuneratórios.
Restituição pela mesma taxa pactuada no contrato. Descabimento. Tema 968/STJ.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, considerando a preocupação acerca do enriquecimento ilícito da instituição


financeira, a doutrina vem estudando o problema da repetição de indébito decorrente de mútuo feneratício
celebrado com instituição financeira sob a ótica do tema do "lucro da intervenção", que é o "lucro obtido por
aquele que, sem autorização, interfere nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa e que decorre
justamente desta intervenção". Esse lucro também pode ser vislumbrado na hipótese da presente afetação,
pois, como os bancos praticam taxas de juros bem mais altas do que a taxa legal, a instituição financeira acaba
auferindo vantagem dessa diferença de taxas, mesmo restituindo o indébito à taxa legal. Nesse sentido, a
instituição financeira teria que ser condenada não somente a reparar o dano causado ao mutuário, mas
também a restituir o lucro que obteve com a cláusula abusiva. Por um lado, o lucro da intervenção é um plus
em relação à indenização, no sentido de que esta encontra limite na extensão dos danos experimentados pela
vítima (função indenitária do princípio da reparação integral), ao passo que o lucro da intervenção pode
extrapolar esse limite. Por outro lado, o referido lucro é um minus em relação ao punitive damage, uma vez
que este, tendo simultaneamente funções punitiva e preventiva, não está limitado ao lucro ou ao dano.
Propõe-se, no presente repetitivo, uma tese menos abrangente, apenas para eliminar a possibilidade de se
determinar a repetição com base nos mesmos encargos praticados pela instituição financeira, pois esses
encargos não correspondem ao dano experimentado pela vítima, tampouco ao lucro auferido pelo ofensor.
(Informativo n. 628.)
23

As operadoras de plano de saúde não estão obrigadas a fornecer medicamento não


registrado pela ANVISA.

REsp 1.712.163-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 08/11/2018, DJe
26/11/2018 (Tema 990)

TEMA Plano de saúde. Fornecimento de medicamento não registrado pela ANVISA. Obrigatoriedade.
Ausência. (Tema 990)

INFORMAÇÕES: Inicialmente, cumpre destacar que a Lei n. 6.360/1976 estabelece que estão sujeitos às
normas de vigilância sanitária os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos (art. 1º) e
que nenhum dos produtos de que trata esta Lei, inclusive os importados, poderá ser industrializado, exposto à
venda ou entregue ao consumo antes de registrado no Ministério da Saúde (art. 12). Além disso, o art. 16
desta lei prevê os requisitos específicos que devem ser efetivamente atendidos para o registro de drogas,
medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, dentre eles, que o produto, através de comprovação
científica e de análise, seja reconhecido como seguro e eficaz para o uso a que se propõe e possua a
identidade, atividade, qualidade, pureza e inocuidade necessárias (inciso II). Nessa mesma linha, o Supremo
Tribunal Federal já se manifestou na defesa da indispensabilidade do referido registro pela ANVISA, nos
termos do voto condutor do acórdão proferido no julgamento do Agravo Regimental na Suspensão de Tutela
Antecipada n. 175/CE, Relator o Ministro Gilmar Mendes, após colheita de elementos sobre o tema da saúde
em audiência pública. Cumpre salientar que a obrigatoriedade do registro é essencial à garantia à saúde
pública, tendo em conta que tal medida é fundamental para atestar a segurança e a eficácia do medicamento,
dever este que recai sobre o Estado. Logo, não é possível o Judiciário impor às operadoras de plano de saúde
que realizem ato tipificado como infração de natureza sanitária, pois isso implicaria manifesta vulneração do
princípio da legalidade previsto constitucionalmente (REsp n. 874.976/MT, Rel. Ministro João Otávio de
Noronha, Quarta Turma, DJe 14/12/2009). Dessa forma, é exigência legal ao fornecimento de medicamento a
prévia existência de registro pela ANVISA ou autorização dela. (Informativo n. 638.)

Nos planos de saúde coletivos custeados exclusivamente pelo empregador não há


direito de permanência do ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa
como beneficiário, salvo disposição contrária expressa prevista em contrato ou em
acordo/convenção coletiva de trabalho, não caracterizando contribuição o pagamento
apenas de coparticipação, tampouco se enquadrando como salário indireto.

REsp 1.680.318-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
22/08/2018, DJe 24/08/2018 (Tema 989)

TEMA Plano de saúde coletivo empresarial. Contribuição exclusiva do empregador. Ex-empregado aposentado
ou demitido sem justa causa. Assistência médica. Manutenção. Não cabimento. Previsão em negociação
coletiva. Excepcionalidade. Coparticipação do usuário. Irrelevância. Salário indireto. Descaracterização. Tema
989.
24

INFORMAÇÕES: A questão controvertida na presente via recursal consiste em definir se o ex-empregado


aposentado ou demitido sem justa causa faz jus à manutenção no plano de saúde coletivo empresarial
quando, na atividade, a contribuição foi suportada apenas pela empresa empregadora. Como cediço, é
assegurado ao trabalhador demitido sem justa causa ou ao aposentado que contribuiu para o plano de saúde
em decorrência do vínculo empregatício o direito de manutenção como beneficiário nas mesmas condições
de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu
pagamento integral (arts. 30 e 31 da Lei n. 9.656/1998). Extrai-se, assim, que uma das condições exigidas para
a aquisição desse direito é o empregado contribuir, na atividade, para o custeio do plano de saúde, não
podendo ser considerados para tanto os pagamentos a título exclusivo de coparticipação. Com efeito, nos
termos do art. 30, § 6º, da Lei n. 9.656/1998, não é considerada contribuição a coparticipação do consumidor,
única e exclusivamente, em procedimentos, como fator de moderação, na utilização dos serviços de
assistência médica ou hospitalar, como ocorre nos planos coletivos custeados integralmente pela empresa.
Desse modo, contribuir para o plano de saúde significa, nos termos da lei, pagar uma mensalidade,
independentemente de se estar usufruindo dos serviços de assistência médica. A coparticipação, por sua vez,
é um fator de moderação, previsto em alguns contratos, que consiste no valor cobrado do consumidor apenas
quando utilizar o plano de saúde, possuindo, por isso mesmo, valor variável, a depender do evento sucedido.
Sua função, portanto, é a de desestimular o uso desenfreado dos serviços da saúde suplementar. Ademais,
quanto à caracterização como salário indireto do plano de assistência médica, hospitalar e odontológica
concedido pelo empregador, o art. 458, § 2º, IV, da CLT é expresso em dispor que esse benefício não possui
índole salarial, sejam os serviços prestados diretamente pela empresa ou por determinada operadora.
Efetivamente, o plano de saúde fornecido pela empresa empregadora, mesmo a título gratuito, não possui
natureza retributiva, não constituindo salário-utilidade (salário in natura), sobretudo por não ser
contraprestação ao trabalho. Ao contrário, referida vantagem apenas possui natureza preventiva e assistencial,
send uma alternativa às graves deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS), obrigação do Estado.
(Informativo n. 632.)
25

Teses definidas para os fins do art. 1.036 do CPC/2015: a) a concessão do benefício de


previdência complementar tem como pressuposto a prévia formação de reserva
matemática, de forma a evitar o desequilíbrio atuarial dos planos. Em tais condições,
quando já concedido o benefício de complementação de aposentadoria por entidade
fechada de previdência privada, é inviável a inclusão dos reflexos das verbas remuneratórias
(horas extras) reconhecidas pela Justiça do Trabalho nos cálculos da renda mensal inicial
dos benefícios de complementação de aposentadoria; b) os eventuais prejuízos causados
ao participante ou ao assistido que não puderam contribuir ao fundo na época apropriada
ante o ato ilícito do empregador poderão ser reparados por meio de ação judicial a ser
proposta contra a empresa ex-empregadora na Justiça do Trabalho; c) modulação dos
efeitos da decisão (art. 927, § 3º, do CPC/2015): nas demandas ajuizadas na Justiça comum
até a data do presente julgamento - se ainda for útil ao participante ou assistido, conforme
as peculiaridades da causa -, admite-se a inclusão dos reflexos de verbas remuneratórias
(horas extras), reconhecidas pela Justiça do Trabalho, nos cálculos da renda mensal inicial
dos benefícios de complementação de aposentadoria, condicionada à previsão
regulamentar (expressa ou implícita) e à recomposição prévia e integral das reservas
matemáticas com o aporte de valor a ser apurado por estudo técnico atuarial em cada caso;
d) nas reclamações trabalhistas em que o ex-empregador tiver sido condenado a recompor
a reserva matemática, e sendo inviável a revisão da renda mensal inicial da aposentadoria
complementar, os valores correspondentes a tal recomposição devem ser entregues ao
participante ou assistido a título de reparação, evitando-se, igualmente, o enriquecimento
sem causa da entidade fechada de previdência complementar.

REsp 1.312.736-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
08/08/2018, DJe 16/08/2018 (Tema 955)

TEMA Previdência Privada Fechada. Horas extraordinárias habituais. Incorporação ao salário. Reconhecimento
pela Justiça trabalhista. Inclusão nos cálculos de proventos de complementação de aposentadoria.
Impossibilidade. Ausência de prévio custeio. Eventual prejuízo do participante. Ação própria na Justiça do
Trabalho. Modulação dos efeitos da decisão. Possibilidade de recálculo do benefício em ações já ajuizadas.
Tema 955.

INFORMAÇÕES: A questão controvertida consiste em definir se é possível incluir, nos cálculos dos proventos
de complementação de aposentadoria pagos por entidade fechada de previdência privada, as horas
extraordinárias habituais incorporadas por decisão da justiça trabalhista à remuneração do participante de
plano de previdência complementar. Registre-se, de início, que o contrato de previdência complementar tem
suas bases firmadas no convênio de adesão entabulado entre a entidade de previdência privada e o
patrocinador, no regulamento do plano de benefícios e no estatuto da entidade que administra o plano.
Dessa forma, a relação jurídica estabelecida entre as partes envolvidas é de direito privado. Há de se ressaltar,
no entanto, que, nada obstante o caráter privado dessa modalidade contratual, os planos de benefícios
instituídos pelas entidades fechadas de previdência privada estão sujeitos a rígido regramento estatal. É o que
se infere do disposto no art. 3º da Lei Complementar n. 109/2001. Assim, devem ser respeitadas a exigência
legal de se adotar o regime de capitalização e a necessidade de manter o equilíbrio atuarial do plano de
26

benefícios. Qualquer alteração nas relações individuais entre entidade e participante que traga mudança nas
regras de custeio e de concessão de benefícios pode ter reflexo nas reservas garantidoras do plano, impondo
o equacionamento exigido pelo art. 21 da Lei Complementar n. 109/2001. A tese firmada no julgamento diz
respeito às hipóteses em que não houve pagamento das horas extras, enquanto vigente o contrato de
trabalho, tendo sido reconhecida a existência de jornada extraordinária em ação autônoma, da qual a
entidade de previdência privada não participou, quando o participante já se encontrava em fruição do
benefício suplementar. Logo, o valor respectivo não se refletiu nas contribuições vertidas pelo participante,
tampouco pela patrocinadora, e não se afigura suficiente para a recomposição que o recurso financeiro
ingresse no fundo, com o aporte de valor atualizado das contribuições, que deveriam ter sido feitas, por meio
de simples cálculo aritmético. De fato, a recomposição das reservas do plano demanda mais que um mero
encontro de contas, exigindo a elaboração de complexos cálculos atuariais baseados em análises
probabilísticas que devem retroagir ao momento em que cada aporte deixou de acontecer e na forma em que
deveria ter ocorrido, impondo um recálculo individualizado em face de um plano mutualista. Nesse contexto,
não havendo nenhum ato ilícito praticado pela entidade de previdência complementar, diante da falta de
prévio custeio e da onerosidade excessiva que representa para a coletividade dos participantes a
recomposição do fundo, as parcelas ou os valores de natureza remuneratória devidos ao ex-empregado
reconhecidos posteriormente à concessão do benefício de complementação de aposentadoria não podem
repercutir no benefício concedido, sob pena de ofender o comando normativo do art. 18, §§ 1º, 2º e 3º, da Lei
Complementar n. 109/2001 e de acarretar o desequilíbrio financeiro e atuarial do plano, pois não foram
consideradas ao se formar a prévia e necessária reserva matemática para o pagamento do benefício. Cumpre
ressaltar que a justa reparação pelo eventual prejuízo que o participante do plano de previdência
complementar tiver sofrido em decorrência de ato ilícito de responsabilidade da patrocinadora, que implicou
em benefício de complementação de aposentadoria menor do que aquele que lhe seria devido, deve ser
buscada, se possível, na via processual adequada, em ação movida contra o ex-empregador. Nada obstante,
em relação às várias ações da mesma natureza já ajuizadas contra entidades de previdência privada, é de se
reconhecer a possível inviabilidade da pretensão de reparação diretamente contra a patrocinadora, diante do
tempo decorrido entre a prolação da sentença na Justiça trabalhista e o julgamento do presente recurso
repetitivo. Assim, excepcionalmente, propõe-se admitir o recálculo do benefício, nos termos pretendidos, nas
ações da espécie propostas na Justiça comum até a data do julgamento do presente recurso repetitivo,
condicionando-se tal recálculo ao prévio e integral restabelecimento das reservas matemáticas, por meio de
aporte a ser vertido pelo participante, devendo a apuração dos valores correspondentes basear-se em estudo
técnico atuarial, conforme disciplinado no regulamento do plano. (Informativo n. 630.)

2017

A cobrança de juros capitalizados nos contratos de mútuo é permitida quando houver


expressa pactuação.

REsp 1.388.972-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 8/2/2017, DJe
13/3/2017. (Tema 953)

TEMA Contrato de mútuo. Revisão de contrato. Juros Capitalizados. Cobrança. Expressa pactuação.
Possibilidade. Recurso repetitivo.
27

INFORMAÇÕES: Um dos pontos sobre os quais há controvérsia é a legalidade da capitalização mensal e anual
de juros. É inegável que a capitalização, seja em periodicidade anual ou ainda com incidência inferior à ânua –
cuja necessidade de pactuação, aliás, é firme na jurisprudência desta Casa –, não pode ser cobrada sem que
tenham as partes contratantes, de forma prévia e tomando por base os princípios basilares dos contratos em
geral, assim acordado, pois a ninguém será dado negar o caráter essencial da vontade como elemento do
negócio jurídico, ainda que nos contratos de adesão, uma vez que a ciência prévia dos encargos estipulados
decorre da aplicação dos princípios afetos ao dirigismo contratual. De fato, sendo pacífico o entendimento de
que a capitalização inferior à anual depende de pactuação, outra não pode ser a conclusão em relação àquela
em periodicidade ânua, sob pena de ser a única modalidade (periodicidade) do encargo a incidir de maneira
automática no sistema financeiro, embora inexistente qualquer determinação legal nesse sentido, pois o
artigo 591 do Código Civil apenas permite a capitalização anual e não determina a sua aplicação
automaticamente. Impende ressaltar que, a despeito da incidência do diploma consumerista aos contratos
entabulados com instituições financeiras e a previsão na Lei n. 8.078/1990, artigo 47, de que as cláusulas
contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor, o próprio Código Civil de 2002
preleciona no artigo 423 do Código Civil que "quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou
contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente". Por estas razões, em não
havendo expressa pactuação do encargo, a sua cobrança é obstada, principalmente porque pela simples
leitura dos preceitos legais incidentes à espécie, notadamente o art. 4° do Decreto 22.626/1933 e o art. 591 do
Código Civil de 2002, é irrefutável que os dispositivos aludem a que os contratantes
permitem/assentem/autorizam/consentem/concordam com o cômputo anual dos juros. Entretanto, não
afirmam, nem sequer remota ou implicitamente, que a cobrança do encargo possa se dar automaticamente,
ou seja, não determinam que a arrecadação seja viabilizada por mera disposição legal (ope legis), pois se
assim fosse teriam os julgadores o dever de, inclusive de ofício, determinar a incidência do encargo, ainda que
ausente pedido das partes. Portanto, inegável que a presunção à qual alude o artigo 591 do Código Civil diz
respeito, tão somente, aos juros remuneratórios incidentes sobre o mútuo feneratício, ou seja, sobre aqueles
recebidos pelo mutuante como compensação pela privação do capital emprestado. Essa pressuposição, no
entanto, não é transferida para a parte final do referido dispositivo, pois a capitalização de juros é permitida
em inúmeros diplomas normativos em periodicidades distintas (mensal, semestral, anual), e não é pela
circunstância de a lei autorizar a sua cobrança que será automaticamente devida pelo tomador do
empréstimo em qualquer dessas modalidades. O legislador ordinário, atento às perspectivas atuais, procurou
tratar o mútuo de forma substancialmente renovada - no Código Civil de 1916 o contrato de empréstimo era,
em regra, gratuito, sendo a sua onerosidade excepcional -, hoje, os juros 22 presumem-se devidos se o mútuo
tiver destinação e finalidade econômica, podendo referir-se tanto a suprimento de dinheiro como de coisas
fungíveis. Não ousou o legislador proibir que as partes convencionassem a não incidência de juros se assim
expressamente acordassem. Ora, se a norma não obrigou/determinou, mas apenas presumiu (salvo
estipulação em contrário) a incidência de juros, inviável estender essa assertiva para a periodicidade deste
encargo. Certamente, seria um contrassenso admitir que as partes expressamente ajustassem a não incidência
de juros (contrato gratuito) mas a lei determinasse/impusesse a cobrança da capitalização de juros, ainda que
na periodicidade anual. Isto porque, o direito de livre contratar é expressão maior do ideário burguês pós-
revolucionário e constitui um princípio vinculado à noção de liberdade e igualdade presente na Declaração
Universal dos Direitos do Homem. À pessoa humana, enquanto ser dotado de personalidade e como cidadão
livre, é dado pactuar nas condições que julgar adequadas, contratando como, com quem e o que desejar,
inclusive dispondo sobre cláusulas, firmando o conteúdo do contrato e criando, em dadas vezes, novas
modalidades contratuais (contratos atípicos). Além do princípio da autonomia da vontade, a boa-fé contratual,
vinculada ao dever de informar - principalmente nos contratos bancários sobre os quais é inegável a
incidência do Código de Defesa do Consumidor (Súmula n. 297/STJ) -, constitui um dos pilares do contrato,
28

verdadeiro elemento norteador do negócio jurídico. Nesse sentido, o contrato deve retratar uma situação de
coordenação, jamais uma relação de subordinação entre as partes, mormente quando o ordenamento jurídico
normativo não impõe a contratação de juros sobre juros, tampouco categoricamente afirma posição
imperativa quanto a sua contratação. (Informativo n. 599)

O prazo prescricional para as ações de repetição de indébito relativo às tarifas de serviços


de água e esgoto cobradas indevidamente é de: (a) 20 (vinte) anos, na forma do art. 177 do
Código Civil de 1916; ou (b) 10 (dez) anos, tal como previsto no art. 205 do Código Civil de
2002, observando-se a regra de direito intertemporal, estabelecida no art. 2.028 do Código
Civil de 2002.

REsp 1.532.514-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 10/5/2017, DJe
17/5/2017. (Tema 932)

TEMA Serviço de água e esgoto. Cobrança indevida. Ação de repetição de indébito de tarifas. Aplicação do
prazo prescricional decenal. Art. 205 do CC/2002.

INFORMAÇÕES: A controvérsia submetida ao rito dos recursos repetitivos, entre outras, consiste em definir o
prazo prescricional a ser aplicado às pretensões de repetição de indébito lastreadas na cobrança indevida de
tarifas relativas aos serviços de água e esgoto. Sobre o tema, o STJ firmou orientação de que o prazo
prescricional para o ressarcimento por cobrança indevida, na situação em exame, é de 10 (dez) anos,
conforme decidido no REsp 1.113.403-RJ, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe 15/9/2009. Cabe ressaltar que a
tese adotada tem como base a não existência de norma específica a reger a hipótese. É norma supletiva do
Código Civil, que assim dispõe: Art. 205. A prescrição ocorre em 10 (dez) anos, quando a lei não lhe haja
fixado prazo menor. Sendo assim, a discussão acerca da cobrança indevida de valores constantes de relação
contratual e eventual repetição de indébito não se enquadra na hipótese de pretensão de ressarcimento por
enriquecimento sem causa, disposta no art. 206, § 3º, IV, do Código Civil, seja porque a causa jurídica, em
princípio, existe (relação contratual prévia em que se debate a legitimidade da cobrança), seja porque a ação
de repetição de indébito é ação específica. Observa-se, por fim, que os mesmos pressupostos para incidência
do prazo vintenário, sob a vigência do Código Civil de 1916, operam-se, igualmente, para a aplicação do
prazo decenal, já sob a égide do Código Civil de 2002. É que não há qualquer alteração, na essência, do
instituto da prescrição disposto nestas situações, a não ser o próprio lapso temporal, o qual foi reduzido de 20
(vinte) para 10 (dez) anos. (Informativo n. 603)

Na vigência do Código Civil de 2002, é quinquenal o prazo prescricional para que o


condomínio geral ou edilício (vertical ou horizontal) exercite a pretensão de cobrança de
taxa condominial ordinária ou extraordinária, constante em instrumento público ou
particular, a contar do dia seguinte ao vencimento da prestação.

REsp 1.483.930-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 23/11/2016, DJe 1/2/2017.
(Tema 949)
29

TEMA Cobrança de taxas condominiais. Dívidas líquidas previamente estabelecidas em deliberações de


assembleias gerais constantes das respectivas atas. Prazo prescricional.

INFORMAÇÕES: A questão controvertida consiste em saber, na vigência do CC/2002, o prazo prescricional


para a cobrança de dívidas condominiais ordinárias e extraordinárias. À luz do CC/2002, não cabe a aplicação
do prazo geral e residual do art. 205, pois o art. 206, § 5º, I, ao dispor que prescreve em 5 (cinco) anos "a
pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular", amolda-se ao
caso. Nesse passo, o novo CPC, ao estabelecer, no art. 784, X, que são títulos executivos extrajudiciais o
crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio, previstas na respectiva
convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas, corrobora o
entendimento firmado no âmbito do STJ de que se cuida de obrigação líquida. É dizer, conforme iterativos
julgados das duas turmas de Direito Privado do STJ, "[a] pretensão de cobrança de cotas condominiais, por
serem líquidas desde sua definição em assembleia geral de condôminos, bem como lastreadas em
documentos físicos, adequa-se com perfeição à previsão do art. 206, § 5º, inc. I, do CC/2002, razão pela qual
se aplica o prazo prescricional 25 quinquenal". (AgRg no REsp 1.454.743-PR, Quarta Turma, DJe 26/11/2014).
Consoante os precedentes que se formaram nesta Corte Superior, o art. 206, § 5º, inc. I, do CC/2002, com
clareza, exige "apenas" que a dívida seja líquida, constante de instrumento particular ou público, que, pois,
demonstre-a. E não, necessariamente, que tenha sido contraída em um desses instrumentos. O fato de o
dever de pagar taxa condominial decorrer da lei, e não de negócio jurídico, é impertinente para a solução da
questão, pois, como visto, o dispositivo não estabelece esse critério. A taxa condominial é débito previamente
deliberado em assembleia geral - constante e definido, pois, na respectiva ata, que, consoante propugnam a
doutrina e a jurisprudência, tem de instruir a exordial da ação para a comprovação do débito cobrado e a
garantia do contraditório ao devedor. Ademais, o prazo para a perda da pretensão – tema de direito material
– não deve ser definido pelo instrumento processual utilizado pelo condomínio. Por ocasião do julgamento do
REsp 1.101.412-SP (sob o rito do art. 543-C do CPC/1973), sufragando a mesma tese consubstanciada na
Súmula n. 503/STJ, foi expressamente ressalvado que é fora de dúvida que não é o tipo de ação – de
conhecimento em sua pureza ou monitória – utilizada pelo credor, que define o prazo prescricional para a
perda da pretensão. Nesse sentido, menciona-se recente precedente da Quarta Turma do STJ (AgInt no REsp
1.452.757-SP, Quarta Turma, DJe 18/10/2016). (Informativo n. 596)

A pretensão de repetição de indébito de contrato de cédula de crédito rural prescreve no


prazo de vinte anos, sob a égide do art. 177 do Código Civil de 1916, e de três anos, sob o
amparo do art. 206, § 3º, IV, do Código Civil de 2002, observada a norma de transição do
art. 2.028 desse último Diploma Legal.

REsp 1.361.730-RS, Rel. Min. Raul Araújo, Segunda Seção, por maioria, julgado em 10/8/2016, DJe 28/10/2016.

TEMA Repetição de indébito de contrato de cédula de crédito rural. Prazo prescricional. Definição. Recurso
repetitivo. Tema 919.

INFORMAÇÕES: Cingiu-se a discussão, entre outras questões, a definir o prazo prescricional para o
ajuizamento de repetição de indébito em contrato de cédula de crédito rural. De fato, como a ação de
repetição de indébito cuida de direito subjetivo sem nota distintiva, apenas buscando a condenação do réu a
uma prestação, deve submeter-se ao fenômeno da prescrição, e não da decadência. Nesse mesmo sentido, a
Segunda Seção do STJ, nos julgamentos de recursos especiais representativos da controvérsia, REsp
30

1.360.969-RS (DJe 19/9/2016) e REsp 1.361.182-RS (DJe 19/9/2016), por maioria, consolidou o entendimento
de que a pretensão condenatória decorrente da declaração de nulidade de cláusula de reajuste prevista na
vigência de contratos de planos de saúde ou de seguro-saúde, observada a regra de transição do art. 2.028 do
Código Civil de 2002, prescreve em vinte anos (art. 177 do Código Civil de 1916) ou no prazo de três anos
previsto para a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa (art. 206, § 3º, IV, do atual Código
Civil). Em consonância com os votos referidos, consolidase o entendimento de que o exercício da pretensão
de ressarcimento daquilo que foi pago a maior pelo consumidor deve se sujeitar ao prazo prescricional trienal
referente à ação de ressarcimento de enriquecimento sem causa, previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC/2002.
Nessa esteira, no que tange ao enriquecimento “sem causa”, convém destacar que a ausência de causa não
diz respeito somente à inexistência de relação jurídica base entre os contratantes, mas também à falta de
motivo para o enriquecimento de somente um deles sem que o outro tenha tirado proveito de qualquer
espécie. Deveras, ainda que as partes possam estar unidas por relação jurídica mediata, se ausente a causa
jurídica imediata e específica para o aumento patrimonial exclusivo de uma das partes, estará 26 caracterizado
o enriquecimento sem causa. Logo, o aumento patrimonial indevido pode ser discutido em ação de
enriquecimento sem causa, cujo exercício está sujeito ao prazo de três anos. Por fim, saliente-se que, nas
demandas em que seja aplicável a regra de transição do art. 2.028 do Código Civil de 2002, observar-se-á o
prazo vintenário das ações pessoais, previsto no art. 177 do Código Civil de 1916, ante a ausência de regra
específica para a hipótese de enriquecimento sem causa. (Informativo n. 592)

O termo inicial da prescrição da pretensão de repetição de indébito de contrato de cédula


de crédito rural é a data da efetiva lesão, ou seja, do pagamento.

REsp 1.361.730-RS, Rel. Min. Raul Araújo, Segunda Seção, por maioria, julgado em 10/8/2016, DJe 28/10/2016.

TEMA Repetição de indébito de contrato de cédula de crédito rural. Termo inicial do prazo prescricional.
Definição. Recurso repetitivo. Tema 919.

INFORMAÇÕES: Entre outras questões abordadas no recurso representativo da controvérsia, discutiu-se o


termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de repetição de indébito em contrato de cédula de
crédito rural. Realmente, na ação de repetição de indébito, o termo inicial deve ser a data do pagamento, feito
antecipadamente ou na data do vencimento do título, porquanto não se pode repetir aquilo que ainda não foi
pago. Nesse contexto, ressalte-se que a data do vencimento, desacompanhada do pagamento, não guarda
relação com o termo inicial da pretensão reparatória, cursando, mais adequadamente, com o eventual
nascedouro da pretensão de revisão do contrato. (Informativo n. 592)

2016
31

Na vigência dos contratos de plano ou de seguro de assistência à saúde, a pretensão


condenatória decorrente da declaração de nulidade de cláusula de reajuste nele prevista
prescreve em 20 anos (art. 177 do CC/1916) ou em 3 anos (art. 206, § 3º, IV, do CC/2002),
observada a regra de transição do art. 2.028 do CC/2002.

REsp 1.361.182-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção,
julgado em 10/8/2016, DJe 19/9/2016 (Informativo n. 590).

TEMA: Direito civil. Prazo de prescrição da pretensão condenatória decorrente de nulidade de cláusula de
reajuste de plano ou seguro de assistência à saúde. Recurso repetitivo. Tema 610.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, afasta-se a prescrição anual para pretensões deduzidas em contratos de seguro
saúde, por se enquadrar como plano privado de assistência à saúde, nos termos do art. 2º da Lei n.
10.185/2001, bem como a aplicação do prazo prescricional disposto no art. 27 do CDC, haja vista não se tratar,
na espécie, de acidente de consumo. Pois bem, a locução “indevidamente auferido”, constante do art. 884 do
CC/2002, admite interpretação ampla, no sentido de albergar não só o termo causa como atribuição
patrimonial (simples deslocamento patrimonial), mas também no sentido de causa negocial (de origem
contratual, por exemplo), cuja ausência, na modalidade de enriquecimento por prestação, demandaria um
exame subjetivo, a partir da não obtenção da finalidade almejada com a prestação, hipótese que parece mais
adequada à prestação decorrente de cláusula indigitada nula (ausência de causa jurídica lícita). Sob esse
prisma, nota-se que o exame de pretensões fundadas no enriquecimento sem causa não é novidade no
âmbito da Segunda Seção, conforme se verifica em alguns julgados, proferidos em âmbito de recurso especial
repetitivo (REsp 1.220.934-RS, DJe 12/6/2013; REsp 1.249.321-RS, DJe 16/4/2013), nos quais a relação jurídica
base estabelecida entre as partes também possuía natureza contratual e a demanda visava exatamente a
declaração de nulidade de cláusula tida por abusiva, casos em que foi aplicado o prazo prescricional trienal
previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC/2002. Acrescente-se, por oportuno, que, havendo pretensão de
reconhecimento do caráter abusivo de cláusula contratual, sua invalidação tem como consequência o
desaparecimento da causa lícita do pagamento que foi efetuado a tal título, caracterizando, assim, o
enriquecimento indevido daquele que o recebeu. Estar-se-á, nessas hipóteses, diante de enriquecimento sem
causa derivado de pagamento indevido, tendo em vista que, por invalidação, no todo ou em parte, do
negócio jurídico que o embasava, o pagamento perdeu a causa que o autorizava. Provavelmente em razão
dessa lógica jurídica, é que os arts. 182 e 876 do CC/2002 disciplinam, respectivamente: “Art. 182. Anulado o
negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível
restituí-las, serão indenizadas com o equivalente [...] Art. 876. Todo aquele que recebeu o que não lhe era
devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de 7
cumprida a condição”. A respeito do tema, há julgados do STJ que, levando em consideração o
enriquecimento sem causa até mais como princípio do que como instituto, entendem que, diante da
declaração judicial de ilegalidade de cláusula contratual, torna-se cabível a devolução ou compensação dos
valores pagos a tal título, independentemente da comprovação de erro no pagamento. Diante de todas essas
ponderações, conclui-se que, em se tratando de pretensão de nulidade de cláusula de reajuste prevista em
contrato de plano ou seguro de assistência à saúde, com a consequente repetição do indébito, a ação
ajuizada está fundada no enriquecimento sem causa e, por isso, o prazo prescricional aplicável é o trienal,
previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC/2002.
32

Incide a prescrição trienal sobre a pretensão de restituição dos valores pagos a título de
comissão de corretagem ou de serviço de assistência técnico-imobiliária (SATI), ou atividade
congênere (art. 206, § 3º, IV, CC).

REsp 1.551.956-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
24/8/2016, DJe 6/9/2016 (Informativo n. 589).

TEMA: direito civil e do consumidor. Prazo prescricional da pretensão de restituição de sati. Recurso repetitivo.
Tema 938.

INFORMAÇÕES: A Segunda Seção debateu profundamente questão semelhante no julgamento do REsp


1.360.969-RS (DJe 19/9/2016), discutindo o prazo prescricional incidente sobre a pretensão de repetição do
indébito formulada por consumidor contra empresas de planos de saúde, alegando-se a abusividade de
cláusulas contratuais relativas ao reajuste de mensalidades. Após longo e profícuo debate sobre a referida
questão, prevaleceu o entendimento de ser hipótese de prescrição trienal (3 anos), aplicando-se a regra
especial do art. 206, § 3º, IV, do CC, relativa a pretensão de ressarcimento do enriquecimento sem causa.
Ademais, a jurisprudência do STJ, em precedente da Terceira Turma (REsp 1.238.737-SC, DJe 17/11/2011),
acerca de pedido de repetição do indébito formulado por consumidor alegando a cobrança indevida de
valores por fornecedor, posicionou-se nessa mesma linha. O caso ora analisado é semelhante aos precedentes
aludidos, pois a pretensão central da parte demandante é o ressarcimento das parcelas relativas à comissão
de corretagem e ao serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI), que teriam sido pagas indevidamente por
serem abusivas as cláusulas que atribuíram esse encargo aos consumidores. Ou seja, a alegação é a ocorrência
de enriquecimento sem causa como premissa fundamental da pretensão central de repetição do indébito.
Especificamente em relação ao prazo trienal, a orientação da Turma de Uniformização do TJDFT firmou-se no
seguinte sentido (AC 879.851, DJe 14/7/2015): “Uniformiza-se o entendimento de que o prazo prescricional,
nas ações que tenham por fundamento o enriquecimento sem causa, com pedido de devolução de taxa de
corretagem é de 3 (três) anos.” Enfim, mostra-se bastante razoável a alegação de incidência da prescrição
trienal aos pedidos de repetição do indébito referentes aos valores pagos a título de comissão de corretagem
ou de serviço de assistência técnico-imobiliária (SATI), com fundamento no art. 206, § 3º, IV, do CC.

Tese firmada para fins do art. 543-C do CPC/1973: 1- O tabelião, antes de intimar o devedor
por edital, deve esgotar os meios de localização, notadamente por meio do envio de
intimação por via postal, no endereço fornecido por aquele que procedeu ao apontamento
do protesto; 2- é possível, à escolha do credor, o protesto de cédula de crédito bancário
garantida por alienação fiduciária, no tabelionato em que se situa a praça de pagamento
indicada no título ou no domicílio do devedor.

REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para 10 acórdão Min. Luis Felipe Salomão,
Segunda Seção, julgado em 24/2/2016, DJe 30/3/2016 (Informativo n. 579).

TEMA: direito civil. Protesto por tabelionato de comarca diversa do domicílio do devedor e esgotamento dos
meios de localização para a intimação do devedor por edital. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc/1973 e res.
Stj n. 8/2008). Tema 921.
33

INFORMAÇÕES: De início, ressalte-se que a doutrina, à luz do ordenamento jurídico, esclarece que há
inúmeras possibilidades de o protesto ser realizado em cartório diverso do domicílio do obrigado. O próprio
art. 6º da Lei de Protesto estabelece que, tratando-se de cheque, poderá o ato ser lavrado no lugar do
pagamento ou do domicílio do emitente, não havendo dúvidas acerca da possibilidade de intimação postal
em Município diverso do tabelionato. No tocante à duplicata, há precedente da Quarta Turma, cujo
entendimento é no sentido de que o protesto pode ser tirado na praça de pagamento (REsp 1.015.152-RS,
DJe 30/10/2012). Ademais, a União, no tocante ao protesto de certidão de dívida ativa, também realiza o
protesto em cartório diverso daquele de domicílio do devedor, conforme pesquisa realizada no sítio da PFN.
Acrescente-se que, para a correta compreensão do art. 15 da Lei n. 9.492/1997, é imprescindível proceder-se a
uma interpretação sistemática, de modo a harmonizar os dispositivos do mencionado diploma, que não são
estabelecidos de modo caótico. Com efeito, não parece a melhor interpretação afirmar que o referido
dispositivo veda que o Tabelionato de Protesto envie intimação postal com aviso de recepção (AR) para quem
resida fora da competência territorial do tabelionato. É que, ao admitir-se essa interpretação, em caso de
protesto de título em que existam coobrigados residentes em domicílios diversos, o cartório só poderia
intimar por AR aquele que residisse no mesmo município do tabelionato (cabendo ressaltar que, em vista do
princípio da unitariedade, não é possível realizar dois protestos envolvendo a mesma dívida). Desse modo, a
"competência" territorial dos tabelionatos diz respeito, por exemplo, à sua própria localização para o
adequado atendimento ao público local, o recebimento de apontamentos, a realização de intimação por meio
de prepostos, bem como o protesto especial para fins falimentares – que deve ser lavrado na comarca do
principal estabelecimento do devedor –, não se afastando, em absoluto, a possibilidade de intimação por via
postal. Nessa linha de intelecção, consagrando o princípio da publicidade imanente, o art. 2º do Diploma do
Protesto estabelece que são "Os serviços concernentes ao protesto, garantidores da autenticidade,
publicidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos". Com efeito, não faz o menor sentido restringir a
possibilidade de publicidade real ao principal interessado, no tocante ao protesto. Outrossim, o art. 14
estabelece que, protocolizado o título ou documento de dívida, o Tabelião de Protesto expedirá a intimação
ao devedor, no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento, considerando-se cumprida
quando comprovada a sua entrega no mesmo endereço, ademais, o § 1º esclarece que a intimação poderá ser
feita por qualquer meio, "desde que o recebimento fique assegurado e comprovado 9 através de protocolo,
aviso de recepção (AR) ou documento equivalente". O próprio § 2º do mesmo art. 15 estabelece que “Aquele
que fornecer endereço incorreto, agindo de má-fé, responderá por perdas e danos, sem prejuízo de outras
sanções civis, administrativas ou penais”, deixando nítido o propósito de se evitar que o tabelião tenha de
promover intimação ficta, isto é, por meio de edital. A propósito, essa é a pacífica jurisprudência das duas
turmas de direito privado (AgRg no AREsp 589.602-AC, Quarta Turma, DJe 11/12/2014; e AgRg no AREsp
365.727-RS, Terceira Turma, DJe 24/10/2013). Ademais, um dos claros propósitos da lei é propiciar a solução
extrajudicial de conflitos, pois, a teor do art. 19, § 2º, cabe ao tabelião não apenas receber o montante devido,
mas também dar a respectiva quitação. Dessarte, obviamente, esse preceito só será bem atendido caso o
tabelião esgote os meios legítimos de intimação, antes de ter de lançar mão da via editalícia. Some-se que, no
que concerne à cédula de crédito bancário, impende asserir que é bem de ver que, na mesma linha do que o
ordenamento jurídico define para protesto de duplicata, nota promissória e cheque, o art. 28, parágrafo único,
do Decreto n. 2.044/1908 estabelece que o protesto pode ser tirado no lugar indicado na letra para o aceite
ou para o pagamento. Uma vez sacada ou aceita a letra para ser paga em outro domicílio que não o do
sacado, naquele domicílio deve ser tirado o protesto. É o que também assenta a doutrina especializada. Assim,
no caso em que o acordo prevê de forma genérica o pagamento na praça da sede da instituição financeira
credora, ou à sua ordem, mediante carnê de pagamento, cheques ou qualquer outra forma convencionada,
pode ser efetuado o protesto no domicílio da mesma instituição. E mais, é cada vez mais rara, atualmente, a
possibilidade de se deparar com a forma tradicional de pagamento, em que o devedor se dirigia à praça de
34

eleição para entregar ao credor certa quantia em dinheiro, mediante recibo, em pagamento da dívida. O
pagamento por meio de boleto é utilizado para quitar obrigações em geral, resultando em comodidade e
diminuindo os custos da operação, em benefício do próprio devedor. O recebimento, por meio de boleto, não
significa que houve a efetivação do pagamento no domicílio do consumidor, mas apenas que, por intermédio
da rede bancária, o credor recebeu o valor na agência e conta vinculadas ao boleto. Em suma, o pagamento é,
efetivamente, efetuado e verificado com o recebimento da quantia na agência do credor, por intermédio da
rede bancária. Nesse contexto, a credora faltaria com os deveres inerentes à boa-fé objetiva se impusesse que,
para o pagamento das prestações, tivesse o devedor de se locomover todos os meses para a praça de
pagamento – hipótese em que se poderia cogitar em violação do dever de cooperação. Tanto é assim que
entendimento doutrinário leciona que "quando se diz que a observância do critério da boa-fé, nos casos
concretos, assenta em apreciação de valores, isto é, repousa em que, na colisão de interesses, um deles há de
ter maior valor, e não em deduções lógicas, apenas se alude ao que se costuma exigir no trato dos negócios".
Ademais, faz-se necessário consignar que, como é necessário ao apontamento a protesto que o documento
tenha executividade, isto é, seja dotado de certeza, liquidez e exigibilidade, a medida é bem menos severa ao
devedor se comparada à execução do título, pois não envolve atos de agressão ao patrimônio do executado,
sendo certo que os órgãos de proteção ao crédito também fazem uso de dados de caráter público da
distribuição do Judiciário – o que, igualmente, resulta na "negativação" nos órgãos de proteção ao crédito
(REsp 1.344.352-SP, Segunda Seção, DJe 16/12/2014, julgado conforme o rito do art. 543-C do CPC/1973).

A aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança judicial de dívida já


adimplida (cominação encartada no art. 1.531 do CC/1916, reproduzida no art. 940 do
CC/2002) pode ser postulada pelo réu na própria defesa, independendo da propositura de
ação autônoma ou do manejo de reconvenção, sendo imprescindível a demonstração de
má-fé do credor.

REsp 1.111.270-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, Segunda Seção, julgado em 25/11/2015, DJe 16/2/2016 (Informativo
n. 576).

TEMA: direito civil e processual civil. Via processual adequada para se requerer sanção por cobrança judicial de
dívida já adimplida. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. Stj n. 8/2008). Tema 622.

INFORMAÇÕES: Da análise do art. 1.531 do CC/1916 (art. 940 do CC/2002), extrai-se que a existência de dívida
já paga constitui tanto defesa do réu (caracterizando objeção de ordem material), quanto fato gerador da
pretensão indenizatória a ser exercida em face do autor da demanda. Portanto, o mesmo fato gera pedidos
diversos por parte do réu. Os pedidos de improcedência da demanda e de pagamento em dobro,
consequentemente, caracterizam-se como pretensões conexas formuladas pelo réu, uma vez que são oriundas
da mesma causa de pedir (a existência de dívida já paga). Desse modo, observada a função social do Direito –
princípio estruturante do ordenamento jurídico –, não se revela razoável o rigor da exigência do manejo
simultâneo de contestação e de reconvenção (ou posterior ajuizamento de ação autônoma) para deduzir os
aludidos pedidos conexos. Outrossim, em hipóteses como esta, a parte demandada, a rigor, não está
apresentando em juízo, quando da contestação, um pedido acerca de um direito material preexistente ao
advento da ação contra si proposta, como se fosse um pleito do réu contra o autor, resultante de alguma
injunção por este último não observada, de tal modo que a referida pretensão pudesse se constituir em
objeto de uma lide própria. Pelo contrário, em episódios como este ora em evidência, o acontecimento
fundante do pleito reclamado pelo acionado somente se verifica por ocasião do surgimento da petição inicial
contra ele deflagrada. Antes disso, o requerido sequer tem condições de deduzir, de inferir que contra ele o
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autor irá pedir pecúnia já paga. Assim, o objeto ora sob mira não nasce preponderantemente da interação dos
litigantes preliminarmente à ação, mas reflete, sim, apanágio de relevância muito maior, interesse de ordem
pública, pois é o Estado que, além de não tolerar, não consentir, utiliza-se da sua força de império para
reprimir e impor pena ao litigante que pede coisa já recebida. Além disso, a pena em comento é sanção que a
lei determina à jurisdição impingir e, pois, sua cominação não está à mercê do animus dos litigantes, nem do
talante do próprio juiz, visto que resulta da lei. Ademais, dada a complementaridade entre a sanção civil em
tela e a penalidade processual por litigância de má-fé – ainda que possuam natureza jurídica distinta –
verifica-se que ambas são voltadas à punição dos demandantes que se utilizam do processo judicial para
consecução de objetivo ilegal, afigurando-se coerente a exegese no sentido da aplicação analógica da regra
disposta no caput do art. 18 do CPC (“O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante de
má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o valor da causa e a indenizar a parte contrária dos
prejuízos que esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou”). Nessa ordem de
ideias, resguardando a boa-fé nas relações 11 jurídicas e o interesse público de garantia da dignidade da
justiça, incumbirá ao juiz, inclusive de ofício, a condenação do autor (imbuído de má-fé) ao pagamento em
dobro ou do equivalente exigido a maior em virtude da conduta ilícita descrita no art. 1.531 do CC/1916 (art.
940 do CC/2002). De fato, em que pese a aludida sanção estar inserida em norma de direito material,
constata-se que sua transgressão se dá por meio de um exercício abusivo do direito de ação, assim como
ocorre em algumas das condutas tipificadas nos arts. 16 e 17 do CPC, o que autoriza a interpretação analógica
acima destacada, a despeito da diversidade dos objetos jurídicos tutelados. Por derradeiro, no que tange a
uma visão sistemática do ordenamento jurídico brasileiro, salienta-se que o réu está autorizado a formular o
chamado “pedido contraposto” no bojo da contestação. Assim ocorre no rito sumário (art. 278, §1º, do CPC),
no procedimento dos Juizados Especiais Cíveis (art. 31 da Lei n. 9.099⁄1995) e nas ações possessórias (art. 922
do CPC). Inclusive, neste último caso, admite-se que o réu, na contestação, pleiteie a indenização pelos
prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor. Essa hipótese, em razão da natureza da
pretensão deduzida, é deveras assemelhada à sanção civil do art. 1.531 do CC/1916 (art. 940 do CC/2002). Por
fim, apesar de o art. 1.532 do CC/1916 não fazer menção à demonstração de má-fé do demandante, é certo
que a jurisprudência desta Corte, na linha da exegese cristalizada na Súmula n. 159 do STF, reclama a
constatação da prática de conduta maliciosa ou reveladora do perfil de deslealdade do credor para fins de
aplicação da sanção civil em debate. Essa orientação explica-se à luz da concepção subjetiva do abuso do
direito adotada pelo Codex revogado.
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2015

Ao crédito rural cujo contrato tenha sido celebrado sob a égide do Código Civil de 1916,
aplica-se o prazo prescricional de 20 (vinte) anos (prescrição das ações pessoais – direito
pessoal de crédito), a contar da data do vencimento, consoante o disposto no art. 177 do
CC/16, para que dentro dele (observado o disposto no art. 2º, § 3º, da LEF) sejam feitos a
inscrição e o ajuizamento da respectiva execução fiscal, sem embargo da norma de
transição prevista no art. 2.028 do CC/2002; por sua vez, para o crédito rural cujo contrato
tenha sido celebrado sob a égide do Código Civil de 2002, aplica-se o prazo prescricional
de 5 (cinco) anos (prescrição da pretensão para a cobrança de dívidas líquidas constantes
de instrumento público ou particular), 11 a contar da data do vencimento, consoante o
disposto no art. 206, § 5º, I, do CC/2002, para que dentro dele (observado o disposto no art.
2º, § 3º, da LEF) sejam feitos a inscrição em dívida ativa e o ajuizamento da respectiva
execução fiscal.

REsp 1.373.292-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 22/10/2014, DJe 4/8/2015
(Informativo 565).

TEMA: Direito civil. Prazo prescricional aplicável à execução fiscal de crédito rural transferido à união. Recurso
repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 639.

INFORMAÇÕES: A controvérsia diz respeito ao prazo prescricional para o ajuizamento da execução fiscal de
dívida ativa de natureza não tributária proveniente de contratos de financiamento do setor agropecuário
(negócios jurídicos), sejam eles respaldados em Cédulas de Crédito Rural (Cédula Rural Pignoratícia, Cédula
Rural Hipotecária, Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária, Nota de Crédito Rural), sejam eles atrelados a
Contratos de Confissão de Dívidas, com garantias reais ou não, mediante escritura pública ou particular
assinada por duas testemunhas. Esses contratos foram originariamente firmados pelos devedores com
instituições financeiras e posteriormente foram adquiridos pela União por força da MP 2.196- 3/2001, tendo
sido inscritos em dívida ativa, para fins de cobrança. Posto isso, cumpre esclarecer que a União, cessionária do
crédito rural, não executa a Cédula de Crédito Rural (ação cambial), mas a dívida oriunda de contrato de
financiamento, razão pela qual pode se valer do disposto no art. 39, § 2º, da Lei 4.320/1964 e, após efetuar a
inscrição na sua dívida ativa, buscar sua satisfação por meio da Execução Fiscal (Lei 6.830/1980), não se
aplicando, portanto, o art. 70 da Lei Uniforme de Genebra (Decreto 57.663/1966), que fixa em 3 (três) anos a
prescrição do título cambial, pois a prescrição da ação cambial não fulmina o próprio crédito, que poderá ser
perseguido por outros meios, consoante o art. 60 do Decreto-Lei 167/1967, c/c art. 48 do Decreto 2.044/1908.
De igual modo, não se aplica o raciocínio adotado nos precedentes REsp 1.105.442-RJ (Primeira Seção,
julgado em 9/12/2009) e REsp 1.112.577-SP (Primeira Seção, julgado em 9/12/2009), nos quais foram julgados
casos de inscrição em dívida ativa não tributária de multa por infração administrativa, sendo que este último
culminou na edição da Súmula 467 do STJ (“Prescreve em cinco anos, contados do término do processo
administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração
ambiental”). Com efeito, esses precedentes versam sobre multa administrativa, que, por sua natureza, é
derivação própria do Poder de Império da Administração Pública. O débito em análise, por sua vez, é
proveniente de relação jurídica de Direito Privado, a qual foi realizada voluntariamente pelo particular, quando
assinou contrato de financiamento rural com recursos de fontes públicas e privadas. Ressalta-se, ainda, que os
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referidos precedentes firmaram dois pressupostos sucessivos para a aplicação do prazo prescricional
quinquenal previsto no Decreto 20.910/1932, os quais merecem a devida atenção. O primeiro deles é a
subsidiariedade, é dizer, o aludido Decreto somente se aplica de forma subsidiária, ou seja, deve ser
constatada a falta de regra específica para regular o prazo prescricional no caso concreto. O segundo é a
isonomia, ou seja, na falta de disposição expressa, a aplicação do Decreto 20.910/1932 deve ocorrer por
isonomia, de modo que uma mesma relação jurídica não enseje prazos prescricionais diversos para a
Administração e para o administrado. No presente caso, entretanto, não persiste o primeiro pressuposto, pois
existem regras específicas, já que para regular o prazo prescricional do direito pessoal de crédito albergado
pelo contrato de mútuo (“ação pessoal”) vigeu o art. 177 do CC/1916 (20 anos) e, para regular a prescrição da
pretensão para a cobrança de dívidas líquidas, encontra-se em vigor o art. 206, § 5º, I, do CC/2002 (5 anos).
Não há de se invocar, portanto, a aplicação subsidiária do Decreto 20.910/1932. De mais a mais, no que diz
respeito ao pressuposto da isonomia, sabe-se que, em se tratando de qualquer contrato de que a
Administração Pública é parte, não existe isonomia perfeita, já que todos os contratos por ela celebrados
(inclusive os de Direito Privado) sofrem as derrogações próprias das normas publicistas. Desse modo, o
regime jurídico aplicável ao crédito rural adquirido pela União sofre uma derrogação pontual inerente aos
contratos privados celebrados pela Administração Pública em razão dos procedimentos de controle financeiro,
orçamentário, contábil e de legalidade específicos a que se submete (Lei 4.320/1964). São justamente esses
controles que 12 justificam a inscrição em dívida ativa da União, a utilização da Execução Fiscal para a
cobrança do referido crédito, a possibilidade de registro no Cadastro Informativo de créditos não quitados do
setor público federal (Cadin), as restrições ao fornecimento de Certidão Negativa de Débitos e a incidência do
Decreto-Lei 1.025/1969 (encargo legal).

Na execução de sentença que reconhece o direito de poupadores aos expurgos


inflacionários decorrentes do Plano Verão (janeiro de 1989), incidem os expurgos
inflacionários posteriores a título de correção monetária plena do débito judicial, que terá
como base de cálculo o saldo existente ao tempo do referido plano econômico, e não os
valores de eventuais depósitos da época de cada plano subsequente.

REsp 1.314.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 13/5/2015, DJe 9/6/2015
(Informativo 563).

TEMA: Direito civil. Inclusão no débito judicial de expurgos inflacionários subsequentes. Recurso repetitivo (art.
543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 891.

INFORMAÇÕES: De início, cumpre diferenciar duas situações que parecem se baralhar com relativa frequência:
(i) uma é a incidência de expurgos inflacionários resultantes de planos econômicos não previstos na sentença
coletiva a valores eventualmente existentes em contas de poupança em momento posterior; (ii) outra é a
incidência, no débito judicial resultante da sentença, de expurgos inflacionários decorrentes de planos
econômicos posteriores ao período apreciado pela ação coletiva, a título de correção monetária plena da
dívida consolidada. Exemplo da primeira situação: em janeiro de 1989, um poupador detinha determinado
valor depositado em poupança e manteve a conta aberta com valores passados e/ou futuros até a atualidade;
a sentença coletiva reconhece o direito à diferença de correção monetária referente a janeiro de 1989 (Plano
Verão) e o correntista busca, na execução da sentença, a incidência de outros expurgos aos valores que foram
ou se mantiveram depositados na conta; nessa hipótese, a depender do caso concreto, certamente poderá
haver ofensa à coisa julgada com a inclusão de expurgos – posteriores à sentença –, na fase de execução. Em
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relação à segunda situação, tem-se o seguinte exemplo: em janeiro de 1989, um poupador detinha
determinado valor depositado em poupança; a sentença coletiva reconhece o direito à diferença de correção
monetária referente a janeiro de 1989 (Plano Verão); sobre esse débito certo e reconhecido (fixado conforme
o título), referente ao direito a expurgos inflacionários concretamente decididos na sentença, a parte, na fase
de execução, busca a incidência de outros expurgos referentes a planos econômicos posteriores, mas tudo a
título de correção monetária do débito reconhecido. Percebe-se que as bases de cálculo de cada situação são
bem distintas: na primeira, a base de cálculo é o saldo dos depósitos existentes à época de cada plano
econômico; na segunda, é o saldo existente em conta em janeiro de 1989, que é atualizado na fase de
execução, fazendo-se incidir os demais expurgos referentes aos planos econômicos não contemplados na
sentença. No caso em análise – situação (ii) –, observa-se que o propósito subjacente é a mera recomposição
da moeda, mediante incidência de correção monetária plena. No ponto, é de longa data a jurisprudência do
STF e do STJ no sentido de que a correção monetária não consubstancia acréscimo material ao débito
principal, mas mera recomposição do valor real em face da corrosão inflacionária de determinado período. Por
essa ótica, havendo um montante fixo já definido na sentença – dependente apenas de mero cálculo
aritmético –, não hostiliza a coisa julgada a inclusão, na fase de execução individual, de correção monetária
não contemplada na sentença . Antes, a protege, pois só assim o título permanece hígido com a passagem do
tempo em um cenário econômico no qual a inflação não é nula. Com efeito, se, para a manutenção da coisa
julgada, é necessário proceder à correção monetária plena do débito reconhecido, os expurgos inflacionários
do período de inadimplemento devem compor o cálculo, estejam ou não contemplados na sentença
exequenda.

A incidência de atualização monetária nas indenizações por morte ou invalidez do seguro


DPVAT, prevista no § 7º do art. 5º da Lei 6.194/1974, redação dada pela Lei 11.482/2007,
opera-se desde a data do evento danoso.

REsp 1.483.620-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, julgado em 27/5/2015, DJe 2/6/2015
(Informativo 563).

TEMA: Direito civil. Termo inicial da atualização monetária das indenizações relativas ao seguro dpvat.
Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 898.

INFORMAÇÕES: Com a edição da MP 340/2006, desvinculou-se a indenização do seguro DPVAT do salário


mínimo, estabelecendo-a no valor fixo de R$ 13.500,00 para os casos de invalidez ou morte. Após a conversão
da MP na Lei 11.482/2007 – dando nova redação à Lei 6.194/1974 –, surgiu controvérsia sobre a existência de
uma lacuna legislativa acerca do termo inicial da correção monetária das indenizações. Passou-se a discutir,
então, se haveria efetivamente uma lacuna legislativa ou um silêncio eloquente do legislador ou, até mesmo,
uma inconstitucionalidade por omissão. Sob o fundamento de inconstitucionalidade da MP 340/2006, foram
ajuizadas ações diretas de inconstitucionalidade (ADI) perante o STF. De outro lado, sob o argumento de
silêncio eloquente do legislador, as seguradoras interessadas passaram a se opor à pretensão de reajuste do
valor da indenização. Por sua vez, sob o fundamento da existência de lacuna legislativa, várias demandas
foram ajuizadas, pleiteando-se a sua colmatação pelo Poder Judiciário, com base no art. 4º da LINDB. Nesta
linha de intelecção, a correção monetária poderia incidir a partir da publicação da MP 340/2006, porquanto a
atualização não importaria acréscimo no valor originário. Ocorre que o STF, no julgamento da ADI 4.350-DF
(DJe 3/12/2014), rejeitou a alegação de inconstitucionalidade sob o fundamento de que a lei não contém
omissão. Desse modo, esse entendimento há de ser seguido pelo STJ, não havendo espaço para a
controvérsia estabelecida no plano infraconstitucional. Assim, deverá ser seguida a forma de atualização
monetária prevista no § 7º do art. 5º da Lei 6.194/1974, com a redação dada pela Lei 11.482/2007,
39

considerando a data do evento danoso como termo inicial da correção, na linha da jurisprudência pacificada
no STJ.

As taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não


associados ou os que a elas não anuíram.

REsp 1.280.871-SP e REsp 1.439.163-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. Marco
Buzzi, Segunda Seção, julgados em 11/3/2015, DJe 22/5/2015 (Informativo 562).

TEMA: Direito civil. Cobrança de taxa de manutenção em condomínio de fato. Recurso repetitivo (art. 543-c do
cpc e res. 8/2008-stj). Tema 882.

INFORMAÇÕES: As obrigações de ordem civil, sejam de natureza real sejam de natureza contratual,
pressupõem, como fato gerador ou pressuposto, a existência de uma lei que as exija ou de um acordo
firmado com a manifestação expressa de vontade das partes pactuantes, pois, em nosso ordenamento jurídico
positivado, há somente duas fontes de obrigações: a lei ou o contrato. Nesse contexto, não há espaço para
entender que o morador, ao gozar dos serviços organizados em condomínio de fato por associação de
moradores, aceitou tacitamente participar de sua estrutura orgânica. Com efeito, na ausência de uma
legislação que regule especificamente a matéria em análise, deve preponderar o exercício da autonomia da
vontade – a ser manifestado pelo proprietário ou, inclusive, pelo comprador de boa-fé –, emanada da própria
garantia 14 constitucional da liberdade de associação e da legalidade, uma vez que ninguém pode ser
compelido a fazer algo senão em virtude de lei. De igual modo, incabível o entendimento de que a vedação
ao enriquecimento ilícito autorizaria a cobrança pelos serviços usufruídos ou postos à disposição do dono do
imóvel inserto em loteamento, independentemente de ser ou não associado. Isso porque adotar esse
posicionamento significaria esvaziar o sentido e a finalidade da garantia fundamental e constitucional da
liberdade de associação, como bem delimitou o STF no julgamento do RE 432.106-RJ (DJe 4/11/2011),
encontrando a matéria, inclusive, afetada ao rito da repercussão geral (RG no AI 745.831-SP, DJe 29/11/2011).
De fato, a jurisprudência não pode esvaziar o comando normativo de um preceito fundamental e
constitucional em detrimento de um corolário de ordem hierárquica inferior, pois, ainda que se aceite a ideia
de colisão ou choque de princípios – liberdade associativa (art. 5º, XX, da CF) versus vedação ao
enriquecimento sem causa (art. 884 do CC) –, o relacionamento vertical entre as normas – normas
constitucionais e normas infraconstitucionais, por exemplo – deve ser apresentado, conforme a doutrina, de
tal forma que o conteúdo de sentido da norma inferior deve ser aquele que mais intensamente corresponder
ao conteúdo de sentido da norma superior. Ademais, cabe ressaltar que a associação de moradores é mera
associação civil e, consequentemente, deve respeitar os direitos e garantias individuais, aplicando-se, na
espécie, a teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Concluindo, a aquisição de imóvel situado
em loteamento fechado em data anterior à constituição da associação não pode impor a cobrança de
encargos ao adquirente que não se associou nem a ela aderiu. Igualmente, se a compra se opera em data
posterior à constituição da associação, na ausência de fonte criadora da obrigação – lei ou contrato –, é
defeso ao poder jurisdicional, apenas calcado no princípio do enriquecimento sem causa, em detrimento dos
princípios constitucionais da legalidade e da liberdade associativa, instituir um dever tácito a terceiros, pois,
ainda que se admita a colisão de princípios norteadores, prevalece, dentre eles, dada a verticalidade de
preponderância, os preceitos constitucionais, cabendo tãosomente ao STF, no âmbito da repercussão geral,
afastá-los se assim o desejar ou entender.
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A respeito da legitimidade passiva em ação de cobrança de dívidas condominiais,


firmaram-se as seguintes teses: a) o que define a responsabilidade pelo pagamento das
obrigações condominiais não é o registro do compromisso de compra e venda, mas a
relação jurídica material com o imóvel, representada pela imissão na posse pelo promissário
comprador e pela ciência inequívoca do condomínio acerca da transação; b) havendo
compromisso de compra e venda não levado a registro, a responsabilidade pelas despesas
de condomínio pode recair tanto sobre o promitente vendedor quanto sobre o promissário
comprador, dependendo das circunstâncias de cada caso concreto; e c) se ficar
comprovado (i) que o promissário comprador se imitira na posse e (ii) o condomínio teve
ciência inequívoca da transação, afasta-se a legitimidade passiva do promitente vendedor
para responder por despesas condominiais relativas a período em que a posse foi exercida
pelo promissário comprador.

REsp 1.345.331-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 8/4/2015, DJe 20/4/2015
(Informativo 560).

TEMA: Direito civil e processual civil. Legitimidade passiva em ação de cobrança de dívidas condominiais.
Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 886.

INFORMAÇÕES: De início, cumpre 15 esclarecer que as despesas condominiais, compreendidas como


obrigações propter rem, são de responsabilidade daquele que detém a qualidade de proprietário da unidade
imobiliária, ou ainda pelo titular de um dos aspectos da propriedade, tais como a posse, o gozo ou a fruição,
desde que este tenha estabelecido relação jurídica direta com o condomínio. Portanto, a responsabilidade
pelas despesas de condomínio, ante a existência de promessa de compra e venda, pode recair tanto sobre o
promissário comprador quanto sobre o promitente vendedor, a depender das circunstâncias do caso concreto
(EREsp 138.389-MG, Segunda Seção, DJ 13/9/1999), sem prejuízo, todavia, de eventual ação de regresso.
Importante esclarecer, nesse ponto, que o polo passivo da ação que objetiva o adimplemento de despesas de
condomínio não ficará à disposição do autor da demanda. Na verdade, será imprescindível aferir com quem,
de fato, foi estabelecida a relação jurídica material. Frise-se, ademais, que não há nenhuma relevância, para o
efeito de definir a responsabilidade pelas despesas condominiais, se o contrato de promessa de compra e
venda foi ou não registrado, pois, conforme assinalado, não é aquele que figura no registro como proprietário
que, necessariamente, responderá por tais encargos. Assim, ficando demonstrado que (i) o promissário
comprador se imitira na posse do bem e (ii) o condomínio tivera ciência inequívoca da transação, deve-se
afastar a legitimidade passiva do promitente vendedor para responder por despesas condominiais relativas a
período em que a posse foi exercida pelo promissário comprador (REsp 1.297.239-RJ, Terceira Turma, DJe
29/4/2014; e AgRg no AREsp 526.651-SP, Quarta Turma, DJe 11/11/2014). Por fim, ressalte-se que o CC, em
seu art. 1.345, regulou, de forma expressa, a questão ora analisada, ao dispor que “o adquirente de unidade
responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios”.
41

A pretensão de cobrança e a pretensão a diferenças de valores do seguro obrigatório


(DPVAT) prescrevem em três anos, sendo o termo inicial, no último caso, o pagamento
administrativo considerado a menor.

REsp 1.418.347-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, julgado em 8/4/2015, DJe 15/4/2015
(Informativo 559).

TEMA: Direito civil. Prazo prescricional para cobrança ou complementação de valor do seguro dpvat. Recurso
repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 883

INFORMAÇÕES: Em relação ao prazo de prescrição da ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT), cabe
ressaltar que a Segunda Seção do STJ, quando do julgamento do REsp 1.071.861-SP (DJe 21/8/2009), firmou o
entendimento de que o seguro DPVAT não perdeu a natureza de seguro obrigatório de responsabilidade civil,
de modo que o prazo de prescrição, na vigência do CC/2002, é de três anos. Posteriormente, esse
entendimento foi cristalizado na Súmula 405 do STJ: “A ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT)
prescreve em três anos”. Quanto à prescrição da ação de cobrança de diferença de valor pago a menor a título
de seguro DPVAT, o STJ consagrou o entendimento de que o prazo de prescrição para o recebimento da
complementação deve ser o mesmo prazo utilizado para o recebimento da totalidade da indenização
securitária, pois o complemento está contido na totalidade (REsp 1.220.068-MG, Quarta Turma, DJe
1º/2/2012). Assim, o prazo de prescrição para o exercício da pretensão de cobrança de diferença de
indenização paga a menor a título do seguro obrigatório DPVAT deve ser o de três anos, incidindo também
nesta hipótese a Súmula 405 do STJ. No tocante ao termo inicial do aludido prazo prescricional, cabe assinalar
que, nos termos do art. 202, VI, do CC/2002 (art. 172, V, do CC/1916), qualquer ato inequívoco, ainda que
extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor é considerado causa interruptiva da
prescrição, a exemplo do pagamento parcial. Por isso, em caso de pagamento parcial do seguro DPVAT, este
deve ser o termo inicial para a contagem do prazo prescricional relativo à pretensão ao 16 recebimento
complementar da verba indenizatória, tendo em vista o ato inequívoco da seguradora de reconhecer a
condição do postulante como beneficiário do seguro obrigatório. Nesse passo, cumpre ressaltar e distinguir
que a suspensão do prazo de prescrição se dá apenas durante a tramitação administrativa do pedido de
indenização securitária, voltando a fluir da data da ciência da recusa da seguradora (Súmula 229 do STJ). Por
outro lado, se o pleito é acolhido, há, como visto, a interrupção do lapso prescricional para se postular a
indenização integral, caso venha ela a ser paga apenas parcialmente.

Em julgamento de embargos de declaração opostos contra acórdão que julgou


representativo da controvérsia (543-C do CPC) relativo ao termo inicial do prazo
prescricional nas demandas por indenização do seguro DPVAT que envolvem invalidez
permanente da vítima, houve alteração da tese 1.2 do acórdão embargado, nos seguintes
termos: “Exceto nos casos de invalidez permanente notória, ou naqueles em que o
conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução, a ciência inequívoca do
caráter permanente da invalidez depende de laudo médico”.

EDcl no REsp 1.388.030-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, julgado em 27/8/2014, DJe
12/11/2014 (Informativo 555).
42

A análise acerca da legalidade da utilização da Tabela Price – mesmo que em abstrato –


passa, necessariamente, pela constatação da eventual capitalização de juros (ou incidência
de juros compostos, juros sobre juros ou anatocismo), que é questão de fato e não de
direito, motivo pelo qual não cabe ao STJ tal apreciação, em razão dos óbices contidos nas
Súmulas 5 e 7 do STJ; é exatamente por isso que, em contratos cuja capitalização de juros
seja vedada, é necessária a interpretação de cláusulas contratuais e a produção de prova
técnica para aferir a existência da cobrança de juros não lineares, incompatíveis, portanto,
com financiamentos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) antes
da vigência da Lei 11.977/2009, que acrescentou o art. 15-A à Lei 4.380/1964; em se
verificando que matérias de fato ou eminentemente técnicas foram tratadas como
exclusivamente de direito, reconhece-se o cerceamento, para que seja realizada a prova
pericial.

REsp 1.124.552-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 3/12/2014, DJe 2/2/2015
(Informativo 554).

TEMA: Direito civil e processual civil. Utilização da tabela price nos contratos do sfh. Recurso repetitivo (art.
543-c do cpc e res. 8/2008-stj).

INFORMAÇÕES: No âmbito do SFH, a Lei 4.380/1964, em sua redação original, não previa a possibilidade de
cobrança de juros capitalizados, vindo à luz essa permissão apenas com a edição da Lei 11.977/2009, que
acrescentou ao diploma de 1964 o art. 15-A. Daí o porquê de a jurisprudência do STJ ser tranquila em afirmar
que, antes da vigência da Lei 11.977/2009, era vedada a cobrança de juros capitalizados em qualquer
periodicidade nos contratos de mútuo celebrados no âmbito do SFH. Esse entendimento foi, inclusive,
sufragado em sede de julgamento de recurso especial repetitivo, submetido ao rito do art. 543-C do CPC, nos
seguintes termos: “Nos contratos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, é vedada a
capitalização de juros em qualquer periodicidade. Não cabe ao STJ, todavia, aferir se há capitalização de juros
com a utilização da Tabela Price, por força das Súmulas 5 e 7” (REsp 17 1.070.297-PR, Segunda Seção, DJe
18/9/2009). No referido precedente, a Segunda Seção decidiu ser matéria de fato e não de direito a possível
capitalização de juros na utilização da Tabela Price, sendo exatamente por isso que as insurgências relativas a
essa temática dirigidas ao STJ esbarram nos óbices das Súmulas 5 e 7 do STJ. A despeito disso, nota-se, ainda,
a existência de divergência sobre a capitalização de juros na Tabela Price nas instâncias ordinárias, uma vez
que os diversos tribunais de justiça das unidades federativas, somados aos regionais federais, manifestam,
cada qual, entendimentos diversos sobre a utilização do Sistema Francês de amortização de financiamentos.
Nessa linha intelectiva, não é possível que uma mesma tese jurídica – saber se a Tabela Price, por si só,
representa capitalização de juros – possa receber tratamento absolutamente distinto, a depender da unidade
da Federação ou se a jurisdição é federal ou estadual. A par disso, para solucionar a controvérsia, as “regras de
experiência comum” e as “as regras da experiência técnica” devem ceder à necessidade de “exame pericial”
(art. 335 do CPC), cabível sempre que a prova do fato “depender do conhecimento especial de técnico” (art.
420, I, do CPC). Realmente, há diversos trabalhos publicados no sentido de não haver anatocismo na utilização
da Tabela Price, porém há diversos outros em direção exatamente oposta. As contradições, os estudos
técnicos dissonantes e as diversas teorizações demonstram o que já se afirmou no REsp 1.070.297-PR,
Segunda Seção, DJe 18/9/2009: em matéria de Tabela Price, nem “sequer os matemáticos chegam a um
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consenso”. Nessa seara de incertezas, cabe ao Judiciário conferir a solução ao caso concreto, mas não lhe cabe
imiscuir-se em terreno movediço nos quais os próprios experts tropeçam. Isso porque os juízes não têm
conhecimentos técnicos para escolher entre uma teoria matemática e outra, mormente porque não há
perfeito consenso neste campo. Dessa maneira, o dissídio jurisprudencial quanto à utilização ou à vedação da
Tabela Price decorre, por vezes, dessa invasão do magistrado ou do tribunal em questões técnicas,
estabelecendo, a seu arbítrio, que o chamado Sistema Francês de Amortização é legal ou ilegal. Por esses
motivos não pode o STJ – sobretudo, e com maior razão, porque não tem contato com as provas dos autos –
cometer o mesmo equívoco por vezes praticado pelas instâncias ordinárias, permitindo ou vedando, em
abstrato, o uso da Tabela Price. É que, se a análise acerca da legalidade da utilização do Sistema Francês de
Amortização passa, necessariamente, pela averiguação da forma pela qual incidiram os juros, a legalidade ou
a ilegalidade do uso da Tabela Price não pode ser reconhecida em abstrato, sem apreciação dos contornos do
caso concreto. Desse modo, em atenção à segurança jurídica, o procedimento adotado nas instâncias
ordinárias deve ser ajustado, a fim de corrigir as hipóteses de deliberações arbitrárias ou divorciadas do
exame probatório do caso concreto. Isto é, quando o juiz ou o tribunal, ad nutum, afirmar a legalidade ou
ilegalidade da Tabela Price, sem antes verificar, no caso concreto, a ocorrência ou não de juros capitalizados
(compostos ou anatocismo), haverá ofensa aos arts. 131, 333, 335, 420, 458 ou 535 do CPC, ensejando, assim,
novo julgamento com base nas provas ou nas consequências de sua não produção, levando-se em conta,
ainda, o ônus probatório de cada litigante. Assim, por ser a capitalização de juros na Tabela Price questão de
fato, deve-se franquear às partes a produção da prova necessária à demonstração dos fatos constitutivos do
direito alegado, sob pena de cerceamento de defesa e invasão do magistrado em seara técnica com a qual
não é afeito. Ressalte-se que a afirmação em abstrato acerca da ocorrência de capitalização de juros quando
da utilização da Tabela Price, como reiteradamente se constata, tem dado azo a insurgências tanto dos
consumidores quanto das instituições financeiras, haja vista que uma ou outra conclusão dependerá
unicamente do ponto de vista do julgador, manifestado quase que de forma ideológica, por vez às cegas e
desprendida da prova dos autos, a qual, em não raros casos, simplesmente inexiste. Por isso, reservar à prova
pericial essa análise, de acordo com as particularidades do caso concreto, beneficiará tanto os mutuários
como as instituições financeiras, 18 porquanto nenhuma das partes ficará ao alvedrio de valorações
superficiais do julgador acerca de questão técnica.
44

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

2022

A) É presumido, em regra, o rateio em partes iguais do numerário mantido em conta


corrente conjunta solidária quando inexistente previsão legal ou contratual de
responsabilidade solidária dos correntistas pelo pagamento de dívida imputada a um deles.

B) Não será possível a penhora da integralidade do saldo existente em conta conjunta


solidária no âmbito de execução movida por pessoa (física ou jurídica) distinta da
instituição financeira mantenedora, sendo franqueada aos cotitulares e ao exequente a
oportunidade de demonstrar os valores que integram o patrimônio de cada um, a fim
de afastar a presunção relativa de rateio.

REsp 1.610.844-BA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 15/06/2022.
(Tema IAC 12) Info 741

INFORMAÇÕES: A controvérsia está em definir a possibilidade ou não de penhora integral de valores


depositados em conta bancária conjunta, na hipótese de apenas um dos titulares ser sujeito passivo de
processo executivo movido por pessoa - física ou jurídica - distinta da instituição financeira mantenedora da
conta corrente.

Há divergência atual entre julgados das Turmas de Direito Privado e de Direito Público sobre o tema que
envolve, basicamente, a interpretação da norma inserta no artigo 265 do Código Civil, segundo o qual "a
solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes".

Com efeito, os precedentes das Turmas da Primeira Seção assentam que, ainda que só um dos titulares da
conta conjunta seja responsável pela dívida executada, a penhora deve atingir a integralidade do saldo
depositado se não houver prova da titularidade exclusiva ou parcial dos valores, ante a presunção de que os
co-correntistas pactuaram a ausência de exclusividade da disponibilidade do numerário.

Por sua vez, os acórdãos das Turmas da Segunda Seção adotam a exegese de que, em se tratando de
execução movida por pessoa (física ou jurídica) distinta da instituição financeira mantenedora da conta
bancária coletiva, deve ser franqueada aos cotitulares a comprovação dos valores que integram o patrimônio
de cada um, sendo certo que, na ausência de provas nesse sentido, presume-se a divisão do saldo em partes
iguais, razão pela qual a penhora não poderá atingir a integralidade do numerário, mas apenas a cota-parte
do correntista executado.

O exercício do aludido poder-dever do juiz - no âmbito da execução forçada direta - encontra limite político
no princípio da responsabilidade patrimonial, enunciado nos arts. 591 e 592 do CPC/1973 (reproduzidos nos
arts. 789 e 790 de CPC/2015), que versam sobre a sujeição dos bens do "devedor obrigado" (responsabilidade
primária) e do "terceiro não obrigado" (responsabilidade secundária) à demanda executória.
45

Depreende-se que, em regra, somente os bens integrantes do patrimônio do devedor - a um só tempo


obrigado e responsável - estão sujeitos à excussão destinada a obter soma em dinheiro apta ao
adimplemento da prestação (pecuniária ou de dar coisa) encartada em título judicial ou extrajudicial.

A conta-corrente configura instrumento contratual que viabiliza outras operações bancárias, a exemplo do
depósito, do empréstimo e da abertura de crédito. Tal contrato bancário alberga duas espécies: (i) a conta-
corrente individual ou unipessoal, que possui um único titular, detentor do poder de movimentá-la, o qual
pode ser outorgado a procurador devidamente constituído; e (ii) a conta-corrente conjunta ou coletiva, na
qual há mais de um titular com poder de movimentação da conta.

Em se tratando de "conta conjunta solidária", sobressai a solidariedade ativa e passiva na relação jurídica
estabelecida entre os cotitulares e a instituição financeira mantenedora, o que decorre diretamente das
obrigações encartadas no contrato de conta-corrente, em consonância com a regra estabelecida no art. 265
do CC/2002.

Por outro lado, a obrigação pecuniária assumida por um dos correntistas perante terceiros não poderá
repercutir na esfera patrimonial do cotitular da "conta conjunta solidária", caso inexistente disposição legal ou
contratual atribuindo responsabilidade solidária pelo pagamento da dívida executada.

Nessa perspectiva, há julgados desta Corte que, com base na Lei n. 7.357/1985, entendem que os cotitulares
da aludida espécie de conta conjunta não ostentam a condição de devedores solidários nem sequer perante
terceiros portadores de cheques emitidos, sem provisão de fundos, somente por um dos correntistas.

Nessa ordem de ideias, infere-se que o saldo mantido na chamada "conta conjunta solidária" caracteriza bem
divisível, cuja cotitularidade, nos termos de precedentes desta Corte, atrai as regras atinentes ao condomínio,
motivo pelo qual se presume a repartição do numerário em partes iguais entre os correntistas quando não
houver elemento probatório a indicar o contrário, consoante disposto no parágrafo único do art. 1.315 do CC/
2022 (REsp n. 819.327/SP, relator Ministro Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma, DJ de 08/05/2006).

Consequentemente, à luz do princípio da responsabilidade patrimonial do devedor - enunciado nos arts. 591
e 592 do CPC/1973 (reproduzidos nos arts. 789 e 790 do CPC/2015) -, a penhora eletrônica de saldo existente
em "conta conjunta solidária" não poderá abranger proporção maior que o numerário pertencente ao
devedor executado, devendo ser preservada a cota-parte dos demais correntistas.

Sob tal ótica, por força da presunção do rateio igualitário do saldo constante da "conta coletiva solidária",
caberá ao "cotitular não devedor" comprovar que o montante que integra o seu patrimônio exclusivo
ultrapassa o quantum presumido. De outro lado, poderá o exequente demonstrar que o devedor executado é
quem detém a propriedade exclusiva - ou em maior proporção - dos valores depositados na conta conjunta.

Desse modo, quando existente prova de titularidade exclusiva dos valores depositados por aquele que não
figura no polo passivo da execução de obrigação pecuniária não solidária, afigurar-se-á impositiva a
desconstituição da penhora.
46

I) A fixação dos honorários por apreciação equitativa não é permitida quando os valores
da condenação, da causa ou o proveito econômico da demanda forem elevados. É
obrigatória nesses casos a observância dos percentuais previstos nos §§ 2º ou 3º do artigo
85 do CPC - a depender da presença da Fazenda Pública na lide, os quais serão
subsequentemente calculados sobre o valor: (a) da condenação; ou (b) do proveito
econômico obtido; ou (c) do valor atualizado da causa.

II) Apenas se admite arbitramento de honorários por equidade quando, havendo ou não
condenação: (a) o proveito econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório; ou
(b) o valor da causa for muito baixo.

REsp 1.850.512-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Corte Especial, por maioria, julgado em 16/03/2022. (Tema 1076)

Informações: O objeto da controvérsia é definir o alcance da norma inserta no § 8º do artigo 85 do


CPC/2015, a fim de compreender as suas hipóteses de incidência, bem como se é permitida a fixação dos
honorários por apreciação equitativa quando os valores da condenação, da causa ou o proveito econômico da
demanda forem elevados.

O CPC/2015 pretendeu trazer mais objetividade às hipóteses de fixação dos honorários advocatícios e
somente autoriza a aplicação do § 8º do artigo 85 - isto é, de acordo com a apreciação equitativa do juiz - em
situações excepcionais em que, havendo ou não condenação, estejam presentes os seguintes requisitos: 1)
proveito econômico irrisório ou inestimável, ou 2) valor da causa muito baixo.

A propósito, quando o § 8º do artigo 85 menciona proveito econômico "inestimável", claramente se refere


àquelas causas em que não é possível atribuir um valor patrimonial à lide (como pode ocorrer nas demandas
ambientais ou nas ações de família, por exemplo). Não se deve confundir "valor inestimável" com "valor
elevado".

Trata-se, pois, de efetiva observância do Código de Processo Civil, norma editada regularmente pelo
Congresso Nacional, no estrito uso da competência constitucional a ele atribuída, não cabendo ao Poder
Judiciário, ainda que sob o manto da proporcionalidade e razoabilidade, reduzir a aplicabilidade do
dispositivo legal em comento, decorrente de escolha legislativa explicitada com bastante clareza.

Percebe-se que o legislador tencionou, no novo diploma processual, superar jurisprudência firmada pelo STJ
no que tange à fixação de honorários por equidade quando a Fazenda Pública fosse vencida, o que se fazia
com base no art. 20, § 4º, do CPC revogado. O fato de a nova legislação ter surgido como uma reação
capitaneada pelas associações de advogados à postura dos tribunais de fixar honorários em valores irrisórios,
quando a demanda tinha a Fazenda Pública como parte, não torna a norma inconstitucional nem autoriza o
seu descarte. Além disso, há que se ter em mente que o entendimento do STJ fora firmado sob a égide do
CPC revogado. É perfeitamente legítimo ao Poder Legislativo editar nova regulamentação legal em sentido
diverso do que vinham decidindo os tribunais. Cabe aos tribunais interpretar e observar a lei, não podendo,
entretanto, descartar o texto legal por preferir a redação dos dispositivos decaídos. A atuação do legislador
que acarreta a alteração de entendimento firmado na jurisprudência não é fenômeno característico do Brasil,
sendo conhecido nos sistemas de common law como overriding.
47

Sobre a matéria discutida, o Enunciado n. 6 da I Jornada de Direito Processual Civil do Conselho da Justiça
Federal - CJF afirma que: "A fixação dos honorários de sucumbência por apreciação equitativa só é cabível nas
hipóteses previstas no § 8º, do art. 85 do CPC".

Não se pode alegar, que o art. 8º do CPC permite que o juiz afaste o art. 85, §§ 2º e 3º, com base na
razoabilidade e proporcionalidade, quando os honorários resultantes da aplicação dos referidos dispositivos
forem elevados.

O CPC de 2015, preservando o interesse público, estabeleceu disciplina específica para a Fazenda Pública,
traduzida na diretriz de que quanto maior a base de cálculo de incidência dos honorários, menor o percentual
aplicável. O julgador não tem a alternativa de escolher entre aplicar o § 8º ou o § 3º do artigo 85, mesmo
porque só pode decidir por equidade nos casos previstos em lei, conforme determina o art. 140, parágrafo
único, do CPC/2015.

O argumento de que a simplicidade da demanda ou o pouco trabalho exigido do causídico vencedor levariam
ao seu enriquecimento sem causa - como defendido pelo amicus curiae -, deve ser utilizado não para
respaldar apreciação por equidade, mas sim para balancear a fixação do percentual dentro dos limites do art.
85, § 2º, ou dentro de cada uma das faixas dos incisos contidos no § 3º do referido dispositivo.

Na maioria das vezes, a preocupação com a fixação de honorários elevados ocorre quando a Fazenda Pública
é derrotada, diante da louvável consideração com o dinheiro público, conforme se verifica nas divergências
entre os membros da Primeira Seção. É por isso que a matéria já se encontra pacificada há bastante tempo na
Segunda Seção (nos moldes do REsp 1.746.072/PR, relator para acórdão Ministro Raul Araújo, DJe de
29/3/2019), no sentido de que os honorários advocatícios sucumbenciais devem ser fixados no patamar de
10% a 20%, conforme previsto no art. 85, § 2º, inexistindo espaço para apreciação equitativa nos casos de
valor da causa ou proveito econômico elevados.

O próprio legislador anteviu a situação e cuidou de resguardar o erário, criando uma regra diferenciada para
os casos em que a Fazenda Pública for parte. Foi nesse sentido que o art. 85, § 3º, previu a fixação escalonada
de honorários, com percentuais variando entre 1% e 20% sobre o valor da condenação ou do proveito
econômico, sendo os percentuais reduzidos à medida que se elevar o proveito econômico. Impede-se, assim,
que haja enriquecimento sem causa do advogado da parte adversa e a fixação de honorários excessivamente
elevados contra o ente público. Não é adequado ignorar a redação do referido dispositivo legal a fim de criar
o próprio juízo de razoabilidade, especialmente em hipótese não prevista em lei.

A suposta baixa complexidade do caso sob julgamento não pode ser considerada como elemento para afastar
os percentuais previstos na lei. No ponto, assiste razão ao amicus curiae Instituto Brasileiro de Direito
Processual - IBDP, quando afirma que "esse dado já foi levado em consideração pelo legislador, que previu 'a
natureza e a importância da causa' como um dos critérios para a determinação do valor dos honorários (art.
85, § 2º, III, do CPC), limitando, porém, a discricionariedade judicial a limites percentuais. Assim, se tal
elemento já é considerado pelo suporte fático abstrato da norma, não é possível utilizá-lo como se fosse uma
condição extraordinária, a fim de afastar a incidência da regra". Idêntico raciocínio se aplica à hipótese de
trabalho reduzido do advogado vencedor, uma vez que tal fator é considerado no suporte fático abstrato do
art. 85, § 2º, IV, do CPC/2015 ("o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço").

Cabe ao autor - quer se trate do Estado, das empresas, ou dos cidadãos - ponderar bem a probabilidade de
ganhos e prejuízos antes de ajuizar uma demanda, sabendo que terá que arcar com os honorários de acordo
com o proveito econômico ou valor da causa, caso vencido. O valor dos honorários sucumbenciais, portanto, é
um dos fatores que deve ser levado em consideração no momento da propositura da ação.
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É muito comum ver no STJ a alegação de honorários excessivos em execuções fiscais de altíssimo valor
posteriormente extintas. Ocorre que tais execuções muitas vezes são propostas sem maior escrutínio, dando-
se a extinção por motivos previsíveis, como a flagrante ilegitimidade passiva, o cancelamento da certidão de
dívida ativa, ou por estar o crédito prescrito. Ou seja, o ente público aduz em seu favor a simplicidade da
causa e a pouca atuação do causídico da parte contrária, mas olvida o fato de que foi a sua falta de diligência
no momento do ajuizamento de um processo natimorto que gerou a condenação em honorários. O Poder
Judiciário não pode premiar tal postura.

A fixação de honorários por equidade nessas situações - muitas vezes aquilatando-os de forma irrisória -
apenas contribui para que demandas frívolas e sem possibilidade de êxito continuem a ser propostas diante
do baixo custo em caso de derrota.

O art. 20 da "Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro" (Decreto-Lei n. 4.657/1942), incluído pela Lei
n. 13.655/2018, prescreve que, "nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base
em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão". Como visto,
a consequência prática do descarte do texto legal do art. 85, §§ 2º, 3º, 4º, 5º, 6º e 8º, do CPC, sob a justificativa
de dar guarida a valores abstratos como a razoabilidade e a proporcionalidade, será um poderoso estímulo
comportamental e econômico à propositura de demandas frívolas e de caráter predatório.

A postura de afastar, a pretexto de interpretar, sem a devida declaração de inconstitucionalidade, a aplicação


do § 8º do artigo 85 do CPC/2015, pode ensejar questionamentos acerca de eventual inobservância do art. 97
da CF/1988 e, ainda, de afronta ao verbete vinculante n. 10 da Súmula do STF.

Embora não tenha sido suscitado pelas partes ou amigos da Corte, não há que se falar em modulação dos
efeitos do julgado, uma vez que não se encontra presente o requisito do art. 927, § 3º, do CPC/2015. Isso
porque, no caso sob exame, não houve alteração de jurisprudência dominante do STJ, a qual ainda se
encontra em vias de consolidação.

Assim, não se configura a necessidade de modulação dos efeitos do julgado, tendo em vista que tal instituto
visa a assegurar a efetivação do princípio da segurança jurídica, impedindo que o jurisdicionado de boa-fé
seja prejudicado por seguir entendimento dominante que terminou sendo superado em momento posterior,
o que, como se vê claramente, não ocorreu no caso concreto. (Informativo n. 730)

2021

Na ação de busca e apreensão de que trata o Decreto-Lei n. 911/1969, a análise da


contestação somente deve ocorrer após a execução da medida liminar.

REsp 1.892.589-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda
Seção, por maioria, julgado em 16/09/2021. (Tema 1040) Info 710

Tema: Alienação fiduciária. Ação de busca e apreensão. Decreto-Lei n. 911/1969. Apreciação da contestação
antes da execução da medida liminar. Impossibilidade.

Informações: Pontua-se, de início, que não se discute a possibilidade de apresentação da contestação antes
da execução da medida liminar, não havendo espaço para se falar em extemporaneidade, prematuridade ou
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necessidade de desentranhamento da peça. A controvérsia se restringe ao momento em que a


contestação deve ser apreciada pelo órgão julgador. Observa-se que no artigo 3º do Decreto-Lei n.
911/1969 o legislador elegeu a execução da liminar como termo inicial de contagem do prazo para: 1) a
consolidação da propriedade do bem no patrimônio do credor fiduciário; 2) o pagamento da integralidade da
dívida pendente e a consequente restituição do bem ao devedor livre de ônus e 3) a apresentação de resposta
pelo réu. Ou seja, a eleição da execução da medida liminar como termo inicial da contagem do prazo para
contestação revela uma opção legislativa clara de assegurar ao credor fiduciário com garantia real uma
resposta satisfativa rápida em caso de mora ou inadimplemento por parte do devedor fiduciante, incompatível
com o procedimento comum. É essa agilidade inerente ao procedimento especial do Decreto-Lei n.
911/1969 que fomenta o instituto da alienação fiduciária tornando a sua adoção vantajosa tanto para o
consumidor, que conta com melhores condições de concessão de crédito (taxas e encargos), quanto para o
agente financeiro, por meio da facilitação dos mecanismos de recuperação do bem em caso de
inadimplemento. É cediço que a mora e o inadimplemento, aliados à morosidade no deferimento de
tutela satisfativa voltada à entrega do bem alienado ao credor fiduciário, são fatores determinantes
para o encarecimento do crédito, de modo que o aparente rigorismo na norma é o que garante a
utilidade do instituto, impedindo que ele caia em desuso. Não foi outro o norte seguido pela Segunda
Seção, quando do julgamento do REsp 1.622.555/MG, ao afastar a aplicação da teoria do adimplemento
substancial no regime da lei especial (Decreto n. 911/1969), sob pena de desvirtuamento do instituto
da propriedade fiduciária, concebido pelo legislador justamente para conferir segurança jurídica às
concessões de crédito, essencial ao desenvolvimento da economia nacional. Não há dúvidas, portanto, de
que a legislação especial foi estruturada com um procedimento especial que prevê, em um primeiro
momento, a recuperação do bem e, em uma segunda etapa, a possibilidade de purgação da mora e a
análise da defesa. Vale anotar que o próprio sistema dispõe de mecanismos para remediar eventual abuso
ou negligência do credor fiduciário ao prever o pagamento de multa em favor do devedor fiduciante,
equivalente a 50% (cinquenta por cento) do valor originalmente financiado, devidamente atualizado, caso o
bem já tenha sido alienado, na hipótese de improcedência da ação de busca e apreensão, além da
responsabilidade do credor fiduciário por perdas e danos (artigo 3º, §§ 6º e 7º). Além disso, está
absolutamente sedimentada a jurisprudência desta Corte no sentido de que, estando demonstrada a
mora/inadimplemento, o deferimento na medida liminar de busca e apreensão é impositivo. Nesse
contexto, condicionar o cumprimento da medida liminar de busca e apreensão à apreciação da
contestação, ainda que limitada a eventuais matérias cognoscíveis de ofício e que não demandem
dilação probatória (considerada ainda a subjetividade na delimitação dessas matérias), causaria enorme
insegurança jurídica e ameaça à efetividade do procedimento.

Desde que prováveis a existência da relação jurídica entre as partes e de documento ou


coisa que se pretende seja exibido, apurada em contraditório prévio, poderá o juiz, após
tentativa de busca e apreensão ou outra medida coercitiva, determinar sua exibição sob
pena de multa com base no art. 400, parágrafo único, do CPC/2015.

REsp 1.777.553-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
26/05/2021 (Tema 1000)
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TEMA: Cominação de astreintes na exibição de documentos requerida contra a parte ex adversa.


Cabimento na vigência do CPC/2015. Necessidade de prévio juízo de probabilidade e de prévia tentativa de
busca e apreensão ou outra medida coercitiva. Tema 1000/STJ.

INFORMAÇÕES: Trata a controvérsia sobre a possibilidade de cominação de multa em ação de exibição


incidental ou autônoma de documentos requerida contra a parte ex adversa em demanda de direito
privado.

O procedimento da exibição de documentos encontra-se disciplinado nos arts. 396 a 404 do CPC/2015,
sendo que o pagamento de multa somente foi previsto na exibição contra terceiro (art. 403), não tendo
havido semelhante previsão do art. 400, que trata da exibição deduzida contra a parte.

Sobre o tema, vale dizer que a presunção de veracidade seria insuficiente para compelir a parte a atender à
ordem de exibição, pois entre o mero risco de sucumbência (no caso de recusa de exibição) e a certeza da
derrota (no caso de exibição do documento essencial para o desfecho do litígio), a parte tenderia a assumir a
primeira postura, recusando-se a exibir o documento pretendido.

Sob a ótica da ampla defesa e o dever de cooperação, a cominação de astreintes seria cabível na exibição de
documentos, pois aumenta-se a probabilidade de sucesso da ordem de exibição.

Por outro lado, o direito de não produzir prova contra si mesmo se restringe à não autoincriminação em
matéria penal, prevalecendo no âmbito do direito privado garantia da ampla defesa conjugada com o dever
de cooperação das partes com a instrução probatória.

Sob perspectiva histórica, verifica-se que o avanço em termos de efetividade dos provimentos jurisdicionais
serviu de norte para o novo codex, como bem apontou a DPU, de modo que esse norte interpretativo conduz
ao entendimento de que a previsão do gênero "medidas coercitivas" no art. 400, parágrafo único, também
abrange a multa pecuniária, pois essa interpretação confere maior eficácia à ordem de exibição.

Ainda, vale destacar que não se trata de silêncio eloquente do artigo 400, mas sim de excesso de zelo do
legislador no artigo 403 ao ressaltar a possibilidade de incidência de multa em desfavor de um terceiro
estranho à relação processual, já que, em relação às partes, a aplicação dessa medida coercitiva é natural.

Por fim, não se justifica a impossibilidade de aplicação das astreintes sob o fundamento de que haveria
estímulo ao enriquecimento sem causa, pois, se a recusa da parte em exibir o documento for reputada
ilegítima (art. 399 do CPC), basta a sua apresentação para que a multa não incida.

Com efeito, firma-se a tese do recurso repetitivo para que, desde que prováveis a existência da relação jurídica
entre as partes e de documento ou coisa que se pretende seja exibido, apurada mediante contraditório prévio,
poderá o juiz, após tentativa de busca e apreensão ou outra medida coercitiva, determinar sua exibição sob
pena de multa, com base no art. 400, parágrafo único, do CPC/2015. (INFORMATIVO 703)

Os Juizados Especiais da Fazenda Pública não têm competência para o julgamento de ações
decorrentes de acidente de trabalho em que o Instituto Nacional do Seguro Social figure
como parte.

REsp 1.866.015/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, por unanimidade, julgado em 10/03/2021. (Tema 1053)
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TEMA Ações previdenciárias decorrentes de acidente de trabalho. Presença do INSS. Incompetência dos
Juizados Especiais da Fazenda Pública. Tema 1053.

INFORMAÇÕES: A fixação da competência da Justiça dos Estados para as ações acidentárias foi prevista na
Carta de 1946 (art. 123, §1º), na Carta de 1967 (art. 134, § 2º) e na EC n. 1 de 1969 (art. 142). A regra persistiu
na Constituição de 1988 (art. 109, I), mesmo após a EC 45/2004Sobre a matéria, o Superior Tribunal de Justiça
baixou a Súmula 15: "Compete à Justiça estadual processar e julgar os litígios decorrentes de acidente do
trabalho". E o Supremo Tribunal Federal, a Súmula 501: "Compete à Justiça Ordinária Estadual o processo e o
julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a
União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista".O STJ já se pronunciou, não
sobre o tema dos autos, mas acerca de questão correlata, que decorreu da previsão feita no art. 109, § 3º, da
Constituição de 1988. O preceito autoriza, na hipótese de ausência de vara federal no domicílio do segurado,
a delegação legal para que a Justiça Estadual processe demandas de natureza previdenciária. Decidiu-se no
STJ, em relevante precedente sobre o tema: "Em razão do próprio regramento constitucional e
infraconstitucional, não há competência federal delegada no âmbito dos Juizados Especiais Estaduais, nem o
Juízo Estadual, investido de competência federal delegada (artigo 109, parágrafo 3º, da Constituição Federal),
pode aplicar, em matéria previdenciária, o rito de competência do Juizado Especial Federal, diante da vedação
expressa contida no artigo 20 da Lei n. 10.259/2001" (REsp 661.482/PB, Relator p/ Acórdão Ministro Hamilton
Carvalhido, DJe 05/02/2009).O referido art. 20 da Lei n. 10.259/2001, que veda a aplicação do procedimento
dos Juizados Especiais Federais no juízo estadual que esteja no exercício de competência delegada (CF, art.
109, § 3º), também proíbe, pelo diálogo entre as fontes, a aplicação do rito dos juizados no juízo estadual que
processe demandas acidentárias (CF, art. 109, I). Como isso, se equilibra o direito de acesso à justiça com as
normas relativas ao pacto federativo, tanto nas demandas contra o INSS em que se postula benefício
previdenciário, como nas que decorram de acidente de trabalho.A Lei dos Juizados Especiais da Fazenda
Pública (Lei n. 12.153/2009) não conflita com esse entendimento, pois o seu art. 2º estabelece expressamente
que compete a esses órgãos "processar, conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos". Do preceito se extrai
que não estão incluídas nessa competência as causas de interesse da União e suas autarquias.
Harmonicamente, o art. 5º, inciso II, da mesma Lei define que podem ser reús no Juizado Especial da Fazenda
Pública "os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, bem como autarquias, fundações e
empresas públicas a eles vinculadas".Nessa linha, antes da afetação do tema, diversas decisões monocráticas
deram provimento a Recursos Especiais do INSS em casos idênticos ao destes autos, para reformar decisões
declinatórias do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso, sob o fundamento de que "não há previsão
para a Autarquia Federal ser parte em processo no Juizado Especial da Fazenda Pública" (REsp 1.861.311/MT,
Rel. Min. Francisco Falcão, DJe 20/03/2020). (Informativo n. 688).

É possível a fixação de honorários advocatícios, em exceção de pré-executividade, quando o


sócio é excluído do polo passivo da execução fiscal, que não é extinta.

REsp 1.764.405/SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, por unanimidade, julgado em 10/03/2021. (Tema 961)

TEMA Execução fiscal. Exceção de pré-executividade. Exclusão do sócio do polo passivo. Prosseguimento da
execução, em relação ao executado e/ou responsáveis. Honorários advocatícios. Tema 961.

INFORMAÇÕES: Construção doutrinária e jurisprudencial, a Exceção de Pré-Executividade consiste em meio


de defesa do executado, tal qual os Embargos à Execução. Difere deste último, sobretudo, pelo objeto:
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enquanto os Embargos à Execução podem envolver qualquer matéria, a Exceção de Pré-Executividade


limita-se a versar sobre questões cognoscíveis ex officio, que não demandem dilação probatória. Ato
postulatório que é, a Exceção de Pré-Executividade não prescinde da representação, em juízo, por advogado
regularmente inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. Por isso, antes mesmo da afetação do
presente Recurso Especial ao rito dos repetitivos, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça pacificara o
entendimento sobre a matéria, no sentido de serem devidos honorários advocatícios, quando acolhida a
Exceção de Pré-Executividade para excluir o excipiente, ainda que não extinta a Execução Fiscal, porquanto "a
exceção de pré-executividade contenciosa e que enseja a extinção da relação processual em face de um dos
sujeitos da lide, que para invocá-la empreende contratação de profissional torna inequívoca o cabimento de
verba honorária, por força da sucumbência informada pelo princípio da causalidade. (...) a imposição dos ônus
processuais, no Direito Brasileiro, pauta-se pelo princípio da sucumbência, norteado pelo princípio da
causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à instauração do processo deve arcar com as despesas
dele decorrentes" (STJ, AgRg no REsp 1.180.908/MG, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de
25/08/2010). O entendimento condiz com os posicionamentos do STJ em matéria de honorários de advogado.
De fato, quando confrontado ou com a literalidade do art. 20 do CPC/1973 ou com a aplicação de regras
isentivas dos honorários, este Tribunal vem, de modo sistemático, interpretando restritivamente as últimas
normas, e extensivamente o primeiro dispositivo processual, considerando o vetusto princípio de direito
segundo o qual a lei não pode onerar aquele em cujo favor opera. Tal foi o raciocínio que presidiu a edição da
Súmula 153 do STJ: "A desistência da execução fiscal, após o oferecimento dos embargos não exime o
exequente dos encargos da sucumbência". Semelhante razão inspirou o julgamento do Recurso Especial
1.185.036/PE, sob o regime dos recursos repetitivos, no qual se questionava a possibilidade de condenação da
Fazenda Pública ao pagamento de honorários sucumbenciais, em decorrência da integral extinção da
Execução Fiscal, pelo acolhimento de Exceção de Pré-Executividade. No aludido julgamento restou assentada
"a possibilidade de condenação da Fazenda Pública ao pagamento de honorários advocatícios quando
acolhida a Exceção de Pré-Executividade e extinta a Execução Fiscal" (STJ, REsp 1.185.036/PE, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe de 01/10/2010).O mesmo se passa quando a Exceção de Pré-
Executividade, acolhida, acarreta a extinção parcial do objeto da execução, ou seja, quando o acolhimento da
objeção implica a redução do valor exequendo, conforme diversos precedentes desta Corte. O mesmo
entendimento, pelo cabimento de honorários de advogado, firmou a Corte Especial do STJ, no REsp
1.134.186/RS, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC/1973, quando acolhida, ainda que parcialmente, a
impugnação ao cumprimento da sentença, registrando o voto condutor do aludido acórdão que "o
acolhimento ainda que parcial da impugnação gerará o arbitramento dos honorários, que serão fixados nos
termos do art. 20, § 4º, do CPC, do mesmo modo que o acolhimento parcial da exceção de pré-executividade,
porquanto, nessa hipótese, há extinção também parcial da execução" (STJ, REsp 1.134.186/RS, Rel. Ministro
Luis Felipe Salomão, Corte Especial, DJe de 21/10/2011).As hipóteses de acolhimento, ainda que parcial, da
impugnação ao cumprimento de sentença e de acolhimento da Exceção de Pré-Executividade, para reduzir o
montante exequendo, são em tudo análogas à hipótese ora em julgamento, ou seja, acolhimento da Exceção
de Pré-Executividade, para excluir determinado executado do polo passivo da execução fiscal, que não é
extinta, prosseguindo o feito, em relação aos demais executados. Nenhuma delas põe fim ao processo, ou
seja, a natureza dos pronunciamentos não é outra senão a de decisão interlocutória. A rigor, o que difere as
primeiras hipóteses do caso em análise é o objeto sobre o qual recaem. O caso em julgamento opera a
extinção parcial subjetiva do processo, aqueles, a extinção parcial objetiva. Sendo as hipóteses espécies de
extinção parcial do processo, clara está a adequação de tratá-las por igual: ubi eadem ratio ibi idem jus.
(Informativo n. 688)
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O art. 782, §3º, do CPC é aplicável às execuções fiscais, devendo o magistrado deferir o
requerimento de inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes,
preferencialmente pelo sistema SERASAJUD, independentemente do esgotamento prévio
de outras medidas executivas, salvo se vislumbrar alguma dúvida razoável à existência
do direito ao crédito previsto na Certidão de Dívida Ativa - CDA.

REsp 1.807.180/PR, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 24/02/2021. (Tema
1026).

TEMA Inscrição do devedor em cadastros de inadimplentes por decisão judicial. Execução fiscal. Art. 1º da Lei
n. 6.830/1980. Aplicação subsidiária do CPC. Possibilidade. Deferimento do requerimento de negativação.
Desnecessidade de esgotamento prévio de outras medidas executivas. Tema 1026.

INFORMAÇÕES: O objeto da controvérsia é definir se o art. 782, §3º, do CPC é aplicável apenas às execuções
de título judicial ou também às de título extrajudicial, mais especificamente, às execuções fiscais.O art. 782,
§3º, do CPC está inserido no Capítulo III ("Da competência"), do Título I ("Da execução em geral"), do Livro II
(Do processo de execução") do CPC, sendo que o art. 771 dispõe que "este Livro regula o procedimento da
execução fundada em título extrajudicial".Não há dúvidas, portanto, de que o art. 782, §3º, do CPC ao
determinar que "A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome do executado em
cadastros de inadimplentes.", dirige-se às execuções fundadas em títulos extrajudiciais.O art. 782, §5º, do CPC
ao prever que "O disposto nos §§ 3º e 4º aplica-se à execução definitiva de título judicial.", possui dupla
função: 1) estender às execuções de títulos judiciais a possibilidade de inclusão do nome do executado em
cadastros de inadimplentes; 2) excluir a incidência do instituto nas execuções provisórias, restringindo-o às
execuções definitivas.Nos termos do art. 1º da Lei n. 6.830/1980, o CPC tem aplicação subsidiária às execuções
fiscais, caso não haja regulamentação própria sobre determinado tema na legislação especial, nem se
configure alguma incompatibilidade com o sistema. É justamente o caso do art. 782, §3º, do CPC, que se
aplica subsidiariamente às execuções fiscais pois: 1) não há norma em sentido contrário na Lei n. 6.830/1980;
2) a inclusão em cadastros de inadimplência é medida coercitiva que promove no subsistema os valores da
efetividade da execução, da economicidade, da razoável duração do processo e da menor onerosidade para o
devedor (arts. 4º, 6º, 139, inc. IV, e 805, do CPC).O Poder Judiciário determina a inclusão nos cadastros de
inadimplentes com base no art. 782, §3º, por meio do SERASAJUD, sistema gratuito e totalmente virtual,
regulamentado pelo Termo de Cooperação Técnica n. 020/2014 firmado entre CNJ e SERASA. O ente público,
por sua vez, tem a opção de promover a inclusão sem interferência ou necessidade de autorização do
magistrado, mas isso pode lhe acarretar despesas a serem negociadas em convênio próprio.A situação ideal a
ser buscada é que os entes públicos firmem convênios mais vantajosos com os órgãos de proteção ao crédito,
de forma a conseguir a quitação das dívidas com o mínimo de gastos e o máximo de eficiência. Isso permitirá
que, antes de ajuizar execuções fiscais que abarrotarão as prateleiras (físicas ou virtuais) do Judiciário, com
baixo percentual de êxito (conforme demonstrado ano após ano no "Justiça em Números" do CNJ), os entes
públicos se valham do protesto da CDA ou da negativação dos devedores, com uma maior perspectiva de
sucesso.Porém, no momento atual, em se tratando de execuções fiscais ajuizadas, não há justificativa legal
para o magistrado negar, de forma abstrata, o requerimento da parte de inclusão do executado em cadastros
de inadimplentes, baseando-se em argumentos como: 1) o art. 782, § 3º, do CPC apenas incidiria em execução
definitiva de título judicial; 2) em se tratando de título executivo extrajudicial, não haveria qualquer óbice a
que o próprio credor providenciasse a efetivação da medida; 3) a intervenção judicial só caberá se
eventualmente for comprovada dificuldade significativa ou impossibilidade de o credor fazê-lo por seus
próprios meios; 4) ausência de adesão do tribunal ao convênio SERASAJUD ou a indisponibilidade do sistema.
54

Tais requisitos não estão previstos em lei.Em suma, tramitando uma execução fiscal e sendo requerida a
negativação do executado com base no art. 782, § 3º, do CPC, o magistrado deverá deferi-la, salvo se
vislumbrar alguma dúvida razoável à existência do direito ao crédito previsto na Certidão de Dívida Ativa -
CDA, a exemplo da prescrição, da ilegitimidade passiva ad causam, ou outra questão identificada no caso
concreto.Outro ponto importante a ser fixado é que, sendo medida menos onerosa, a anotação do nome da
parte executada em cadastro de inadimplentes pode ser determinada antes de exaurida a busca por bens
penhoráveis. Atende-se, assim, ao princípio da menor onerosidade da execução, positivado no art. 805 do
CPC. (Informativo n. 686)

2020

Ao autor que deseje litigar no âmbito de Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar, de
modo expresso e para fins de atribuição de valor à causa, ao montante que exceda os 60
(sessenta) salários mínimos previstos no art. 3º, caput, da Lei n. 10.259/2001, aí incluídas,
sendo o caso, as prestações vincendas.

REsp 1.807.665-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 28/10/2020, DJe
26/11/2020 (Tema 1030)

TEMA Juizado Especial Federal. Art. 3º da Lei n. 10.259/2001. Competência absoluta. Valor da Causa.
Montante que excede os 60 salários mínimos. Renúncia expressa. Possibilidade. Tema 1030.

INFORMAÇÕES: Quanto à fixação do valor da causa em sede de juizados especiais federais, o § 2º do art. 3º
da Lei n. 10.259/2001 dispõe que, "quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de
competência do Juizado Especial, a soma de doze parcelas não poderá exceder o valor referido no art. 3º,
caput", omitindo-se o legislador, porém, em disciplinar o valor relativo a parcelas já vencidas, gerando, no
ponto, a necessidade de se recorrer aos subsidiários préstimos do Código de Processo Civil.Nesse diapasão,
frisa-se que, de há muito, "na hipótese de o pedido englobar prestações vencidas e vincendas, há neste
Superior Tribunal entendimento segundo o qual incide a regra do art. 260 do Código de Processo Civil, que
interpretado conjuntamente com o mencionado art. 3º, § 2º, da Lei 10.259/2001, estabelece a soma da
prestações vencidas mais doze parcelas vincendas, para a fixação do conteúdo econômico da demanda e,
consequentemente, a determinação da competência do juizado especial federal" (CC 91.470/SP, Rel. Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, DJe 26/8/2008).Portanto, na fixação do valor da causa perante
os juizados especiais federais, deverão ser observadas, para além do regramento previsto na Lei n.
10.259/2001 (art. 3º), as disposições contidas nos artigos 291 a 293 do CPC/2015.Ademais, cabe registrar que
a jurisprudência desta Corte é pacífica quanto à natureza absoluta da competência atribuída aos Juizados
Especiais Federais, a teor do art. 3º, § 3º, da Lei n. 10.259/2001, observando-se, para isso, o valor da causa.
Delineados, pois, os critérios para a apuração do valor da causa nos Juizados Especiais Federais, tanto quanto
sua competência absoluta para atuar nas hipóteses em que o postulante circunscreva sua pretensão inicial em
montante que não ultrapasse o limite de sessenta salários mínimos, resta indagar sobre a possibilidade, ou
não, de a parte autora renunciar a valores excedentes a esse patamar sexagesimal, para poder demandar
perante esses mesmos Juizados Especiais Federais, aí incluído o montante das parcelas vincendas, bem assim
se tal renúncia deverá ser comunicada expressamente pela parte autora.Com efeito, a possibilidade de
renúncia para adoção do procedimento previsto na Lei n. 10.259/2001 encontra conforto na jurisprudência do
55

STJ, conforme se extrai do seguinte e já vetusto julgado: "Se o autor da ação renunciou expressamente o que
excede a sessenta salários, competente o Juizado Especial Federal para o feito" (CC 86.398/RJ, Rel. Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, DJ 22/2/2008).Em reforço, vale mencionar que, embora a Lei n.
10.259/2001 não cuide expressamente da possibilidade de renúncia inicial para fins de fixação da competência
dos Juizados Especiais Federais, seu § 4º do artigo 17 dispõe que, "se o valor da execução ultrapassar o
estabelecido no § 1º, o pagamento far-se-á, sempre, por meio do precatório, sendo facultado à parte
exequente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo pagamento do saldo sem o
precatório, da forma lá prevista."Ora, se o legislador, na fase de cumprimento da decisão, previu
expressamente a possibilidade de renúncia ao crédito excedente para fins de o credor se esquivar do
recebimento via precatório, não se compreende como razoável vedar-se ao interessado, no ato de
ajuizamento da ação, a possibilidade de dispor de valores presumidamente seus, em prol de uma solução
mais célere do litígio perante os Juizados Especiais Federais.Estabelecida essa diretriz, a questão remanescente
diz com a porção do valor da causa a ser considerada para fins de renúncia, no momento do ajuizamento da
ação, tendo em mira que a Lei Adjetiva Civil estabelece que, para a composição daquele montante, deverão
ser consideradas as prestações vencidas e as vincendas.Quanto ao ponto, havendo discussão sobre relação de
trato sucessivo nos Juizados Especiais Federais, deve ser observada a conjugada aplicação dos arts. 3º, § 2º, da
Lei n. 10.259/2001 e 292 do CPC/2015, quando a definição do valor da causa deverá observar os seguintes
vetores: a) versando a pretensão apenas sobre prestações vincendas, considerar-se-á a soma de doze delas
para a definição da competência (art. 3º, § 2º, da Lei n. 10.259/2001); b) quando o pleito englobar prestações
vencidas e vincendas, e a obrigação for por tempo indeterminado ou superior a um ano, somam-se os valores
de todas as parcelas vencidas e de uma anuidade das parcelas vincendas (ex vi do art. 292, §§ 1º e 2º, do CPC/
2015).Em suma, inexistem amarras legais que impeçam o demandante de, assim lhe convindo, reivindicar
pretensão financeira a menor, que lhe possibilite enquadrar-se na alçada estabelecida pelo art. 3º, caput, da
Lei n. 10.259/2001. (Informativo n. 683)

Não é possível propor nos Juizados Especiais da Fazenda Pública a execução de título
executivo formado em ação coletiva que tramitou sob o rito ordinário, assim como impor o
rito sumaríssimo da Lei n. 12.153/2009 ao juízo comum da execução.

REsp 1.804.186-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 12/08/2020, DJe
11/09/2020 (Tema 1029)

TEMA Ação coletiva. Tramitação sob o rito ordinário. Cumprimento de sentença individual. Incompetência dos
Juízados Especiais da Fazenda Pública. Rito sumaríssimo da Lei n. 12.153/2009. Inaplicabilidade. Tema 1029.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a definir se é possível ajuizar ação executiva no Juizado Especial da
Fazenda Pública relativa a título judicial oriundo de ação coletiva, em que se seguiu rito próprio desse tipo de
ação.O art. 2º, § 1º, I, da Lei n. 12.153/2009 dispõe que não se incluem na competência do Juizado Especial da
Fazenda Pública as demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos, argumento suficiente para
excluir a competência executória de sentenças exaradas em Ações Coletivas.Na mesma lei não há disposição
expressa acerca da competência executória dos Juizados da Fazenda Pública, havendo apenas regramento
(arts. 12 e 13) do rito da execução de seus próprios julgados.O art. 27 da Lei n. 12.153/2009 fixa a aplicação
subsidiária do CPC, da Lei n. 9.099/1995 e da Lei n. 10.259/2001.A Lei n. 9.099/1995, no art. 3º, § 1º, delimita a
competência dos Juizados Especiais Cíveis e, por aplicação subsidiária, dos Juizados Especiais da Fazenda
Pública para promoverem a execução "dos seus julgados" e "dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de
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até quarenta vezes o salário mínimo".Já o art. 3º, caput, da Lei n. 10.259/2001, também de aplicação
subsidiária aos Juizados Especiais da Fazenda Pública, delimita a competência executória a "executar as suas
sentenças".Ademais o CPC estabelece: "Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: I - os
tribunais, nas causas de sua competência originária; II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de
jurisdição; III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença
arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo. Parágrafo único. Nas
hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo
do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a
obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de
origem".Nota-se que a Lei n. 12.153/2009 e as respectivas normas de aplicação subsidiária determinam que os
Juizados Especiais da Fazenda Pública têm competência para apreciar apenas as execuções de seus próprios
julgados ou de títulos extrajudiciais.Por derradeiro, o Código de Defesa do Consumidor, norma que rege a
tutela coletiva não só no direito do consumidor, mas de forma subsidiária de todos os tipos de direitos, fixa a
competência, para a execução, do juízo da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de
execução individual, valendo aqui a regra do domicílio do exequente no caso de juízos com a mesma
competência.Assim, não é possível propor nos Juizados Especiais da Fazenda Pública a execução de título
executivo formado em ação coletiva, muito menos impor o citado rito sumaríssimo ao juízo comum.O
Cumprimento da Sentença coletiva deve obedecer ao rito previsto nos arts. 534 e seguintes do CPC/2015; e o
fato de o valor da execução ser baixo pode apenas resultar, conforme a quantia, em Requisição de Pequeno
Valor para o pagamento do débito (art. 535, § 3º, II, do CPC/2015). (Informativo n. 679)

2019

A teor dos arts. 27 e 511, § 1º, do revogado CPC/1973 (arts. 91 e 1.007, § 1º, do vigente
CPC/2015), o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, nos recursos de competência dos
Tribunais de Justiça, está dispensado do prévio pagamento do porte de remessa e de
retorno, enquanto parcela integrante do preparo, devendo recolher o respectivo valor
somente ao final da demanda, acaso vencido.

REsp 1.761.119-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 07/08/2019, DJe
14/08/2019 (Tema 1.001)

TEMA Instituto Nacional do Seguro Social. Recursos de competêcia dos Tribunais de Justiça. Porte de remessa
e retorno. Parcela integrante do repearo. Recolhimento ao final em caso de sucumbência. Tema 1.001.

INFORMAÇÕES: A Corte Especial do STJ, no julgamento do Tema n. 16, vinculado ao Recurso Especial
Repetitivo 1.101.727/PR, aprovou tese no sentido de que, apesar de o INSS não ser isento de preparo em
ações promovidas perante a Justiça Estadual, nos termos da Súmula 178/STJ, não há exigência de prévio
depósito para fins de interposição de recurso, podendo ser postergado o seu recolhimento para o final da
demanda, caso a autarquia fique vencida, nos termos do art. 27 do CPC/1973. Nessa mesma esteira, adveio a
Súmula 483/STJ, com o seguinte enunciado: "O INSS não está obrigado a efetuar depósito prévio do preparo
por gozar das prerrogativas e privilégios da Fazenda Pública". Nesse contexto, consoante remansosa
jurisprudência, o porte de remessa e de retorno, que tem por escopo cobrir o custo postal do deslocamento
físico do processo, integra o preparo, enquanto pressuposto recursal genérico. Em conclusão, o porte de
remessa e de retorno somente ao final da demanda, caso nela resulte vencido. (Informativo n. 653.)
57

Inexiste reciprocidade das obrigações ou de bilateralidade de créditos (pressupostos do


instituto da compensação, art. 368 do Código Civil), o que implica a impossibilidade de se
compensarem os honorários fixados em embargos à execução com aqueles fixados na
própria ação de execução.

REsp 1.520.710-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Corte Especial, por unanimidade, julgado em
18/12/2018, DJe 27/02/2019 (Tema 587)

TEMA Honorários Advocatícios. Execução de sentença contra a Fazenda Pública. Concomitância de embargos
à execução. Bilateralidade de créditos. Inocorrência. Compensação das verbas honorárias. Impossibilidade.
Tema 587.

INFORMAÇÕES: Trata a controvérsia sobre a possibilidade ou não da compensação da verba honorária fixada
em execução e em seus consequentes embargos à execução. Quanto ao tema, tanto a Primeira Seção, quanto
a Primeira e Segunda Turmas, vêm negando a possibilidade de compensação entre as verbas honorárias
fixadas na execução e nos embargos à execução. Ademais, a jurisprudência, ao determinar que os honorários
advocatícios pertencem ao advogado, e não à parte vencedora, e ao estabelecer que possuem natureza
alimentícia, fixou premissas que não legitimam a compensação da verba, quando fixados em processos
distintos. É evidente que a ausência de reciprocidade ou de bilateralidade de créditos impede que seja
procedida a compensação de verbas honorárias fixadas no processo de conhecimento com as fixadas no
processo de embargos à execução. (Informativo n. 643.)

Os embargos do devedor são ação de conhecimento incidental à execução, razão porque


os honorários advocatícios podem ser fixados em cada uma das duas ações, de forma
relativamente autônoma, respeitando-se os limites de repercussão recíproca entre elas,
desde que a cumulação da verba honorária não exceda o limite máximo previsto no § 3º do
art. 20 do CPC/1973

REsp 1.520.710-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Corte Especial, por unanimidade, julgado em
18/12/2018, DJe 27/02/2019 (Tema 587)

TEMA Honorários Advocatícios. CPC/1973. Execução de sentença contra a Fazenda Pública. Concomitância de
embargos à execução. Autonomia das ações. Arbitramento de honorários em cada uma delas. Possibilidade.
Tema 587.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia sobre a possibilidade ou não de cumulação da verba honorária


fixada em embargos à execução de sentença contra a Fazenda Pública com aquela arbitrada na própria
execução. Na hipótese, o tribunal de origem decidiu que é cabível a fixação de honorários advocatícios em
execução individual de sentença proferida em ação coletiva contra a Fazenda Pública, ainda que não
embargada (Súm. n. 345/STJ), sendo que, na hipótese de interposição de embargos à execução, os honorários
anteriormente arbitrados em sede de execução de sentença incidirão na parcela incontroversa, enquanto que
sobre a parcela controvertida incidirá sucumbência única, a ser arbitrada apenas ao final dos embargos à
execução. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça vem admitindo a cumulação de verbas
honorárias fixadas na execução e nos embargos à execução, sendo necessário, apenas, que o somatório dos
valores obedeça ao limite percentual máximo previsto no § 3º do art. 20 do CPC/1973. De fato, não se pode
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negar o estreito vínculo entre a execução e a ação incidental de embargos a ela opostos, de modo que,
embora as ações não se confundam, o evento fixação dos honorários sucumbenciais numa ação repercute na
outra, dado que a autonomia entre elas é relativa. O resultado de uma influi no da outra. Assim, por exemplo,
fixados honorários de 10% na execução, para o caso de pronto pagamento, manejados embargos à execução:
I) caso improvidos estes, os honorários de sucumbência na ação incidental estarão limitados ao máximo de
10%, para que não se ultrapasse o teto de 20% previsto no § 3º do art. 20 do CPC/1973; II) noutro giro, caso
providos os embargos à execução, os honorários de sucumbência em favor da parte executada poderão ser
fixados até o limite do teto de 20% previsto no § 3º do art. 20 do CPC/1973, ficando sem efeito a anterior
fixação dos honorários de 10% na execução, para o caso de pronto pagamento, pois a base de cálculo
daqueles passa a ser zero. O exemplo acima demonstra a impossibilidade de os honorários advocatícios serem
fixados de forma propriamente autônoma e independente em cada uma das referidas ações, embora estas
não se confundam. (Informativo n. 643)

O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de
agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do
julgamento da questão no recurso de apelação.

REsp 1.704.520-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, por maioria, julgado em 05/12/2018, DJe
19/12/2018 (Tema 988)

TEMA Natureza jurídica do rol do art. 1.015 do CPC/2015. Impugnação imediata de decisões interlocutórias
não previstas nos incisos do referido dispositivo legal. Possibilidade. Urgência. Excepcionalidade. Taxatividade
mitigada. Tema 988.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, é importante destacar as conflitantes posições doutrinárias e, aparentemente


indissolúveis, divergências jurisprudenciais sobre as quais se pretende pacificar o entendimento desta Corte.
São elas: a) o rol do art. 1.015 do CPC é absolutamente taxativo e deve ser interpretado restritivamente; b) o
rol do art. 1.015 do CPC é taxativo, mas admite interpretações extensivas ou analógicas; e c) o rol do art. 1.015
é exemplificativo, 44 admitindo-se o recurso fora das hipóteses de cabimento previstas no dispositivo. Nesse
sentido, registre-se que o legislador, ao restringir a recorribilidade das decisões interlocutórias proferidas na
fase de conhecimento do procedimento comum e dos procedimentos especiais, exceção feita ao inventário,
pretendeu salvaguardar apenas as "situações que, realmente, não podem aguardar rediscussão futura em
eventual recurso de apelação". Contudo, a enunciação, em rol pretensamente exaustivo, das hipóteses em que
o agravo de instrumento seria cabível revela-se, na esteira da majoritária doutrina e jurisprudência, insuficiente
e em desconformidade com as normas fundamentais do processo civil, na medida em que sobrevivem
questões urgentes fora da lista do art. 1.015 do CPC e que tornam inviável a interpretação de que o referido
rol seria absolutamente taxativo e que deveria ser lido de modo restritivo. Da mesma forma, a tese de que o
rol do art. 1.015 do CPC seria taxativo, mas admitiria interpretações extensivas ou analógicas, mostra-se
ineficaz para conferir ao referido dispositivo uma interpretação em sintonia com as normas fundamentais do
processo civil, seja porque ainda remanescerão hipóteses em que não será possível extrair o cabimento do
agravo das situações enunciadas no rol, seja porque o uso da interpretação extensiva ou da analogia pode
desnaturar a essência de institutos jurídicos ontologicamente distintos. Por sua vez, a tese de que o rol seria
meramente exemplificativo, resultaria na repristinação do regime recursal das interlocutórias que vigorava no
CPC/1973 e que fora conscientemente modificado pelo legislador do novo CPC, de modo que estaria o Poder
Judiciário, nessa hipótese, substituindo a atividade e a vontade expressamente externada pelo Poder
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Legislativo. Assim, a tese que se propõe consiste em, a partir de um requisito objetivo - a urgência que
decorre da inutilidade futura do julgamento do recurso diferido da apelação -, possibilitar a recorribilidade
imediata de decisões interlocutórias fora da lista do art. 1.015 do CPC, sempre em caráter excepcional e desde
que preenchido o requisito urgência. Trata-se de reconhecer que o rol do art. 1.015 do CPC possui uma
singular espécie de taxatividade mitigada por uma cláusula adicional de cabimento, sem a qual haveria
desrespeito às normas fundamentais do próprio CPC e grave prejuízo às partes ou ao próprio processo.
(informativo n. 639.)

2018

Em ação consignatória, a insuficiência do depósito realizado pelo devedor conduz ao


julgamento de improcedência do pedido, pois o pagamento parcial da dívida não extingue
o vínculo obrigacional.

REsp 1.108.058-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF da 5ª Região), Rel. Acd.
Min. Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, por maioria, julgado em 10/10/2018, DJe 23/10/2018 (Tema 967)

TEMA Ação de consignação em pagamento. Depósito parcial da dívida. Improcedência. Extinção da obrigação.
Pagamento integral da dívida e encargos. Necessidade. Tema 967.

INFORMAÇÕES: Inicialmente cumpre salientar que da análise dos artigos do Código Civil e do CPC de 1973,
que trataram da ação de consignação em pagamento, nota-se: a) que a consignação de valor monetário é
forma de pagamento integral da dívida vencida e que tem por objetivo extinguir a obrigação, ainda que se
admita o depósito das parcelas vincendas, ainda não exigíveis (CC, arts. 334 e 336; CPC/1973, art. 890); b) que,
em relação ao tema em debate, só tem lugar quando o credor não puder receber ou se recusar, sem justa
causa, a receber ou dar quitação, ou pender litígio sobre o objeto (CC, art. 335); c) que devem concorrer os
requisitos para a validade do pagamento, como tempo, modo, valor, sujeitos, lugar e acréscimos legais (CC,
arts. 336 e 337; CPC/1973, arts. 890, § 1º, e 891); d) que a consignação em estabelecimento bancário
(extrajudicial), assim como o ajuizamento do feito judicial, direito de ação que é, constitui faculdade ("poderá")
do devedor (CPC/1973, art. 890, § 1º); e) que cessa para o devedor, sobre a importância depositada, a fluência
de juros e os riscos, exceto se for julgada improcedente a consignatória (CPC/1973, art. 891); f) que o
réu/credor, se alegar que o pagamento não é integral, deve indicar o montante que entende devido
(CPC/1973, art. 896, inciso IV e parágrafo único); g) que com a procedência do pedido se dará a declaração de
extinção da obrigação; e h) que existe possibilidade de julgamento de improcedência (CPC/1973, art. 891),
caso em que o depósito não terá tido o efeito de fazer cessar a mora do devedor. A jurisprudência
predominante do STJ, acerca da procedência parcial da ação em caso de depósito insuficiente, não é
compatível com o princípio de direito civil de que não há mora simultânea, e nem com a disciplina processual
da ação consignatória, a qual determina, como pressuposto para o exame do mérito, o depósito inicial da
integralidade da dívida vencida, com o fito de extinção da obrigação. Os diversos julgados que representam o
entendimento atualmente dominante desta Corte, na prática, suprimem a hipótese legal de improcedência do
feito, ao arrepio do art. 891 do CPC/1973. Com efeito, não havendo depósito, a sentença será de extinção do
processo sem exame do mérito (CPC 2015, art. 542, parágrafo único). Havendo depósito insuficiente, terá sido
justa a recusa do credor, que não pode ser obrigado a receber em parte a prestação, se tal não foi
convencionado, e, portanto, o resultado coerente com o ordenamento jurídico será a improcedência e não a
procedência parcial do pedido. A aceitação de qualquer depósito, de qualquer valor, como hipótese de
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procedência parcial do pedido, privaria de efeito a regra legal segundo a qual cessa para o devedor "tanto
que se efetue o depósito, os juros e os riscos, salvo se for julgada improcedente" a consignação (CPC/1973,
art. 891; CPC/2015, art. 540); isso porque a ação seria sempre julgada parcialmente procedente, mesmo que
manifestamente insuficiente o depósito para extinguir a obrigação, mesmo que justificada a recusa do credor,
tendo o autor inadimplente dado causa ao ajuizamento da ação. Assim, quando o depósito não for integral, a
solução imposta pelo ordenamento jurídico é o julgamento de improcedência do pedido consignatório.
(Informativo n. 636.)

O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do entendimento consolidado na


Súmula 345 do STJ, de modo que são devidos honorários advocatícios nos procedimentos
individuais de cumprimento de sentença decorrente de ação coletiva, ainda que não
impugnados e promovidos em litisconsórcio.

REsp 1.648.238-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 20/06/2018, DJe
27/06/2018 (Tema 973)

TEMA Cumprimento de sentença. Ação coletiva contra a Fazenda Pública. Ausência de Impugnação.
Honorários advocatícios. Cabimento. CPC/2015. Mudança no ordenamento jurídico. Entendimento
consolidado. Súmula n. 345/STJ. Incidência. Tema 973.

INFORMAÇÕES: A Corte Especial, quando do julgamento do EREsp 653.270/RS, Rel. Min. José Delgado,
sessão de 17/05/2006 (DJ 05/02/2007), decidiu que, "nas execuções individuais procedentes de sentença
genérica proferida em ação coletiva ou ação civil pública, é cabível a condenação da Fazenda Pública ao
pagamento de honorários advocatícios, ainda que não embargada a execução". Diante de outros arestos que
vieram a confirmar essa assertiva, a Corte Especial consolidou o seu entendimento mediante a edição da
Súmula 345, que restringe a aplicação do art. 1º-D da Lei n. 9.494/1997, que dispõe que "não serão devidos
honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não embargadas", às execuções de título judicial,
resistida ou não, procedentes de título judicial proferido em ação coletiva ajuizada por sindicato ou entidade
de classe, como substitutivo processual, ou em sede de ação civil pública, ambas promovidas contra a
Fazenda Pública. O tema agora se renova em face da edição do novel diploma processual civil. No entanto,
não existe razão para se afastar a solução outrora consagrada pelo Superior Tribunal de Justiça, no sentido da
aplicação e vigência da Súmula 345 do STJ. Assim, a interpretação que deve ser dada ao art. 85, § 7º, do
CPC/2015, que dispõe que "não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda
Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada", é a de que, caso a relação
jurídica existente entre as partes esteja concluída desde a ação ordinária, não caberá a condenação em
honorários advocatícios se não houver a apresentação de impugnação. Isso porque o cumprimento de
sentença de que trata o referido diploma legal é decorrência lógica do mesmo processo cognitivo. Entretanto,
nas decisões coletivas - lato sensu - não se especifica o quantum devido nem a identidade dos titulares do
direito subjetivo, sendo elas mais limitadas do que as que decorrem das demais sentenças condenatórias
típicas. Assim, transfere-se para a fase de cumprimento a obrigação cognitiva relacionada com o direito
individual de receber o que findou reconhecido na ação ordinária. Em face disso, a execução desse título
judicial pressupõe cognição exauriente, cuja resolução se deve dar com estrita observância dos postulados da
ampla defesa e do contraditório, a despeito do nome dado ao procedimento, que induz a indevida
compreensão de se estar diante de mera fase de cumprimento, de cognição limitada. Diante desse quadro,
não houve mudança no ordenamento jurídico, uma vez que o citado art. 85, § 7º, do CPC/2015 reproduz
61

basicamente o contido no art. 1º-D da Lei n. 9.494/1997, em relação ao qual o entendimento desta Corte, já
consagrado, é no sentido de afastar a aplicação do aludido comando nas execuções individuais, ainda que
promovidas por litisconsorte, do julgado proferido em sede de ação coletiva lato sensu, ação civil pública ou
ação de classe. (Informativo n. 628.)

O art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009), para fins de
correção monetária, não é aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda Pública,
independentemente de sua natureza.

REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
22/02/2018, DJe 02/03/2018 (Tema 905)

TEMA Aplicação do art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009). Condenações
impostas à Fazenda Pública. Correção monetária. Impossibilidade de fixação apriorística.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a tratar da questão relativa à aplicação do art. 1º-F da Lei n.
9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009), que determina a utilização dos índices de
remuneração básica da caderneta de poupança, para fins de atualização monetária e compensação da mora
(juros de mora). No tocante à correção monetária, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento das ADIs 4.357/
DF e 4.425/DF, julgou inconstitucional a atualização monetária dos débitos da Fazenda Pública com base no
índice oficial de remuneração da caderneta de poupança na forma prevista no art. 100, § 12, da CF/88 (com
redação dada pela EC 62/2009). Com base nesse entendimento, a Primeira Seção/STJ, ao apreciar o REsp
1.270.439-PR (Rel. Min. Castro Meira, DJe 2/8/2013 - acórdão submetido ao regime dos recursos repetitivos),
adotou, entre outros, o seguinte entendimento: “A Suprema Corte declarou inconstitucional a expressão
"índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança" contida no § 12 do art. 100 da CF/88. Assim
entendeu porque a taxa básica de remuneração da poupança não mede a inflação acumulada do período e,
portanto, não pode servir de parâmetro para a correção monetária a ser aplicada aos débitos da Fazenda
Pública”. Recentemente (20 de setembro de 2017), o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento do RE
870.947/SE, submetido ao regime da repercussão geral, fixando, entre outras, a seguinte tese: "O art. 1º-F da
Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina a atualização monetária
das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança,
revela-se inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade (CF/88, art. 5º, XXII),
uma vez que não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da economia, sendo
inidônea a promover os fins a que se destina". Em se tratando de débitos da Fazenda Pública, viola o "direito
fundamental de propriedade (CF/88, art. 5º, XXII)" a atualização mediante índice que seja "manifestamente
incapaz de preservar o valor do crédito de que é titular o cidadão". Isso porque a inflação, "fenômeno
tipicamente econômico-monetário, mostra-se insuscetível de captação apriorística (ex ante)" (ADI 4.357,
Relator(a): Min. Ayres Britto, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Luiz Fux, DJe 25/09/2014). Por fim, em relação à
modulação dos efeitos da decisão que declarou inconstitucional a atualização monetária dos débitos da
Fazenda Pública com base no índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, no âmbito do
Supremo Tribunal Federal, objetivou reconhecer a validade dos precatórios expedidos ou pagos até 25 de
março de 2015, impedindo, desse modo, a rediscussão do débito baseada na aplicação de índices diversos.
Assim, mostra-se descabida a modulação em relação aos casos em que não ocorreu expedição ou pagamento
de precatório. (Informativo n. 620.)
62

O art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009), na parte em
que estabelece a incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda Pública com base no
índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, aplica-se às condenações
impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as condenações oriundas de relação jurídico-
tributária.

REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
22/02/2018, DJe 02/03/2018 (Tema 905)

TEMA Aplicação do art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009). Condenações
impostas à Fazenda Pública. Juros de mora.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a tratar da questão relativa à aplicação do art. 1º-F da Lei n.
9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009), que determina a utilização dos índices de
remuneração básica da caderneta de poupança, para fins de atualização monetária e compensação da mora
(juros de mora). Quanto aos juros de mora, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento das ADIs 4.357/DF e
4.425/DF, julgou constitucional a incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda Pública, com base no
índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, na forma prevista no art. 100, § 12, da CF/88 (com
redação dada pela EC 62/2009), à exceção dos indébitos de natureza tributária. Com base nesse
entendimento, a Primeira Seção/STJ, ao apreciar o REsp 1.270.439-PR (Rel. Min. Castro Meira, DJe 2/8/2013 -
acórdão submetido ao regime dos recursos repetitivos), pacificou entendimento no sentido de "os juros
moratórios serão equivalentes aos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicáveis à caderneta de
poupança, exceto quando a dívida ostentar natureza tributária, para as quais prevalecerão as regras
específicas". Recentemente (20 de setembro de 2017), o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento do
RE 870.947/SE, submetido ao regime da repercussão geral, fixando, entre outras, as seguintes teses: “O art. 1º-
F da Lei n. 9.494/1997, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009, na parte em que disciplina os juros
moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos
de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda
Pública remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (CF/88, art. 5º,
caput); quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos juros moratórios
segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta
extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009.
(Informativo n. 620.)

As condenações judiciais de natureza administrativa em geral, sujeitam-se aos seguintes


encargos: (a) até dezembro/2002: juros de mora de 0,5% ao mês; correção monetária de
acordo com os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque
para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b) no período posterior à vigência do
CC/2002 e anterior à vigência da Lei n. 11.960/2009: juros de mora correspondentes à taxa
Selic, vedada a cumulação com qualquer outro índice; (c) no período posterior à vigência da
Lei n. 11.960/2009: juros de mora segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança; correção monetária com base no IPCA-E.

REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
22/02/2018, DJe 02/03/2018 (Tema 905)
63

TEMA Aplicação do art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009). Condenações
impostas à Fazenda Pública. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação. Condenações judiciais
de natureza administrativa em geral.

INFORMAÇÕES: O art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997, com redação dada pela Lei n. 11.960/2009, para fins de
correção monetária, não é aplicável nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza, o que impede, evidentemente, a sua utilização para fins de atualização monetária de condenações
de natureza administrativa. Por seu turno, examinando-se o Manual de Cálculos da Justiça Federal, verifica-se
que, em relação às condenações de natureza administrativa em geral ("Ações condenatórias em geral"), são
previstos vários índices de correção monetária, destacando-se a adoção do IPCA-E a partir de janeiro/2001,
que está em consonância com a orientação deste Tribunal. Nesse sentido: AgRg no Ag 665.083-SP, Rel. Min.
Luiz Fux, DJe 24/10/2005. Por outro lado, é legítima a fixação dos juros de mora segundo o índice de
remuneração da caderneta de poupança, na forma prevista no art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 após a vigência
da Lei n. 11.960/2009. Em relação ao tema, destaca-se: AgRg no REsp 1.455.195-TO, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, DJe 19/08/2014. Quanto ao período anterior à vigência do CC/2002, ou seja, até dezembro de 2002,
os juros de mora equivalem a 0,5% (meio por cento) ao mês, sujeitos à capitalização simples (arts. 1.062 a
1.064 do CC/1916). Contudo, especial atenção merece o período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à
vigência da Lei n. 11.960/2009. Isso porque, nos termos do art. 406 do CC/2002, "quando os juros moratórios
não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei,
serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda
Nacional". Conforme entendimento pacificado pela Corte Especial/STJ, "atualmente, a taxa dos juros
moratórios a que se refere o referido dispositivo é a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e
Custódia - SELIC, por ser ela a que incide como juros moratórios dos tributos federais (arts. 13 da Lei n.
9.065/1995, 84 da Lei n. 8.981/1995, 39, § 4º, da Lei n. 9.250/1995, 61, § 3º, da Lei n. 9.430/1996 e 30 da Lei n.
10.522/2002)" (EREsp 727.842-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavaski, DJe 20/11/2008). No entanto, a taxa SELIC,
em sua essência, já compreende juros de mora e correção monetária. Por tal razão, a sua incidência, a título de
juros de mora, implica seja afastada a incidência do IPCA-E (ou qualquer outro índice de correção monetária)
no que se refere ao período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei n. 11.960/2009.
(Informativo n. 620.)

As condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos, sujeitam-se aos


seguintes encargos: (a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples);
correção monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com
destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b) agosto/2001 a
junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês; correção monetária: IPCA-E; (c) a partir de
julho/2009: juros de mora: remuneração oficial da caderneta de poupança; correção
monetária: IPCA-E.

REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
22/02/2018, DJe 02/03/2018 (Tema 905)

TEMA Aplicação do art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009). Condenações
impostas à Fazenda Pública. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação. Condenações judiciais
referentes a servidores e empregados públicos.
64

INFORMAÇÕES: Tratando-se de créditos referentes a servidores e empregados públicos, a atualização


monetária e a compensação da mora obedecem aos seguintes critérios: (a) até julho/2001: juros de mora: 1%
ao mês (capitalização simples), nos termos do Decreto-Lei n. 3.322/1987; correção monetária: índices previstos
no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
(b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês, nos termos da MP n. 2.180-35/1935 que
acrescentou o art. 1º-F à Lei n. 9.494/97; correção monetária: IPCA-E; (c) a partir de julho/2009: juros de mora:
remuneração oficial da caderneta de poupança, nos termos do art. 1º-F da Lei n. 9.494/97, com redação dada
pela Lei n. 11.960/2009; correção monetária: IPCA-E. Ressalte-se que a adoção dos índices referidos ampara-se
na jurisprudência deste Tribunal, merecendo destaque os seguintes precedentes: EDcl no AgRg no REsp
1.209.861- ES, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 15/05/2012; e REsp 937.528-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe
01/09/2011. (Informativo n. 620.)

No âmbito das condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas


existem regras específicas, no que concerne aos juros moratórios e compensatórios, razão
pela qual não se justifica a incidência do art. 1ºF da Lei n. 9.494/1997 (com redação dada
pela Lei n. 11.960/2009), nem para compensação da mora nem para remuneração do
capital.

REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
22/02/2018, DJe 02/03/2018 (Tema 905)

TEMA Aplicação do art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009). Condenações
impostas à Fazenda Pública. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação. Condenações judiciais
referentes a desapropriações diretas e indiretas.

INFORMAÇÕES: No tocante às condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas,


relativamente à correção monetária, incidem, em síntese, os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça
Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro de 2001. Em relação aos juros de mora,
de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça Federal, aplicam-se os seguintes índices: (a) até
dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-B do Decreto-Lei n. 3.365/1941; (b)
janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 97, § 16, do ADCT (incluído pela EC
n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991; (c) a partir de maio/2012: o mesmo percentual de juros
incidentes sobre a caderneta de poupança, capitalizados de forma simples, correspondentes a: (i) 0,5% ao
mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%; (ii) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais
casos, nos termos do art. 97, § 16, do ADCT (incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991,
com alterações da MP n. 567/2012 57 convertida na Lei n. 12.703/2012. No que concerne aos juros
compensatórios, os índices previstos são os seguintes: (a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples), nos
termos da Súmula n. 618/STF e Súmula n. 110 do extinto TFR; (b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5%
(capitalização simples), nos termos do art. 15-A, do Decreto-Lei n. 3.365/1941, introduzido pela MP n.
1.577/1997 e suas sucessivas reedições; (c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples), nos termos da
ADI 2.332/DF, REsp 1.111.829/SP e Súmula n. 408/STJ. (Informativo n. 620.)
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As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-se à


incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao período posterior
à vigência da Lei n. 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei n. 8.213/1991. Quanto aos
juros de mora, no período posterior à vigência da Lei n. 11.960/2009, incidem segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança.

REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
22/02/2018, DJe 02/03/2018 (Tema 905)

TEMA Aplicação do art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009). Condenações
impostas à Fazenda Pública. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação. Condenações judiciais
de natureza previdenciária.

INFORMAÇÕES: No tocante às condenações judiciais de natureza previdenciária, para fins de correção


monetária, no período anterior à vigência da Lei 11.430/2006, devem ser aplicados os índices previstos no
Manual de Cálculos da Justiça Federal. Nesse sentido: REsp 1.103.122-PR, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe
03/08/2009. Ressalte-se que no período posterior à vigência da Lei 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei
n. 8.213/91, a correção monetária de condenações judiciais impostas à Fazenda Pública de natureza
previdenciária deve ser calculada segundo a variação do INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE. Cumpre registrar que a adoção do INPC não configura afronta ao que foi
decidido pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral (RE 870.947-SE). Isso porque, naquela
ocasião, determinou-se a aplicação do IPCA-E para fins de correção monetária de benefício de prestação
continuada (BPC), o qual se trata de benefício de natureza assistencial, previsto na Lei n. 8.742/1993. Assim, é
imperioso concluir que o INPC, previsto no art. 41-A da Lei n. 8.213/1991, abrange apenas a correção
monetária dos benefícios de natureza previdenciária. Por outro lado, é legítima a fixação dos juros de mora
segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança, na forma prevista no art. 1º-F, da Lei n.
9.494/1997, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009. Em relação ao tema, destacam-se: REsp 1.272.239-
PR, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe 01/10/2013 e AgRg no REsp 1.455.195-TO, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, DJe 19/08/2014. Já no período anterior à vigência da Lei n. 11.960/2009, os juros de mora equivalem
a 1% (um por cento) ao mês, sujeitos à capitalização simples (art. 3º do Decreto-Lei n. 2.322/87). Nesse
sentido: AgRg no AgRg no REsp 929.339-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe 22/11/2010 e EREsp
230.222/CE, Rel. Min. Felix Fischer, DJ 16/10/2000. (Informativo n. 620.)

A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de indébitos


tributários devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso. Não
havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de 1% ao mês
(art. 161, § 1º, do CTN). Observada a regra isonômica e 58 havendo previsão na legislação
da entidade tributante, é legítima a utilização da taxa Selic, sendo vedada sua cumulação
com quaisquer outros índices.

REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
22/02/2018, DJe 02/03/2018 (Tema 905)

TEMA Aplicação do art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997 (com redação dada pela Lei n. 11.960/2009). Condenações
impostas à Fazenda Pública. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação. Condenações judiciais
de natureza tributária.
66

INFORMAÇÕES: Em relação às condenações judiciais de natureza tributária, é ilegítima a aplicação do art. 1º-F
da Lei n. 9.494/1997, com redação dada pela Lei n. 11.960/2009, tanto em relação à correção monetária
quanto aos juros de mora. Em princípio, as condenações judiciais impostas à Fazenda Pública de natureza
tributária sujeitam-se à incidência de correção monetária e juros de mora. Ressalte-se que a taxa de juros de
mora incidente na repetição de indébito tributário deve corresponder à utilizada para cobrança de tributo
pago em atraso. Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de 1% (um
por cento) ao mês (art. 161, § 1º, do CTN). A regra isonômica aplica-se, também, à correção monetária, ou
seja, a atualização dos indébitos tributários sujeita-se aos mesmos critérios utilizados na cobrança do tributo
pago em atraso. Contudo, nas entidades tributantes que adotam a taxa Selic observando a regra isonômica
em comento, desde que com previsão na respectiva legislação, fica vedada a sua cumulação com quaisquer
outros índices. Isso porque a taxa Selic, em sua essência, já compreende juros de mora e correção monetária.
Esse entendimento foi consolidado na Súmula n. 523 deste Tribunal. (Informativo n. 620.)

A competência para processar e julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa
falida, quando em litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de direito público, é do juízo
cível no qual for proposta a ação de conhecimento, competente para julgar ações contra a
Fazenda Pública, de acordo as respectivas normas de organização judiciária.

REsp 1.643.856-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 13/12/2017, DJe
19/12/2017. (Tema 976)

TEMA Demanda cível contra massa falida. Pedidos ilíquidos. Pessoa jurídica de direito público. Litisconsórcio
passivo. Art. 6º, § 1º, da Lei n. 11.101/2005. Incidência. Juízo Cível para o exame da ação de conhecimento.
Competência.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a definir a competência para processo e julgamento de demandas


cíveis com pedidos ilíquidos contra massa falida em litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de direito
público: se é competente o juízo no qual se processa o feito falimentar ou o juízo cível em que proposta a
ação de conhecimento respectiva. Inicialmente cumpre salientar que apesar de a falência da empresa ter sido
decretada no ano de 1989, não há de se falar em aplicação do regramento contido no Decreto-Lei n.
7.661/1945, pois a demanda cível ilíquida, que tem relação com fato ocorrido posteriormente à decretação da
falência da empresa, foi proposta já sob a vigência da Lei n. 11.101/2005. Cabe ressaltar que o art. 192 da
legislação atual deve ser interpretado restritivamente, o que vale dizer que a expressão "aos processos de
falência ou de concordata ajuizados anteriormente ao início da sua vigência" - contida no dispositivo - não
abrange demandas correlatas, como na hipótese em exame. Assim, de acordo com o entendimento da
Segunda Seção desta Corte Superior, deve-se aplicar o regramento contido no art. 6º da Lei n. 11.101/2005, o
qual, inclusive, foi mais restritivo do que o vigente anteriormente, até porque o seu § 1º limita ainda mais as
exceções à competência universal do juízo falimentar, quando se compara com a redação similar anterior do
art. 24, caput, e § 2º, II, do Decreto-Lei n. 7.661/1945. Registre-se ainda que, a Quarta Turma desta Corte
Superior, por ocasião do julgamento do AgRg no REsp 1.471.615-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 24/9/2014,
assentou que a competência do juízo cível é fixada por exclusão do juízo universal falimentar, tenha sido, ou
não, a demanda ilíquida interposta antes da decretação da quebra ou da recuperação judicial. Frise-se que a
presente controvérsia foi encaminhada à análise da Primeira Seção apenas pela presença de pessoa jurídica de
direito público no polo passivo da demanda. Sendo assim, e na presença de tal peculiaridade, o juízo cível
67

competente para ações contra a Fazenda Pública será responsável pelo julgamento de demanda cível ilíquida
proposta em desfavor da massa falida. (Informativo n. 617.)

2017

O termo inicial da contagem do prazo para impugnar decisão judicial é, para o Ministério
Público, a data da entrega dos autos na repartição administrativa do órgão, sendo
irrelevante que a intimação pessoal tenha se dado em audiência, em cartório ou por
mandado.

REsp 1.349.935-SE, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, Terceira Seção, por maioria, julgado em 23/8/2017, DJe
14/9/2017. (Tema 959)

TEMA Intimação do Ministério Público. Contagem dos prazos. Início. Necessidade de remessa dos autos à
instituição.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a saber se a intimação do Ministério Público, nas hipóteses em que o
respectivo membro se fez presente na audiência onde o ato foi produzido, já determina o início do cômputo
do prazo para recorrer, ou se o prazo somente se inicia com a remessa dos autos com vista à instituição. De
início cabe destacar que, o prazo processual, considerado em si mesmo, não tem necessária relação com
intimação (comunicação ou ciência de atos daqueles que figuram no processo), mas com o espaço de tempo
de que as partes ou terceiros interessados dispõem para a prática válida de atos processuais que darão
andamento ao processo. Assim, conquanto se reconheça que a intimação do ato e o respectivo prazo
processual caminhem ligados, uma vez que, em regra, a ciência ou o conhecimento das partes acerca dos atos
processuais dispara o início do cômputo do prazo para a prática de novos atos, o início na contagem do prazo
pode e deve ser postergado quando adequado e necessário ao exercício do contraditório pleno. Para bem
desincumbir-se de suas atribuições constitucionais, assegurou-se ao Ministério Público um extenso rol de
prerrogativas, direitos, garantias e deveres, de estatura constitucional (arts. 127 a 129 da CF) e legal (arts. 17 e
18 da Lei Complementar n. 75/1993 e 38 a 42 da Lei n. 8.625/1993), permeados diretamente por princípios
que singularizam tal instituição e que influenciam no exercício do contraditório efetivo, entre os quais, a
unidade e a indivisibilidade. Em uma concepção tradicional, muito bem colocada pela doutrina, pode-se
afirmar que o princípio da unidade comporta a ideia de que os membros do Ministério Público integram um
só órgão sob a direção de um só chefe. A seu turno, o princípio da indivisibilidade significa que, observados
os preceitos legais, um membro do Ministério Público poderá substituir outro quando tal se fizer necessário.
Assim, a substituição de um membro por outro não fragmenta a atuação ministerial, pois é a instituição,
presentada pelos seus membros, quem pratica o ato. Tal circunstância é de suma importância para a
percepção da singularidade que caracteriza e diferencia a atuação de um promotor de justiça (ou de um
procurador da república). Isso porque, nem sempre será o mesmo agente público responsável pela condução
e, posteriormente, pela impugnação dos atos praticados durante a audiência. Aliás, não se descure –
notadamente na esfera criminal – a discrepância na quantidade de processos sob a responsabilidade de um
membro do Ministério Público com a que normalmente ocupa a carteira de um escritório de advocacia; ideia
reforçada pelos princípios da oficialidade e da obrigatoriedade da ação penal que norteiam a atuação de um
promotor de justiça. Por tudo isso é que não soa equivocado afirmar, sob o prisma de princípios
constitucionais, que a intimação dirigida ao membro do Ministério Público presente em audiência não induz,
68

automaticamente, o início do cômputo do prazo para a prática de atos processuais. A par desses aspectos
pragmáticos, que impõem um olhar diferenciado sobre a atuação do Ministério Público no processo penal,
não há como fugir da clareza normativa da legislação de regência. Tanto a Lei Orgânica dos Ministérios
Públicos Estaduais (art. 41, IV, da Lei n. 8.625/1993) quanto a Lei Complementar n. 75/1993, do Ministério
Público da União (art. 18, II, "h") são explícitas em estabelecer a prerrogativa processual aos membros dessa
instituição, no sentido de serem intimados pessoalmente nos autos, em qualquer processo ou grau de
jurisdição. Observe-se, ainda, que a prerrogativa de intimação pessoal do Ministério Público já era prevista no
CPC de 1973, em seu art. 236, § 2º, posteriormente reforçada pelas citadas leis de regência – promulgadas sob
a nova ordem constitucional – e mantidas no novo CPC, conforme previsão contida no art. 180 ("O Ministério
Público gozará de prazo em dobro para manifestar-se nos autos, que terá início a partir de sua intimação
pessoal"). Infere-se, de ambas as leis, que a intimação dos membros do Ministério Público, em qualquer grau
de jurisdição, será sempre pessoal, com um plus, indispensável para a consecução de seus fins constitucionais:
a intimação se aperfeiçoa mediante a entrega dos autos com vista, percepção, aliás, que não escapou da
análise do Ministro Luis Roberto Barroso, ao pontuar que "há, em relação ao Ministério Público, uma
prerrogativa de ser intimado pessoalmente e com vista dos autos, para qualquer finalidade" (Rcl n. 17.694-RS,
DJe 6/10/2014). Diante dessas premissas, inviável a restrição promovida na instância de origem ao mecanismo
de intimação pessoal dos membros do Ministério Público, em confronto com os princípios institucionais
mencionados, os quais, aliados à dimensão que se tem dado ao contraditório e às peculiaridades que
informam a atuação do Parquet perante a jurisdição criminal, permitem o exercício efetivo das atribuições de
uma instituição essencial à administração da justiça, voltadas à proteção não apenas da ordem jurídica, mas,
também, dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (Informativo n. 611)

A correção monetária dos depósitos judiciais deve incluir os expurgos inflacionários.

REsp 1.131.360-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Maria Thereza de Assis
Moura, Corte Especial, por maioria, julgado em 3/5/2017, DJe 30/6/2017. (TEMA 369)

TEMA Depósito judicial. Correção monetária. Expurgos inflacionários. Inclusão. Necessidade. Decreto-Lei n.
1.737/79.

INFORMAÇÕES: Versa a controvérsia sobre a inclusão dos expurgos inflacionários aos valores depositados
judicialmente, a partir de maio de 1989, com o propósito de assegurar a inexigibilidade de crédito tributário,
que foram restituídos à parte autora pela Caixa Econômica Federal em novembro de 1996. De início, cumpre
anotar que a correção monetária é mecanismo de recomposição do poder de compra da moeda, e não de
remuneração de capital, razão pela qual deve sempre representar as alternâncias reais da economia e jamais
se prestar à manipulação de instituições financeiras, que, evidentemente, lucram com as importâncias
depositadas em seus cofres. Não se confunde, portanto, com os juros, que visam à remuneração do capital. A
atualização monetária cuida apenas de preservar o equilíbrio entre os partícipes das relações econômicas,
neutralizando os efeitos da inflação. No caso de depósito judicial, a correção monetária do valor depositado
não acresce o patrimônio do depositante tampouco causa prejuízo ao depositário, evitando, tão somente, o
seu enriquecimento ilícito. Todavia, para que o valor levantado de fato represente as variações do poder
aquisitivo da moeda referente ao período do depósito, mister que a atualização seja plena, isto é, que
contemple os expurgos inflacionários, porquanto, estes, nada mais são do que o reconhecimento de que os
índices de inflação apurados num determinado lapso não corresponderam ao percentual que deveria ter sido
utilizado. Saliente-se, ainda, que o entendimento supracitado deve ser aplicado independentemente de o
depósito judicial ter sido realizado na vigência do Decreto-Lei n. 1.737/79, que determinava que a atualização
69

monetária, nesses casos, seria feita de acordo com os critérios fixados para os débitos tributários. Conclui-se,
por fim, que, se a legislação prevê a atualização monetária do valor depositado, mas os índices escolhidos
para tanto não espelham a perda real do montante, é de rigor a incidência dos expurgos inflacionários de
modo a evitar o enriquecimento ilícito do depositário. (Informativo n. 607)

A partir da vigência da Lei n. 10.444/2002, que incluiu o § 1º ao art. 604, dispositivo que foi
sucedido, conforme Lei n. 11.232/2005, pelo art. 475-B, §§ 1º e 2º, todos do CPC/1973, não
é mais imprescindível, para acertamento de cálculos, a juntada de documentos pela parte
executada ou por terceiros, reputando-se correta a conta apresentada pelo exequente,
quando a requisição judicial de tais documentos deixar de ser atendida, injustificadamente,
depois de transcorrido o prazo legal. Assim, sob a égide do diploma legal citado, incide o
lapso prescricional, pelo prazo respectivo da demanda de conhecimento (Súmula 150/STF),
sem interrupção ou suspensão, não se podendo invocar qualquer demora na diligência para
obtenção de fichas financeiras ou outros documentos perante a administração ou junto a
terceiros.

REsp 1.336.026-PE, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 28/6/2017, DJe
30/6/2017. (Tema 880)

TEMA Execução contra a Fazenda Pública. Prescrição executiva. Súmula 150/STF. Demora ou dificuldade no
fornecimento de fichas financeiras. Hipótese de suspensão ou interrupção do prazo prescricional. Não
ocorrência após a entrada em vigor das modificações processuais da Lei n. 10.444/2002.

INFORMAÇÕES: O tema que se pretende pacificar, mediante o julgamento de recurso representativo de


controvérsia, restringe-se a saber de que modo a demora no fornecimento de documentação (no caso, fichas
financeiras) em poder da administração pública influi no prazo prescricional de execução de sentença contra a
Fazenda Pública. Em primeiro lugar, não se põe em dúvida que o prazo prescricional da execução é o mesmo
da ação de conhecimento, consoante dispõe a Súmula 150/STF. Cabe destacar que a interpretação desse
enunciado não pode ser feita sem a compreensão de que o procedimento de arbitramento integra o próprio
processo de conhecimento. Assim, a prescrição da pretensão executória apenas tem início – quando
dependente o título de liquidação (por quaisquer de suas modalidades) – após encontrado o valor
exequendo. Esse termo inicial sofreu sensível modificação a partir da alteração da natureza jurídica da
"liquidação" por meros cálculos aritméticos. Tais mudanças ocorreram durante o processo de reforma do CPC/
1973, capitaneado pelas seguintes legislações: (i) Lei n. 10.444/2002 – que incluiu os §§ 1º e 2º ao art. 604 à
sistemática de liquidação da sentença; e (ii) Lei n. 11.232/2005 – que revogou os citados dispositivos, mas
transportou a dicção normativa para os §§ 1º e 2º do art. 475-B do CPC/1973. Assim, até a data da vigência da
Lei n. 10.444/2002, havia necessidade de, previamente à execução, acertar os cálculos, não se podendo
ingressar com o feito sem tal “acertamento”, o qual, muitas vezes, dependia de documentos em poder do
próprio executado ou de terceiros. No entanto, após o advento da referida lei, a jurisprudência do STJ – em
relação à inércia da parte exequente, para efeito de incidência do prazo prescricional –, passou a encampar a
seguinte premissa básica: estando os elementos de cálculo em poder do executado ou de terceiros, o juízo os
requisitaria, a pedido do exequente, e, caso não entregues, seria considerada correta a conta apresentada pelo
credor. É que, com essa faculdade à disposição do credor, nenhuma outra necessidade de acertamento da
conta exequenda restou vigente, não podendo o exequente se escudar em eventual demora para obtenção de
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documentos, estejam estes em poder 37 do devedor, ou não. Isso porque também foi pacificada nesta Corte a
orientação de que “não pode a parte aguardar indeterminadamente que os documentos necessários à
elaboração dos cálculos sejam juntados aos autos (...)” e que “nas hipóteses em que o devedor não fornece os
documentos necessários para a confecção dos cálculos executivos, aplica-se o art. 475-B, § 2º, do CPC, que
autoriza presumir corretos os cálculos apresentados pelo credor.” Desse modo, caso as diligências para
obtenção dos dados imprescindíveis ao aparelhamento do feito executivo tenham se esgotado antes da
entrada em vigor da Lei n. 10.444/2002, não se pode penalizar o exequente pela desídia do devedor. Todavia,
com a vigência do referido diploma legal, o lustro prescricional conta-se doravante, porque, como visto, não
tem mais o credor a justificativa de que ainda pende de providência determinada medida para acertamento
dos cálculos. (Informativo n. 607)

É permitida a imposição de multa diária (astreintes) a ente público para compeli-lo a


fornecer medicamento a pessoa desprovida de recursos financeiros.

REsp 1.474.665-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 26/4/2017,
DJe 22/6/2017. (Tema 98)

TEMA Ação de obrigação de fazer. Fornecimento de medicamento para o tratamento de moléstia. Imposição
de multa diária (astreintes) como meio de compelir o devedor a adimplir a obrigação. Fazenda Pública.
Possibilidade.

INFORMAÇÕES: A questão posta em debate restringe-se a examinar a possibilidade de ser imposta multa
diária cominatória (astreintes), a ente estatal, nos casos de descumprimento da obrigação de fornecer
medicamentos. Inicialmente, observa-se que a problemática acerca da efetivação dos provimentos judiciais
que impunham o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer sempre foi notória, porque dependiam
da colaboração espontânea do devedor. Diante disso, viu-se obrigado o legislador a criar mecanismos que
pudessem conjurar essa impropriedade, a exemplo do art. 84 do Código de Defesa do Consumidor e
posteriormente o art. 461 do Código de Processo Civil de 1973. Nesse caminho, a expressão "tais como",
constante do § 5º do art. 461 do CPC/1973 é exemplificativa e garante ao magistrado poder para decidir sobre
qual medida irá se valer para o cumprimento da decisão exarada por si. Trata-se do "poder geral de
efetivação", concedido ao juiz para dotar de efetividade as suas decisões. Sob esse enfoque, a função das
astreintes é justamente no sentido de superar a recalcitrância do devedor em cumprir a obrigação de fazer ou
de não fazer que lhe é imposta, incidindo esse ônus a partir da ciência do obrigado e da sua negativa de
adimplir a obrigação voluntariamente. E a particularidade de impor obrigação de fazer ou de não fazer à
Fazenda Pública não ostenta a propriedade de mitigar, em caso de descumprimento, a sanção de pagar multa
diária, conforme prescreve o § 5º do art. 461 do CPC/1973. Nesse ponto, convém alertar que, em se tratando
do direito à saúde, com maior razão deve ser aplicado, em desfavor do ente público recalcitrante, o preceito
cominatório, sob pena de ser subvertida garantia fundamental. Em outras palavras, é o direito-meio que
assegura o bem maior: a vida. Diante disso, a jurisprudência desta Corte, em reiterados precedentes, admite a
imposição de multa cominatória (astreintes), ex officio ou a requerimento da parte, a fim de compelir o
devedor a adimplir a obrigação de fazer, não importando que esse devedor seja a Fazenda Pública.
(Informativo n. 606)
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Nos casos de intimação/citação realizadas por correio, oficial de justiça, ou por carta de
ordem, precatória ou rogatória, o prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos do aviso
de recebimento, do mandado cumprido, ou da juntada da carta.

REsp 1.632.777-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Corte Especial, por unanimidade, julgado em
17/5/2017, DJe 26/5/2017. (Tema 379)

TEMA Intimação por oficial de justiça, carta rogatória, precatória ou de ordem. Prazo recursal. Início do
cômputo. Data da juntada aos autos.

INFORMAÇÕES: A controvérsia submetida ao rito dos recursos repetitivos limita-se a definir o termo de início
para o cômputo do prazo recursal nas hipóteses em que a intimação é feita por correio, oficial de justiça ou
por carta de ordem, precatória ou rogatória. Quanto ao tema, o art. 241, II do CPC/1973 preceitua que começa
a correr o prazo quando a citação ou intimação for por oficial de justiça, da data da juntada aos autos do
mandado cumprido. Entende-se que, via de regra, o prazo recursal inicia-se com a intimação. Todavia, sendo a
intimação/citação por correio (art. 241, I do CPC/1973, atual art. 231, I do CPC/2015), oficial de justiça (art. 241,
II do CPC/1973, atual art. 231, II do CPC/2015), ou por carta de ordem, precatória ou rogatória (art. 241, IV do
CPC/1973, atual art. 231, VI do CPC/2015), o prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos do aviso de
recebimento, do mandado cumprido ou da juntada da carta. Esse é o entendimento adotado por esta Corte
Especial, conforme se colhe de alguns julgados, a saber: EREsp 908.045-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe
24.2.2014 e AgInt na CR 10.703- EX, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 15.12.2016. Verifica-se, portanto, que havendo a
intimação por correios, pessoal, ou por carta, o prazo recursal inicia-se da juntada aos autos. (Informativo n.
604)

Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas.

REsp 1.497.831-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, Segunda
Seção, por maioria, julgado em 14/9/2016, DJe 7/11/2016.

TEMA Ação de prestação de contas. Revisão de cláusulas contratuais. Impossibilidade. Recurso repetitivo.
Tema 908.

INFORMAÇÕES: Na origem, tratou-se de ação de prestação de contas ajuizada em face de banco em que se
exigiu a demonstração, de forma mercantil, da movimentação financeira do contrato de abertura de crédito
em conta corrente celebrado entre as partes, desde o início do relacionamento, nos termos do art. 917 do
Código de Processo Civil. Tendo em vista a especialidade do rito, não se comporta no âmbito da prestação de
contas a pretensão de alterar ou revisar cláusula contratual. As contas devem ser prestadas, com a exposição,
de forma mercantil, das receitas e despesas, e o respectivo saldo (CPC/1973, art. 917). A apresentação das
contas e o respectivo julgamento devem ter por base os pressupostos assentados ao longo da relação
contratual existente entre as partes. Nesse contexto, não será possível a alteração das bases do contrato
mantido entre as partes, pois o rito especial da prestação de contas é incompatível com a pretensão de revisar
contrato, em razão das limitações ao contraditório e à ampla defesa. Essa impossibilidade de se proceder à
revisão de cláusulas contratuais diz respeito a todo o procedimento da prestação de contas, ou seja, não pode
o autor da ação deduzir pretensões revisionais na petição inicial (primeira fase), conforme a reiterada
jurisprudência do STJ, tampouco é admissível tal formulação em impugnação às contas prestadas pelo réu
(segunda fase). Isso ocorre porque, repita-se, o procedimento especial da prestação de contas não abrange a
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análise de situações complexas, mas tão somente o mero levantamento de débitos e créditos gerados durante
a gestão de bens e negócios do cliente bancário. A ação de prestação de contas não é, portanto, o meio hábil
a dirimir conflitos no tocante a cláusulas de contrato, nem em caráter secundário, uma vez que tal ação
objetiva, tão somente, a exposição dos componentes de crédito e débito resultantes de determinada relação
jurídica, concluindo pela apuração de saldo credor ou devedor. (Informativo n. 592)

O art. 25 da Lei n. 12.016/2009, que estabelece regra de descabimento de condenação em


honorários advocatícios "no processo mandamental", afasta a incidência do regime do art.
85, § 11, do CPC/2015.

RMS 52.024-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, por unanimidade, julgado em 6/10/2016, DJe 14/10/2016.

TEMA Mandado de Segurança. Honorários advocatícios recursais. Não cabimento.

INFORMAÇÕES: Tratou-se de recurso ordinário interposto contra acórdão denegatório de mandado de


segurança não conhecido porque entre a motivação utilizada como fundamento do julgamento e as razões do
recurso que impugna tal decisão não houve relação de congruência. Pesou considerar que o recurso se
orientou pela nova codificação processual, considerando que a publicação do acórdão da origem foi posterior
a 18/3/2016, atraindo a aplicação do Enunciado Administrativo n. 3 do STJ. Isso imporia como consequência,
na hipótese do seu desprovimento, a condenação da recorrente em honorários recursais, a teor do disposto
no art. 85, § 11, do CPC/2015. No entanto, não é adequada a incidência desse regime ao feito tendo em conta
o disposto no art. 25 da Lei n. 12.016/2009. A interpretação desse preceito sempre pontuou o julgamento da
ação de mandado de segurança, isso sob um regime em que inexistia a conjectura dos honorários recursais.
Tratando-se o recurso de um desdobramento da tramitação processual que se inicia com a petição inicial, não
há lógica em que no processamento da ação propriamente dita inexista condenação em honorários, mas na
fase recursal consequente isso seja possível. Além disso, o texto do art. 25 da Lei n. 12.016/2009 é claro ao
estabelecer que os honorários advocatícios não cabem no processo mandamental, expressão que reúne a
ideia de ação e do procedimento subjacente, com a petição inicial, as informações da autoridade coatora, a
intervenção do Ministério Público, a prolação de provimento judicial e, ainda, os recursos. (Informativo n. 592)

2016

A sentença, qualquer que seja sua natureza, de procedência ou improcedência do pedido,


constitui título executivo judicial, desde que estabeleça obrigação de pagar quantia, de
fazer, não fazer ou entregar coisa, admitida sua prévia liquidação e execução nos próprios
autos

REsp 1.324.152-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 4/5/2016, DJe 15/6/2016
(Informativo n. 585).

TEMA: Direito processual civil. Exequibilidade de sentenças não condenatórias (art. 475-n, i, do cpc/1973).
Recurso repetitivo. Tema 889.
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INFORMAÇÕES: De início, destaca-se que o ponto nodal da controvérsia consiste em definir se há


exequibilidade (ou não) em sentenças não condenatórias, notadamente após o acréscimo, pela Lei n.
11.232/2005, do art. 475-N, I, ao CPC/1973 (“Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: I – a sentença
proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou
pagar quantia”), quer a decisão contenha julgamento de procedência, quer de improcedência, dada a natureza
dúplice do elemento declaratório presente em toda decisão judicial. Inclusive, a Lei n. 13.105/2015 (CPC/2015)
reproduz essa norma: “Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os
artigos previstos neste Título: I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de
obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa”. Daí a atualidade da matéria. De fato,
a execução forçada não se destina ao ajustamento ou à definição do direito do exequente, de modo que sua
instauração demanda necessariamente que a situação jurídica do titular do direito tenha sido completa e
previamente reconhecida em título executivo, assim entendido, por doutrina, como “o documento que
contém um ato de acertamento do direito que o credor pretende executar”. É o que se dessume da
interpretação conjunta dos arts. 580 e 586 do CPC/1973, reproduzidos respectivamente pelos arts. 786 e 783
do CPC/2015. Com efeito, a decisão de cunho condenatório sempre foi considerada o título executivo judicial
por excelência, à evidência da norma inserta no revogado art. 584, I, do CPC/1973 (“Art. 584. São títulos
executivos judiciais: I - a sentença condenatória proferida no processo civil”). A grande carga de executividade
dessa espécie de decisão decorre do fato de que seu comando consubstancia efetiva manifestação judicial
acerca da existência e validade da relação jurídica controvertida e da exigibilidade da pretensão que dela
deriva, revestindo-a com o grau de certeza exigido pela lei quanto à obrigação inadimplida, em virtude da
identificação de todos os elementos dessa relação jurídica. Às decisões de natureza declaratória, contudo,
antes da vigência da Lei n. 11.232/2005, era negada a eficácia executiva, ainda que secundária, ao argumento
de que 23 elas se limitavam à declaração de certeza acerca da existência ou da inexistência de relação jurídica
(art. 4º do CPC/1973) – o que constituiria o cerne da pretensão exercitada –, não se estendendo ao
reconhecimento da existência de prestação a cargo do vencido. Diante disso, para fins de aferição da
exequibilidade do provimento judicial, a utilização do critério da natureza da decisão não parece ser o melhor
caminho, porquanto enseja polêmicas intermináveis e inócuas, que não oferecem contribuição no campo
prático. Na verdade, o exame do conteúdo da decisão mostra-se método mais adequado à discriminação das
sentenças passíveis de serem consideradas como título executivo, bastando, de acordo com doutrina, que ela
contenha “a identificação integral de uma norma jurídica concreta, com prestação exigível de dar, fazer, não
fazer ou pagar quantia”. Nesse ponto, é relevante salientar que os referidos dispositivos legais não atribuem
eficácia executiva a todas as sentenças declaratórias indiscriminadamente, mas apenas àquelas que,
reconhecendo a existência da obrigação, contenham, em seu bojo, os pressupostos de certeza e exigibilidade
(art. 586 do CPC/1973), sendo certo que, na ausência de liquidez, é admitida a prévia liquidação, tal qual
ocorre com o provimento condenatório. Afinal, há de se considerar os princípios da efetividade jurisdicional e
da economia processual como freios ao formalismo excessivo presente na imposição ao titular do direito já
reconhecido em sentença declaratória da exigibilidade da obrigação de ajuizamento de demanda
condenatória inútil, porquanto até mesmo a ampla análise da pretensão deduzida em juízo estaria impedida
pela coisa julgada formada no processo anterior.
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O termo de abertura de vista e remessa dos autos à Fazenda Nacional substitui, para efeito
de demonstração da tempestividade do agravo de instrumento (art. 522 do CPC) por ela
interposto, a apresentação de certidão de intimação da decisão agravada (art. 525, I, do
CPC).

REsp 1.383.500-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Corte Especial, julgado em 17/2/2016, DJe 26/2/2016
(Informativo n. 577).

TEMA: Direito processual civil. Comprovação da tempestividade do agravo de instrumento mediante


apresentação de certidão de vista pessoal da fazenda nacional. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. Stj
n. 8/2008). Tema 651.

INFORMAÇÕES: De fato, determina o art. 525, I, do CPC que o agravo de instrumento deve ser instruído,
“obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação e das procurações
outorgadas aos advogados do agravante e do agravado”. A literalidade do artigo em testilha poderia levar à
rápida conclusão de que a referida certidão, como peça obrigatória na formação do instrumento do recurso
de agravo, seria requisito extrínseco sem o qual o recurso não ultrapassaria, sequer, a barreira da
admissibilidade. Entretanto, a interpretação literal dos dispositivos legais não é, em algumas ocasiões, a mais
adequada, especialmente em se tratando de leis processuais, as quais têm a finalidade precípua de resguardar
o regular exercício do direito das partes litigantes. Efetivamente, a 24 interpretação das regras processuais, na
linha do pensamento da moderna doutrina processualista a respeito da necessidade de primazia da finalidade
das normas de procedimento, na busca por uma prestação jurisdicional mais breve e efetiva, deve levar em
conta não apenas o cumprimento da norma em si mesma, mas seu escopo, seu objetivo, sob pena de se
privilegiar o formalismo em detrimento do próprio direito material buscado pelo jurisdicionado. Assim, para
que se decida a respeito da ocorrência ou não de excesso de formalismo, é preciso, na linha de pensamento
acima exposta, atentar para a finalidade da exigência legal de apresentação da aludida certidão de intimação
que, frise-se, é a verificação da tempestividade do agravo de instrumento. Dessa forma, sendo possível
verificar a referida tempestividade por outro meio, atingindo-se, assim, a finalidade da exigência formal, deve-
se, em atenção ao princípio da instrumentalidade das formas, considerar atendido o pressuposto e conhecer-
se do agravo de instrumento. Ademais, os arts. 38 da LC n. 73/1993, 6º, §§ 1º e 2º, da Lei n. 9.028/1995, 20 da
Lei n. 11.033/2004 e 25 da Lei n. 6.830/1980 dispõem a respeito das formas de intimação da União, inclusive,
no tocante às execuções fiscais, tendo a Fazenda Nacional a prerrogativa de ser intimada das decisões, por
meio da concessão de vista pessoal dos autos. Em razão da mencionada prerrogativa, é certo que o prazo
para apresentação de recursos pela Fazenda Nacional tem início a partir da data em que há a concessão da
referida vista pessoal. Por tal motivo, entende-se que, nos casos em que a Fazenda Nacional figura como
agravante, pode a certidão de concessão de vistas dos autos ser considerada como elemento suficiente da
demonstração da tempestividade do agravo de instrumento, substituindo a certidão de intimação legalmente
prevista. Sob esse prisma, é preciso chamar a atenção para o fato de que tal tratamento não pode, via de
regra, ser automaticamente conferido aos litigantes que não possuem a prerrogativa de intimação pessoal,
sob pena de se admitir que o início do prazo seja determinado pelo próprio recorrente, a partir da data de
vista dos autos, a qual pode ser posterior ao efetivo termo inicial do prazo recursal que, geralmente, é a data
da publicação da mesma decisão (EREsp 683.504-SC, Corte Especial, DJe 1º/7/2013). A propósito, no
precedente acima citado, afastou-se a aplicação do princípio da instrumentalidade das formas, pois se
considerou que a aposição unilateral de ciente do advogado não goza de fé pública, sendo insuficiente para
aferição da tempestividade do recurso.
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Nos Embargos de Terceiro cujo pedido foi acolhido para desconstituir a constrição judicial,
os honorários advocatícios serão arbitrados com base no princípio da causalidade,
responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este não atualizou os dados
cadastrais; os encargos de sucumbência serão suportados pela parte embargada, porém, na
hipótese em que esta, depois de tomar ciência da transmissão do bem, apresentar ou
insistir na impugnação ou recurso para manter a penhora sobre o bem cujo domínio foi
transferido para terceiro.

REsp 1.452.840-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 5/10/2016
(Informativo n. 591)

TEMA: Direito processual civil. Aplicação do princípio da causalidade para verbas sucumbenciais em embargos
de terceiro. Recurso repetitivo. Tema 872.

INFORMAÇÕES: Em relação ao tema, a sucumbência deve 25 ter por norte a aplicação do princípio da
causalidade. Nesse sentido, a Súmula n. 303 do STJ dispôs especificamente: "Em embargos de terceiro, quem
deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios.” Na hipótese em análise, os
Embargos de Terceiro visavam à desconstituição de penhora efetuada sobre imóvel não mais integrante do
patrimônio da parte executada. Nesse contexto, o adquirente do imóvel, ao não providenciar a transcrição do
título na repartição competente, expõe o bem à indevida constrição judicial em demandas ajuizadas contra o
antigo proprietário. Isso porque as diligências realizadas pelo oficial de Justiça ou pela parte credora em face
do antigo proprietário do imóvel, destinadas à localização de bens, no caso específico daqueles sujeitos a
registro (imóveis, veículos), são feitas mediante consulta aos Cartórios de Imóveis (Detran, no caso de
veículos), razão pela qual a desatualização dos dados cadastrais fatalmente acarretará a efetivação da indevida
penhora sobre o bem. Nessas condições, não é lícito que a omissão do atual proprietário do imóvel no
cumprimento de um dever legal implique, em favor da parte negligente, que esta deva ser considerada
vencedora na demanda, para efeito de atribuição dos encargos de sucumbência. Assim, em regra, não haverá
condenação da parte embargada – a qual promovia execução contra o antigo proprietário – quando
verificado que o imóvel não teve devidamente registrada a alteração na titularidade dominial. Excetua-se a
hipótese em que a parte credora, mesmo ciente da transmissão da propriedade, opuser resistência e defender
a manutenção da penhora – o que evidencia o conflito de interesses na demanda, apto a ensejar a aplicação
do princípio da sucumbência.

O prazo prescricional para a execução individual é contado do trânsito em julgado da


sentença coletiva, sendo desnecessária a providência de que trata o art. 94 da Lei n.
8.078/1990.

REsp 1.388.000-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maio Filho, Rel. para acórdão Min. Og Fernandes, Primeira
Seção, julgado em 26/8/2015, DJe 12/4/2016 (Informativo n. 580).

TEMA: Direito processual civil. Termo a quo do prazo prescricional das execuções individuais de sentença
coletiva. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc/1973 e res. Stj n. 8/2008). Tema 877.

INFORMAÇÕES: O art. 94 do CDC dispõe que, “Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim
de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação
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pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor”. Realmente, essa
providência (de ampla divulgação midiática) é desnecessária em relação ao trânsito em julgado de sentença
coletiva. Isso porque o referido dispositivo disciplina a hipótese de divulgação da notícia da propositura da
ação coletiva, para que eventuais interessados possam intervir no processo ou acompanhar seu trâmite, nada
estabelecendo, porém, quanto à divulgação do resultado do julgamento. Diante disso, o marco inicial do
prazo prescricional aplicável às execuções individuais de sentença prolatada em processo coletivo é contado,
ante a inaplicabilidade do art. 94 do CDC, a partir do trânsito em julgado da sentença coletiva. Note-se, ainda,
que o art. 96 do CDC, segundo o qual “Transitada em julgado a sentença condenatória, será publicado edital,
observado o disposto no art. 93”, foi objeto de veto pela Presidência da República, o que torna infrutífero o
esforço de interpretação analógica para aplicar a providência prevista no art. 94 com o fim de promover a
ampla divulgação midiática do teor da sentença coletiva transitada em julgado, ante a impossibilidade de o
Poder Judiciário, qual legislador ordinário, derrubar o veto presidencial ou, eventualmente, corrigir erro formal
porventura existente na norma. Assim, em que pese o caráter social que se busca tutelar nas ações coletivas,
não se afigura possível suprir a ausência de previsão legal quanto à ampla divulgação midiática do teor da
sentença sem romper a harmonia entre os Poderes. Ressalte-se que, embora essa questão não tenha sido o
tema do REsp 1.273.643-PR (Segunda Seção, DJe 4/4/2013, julgado no regime dos recursos repetitivos) – no
qual se definiu que, “No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para ajuizamento da
execução individual em pedido de cumprimento de sentença proferida em Ação Civil Pública” –, percebe-se
que a desnecessidade da providência de que trata o art. 94 da Lei n. 8.078/1990 foi a premissa do julgamento
do caso concreto no referido recurso, haja vista que, ao definir se aquela pretensão executória havia prescrito,
considerou-se o termo a quo do prazo prescricional como a data do trânsito em julgado da sentença coletiva.

A cota de fundo de investimento não se subsume à ordem de preferência legal disposta no


inciso I do art. 655 do CPC/1973 (ou no inciso I do art. 835 do CPC/2015).

REsp 1.388.642-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 3/8/2016,
DJe 6/9/2016 (Informativo n. 589).

TEMA: Direito processual civil. Ordem de nomeação à penhora de cota de fundo de investimento. Recurso
repetitivo. Tema 913

INFORMAÇÕES: Inicialmente, cabe destacar que a tese firmada pode nortear também a interpretação de casos
28 vindouros, sob a vigência do CPC/2015, pois, como visto, a redação do dispositivo legal correlato não foi
modificada. No mérito, registre-se que, de acordo com o disposto no art. 2º, V, da Lei n. 6.385/1976 (que
disciplinou o mercado de valores mobiliários e criou a Comissão de Valores Mobiliários), as cotas de fundos
de investimento consistem em valores mobiliários e, por isso, não se encontram em primeiro lugar, na ordem
legal de preferência de penhora, contida no inciso I do art. 655 do CPC/1973, mas sim, expressamente, no
inciso X (ou no inciso III do art. 835 do CPC/2015; ou no inciso VIII do art. 11 da Lei n. 6.830/1980). Ressai
evidenciado, assim, pela própria literalidade do dispositivo legal, que valores mobiliários, como é o caso das
cotas de fundo de investimento, não se confundem com aplicações financeiras previstas na legislação
processual (art. 655, I, do CPC/1973). Veja-se, pois, que, diversamente do que ocorre com o dinheiro em
espécie, com o dinheiro depositado em conta bancária ou com aquele representado por aplicações
financeiras, as cotas de fundo de investimento encontram-se invariavelmente sujeitas aos riscos de mercado,
de crédito e de liquidez, o que, por si só, justifica a diversidade de gradação, para efeito de penhora, imposta
pela lei adjetiva civil. A partir da constituição do fundo de investimento, que se dá por meio da reunião de
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aportes financeiros manejados por investidores, o terceiro administrador os aplica em títulos e valores
mobiliários, com o intuito de obter lucro/rendimento, sujeitando-se aos riscos das variações dos índices do
mercado financeiro. Destaca-se, por conseguinte, haver uma indissociável vinculação entre os recursos
aportados em um fundo de investimento (convertidos, a partir de então, em cotas, de titularidade de cada
investidor) com a aplicação propriamente realizada pelo fundo em determinados ativos financeiros, com
cotações no mercado. Por consectário, referidos recursos, convertidos em cotas, passarão a seguir,
necessariamente, a sorte desses ativos investidos pelo fundo quanto à existência, à negociabilidade, à liquidez
e, portanto, aos riscos daí advindos, em maior ou menor grau. Como assinalado, esses riscos são inerentes a
todos os fundos de investimento, que podem ser naturalmente minorados — mas não totalmente extirpados
— a depender dos ativos e títulos financeiros que, de modo preestabelecido, venham a compor a carteira do
fundo e retratem, na medida do possível, um investimento de perfil mais conservador. Tampouco se afigura
influente à conclusão o fato de o fundo de investimento ser qualificado como de “renda fixa”, pois, conforme
determina a Instrução Normativa n. 505 da CVM, esse fundo tem “como principal fator de risco de sua
carteira” a variação da taxa de juros, de índice de preço, ou ambos, devendo possuir “no mínimo 80% (oitenta
por cento) da carteira em ativos relacionados diretamente, ou sintetizados via derivativos, ao fator de risco
que dá nome à classe”, (arts. 109 e 110), o que evidencia, de igual modo, a presença dos riscos acima aludidos,
ainda que em menor grau. Assim gizados os contornos das cotas de fundo de investimento, que, por expressa
definição legal, constituem valores mobiliários (art. 2º, V, da Lei n. 6.385/1976), pode-se afirmar com
segurança que essas não se incluem, para efeito de ordem legal da penhora, no conceito “de dinheiro em
aplicação financeira”, cuja eventual constrição judicial recai sobre numerário certo e líquido, que ficará
bloqueado ou depositado, à disposição do juízo em que se processa a execução.

A recusa da nomeação à penhora de cotas de fundo de investimento, reputada legítima a


partir das particularidades de cada caso concreto, não encerra, em si, excessiva onerosidade
ao devedor, violação do recolhimento dos depósitos compulsórios e voluntários do Banco
Central do Brasil ou afronta à impenhorabilidade das reservas obrigatórias.

REsp 1.388.642-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 3/8/2016,
DJe 6/9/2016 (Informativo n. 589).

TEMA: Direito processual civil. Recusa de nomeação à penhora de cotas de fundo de investimento. Recurso
repetitivo. Tema 913.

INFORMAÇÕES: A gradação legal estabelecida no art. 655 do CPC/1973, estruturado de acordo com o grau de
aptidão satisfativa do bem penhorável, embora seja a regra, não tem caráter absoluto, podendo ser
flexibilizada, em atenção às particularidades do caso concreto, sopesando-se, necessariamente, a
potencialidade de satisfação do crédito, na medida em que a execução se processa segundo os interesses do
credor (art. 612), bem como de acordo com a forma menos gravosa ao devedor (art. 620). Essa compreensão,
é certo, encontra-se sedimentada na jurisprudência do STJ, por meio da Súmula n. 417, que assim dispõe: “na
execução civil, a penhora do dinheiro na ordem de nomeação de bens não tem caráter absoluto”. Ressai
evidenciado, por conseguinte, que, uma vez inobservada a gradação disposta na lei, afigura-se lícito ao credor
recusar a nomeação de cotas de fundos de investimento, se, com esteio nas particularidades do caso, o
aludido valor mobiliário não guarda em si a esperada liquidez a satisfazer prontamente a obrigação
inadimplida, circunstância que não encerra, em si, excessiva onerosidade ao devedor. Também sob o enfoque
da onerosidade excessiva ao devedor, absolutamente insubsistente a tese de que a recusa da nomeação à
penhora das cotas de fundo de investimento importaria, por via transversa, na violação do recolhimento dos
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depósitos compulsórios e voluntários do Banco Central do Brasil (art. 10, IV, da Lei n. 4.595/1964) ou na
afronta da impenhorabilidade das reservas obrigatórias (art. 68 da Lei n. 9.069/1995). Reconhecida a licitude
da recusa, cabe ao banco executado, inclusive, como condição de procedibilidade de impugnação ao
cumprimento de sentença (definitiva), garantir o juízo, por meio de constrição que recaia sobre numerário
constante de suas agências ou sobre o produto do capital investido em suas aplicações financeiras,
providência que não toca a intangibilidade dos depósitos mantidos no Banco Central, tampouco a
impenhorabilidade das reservas bancárias. Aliás, linha argumentativa contrária não encontra ressonância na
jurisprudência pacífica do STJ, bem sintetizada na Súmula n. 328, editada pela Corte Especial, nos seguintes
termos: “Na execução contra instituição financeira, é penhorável o numerário disponível, excluídas as reservas
bancárias mantidas no Banco Central.”

Em relação ao sistema credit scoring, o interesse de agir para a propositura da ação cautelar
de exibição de documentos exige, no mínimo, a prova de: i) requerimento para obtenção
dos dados ou, ao menos, a tentativa de fazê-lo à instituição responsável pelo 30 sistema de
pontuação, com a fixação de prazo razoável para atendimento; e ii) que a recusa do crédito
almejado ocorreu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pelo sistema Scoring.

REsp 1.304.736-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016, DJe 30/3/2016
(Informativo n. 579).

Direito processual civil. Crediscore e interesse de agir em ação cautelar de exibição de documentos. Recurso
repetitivo (art. 543-c do cpc/1973 e res. Stj n. 8/2008). Tema 915.

INFORMAÇÕES: De início, cabe ressaltar que a Segunda Seção do STJ, no julgamento do REsp 1.419.697-RS
(DJe 17/11/2014), também submetido ao regime do art. 543-C do CPC/1973, definiu que, no tocante ao
sistema scoring de pontuação, “apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem
ser a ele fornecidos esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes dos dados considerados (histórico de
crédito), bem como as informações pessoais valoradas”. Como sabido, o interesse de agir é condição da ação
que possui três aspectos: (i) utilidade, pois o processo deve trazer algum proveito para o autor; (ii) adequação,
uma vez que se exige correspondência entre o meio escolhido e a tutela pretendida; (iii) necessidade, haja
vista a demonstração de que a tutela jurisdicional seja imprescindível para alcançar a pretensão do autor.
Nesse sentido, conforme jurisprudência sedimentada desta Corte Superior, inclusive em sede de recurso
repetitivo, haverá interesse de agir para a exibição sempre que o autor pretender conhecer e fiscalizar
documentos próprios ou comuns de seu interesse, notadamente referentes à sua pessoa e que estejam em
poder de terceiro, sendo que, conforme entendimento doutrinário, "passou a ser relevante para a exibitória
não mais a alegação de ser comum o documento, e sim a afirmação de ter o requerente interesse comum em
seu conteúdo". Verifica-se, pois, que haverá interesse de agir daquele consumidor que intente ação de
exibição de documentos objetivando conhecer os principais elementos e critérios considerados para a análise
do seu histórico, e também as informações pessoais utilizadas – respeitado o limite do segredo empresarial –,
e desde que diretamente atingido por tais critérios quando pretendeu obter crédito no mercado. No tocante
ao interesse de agir, não se pode olvidar que se trata de “uma condição da ação essencialmente ligada aos
princípios da economicidade e da eficiência. Partindo-se da premissa de que os recursos públicos são
escassos, o que se traduz em limitações na estrutura e na força de trabalho do Poder Judiciário, é preciso
racionalizar a demanda, de modo a não permitir o prosseguimento de processos que, de plano, revelam-se
inúteis, inadequados ou desnecessários. Do contrário, o acúmulo de ações inviáveis poderia comprometer o
bom funcionamento do sistema judiciário, inviabilizando a tutela efetiva das pretensões idôneas” (STF, RE
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631.240-MG, Tribunal Pleno, DJe 10/11/2014). Nessa perspectiva, vem a jurisprudência exigindo, em algumas
circunstâncias, sob o aspecto da necessidade no interesse de agir, a imprescindibilidade de, ao menos, uma
postura ativa do interessado em obter determinado direito (informação ou benefício), antes do ajuizamento
da ação pretendida. Dessarte, a mesma lógica deve valer em relação ao sistema scoring de pontuação
mantido por entidades de proteção ao crédito, inclusive em razão da transparência e boa-fé objetiva que
devem primar as relações de consumo e tendo-se em conta a licitude de referido sistema já reconhecida pela
Segunda Seção do STJ. Nessa ordem de ideias, o interesse de agir para cautelar de exibição de documentos,
no que tange ao crediscore, exige também que o requerente comprove que a recusa do crédito almejado
ocorreu em razão da pontuação que lhe foi atribuída. Somado a isso, deverá, ainda, demonstrar que houve
requerimento ou, ao menos, a tentativa de fazê-lo à instituição responsável pelo sistema de pontuação para
permitir, inclusive, que o fornecedor exerça o seu dever de informação e, ao mesmo tempo, que o consumidor
realize o controle dos dados considerados e as respectivas fontes para 31 atribuição da nota (art. 43 do CDC e
art. 5° da Lei n. 12.414/2011), podendo retificá-los ou restringi-los caso se tratem de informações sensíveis ou
excessivas, que venham a configurar abuso de direito, tudo com um prazo razoável para atendimento. Aliás,
referida exigência é consentânea com a legislação brasileira no tocante ao habeas data – remédio jurídico que
também salvaguarda os direitos do consumidor com relação às suas informações em registros e bancos de
dados –, haja vista a determinação de que a petição de introito seja instruída com a prova da recusa (art. 8° da
Lei n. 9.507/1997). Realmente, não se mostra razoável, tendo como norte a atual jurisprudência do STF e do
STJ, que o pedido de exibição de documentos seja feito diretamente ao Judiciário, sem que antes se
demonstre que a negativa da pretensão creditória ao estabelecimento comercial tenha ocorrido justamente
em virtude de informações constantes no crediscore e que, posteriormente, tenha havido resistência da
instituição responsável pelo sistema na disponibilização das informações requeridas em prazo razoável.

2015

No âmbito do cumprimento de sentença arbitral condenatória de prestação pecuniária, a


multa de 10% (dez por cento) do artigo 475-J do CPC deverá incidir se o executado não
proceder ao pagamento espontâneo no prazo de 15 (quinze) dias contados da juntada do
mandado de citação devidamente cumprido aos autos (em caso de título executivo
contendo quantia líquida) ou da intimação do devedor, na pessoa de seu advogado,
mediante publicação na imprensa oficial (em havendo prévia liquidação da obrigação
certificada pelo juízo arbitral).

REsp 1.102.460-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, julgado em 17/6/2015, DJe 23/9/2015 (Informativo
569).

TEMA: Direito processual civil. Multa do art. 475-j do cpc em cumprimento de sentença arbitral. Tema 893.

INFORMAÇÕES: O CPC (arts. 475-N, IV e parágrafo único), assim como a Lei da Arbitragem (arts. 18 e 31),
confere a natureza de título executivo judicial à sentença arbitral, distinguindo apenas o instrumento de
comunicação processual do executado. Com efeito, em se tratando de cumprimento de sentença arbitral, a
angularização da relação jurídica processual dar-se-á mediante citação do devedor no processo de liquidação
ou de execução em vez da intimação promovida nos processos sincréticos. Eis, portanto, a única diferença
procedimental entre o cumprimento da sentença proferida no processo civil e o da sentença arbitral. Nessa
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ordem de ideias, à exceção da ordem de citação (e não de intimação atinente aos processos sincréticos), a
execução da sentença arbitral condenatória de obrigação de pagar quantia certa observa o mesmo
procedimento previsto para as sentenças civis de idêntico conteúdo, qual seja, o regime previsto nos artigos
475-J a 475-R do CPC. À luz da supracitada premissa, o decurso in albis do prazo de 15 (quinze) dias
(contados da comunicação pessoal do devedor, mediante citação ou intimação) para pagamento espontâneo
da prestação pecuniária certificada na sentença arbitral enseja a aplicação da multa de 10% (dez por cento)
prevista no art. 475-J do CPC. A referida sanção pecuniária (aplicável no âmbito do cumprimento de título
representativo de obrigação pecuniária líquida) ostenta caráter punitivo e coercitivo, tendo por objetivo
garantir a maior efetividade e celeridade na prestação jurisdicional, tornando onerosa a recalcitrância do
devedor em desobedecer ao comando sentencial ao qual submetido. Consequentemente, o afastamento a
incidência da referida sanção no âmbito do cumprimento de sentença arbitral de prestação pecuniária
representaria um desprestígio ao procedimento da arbitragem (tornando-a um minus em relação à prestação
jurisdicional estatal), olvidando-se de um de seus principais atrativos, qual seja, a expectativa de célere
desfecho na solução dos conflitos. Além disso, a sentença arbitral não se sujeita a reexame de mérito nem
pelo árbitro nem pelo juiz estatal, adquirindo, desde sua prolação, a imutabilidade decorrente da coisa julgada
(arts. 18 e 31 da Lei 9.037/1996), razão pela qual cabida sua execução definitiva (e não provisória). Assim,
firmada a aplicabilidade da multa do art. 475-J do CPC no âmbito do cumprimento de sentença arbitral
condenatória de prestação pecuniária, impende consignar que o termo inicial do prazo de quinze dias contar-
se-á: (i) da data da juntada do mandado de citação (com a determinação de pagamento) devidamente
cumprido aos autos (em caso de título executivo contendo quantia líquida); ou (ii) da intimação do devedor,
na pessoa de seu advogado, mediante publicação na imprensa oficial, no caso em que necessária prévia
liquidação da obrigação certificada pelo juízo arbitral. Tal consideração decorre da especificidade da
comunicação processual do executado na ação de cumprimento de sentença arbitral, adaptandose à
orientação jurisprudencial do STJ firmada no bojo de recurso especial representativo de controvérsia, no
sentido de que “na fase de cumprimento de sentença, o devedor deverá ser intimado, na pessoa de seu
advogado, mediante publicação na imprensa oficial, para efetuar o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias, a
partir de quando, caso não o efetue, passará a incidir a multa de 10% (dez por cento) sobre montante da
condenação (art. 475-J do CPC)” (REsp 8 1.262.933-RJ, Corte Especial, DJe 20/8/2013).

A legislação de regência estabelece que o documento hábil a protesto extrajudicial é aquele


que caracteriza prova escrita de obrigação pecuniária líquida, certa e exigível. Portanto, a
sustação de protesto de título, por representar restrição a direito do credor, exige prévio
oferecimento de contracautela, a ser fixada conforme o prudente arbítrio do magistrado.

REsp 1.340.236-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 14/10/2015, DJe 26/10/2015
(Informativo 571).

TEMA: Direito processual civil. Sustação de protesto e prestação de contracautela. Recurso repetitivo (art. 543-
c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 902.

INFORMAÇÕES: A teor do art. 17, § 1º, da Lei de Protesto, o título ou documento de dívida cujo protesto tiver
sido sustado judicialmente só poderá ser pago, protestado ou retirado com autorização judicial. É dizer, a
sustação do protesto implica retenção do título de crédito, inviabilizando, pois, a sua execução e, por
conseguinte, restringindo, ainda que provisoriamente, o próprio direito fundamental do credor de acesso à
justiça e de haver imediatamente seu crédito, mediante atos de agressão ao patrimônio do devedor efetuados
por meio do Judiciário. Ademais, em interpretação sistemática do diploma processual, apenas para um
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exercício de comparação, é bem de ver que, como o documento cambiário apresentado a protesto tem que
ser título hábil à execução (título de crédito), a sustação do protesto implica obstar a execução por título
extrajudicial, efeito que, com a vigência do art. 739-A, § 1º, do CPC/1973, nem os embargos do executado
produzem, a menos que, "sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execução
manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação, e desde que a
execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes". Nessa ordem de ideias, a sustação
do protesto, por meio transverso, inviabiliza a própria execução aparelhada pelo título levado a protesto, não
havendo nenhum sentido/razoabilidade em que seja feita sem a exigência de caução ou depósito, igualmente
exigidos para a suspensão da execução. Nesse sentido, leciona a doutrina que, para a execução de medida
antecipatória/acautelatória, mesmo quando se tratar de provimento de natureza reversível, há o dever de
salvaguardar o núcleo essencial do direito fundamental à segurança jurídica do réu; "não fosse assim o perigo
de dano não teria sido eliminado, mas apenas deslocado da esfera do autor para a do demandado". Com
efeito, à luz do disposto no art. 804 do CPC/1973 (art. 300 do novo CPC) há muito está consolidado na
jurisprudência dos tribunais que, para a sustação do protesto cambial de título hábil à execução, é necessário,
para que se resguarde também os interesses do credor, o oferecimento de contracautela. Por isso é que a
jurisprudência do STJ só admite a sustação do protesto quando as circunstâncias de fato, efetivamente,
autorizam a proteção do devedor, com a presença da aparência do bom direito e, de regra, com o depósito
do valor devido ou, a critério ponderado do juiz, quando preste caução idônea. Por fim, enfatiza-se que a
hipótese em questão - em que é apontado a protesto documento apto a aparelhar a execução judicial, isto é,
título que caracteriza prova escrita de obrigação pecuniária líquida, certa e exigível - não se confunde com a
situação em que o magistrado, v.g., constata que o título está prescrito para a execução cambial, hipótese que
atrai a tutela de evidência prevista no novo CPC e refoge ao controle efetuado pelo tabelião, caracterizando o
hipotético ato do apontamento a protesto, à luz da iterativa jurisprudência do STJ, por si só, abusivo; mas é
certo que, em todo caso, o excepcional deferimento da medida sem contracautela (resguardo dos interesses
do credor) deverá ser devidamente fundamentado pelo juiz.

O recurso adesivo pode ser interposto pelo autor da demanda indenizatória, julgada
procedente, quando arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao que era almejado,
uma vez configurado o interesse recursal do demandante em ver majorada a condenação,
hipótese caracterizadora de sucumbência material.

REsp 1.102.479-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, julgado em 4/3/2015, DJe 25/5/2015 (Informativo
562).

TEMA: Direito processual civil. Recurso adesivo para majorar quantia indenizatória decorrente de dano moral.
Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 459.

INFORMAÇÕES: O CPC trata do recurso adesivo em seu art. 500, do qual se depreende, pela interpretação
teleológica, que o cabimento do recurso adesivo pressupõe a constatação da “sucumbência recíproca”,
expressão a ser compreendida sob o enfoque da existência de interesse recursal da parte. O interesse recursal
exsurge em face da constatação da utilidade da prestação jurisdicional concretamente apta a propiciar um
resultado prático mais vantajoso ao recorrente. Nessa ordem de ideias, considerar-se-á vencida a parte que
tenha obtido prestação jurisdicional aquém do que pretendia, tanto quanto aquelas efetivamente
prejudicadas ou colocadas em situação desfavorável pela decisão judicial. A propósito, importante destacar
lição doutrinária acerca da existência de distinção entre “sucumbência formal” e “sucumbência material” para
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fins de aferição do interesse recursal das partes: (a) “Por sucumbência formal se entende a frustração da parte
em termos processuais, ou seja, a não obtenção por meio da decisão judicial de tudo aquilo que poderia ter
processualmente obtido em virtude do pedido formulado ao órgão jurisdicional. Nesse sentido, será
sucumbente formal o autor se este não obtiver a procedência integral de seu pedido e o réu se não obtiver a
improcedência integral do pedido do autor. Na parcial procedência do pedido haverá sucumbência formal
recíproca”; e (b) “A sucumbência material, por sua vez, se refere ao aspecto material do processo, verificando-
se sempre que a parte deixar de obter no mundo dos fatos tudo aquilo que poderia ter conseguido com o
processo. A análise nesse caso nada tem de processual, fundando-se no bem ou bens da vida que a parte
poderia obter em virtude do processo judicial e que não obteve em razão da 38 decisão judicial. Essa
discrepância entre o desejado no mundo prático e o praticamente obtido no processo gera a sucumbência
material da parte”. A doutrina ainda conclui que: “Verificando-se a sucumbência formal, em regra, também
haverá sucumbência material, sendo presumível que, não obtendo processualmente tudo o que o processo
poderia lhe entregar, a parte também não obterá tudo o que poderia obter no plano prático. É até possível
estabelecer uma regra de que, sempre que exista sucumbência formal, haverá também a material, mas essa
vinculação entre as duas espécies de sucumbência nem sempre ocorrerá, havendo casos excepcionais nos
quais não haverá sucumbência formal, mas ocorrerá a material”. Assim, a procedência integral da pretensão
deduzida na inicial, conquanto configure a sucumbência formal apenas da parte ré, pode vir a consubstanciar
a chamada sucumbência material inclusive do autor da demanda, quando obtido provimento jurisdicional em
extensão inferior a tudo aquilo que se almejava obter do ponto de vista prático. É o que ocorre nos casos de
pretensão indenizatória calcada em dano moral. Isto porque a procedência da demanda configura, sem
sombra de dúvidas, sucumbência formal e material do réu. Contudo, o arbitramento judicial de quantum
indenizatório tido por irrisório, porque inferior aos parâmetros jurisprudenciais ou ao pedido constante da
inicial, caracteriza frustração da expectativa do autor, sobressaindo seu interesse em ver majorada a
condenação, hipótese caracterizadora, portanto, da sucumbência material viabilizadora da irresignação
recursal. Dada a premissa anteriormente lançada, cumpre afastar a aparente dissonância com a orientação
jurisprudencial cristalizada na Súmula 326 do STJ, segundo a qual: “Na ação de indenização por dano moral, a
condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”. Deveras, o
aludido verbete sumular funda-se em jurisprudência voltada à definição da responsabilidade pelo pagamento
de despesas processuais e honorários advocatícios devidos em razão da procedência de ação de indenização
por danos morais, quando fixada quantia inferior à desejada pelo autor, tendo em vista os critérios delineados
notadamente nos arts. 20 e 21 do CPC. Desse modo, a exegese consolidada na Súmula 326 do STJ não pode
servir de amparo para a verificação da existência de interesse recursal do autor da demanda ressarcitória,
porque adstrita ao exame da sucumbência recíproca sob as perspectivas formal e econômica, vale dizer, tão-
somente tornando defesa a imputação do ônus sucumbencial à parte que obteve provimento jurisdicional de
procedência da pretensão deduzida. Assim, constatado o interesse recursal do autor da ação de indenização
por danos morais, quando arbitrada quantia inferior ao valor desejado, a decisão será apelável, embargável ou
extraordinariamente recorrível. Consequentemente, uma vez cabida a interposição de recurso independente
pelo autor materialmente sucumbente (a despeito da ausência de sucumbência formal), não se pode tolher
seu direito ao manejo de recurso adesivo em caso de impugnação principal exclusiva da parte adversa.
Outrossim, como reforço de argumento, cumpre assinalar a afirmação doutrinária de que “o interesse em
recorrer adesivamente afere-se à luz da função processual do recurso adesivo, que é a de levar à cognição do
órgão ad quem matéria ainda não abrangida pelo efeito devolutivo do recurso principal, e que, portanto,
ficaria preclusa em não ocorrendo a adesão”
83

Na execução individual de sentença proferida em ação civil pública que reconhece o direito
de poupadores aos expurgos inflacionários decorrentes do Plano Verão (janeiro de 1989): (i)
descabe a inclusão de juros remuneratórios nos cálculos de liquidação se inexistir
condenação expressa, sem prejuízo de, quando cabível, o interessado ajuizar ação individual
de conhecimento; (ii) incidem os expurgos inflacionários posteriores a título de correção
monetária plena do débito judicial, que terá como base de cálculo o saldo existente ao
tempo do referido plano econômico, e não os valores de eventuais depósitos da época de
cada plano subsequente.

REsp 1.392.245-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 8/4/2015, DJe 7/5/2015
(Informativo 561).

TEMA: Direito processual civil. Execução individual de sentença coletiva e incidência de juros remuneratórios e
expurgos inflacionários. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 887.

INFORMAÇÕES: Segundo a doutrina, o dispositivo da sentença pode ser direto ou indireto. Será considerado
direto quando a sentença especificar a prestação imposta ao vencido. Já o indireto ocorrerá na hipótese em
que o juiz, ao sentenciar, apenas se reporta ao pedido do autor para julgá-lo procedente ou improcedente.
Nesse último caso, recorre-se à inicial quando a sentença não traz em seu bojo os termos em que o pedido foi
acolhido. Convém esclarecer que os juros moratórios, em sua acepção estritamente jurídica, são juros legais,
para cuja incidência se dispensa pedido expresso ou mesmo condenação (art. 293 do CPC). Aliás, a Súmula
254 do STJ preceitua que: “Incluem-se os juros moratórios na liquidação, embora omisso o pedido inicial ou a
condenação”. De outro lado, os juros remuneratórios, no mais das vezes, são contratuais, cujo reconhecimento
depende de pedido expresso e, para ser executado, de condenação na fase de conhecimento. Nesse contexto,
a jurisprudência do STJ é tranquila no sentido de não permitir a incidência de juros remuneratórios na fase de
execução se a sentença foi omissa quanto ao ponto. Além disso, o STJ, a princípio, não amplia a coisa julgada
com o propósito de permitir a execução de determinadas rubricas não contempladas no título executivo, a
despeito de reconhecer sua decorrência lógica do direito principal tutelado na fase de conhecimento. Por
exemplo, na ação civil pública 98.0016021-3, ajuizada pela Associação Paranaense de Defesa do Consumidor –
Apadeco na Justiça do Paraná, objetivando o recebimento dos expurgos inflacionários referentes aos meses
de junho de 1987 e janeiro de 1989, o STJ não vem permitindo a execução individual de juros remuneratórios
não contemplados no título. Por isso que se franqueia a via da ação individual de conhecimento para a busca
dos juros remuneratórios a cujo respeito se omitira a ação coletiva 98.0016021-3. Noutro giro, importa
assinalar que a jurisprudência do STF e do STJ é firme no sentido de que a correção monetária não
consubstancia acréscimo material ao débito principal, mas mera recomposição do valor real em face da
corrosão inflacionária de determinado período. Por essa ótica, havendo um montante fixo já definido na
sentença – dependente apenas de mero cálculo aritmético –, a inclusão, na fase de execução individual, de
correção monetária não contemplada na sentença não hostiliza a coisa julgada, antes, a protege, pois só assim
o título permanece hígido com a passagem do tempo em um cenário econômico no qual a inflação não é
nula. Nessa medida, para a manutenção da coisa julgada, há de se proceder à correção monetária plena do
débito reconhecido. Assim, os expurgos inflacionários do período de inadimplemento devem compor o
cálculo, estejam ou não contemplados na sentença exequenda. Saliente-se, por fim, a existência de duas
situações que parecem se baralhar com relativa frequência: (a) uma é a incidência de expurgos inflacionários
resultantes de planos econômicos não previstos na sentença coletiva a valores eventualmente existentes em
contas de poupança em momento posterior; (b) outra é a incidência, no débito judicial resultante da sentença,
84

de expurgos inflacionários decorrentes de planos econômicos posteriores ao período apreciado pela ação
coletiva, a título de correção monetária plena da dívida consolidada.

Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos embargos à


execução na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 30 dias,
independentemente de prévia intimação da parte; não se determina o cancelamento se o
recolhimento das custas, embora intempestivo, estiver comprovado nos autos.

REsp 1.361.811-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Primeira Seção, julgado em 4/3/2015, DJe 6/5/2015
(Informativo 561).

TEMA: Direito processual civil. Cancelamento de distribuição de impugnação ao 40 cumprimento de sentença


ou de embargos à execução. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Temas 674, 675 e 676.

No caso de sentença ilíquida, para a imposição da multa prevista no art. 475-J do CPC,
revela-se indispensável (i) a prévia liquidação da obrigação; e, após o acertamento, (ii) a
intimação do devedor, na figura do seu advogado, para pagar o quantum ao final definido
no prazo de 15 dias.

REsp 1.147.191-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Segunda Seção, julgado em 4/3/2015, DJe
24/4/2015 (Informativo 560).

TEMA: Direito processual civil. Requisitos para a imposição da multa prevista no art. 475- j do cpc no caso de
sentença ilíquida. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 380.

INFORMAÇÕES: Para as sentenças condenatórias ao cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer e para
aquelas que tenham por objeto a entrega de coisa, a execução do julgado far-se-á na forma dos arts. 461 e
461-A do CPC; para aquelas em que determinado o pagamento de quantia em dinheiro ou na qual a
obrigação possa assim ser convertida, o procedimento é o previsto no art. 475-J do CPC. Neste último caso, a
finalidade da multa imposta para o caso de não pagamento foi a de mitigar a apresentação de defesas e
impugnações meramente protelatórias, incentivando a pronta satisfação do direito previamente reconhecido.
Todavia, a própria legislação define que, no caso de condenação a prestação em dinheiro, a multa em caso de
inadimplemento somente poderá incidir sobre título judicial representativo de quantia certa ou já fixada em
liquidação, e depois de passado o prazo ali estipulado. Isso porque a liquidez da obrigação é pressuposto
para o pedido de cumprimento de sentença. A doutrina firma textualmente que a incidência da multa
subordina-se à liquidez da condenação. O art. 475-J alude à quantia certa ou já fixada em liquidação. Então, se
a condenação é desde logo líquida (incluindo-se nessa hipótese aquela que depende de determinação do
valor por mero cálculo aritmético), é o que basta para que já possa incidir a multa. Caso contrário, apenas
depois da fase de liquidação, terá vez a multa. Assim, apenas quando a obrigação for líquida pode ser
cogitado, de imediato, o arbitramento da multa para pronto pagamento. Se ainda não liquidada ou se para a
apuração do quantum ao final devido for indispensável cálculos mais elaborados, o prévio acertamento do
valor faz-se necessário, para, após, mediante intimação, cogitar-se da aplicação da referida multa, o que
parece de muito obviedade, considerando que não se pode penalizar aquele que ainda não sabe o quê ou
quanto pagar. No contexto das obrigações ilíquidas, pouco importa que tenha havido depósito da quantia
que o devedor entendeu incontroversa ou a apresentação de garantias, porque, independentemente delas, a
aplicação da multa sujeita-se à condicionante da liquidez da obrigação definida no título judicial. A sentença
85

líquida deve ser entendida como aquela que define uma obrigação determinada (fazer ou não fazer alguma
coisa, entregar coisa certa, ou pagar quantia determinada). Na hipótese de condenação ao pagamento em
dinheiro, que espelha a mais comum e clássica espécie de sentença condenatória, considera-se líquida a
obrigação quando o valor a ser adimplido está fixado no título ou é facilmente determinável por meio de
cálculos aritméticos simples, que não demandem grandes questionamentos e nem apresentem insegurança
para as partes que litigam. Afirma a doutrina, ademais, ser ilíquida a sentença que 41 não fixa o valor da
condenação ou não lhe individua o objeto, condição incompatível com a índole do processo executivo que
pressupõe, sempre, a lastreá-lo um título representativo de obrigação, certa, líquida e exigível (art. 586).
Destarte, se já há valor fixado na sentença, cuidando-se apenas de adicionar-lhe os acréscimos legais
(correção monetária a partir de índices oficiais conhecidos e juros de mora), não se pode imputar-lhe a
condição de ilíquida, posto que do contrário não haveria uma única sentença com o atributo da liquidez;
igualmente, não é a existência de impugnação, com alegação de excesso, que tornará ilíquida a obrigação,
devendo-se perquirir a certeza a partir do comando sentencial de que resulta o pedido de cumprimento.
Precedente citado: REsp. 1.262.933-RJ, Corte Especial, DJe 20/8/2013.

A petição inicial da ação monitória para cobrança de soma em dinheiro deve ser instruída
com demonstrativo de débito atualizado até a data do ajuizamento, assegurando-se, na sua
ausência ou insuficiência, o direito da parte de supri-la, nos termos do art. 284 do CPC.

REsp 1.154.730-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Segunda Seção, julgado em 8/4/2015, DJe 15/4/2015
(Informativo 559).

TEMA: Direito processual civil. Instrução da petição inicial da ação monitória. Recurso repetitivo (art. 543-c do
cpc e res. 8/2008-stj). Tema 474.

INFROMAÇÕES: Não obstante o baixo formalismo que caracteriza o procedimento monitório, é indispensável,
sempre que se tratar de cobrança de soma em dinheiro, a apresentação pelo credor de demonstrativo que
possibilite ao devedor o perfeito conhecimento da quantia que lhe está sendo reclamada. De fato, embora
seja possível a discussão sobre o quantum debeatur nos embargos à ação monitória, é necessário que haja o
detalhamento da dívida, com a indicação de critérios, índices e taxas utilizados, a fim de que o devedor possa
validamente impugná-los em sua peça de resistência. É importante registrar, contudo, que, detectada a falta
ou insuficiência do demonstrativo, tem a parte o direito de saná-la, nos termos do art. 284 do CPC,
entendimento que se estende à própria inicial de execução, na forma da jurisprudência dominante.

Nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a
ação de prestação de contas.

REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 11/3/2015, DJe 25/3/2015
(Informativo 558).

TEMA: Direito processual civil. Ausência de interesse de agir em ação de prestação de contas de contratos de
mútuo e financiamento. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj).
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INFORMAÇÕES: A ação de prestação de contas constitui procedimento especial de jurisdição contenciosa


normatizado nos arts. 914 a 919 do CPC e presta-se, essencialmente, a dirimir incertezas surgidas a partir da
administração de bens, negócios e interesses alheios, cabendo ao gestor a apresentação minuciosa de todas
as receitas e despesas envolvidas na relação jurídica e, ao final, a exibição do saldo, que tanto pode ser credor
quanto devedor. O art. 914 do CPC dispõe que a “ação de prestação de contas competirá a quem tiver: I – o
direito de exigi-las; II – a obrigação de prestá-las”. A hipótese a que se refere o inciso I – única que interessa
ao presente caso – visa a permitir que o autor exija do réu o oferecimento de contas. Fundamenta-se
exclusivamente na existência ou não do direito de exigir essas contas, sem que seja necessário que se invoque
alguma desconfiança sobre o trabalho exercido pelo administrador ou algum saldo supostamente existente
em razão da atuação deste. Assim, na ação de prestação de contas, é fundamental a existência, entre autor e
réu, de relação jurídica de direito material em que um deles administre bens, direitos ou interesses alheios.
Sem essa relação, inexiste o dever de prestar contas. Nessa ordem de ideias, são duas conclusões acerca do
interesse de agir nesse tipo de ação: a) o interesse sobre o qual versa a prestação de contas independe da
existência ou não de débito e b) requer apenas a existência de vínculo jurídico capaz de obrigar uma das
partes a prestá-las em favor da outra. No contrato de mútuo bancário, a obrigação do mutuante cessa com a
entrega da coisa. Nesse contexto, não há obrigação da instituição financeira em prestar contas, porquanto a
relação estabelecida com o mutuário não é de administração ou gestão de bens alheios, sendo apenas um
empréstimo. Conclui-se, então, pela inexistência de interesse de agir do cliente/mutuário para propor ação de
prestação de contas, haja vista que o mutuante/instituição financeira exime-se de compromissos com a
entrega da coisa. Ou seja, “a atividade da instituição 43 financeira limita-se a entrega de recursos ao tomador
do empréstimo, no valor estipulado contratualmente, cabendo a este a restituição da quantia emprestada, na
forma pactuada”. (REsp 1.225.252-PR, Terceira Turma, DJe 6/5/2013). No que concerne à matéria, a Segunda
Seção do STJ, no julgamento do REsp 1.201.662-PR, firmou o entendimento de que, na hipótese de contrato
de financiamento, não há, para o tomador do financiamento, interesse de agir na propositura de ação de
prestação de contas, uma vez que o banco não administra recursos do financiado. Ademais, importante
salientar que a questão analisada é diversa da regulada na Súmula 259 do STJ, que dispõe sobre o cabimento
da ação de prestação de contas em contratos de conta-corrente bancária. Aliás, toda argumentação utilizada
até aqui deve ser estendida aos contratos de financiamento em geral. Nessa espécie contratual, assim como
no empréstimo bancário, o cliente adquire certa quantia em dinheiro com a instituição financeira,
comprometendo-se a saldá-la em determinado prazo, na forma avençada no contrato. A diferença entre eles
é que, no contrato de financiamento, há destinação específica dos recursos tomados, como, por exemplo, para
a aquisição de um bem imóvel ou de um veículo. Ademais, geralmente o contrato de financiamento possui
algum tipo de garantia, como a hipoteca ou a alienação fiduciária. Conclui-se, então, que, na hipótese de
contrato de financiamento, assim como no de mútuo, não há, para o tomador do financiamento, interesse de
agir na propositura de ação de prestação de contas, uma vez que o banco não administra recursos do
financiado: trata-se aqui de contrato fixo, em que há valor e taxa de juros definidos, cabendo ao próprio
financiado fazer o cálculo, pois todas as informações constam no contrato.
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A propositura de ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via


de documentos) é cabível como medida preparatória a fim de instruir a ação principal,
bastando a demonstração da existência de relação jurídica entre as partes, a comprovação
de prévio pedido à instituição financeira não atendido em prazo razoável e o pagamento do
custo do serviço conforme previsão contratual e normatização da autoridade monetária.

REsp 1.349.453-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 10/12/2014, DJe 2/2/2015
(Informativo 553).

TEMA: Direito processual civil. Requisitos para configuração do interesse de agir nas ações cautelares de
exibição de documentos bancários. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj).

INFORMAÇÕES: É por meio da ação cautelar de exibição que, segundo a doutrina, se descobre “o véu, o
segredo, da coisa ou do documento, com vistas a assegurar o seu conteúdo e, assim, a prova em futura
demanda”, sendo que o pedido de exibição pode advir de uma ação cautelar autônoma (arts. 844 e 845 do
CPC) ou de um incidente no curso da lide principal (arts. 355 a 363 do CPC). No tocante às ações autônomas,
essas poderão ter natureza verdadeiramente cautelar, demanda antecedente, cuja finalidade é proteger,
garantir ou assegurar o resultado útil do provimento jurisdicional; ou satisfativa, demanda principal, visando
apenas à exibição do documento ou coisa, apresentando 46 cunho definitivo e podendo vir a ser preparatória
de uma ação principal – a depender dos dados informados. De mais a mais, da leitura do inciso II do art. 844
do CPC, percebe-se que a expressão “documento comum” refere-se a uma relação jurídica que envolve ambas
as partes, em que uma delas (instituição financeira) detém o(s) extrato(s) bancários ao(s) qual/quais o autor da
ação cautelar de exibição deseja ter acesso, a fim de verificar a pertinência ou não de propositura da ação
principal. É aqui que entra o interesse de agir: há interesse processual para a ação cautelar de exibição de
documentos quando o autor pretende avaliar a pertinência ou não do ajuizamento de ação judicial relativa a
documentos que não se encontram consigo. A propósito, o conhecimento proporcionado pela exibição do
documento não raras vezes desestimula o autor ou mesmo o convence da existência de qualquer outro
direito passível de tutela jurisdicional. De fato, o que caracteriza mesmo o interesse de agir é o binômio
necessidade-adequação. Assim, é preciso que, a partir do acionamento do Poder Judiciário, se possa extrair
algum resultado útil e, ainda, que em cada caso concreto a prestação jurisdicional solicitada seja necessária e
adequada. Nesse diapasão, conclui-se que o interesse de agir deve ser verificado em tese e de acordo com as
alegações do autor no pedido, sendo imperioso verificar apenas a necessidade da intervenção judicial e a
adequação da medida jurisdicional requerida de acordo com os fatos narrados na inicial. Nesse passo,
verifica-se que a jurisprudência do STJ é tranquila no sentido de que há interesse de agir na propositura de
ação de exibição de documentos objetivando a obtenção de extrato para discutir a relação jurídica deles
originada (AgRg no REsp 1.326.450-DF, Terceira Turma, DJe 21/10/2014; e AgRg no AREsp 234.638-MS,
Quarta Turma, DJe 20/2/2014). Assim, é certo que, reconhecida a existência de relação obrigacional entre as
partes e o dever legal que tem a instituição financeira de manter a escrituração correspondente, revela-se
cabível determinar à instituição financeira que apresente o documento. Contudo, exige-se do
autor/correntista a demonstração da plausibilidade da relação jurídica alegada, pelo menos, com indícios
mínimos capazes de comprovar a própria existência da contratação da conta-poupança, devendo o
correntista, ainda, especificar, de modo preciso, os períodos em que pretenda ver exibidos os extratos, tendo
em conta que, nos termos do art. 333, I, do CPC, incumbe ao autor provar o fato constitutivo de seu direito.
Quanto à necessidade de pedido prévio à instituição financeira e pagamento de tarifas administrativas, é
necessária a comprovação de prévio pedido à instituição financeira não atendido em prazo razoável e o
pagamento do custo do serviço conforme previsão contratual e a normatização da autoridade monetária. Por
88

fim, não se pode olvidar que o dever de exibição de documentos por parte da instituição bancária decorre do
direito de informação ao consumidor (art. 6º, III, do CDC). De fato, dentre os princípios consagrados na lei
consumerista, encontra-se a necessidade de transparência, ou seja, o dever de prestar informações
adequadas, claras e precisas acerca do produto ou serviço fornecido (arts. 6º, III, 20, 31, 35 e 54, § 5º).

O termo final do prazo decadencial para propositura de ação rescisória deve ser prorrogado
para o primeiro dia útil subsequente quando recair em data em que não haja
funcionamento da secretaria do juízo competente.

REsp 1.112.864-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 19/11/2014, DJe 17/12/2014 (Informativo
553).

TEMA: Direito processual civil. Prorrogação do termo final do prazo para ajuizamento da ação rescisória.
Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj).

INFORMAÇÕES: Preliminarmente, tendo em vista que o art. 495 do CPC dispõe que “o direito de propor ação
rescisória se extingue em dois anos, contados do trânsito em julgado da decisão”, cabe examinar a data do
trânsito em julgado da decisão, a partir da qual se dá o termo inicial do prazo para a proposição da ação
rescisória. Essa análise se faz necessária, pois se 47 observa a existência de divergência acerca da definição do
termo inicial do biênio decadencial (se do dia do trânsito em julgado ou do dia seguinte ao trânsito em
julgado), que ocorre, principalmente, em razão da imprecisão ao se definir o exato dia do trânsito em julgado.
A teor do disposto no § 3.º do art. 6.º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, “chama-se coisa
julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba mais recurso”, bem assim no art. 467 do CPC:
“denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a
recurso ordinário ou extraordinário”. Em uma linha: só há trânsito em julgado quando não mais couber
recurso, ou seja, há trânsito em julgado no dia imediatamente subsequente ao último dia do prazo para o
recurso em tese cabível contra a última decisão proferida na causa. Assim, em que pese a existência de
precedentes em sentido contrário, o termo inicial para o ajuizamento da ação rescisória coincide com a data
do trânsito em julgado da decisão rescindenda (STF, AR 1.412-SC, Tribunal Pleno, DJe 26/6/2009; AR 1.472-DF,
Tribunal Pleno, DJe 7/12/2007; e STJ, AR 4.374-MA, Segunda Seção, DJe 5/6/2012). A regra para contagem do
prazo bienal é a estabelecida no art. 1.º da Lei 810/1949, qual seja, “considera-se ano o período de doze
meses contados do dia do início ao dia e mês correspondentes do ano seguinte”, fórmula que está em
consonância com aquela estabelecida também no art. 132, § 2.º, do CC, onde se lê: “os prazos de meses e
anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência”.
Consoante adverte amplo magistério doutrinário, o prazo para a propositura da ação rescisória é decadencial,
e, dessa forma, não estaria sujeito à suspensão ou interrupção. Não obstante, a jurisprudência do STJ firmou-
se no sentido de que, se o termo final do prazo para ajuizamento da ação rescisória recair em dia não útil
prorroga-se para o primeiro dia útil subsequente. Ressalte-se que não se está a afirmar que não se trata de
prazo decadencial, pois esta é a natureza do prazo para o ajuizamento da ação rescisória. A solução
apresentada pela jurisprudência do STJ, que aplica ao prazo de ajuizamento da ação rescisória a regra geral
do art. 184, § 1.º, do CPC, visa a atender ao princípio da razoabilidade, evitando que se subtraia da parte a
plenitude do prazo a ela legalmente concedido. E, conforme já assentado pelo STJ, “Em se tratando de prazos,
o intérprete, sempre que possível, deve orientar-se pela exegese mais liberal, atento às tendências do
processo civil contemporâneo – calcado nos princípios da efetividade e da instrumentalidade – e à advertência
da doutrina de que as sutilezas da lei nunca devem servir para impedir o exercício de um direito” (REsp
11.834-PB, Quarta Turma, DJ 30/3/1992)
89

DIREITO DO CONSUMIDOR

2022

A operadora, mesmo após o exercício regular do direito à rescisão unilateral de plano


coletivo, deverá assegurar a continuidade dos cuidados assistenciais prescritos a usuário
internado ou em pleno tratamento médico garantidor de sua sobrevivência ou de sua
incolumidade física, até a efetiva alta, DESDE QUE o titular arque integralmente com a
contraprestação devida.

REsp 1.846.123-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 22/06/2022.
(Tema 1082) Info 742

INFORMAÇÕES: A questão jurídica a ser dirimida cinge-se a definir a possibilidade ou não de cancelamento
unilateral - por iniciativa da operadora - de contrato de plano de saúde (ou seguro saúde) coletivo enquanto
pendente tratamento médico de usuário acometido de doença grave.

Os incisos II e III do parágrafo único do artigo 13 da Lei n. 9.656/1998 são taxativos em proibir a suspensão de
cobertura ou a rescisão unilateral imotivada - por iniciativa da operadora - do plano privado de assistência à
saúde individual ou familiar.

De acordo com a dicção legal, apenas quando constatada fraude ou inadimplência, tal avença poderá ser
rescindida ou suspensa, mas, para tanto, revelar-se-á necessário que o usuário - titular ou dependente - não
se encontre internado (ou submetido a tratamento médico garantidor de sua sobrevivência ou da
manutenção de sua incolumidade física, na linha de precedentes desta Corte).

Por sua vez, o seguro ou plano de saúde coletivo - com quantidade igual ou superior a 30 beneficiários - pode
ser objeto de suspensão de cobertura ou de rescisão imotivadas (ou seja, independentemente da constatação
de fraude ou do inadimplemento da contraprestação avençada), desde que observados os requisitos
enumerados no artigo 17 da Resolução Normativa DC/ANS n. 195/2009: (i) existência de cláusula contratual
prevendo tal faculdade para ambas as partes; (ii) decurso do prazo de doze meses da vigência do pacto; e (iii)
notificação da outra parte com antecedência mínima de sessenta dias.

Conquanto seja incontroverso que a aplicação do parágrafo único do artigo 13 da Lei n. 9.656/1998 restringe-
se aos seguros e planos de saúde individuais ou familiares, sobressai o entendimento de que a
impossibilidade de rescisão contratual durante a internação do usuário - ou a sua submissão a tratamento
médico garantidor de sua sobrevivência ou da manutenção de sua incolumidade física -, também alcança os
pactos coletivos.
90

Com efeito, em havendo usuário internado ou em pleno tratamento de saúde, a operadora, mesmo após
exercido o direito à rescisão unilateral do plano coletivo, deverá assegurar a continuidade dos cuidados
assistenciais até a efetiva alta médica, por força da interpretação sistemática e teleológica dos artigos 8º, § 3º,
alínea "b", e 35-C, incisos I e II, da Lei n. 9.656/1998, bem como do artigo 16 da Resolução Normativa DC/ANS
n. 465/2021.

A aludida interpretação também encontra amparo na boa-fé objetiva, na segurança jurídica, na função social
do contrato e no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, o que permite concluir que, ainda
quando haja motivação idônea, a suspensão da cobertura ou a rescisão unilateral do plano de saúde não
pode resultar em risco à preservação da saúde e da vida do usuário que se encontre em situação de extrema
vulnerabilidade.

Nessa perspectiva, no caso de usuário internado ou submetido a tratamento garantidor de sua sobrevivência
ou da manutenção de sua incolumidade física, o óbice à suspensão de cobertura ou à rescisão unilateral do
plano de saúde prevalecerá independentemente do regime de sua contratação - coletivo ou individual -,
devendo a operadora aguardar a efetiva alta médica para se desincumbir da obrigação de custear os cuidados
assistenciais pertinentes.

Quando houver o cancelamento do plano privado coletivo de assistência à saúde, deverá ser permitido aos
usuários a migração para planos individuais ou familiares, observada a compatibilidade da cobertura
assistencial e a portabilidade de carências, desde que a operadora comercialize tal modalidade de contrato e
o consumidor opte por se submeter às regras e aos encargos peculiares da avença (AgInt no REsp n.
1.941.254/RJ, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 11/11/2021, DJe de 18/10/2021;
e REsp n. 1.471.569/RJ, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 1º/03/2016, DJe
de 07/03/2016).

Por sua vez, o inciso IV do artigo 8º da Resolução Normativa DC/ANS n. 438/2018 preceitua que, em caso de
rescisão do contrato coletivo por parte da operadora ou da pessoa jurídica estipulante, a portabilidade de
carências "deverá ser requerida no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da data da ciência pelo beneficiário da
extinção do seu vínculo com a operadora", não se aplicando os requisitos de "existência de vínculo ativo com
o plano de origem", de "observância do prazo de permanência" (período ininterrupto em que o beneficiário
deve permanecer vinculado ao plano de origem para se tornar elegível ao exercício da portabilidade de
carências) nem de "compatibilidade por faixa de preço", previstos no artigo 3º do ato normativo.

Em tal hipótese, caberá à operadora - que rescindiu unilateralmente o plano coletivo e que não comercializa
plano individual - comunicar, diretamente, aos usuários sobre o direito ao exercício da portabilidade,
"indicando o valor da mensalidade do plano de origem, discriminado por beneficiário", assim como o início e
o fim da contagem do prazo de 60 dias (artigo 8º, § 1º, da Resolução Normativa DC/ANS n. 438/2018).

A outra situação apta a exonerar a operadora de continuar a custear os cuidados assistenciais prestados ao
usuário submetido a internação ou a tratamento de saúde - iniciados antes do cancelamento do pacto
coletivo -, consiste na existência de contratação de novo plano pelo empregador com outra operadora.

Deveras, consoante cediço nesta Corte, em havendo a denúncia unilateral do contrato de plano de saúde
coletivo empresarial, "é recomendável ao empregador promover a pactuação de nova avença com outra
operadora, evitando-se prejuízos aos seus empregados (ativos e inativos), que não precisarão se socorrer da
portabilidade ou da migração a planos individuais, de custos mais elevados" (EDcl no AgInt no REsp n.
1.941.254/RJ, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 29/11/2021, DJe de 1º/12/2021;
91

e REsp n. 1.846.502/DF, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 20/04/2021,
DJe de 26/04/2021).

(a) Aplicabilidade das teses firmadas no Tema 952/STJ aos planos coletivos, ressalvando-se,
quanto às entidades de autogestão, a inaplicabilidade do CDC.

(b) A melhor interpretação do enunciado normativo do art. 3°, II, da Resolução n. 63/2003,
da ANS, é aquela que observa o sentido matemático da expressão 'variação acumulada',
referente ao aumento real de preço verificado em cada intervalo, devendo-se aplicar, para
sua apuração, a respectiva fórmula matemática, estando incorreta a simples soma aritmética
de percentuais de reajuste ou o cálculo de média dos percentuais aplicados em todas as
faixas etárias.

REsp 1.716.113-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
23/03/2022. (Tema 1016). Info 730.

Informações: Inicialmente, a controvérsia delimitou-se aos planos coletivos novos ou adaptados à Lei n.
9.656/1998, pois a discussão que diz respeito aos planos antigos não possui multiplicidade recursal suficiente
para justificar a fixação de uma tese vinculante pelo rito dos repetitivos.

Ademais, relembre-se que, antes do marco legal do setor de saúde suplementar, não havia disciplina legal ou
regulamentar para os reajustes por faixa etária, de modo que não se mostraria viável fixar uma única tese para
abranger contratos novos e antigos não adaptados, tendo em vista a diversidade dos fundamentos jurídicos
que embasariam a tese num e noutro caso.

A controvérsia fica delimitada também ao contexto de pretensão de revisão de índice de reajuste por faixa
etária deduzida pelo usuário contra a operadora.

Esta Corte Superior conta com tese já firmada sobre a validade dos reajustes por faixa etária, aplicável aos
planos individuais ou familiares. Anota-se, assim, as teses firmadas no Tema 952/STJ: o reajuste de
mensalidade de plano de saúde individual ou familiar fundado na mudança de faixa etária do beneficiário é
válido desde que (I) haja previsão contratual, (II) sejam observadas as normas expedidas pelos órgãos
governamentais reguladores e (III) não sejam aplicados percentuais desarrazoados ou aleatórios que,
concretamente e sem base atuarial idônea, onerem excessivamente o consumidor ou discriminem o idoso.

Apesar de o Tema 952/STJ ter sido firmado para os planos individuais e familiares, as razões de decidir do
respectivo acórdão contêm argumentação abrangente, que não se limitaram às particularidades desse tipo de
plano de saúde, como se pode verificar da leitura das ementas acima transcritas.

Em função disso, as teses firmadas no referido tema passaram a ser aplicadas, por analogia, aos planos
coletivos, os quais, inclusive, existem em maior proporção.

A única ressalva a ser feita diz respeito aos planos operados na modalidade de autogestão (casos do AREsp
1.132.511/DF e do REsp 1.673.366/RS, supracitados, além do REsp 1.713.113/DF, afetado), aos quais não se
aplica o Código de Defesa do Consumidor (Súmula 608/STJ).
92

De todo modo, a revisão judicial do reajuste dos planos de autogestão ainda é possível, tomando como
fundamentos os princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva, enunciados no Código Civil,
combinados e com a vedação à discriminação do idoso, proclamada no Estatuto do Idoso.

Esclareça-se que a tese firmada no IRDR 11/TJSP, embora enunciada com base no Tema 952/STJ, deixou de
mencionar o requisito da aleatoriedade do índice, prevista no referido Tema como um dos requisitos para a
revisão judicial. A metodologia de cálculo das proporções estatuídas na Resolução Normativa ANS 63/2003 é
controvérsia que suscita a interposição de uma multiplicidade de recursos, fato que deu ensejo à instauração
do IRDR no 11 no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, IRDR que ascendeu a esta Corte Superior nos
autos do REsp 1.873.377/SP.

Relembre-se que a RN ANS 63/2003 estatuiu as seguintes proporções entre as faixas etárias: Art. 3°- Os
percentuais de variação em cada mudança de faixa etária deverão ser fixados pela operadora, observadas as
seguintes condições: I - o valor fixado para a última faixa etária não poderá ser superior a seis vezes o valor da
primeira faixa etária; II - a variação acumulada entre a sétima e a décima faixas não poderá ser superior à
variação acumulada entre a primeira e a sétima faixas. III - as variações por mudança de faixa etária não
podem apresentar percentuais negativos (incluído pela RN n. 254, de 06/05/2011).

A polêmica se situa na proporção estatuída no inciso II, supra, e consiste em saber se o cálculo da variação
acumulada deve ser feito por meio da soma aritmética de índices, ou por meio do cotejo dos valores
absolutos dos preços.

Nesse passo, relembre-se que, no IRDR 11/TJSP, foi firmada a seguinte tese: TESE 2: "A interpretação correta
do art. 3°, II, da Resolução n. 63/03, da ANS, é aquela que observa o sentido matemático da expressão
"variação acumulada", referente ao aumento real de preço verificado em cada intervalo, devendo-se aplicar,
para sua apuração, a respectiva fórmula matemática, estando incorreta a soma aritmética de percentuais de
reajuste ou o cálculo de média dos percentuais aplicados em todas as faixas etárias."

A exegese da expressão "variação acumulada" prevista no art. 3° da RN ANS 63/2003 já foi enfrentada por
esta Corte Superior, no acórdão paradigma do Tema 952/STJ, tendo-se chegado à mesma conclusão do
egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, embora sem integrar a parte vinculativa daquele acórdão.

Tendo em vista esse entendimento já manifestado por esta Corte Superior no julgamento do caso subjacente
ao Tema 952/STJ, é oportuno fixar, desde logo, uma tese por esta Corte Superior acerca dessa controvérsia,
tese proposta nos exatos termos da bem elaborada tese do IRDR 11/TJSP: Tema 1016/STJ - (b) A melhor
interpretação do enunciado normativo do art. 3°, II, da Resolução n. 63/2003, da ANS, é aquela que observa o
sentido matemático da expressão "variação acumulada", referente ao aumento real de preço verificado em
cada intervalo, devendo-se aplicar, para sua apuração, a respectiva fórmula matemática, estando incorreta a
simples soma aritmética de percentuais de reajuste ou o cálculo de média dos percentuais aplicados em todas
as faixas etárias.

Com essa tese, encerra-se a abordagem da controvérsia acerca da abusividade do reajuste por faixa etária

Por fim, a controvérsia acerca do ônus da prova foi desafetada, por maioria, da Segunda Seção.
93

2021

Na hipótese em que o consumidor/autor impugnar a autenticidade da assinatura


constante em contrato bancário juntado ao processo pela instituição financeira, caberá a
esta o ônus de provar a autenticidade (CPC, arts. 6º, 369 e 429, II ).

REsp 1.846.649-MA, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
24/11/2021. Tema 1061. INFO 720

Tema: Vulnerabilidade do consumidor. Contrato de empréstimo. Impugnação de autenticidade de assinatura.


Ônus da prova. Instituição Financeira.

Informações: Inicialmente cumpre salientar que para a resolução desta controvérsia deve-se limitar a
discussão aos casos em que há contestação da assinatura do contrato, pois, diversamente da hipótese em que
se contesta a veracidade do próprio documento (art. 429, I, do CPC/2015), aqui se impugna apenas parte dele,
isto é, a aposição da assinatura (art. 429, II, do CPC/2015). Segundo a doutrina, "o ônus da prova da falsidade
documental compete à parte que a arguiu (art. 429, I, CPC), mas se a falsidade apontada disser respeito à
assinatura lançada no documento, o ônus da prova caberá a quem o produziu (art. 429, II, CPC)". Assim, a
parte que produz o documento é aquela por conta de quem se elaborou, porquanto responsável pela
formação do contrato, sendo quem possui a capacidade de justificar ou comprovar a presença da pessoa que
o assinou. Dessa maneira, vê-se que a própria lei criou uma exceção à regra geral de distribuição do ônus
probatório, disposta no art. 373 do CPC/2015, imputando o ônus a quem produziu o documento se houver
impugnação de sua autenticidade. Assim, aqui não se cuida de inversão do ônus probatório com a imposição
de a casa bancária arcar com os custos da perícia, mas sim quanto à imposição legal de a parte que produziu
o documento suportar o ônus de demonstrar a veracidade da assinatura constante no contrato e
oportunamente impugnada pelo mutuário, o que abrange a produção da perícia grafotécnica. Oportuno
ressaltar, ainda, que não se está a afirmar que o fornecedor, nas relações consumeristas, deverá arcar com a
produção da prova pericial em toda e qualquer hipótese, mas apenas que será ônus seu, em regra,
demonstrar a veracidade da assinatura aposta no contrato. Além disso, deve-se atentar ao fato de que as
ações repetitivas que justificaram a admissão do IRDR na origem envolviam consumidores pessoas idosas,
aposentadas, de baixa renda e analfabetas, os quais, em sua maioria, foram vítimas de fraudes ou práticas
abusivas perpetradas por correspondentes bancários. Portanto, a hipótese em apreço não impõe a produção
de uma prova diabólica, haja vista que o próprio consumidor, que supostamente teria assinado o contrato,
impugna a autenticidade da assinatura e poderá facilmente fornecer o material necessário para a perícia
grafotécnica. Ademais, o Poder Judiciário não pode fechar os olhos para as circunstâncias fáticas que gravitam
ao redor da questão jurídica, porquanto tais demandas envolvem, via de regra, pessoas hipervulneráveis, que
não possuem condições de arcar com os custos de uma prova pericial complexa, devendo ser imputado tal
ônus àquela parte da relação jurídica que detém maiores condições para sua produção. Por fim, não se olvide
que o art. 6º do CPC/2015 prevê expressamente o dever de cooperação entre os sujeitos do processo para
que se obtenha uma solução com efetividade, devendo as partes trazer aos autos as alegações e provas
capazes de auxiliar, de forma efetiva, na formação do convencimento do Magistrado para o deferimento da
produção das provas necessárias. Logo, havendo impugnação da autenticidade da assinatura constante de
contrato bancário por parte do consumidor, caberá à instituição financeira o ônus de provar sua
autenticidade, mediante perícia grafotécnica ou outro meio de prova.
94

Salvo disposição contratual expressa, os planos de saúde não são obrigados a custear
o tratamento médico de fertilização in vitro.

REsp 1.851.062-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Segunda Seção, por maioria, julgado em 13/10/2021. (Tema 1067)
Info 714

Informações: A Constituição Federal, em seu art. 226, §7º, estabelece que "fundado nos princípios da
dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privada." Na mesma linha, o Código Civil, no
capítulo concernente à eficácia do casamento, expressa redação semelhante (art. 1.565, §2º, do Código
Civil), verbis "o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos
educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privada." A fim de regulamentar o dispositivo constitucional contido no art. 226, §7º, foi
editada a Lei n. 9.263/1996 a qual estabelece, em seu art. 2º, "que o planejamento familiar é direito de todo
cidadão, entendendo-se este como o conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos
iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal." Verifica-se da
leitura dos artigos 10-III e 35-C, da Lei n. 9.656/1998 (Lei dos Planos de Saúde), que a legislação é
expressa e categórica no sentido de excluir a inseminação artificial da cobertura obrigatória a ser
oferecida pelos planos de saúde aos consumidores/pacientes, sendo, pois, facultativa a inclusão da
referida assistência nos respectivos contratos de saúde. Diante da amplitude da expressão inseminação
artificial, a ANS procurou, por meio de seus atos normativos, esclarecer o alcance do termo, tendo editado a
Resolução Normativa n. 192, de 27 de maio de 2009, a qual estabeleceu como de cobertura obrigatória os
seguintes procedimentos médicos relacionados ao planejamento familiar: i) consulta de
aconselhamento para planejamento familiar; ii) atividade educacional para planejamento familiar; iii)
implante de dispositivo intra-uterino (DIU). É importante registrar a previsão contida no art. 1º, § 2º, da
referida resolução no sentido de que "a inseminação artificial e o fornecimento de medicamentos de uso
domiciliar, definidos nos incisos III e VI do art. 13 da Resolução Normativa - RN n. 167, de 9 de janeiro de
2008, não são de cobertura obrigatória de acordo com o disposto nos incisos III e VI do art. 10 da Lei nº 9.656,
de 1998 e, não estão incluídos na abrangência desta Resolução". Na mesma linha, a redação da Resolução n.
428/ANS, de 7 de novembro de 2017, reproduz o conteúdo do art. 20, § 1º, da anterior Resolução nº 387/ANS,
de 28 de outubro de 2015, ao dispor que (...) "São permitidas as seguintes exclusões assistenciais: (...) III -
inseminação artificial, entendida como técnica de reprodução assistida que inclui a manipulação de oócitos e
esperma para alcançar a fertilização, por meio de injeções de esperma intracitoplasmáticas, transferência
intrafalopiana de gameta, doação de oócitos, indução da ovulação, concepção póstuma, recuperação
espermática ou transferência intratubária do zigoto, entre outras técnicas." É imperioso concluir que a
exclusão de cobertura obrigatória da técnica de inseminação artificial, consignadas em ambas as resoluções
normativas da ANS, possuem, como fundamento, a própria lei que regulamenta os planos e seguros privados
de assistência à saúde, o qual estabeleceu, em seu art. 10, inciso III, verbis: "É instituído o plano-referência de
assistência à saúde, com cobertura assistencial médico-ambulatorial e hospitalar, compreendendo partos e
tratamentos, realizados exclusivamente no Brasil (...), exceto: III - inseminação artificial." A propósito,
consoante destacado pelo Min. Marco Aurélio Bellizze na oportunidade do julgamento do REsp 1.692.179/SP
(Dje de 15/12/2017) "(...) segundo o art. 20, § 1º, inciso III, da Resolução Normativa n. 387/2015 da ANS é
permitida a exclusão da cobertura assistencial não só da inseminação artificial, mas, também, de outras
técnicas de reprodução assistida." De fato, não há, pois, lógica que o procedimento médico de inseminação
artificial seja, por um lado, de cobertura facultativa - consoante a regra do art. 10, III, da lei de regência - e, por
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outro, a fertilização in vitro, que possui característica complexa e onerosa tenha cobertura obrigatória. Permitir
interpretação absolutamente abrangente acerca do alcance do termo "planejamento familiar", de modo a
determinar cobertura obrigatória da fertilização in vitro, acarretará, inegavelmente, direta e indesejável
repercussão no equilíbrio econômico-financeiro do plano, a prejudicar, sem dúvida, os segurados e a própria
higidez do sistema de suplementação privada de assistência à saúde. Em controvérsias deste jaez a
interpretação deve ocorrer de maneira sistemática e teleológica, de modo a conferir exegese que garanta o
equilíbrio atuarial do sistema de suplementação privada de assistência à saúde, não podendo as operadoras
de planos de saúde serem obrigadas ao custeio de procedimentos que são, segundo a lei de regência e a
própria regulamentação da ANS, de natureza facultativa, salvo, evidentemente, expressa previsão contratual.

2019

É abusiva a cláusula que prevê o ressarcimento pelo consumidor da comissão do


correspondente bancário, em contratos celebrados a partir de 25/02/2011, data de entrada
em vigor da Res. CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula no período anterior a essa
resolução, ressalvado o controle da onerosidade excessiva.

REsp 1.578.553-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
28/11/2018, DJe 06/12/2018 (Tema 958)

TEMA Contratos bancários. Cobrança por serviços de terceiros. Ressarcimento pelo consumidor da comissão
do correspondente bancário. Vedação por norma regulamentar. Abusividade apenas a partir da vigência da
Resolução CMN 3.954/2011. Tema 958.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a analisar a validade de cobrança em contratos bancários de


comissão do correspondente bancário, a título de serviços de terceiro. Essa controvérsia tem especial
relevância para os contratos celebrados antes de 25/02/2011, uma vez que, após essa data, a cobrança passou
a ser expressamente vedada pela Resolução-CMN 3.954/2011. Apesar da vedação expressa somente ter
surgido em 2011, o entendimento do Banco Central do Brasil sempre foi no sentido de que essa despesa se
insere nos custos operacionais da instituição financeira, sendo descabido cobrar do consumidor o
ressarcimento dessa despesa. No âmbito do direito administrativo sancionador, contudo, o BCB - Banco
Central do Brasil reconheceu que a regulação bancária anterior a 2011 apresentava certa "ambiguidade", ou
"zona cinzenta", quanto a esse tipo de cobrança, fato que justificou a não aplicação de sanções
administrativas às instituições financeiras. No entanto, esse entendimento firmado no âmbito do direito
administrativo sancionador não vincula o entendimento a ser firmado no âmbito do direito privado, em razão
do princípio da independência das instâncias. Não obstante essa possibilidade de se declarar a abusividade da
cobrança de ressarcimento da comissão do correspondente bancário, adota-se no presente voto as mesmas
razões de decidir que conduziram esta Corte Superior a julgar válida a Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), no
período em que não estava vedada, bem como a Tarifa de Cadastro (Tema 618/STJ). (Informativo n. 639.)
96

É válida a tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como da cláusula que prevê o
ressarcimento de despesa com o registro do contrato, ressalvadas: a abusividade da
cobrança por serviço não efetivamente prestado e a possibilidade de controle da
onerosidade excessiva, em cada caso concreto.

REsp 1.578.553-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
28/11/2018, DJe 06/12/2018 (Tema 958)

TEMA Contratos bancários firmados a partir de 30/04/2008. Prevalência das normas do direito do consumidor
sobre a regulação bancária. Cobrança por serviços de terceiros. Tarifa de avaliação do bem dado em garantia

INFORMAÇÕES: De início, verifica-se que, como o contrato de financiamento é destinado à aquisição do


próprio bem objeto da garantia, a instituição financeira já dispõe de uma avaliação, que é aquela realizada
pelo vendedor ao estipular 17 o preço (expresso no contrato e na nota fiscal). Essa avaliação do bem, porque
já inerente ao negócio jurídico de compra e venda, e embutida no preço, não pode ser objeto de cobrança
pela instituição financeira, sob pena de bis in idem e enriquecimento sem causa. Outra cobrança realizada a
título de "avaliação do bem" é a cobrança por "acesso a cotações". Esse serviço de "acesso a cotações" não
conta com previsão na regulação bancária, devendo ser entendido, portanto, como custo operacional da
instituição financeira, já embutido no preço do contrato bancário. Deveras, a regulação bancária prevê a
possibilidade de cobrança de tarifa pela avaliação daquele bem específico, "recebido em garantia", não
havendo previsão de tarifa pelo mero acesso a cotações. Assim, ressalvada a efetiva avaliação do bem dado
em garantia, é abusiva a cláusula que prevê a cobrança desse tipo de tarifa sem a efetiva prestação do serviço,
pois equivale a uma disposição antecipada de direito pelo consumidor (o direito de somente pagar por
serviço efetivamente prestado). É dizer que o consumidor paga antecipadamente por um serviço (avaliação do
veículo), que não será necessariamente prestado. Essa prática encontra vedação no art. 51, inciso I, do Código
de Defesa do Consumidor. Além disso, como a publicidade dos contratos bancários dá destaque à taxa de
juros nominal (não ao custo efetivo total), a tendência observada no mercado fornecedor é de se reduzir as
taxas de juros nominais e compensar essa redução mediante a elevação excessiva do valor das tarifas. Essa
prática contraria os princípios da boa-fé e da transparência contratual nas relações de consumo. Assim, para
evitar esse uso desvirtuado das tarifas e despesas nos contratos bancários, impõe-se deixar explicitado na tese
que não se exclui o controle da onerosidade excessiva do valor dessas tarifas/despesas, com base no art. 51,
inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor. (Informativo n. 639.)

É abusiva a cláusula que prevê a cobrança de ressarcimento de serviços prestados por


terceiros, sem a especificação do serviço a ser efetivamente prestado.

REsp 1.578.553-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
28/11/2018, DJe 06/12/2018 (Tema 958)

TEMA Contratos bancários. Prevalência das normas de direito do consumidor sobre a regulação bancária.
Cobrança por serviços de terceiros. Ausência de especificação. Abusividade. Tema 958.

INFORMAÇÕES: Preliminarmente, destaca-se que, no âmbito jurisprudencial, a subordinação da regulação


bancária às normas do Código de Defesa do Consumidor é entendimento já consolidado pelo Supremo
Tribunal Federal, no julgamento da ADI 2.591/DF. Nos contratos celebrados entre instituição financeira e seus
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clientes há serviços que são prestados pela própria instituição financeira, e outros que são prestados por
terceiros, a depender do tipo de contrato. Os serviços prestados por terceiros não são regulamentados pelo
Conselho Monetário Nacional, podendo ser cobrados pelas instituições financeiras, a título de ressarcimento
de despesa. No entanto, essa cobrança de ressarcimento de serviços prestados não pode se dar de forma
genérica. Tal generalidade afronta o Código de Defesa do Consumidor, uma vez que não especifica o serviço
prestado pelo terceiro. Deveras, a especificação do serviço contratado é direito previsto no art. 6º, inciso III, do
CDC, como também o direito à informação adequada sobre os acréscimos do financiamento. (Informativo n.
639.)

É abusiva a cláusula que prevê o ressarcimento pelo consumidor da despesa com o registro
do pré-gravame, em contratos celebrados a partir de 25/02/2011, data de entrada em vigor
da Resolução CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula pactuada no período anterior a essa
resolução, ressalvado o controle da onerosidade excessiva.

REsp 1.639.259-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
12/12/2018, DJe 17/12/2018 (Tema 972)

TEMA Despesa de registro de pré-gravame. Previsão contratual. Abusividade a partir da Resolução CMN
3.954/2011. Contratos celebrados até 25/02/2011. Validade. Tema 972.

INFORMAÇÕES: A controvérsia delimita-se aos contratos bancários firmados no âmbito de uma relação de
consumo, com instituições financeiras ou equiparadas, celebrados a partir de 30/04/2008, no que se refere à
"cobrança de tarifas pela prestação de serviços por parte das instituições financeiras e demais instituições
autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil", à luz das normas do Conselho Monetário Nacional,
expedidas com base no art. 4º da Lei n. 4.595/1964, e o do Código de Defesa do Consumidor - CDC. No que
se refere à despesa prégravame, cabe observar que não se trata propriamente de uma tarifa, que remunera
serviço prestado pela instituição financeira e é taxativamente prevista em resolução da CMN, mas sim de uma
despesa com serviço prestado por terceiro, e cobrado do consumidor a título de ressarcimento de despesa.
Ademais, não se trata de um requisito de eficácia da garantia perante terceiros, como ocorre com o registro
do contrato no órgão de trânsito ou no cartório de títulos e documentos. Na verdade, o pré-gravame é um
registro adicional de caráter privado, alimentado pelas instituições financeiras, com o objetivo de conferir
maior segurança e agilidade às contratações. Ele decorre de obrigação imposta especificamente às instituições
financeiras, de forma que essa despesa remunera, efetivamente, uma operação ínsita à atividade bancária,
devendo, portanto, ser suportada pela própria instituição financeira. Entretanto, a controvérsia acerca do
alcance da norma autorizativa do art. 1º, § 1º, inciso III, da Resolução CMN 3.518/2007, foi enfrentada
recentemente por esta Corte Superior, sob a ótica da despesa com a comissão do correspondente bancário,
tendo-se entendido, que seria válido o ressarcimento dessa despesa perante o consumidor para os contratos
celebrados até 25/02/2011, data de entrada em vigor da Resolução CMN 3.954/2011, marco temporal que
deve permanecer na hipótese para manter coerência com esse precedente. (Informativo n. 639.)
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Nos contratos bancários em geral, o consumidor não pode ser compelido a contratar
seguro com a instituição financeira ou com seguradora por ela indicada.

REsp 1.639.259-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
12/12/2018, DJe 17/12/2018 (Tema 972)

TEMA Seguro de proteção financeira. Liberdade de contratar. Restrição à escolha da seguradora. Venda
casada. Proibição. Analogia com o entendimento da Súmula 473/STJ. Tema 972

INFORMAÇÕES: O seguro de proteção financeira é uma ampliação do conhecido seguro prestamista, o qual
oferece cobertura para os eventos morte e invalidez do segurado, garantindo a quitação do contrato em caso
de sinistro, fato que interessa tanto ao segurado (ou a seus dependentes) quanto à instituição financeira.
Nessa espécie de seguro, oferece-se uma cobertura adicional, referente ao evento despedida involuntária do
segurado que possui vínculo empregatício, ou perda de renda para o segurado autônomo. A inclusão desse
seguro nos contratos bancários não é vedada pela regulação bancária, até porque não se trata de um serviço
financeiro, conforme já manifestou o Banco Central do Brasil. Apesar dessa liberdade de contratar, uma vez
optando o consumidor pelo seguro, a cláusula contratual já condiciona a contratação da seguradora
integrante do mesmo grupo econômico da instituição financeira, não havendo ressalva quanto à possibilidade
de contratação de outra seguradora, à escolha do consumidor. Observa-se que essa espécie de venda casada
já foi enfrentada por esta Corte Superior no âmbito do seguro habitacional vinculado ao Sistema Financeiro
da Habitação - SFH e já sinalizava que, em qualquer contrato bancário, configura venda casada a prática das
instituições financeiras de impor ao consumidor a contratação de seguro com determinada seguradora.
Verifica-se que a única diferença para o caso do seguro de proteção financeira diz respeito à liberdade de
contratar, que é plena no caso da presente afetação, ao contrário do SFH, em que a contratação do seguro é
determinada por lei. Propõe-se, assim, a consolidação de uma tese semelhante ao enunciado da Súmula
473/STJ, para assim manter coerência com o precedente que deu origem a essa súmula, lembrando-se que a
coerência entre precedentes passou a ter eficácia normativa no sistema processual inaugurado pelo CPC/2015
(cf. art. 926). (Informativo n. 639.)

A abusividade de encargos acessórios do contrato não descaracteriza a mora

REsp 1.639.259-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
12/12/2018, DJe 17/12/2018 (Tema 972)

TEMA Encargos acessórios. Abusividade. Descaracterização da mora. Não ocorrência. Tema 972.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, cabe anotar que a controvérsia acerca da descaracterização da mora em virtude
da abusividade de encargos contratuais encontra-se consolidada nesta Corte Superior pelo rito dos recursos
repetitivos, conforme teses firmadas nos temas 28 e 29/STJ. Porém, como não houve uma manifestação
expressa desta Corte Superior acerca da distinção entre encargos essenciais e encargos acessórios, essa
questão suscita dúvidas. O entendimento não poderia ser outro senão aquele já sinalizado no precedente que
deu origem ao Tema 28/STJ, ao se enfatizar que os encargos aptos a descaracterizar a mora seriam
"notadamente" juros remuneratórios e capitalização, encargos essenciais dos contratos de mútuo bancário.
Deveras, a abusividade em algum encargo acessório do contrato não contamina a parte principal da
contratação, que deve ser conservada, procedendo-se à redução do negócio jurídico, conforme preconiza o
99

Código de Defesa do Consumidor. Na esteira desse entendimento, consolida-se a tese de que a abusividade
de encargos acessórios do contrato não descaracteriza a mora. (Informativo n. 639.)

No contrato de adesão firmado entre o comprador e a construtora/incorporadora, havendo


previsão de cláusula penal apenas para o inadimplemento do adquirente, deverá ela ser
considerada para a fixação da indenização pelo inadimplemento do vendedor. As
obrigações heterogêneas (obrigações de fazer e de dar) serão convertidas em dinheiro, por
arbitramento judicial.

REsp 1.631.485-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por maioria, julgado em 22/05/2019, DJe
25/06/2019 (Tema 971)

TEMA Compra e venda de imóvel na planta. Negócio jurídico anterior à Lei n. 13.786/2018. Não incidência.
Contrato de adesão. Omissão de multa em benefício do adquirente. Atraso na entrega. Inadimplemento da
incorporadora. Arbitramento judicial de indenização. Parâmetro objetivo. Multa estipulada em proveito de
apenas uma das partes. Manutenção do equilíbrio contratual. Tema 971

INFORMAÇÕES: Preliminarmente, assevera-se que foi acolhida Questão de Ordem - para ensejar segurança,
evitar surpresa e permitir maior qualificação dos debates que envolvem a solução dos quatro recursos
repetitivos afetados -, estabelecendo que não serão aplicados diretamente os dispositivos da superveniente
novel Lei n. 13.786/2018 para a solução dos casos em julgamento. No tocante ao mérito, consoante iterativa
jurisprudência do STJ, em caso de inadimplemento (absoluto ou relativo), se houver omissão do contrato,
cabe, por imperativo de equidade, inverter a cláusula contratual penal (moratória ou compensatória), que
prevê multa exclusivamente em benefício da promitente vendedora do imóvel. No entanto, esses precedentes
visam, justa e simetricamente, à manutenção do equilíbrio da base contratual para a adequada reparação do
dano, tomando a cláusula penal estipulada em benefício de apenas uma das partes como parâmetro objetivo,
inclusive ressalvando, por exemplo, o abatimento do valor de um aluguel por mês de uso do imóvel. As
técnicas de interpretação do Código de Defesa do Consumidor devem levar em conta o art. 4º daquele
diploma, que contém uma espécie de lente pela qual devem ser examinados os demais dispositivos,
notadamente por estabelecer os objetivos da Política Nacional das Relações de Consumo e os princípios que
devem ser respeitados - entre os quais se destacam a "harmonia das relações de consumo" e o "equilíbrio nas
relações entre consumidores e fornecedores". A par disso tem-se também como um direito básico do
consumidor a "igualdade nas contratações" (art. 6º, inciso II), além de outros benefícios não previstos no CDC,
mas que derivam "dos princípios gerais de direito" e da "equidade" (art. 7º). Não fosse o bastante, o art. 51, ao
enumerar algumas cláusulas tidas por abusivas, deixa claro que, nos contratos de consumo, deve haver
reciprocidade de direitos entre fornecedores e consumidores. É relevante notar também que a Portaria n. 4, de
13/3/1998, da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE/MJ) previu como abusivas as
cláusulas que: "6- estabeleçam sanções em caso de atraso ou descumprimento da obrigação somente em
desfavor do consumidor". Ressalte-se, no entanto, que as disposições contidas em normas infralegais, por
expressa disposição do CDC, inserem-se na categoria de outros direitos "decorrentes [...] de regulamentos
expedidos pelas autoridades administrativas competentes" (art. 7º, CDC). À vista disso, seja por princípios
gerais do direito, seja pela principiologia adotada no CDC, ou, ainda, por comezinho imperativo de equidade,
mostra-se abusiva a prática de estipular cláusula penal exclusivamente ao adquirente, para a hipótese de mora
ou de inadimplemento contratual absoluto, ficando isento de tal reprimenda o fornecedor em situações de
análogo descumprimento da avença. Saliente-se, no entanto, que constitui equívoco simplesmente inverter,
100

sem observar a técnica própria, a multa contratual referente à obrigação do adquirente de dar (pagar), para
então incidir em obrigação de fazer, resultando em indenização pelo inadimplemento contratual em montante
exorbitante, desproporcional, a ensejar desequilíbrio contratual e enriquecimento sem causa, em indevido
benefício do promitente comprador. A obrigação da incorporadora é de fazer (prestação contratual,
consistente na entrega do imóvel pronto para uso e gozo), já a do adquirente é de dar (pagar o valor
remanescente do preço do imóvel, por ocasião da entrega). E só haverá adequada simetria para inversão da
cláusula penal contratual se houver observância de sua natureza, isto é, de prefixação da indenização em
dinheiro pelo período da mora. Portanto, nos casos de obrigações de natureza heterogênea (por exemplo,
obrigação de fazer e obrigação de dar), impõe-se sua conversão em dinheiro, apurando-se valor adequado e
razoável para arbitramento da indenização pelo período de mora, vedada sua cumulação com lucros
cessantes. Feita essa redução, geralmente obtida por meio de arbitramento, é que, então, seria possível a
aplicação/utilização como parâmetro objetivo, para manutenção do equilíbrio da avença, em desfavor daquele
que redigiu a cláusula. (Informativo n. 651.)

2018

Ressalvada a denominada Faixa 1, em que não há intermediação imobiliária, é válida a


cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a
comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda do Programa
Minha Casa, Minha Vida, desde que previamente informado o preço total da aquisição da
unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem.

REsp 1.601.149-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda
Seção, por maioria, julgado em 13/06/2018, DJe 15/08/2018 (Tema 960)

TEMA Promessa de compra e venda de imóvel. Programa Minha Casa, Minha Vida. Comissão de corretagem.
Transferência de obrigação ao consumidor. Possibilidade. Dever de informação. Necessidade. Tema 960.

INFORMAÇÕES: O Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV, subdivide-se atuando em 4 (quatro)
diferentes faixas de renda familiar mensal: Faixa 1 - até R$ 1.800,00 (ou R$ 3.600,00, excepcionalmente); Faixa
1,5 - até R$ 2.600,00; Faixa 2 - até R$ 4.000,00; Faixa 3 - até R$ 9.000,00. Na Faixa 1 "não há comercialização
dos imóveis no mercado, inexistindo envolvimento de imobiliárias, corretores e construtoras/incorporadoras
na sua venda" não havendo, pois, nenhuma margem para a cobrança da comissão de corretagem. Já as outras
três faixas de renda do PMCMV (Faixa 1,5, Faixa 2 e Faixa 3) não diferem substancialmente das demais
modalidades de financiamento imobiliário existentes, a autorizar, em tese, não só a cobrança da comissão de
corretagem, mas a transferência desse encargo ao adquirente do imóvel, desde que previamente informado o
preço total da aquisição, com o valor da referida comissão devidamente destacado. Essa transferência se
harmoniza com os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence (art. 51, § 1º, I, do CDC) na
medida das distinções criadas pelo próprio programa, que leva em conta as diferentes condições
estabelecidas para cada faixa de renda familiar. No que diz respeito às consequências de se vetar o repasse do
custo da comissão de corretagem aos beneficiários do PMCMV, na impossibilidade de transferência da
obrigação de pagar a comissão de corretagem ao consumidor, esse custo seria sistematicamente embutido no
preço dos imóveis, em prejuízo dos beneficiários situados nas primeiras faixas de renda familiar, tendo em
vista a necessária observância dos tetos de aquisição previamente definidos nas regras do programa. Destaca-
se, ainda, que a multiplicidade de recursos que justificou a afetação do tema deriva de demandas ajuizadas
101

por beneficiários que, de uma forma ou de outra, conseguiram ter acesso ao PMCMV, arcaram com o
pagamento da comissão de corretagem e agora pedem o ressarcimento dessa despesa. Nesse contexto,
salienta-se que não há, nas normas do PMCMV, expressa vedação quanto à transferência do custo da
corretagem ao consumidor, de modo que a atuação do Poder Judiciário, a quem não compete legislar, ficaria
restrita, nesses casos, ao reconhecimento do dever de restituição aos que já tiveram acesso ao programa.
(Informativo n. 630.)

2016

É abusiva a cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-imobiliária


(SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de promessa de compra e venda de
imóvel

REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
24/8/2016, DJe 6/9/2016 (Informativo n. 589).

TEMA: Direito do consumidor. Abusividade de cobrança de sati ao consumidor pelo promitente-vendedor de


imóvel. Recurso repetitivo. Tema 938.

INFORMAÇÕES: O fornecedor tem o dever de prestar ao consumidor informações claras, adequadas e


precisas acerca de seus produtos e serviços. Além do pagamento da comissão de corretagem, têm sido
transferidos ao promitente-comprador os custos do serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI),
consistente na prestação de esclarecimentos técnicos e jurídicos acerca das cláusulas do contrato e das
condições do negócio. Na alienação de unidades autônomas em regime de incorporação imobiliária, essa
atividade de assessoria prestada ao consumidor por técnicos vinculados à incorporadora constitui mera
prestação de um serviço inerente à celebração do próprio contrato, inclusive no que tange ao dever de
informação, não constituindo um serviço autônomo oferecido ao adquirente, como ocorre com a corretagem.
Verifica-se, nesse caso, flagrante violação aos deveres de correção, lealdade 12 e transparência, impostos pela
boa-fé objetiva, tendo em vista a cobrança, a título de serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI), pelo
cumprimento de deveres inerentes ao próprio contrato celebrado. A abusividade dessa cláusula contratual
deflui do disposto no art. 51, IV, do CDC. Consideram-se, assim, nulas de pleno direito as cláusulas que
obrigam o consumidor a pagar o serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI) ou congênere, ex vi do art.
51, IV, in fine, do CDC. Ademais, essa assessoria é um serviço que envolve o elemento confiança (intuitu
personae). Assim, se o consumidor necessitar de alguma assessoria técnica ou jurídica para orientá-lo acerca
do contrato ou de outros detalhes relativos à aquisição do imóvel, pode contratar diretamente um profissional
ou advogado da sua confiança, e não alguém vinculado à incorporadora. O próprio Conselho Federal de
Corretores de Imóveis (COFECI), mediante a Resolução n. 1.256/2012, estatuiu a seguinte norma proibitiva:
“Art. 3º - É vedado aos inscritos no Regional cobrarem de seus clientes, para si ou para terceiros, qualquer
taxa a título de assessoria administrativa jurídica ou outra, assim como devem denunciar ao Regional a
cobrança de tais taxas quando feitas pelo incorporador, pelo construtor ou por seus prepostos.” Manifesta,
portanto, a abusividade de qualquer cláusula que estabeleça a cobrança desse serviço de assessoria técnico-
imobiliária (SATI) ou atividade congênere.
102

Tem legitimidade passiva “ad causam” a incorporadora, na condição de promitente


vendedora, para responder a demanda em que é pleiteada pelo promitente-comprador a
restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem e de taxa de assessoria
técnico-imobiliária, alegando-se prática abusiva na transferência desses encargos ao
consumidor.

REsp 1.551.968-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
24/8/2016, DJe 6/9/2016 (Informativo n. 589).

TEMA: Direito processual civil e do consumidor. Legitimidade passiva ad causam de incorporadora imobiliária
em demanda que objetiva restituição de comissão de corretagem e de sati. Recurso repetitivo. Tema 939.

INFORMAÇÕES: De início, levando em consideração, em tese, as alegações dos promitentes-compradores


(consumidores), observa-se, nesse tipo de demanda, afirmações como a de que o consumidor compareceu a
um estande de vendas com o objetivo de comprar um imóvel, mas acabou sendo obrigado a arcar com os
custos dos serviços de corretagem prestados por corretores escolhidos pela incorporadora. Analisando-se
esse tipo de alegação com base na teoria da asserção – prevalente na jurisprudência do STJ (REsp 818.603-RS,
Terceira Turma, DJe 3/9/2008; e REsp 1.395.875-PE, Segunda Turma, DJe 7/3/2014) –, cumpre indagar se, caso
sejam verdadeiras as afirmações do autor, a incorporadora poderia ser condenada a ressarcir os valores pagos
a título de corretagem? À primeira vista, pode parecer que caberia ao corretor figurar no polo passivo da
relação processual, pois foi quem recebeu os valores diretamente do consumidor. Contudo, do exame das
alegações dos consumidores, geralmente não se observa nenhuma insurgência quanto à existência de um
contrato de corretagem e à necessidade de se remunerar o corretor pelos serviços prestados. Nesses casos, a
questão em geral suscitada pelos consumidores se limita a estabelecer quem deve assumir o encargo da
restituição dessa remuneração. Sob a ótica dos consumidores, a corretagem foi contratada pela incorporadora
de modo que ela é quem deveria responder por 13 esse encargo. Por decorrência lógica, para que o encargo
recaia sobre a incorporadora, devese admitir o ajuizamento da demanda contra esta, ou seja, reconhecer a
legitimidade passiva ad causam. Observe-se que o raciocínio acima se limita à questão da legitimidade
passiva, pois a análise da efetiva obrigação de ressarcir os consumidores é questão de mérito, a ser enfrentada
em outra oportunidade. De outra parte, com relação aos custos do serviço de assessoria técnico-imobiliária
(SATI), os consumidores também alegam, geralmente, que se trata de serviço contratado pela incorporadora,
mas com encargo transferido para consumidores. As alegações deduzidas pelos consumidores com relação à
SATI são semelhantes às afirmações feitas a respeito da comissão de corretagem, devendo-se adotar,
portanto, a mesma solução, admitindo-se a legitimidade passiva da incorporadora.

É válida a cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar


a comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade
autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o
preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de
corretagem.

REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
24/8/2016, DJe 6/9/2016 (Informativo n. 589).
103

TEMA: Direito do consumidor. Validade do repasse da comissão de corretagem ao consumidor pela


incorporadora imobiliária. Recurso repetitivo. Tema 938.

INFORMAÇÕES: Registre-se que o principal ponto controvertido é a verificação da possibilidade de


transferência pelo vendedor (incorporadora) ao comprador (consumidor), mediante cláusula contratual, da
obrigação de pagar a comissão de corretagem. A questão é especialmente relevante, pois deve ser aferida a
validade dessa cláusula na perspectiva do Direito do Consumidor, uma vez que se trata, em regra, de relação
de consumo (art. 2º e 3º do CDC). Discute-se, em outras palavras, a possibilidade de assunção da dívida
relativa à comissão de corretagem pelo consumidor. A prática comercial tem evidenciado que as
incorporadoras têm efetivamente transferido, expressa ou implicitamente, esse custo para o consumidor. A
principal vantagem para as incorporadoras é a terceirização desse serviço a profissionais da área de
corretagem. Outra vantagem dessa transferência para as incorporadoras seria a redução da base de cálculo
dos tributos incidentes sobre a aquisição da unidade imobiliária. E a terceira vantagem seria a desnecessidade
de restituição do valor da corretagem, em caso de desfazimento da promessa de compra e venda, uma vez
que o pagamento passa a ser feito diretamente ao corretor. Afasta-se, desde logo, a alegação de venda
casada, pois ocorre apenas a terceirização dessa atividade de comercialização de unidades imobiliárias para
profissionais do setor, concentrando-se a incorporadora na sua atividade de construção de imóveis. Essas
vantagens obtidas pelas incorporadoras, independentemente da verificação da sua licitude do ponto de vista
fiscal, não causam prejuízo econômico para os consumidores, pois o custo da corretagem, mesmo nos
contratos entre particulares, é normalmente suportado pelo comprador, seja embutido no preço, seja
destacado deste. Observe-se que o Direito do Consumidor, apesar de seu marcado caráter protetivo, não
chega ao ponto de subverter a natureza onerosa das relações negociais no mercado de consumo, exigindo
apenas transparência no seu conteúdo. Desse modo, sob a ótica do repasse de custos e despesas, chega-se
diretamente à conclusão no sentido da inexistência de prejuízo aos consumidores com a assunção de dívida,
pois, não fosse desse modo, o custo seria embutido no preço total da compra e venda. Pode-se concluir,
portanto, que, em princípio, é válida a cláusula que transfere para o consumidor a obrigação de pagar a
comissão de corretagem, exigindo-se apenas transparência nessa atribuição. Além disso, no âmbito das
relações de consumo, a informação adequada sobre os produtos e serviços não é apenas um direito do
consumidor, mas um dever imposto ao fornecedor, conforme se pode extrair, dentre outros, dos arts. 31, 46 e
52 do CDC. O dever de informação constitui um dos princípios consectários lógicos do princípio da boa-fé
objetiva, positivado tanto no CC (art. 422), como no CDC (art. 4º, III), consubstanciando os deveres de
probidade, lealdade e cooperação, que deve pautar não apenas as relações de consumo, mas todas as
relações negociais. Esse dever de informação é de tal modo acentuado que, segundo doutrina, a relação 15 de
consumo estaria regida pela regra caveat praebitor (acautele-se fornecedor), que impõe ao fornecedor uma
obrigação de diligência na atividade de esclarecer o consumidor, sob pena de desfazimento do negócio
jurídico ou de responsabilização objetiva por eventual dano causado, ao passo que, num sistema jurídico
liberal, aplica-se a regra inversa, caveat emptor (acautelese comprador), incumbindo ao comprador o ônus de
buscar as informações necessárias sobre o negócio jurídico que pretende celebrar. O dever de informação
referente ao preço na venda a crédito encontra-se regulamentado tanto pelo art. 52 do CDC como pelo art. 3°
Decreto n. 5.903/2006, exigindo do fornecedor clareza acerca do preço total dos produtos e serviços,
discriminando-se as principais parcelas que o integram. Registre-se que o preço total, como o próprio nome
indica, representa o quanto o consumidor terá que pagar para adquirir o produto ou contratar serviço, sem
nenhum acréscimo pecuniário. Para cumprir essa obrigação de informação, deve a incorporadora informar ao
consumidor, até o momento de celebração do contrato de promessa de compra e venda, o preço total de
aquisição da unidade imobiliária, especificando o valor da comissão de corretagem, ainda que essa venha a
ser paga destacadamente. Efetivamente, nos termos do disposto no art. 30 do CDC, toda informação ou
publicidade suficientemente precisa vincula o fornecedor. Desse modo, uma vez ofertada à venda uma
104

unidade autônoma, o fornecedor fica vinculado à proposta, que deve ser devidamente respeitada, inclusive
integrando o contrato posteriormente celebrado. Na hipótese de recusa no cumprimento da proposta, o CDC
assegura a possibilidade de se exigir o cumprimento forçado dela, dentre outras alternativas.

A inscrição indevida comandada pelo credor em cadastro de proteção ao crédito, quando


preexistente legítima inscrição, não enseja indenização por dano moral, ressalvado o direito
ao cancelamento.

REsp 1.386.424-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti,
Segunda Seção, julgado em 27/4/2016, DJe 16/5/2016 (Informativo n. 583).

TEMA: Direito do consumidor. Hipótese em que a inscrição indevida em cadastro de inadimplentes não enseja
indenização por dano moral. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc/1973 e res. Stj n. 8/2008). Tema 922.

INFORMAÇÕES: A Súmula n. 385 do STJ prevê que “Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito,
não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao
cancelamento”. O fundamento dos precedentes da referida súmula – "quem já é registrado como mau
pagador não pode se sentir moralmente ofendido por mais uma inscrição do nome como inadimplente em
cadastros de proteção ao crédito" (REsp 1.002.985-RS, Segunda Seção, DJe 27/8/2008) –, embora extraídos de
ações voltadas contra cadastros restritivos, aplica-se também às ações dirigidas contra supostos credores que
efetivaram inscrições irregulares. Ressalte-se, todavia, que isso não quer dizer que o credor não possa
responder por algum outro tipo de excesso. A anotação irregular, já havendo outras inscrições legítimas
contemporâneas, não enseja, por si só, dano moral. Mas o dano moral pode ter por causa de pedir outras
atitudes do suposto credor, independentemente da coexistência de anotações regulares, como a insistência
em uma cobrança eventualmente vexatória e indevida, ou o desleixo de cancelar, assim que ciente do erro, a
anotação indevida. Portanto, na linha do entendimento consagrado na Súmula n. 385, o mero equívoco em
uma das diversas inscrições não gera dano moral indenizável, mas apenas o dever de suprimir a inscrição
indevida.

2015

Diante da presunção legal de veracidade e publicidade inerente aos registros de cartório


de protesto, a reprodução objetiva, fiel, atualizada e clara desses dados na base de órgão
de proteção ao crédito – ainda que sem a ciência do consumidor – não tem o condão de
ensejar obrigação de reparação de danos.

REsp 1.444.469- DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 12/11/2014, DJe 16/12/2014
(Informativo 554).

TESE: Direito do consumidor. Reprodução de registro oriundo de cartório de prosteto em banco de dados de
órgão de proteção ao crédito. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj).

INFORMAÇÕES: Nos termos da CF, o direito de acesso à informação encontra-se consagrado no art. 5º,
XXXIII, que preceitua que todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
105

particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
Além disso, o art. 37, caput, da CF estabelece ser a publicidade princípio que informa a administração pública,
e o cartório de protesto exerce serviço público. Nesse passo, observa-se que o art. 43, § 4°, do CDC disciplina
as atividades dos cadastros de inadimplentes, estabelecendo que os bancos de dados e cadastros relativos a
consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter
público. Nessa linha de intelecção, consagrando o princípio da publicidade imanente, o art. 1º, c/c art. 5º, III,
ambos da Lei 8.935/1994 (Lei dos Cartórios), estabelecem que os serviços de protesto são destinados a
assegurar a publicidade, autenticidade e eficácia dos atos jurídicos. Ademais, por um lado, a teor do art. 1º,
caput, da Lei 9.492/1997 (Lei do Protesto) e das demais disposições legais, o protesto é o ato formal e solene
pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação (ou a recusa do aceite) originada em
títulos e outros documentos de dívida. Por outro lado, o art. 2º do mesmo diploma esclarece que os serviços
concernentes ao protesto são garantidores da autenticidade, publicidade, segurança e eficácia dos atos
jurídicos. Com efeito, o registro do protesto de título de crédito ou outro documento de dívida é de domínio
público, gerando presunção de veracidade do ato jurídico, dado que deriva do poder certificante que é
conferido ao oficial registrador e ao tabelião. A par disso, registre-se que não constitui ato ilícito o praticado
no exercício regular de um direito reconhecido, nos termos do art. 188, I, do CC. Dessa forma, como os órgãos
de sistema de proteção ao crédito exercem atividade lícita e relevante ao divulgar informação que goza de fé
pública e domínio público, não há falar em dever de reparar danos, tampouco em obrigatoriedade de prévia
notificação ao consumidor (art. 43, § 2º, do CDC), sob pena de violação ao princípio da publicidade e
mitigação da eficácia do art. 1º da Lei 8.935/1994, que estabelece que os cartórios extrajudiciais se destinam a
conferir publicidade aos atos jurídicos praticados por seus serviços. Ademais, é bem de ver que as
informações prestadas pelo cartório de protesto não incluem o endereço do devedor, de modo que a
exigência de notificação resultaria em inviabilização da divulgação dessas anotações. Igualmente, significaria
negar vigência ou, no mínimo, esvair a eficácia do disposto no art. 29, caput, da Lei 9.492/1997 que, a toda
evidência, deixa nítida a vontade do legislador de que os órgãos de sistema de 19 proteção ao crédito tenham
acesso aos registros atualizados dos protestos tirados e cancelados. Outrossim, é bem de ver que os cadastros
e dados de consumidores devem ser objetivos, claros e verdadeiros (art. 43, § 1º, do CDC). Assim, caso fosse
suprimida a informação sobre a existência do protesto – ainda que com posterior pagamento ou
cancelamento –, os bancos de dados deixariam de ser objetivos e verdadeiros.

Diante da presunção legal de veracidade e publicidade inerente aos registros do cartório


de distribuição judicial, a reprodução objetiva, fiel, atualizada e clara desses dados na base
de órgão de proteção ao crédito – ainda que sem a ciência do consumidor – não tem o
condão de ensejar obrigação de reparação de danos.

REsp 1.344.352-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 12/11/2014, DJe 16/12/2014
(Informativo 554).

TEMA: Direito do consumidor. Reprodução de registro oriundo de cartório de distribuição em banco de


dados de órgão de proteção ao crédito. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj).

INFORMAÇÕES: Nos termos da CF, o direito de acesso à informação encontra-se consagrado no art. 5º,
XXXIII, que preceitua que todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
106

responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
Além disso, o art. 37, caput, da Carta Magna estabelece ser a publicidade princípio que informa a
administração pública. Nesse passo, observase que o art. 43, § 4°, do CDC disciplina as atividades dos
cadastros de inadimplentes, estabelecendo que os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os
serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter público. De modo
semelhante, o cartório de distribuição judicial exerce serviço público. Nessa linha de intelecção, consagrando
o princípio da publicidade imanente, o art. 1º, c/c o art. 5º, VII, ambos da Lei 8.935/1994 (Lei dos Cartórios),
estabelecem que os serviços de registros de distribuição são destinados a assegurar a publicidade,
autenticidade e eficácia dos atos jurídicos. Nesse sentido, “uma das formas pelas quais os órgãos de proteção
ao crédito (SPC/Serasa) obtêm dados para alimentar os seus cadastros é mediante informações constantes
nos cartórios de distribuição de processos judiciais, o que conseguem por meio de convênios firmados com o
Poder Judiciário de cada Estado da Federação. Nos termos do art. 5º, incs. XXXIII e LX, da CF, e do art. 155 do
CPC, os dados sobre processos, existentes nos cartórios distribuidores forenses, são informações públicas
(salvo, é claro, os dados dos processos que correm sob segredo de justiça), eis que publicadas na Imprensa
Oficial, e, portanto, de acesso a qualquer interessado, mediante pedido de certidão, conforme autoriza o
parágrafo único do art. 155, do CPC. Portanto, se os órgãos de proteção ao crédito reproduzem fielmente o
que consta no cartório de distribuição a respeito de determinado processo de execução, não se lhes pode
tolher que forneçam tais dados públicos aos seus associados, sob pena de grave afronta ao Estado
Democrático de Direito, que prima, como regra, pela publicidade dos atos processuais [...] Com efeito, a
existência de processo de execução constitui, além de dado público, fato verdadeiro, que não pode ser
omitido dos cadastros mantidos pelos órgãos de proteção ao crédito; porquanto tal supressão equivaleria à
eliminação da notícia da distribuição da execução, no distribuidor forense, algo que não pode ser admitido.
Aliás, o próprio CDC prevê expressamente que os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos,
claros e verdadeiros (art. 43, § 1º). Assim, se se suprimisse a informação sobre a existência do processo de
execução, os bancos de dados deixariam de ser objetivos e 20 verdadeiros.” (REsp 866.198-SP, Terceira Turma,
DJ 5/2/2007). A par disso, registre-se que não constitui ato ilícito aquele praticado no exercício regular de um
direito reconhecido, nos termos do art. 188, I, do CC. Dessa forma, como os órgãos de sistema de proteção ao
crédito exercem atividade lícita e relevante ao divulgar informação que goza de fé pública e domínio público
(como as constantes de cartórios de distribuição judicial), não há falar em dever de reparar danos, tampouco
em obrigatoriedade de prévia notificação ao consumidor (art. 43, § 2º, do CDC), sob pena de violação ao
princípio da publicidade e mitigação da eficácia do art. 1º da Lei 8.935/1994, que estabelece que os cartórios
extrajudiciais se destinam a conferir publicidade aos atos jurídicos praticados por seus serviços. Ademais, é
bem de ver que as informações prestadas pelo cartório de distribuição não incluem o endereço do devedor,
de modo que a exigência de notificação resultaria em inviabilização da divulgação dessas anotações. Portanto,
diante da presunção legal de veracidade e publicidade inerente aos registros dos cartórios de distribuição
judicial, não há cogitar em ilicitude ou eventual abuso de direito por parte do órgão do sistema de proteção
ao crédito que se limitou a reproduzir informações fidedignas constantes dos registros dos cartórios de
distribuição.
107

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2022

2021

A Justiça da Infância e da Juventude tem COMPETÊNCIA ABSOLUTA para processar e


julgar causas envolvendo matrícula de menores em creches ou escolas, nos termos dos
arts. 148, IV, e 209 da Lei n. 8.069/1990 .

REsp 1.846.781/MS, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
10/02/2021 (Tema 1058)

TEMA: Matrícula de menores em creches ou escolas. Conflito de competência. Direito à educação.


Competência absoluta da Justiça da Infância e da Juventude. Arts. 148, IV, e 209 da Lei n. 8.069/1990. Tema
1058.

INFORMAÇÕES: Com lastro na CF/1988, a Lei n. 8.069/1990 assegura expressamente, à criança e ao


adolescente, o direito à educação como direito público subjetivo, mediante "acesso à escola pública e
gratuita, próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica" (art. 53, V), bem como "atendimento
em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade" (art. 54, IV). O art. 148 da Lei n.
8.069/1990 estabelece que "a Justiça da Infância e da Juventude é competente para: (...) IV - conhecer
de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao
adolescente, observado o disposto no art. 209". A Lei n. 8.069/1990 estabelece, no seu Capítulo VII,
disposições relativas "às ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao
adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular" (...) "do ensino obrigatório" e "de
atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade" (art. 208, I e III), estatuindo
que "as ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação
ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar e julgar a causa, ressalvadas a competência
da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores" (art. 209). Assim, na forma da
jurisprudência do STJ, as "ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à
criança e ao adolescente", previstas no art. 148, IV, da Lei n. 8.069/1990, são da competência absoluta
da Justiça da Infância e da Juventude, ressalvadas apenas "a competência da Justiça Federal e a
competência originária dos tribunais superiores", na forma do art. 209 da referida Lei n. 8.069/1990,
independentemente de a criança ou o adolescente encontrar-se ou não em situação de risco, na forma
prevista no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente.Com efeito, a jurisprudência do STJ,
interpretando os arts. 148, IV, e 209 da Lei n. 8.069/1990, firmou entendimento, ao apreciar casos relativos ao
direito à saúde e à educação de crianças e adolescentes, pela competência absoluta do Juízo da Infância e da
Juventude para processar e julgar demandas que visem proteger direitos individuais, difusos ou coletivos
108

afetos à criança e ao adolescente, independentemente de o menor encontrar-se ou não em situação de risco


ou abandono, porquanto "os arts. 148 e 209 do ECA não excepcionam a competência da Justiça da Infância e
do Adolescente, ressalvadas aquelas estabelecidas constitucionalmente, quais sejam, da Justiça Federal e de
competência originária" (STJ, REsp 1.199.587/SE, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe de
12/11/2010). A Primeira Turma do STJ, em situação análoga, na qual se postulava judicialmente o
fornecimento de fraldas e alimento a menor, afastou a competência da Vara da Fazenda Pública e concluiu
que "esta Corte já consolidou o entendimento de que a competência da vara da infância e juventude para
apreciar pedidos referentes ao menor de idade é absoluta, consoante art. 148, inciso IV, do Estatuto da
Criança e do Adolescente". Examinando caso idêntico, a Segunda Turma do STJ firmou o seguinte
entendimento: "O Estatuto da Criança e do Adolescente é lex specialis, prevalece sobre a regra geral de
competência das Varas de Fazenda Pública, quando o feito envolver Ação Civil Pública em favor da
criança ou do adolescente, na qual se pleiteia acesso às ações ou aos serviços públicos,
independentemente de o infante estar em situação de abandono ou risco, em razão do relevante
interesse social e pela importância do bem jurídico tutelado. Na forma da jurisprudência do STJ, 'a
competência da vara da infância e juventude para apreciar pedidos referentes ao menor de idade é
absoluta, consoante art. 148, inciso IV, do Estatuto da Criança e do Adolescente' (STJ, AgRg no REsp
1.464.637/ES, Rel.Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe de 28.3.2016). Em conclusão, a interpretação dos
arts. 148, IV, e 209 da Lei n. 8.069/1990 impõe o reconhecimento da competência absoluta da Vara da
Infância e da Juventude, em detrimento da Vara da Fazenda Pública, para processar e julgar causas
envolvendo matrícula de crianças e adolescentes em creches ou escolas, independentemente de os
menores se encontrarem em situação de risco ou abandono, tal como previsto no art. 98 da referida Lei
n. 8.069/1990. (Informativo n. 685)

2018

A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na


aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida,
enquanto não atingida a idade de 21 anos.

REsp 1.705.149-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 13/06/2018,
DJe 13/08/2018 (Tema 992)

TEMA Estatuto da criança e do adolescente. Medida socioeducativa. Maioridade civil. Aquisição posterior a
fato equiparado a delito penal. Irrelevância para a continuidade do cumprimento da medida até 21 anos.
Tema 992.

INFORMAÇÕES: De início, note-se que a partir do momento em que foi sancionado o Estatuto da Criança e
do Adolescente, observou-se um período intermediário, compreendido entre os 18 e os 21 anos, no qual se
poderia ter um indivíduo considerado relativamente incapaz para a prática dos atos da vida civil, porém, sob o
aspecto criminal, seria capaz. Daí exsurge a premissa de o legislador ter previsto no parágrafo único do art. 2º
da Lei n. 8.069/1990, que, nos casos expressos em lei, aplicar-se-iam as normas previstas no ECA, também, às
pessoas entre 18 e 21 anos. Ainda que inexistente norma expressa no sentido da extinção da medida
socioeducativa pelo implemento da maioridade civil, é inegável que a inserção desta excepcionalidade de
aplicação do ECA para além dos 18 anos - e da qual nos valemos para impor a execução das medidas de
109

semiliberdade e internação até os 21 anos, se o caso - deu-se ante a iminente necessidade de, à época, se
ampliar a proteção integral prevista na Lei n. 8.069/1990, para até o atingimento da maioridade civil, mesmo
que, nessa faixa etária, o agente não pudesse mais ser considerado criança e nem sequer adolescente. Sobre o
tema, este Superior Tribunal considera que, nos termos da interpretação do art. 121, § 5º, da Lei n. 8.069/1990,
para sujeitar o adolescente às medidas socioeducativas, [...] deve ser considerada a inimputabilidade penal à
data do fato. Diante disso, esta Corte assentou o entendimento segundo o qual a superveniência de
maioridade relativa (período entre 18 e 21 anos) não tem o condão de extinguir a medida socioeducativa, a
qual ocorrerá apenas com a liberação compulsória do menor, aos 21 anos de idade [...] (HC n. 352.662/RJ,
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 24/2/2017). Nesses termos é que foi editada, pela
Terceira Seção deste Superior Tribunal, a Súmula 605/STJ: A superveniência da maioridade penal não interfere
na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na
liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos. (Informativo n. 630.)

O menor sob guarda tem direito à concessão do benefício de pensão por morte do seu
mantenedor, comprovada sua dependência econômica, nos termos do art. 33, § 3º do
Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda que o óbito do instituidor da pensão seja
posterior à vigência da Medida Provisória 1.523/96, reeditada e convertida na Lei n.
9.528/97. Funda-se essa conclusão na qualidade de lei especial do Estatuto da Criança e do
Adolescente (8.069/90), frente à legislação previdenciária.

REsp 1.411.258-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
11/10/2017, DJe 21/02/2018. (Tema 732).

TEMA Menor sob guarda judicial. Dependente econômico. Óbito do instituidor da pensão em data posterior à
vigência da MP 1.523/1996, reeditada e convertida na Lei n. 9.528/1997. Manutenção do benefício
previdenciário. Proibição de retrocesso. Diretrizes constitucionais de isonomia, prioridade absoluta e proteção
integral à criança e ao adolescente.

INFORMAÇÕES: A questão jurídica objeto de afetação ao rito dos recursos repetitivos consiste em definir
sobre a possibilidade (ou não) do pagamento de pensão por morte ao menor sob guarda, quando o óbito do
segurado tenha ocorrido após a vigência da MP 1.523/1996, que alterou o art. 16, § 2º da Lei de Benefícios da
Previdência Social (Lei n. 8.213/1991). A redação original do mencionado dispositivo previa que o menor sob
guarda judicial se equiparava a filho do segurado e, portanto, detinha a condição de dependente natural ou
automático dele (do segurado), como beneficiário do RGPS. Ocorre que a MP 1.523/1996, convertida na Lei n.
9.528/1997, alterou o citado dispositivo e retirou do menor sob guarda a condição de dependente
previdenciário. Entretanto, a jurisprudência mais recente desta Corte Superior reconhece ao menor sob guarda
a condição de dependente para fins previdenciários, condição que resulta de situação essencialmente fática,
cabendo-lhe o direito à pensão previdenciária sempre que o mantenedor (segurado do INSS) faleça, a fim de
não se deixar o hipossuficiente ao desabrigo de qualquer proteção, máxime quando se achava sob guarda,
forma de tutela que merece estímulos, incentivos e subsídios do Poder Público, conforme compromisso
constitucional assegurado pelo art. 227, § 3º, VI da Carta Magna, além de atentar contra a proteção da
confiança com aquele já devidamente cadastrado como dependente do segurado, mediante a prática de ato
jurídico administrativo perfeito, pelos agentes do INSS. Assim, a alteração do art. 16, § 2º, da Lei n. 8.213/1991,
pela Lei n. 9.528/1997, não elimina o substrato fático da dependência econômica do menor e representa, do
ponto de vista ideológico, um retrocesso normativo nas diretrizes constitucionais de isonomia e proteção à
110

criança e ao adolescente. Da leitura do art. 227 da CF, constata-se que foi imposto não só à família, mas
também à sociedade e ao Estado o dever de, solidariamente, assegurar à criança e ao adolescente os direitos
fundamentais com absoluta prioridade. Além disso, foi imposto ao legislador ordinário a obrigação de garantir
ao menor os direitos previdenciários e trabalhistas, bem como o estímulo do Poder Público ao acolhimento,
sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado. Outra reflexão instigante diz respeito
ao fato de alteração normativa veicular entendimento adverso, claramente maculador do princípio que deve
permear as leis reconhecedoras de direitos sociais, como os previdenciários, ou seja, o da proibição de
retrocesso; assim, se já definida uma orientação legal mais favorável à proteção dos hipossuficientes, não se
afigura aceitável, do ponto de vista jurídico e sistêmico que, a partir da adoção de lei restritiva ocasional, dê-
se a inversão da orientação até então vigorante. Finalmente, registre-se que a Lei n. 8.069/1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente) que, convém ressaltar, é norma específica e em perfeita harmonia com o
mandamento constitucional, dispõe em seu art. 33, § 3º que "a guarda confere à criança ou adolescente a
condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciário". Nessa linha de
raciocínio, impõe-se concluir que, se fosse a intenção do legislador infraconstitucional excluir o menor sob
guarda da pensão por morte, teria alterado também a Lei n. 8.069/1990 o que, como visto, não ocorreu.
(Informativo n. 619.)
111

DIREITO PENAL

2022

É vedada a utilização de inquéritos e/ou ações penais em curso para impedir a aplicação do
art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006.

REsp 1.977.027-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 10/08/2022 (Tema
1139).

Informações:

A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas)
constitui direito subjetivo do acusado, caso presentes os requisitos legais, não sendo possível obstar sua
aplicação com base em considerações subjetivas do juiz. É vedado ao magistrado instituir outros requisitos
além daqueles expressamente previstos em lei para a sua incidência, bem como deixar de aplicá-la se
presentes os requisitos legais.

É uníssono nesta Corte Superior que inquéritos e ações penais em curso podem ser utilizados para avaliar, em
caráter preliminar e precário, a periculosidade do agente para fins de fundamentar eventual prisão cautelar.
Isso se justifica porque esta medida acauteladora não exige que se afirme inequivocamente que o Réu
provisoriamente segregado é o autor do delito ou que sua liberdade indubitavelmente oferece riscos,
bastando que haja, nos termos do art. 312, caput, do Código de Processo Penal, "indício suficiente de autoria
e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado".

Diversamente das decisões cautelares, que se satisfazem com a afirmação de simples indícios, os comandos
legais referentes à aplicação da pena exigem a afirmação peremptória de fatos, e não a mera expectativa ou
suspeita de sua existência. Por isso, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem rechaçado o emprego
de inquéritos e ações penais em curso na formulação da dosimetria da pena, tendo em vista a indefinição que
os caracteriza.

Isso porque, por expressa previsão inserta no art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, a afirmação
peremptória de que um fato criminoso ocorreu e é imputável a determinado autor, para fins técnico-penais,
somente é possível quando houver o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

Este raciocínio conduziu o Superior Tribunal de Justiça à edição da Súmula n. 444, segundo a qual, in verbis: "É
vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base ." De fato, a
mesma ratio decidendi que orientou a edição do entendimento sumular no sentido de que inquéritos e ações
penais em curso não podem ser empregados, na primeira fase da dosimetria, para agravar a pena-base,
justifica a impossibilidade de que esses mesmos parâmetros sejam empregados em outras etapas da
dosimetria, como na avaliação de causas de diminuição de pena.

Todos os requisitos da minorante do art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 demandam uma afirmação
peremptória acerca de fatos, não se prestando a existência de inquéritos e ações penais em curso a subsidiar
validamente a análise de nenhum deles.
112

Para análise do requisito da primariedade, é necessário examinar a existência de prévia condenação penal com
trânsito em julgado anterior ao fato, conforme a dicção do art. 63 do Código Penal. Já a análise do requisito
dos bons antecedentes, embora também exija condenação penal com trânsito em julgado, abrange a situação
dos indivíduos tecnicamente primários. Quanto à dedicação a atividades criminosas ou o pertencimento a
organização criminosa, a existência de inquéritos e ações penais em curso indica apenas que há investigação
ou acusação pendente de análise definitiva e cujo resultado é incerto, não sendo possível presumir que essa
suspeita ou acusação ainda em discussão irá se confirmar, motivo pelo qual não pode obstar a aplicação da
minorante.

Não se pode ignorar que a utilização ilegítima de inquéritos e processos sem resultado definitivo resulta em
provimento de difícil reversão. No caso de posterior arquivamento, absolvição, deferimento de institutos
despenalizadores, anulação, no âmbito dos referidos feitos, a defesa teria que percorrer as instâncias do
Judiciário ajuizando meios de impugnação autônomos para buscar a incidência do redutor, uma correção com
sensível impacto na pena final e cujo tempo necessário à sua efetivação causaria prejuízos sobretudo àqueles
mais vulneráveis.

A interpretação ora conferida ao art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não confunde os conceitos de
antecedentes, reincidência e dedicação a atividades criminosas. Ao contrário das duas primeiras, que exigem a
existência de condenação penal definitiva, a última pode ser comprovada pelo Estado-acusador por qualquer
elemento de prova idôneo, tais como escutas telefônicas, relatórios de monitoramento de atividades
criminosas, documentos que comprovem contatos delitivos duradouros ou qualquer outra prova
demonstrativa da dedicação habitual ao crime. O que não se pode é inferir a dedicação ao crime a partir de
simples registros de inquéritos e ações penais cujo deslinde é incerto.

Não há falar em ofensa aos princípios da individualização da pena ou da igualdade material, pois o texto
constitucional, ao ordenar que ninguém pode ser considerado culpado antes do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória, vedou que a existência de acusação pendente de análise definitiva fosse
utilizada como critério de diferenciação para fins pedagógicos.

O acórdão condenatório de que trata o inciso IV do art. 117 do Código Penal interrompe a
prescrição, INCLUSIVE quando confirmatório de sentença condenatória, seja mantendo,
reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta.

REsp 1.930.130-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
10/08/2022 (Tema 1100).

Obs: ler o acórdão!

INFORMAÇÕES: A controvérsia suscitada no presente recurso especial repetitivo diz respeito à interpretação
do disposto no inciso IV do art. 117 do Código Penal, introduzido pela Lei n. 11.596/2007, mais precisamente
para se definir se o acórdão que confirma sentença condenatória, mantendo, reduzindo ou aumentando a
pena anteriormente imposta, também constitui marco interruptivo da pretensão punitiva.

No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, inicialmente, vigia o posicionamento de que o acórdão


confirmatório da condenação não era novo marco interruptivo prescricional. Entendia-se que a decisão
confirmatória da condenação não opera a interrupção do prazo de prescrição, de modo que o efeito
interruptivo somente ocorre quando o acórdão condena o apelado absolvido em primeiro grau. Pontuava-se
113

que o Código Penal expressamente dispõe, no art. 117, II e III, que a prescrição se interrompe pela pronúncia e
pela decisão confirmatória da pronúncia. Assim, da técnica legislativa adotada extrai-se que o legislador não
contemplou o acórdão confirmatório como novo marco interruptivo da prescrição, pois absteve-se da mesma
técnica quando da previsão do inciso IV do art. 117 do CP. Deduzia-se que a existência de decisões do STF
desprovidas de efeito vinculante e divergentes do entendimento do STJ com relação à mesma matéria não
impedia esta Corte de continuar exercendo sua função constitucional e aplicando o entendimento que
considerasse mais adequado à legislação infraconstitucional.

Contudo, com o passar do tempo, passou a viger no STJ, em consonância com a orientação do STF, o
entendimento de que, após a publicação da sentença condenatória, há outro marco interruptivo, a saber, o
acórdão confirmatório da condenação, que, nos termos da orientação firmada no Plenário do Supremo
Tribunal Federal no julgamento do HC 176.473/RR, configura marco interruptivo da prescrição, ainda que não
modifique o título condenatório (meramente confirmatório da condenação).

Destaca-se que não se vê impropriedade, sob o prisma da interpretação gramatical, na conclusão de que as
disposições normativas do art. 117, IV, do CP objetivam que o acórdão condenatório proferido na primeira
instância recursal em apelação interposta contra a sentença condenatória seja causa interruptiva da
prescrição.

Segundo interpretação de lei pelo método histórico, é idôneo o entendimento de que a alteração promovida
no art. 117, IV, do CP pela Lei n. 11.596/2007 visou adicionar nova causa de interrupção da prescrição
superveniente, a saber, a publicação do acórdão condenatório em primeira instância recursal, e, desse modo,
evitar que recursos meramente protelatórios alcançassem o lapso prescricional.

A alta carga de substitutividade, translatividade e devolutividade inerente ao recurso de apelação propicia que
o acórdão condenatório resultante de seu julgamento, ainda que confirmatório de sentença condenatória,
seja hábil para sucedê-la, de modo que, sob o aspecto sistemático-processual, não se percebe
incompatibilidade sistêmica que impossibilite que ele constitua marco interruptivo prescricional, nem mesmo
sob o aspecto de postulados inerentes ao Direito Penal relacionados à obrigatoriedade de clareza e precisão
de uma norma penal.

Em notório cenário em que o sistema recursal propicia elevada recorribilidade com fins procrastinatórios, de
modo a ensejar a não punibilidade do acusado, é legítimo, segundo interpretação finalística, instituir como
marco prescricional a data de publicação de acórdão condenatório resultante da interposição de apelação
contra sentença condenatória, visto que impede o fomento da impunibilidade e, por conseguinte, o
descrédito do Poder Judiciário.

É possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a compensação integral da atenuante


da confissão espontânea com a agravante da reincidência, seja ela específica ou não.
Todavia, nos casos de multirreincidência, deve ser reconhecida a preponderância da
agravante prevista no art. 61, I, do Código Penal, sendo admissível a sua compensação
proporcional com a atenuante da confissão espontânea, em estrito atendimento aos
princípios da individualização da pena e da proporcionalidade.

REsp 1.931.145-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 22/06/2022,
DJe 24/06/2022. (Tema 585) Info 742
114

INFORMAÇÕES: A questão suscitada já foi objeto de inúmeros julgados desta Corte e cinge-se a delimitar os
efeitos da compensação da atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência, irradiando
seus efeitos para ambas as espécies (genérica ou específica), sendo imprescindível, ainda, adequar-se a
redação do Tema n. 585/STJ à hipótese de multirreincidência.

Em 2012, diante da divergência entre as Turmas de Direito Penal, a Terceira Seção desta Corte, no julgamento
do EREsp n. 1.154.752/RS, pacificou o entendimento, no sentido de ser possível, na segunda fase do cálculo da
pena, a compensação da agravante da reincidência com a atenuante da confissão espontânea, por serem
igualmente preponderantes, de acordo com o art. 67 do Código Penal.

Na oportunidade, definiu-se que a incidência da atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal,
independe se a confissão foi integral ou parcial, especialmente quando utilizada para fundamentar a
condenação. Isso porque a confissão, por indicar arrependimento, demonstra uma personalidade mais
ajustada, a ponto de a pessoa reconhecer o erro e assumir suas consequências. Então, por demonstrar traço
da personalidade do agente, o peso entre a confissão e a reincidência deve ser o mesmo, nos termos do art.
67 do Código Penal, pois são igualmente preponderantes.

Em seguida, a Terceira Seção, em 10/4/2013, sob a sistemática dos recursos especiais repetitivos, firmou, no
julgamento do REsp. n. 1.341.370/MT, DJe de 17/4/2013, o entendimento de que, observadas as
especificidades do caso concreto, deve-se compensar a atenuante da confissão espontânea com a agravante
da reincidência na segunda fase da dosimetria da pena (Tema n. 585/STJ).

No julgamento do Habeas Corpus n. 365.963/SP, definiu-se que a especificidade da reincidência não


obstaculiza sua compensação com a atenuante da confissão espontânea. Em outras palavras, a reincidência,
ainda que específica, deve ser compensada integralmente com a atenuante da confissão, demonstrando,
assim, que não deve ser ofertado maior desvalor à conduta do réu que ostente outra condenação pelo
mesmo delito.

Destacou-se ainda que, tratando-se de réu multirreincidente, deve ser reconhecida a preponderância da
agravante prevista no art. 61, I, do Código Penal, sendo admissível a sua compensação proporcional
com a atenuante da confissão espontânea, em estrito atendimento aos princípios da individualização da pena
e da proporcionalidade.

Na verdade, a condição de multirreincidência exige maior reprovação do que a conduta de um acusado que
tenha a condição de reincidente em razão de um evento único e isolado em sua vida.

Se a simples reincidência é, por lei, reprovada com maior intensidade, porque demonstra um presumível
desprezo às solenes advertências da lei e da pena, reveladora de especial tendência antissocial, por questão
de lógica e de proporcionalidade, e em atendimento ao princípio da individualização da pena, há a
necessidade de se conferir um maior agravamento na situação penal do réu nos casos de
multirreincidência, em função da frequência da atividade criminosa, a qual evidencia uma maior
reprovabilidade da conduta, devendo, assim, prevalecer sobre a confissão.

Assim, a recidiva prepondera nas hipóteses em que o acusado possui várias condenações por crimes
anteriores, transitadas em julgado, reclamando repressão estatal mais robusta.
115

Presente o dolo específico de satisfazer à lascívia, própria ou de terceiro, a prática de ato


libidinoso com menor de 14 anos configura o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do
CP), independentemente da ligeireza ou da superficialidade da conduta, não sendo possível
a desclassificação para o delito de importunação sexual (art. 215-A do CP).

REsp 1.959.697-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 08/06/2022. (Tema
1121) – Info 740

Informações: O abuso sexual contra o público infantojuvenil é uma realidade que insiste em perdurar ao longo
do tempo. A grande dificuldade desse problema, porém, é dimensioná-lo, pois uma parte considerável dos
delitos, conforme a doutrina, "ocorrem no interior dos lares, que permanecem recobertos pelo silêncio das
vítimas". Há uma elevada taxa de cifra negra nas estatísticas. Além do natural medo de contar para os pais
(quando estes não são os próprios agressores), não raro essas vítimas sequer, como alerta a doutrina,
"possuem a compreensão adequada da anormalidade da situação vivenciada".

Nessa senda, revela-se importante observar que nem sempre se entendeu a criança e o adolescente como
sujeito histórico e de direitos. Em verdade, a proteção às crianças e aos adolescentes é fenômeno histórico
recente.

Nesse passo, a doutrina lembra que "vivemos um momento sem igual no plano do direito infantojuvenil.
Crianças e adolescentes ultrapassam a esfera de meros objetos de "proteção" e "tutela" pela família e pelo
Estado e passam à condição de sujeitos de direito, beneficiários e destinatários imediatos da doutrina da
proteção integral."

Este Superior Tribunal de Justiça, em várias oportunidades, já se manifestou no sentido de que a prática de
qualquer ato libidinoso, compreendido como aquele destinado à satisfação da lascívia, com menor de 14
anos, configura o delito de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP). Não se prescinde do especial fim de agir:
"para satisfazer à lascívia". Porém, não se tolera as atitudes voluptuosas, por mais ligeiras que possam parecer.
Em alguns precedentes, ressaltou-se até mesmo que o delito prescinde inclusive de contato físico entre vítima
e agressor.

Nesse passo, é possível observar que a maior ou menor superficialidade dos atos libidinosos, a intensidade do
contato ou a virulência da ação criminosa não são critérios relevantes para a tipificação do delito em questão.

Além disso, é válido lembrar que outras circunstâncias incidentais, como o consentimento da vítima, sua
experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento amoroso entre vítima e agente delitivo,
igualmente, não se revelam capazes de excluir o crime ou modificar a figura típica.

Parcela da doutrina, já há muito, desde antes da reforma de 2009 que unificou em um só tipo penal o estupro
e o atentado violento ao pudor, criticava o rigor legal com atos considerados fugazes. Assim, sugeria fossem
essas condutas desclassificadas para a contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor.

Com efeito, a pretensão de se desclassificar a conduta de violar a dignidade sexual de pessoa menor de 14
anos para uma contravenção penal (punida, no máximo, com pena de prisão simples) já foi reiteradamente
rechaçada pela jurisprudência desta Corte.

A superveniência do art. 215-A do CP (crime de importunação sexual) trouxe novamente a discussão à tona,
mas o conflito aparente de normas é resolvido pelo princípio da especialidade do art. 217-A do CP, que possui
o elemento especializante "menor de 14 anos", e também pelo princípio da subsidiariedade expressa do art.
215-A do CP, conforme se verifica de seu preceito secundário in fine.
116

Estudando a nova figura típica, e cotejando com as outras então existentes, a doutrina observa que, na
importunação sexual, a falta de anuência da vítima não pode consistir em nenhuma forma de
constrangimento. Se houver constrangimento no sentido de "obrigar" alguém à prática de ato de libidinagem,
estará configurado o crime de estupro, ante a presença do verbo nuclear do tipo do art. 213 do CP.

Nos casos de estupro de vulnerável, por outro lado, foi necessário advertir que não há propriamente um
constrangimento à prática de atos sexuais. Não existe sequer presunção de constrangimento ou de violência.
Na figura típica do art. 217-A do CP, pune-se simplesmente a prática de atos de libidinagem com alguém
menor de catorze anos ou com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

Por isso, ao contrário do que ocorre no cotejo entre os arts. 213 e 215-A, ambos do CP, o constrangimento
não é elemento especializante do estupro de vulnerável. O fator especializante do art. 217-A do CP, na
sistemática da Lei n. 12.015/2009, é simplesmente a idade da vítima: "vítima menor de 14 (catorze) anos".

Além disso, a cogência do art. 217-A do CP não pode ser afastada sem a observância do princípio da reserva
de plenário pelos tribunais (art. 97 da CRFB).

Não é só. Desclassificar a prática de ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos para o delito do art. 215-A
do CP, crime de médio potencial ofensivo que admite a suspensão condicional do processo, desrespeitaria ao
mandamento constitucional de criminalização do art. 227, §4º, da CRFB, que determina a punição severa do
abuso ou exploração sexual de crianças e adolescentes. Haveria também descumprimento a tratados
internacionais. O art. 19 da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança é peremptório ao impor aos
Estados a adoção de medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais apropriadas para proteger a
criança contra "todas" as formas de abuso.

Em verdade, a subsunção no art. 217-A do CP prestigia o princípio da proporcionalidade, notadamente no


aspecto da proibição da proteção insuficiente, bem como o princípio da proteção integral, conforme visto.
Vale lembrar que a criança e adolescente são indivíduos que possuem uma condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento (art. 6º do ECA). Por isso, a proteção especial não se mostra afrontosa ao princípio da
isonomia.

De fato, o legislador pátrio poderia, ou mesmo deveria, promover uma graduação entre as espécies de
condutas sexuais praticadas em face de pessoas vulneráveis, seja por meio de tipos intermediários, o que
poderia ser feito através de crimes privilegiados, ou causas especiais de diminuição. De sorte que, assim,
tornar-se-ia possível penalizar mais ou menos gravosamente a conduta, conforme a intensidade de contato e
os danos (físicos ou psicológicos) provocados. Mas, infelizmente, não foi essa a opção do legislador e, em
matéria penal, a estrita legalidade se impõe ao que idealmente desejam os aplicadores da lei criminal.

Verifique-se que a opção legislativa é pela absoluta intolerância com atos de conotação sexual com pessoas
menores de 14 anos, ainda que superficiais e não invasivos. Toda a exposição até aqui demonstra isso. E, essa
opção, embora possa não parecer a melhor, não é de todo censurável, pois, veja-se, como leciona a doutrina,
"o abuso sexual contra crianças e adolescentes é problema jurídico, mas sobretudo de saúde pública, não
somente pelos números colhidos, mas também pelas graves consequências para o desenvolvimento afetivo,
social e cognitivo". Nesse sentido, "não é somente a liberdade sexual da vítima que deve ser protegida, mas
igualmente o livre e sadio desenvolvimento da personalidade sexual da criança".

Tanto a jurisprudência desta Corte Superior quanto a do Supremo Tribunal Federal são pacíficas em rechaçar a
pretensão de desclassificação da conduta de praticar ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos para o
crime de importunação sexual (art. 215-A do CP).
117

1. Em razão da novatio legis in mellius engendrada pela Lei n. 13.654/2018, o emprego de


arma branca, embora não configure mais causa de aumento do crime de roubo, poderá ser
utilizado como fundamento para a majoração da pena-base, quando as circunstâncias do
caso concreto assim justificarem.

2. O julgador deve fundamentar o novo apenamento ou justificar a não realização do


incremento na basilar, nos termos do que dispõe o art. 387, II e III, do CPP.

3. Não cabe a esta Corte Superior a transposição valorativa da circunstância para a primeira
fase da dosimetria ou mesmo compelir que o Tribunal de origem assim o faça, em razão da
discricionariedade do julgador ao aplicar a novatio legis in mellius.

REsp 1.921.190-MG, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 25/05/2022,
DJe 26/05/2022. (Tema 1110) – Info 738

Informações: Como se sabe, a primeira modificação introduzida pela Lei n. 13.654/18, no crime de roubo, foi
a revogação do inciso I, do § 2º, do art. 157, restringindo a majorante relativa ao emprego de arma às
situações nas quais seja utilizada arma de fogo.

De acordo com o dispositivo revogado, a pena do roubo sofria aumento de um terço à metade se a violência
ou a ameaça fosse exercida com emprego de "arma", prevalecendo na doutrina a orientação de que "arma",
compreendia todo o objeto ou utensílio que servisse para matar, ferir ou ameaçar, independentemente da
forma ou do destino principal.

A revogação do inciso I, do § 2º, se seguiu da inserção do § 2º-A, que, no inciso I, majora a pena se a violência
ou a ameaça é exercida com emprego de arma de fogo, punindo-a, agora, de forma mais severa. Tem-se,
portanto, que o legislador optou por excluir da abrangência da majorante os objetos que, embora possam ser
utilizados para intimidar, não foram concebidos com esta finalidade.

Tem-se, portanto, que a restrição promovida pela Lei n. 13.654/2018 foi benéfica, configurando novatio legis
in mellius, razão porque o aplicador da Lei deve promover a sua retroação para retirar a majorante nos roubos
cometidos com outros objetos que não sejam armas de fogo, como feito no caso em análise.

Ocorre que, muito embora não majore mais a pena do roubo, o emprego de "arma branca", não constitui
elemento irrelevante, configura sim um plus à atividade delitiva, sendo mais grave a ação do roubador que se
utiliza de objeto capaz de até tirar a vida da vítima do que aquele que apenas a ameaça, devendo, portanto, o
argumento ser considerado pelo juiz no momento da análise das circunstâncias judiciais para a aplicação da
pena-base.

Com efeito, esta Corte há muito definiu nesse sentido, que com o advento da Lei n. 13.654/2018, que revogou
o inciso I do artigo 157 do CP, o emprego de arma branca no crime de roubo deixou de ser considerado como
majorante, sendo, porém, plenamente possível a sua valoração como circunstância judicial desabonadora,
quando as circunstâncias do caso concreto assim justificarem.
118

Ressalta-se que o grau de liberdade do julgador não o isenta de fundamentar o novo apenamento ou de
justificar a não realização do incremento na basilar, mormente neste aspecto de abrangência, considerando
que a utilização de "arma branca" nos delitos de roubo representa maior reprovabilidade à conduta, sendo
necessária a fundamentação, nos termos do art. 387, II e III, do CPP.

Este Superior Tribunal de Justiça também definiu que não cabe a esta Corte Superior compelir que o Tribunal
de origem proceda à transposição valorativa dessa circunstância - uso de arma branca - para a primeira fase,
em razão da discricionariedade do julgador ao aplicar a novatio legis in mellius.

A presente afetação esteve restrita à possibilidade de determinação para que o Tribunal de origem refizesse a
dosimetria da pena, transpondo o fundamento do uso de arma branca no crime de roubo para a primeira fase
da dosimetria. Ocorre ser necessária a extensão da discussão, considerando existirem também julgados nesta
Corte que sustentam a impossibilidade de que essa nova valoração seja feita por este Superior Tribunal de
Justiça, na via do especial, em vista da discricionariedade do julgador.

Desse modo, a revisão das sanções impostas só é admissível em casos de ilegalidade flagrante,
consubstanciadas no desrespeito aos parâmetros legais fixados pelo art. 59, do CP, sem a necessidade de
maior aprofundamento no acervo fático-probatório dos autos, que está intimamente atrelado à avaliação do
melhor juízo, àquele mais atento às peculiaridades do caso concreto, sob pena de incidência da Súmula n.
7/STJ.

1. Nos termos do § 1º do art. 155 do Código Penal, se o crime de furto é praticado durante
o repouso noturno, a pena será aumentada de um terço.

2. O repouso noturno compreende o período em que a população se recolhe para


descansar, devendo o julgador atentar-se às características do caso concreto.

3. A situação de repouso está configurada quando presente a condição de


sossego/tranquilidade do período da noite, caso em que, em razão da diminuição ou
precariedade de vigilância dos bens, ou, ainda, da menor capacidade de resistência da
vítima, facilita-se a concretização do crime.

4. São irrelevantes os fatos das vítimas estarem, ou não, dormindo no momento do crime,
ou o local de sua ocorrência, em estabelecimento comercial, via pública, residência
desabitada ou em veículos, bastando que o furto ocorra, obrigatoriamente, à noite e em
situação de repouso.

REsp 1.979.989-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 22/06/2022.
(Tema 1144) Info 742

INFORMAÇÕES: A controvérsia delimita-se em definir a) se, para a configuração da circunstância majorante


do § 1º do art. 155 do Código Penal, basta que a conduta delitiva tenha sido praticada durante o repouso
noturno e, também, b) se há relevância no fato das vítimas estarem ou não dormindo no momento do crime,
ou a sua ocorrência em estabelecimento comercial ou em via pública.
119

Nos termos do § 1º do art. 155 do Código Penal, se o crime de furto é praticado durante o repouso noturno, a
pena será aumentada de um terço.

No tocante ao horário de aplicação, este Superior Tribunal de Justiça já definiu que "este é variável, devendo
obedecer aos costumes locais relativos à hora em que a população se recolhe e a em que desperta para a vida
cotidiana". Sendo assim, não há um horário prefixado, devendo, portanto, atentar-se às características da
vida cotidiana da localidade (REsp 1.659.208/RS, Rel. Ministra Maria Thereza De Assis Moura, DJ 31/3/2017).

Em um análise objetivo-jurídica do art. 155, §1º, do CP, percebe-se que o legislador pretendeu sancionar de
forma mais severa o furtador que se beneficia dessa condição de sossego/tranquilidade, presente no
período da noite, para, em razão da diminuição ou precariedade de vigilância dos bens, ou, ainda, da
menor capacidade de resistência da vítima, facilitar-lhe a concretização do intento criminoso.

O crime de furto só implicará no aumento de um terço se o fato ocorrer, obrigatoriamente, à noite e em


situação de repouso. Nas hipóteses concretas, será importante extrair dos autos as peculiares da localidade
em que ocorreu o delito.

Assim, haverá casos em que, mesmo nos furtos praticados no período da noite, mas em lugares amplamente
vigiados, tais como em boates e comércios noturnos, ou, ainda, em situações de repouso, mas ocorridas nos
períodos diurno ou vespertino, não se poderá valer-se dessa causa de aumento.

Este Tribunal passou a destacar a irrelevância do local estar ou não habitado, ou o fato da vítima estar ou não
dormindo no momento do crime para os fins aqui propostos, bastando que a atuação criminosa seja realizada
no período da noite e sem a vigilância do bem. Seguiu-se à orientação de que para a incidência da causa de
aumento não importava o local em que o furto fora cometido, em residências, habitadas ou não, lojas e
veículos, bem como em vias públicas.

Assim, se o crime de furto é praticado durante o repouso noturno, na hora em que a população se recolhe
para descansar, valendo-se da diminuição ou precariedade de vigilância dos bens, ou, ainda, da menor
capacidade de resistência da vítima, a pena será aumentada de um terço, não importando se as vítimas estão
ou não dormindo no momento do crime, ou o local de sua ocorrência, em estabelecimento comercial,
residência desabitada, via pública ou veículos.

A causa de aumento prevista no § 1° do art. 155 do Código Penal (prática do crime de furto
no período noturno) não incide no crime de furto na sua forma qualificada (§ 4°).

REsp 1.890.981-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
25/05/2022 (Tema 1087) – Info 738

Informações: Ressalte-se, preliminarmente, que se pode pensar que a fixação de um precedente judicial
guarda relação direta com a consolidação da orientação jurisprudencial uníssona e reiterada do Superior
Tribunal de Justiça, sobretudo quanto coincidente com a posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal.

Entretanto, essa premissa não é absoluta. Se a orientação jurisprudencial não guarda compatibilidade com a
melhor interpretação dos postulados de regência e com o contexto social em que se insere a aplicação das
normas jurídicas, mostra-se inequívoca a necessidade de sua revisão, mormente quando desta resultará um
posicionamento judicial vinculatório que pressupõe segurança jurídica e, por conseguinte, longevidade. Assim,
120

a construção de precedente judicial na via do recurso especial repetitivo constitui momento adequado para o
reexame de entendimentos derivados da interpretação do direito infraconstitucional, para que se mantenham
ou se adéquem a novas realidades.

A disposição técnica do Código Penal assim se apresenta: refere-se o art. 155, § 1º, do CP à pena do furto
simples, prevista no caput desse dispositivo. Desse modo, não se refere à cominação do furto qualificado, que
se encontra três parágrafos depois. Seguindo a técnica legislativa, para que considerasse aplicável a majorante
no furto qualificado, deveria o legislador colocar o § 1º após a pena atribuída, o que não ocorreu. Se a
qualificação do delito é apresentada em parágrafo posterior ao que trata da majorante, é porque o legislador
afastou a incidência desta em relação aos crimes qualificados previstos no § 4º do art. 155 do CP. Nesse
contexto, aderindo a uma interpretação sistemática sob o viés topográfico, em que se define a extensão
interpretativa de um dispositivo legal levando-se em conta sua localização no conjunto normativo, a aplicação
da referida causa de aumento limitar-se-ia ao furto simples, não incidindo, pois, no furto qualificado.

Outra forma interpretativa para dirimir a questão é o método hermenêutico teleológico. Aqui, o que se
propõe é a averiguação do objetivo da norma, de seus fins sociais, objetivos ligados à justiça, à segurança
jurídica e à dignidade da pessoa humana. Com efeito, quando se busca o atendimento a esses aspectos,
especialmente o relativo à dignidade humana, devem ser atendidos os princípios da proporcionalidade e da
taxatividade.

Sob o viés do princípio da proporcionalidade, objetiva-se evitar excesso de punição, mormente a possibilidade
de aplicação de reprimendas mais severas a infrações que refletem menor gravidade, assim como evitar que
haja proteção insuficiente aos bens jurídicos resguardados pelas normas penais.

Ora, a agravação da pena derivada da incidência da majorante do furto noturno nas hipóteses do furto
qualificado resultaria em um desproporcional quantitativo. Veja-se: o dispositivo relacionado ao furto
cometido durante o repouso noturno (art. 155, § 1º, do CP) prevê acréscimo fixo de 1/3 da pena. Se possível a
incidência dessa mesma majorante no furto qualificado (art. 155, § 4º, do CP), seriam gerados aumentos
excessivos no quantitativo da pena: se considerada a pena mínima, o acréscimo seria de 8 meses (pena
mínima de 2 anos do crime qualificado, aumentada em 1/3). De outra parte, se considerada a pena máxima, o
aumento resultaria em 2 anos e 8 meses. Dessa forma, a pena do crime de furto qualificado, acrescida
do quantum relativo à incidência da majorante, desconsiderando-se a incidência de quaisquer outras
circunstâncias agravantes ou causas de aumento, poderia resultar em 10 anos e 8 meses, pena superior à do
crime de roubo, tipo penal em que se protegem não só bens patrimoniais, tal qual no crime de furto, mas
também a integridade corporal. Sendo assim, não se mostra razoável que determinada pena possa ser
semelhante para crimes de gravidades diversas, como são o furto, ainda que em sua forma qualificada, e o
roubo.

Acrescente-se, também sob o enfoque do princípio da proporcionalidade, que, sendo a controvérsia a


interpretação de normas penais que podem ensejar, em um cenário de dúvida, a incidência de penas mais
severas, é razoável que também se analise o tema sob a perspectiva das circunstâncias a seguir relacionadas,
muitas delas relativas à política criminal, que não contribuirão para a concretização do escopo preventivo,
repressivo e reabilitatório do Direito Penal: a) busca de resolução de questões sociais mediante a exagerada
edição da legislação penal e processual penal mais severa; b) existência de componentes administrativos na
seara criminal que operam com deficiência, tais como os estabelecimentos prisionais, a sobrecarga dos
tribunais, a ineficácia de aplicação de penas clássicas, sobretudo sobre o aspecto da reabilitação do
condenado, o alto custo do sistema penitenciário associado à escassez de recursos públicos para sua
manutenção e melhoria, etc.
121

Deve-se registrar também que o princípio da proporcionalidade destina-se igualmente a evitar a proteção
insuficiente ou deficiente dos bens jurídicos resguardados pelo Direito Penal.

Ora, é evidente que a lesividade advinda do cometimento do furto qualificado durante o repouso noturno é
maior que a do furto simples ocorrente no mesmo período.

Assim, é razoável admitir a possibilidade de, diante das circunstâncias fáticas, a prática do furto durante o
período de repouso noturno ser levada em consideração na dosimetria da pena. Em outras palavras, se a
incidência da majorante no furto qualificado mostra-se excessiva, poderá ser utilizada como circunstância
judicial negativa na primeira fase da dosimetria (art. 59 do CP). Nessa oportunidade, o órgão julgador avaliará,
sob a ótica de sua discricionariedade, o elemento relativo ao espaço temporal em que a infração foi cometida,
podendo, se assim considerar, analisar a circunstância judicial referente às circunstâncias do crime com maior
reprovabilidade. Esse proceder possibilitaria calibrar a reprimenda de modo a atender o postulado da
proporcionalidade diante do caso concreto.

Entretanto, ressalte-se que essa matéria - possibilidade de consideração da causa de aumento relativa ao
repouso noturno como circunstância judicial desfavorável (art. 59 do CP) quando do cometimento do furto
qualificado - não enseja a fixação de tese vinculante na via do recurso especial repetitivo, visto que a
variabilidade dos conceitos empregados no exercício discricionário do órgão julgador na confecção da
primeira etapa da dosimetria penal é incompatível com o estabelecimento de fundamentos vinculatórios, tais
como os exigidos na fixação de tese no sistema de precedentes judiciais.

Sob o prisma do princípio da taxatividade, como garantia expressa do postulado da legalidade, deve-se
entender que, ao ser positivada uma norma penal incriminadora - tal como uma causa de aumento de pena -,
deve ela ser clara e precisa com vistas a não permitir discricionariedades, bem como ser de fácil compreensão
para os destinatários.

Efetivamente, não há precisão e clareza desejáveis na proposição penal prevista no art. 155, § 1º, do CP
quando se deve definir sua aplicabilidade tanto ao furto simples quanto ao furto qualificado. Restrita essa
norma a indicar situação temporal em que há aumento de pena, não se veem nela elementos que lhe
confiram extensão para que incida nas hipóteses do furto qualificado. Pensamento diverso, de modo a
justificar a incidência extensiva dessa disposição legal, equivaleria a um agravamento dos tipos já existentes
através de uma reinterpretação de garantias do Direito Penal, especialmente aquela relacionada à
interpretação favorável ao réu nos casos em que há dúvida acerca do sentido da norma. Deve-se ressaltar que
a interpretação no sentido de possibilitar a existência de bens jurídico-penais não expressamente definidos
amplia os espaços de riscos jurídico-penais relevantes e a flexibilização das regras de imputação e
relativização dos princípios político-criminais de garantia, circunstâncias que não condizem com a
excepcionalidade inerente às normas penais sancionatórias, assim como não se compatibilizam com a
necessária segurança jurídica, fundamento do Direito Penal.

Também não se justifica a premissa de que, uma vez possível a aplicação da regra do furto privilegiado (art.
155, § 2º, do CP) ao furto qualificado, seria possível a incidência da causa de aumento relativa ao cometimento
do furto durante o repouso noturno (art. 155, § 1º, do CP) no furto qualificado.
Essa situação merece algumas observações.

O privilégio previsto no § 2º do art. 155 e a causa de aumento relativa ao furto noturno são hipóteses fático-
jurídicas diversas. A primeira refere-se a uma norma penal não incriminadora; a segunda, a uma causa de
aumento, uma norma penal incriminadora.
122

Sendo o furto privilegiado uma norma não incriminadora, pode comportar extensividade quando utilizado
para integração do sistema jurídico penal. Já o furto cometido durante o repouso noturno, por ser uma norma
incriminadora, tem sua extensividade vedada, visto que tem por consectário o agravamento da situação do
réu. Com efeito, o uso de raciocínio analógico integrativo no âmbito do Direito Penal é inadmissível em
hipótese em que haja prejuízo para o acusado.

Desse modo, também sob a ótica de uma interpretação finalística, em que se deve conferir aplicabilidade aos
princípios da proporcionalidade e da taxatividade, a incidência da causa de aumento referente ao
cometimento do furto noturno limita-se ao furto simples, não se aplicando ao furto qualificado.

A desobediência à ordem legal de parada, emanada por agentes públicos em contexto de


policiamento ostensivo, para a prevenção e repressão de crimes, constitui conduta
penalmente típica, prevista no art. 330 do Código Penal Brasileiro.

REsp 1.859.933-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Terceira Seção, por maioria, julgado em 09/03/2022,
DJe 01/04/2022. (Tema 1060)

Informações: O STJ já decidiu que "os direitos ao silêncio e de não produzir prova contra si mesmo não são
absolutos, razão pela qual não podem ser invocados para a prática de outros delitos. Embora por fatos
diversos, aplica-se ao presente caso a mesma solução jurídica decidida pela Terceira Seção desta Corte
Superior quando do julgamento do REsp n. 1.362.524/MG, submetido à sistemática dos recursos repetitivos,
no qual foi fixada a tese de que 'típica é a conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial,
ainda que em situação de alegada autodefesa'" (HC 369.082/SC, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, julgado
em 27/6/2017, DJe 1º/8/2017).

Conforme apontado pelo Ministério Público Federal em seu parecer, "a possibilidade de prisão por outro
delito não é suficiente para afastar a incidência da norma penal incriminadora, haja vista que a garantia da não
autoincriminação não pode elidir a necessidade de proteção ao bem jurídico tutelado pelo crime de
desobediência. [...] O acusado tem direito constitucional de permanecer calado, de não produzir prova contra
si e, inclusive, de mentir acerca do fato criminoso. Contudo, a pretexto exercer tais prerrogativas, não pode
praticar condutas consideradas penalmente relevantes pelo ordenamento jurídico, pois tal situação caracteriza
abuso do direito, desbordando a respectiva esfera protetiva".

Assim, o entendimento segundo o qual o indivíduo, quando no seu exercício de defesa, não teria a obrigação
de se submeter à ordem legal oriunda de funcionário público pode acarretar o estímulo à impunidade e
dificultar, ou até mesmo impedir, o exercício da atividade policial e, consequentemente, da segurança pública.
(Informativo n. 732)

2021
123

Na hipótese de condenação concomitante a pena privativa de liberdade e multa, o


inadimplemento da sanção pecuniária, pelo condenado que comprovar impossibilidade
de fazê-lo, não obsta o reconhecimento da extinção da punibilidade.

REsp 1.785.383-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 24/11/2021, (Tema 931) INFO
720

Tema: Cumprimento da pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos substitutiva. Inadimplemento da


pena de multa. Compreensão firmada pelo STF na ADI n. 3.150/DF. Manutenção do caráter de sanção criminal
da pena de multa. Distinguishing. Impossibilidade de cumprimento da pena pecuniária pelos condenados
hipossuficientes. Violação de preceitos fundamentais. Excesso de execução. Extinção da punibilidade. Revisão
de tese. Informações: A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do Recurso
Especial Representativo da Controvérsia n. 1.519.777/SP, assentou a tese de que "[n]os casos em que haja
condenação à pena privativa de liberdade e multa, cumprida a primeira (ou a restritiva de direitos que
eventualmente a tenha substituído), o inadimplemento da sanção pecuniária não obsta o reconhecimento da
extinção da punibilidade". Entretanto, ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3.150/DF, o STF
firmou o entendimento de que a alteração do art. 51 do Código Penal, promovida Lei n. 9.268/1996, não
retirou o caráter de sanção criminal da pena de multa, de modo que a primazia para sua execução incumbe ao
Ministério Público e o seu inadimplemento obsta a extinção da punibilidade do apenado. Tal compreensão foi
posteriormente sintetizada em nova alteração do referido dispositivo legal, levada a cabo pela Lei n.
13.964/2019. Em decorrência do entendimento firmado pelo STF, bem como em face da mais recente
alteração legislativa sofrida pelo artigo 51 do Código Penal, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento dos
Recursos Especiais Representativos da Controvérsia n. 1.785.383/SP e 1.785.861/SP, reviu a tese anteriormente
aventada no Tema n. 931, para assentar que, "na hipótese de condenação concomitante a pena privativa de
liberdade e multa, o inadimplemento da sanção pecuniária obsta o reconhecimento da extinção da
punibilidade". Ainda consoante o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal julgamento da ADI n.
3.150/DF, "em matéria de criminalidade econômica, a pena de multa desempenha um papel proeminente de
prevenção específica, prevenção geral e retribuição". Além disso o Supremo Tribunal Federal decidiu pela
indispensabilidade do pagamento da sanção pecuniária para o gozo da progressão a regime menos gravoso,
"[a] exceção admissível ao dever de pagar a multa é a impossibilidade econômica absoluta de fazê-lo. [...] é
possível a progressão se o sentenciado, veraz e comprovadamente, demonstrar sua absoluta insolvabilidade.
Absoluta insolvabilidade que o impossibilite até mesmo de efetuar o pagamento parcelado da quantia devida,
como autorizado pelo art. 50 do Código Penal". Não se pode desconsiderar que o cenário do sistema
carcerário expõe disparidades sócio-econômicas da sociedade brasileira, as quais ultrapassam o inegável
caráter seletivo do sistema punitivo e se projetam não apenas como mecanismo de aprisionamento físico, mas
também de confinamento em sua comunidade, a reduzir o indivíduo desencarcerado ao status de um pária
social. Outra não é a conclusão a que poderia conduzir - relativamente aos condenados em comprovada
situação de hipossuficiência econômica - a subordinação da retomada dos seus direitos políticos e de sua
consequente reinserção social ao prévio adimplemento da pena de multa. Conclui-se que condicionar a
extinção da punibilidade, após o cumprimento da pena corporal, ao adimplemento da pena de multa acentuar
a já agravada situação de penúria e de indigência dos apenados hipossuficientes e sobreonera pessoas
próximas do condenado, impondo a todo o seu grupo familiar privações decorrentes de sua impossibilitada
reabilitação social, o que põe sob risco a implementação da política estatal proteção da família (art. 226 da
Carta de 1988). Por fim, extinção da punibilidade, quando pendente apenas o adimplemento da pena
pecuniária, reclama para si singular relevo na trajetória do egresso de reconquista de sua posição como
124

indivíduo aos olhos do Estado, ou seja, do percurso de reconstrução da existência sob as balizas de um
patamar civilizatório mínimo, a permitir outra vez o gozo e o exercício de direitos e garantias fundamentais.

Condenações criminais transitadas em julgado, não consideradas para caracterizar a


reincidência, somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de
antecedentes criminais, não se admitindo sua utilização para desabonar a personalidade
ou a conduta social do agente.

REsp 1.794.854-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 23/06/2021. (Tema
1077). Informativo 702.

TEMA: Dosimetria da pena. Artigo 59 do Código Penal. Condenações pretéritas com trânsito em julgado.
Valoração negativa da personalidade e conduta social. Impossibilidade. Tema 1077.

INFORMAÇÕES: No que concerne à fixação da pena-base, é certo que o Julgador deve, ao individualizar a
pena, examinar com acuidade os elementos que dizem respeito ao fato delituoso e aspectos inerentes ao
agente, obedecidos e sopesados todos os critérios legais para aplicar, de forma justa e fundamentada, a
reprimenda que seja, proporcionalmente, necessária e suficiente para reprovação do crime, sobrepujando as
elementares comuns do próprio tipo legal.

No art. 59 do Código Penal, com redação conferida pela Lei n. 7.209/1984, o legislador elencou oito
circunstâncias judiciais para individualização da pena na primeira fase da dosimetria, quais sejam: a
culpabilidade; os antecedentes; a conduta social; a personalidade do agente; os motivos; as circunstâncias; as
consequências do crime; e o comportamento da vítima.

Ao considerar desfavoráveis as circunstâncias judiciais, deve o Julgador declinar, motivadamente, as suas


razões, que devem corresponder objetivamente às características próprias do vetor desabonado. A
inobservância dessa regra implica ofensa ao preceito contido no art. 93, inciso IX, da Constituição da
República.

No caso, analisa-se a possibilidade de condenações criminais transitadas em julgado serem valoradas para
desabonar os vetores personalidade e conduta social.

A doutrina diferencia detalhadamente antecedentes criminais de conduta social e esclarece que o


legislador penal determinou essa análise em momentos distintos porque "os antecedentes traduzem o
passado criminal do agente, a conduta social deve buscar aferir o seu comportamento perante a
sociedade, afastando tudo aquilo que diga respeito à prática de infrações penais". Especifica, ainda, que
as incriminações anteriores "jamais servirão de base para a conduta social, pois abrange todo o
comportamento do agente no seio da sociedade, afastando-se desse seu raciocínio seu histórico criminal,
verificável em sede de antecedentes penais".

Quanto ao vetor personalidade do agente, a mensuração negativa da referida moduladora "'deve ser aferida
a partir de uma análise pormenorizada, com base em elementos concretos extraídos dos autos, acerca da
insensibilidade, desonestidade e modo de agir do criminoso para a consumação do delito [...]' (HC
472.654/DF, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, DJe 11/3/2019)" (STJ, AgRg no REsp 1.918.046/SP, Rel.
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 19/04/2021).
125

"A jurisprudência da Suprema Corte (e a do Superior Tribunal de Justiça) orienta-se no sentido de repelir a
possibilidade jurídica de o magistrado sentenciante valorar negativamente, na primeira fase da operação de
dosimetria penal, as circunstâncias judiciais da personalidade e da conduta social, quando se utiliza, para esse
efeito, de condenações criminais anteriores, ainda que transitadas em julgado, pois esse específico aspecto
(prévias condenações penais) há de caracterizar, unicamente, maus antecedentes" (STF, RHC 144.337-
AgR, Rel. Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, DJe 22/11/2019).

Em conclusão, o vetor dos antecedentes é o que se refere única e exclusivamente ao histórico criminal do
agente. "O conceito de maus antecedentes, por ser mais amplo do que o da reincidência, abrange as
condenações definitivas, por fato anterior ao delito, transitadas em julgado no curso da ação penal e as
atingidas pelo período depurador, ressalvada casuística constatação de grande período de tempo ou
pequena gravidade do fato prévio" (STJ, AgRg no AREsp 924.174/DF, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Sexta
Turma, DJe 16/12/2016).

2018

A inexistência de estabelecimento penal adequado ao regime prisional determinado para o


cumprimento da pena não autoriza a concessão imediata do benefício da prisão domiciliar,
porquanto, nos termos da Súmula Vinculante n. 56, é imprescindível que a adoção de tal
medida seja precedida das providências estabelecidas no julgamento do RE 641.320/RS,
quais sejam: (i) saída antecipada de outro sentenciado no regime com falta de vagas,
abrindo-se, assim, vagas para os reeducandos que acabaram de progredir; (ii) a liberdade
eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão
domiciliar por falta de vagas; e (iii) cumprimento de penas restritivas de direitos e/ou
estudo aos sentenciados em regime aberto.

REsp 1.710.674-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção, por maioria, julgado em
22/08/2018, DJe 03/09/2018 (Tema 993)

TEMA Execução Penal. Progressão de Regime. Inexistência de vaga em estabelecimento adequado.


Impossibilidade de concessão imediata da prisão domiciliar. Necessidade de aplicação das providências
estabelecidas pelo RE 641.320/RS. Tema 993.

INFORMAÇÕES: Inicialmente cumpre salientar que no julgamento do RE 641.320/RS, o Supremo Tribunal


Federal assentou que "a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado
em regime prisional mais gravoso". Concluiu, ainda, que, diante de tais situações, o julgador deveria buscar
aplicar as seguintes alternativas, em ordem de preferência: (i) a saída antecipada de sentenciado no regime
com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é
posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo
ao sentenciado que progride ao regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas,
poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado. O relator do RE 641.320/RS, ao discorrer sobre a prisão
126

domiciliar pura e simples, pondera ser ela "uma alternativa de difícil fiscalização e, isolada, de pouca eficácia".
Isso porque, no seu entender, a par das dificuldades que o preso pode vir a ter para providenciar uma casa na
qual seja acolhido e para auxiliar no seu sustento, já que as possibilidades de trabalho sem sair do ambiente
doméstico são limitadas, há que se levar em conta que, "em casos de crimes que tenham os membros da
família como vítima, pode-se criar nova situação de risco, tornando a pena insuficiente para proteger as
vítimas. Por outro lado, os associados para a prática de crimes passam a ter total acesso ao condenado.
Eventuais restrições de movimentação não se estendem à comunidade, que não fica proibida de frequentar a
casa na qual a pena é cumprida". Defende, assim, que "a execução da sentença em regime de prisão
domiciliar é mais proveitosa se for acompanhada de trabalho", devendo ser acompanhada de "monitoração
eletrônica dos sentenciados, especialmente os do regime semiaberto", na forma do art. 146-B, II e IV, da Lei n.
7.210/1984. No tocante à saída antecipada, esclarece que "o sentenciado do regime semiaberto que tem a
saída antecipada pode ser colocado em liberdade eletronicamente monitorada; o sentenciado do aberto, ter a
pena substituída por penas alternativas ou estudo". Sugere que "a saída antecipada deve ser deferida ao
sentenciado que satisfaz os requisitos subjetivos e está mais próximo de satisfazer o requisito objetivo. Ou
seja, aquele que está mais próximo de progredir tem o benefício antecipado. Para selecionar o condenado
apto, é indispensável que o julgador tenha ferramentas para verificar qual está mais próximo do tempo de
progressão". Explicitando seu pensamento sobre a liberdade eletronicamente monitorada, aplicável tanto ao
regime aberto quanto ao semiaberto, o Relator esclarece que "melhor do que a pura e simples prisão
domiciliar, é a liberdade eletronicamente vigiada, ficando o sentenciado obrigado a trabalhar e, se possível,
estudar, recolhendo-se ao domicílio nos períodos de folga". Depreende-se, portanto, que o relator do RE
641.320/RS somente considera a utilização da prisão domiciliar pouco efetiva como alternativa à ausência de
vagas no regime adequado quando ela restringe totalmente o direito do executado de deixar a residência,
não permitindo, assim, o exercício de trabalho externo, ou quando, estando o reeducando no regime aberto, a
prisão domiciliar puder ser substituída pelo cumprimento de penas alternativas e/ou estudo. (Informativo n.
632.)

Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando


o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor
do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias
n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda.

REsp 1.688.878-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por maioria, julgado em 28/02/2018, DJe
04/04/2018 (Tema 157).

TEMA Princípio da insignificância. Crimes tributários federais e de descaminho. Débito não excedente a R$
10.000,00 (dez mil reais). Art. 20 da Lei n. 10.522/2002. Portarias n. 75 e 130/MF. Parâmetro de 20.000,00 (vinte
mil reais). Orientação consolidada no STF. Revisão do tema n. 157.

INFORMAÇÕES: A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do Recurso
Especial Representativo da Controvérsia n. 1.112.748/TO, submetido ao rito dos recursos especiais repetitivos
- regulado pelo art. 543- C do Código de Processo Civil de 1973 -, firmou o entendimento de que incide o
princípio da insignificância aos crimes federais contra a ordem tributária e de descaminho, quando o débito
tributário não ultrapassar o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n.
10.522/2002 (Rel. Min. Felix Fischer, DJe 13/10/2009, Tema - 157). O julgado, na ocasião, representou um
alinhamento da jurisprudência desta Corte com a do Supremo Tribunal Federal, pois, até então, ao contrário
do Pretório Excelso, a orientação que predominava nesta Corte era no sentido da impossibilidade da aplicação
127

do princípio da insignificância aos crimes tributários com base no parâmetro fixado no art. 20 da Lei n.
10.522/2002. Com o advento das Portarias n. 75 e 130/MF, ocorreu um novo distanciamento entre a
jurisprudência desta Corte e do Supremo Tribunal Federal, pois, enquanto o Pretório Excelso aderiu ao novo
parâmetro fixado por ato normativo infralegal, qual seja, de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), esta Corte não o fez.
Dessarte, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia, nos
termos dos arts. 927, § 4º, do Código de Processo Civil, e 256-S do Regimento Interno do Superior Tribunal de
Justiça, revisa-se a tese fixada no REsp Representativo da Controvérsia n. 1.112.748/TO - Tema 157 (Rel. Min.
Felix Fischer, DJe 13/10/2009), a fim de adequá-la ao entendimento externado pela Suprema Corte.
(Informativo n. 622.)

Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é


possível a fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja
pedido expresso da acusação ou da parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e
independentemente de instrução probatória.

REsp 1.643.051-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 28/02/2018,
DJe 08/03/2018 (Tema 983).

TEMA Violência doméstica e familiar contra a mulher. Danos morais. Indenização mínima. Art. 397, IV, do CPP.
Pedido necessário. Produção de prova específica dispensável. Dano in re ipsa.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a definir a necessidade ou não de indicação de um montante


mínimo pelo postulante, bem como a necessidade ou não da produção de prova, durante a instrução criminal,
para a fixação, em sentença condenatória, da indenização por danos morais sofridos pela vítima de violência
doméstica. Em relação à primeira questão, cumpre salientar que ambas as Turmas desta Corte Superior já
firmaram o entendimento de que a imposição, na sentença condenatória, de indenização, a título de danos
morais, para a vítima de violência doméstica, requer a dedução de um pedido específico, em respeito às
garantias do contraditório e da ampla defesa. Entretanto, a Quinta Turma possui julgados no sentido de ser
necessária a indicação do valor pretendido para a reparação do dano sofrido. Já a Sexta Turma considera que
o juízo deve apenas arbitrar um valor mínimo, mediante a prudente ponderação das circunstâncias do caso
concreto. Nesse sentido, a fim de uniformizar o entendimento, conclui-se que o pedido expresso por parte do
Ministério Público ou da ofendida, na exordial acusatória, é, de fato, suficiente, ainda que desprovido de
indicação do seu quantum, de sorte a permitir ao juízo sentenciante fixar o valor mínimo a título de reparação
pelos danos morais, sem prejuízo, evidentemente, de que a pessoa interessada promova, no juízo cível,
pedido complementar, onde, então, será necessário produzir prova para a demonstração do valor dos danos
sofridos. Já em relação à segunda questão, é importante destacar que no âmbito da reparação dos danos
morais, a Lei Maria da Penha, complementada pela reforma do Código de Processo Penal através da Lei n.
11.719/2008, passou a permitir que o juízo único - o criminal - possa decidir sobre um montante que,
relacionado à dor, ao sofrimento, à humilhação da vítima, de difícil mensuração, deriva da própria prática
criminosa experimentada. Assim, não há razoabilidade na exigência de instrução probatória acerca do dano
psíquico, do grau de humilhação, da diminuição da autoestima, etc, se a própria conduta criminosa
empregada pelo agressor já está imbuída de desonra, descrédito e menosprezo ao valor da mulher como
pessoa e à sua própria dignidade. O que se há de exigir como prova, mediante o respeito às regras do devido
processo penal - notadamente as que derivam dos princípios do contraditório e da ampla defesa -, é a própria
imputação criminosa - sob a regra, decorrente da presunção de inocência, de que o onus probandi é
128

integralmente do órgão de acusação -, porque, uma vez demonstrada a agressão à mulher, os danos
psíquicos dela resultantes são evidentes e nem têm mesmo como ser demonstrados. Diante desse quadro, a
simples relevância de haver pedido expresso na denúncia, a fim de garantir o exercício do contraditório e da
ampla defesa, é bastante para que o Juiz sentenciante, a partir dos elementos de prova que o levaram à
condenação, fixe o valor mínimo a título de reparação dos danos morais causados pela infração perpetrada,
não sendo exigível produção de prova específica para aferição da profundidade e/ou extensão do dano. O
merecimento à indenização é ínsito à própria condição de vítima de violência doméstica e familiar. O dano,
pois, é in re ipsa. (Informativo n. 621.)

2017

O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006) não
é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte, deve ser cancelado o Enunciado 512 da
Súmula do Superior Tribunal de Justiça.

Pet 11.796-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
23/11/2016, DJe 29/11/2016.

TEMA Tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada. Art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006. Crime não
equiparado a hediondo. Entendimento recente do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 118.533-
MS. Revisão do tema analisado pela Terceira Seção sob o rito dos recursos repetitivos. Tema 600.

INFORMAÇÕES: O Plenário do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento oposto à jurisprudência do STJ
ao assentar que o denominado tráfico privilegiado de drogas (art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006) não tem
natureza hedionda. Apenas as modalidades de tráfico de entorpecentes definidas no art. 33, caput 27 e § 1°,
da Lei n. 11.343/2006 seriam equiparadas aos crimes hediondos, enquanto referido delito na modalidade
privilegiada apresentaria “contornos mais benignos, menos gravosos, notadamente porque são relevados o
envolvimento ocasional do agente com o delito, a não reincidência, a ausência de maus antecedentes e a
inexistência de vínculo com organização criminosa”. Além disso, destacou que, apesar da vedação
constitucional e legal da concessão de graça e anistia e de indulto ao tráfico de entorpecentes, “os Decretos
Presidenciais ns. 6.706/2008 e 7.049/2009 beneficiaram os condenados pelo tráfico de entorpecentes
privilegiado com o indulto, o que demonstra que os mencionados textos normativos se inclinaram na corrente
doutrinária de que o tráfico privilegiado não é hediondo”. Concluiu, em suma, em voto que foi seguido pela
maioria do Tribunal Pleno, que a decisão do legislador fora no sentido de que o agente deveria receber
tratamento distinto daqueles sobre os quais recairia o alto juízo de censura e de punição pelo tráfico de
drogas e de que as circunstâncias legais do privilégio demonstrariam o menor juízo de reprovação e, em
consequência, de punição dessas pessoas (Informativo n. 831). A Constituição Federal (artigo 5º, inciso XLIII)
equiparou o delito de tráfico ilícito de drogas aos crimes hediondos, prevendo a insuscetibilidade de graça ou
anistia e a inafiançabilidade, além de outras medidas previstas na Lei n. 8.072/1990. No entanto, nem toda
transação ilícita com drogas deve necessariamente submeter-se ao regime dos crimes hediondos, como a
conduta de quem oferece droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento,
para juntos a consumirem (art. 33, § 3º, da Lei n. 11.343/2006), bem como - conforme recentemente assentado
pelo Supremo Tribunal Federal - a de quem, de forma episódica, pratica o denominado tráfico privilegiado de
drogas (art. 33, § 4º). Cumpre consignar, nessa linha de raciocínio, que o artigo 44 da Lei de Drogas, ao
estabelecer que os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 da Lei "são inafiançáveis e insuscetíveis
129

de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de
direitos", conferiu ao tráfico privilegiado (art. 33, § 4º) tratamento especial ao que o legislador atribuiu ao
caput e ao § 1º do artigo 33, a reforçar a tese de que não se trata de delito hediondo. Saliente-se, outrossim,
que o conceito de hediondez é de todo incompatível ao de privilégio, conforme há muito já vem decidindo o
STJ, mutatis mutandis, no que toca ao homicídio qualificado-privilegiado. É sabido que os julgamentos
proferidos pelo Supremo Tribunal Federal em Habeas Corpus, ainda que por seu Órgão Pleno, não têm efeito
vinculante nem eficácia erga omnes. No entanto, a fim de observar os princípios da segurança jurídica, da
proteção da confiança e da isonomia, nos termos do artigo 927, § 4º, do Código de Processo Civil, bem como
de evitar a prolação de decisões contraditórias nas instâncias ordinárias e também no âmbito deste Tribunal
Superior de Justiça, é necessária a revisão do tema analisado por este Sodalício sob o rito dos recursos
repetitivos, a fim de nos alinharmos à jurisprudência do Excelso Pretório. Dessarte, é o caso de revisão do
entendimento consolidado por esta Terceira Seção no julgamento do Recurso Especial Representativo da
Controvérsia n. 1.329.088/RS – Tema 600 (Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, julgado em
13/3/2013, DJe 26/4/2013), com o consequente cancelamento do Enunciado 512 da Súmula deste Superior
Tribunal de Justiça. (Informativo n. 595)

2016

Quando o falso se exaure no descaminho, sem mais potencialidade lesiva, é por este
absorvido, como crime-fim, condição que não se altera por ser menor a pena a este
cominada.

REsp 1.378.053-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Terceira Seção, julgado em 10/8/2016, DJe 15/8/2016 (Informativo
n. 587).

TEMA: Direito penal. Hipótese em que o falso pode ser absorvido pelo crime de descaminho. Recurso
repetitivo. Tema 933.

INFORMAÇÕES: Conforme entendimento doutrinário, na aplicação do critério da consunção, verifica-se que “o


conteúdo de injusto principal consome o conteúdo de injusto do tipo secundário porque o tipo consumido
constitui meio regular (e não necessário) de realização do tipo consumidor”. Nesse contexto, o STJ já se
pronunciou no sentido de não ser obstáculo para a aplicação da consunção a proteção de bens jurídicos
diversos ou a absorção de infração mais grave pela de menor gravidade (REsp 1.294.411-SP, Quinta Turma,
DJe 3/2/2014). O STJ, inclusive, já adotou, em casos análogos, orientação de que o delito de uso de
documento falso, cuja pena em abstrato é mais grave, pode ser absorvido quando não constituir conduta
autônoma, mas mera etapa preparatória ou executória do descaminho, crime de menor gravidade, no qual o
falso exaure a sua potencialidade lesiva (AgRg no REsp 1.274.707-PR, Quinta Turma, DJe 13/10/2015; e REsp
1.425.746-PA, Sexta Turma, DJe 20/6/2014). No mesmo sentido, mutatis mutandis, a Súmula n. 17 do STJ,
segundo a qual “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este
absorvido”.

2015
130

Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem, mediante emprego de


violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida a perseguição
imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e
pacífica ou desvigiada.

REsp 1.499.050-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 14/10/2015, DJe 9/11/2015
(Informativo 572).

TEMA: Direito penal. Momento consumativo do crime de roubo. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res.
8/2008-stj). Tema 916.

INFORMAÇÕES: Como se sabe, o delineamento acerca da consumação dos crimes de roubo e de furto foi
construído com base no direito romano, cuja noção de furtum – elaborada pelos operadores práticos do
direito e pelos jurisconsultos –, mais ampla que a do furto do direito moderno, trazia a exigência da
contrectatio (apreensão fraudulenta da coisa), visto que se exigia, necessariamente, o apossamento da coisa. É
de se notar que, a partir das interpretações discrepantes da palavra contrectatio – entendida diversamente no
sentido de trazer, de mover de lugar, de tocar (materialmente) e pôr a mão –, explica-se a profusão de teorias
sobre a consumação do furto. O desenvolvimento desses conceitos, no âmbito do direito romano, levou à
distinção de quatro momentos da ação: (a) a ação de tocar o objeto (contrectatio); (b) a ação de remover a
coisa (amotio); (c) a ação de levar a coisa, tirando-a da esfera patrimonial do proprietário (ablatio); e (d) a ação
de colocar a coisa em lugar seguro (illatio). O porquê de tanto esforço intelectual pode ser encontrado no fato
de o direito romano não ter desenvolvido a ideia de “tentativa”, motivo pelo qual era necessária a antecipação
da consumação, considerando-se já consumado o furto com o simples toque da coisa, sem necessidade de
levá-la. Todavia, com o surgimento da noção de tentativa, ficou evidente que não se fazia necessária a
antecipação da consumação (attrectatio). Decorre daí o abandono das teorias radicais (consumação pelo
simples toque ou somente com a 24 colocação da coisa em local seguro). No Brasil, o histórico da
jurisprudência do STF quanto ao tema remete a dois momentos distintos. No primeiro momento, observava-
se, acerca da consumação do crime de roubo próprio, a existência de duas correntes na jurisprudência do STF:
(i) a orientação tradicional, que considerava consumada a infração com a subtração da coisa, mediante
violência ou grave ameaça, sem cogitar outros requisitos, explicitando ser desnecessário o locupletamento do
agente (HC 49.671-SP, Primeira Turma, DJ 16/6/1972; RE 93.133-SP, Primeira Turma, DJ 6/2/1981; HC 53.495-
SP, Segunda Turma, DJ 19/9/1975; e RE 102.389-SP, Segunda Turma, DJ 17/8/1984); e (ii) a orientação
segundo a qual se exige, para a consumação, tenha a coisa subtraída saído da esfera de vigilância da vítima
ou tenha tido o agente a posse pacífica da res, ainda que por curto lapso (RE 93.099-SP, Primeira Turma, DJ
18/12/1981; RE 96.383-SP, Primeira Turma, DJ 18/3/1983; RE 97.500-SP, Segunda Turma, DJ 24/8/1982; e RE
97.677-SP, Segunda Turma, DJ 15/10/1982). Para esta corrente, havendo perseguição imediata ao agente e
sua prisão logo em seguida com o produto do roubo, não haveria que se falar em roubo consumado. Num
segundo momento, ocorreu a estabilização da jurisprudência do STF com o julgamento do RE 102.490-SP em
17/9/1987 (DJ 16/8/1991), no qual, de acordo com a referida orientação tradicional da jurisprudência (i),
definiu-se que “Para que o ladrão se torne possuidor, não é preciso, em nosso direito, que ele saia da esfera
de vigilância do antigo possuidor, mas, ao contrário, basta que cesse a clandestinidade ou a violência, para
que o poder de fato sobre a coisa se transforme de detenção em posse, ainda que seja possível ao antigo
possuidor retomá-la pela violência, por si ou por terceiro, em virtude de perseguição [...]”. Após esse julgado,
o STF, no que tange ao momento consumativo do roubo, unificou a jurisprudência, para entender que se
consuma o crime de roubo no momento em que o agente obtém a posse do bem, mediante violência ou
grave ameaça, ainda que não seja mansa e pacífica e/ou haja perseguição policial, sendo prescindível que o
131

objeto subtraído saia da esfera de vigilância da vítima. Precedentes citados do STJ: AgRg no REsp 1.410.795-
SP, Sexta Turma, DJe 6/12/2013; e EDcl no REsp 1.425.160-RJ, Sexta Turma, DJe 25/9/2014. Precedentes
citados do STF: HC 94.406-SP, Primeira Turma, DJe 5/9/2008; e HC 100.189-SP, Segunda Turma, DJe
16/4/2010.

Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve
espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e
pacífica ou desvigiada.

REsp 1.524.450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Terceira Seção, julgado em 14/10/2015, DJe 29/10/2015
(Informativo 572).

TEMA: Direito penal. Momento consumativo do crime de furto. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res.
8/2008-stj). Tema 934.

INFORMAÇÕES: . O Plenário do STF (RE 102.490-SP, DJ 16/8/1991), superando a controvérsia em torno do


tema, consolidou a adoção da teoria da apprehensio (ou amotio), segundo a qual se considera consumado o
delito de furto quando, cessada a clandestinidade, o agente detenha a posse de fato sobre o bem, ainda que
seja possível à vítima retomá-lo, por ato seu ou de terceiro, em virtude de perseguição imediata. Desde então,
o tema encontra-se pacificado na jurisprudência dos Tribunais Superiores.

Para a caracterização do crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A, caput, do


Código Penal, basta que o agente tenha conjunção carnal ou pratique qualquer ato
libidinoso com pessoa menor de 14 anos; o consentimento da vítima, sua eventual
experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento amoroso entre o agente e a
vítima não afastam a ocorrência do crime.

REsp 1.480.881-PI, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 26/8/2015, DJe 10/9/2015
(Informativo 568).

TEMA: Direito penal. Configuração do crime de estupro de vulnerável. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e
res. 8/2008-stj). Tema 918.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, registre-se que a interpretação jurisprudencial acerca do art. 224, “a”, do CP
(antes da entrada em vigor da Lei 12.015/2009) já vinha se consolidando no sentido de que respondia por
estupro ou por atentado violento ao pudor o agente que mantinha relações sexuais (ou qualquer ato
libidinoso) com menor de 14 anos, mesmo sem violência real, e ainda que mediante anuência da vítima (EREsp
1.152.864-SC, Terceira Seção, DJe 1º/4/2014). Com efeito, o fato de alterações legislativas terem sido
incorporadas pela Lei 12.015/2009 ao “Título IV – Dos Crimes contra a Dignidade Sexual”, especialmente ao
“Capítulo II – Dos Crimes Sexuais contra Vulnerável”, do CP, estanca, de uma vez por todas, qualquer dúvida
quanto à irrelevância, para fins de aperfeiçoamento do tipo penal inscrito no caput do art. 217-A, de eventual
consentimento da vítima ao ato libidinoso, de anterior experiência sexual ou da existência de relacionamento
amoroso entre ela e o agente. Isso porque, a despeito de parte da doutrina sustentar o entendimento de que
ainda se mantém a discussão sobre vulnerabilidade absoluta e vulnerabilidade relativa, o tipo penal do art.
217-A do CP não traz como elementar a expressão “vulnerável”. É certo que o nomem iuris que a Lei
132

12.015/2009 atribui ao citado preceito legal estipula o termo “estupro de vulnerável”. Entretanto, como
salientado, a “vulnerabilidade” não integra o preceito primário do tipo. Na verdade, o legislador estabelece
três situações distintas em que a vítima poderá se enquadrar em posição de vulnerabilidade, dentre elas: “Ter
conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos”. Não cabe, destarte, ao
aplicador do direito relativizar esse dado objetivo, com o fim de excluir a tipicidade da conduta. A propósito,
há entendimento doutrinário no viés de que: “Hoje, com louvor, visando acabar, de uma vez por todas, com
essa discussão, surge em nosso ordenamento jurídico penal, fruto da Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, o
delito que se convencionou denominar de estupro de vulnerável, justamente para identificar a situação de
vulnerabilidade que se encontra a vítima. Agora, não poderão os Tribunais entender de outra forma quando a
vítima do ato sexual for alguém menor de 14 (quatorze) anos. [...]. O tipo não está presumindo nada, ou seja,
está tão somente proibindo que alguém tenha conjunção carnal ou pratique outro ato libidinoso com menor
de 14 anos, bem como com aqueles mencionados no § 1º do art. 217-A do Código Penal. Como dissemos
anteriormente, existe um critério objetivo para análise da figura típica, vale dizer, a idade da vítima”. Dessa
forma, não se pode qualificar ou etiquetar comportamento de crianças, de modo a desviar a análise da
conduta criminosa ou justificá-la. Expressões como “amadurecimento sexual da adolescente”, “experiência
sexual pretérita da vítima” ou mesmo a utilização das expressões “criança prostituta” ou “criança sedutora”
ainda frequentam o discurso jurisprudencial, como se o reconhecimento de tais circunstâncias, em alguma
medida, justificasse os crimes sexuais perpetrados. Esse posicionamento, todavia, implica a impropriedade de
se julgar a vítima da ação delitiva para, a partir daí, julgar-se o agente. Refuta-se, ademais, o frágil argumento
de que o desenvolvimento da sociedade e dos costumes possa configurar fator que não permita a
subsistência de uma presunção que toma como base a innocentia consilli da vítima. Basta um rápido exame
da história das ideias penais – e, em particular, das opções de política criminal que deram ensejo às sucessivas
normatizações do Direito Penal brasileiro – para se constatar que o caminho da “modernidade” é antípoda a
essa espécie de proposição. Deveras, de um Estado ausente e de um Direito Penal indiferente à proteção da
dignidade sexual de crianças e 26 adolescentes, evoluiu-se, paulatinamente, para uma Política Social e
Criminal de redobrada preocupação com o saudável crescimento físico, mental e afetivo do componente
infanto-juvenil de nossa população, preocupação que passou a ser compartilhada entre o Estado, a sociedade
e a família, com reflexos na dogmática penal. Assim é que novas tipificações vieram reforçar a opção do
Estado brasileiro – na linha de similar esforço mundial – de combater todo tipo de violência, sobretudo a
sexual, contra crianças e adolescentes. É anacrônico, portanto, qualquer discurso que procure considerar a
modernidade, a evolução moral dos costumes sociais e o acesso à informação como fatores que se
contrapõem à natural tendência civilizatória de proteger certos grupos de pessoas física, biológica, social ou
psiquicamente fragilizadas. Além disso, não há que se falar em aplicação do princípio da adequação social,
porquanto no julgamento de caso de estupro de vulnerável deve-se evitar carga de subjetivismo, sob pena de
ocorrência de possíveis danos relevantes ao bem jurídico tutelado – o saudável crescimento físico, psíquico e
emocional de crianças e adolescentes – que, recorde-se, conta com proteção constitucional e
infraconstitucional, não sujeito a relativizações. Ora, a tentativa de não conferir o necessário relevo à prática
de relações sexuais entre casais em que uma das partes (em regra, a mulher) é menor de 14 anos, com
respaldo nos costumes sociais ou na tradição local, tem raízes em uma cultura sexista – ainda muito
impregnada no âmago da sociedade ocidental, sobretudo em comunidades provincianas, segundo a qual
meninas de tenra idade, já informadas dos assuntos da sexualidade, estão aptas a manter relacionamentos
duradouros e estáveis (envolvendo, obviamente, a prática sexual), com pessoas adultas. Ressalta-se, por fim,
que praticamente todos os países do mundo repudiam o sexo entre um adulto e um adolescente – e, mais
ainda, com uma criança – e tipificam como crime a conduta de praticar atos libidinosos com pessoa ainda
incapaz de ter o seu consentimento reconhecido como válido.
133

Nos casos em que haja condenação a pena privativa de liberdade e multa, cumprida a
primeira (ou a restritiva de direitos que eventualmente a tenha substituído), o
inadimplemento da sanção pecuniária não obsta o reconhecimento da extinção da
punibilidade.

REsp 1.519.777-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 26/8/2015, DJe 10/9/2015
(Informativo 568).

TEMA: Direito penal. Extinção da punibilidade independentemente do adimplemento da pena de multa.


Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 931.

INFORMAÇÕES: A Lei 9.268/1996 deu nova redação ao art. 51 do CP e extirpou do diploma jurídico a
possibilidade de conversão da pena de multa em detenção, no caso de inadimplemento da sanção pecuniária.
Após a alteração legislativa, o mencionado artigo passou a vigorar com a seguinte redação: “Transitada em
julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da
legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e
suspensivas da prescrição”. Portanto, diante da nova redação dada ao CP, a pena de multa não mais possui o
condão de constranger o direito à locomoção do sentenciado (STF: AgRg no HC 81.480-SP, Primeira Turma, DJ
5/4/2002; e HC 73.758-SP, Segunda Turma, DJ 24/9/1999). É imperioso frisar que a nova redação do art. 51 do
CP trata da pena de multa como dívida de valor já a partir do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória, ou seja, em momento, inclusive, anterior ao próprio cumprimento da pena privativa de
liberdade ou da restritiva de direitos. Isso implica afirmar que o jus puniendi do Estado exaure-se ao fim da
execução da pena privativa de liberdade ou da restritiva de direitos, porquanto, em nenhum momento,
engloba a pena de multa, considerada dívida de valor a partir do trânsito em julgado da 27 sentença penal
condenatória. Entendimento oposto, ou seja, a possibilidade de constrição da liberdade daquele que é
apenado somente em razão de sanção pecuniária, consistiria em legitimação da prisão por dívida, em afronta,
portanto, ao disposto no art. 5º, LXVII, da CF e, ainda, no art. 7º, 7, da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), cujo texto estabelece que “ninguém deve ser detido por dívida”.
Dessa forma, o reconhecimento da pena de multa como dívida de valor atribui à sanção pecuniária caráter
extrapenal. Se a natureza da multa, após o trânsito em julgado da condenação, fosse compreendida como de
caráter penal, mesmo diante da extinção da pena privativa de liberdade ou da restritiva de direitos pelo
cumprimento, os efeitos da sentença se conservariam até o adimplemento da pena pecuniária, porquanto não
reconhecida a extinção da punibilidade do apenado. Após a alteração legislativa que considerou a pena de
multa como dívida de valor, deve-se assinalar também a alteração da competência para a execução da sanção,
exclusiva, então, da Fazenda Pública, conforme disposto no enunciado da Súmula 521 do STJ: “A legitimidade
para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da
Fazenda Pública”. Portanto, extinta a pena privativa de liberdade (ou restritiva de direitos) pelo seu
cumprimento, o inadimplemento da pena de multa não obsta a extinção da punibilidade do apenado,
porquanto, após a nova redação do art. 51 do CP, dada pela Lei 9.268/1996, a pena pecuniária é considerada
dívida de valor e, desse modo, possui caráter extrapenal, de forma que sua execução é de competência
exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.
134

É suficiente, para a comprovação da materialidade do delito previsto no art. 184, § 2º, do


CP, a perícia realizada, por amostragem, sobre os aspectos externos do material
apreendido, sendo desnecessária a identificação dos titulares dos direitos autorais violados
ou de quem os represente.

REsp 1.456.239-MG e REsp 1.485.832-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em
12/8/2015, DJe 21/8/2015 (Informativo 567).

TEMA: Direito penal e processual penal. Comprovação da materialidade do delito de violação de direito
autoral. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 926.

INFORMAÇÕES: No que diz respeito à comprovação da materialidade dos delitos contra a propriedade
intelectual, a Lei 10.695/2003 (Lei Antipirataria), além de modificar o art. 184 do CP, incluiu, para facilitar a
apuração desses crimes, os arts. 530-A e seguintes no CPP, prevendo a possibilidade de elaboração de laudo
pericial por apenas um perito. Previu-se, também, nos crimes de ação penal pública incondicionada - aos
quais se aplica o procedimento previsto nos arts. 530-B a 530-H -, a possibilidade de a autoridade policial agir
de ofício, apreendendo o produto ilícito e tomando as medidas necessárias para cessar a atividade criminosa.
Daí o debate sobre: (a) se a materialidade do crime previsto no art. 184, § 2º, do CP pode ser comprovada
mediante laudo pericial feito por amostragem do produto apreendido; (b) se é suficiente a análise de
características externas do material apreendido para a aferição da falsidade necessária à tipificação do delito
descrito no art. 184, § 2º, do CP; e, ainda, (c) se, para a configuração do delito em questão, é dispensável a
identificação individualizada dos titulares dos direitos autorais violados ou de quem os represente. Quanto ao
primeiro ponto em debate (a), realmente, o art. 530-D do CPP dispõe que "Subsequente à apreensão, será
realizada, por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia sobre todos os bens
apreendidos e elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito policial ou o processo". Entretanto, ainda
que esse dispositivo legal literalmente disponha que a perícia deve ser realizada sobre "todos os bens
apreendidos", a materialidade do crime previsto no art. 184, § 2º, do CP pode ser comprovada mediante laudo
28 pericial feito por amostragem do produto apreendido, já que basta a apreensão de um único objeto para
que, realizada a perícia e identificada a falsidade do bem periciado, tenha-se como configurado o delito em
questão. Nesse sentido, a Sexta Turma do STJ (HC 213.758-SP, DJe 10/4/2013) já definiu que "há critérios
estatísticos aptos a permitir que o perito conclua sobre a falsidade ou autenticidade dos bens a partir de
exemplares representativos da amostra apreendida [...] contraproducente a análise de dezenas ou mesmo de
centenas de produtos praticamente idênticos para fins de comprovação da materialidade do delito de
violação de direito autoral. Entender de forma diversa o disposto no art. 530-D do Código de Processo Penal
apenas dificultaria a apuração do delito em questão e retardaria o término do processo judicial, em
inobservância ao princípio constitucional da razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII)", de modo que
"a exigência do legislador de que a perícia seja realizada sobre todos os bens apreendidos se presta, na
verdade, não para fins de comprovação da materialidade delitiva, mas para fins de dosimetria da pena, mais
especificamente para a exasperação da reprimenda-base, uma vez que se mostra mais acentuada a
reprovabilidade do agente que reproduz, por exemplo, com intuito de lucro, 500 obras intelectuais, [...] do que
aquele que, nas mesmas condições reproduz apenas 20". Do mesmo modo, a Quinta Turma do STJ (AgRg no
REsp 1.451.608-SP, DJe 5/6/2015) também entende que a materialidade do delito previsto no art. 184, § 2º, do
CP pode ser comprovada mediante perícia por amostragem no material apreendido. Em relação ao segundo
ponto (b), deve-se destacar que o STJ já possui o entendimento de que é dispensável excesso de formalismo
para a constatação da materialidade do crime de violação de direito autoral, de modo que a simples análise
de características externas dos objetos apreendidos é suficiente para a aferição da falsidade necessária à
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configuração do delito descrito no art. 184, § 2º, do CP. Nessa perspectiva, registre-se que, conforme a Quinta
Turma do STJ, a análise das características externas, tais como a padronização das impressões gráficas,
presença de logotipo padrão, códigos IFPI, nome do fabricante, cor do disco, e a conclusão de que os objetos
não possuem características de fabricação comuns, são suficientes a atestar a falsificação, "até mesmo porque,
na maioria dos casos, o conteúdo da mídia falsificada é idêntico ao produto original, situando a diferença
unicamente em seus aspectos externos" (AgRg no REsp 1.359.458-MG, DJe 19/12/2013). Ademais, seguindo o
intuito da legislação pátria de facilitar o combate à pirataria, não seria razoável exigir minúcias no laudo
pericial, como a análise do conteúdo das mídias apreendidas, mesmo porque "a caracterização da
materialidade delitiva [...] pode ser afirmada [até mesmo] por exames visuais sobre a mídia fraudada" (AgRg
no REsp 1.441.840-MG, Quinta Turma, DJe 10/6/2014). Com a mesma compreensão, a Sexta Turma do STJ
(AgRg no REsp 1.499.185-MG, DJe 9/3/2015). Por fim, no tocante à terceira questão em debate (c), de fato,
para a configuração do crime em questão, é dispensável a identificação individualizada dos titulares dos
direitos autorais violados ou de quem os represente. Isso porque a violação de direito autoral extrapola a
individualidade do titular do direito, devendo ser tratada como ofensa ao Estado e a toda a coletividade, visto
que acarreta a diminuição na arrecadação de impostos, reduz a oferta de empregos formais, causa prejuízo
aos consumidores e aos proprietários legítimos e fortalece o poder paralelo e a prática de atividades
criminosas conexas à venda desses bens, aparentemente inofensiva. Sob essa orientação, posicionam-se tanto
a Quinta Turma (HC 273.164-ES, DJe 5/2/2014) quanto a Sexta Turma (AgRg no AREsp 416.554-SC, DJe
26/3/2015) do STJ. Além disso, o tipo penal descrito no art. 184, § 2º, do CP, é perseguido, nos termos do art.
186, II, do mesmo diploma normativo, mediante ação penal pública incondicionada, de modo que não é
exigida nenhuma manifestação do detentor do direito autoral violado para que se dê início à ação penal.
Consequentemente, não é coerente se exigir a sua individualização para a configuração do delito em questão.
Saliente-se, ainda, que o delito previsto no art. 184, § 2º, do CP é de natureza formal. 29 Portanto, não
demanda, para sua consumação, a ocorrência de resultado naturalístico, o que corrobora a prescindibilidade
de identificação dos titulares dos direitos autorais violados ou de quem os represente para a configuração do
crime em questão.

A existência de sistema de segurança ou de vigilância eletrônica não torna impossível, por si


só, o crime de furto cometido no interior de estabelecimento comercial.

REsp 1.385.621-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 27/5/2015, DJe 2/6/2015
(Informativo 563).

TEMA: Direito penal. Furto praticado no interior de estabelecimento comercial guarnecido por mecanismo de
vigilância e de segurança. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 924.

INFORMAÇÕES: O crime impossível – subordinado às regras da adequação típica – se manifesta por meio de
duas modalidades clássicas (art. 17 do CP): (a) a ineficácia absoluta dos meios empregados pelo agente e (b) a
absoluta impropriedade do objeto. A primeira decorre dos meios empregados pelo agente nos atos
executivos. A segunda refere-se à hipótese em que o objeto do crime não existe ou lhe falta alguma qualidade
imprescindível para configurar-se a infração. No tocante à primeira modalidade (em torno da qual surge a
discussão aqui enfrentada), há que se distinguir a insuficiência do meio (inidoneidade relativa) – deficiência de
forças para alcançar o fim delituoso e determinada por razões de qualidade, quantidade, ou de modo – da
ausência completa de potencialidade causal (inidoneidade absoluta), observando-se que a primeira
(diferentemente da segunda) não torna absolutamente impossível o resultado que consuma o delito, pois o
fortuito pode suprir a insuficiência do meio empregado. No caso de furto praticado no interior de
estabelecimento comercial guarnecido por mecanismo de vigilância e de segurança, tem-se que, embora os
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sistemas eletrônicos de vigilância tenham por objetivo evitar a ocorrência de furtos, sua eficiência apenas
minimiza as perdas dos comerciantes, visto que não impedem, de modo absoluto, a ocorrência de subtrações
no interior de estabelecimentos comerciais. Ora, não se pode afirmar, em um juízo normativo de perigo
potencial, que o equipamento funcionará normalmente, que haverá vigilante a observar todas as câmeras
durante todo o tempo, que as devidas providências de abordagem do agente serão adotadas após a
constatação do ilícito etc. Conquanto se possa crer que, sob a perspectiva do que normalmente acontece, na
maior parte dos casos o agente não logrará consumar a subtração de produtos do interior do
estabelecimento comercial guarnecido por mecanismos de vigilância e de segurança, sempre haverá o risco
de que providências tomadas, por qualquer motivo, não frustrem a ação delitiva. Além disso, os atos do
agente não devem ser apreciados isoladamente, mas em sua totalidade, uma vez que o criminoso pode se
valer de atos inidôneos no início da execução, mas ante a sua indiscutível inutilidade, passar a praticar atos
idôneos. Portanto, na hipótese aqui analisada, o meio empregado pelo agente é de inidoneidade relativa,
visto que há possibilidade (remota) de consumação do delito. Sendo assim, se a ineficácia do meio deu-se
apenas de forma relativa, não é possível o reconhecimento do instituto do crime impossível previsto no art. 17
do CP.

É de perigo abstrato o crime previsto no art. 310 do Código de Trânsito Brasileiro. Assim,
não é 30 exigível, para o aperfeiçoamento do crime, a ocorrência de lesão ou de perigo de
dano concreto na conduta de quem permite, confia ou entrega a direção de veículo
automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir
suspenso, ou ainda a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez,
não esteja em condições de conduzi-lo com segurança.

REsp 1.485.830-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira
Seção, julgado em 11/3/2015, DJe 29/5/2015 (Informativo 563).

TEMA: Direito penal. Caracterização do crime de entrega de direção de veículo automotor a pessoa não
habilitada. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 901.

INFORMAÇÕES: Ao contrário do que estabelece o crime imediatamente anterior (art. 309), ou mesmo o
posterior (art. 311), nos quais o tipo exige que a ação se dê “gerando perigo de dano”, não há tal indicação na
figura delitiva prevista no art. 310. Pode parecer uma incoerência que se exija a produção de perigo de dano
para punir quem dirige veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação
(art. 309) e se dispense o risco concreto de dano para quem contribui para tal conduta, entregando o
automóvel a quem sabe não habilitado ou, o que é pior, a quem notoriamente não se encontra em condições
físicas ou psíquicas, pelas circunstâncias indicadas no tipo penal, de conduzir veículo automotor. Duas
considerações, porém, enfraquecem essa aparente contradição. Em primeiro lugar, o legislador foi claro, com
a redação dada aos arts. 309 e 311, em não exigir a geração concreta de risco na conduta positivada no art.
310. Poderia fazê-lo, mas preferiu contentar-se com a deliberada criação de um risco para um número
indeterminado de pessoas por quem permite a outrem, nas situações indicadas, a condução de veículo
automotor em via pública. Em segundo lugar, não há total identidade das situações previstas nos arts. 309 e
310. Naquela, cinge-se o tipo a punir quem dirige sem habilitação; nesta, pune-se quem permite, confia ou
entrega a direção de veículo automotor tanto a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o
direito de dirigir suspenso quanto a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não
esteja em condições de conduzi-lo com segurança. Trata-se, na verdade, de uma visão que deve repousar
mais corretamente no incremento do risco ocasionado com a entrega da direção de veículo para pessoa não
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habilitada ou em quaisquer das outras hipóteses legais. Conforme entendimento doutrinário, em todas essas
situações, a definição do risco permitido delimita, concretamente, o dever de cuidado para realizar a ação
perigosa de dirigir veículo automotor em vias urbanas e rurais, explicando o atributo objetivo contido no
dever de cuidado objetivo. A violação da norma constitui a criação de um risco não permitido, culminando,
com o desvalor da ação, na lesão ao dever de cuidado objetivo. Por todo exposto, afigura-se razoável atribuir
ao crime materializado no art. 310 a natureza de crime de perigo abstrato, ou, sob a ótica ex ante, de crime de
perigo abstratoconcreto, em que, embora não baste a mera realização de uma conduta, não se exige, a seu
turno, a criação de ameaça concreta a algum bem jurídico e muito menos lesão a ele. Basta a produção de um
ambiente de perigo em potencial, em abstrato, de modo que a atividade descrita no tipo penal crie condições
para afetar os interesses juridicamente relevantes, não condicionados, porém, à efetiva ameaça de um
determinado bem jurídico. Embora seja legítimo aspirar a um Direito Penal de mínima intervenção, não pode
a dogmática penal descurar de seu objetivo de proteger bens jurídicos de reconhecido relevo, assim
entendidos, na dicção de Claus Roxin, como “interesses humanos necessitados de proteção penal”, qual a
segurança do tráfego viário. Não se pode, assim, esperar a concretização de danos ou exigir a demonstração
de riscos concretos a terceiros para a punição de condutas que, a priori, representam potencial produção de
danos a pessoas indeterminadas, que trafeguem ou caminhem no espaço público. O subsistema social do
tráfego viário exige o respeito a regras de observância generalizada, sem o qual se enfraquece o princípio da
confiança (aqui entendido, conforme o pensamento de Roxin, como princípio de orientação capaz de indicar
os limites do cuidado objetivo esperado ou do risco permitido), indispensável para o bom funcionamento do
trânsito e a segurança de todos. Não se exclui, por óbvio, a possibilidade de ocorrerem situações nas quais a
total ausência de risco potencial à segurança viária afaste a incidência do direito penal, como se poderia
concluir do exemplo de 31 quem, desejando carregar uma caminhonete com areia, pede ao seu ajudante, não
habilitado, que realize uma manobra de poucos metros, em área rural desabitada e sem movimento, para
melhor posicionar a carroceria do automóvel. Faltaria tipicidade material a tal comportamento, absolutamente
inidôneo para pôr em risco a segurança de terceiros. Portanto, na linha de entendimento de autorizada
doutrina, o art. 310, mais do que tipificar uma conduta idônea a lesionar, estabelece um dever de garante ao
possuidor do veículo automotor. Neste caso, estabelece-se um dever de não permitir, confiar ou entregar a
direção de um automóvel a determinadas pessoas, indicadas no tipo penal, com ou sem habilitação, com
problemas psíquicos ou físicos, ou embriagadas, ante o perigo geral que encerra a condução de um veículo
nessas condições. Precedentes citados: RHC 48.817-MG, Quinta Turma, DJe 28/11/2014; e AgRg no RHC
41.922-MG, Quinta Turma, DJe 15/4/2014.

É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o condenado, em


regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa extramuros.

REsp 1.381.315-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 13/5/2015, DJe 19/5/2015
(Informativo 562).

TEMA: Direito penal. Remição de pena em razão de atividade laborativa extramuros. Recurso repetitivo (art.
543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 917.

INFORMAÇÕES: Segundo o art. 126, caput, da Lei de Execução Penal (LEP), “O condenado que cumpre a pena
em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da
pena”. Ainda, dispõe o § 6º do referido dispositivo legal que: “O condenado que cumpre pena em regime
aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino
regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena ou do período de prova, observado
o disposto no inciso I do § 1º deste artigo”. Constata-se que os dispositivos supracitados não fizeram
138

nenhuma distinção ou referência, para fins de remição de parte do tempo de execução da pena, quanto ao
local em que deve ser desempenhada a atividade laborativa, de modo que se mostra indiferente o fato de o
trabalho ser exercido dentro ou fora do ambiente carcerário. Na verdade, a lei exige apenas que o condenado
esteja cumprindo a pena em regime fechado ou semiaberto (HC 206.313-RJ, Quinta Turma, DJe 11/12/2013).
Ademais, se o condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto pode remir parte da reprimenda
pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, não há razões para não considerar o
trabalho extramuros de quem cumpre pena em regime semiaberto como fator de contagem do tempo para
fins de remição. Além disso, insta salientar que o art. 36 da LEP somente prescreve a exigência de que o
trabalho externo seja exercido, pelos presos em regime fechado, por meio de “serviço ou obras públicas
realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as
cautelas contra a fuga e em favor da disciplina”. Dessa forma, em homenagem, sobretudo, ao princípio da
legalidade, não cabe restringir a futura concessão de remição da pena somente àqueles que prestam serviço
nas dependências do estabelecimento prisional, tampouco deixar de recompensar o apenado que, cumprindo
a pena no regime semiaberto, exerça atividade laborativa, ainda que extramuros. Na verdade, a LEP direciona-
se a premiar o apenado que demonstra esforço em se ressocializar e que busca, na atividade laboral, um
incentivo maior à reintegração social: “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença
ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do
internado” (art. 1º). A ausência de distinção pela lei, para fins de remição, quanto à espécie ou ao local em que
o trabalho é realizado, espelha a própria função ressocializadora da pena, inserindo o condenado no mercado
de trabalho e no 32 próprio meio social, minimizando suas chances de recidiva delitiva. De mais a mais,
ausentes, por deficiência estrutural ou funcional do Sistema Penitenciário, as condições que permitam a oferta
de trabalho digno para todos os apenados aptos à atividade laborativa, não se há de impor ao condenado
que exerce trabalho extramuros os ônus decorrentes dessa ineficiência. Cabe ressaltar que a supervisão direta
do próprio trabalho deve ficar a cargo do patrão do apenado, cumprindo à administração carcerária a
supervisão sobre a regularidade do trabalho. Por fim, se concedida ao apenado pelo Juízo das Execuções
Criminais a possibilidade de realização de trabalho extramuros, mostrar-se-ia, no mínimo, contraditório o
Estado-Juiz permitir a realização dessa atividade fora do estabelecimento prisional, com vistas à
ressocialização do apenado, e, ao mesmo tempo, ilidir o benefício da remição.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

2022

Sobrevindo condenação por pena privativa de liberdade no curso da execução de pena


restritiva de direitos, as penas serão objeto de unificação, com a reconversão da pena
alternativa em privativa de liberdade, ressalvada a possibilidade de cumprimento
simultâneo aos apenados em regime aberto e vedada a unificação automática nos casos em
que a condenação substituída por pena alternativa é superveniente.

REsp 1.918.287-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por maioria,
julgado em 27/04/2022. (Tema 1106) – Info 736

Informações: O art. 44, § 5º, do Código Penal trata de hipótese de conversão facultativa da pena alternativa,
ao dispor que "sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro, o juiz da execução penal
decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena
substitutiva anterior".

Já a Lei de Execuções Penais prevê no art. 181 a hipótese de conversão das penas de prestação de serviços à
comunidade e limitação de fim de semana em pena corporal, quando o condenado sofrer condenação "por
outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha sido suspensa".

Ou seja, a legislação prevê que a conversão será possível quando o apenado em cumprimento de pena
restritiva de direitos vem a ser condenado à pena privativa de liberdade.

Dessa forma, os arts. 44, § 5º, do Código Penal e 181, § 1º, e, da Lei n. 7.210/1984, não amparam a conversão
na situação inversa, qual seja, aquela em que o apenado já se encontra em cumprimento de pena privativa de
liberdade e sobrevém nova condenação em que a pena corporal foi substituída por pena alternativa.

Em tais casos, a conversão não conta com o indispensável amparo legal e ainda ofende a coisa julgada, tendo
em vista que o benefício foi concedido em sentença definitiva e, portanto, somente comporta a conversão nas
situações expressamente previstas em lei, em especial no art. 44, §§ 4º e 5º, do Código Penal.

A pena restritiva de direitos serve como uma alternativa ao cárcere. Logo, se o julgador reputou adequada a
concessão do benefício, a situação do condenado não pode ser agravada por meio de interpretação que
amplia o alcance do § 5º do art. 44 do Código Penal em seu prejuízo, notadamente à vista da possibilidade de
cumprimento sucessivo das penas.
140

2021

É reconhecida a retroatividade do patamar estabelecido no art. 112, V, da Lei n.


13.964/2019, àqueles apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou
equiparado sem resultado morte, não sejam reincidentes em delito de natureza semelhante.

REsp 1.910.240-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 26/05/2021, DJe 31/05/2021.
(Tema 1084). Informativo 699.

TEMA: Execução penal. Progressão de regime. Alterações promovidas pela Lei n. 13.964/2019 (Pacote
Anticrime). Diferenciação entre reincidência genérica e específica. Ausência de previsão dos lapsos relativos
aos reincidentes genéricos. Lacuna legal. Integração da norma. Aplicação dos patamares previstos para os
apenados primários. Retroatividade da lei penal mais benéfica. Tema 1084.

INFORMAÇÕES: A Lei n. 13.964/2019, intitulada Pacote Anticrime, promoveu profundas alterações no marco
normativo referente aos lapsos exigidos para o alcance da progressão a regime menos gravoso, tendo sido
expressamente revogadas as disposições do art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.072/1990 e estabelecidos patamares
calcados não apenas na natureza do delito, mas também no caráter da reincidência, seja ela genérica ou
específica. Evidenciada a ausência de previsão dos parâmetros relativos aos apenados condenados por crime
hediondo ou equiparado, mas reincidentes genéricos, impõe-se ao Juízo da execução penal a integração da
norma sob análise, de modo que, dado o óbice à analogia in malam partem, é imperiosa a aplicação aos
reincidentes genéricos dos lapsos de progressão referentes aos sentenciados primários. Ainda que
provavelmente não tenha sido essa a intenção do legislador, é irrefutável que de lege lata, a incidência
retroativa do art. 112, V, da Lei n. 7.210/1984, quanto à hipótese da lacuna legal relativa aos apenados
condenados por crime hediondo ou equiparado e reincidentes genéricos, instituiu conjuntura mais favorável
que o anterior lapso de 3/5, a permitir, então, a retroatividade da lei penal mais benigna. Dadas essas
ponderações, a hipótese em análise trata da incidência de lei penal mais benéfica ao apenado, condenado por
estupro, porém reincidente genérico, de forma que é mister o reconhecimento de sua retroatividade, dado
que o percentual por ela estabelecido - qual seja, de cumprimento de 40% das reprimendas impostas -, é
inferior à fração de 3/5, anteriormente exigida para a progressão de condenados por crimes hediondos,
fossem reincidentes genéricos ou específicos. Desse modo, para os fins previstos no art. 1.036 do Código de
Processo Civil, fixa-se a seguinte tese: É reconhecida a retroatividade do patamar estabelecido no art. 112, V,
da Lei n. 13.964/2019, àqueles apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem
resultado morte, não sejam reincidentes em delito de natureza semelhante.
141

2020

É desnecessária a comprovação de prejuízo para o reconhecimento da nulidade decorrente


da não observância do rito previsto no art. 400 do Código de Processo Penal, o qual
determina que o interrogatório do acusado seja o último ato a ser realizado.

REsp 1.808.389-AM, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por maioria, julgado em 20/10/2020, DJe
23/11/2020

TEMA: Tráfico de drogas. Momento do interrogatório. Último ato da instrução. Maior efetividade a princípios
constitucionais. Desrespeito. Nulidade do processo. Comprovação de prejuízo. Desnecessidade. Preclusão.
Inaplicabilidade.

INFORMAÇÕES: Ao disciplinar a instrução processual no rito comum ordinário, o caput do art. 400 do
Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei n. 11.719/2008, determina que o interrogatório do
acusado seja o último ato a ser realizado. O art. 57 da Lei de Drogas, por sua vez, prevê momento
específico e diverso para o interrogatório do réu. No entanto, por ocasião do julgamento do HC 127.900/
AM (Rel. Ministro Dias Toffoli), o Pleno do Supremo Tribunal Federal realizou uma releitura do art. 400
do Código de Processo Penal e firmou o entendimento de que o rito processual para o interrogatório,
previsto no referido dispositivo, deve ser aplicado a todos os procedimentos regidos por leis especiais.
Isso porque a Lei n. 11.719/2008 (que deu nova redação ao referido art. 400) prepondera sobre as
disposições em sentido contrário delineadas em legislação especial, por se tratar de lei posterior mais
benéfica ao acusado (lex mitior), visto que assegura maior efetividade a princípios constitucionais,
notadamente aos do contraditório e da ampla defesa. Dito isso, para que eventual nulidade seja
reconhecida em decorrência da inversão da ordem do interrogatório, remanescem dois pontos a serem
previamente analisados: a) para que seja reconhecida a nulidade do feito, é necessário haver a demonstração
de efetivo prejuízo à defesa, à luz do princípio pas de nullité sans grief? e b) a matéria deve ser alegada no
primeiro momento processual oportuno, sob pena de preclusão? Em relação ao primeiro ponto, registra-se
que não se desconhece a existência de julgados desta Corte Superior de Justiça que, mesmo depois do
julgamento do referido HC 127.900/AM, passaram a exigir, em relação aos processos com instrução ainda em
curso, que, naqueles casos em que o interrogatório tivesse sido realizado no início da instrução, deveria haver
a comprovação de efetivo prejuízo à defesa para que fosse reconhecida a nulidade processual. No entanto,
ressalta-se que o Supremo Tribunal Federal, ante a magnitude constitucional de que se reveste o
interrogatório judicial, já teve diversas oportunidades de assentar que esse ato processual representa
meio viabilizador do exercício das prerrogativas constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Se
o interrogatório é um ato essencialmente de autodefesa, não se deu aos recorrentes a possibilidade de,
ao final da instrução criminal, esclarecer ao Magistrado eventuais fatos contra si alegados pelas
testemunhas, manifestar-se pessoalmente sobre a prova acusatória a eles dirigida e influenciar na
formação do convencimento do julgador. Portanto, se nem a doutrina nem a jurisprudência ignoram a
importância de que se reveste o interrogatório judicial - cuja natureza jurídica permite qualificá-lo como ato
de defesa -, não há como acolher o argumento do Tribunal de origem, no sentido de que a ausência de
demonstração de prejuízo impossibilitaria o reconhecimento da apontada nulidade. Não há como se imputar
à defesa do acusado o ônus de comprovar eventual prejuízo em decorrência de uma ilegalidade, para a
qual não deu causa e em processo que já resultou na sua própria condenação. Isso porque não há, num
processo penal, prejuízo maior do que uma condenação resultante de um procedimento que não
respeitou as diretrizes legais e que nem sequer observou determinadas garantias constitucionais do réu
142

(no caso, a do contraditório e a da ampla defesa). Como avaliar, na perspectiva de exigir-se a demonstração
do prejuízo, se o interrogatório realizado no início da instrução não trouxe nenhum prejuízo à defesa (tanto à
defesa técnica quanto à do próprio acusado - autodefesa)? Assim, exigir a comprovação de prejuízo para o
reconhecimento da nulidade decorrente da não observância do rito previsto no art. 400 do Código de
Processo Penal representa não apenas uma burla (escamoteada) ao que decidido pelo Supremo
Tribunal Federal no HC 127.900/AM, como também um esvaziamento das garantias constitucionais do
contraditório e, especialmente, da ampla defesa, uma forma de se esquivar do reconhecimento de uma
nulidade e uma maneira de se evitar a anulação de uma instrução probatória que, visivelmente, foi
realizada em franco desacordo com as referidas garantias constitucionais. Por fim, uma vez fixada a
compreensão pela desnecessidade de a defesa ter de demonstrar eventual prejuízo decorrente da inversão da
ordem do interrogatório dos réus, em processo do qual resultou a condenação, e porque o procedimento
adotado afrontou os princípios do contraditório e da ampla defesa, não há como condicionar o
reconhecimento da nulidade ao fato de a defesa arguir ou não o vício processual já na própria
audiência de instrução. Não incide na espécie, portanto, a preclusão. (Informativo n. 683)

2019

As tabelas de honorários elaboradas unilateralmente pelos Conselhos Seccionais da OAB


não vinculam o magistrado no momento de arbitrar o valor da remuneração a que faz jus o
defensor dativo que atua no processo penal; servem como referência para o
estabelecimento de valor que seja justo e que reflita o labor despendido pelo advogado.

REsp 1.656.322-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 23/10/2019,
DJe 04/11/2019 (Tema 984)

TEMA Defensor dativo. Tabelas de honorários elaboradas unilateralmente pelos Conselhos Seccionais da OAB.
Caráter vinculante. Inexistência. Tema 984.

INFORMAÇÕES: A indicação de advogado dativo, consoante o art. 22, § 1°, da Lei n. 8.906/1994, resulta em
arbitramento de honorários àquele profissional, os quais devem ser suportados pelo Estado, compreendido
como ente político a quem incumbia o dever de prestar a assistência judiciária. Assim, no caso da Justiça
estadual, tal incumbência é do ente federado respectivo. No que toca ao tema objeto deste Recurso, se há, de
um lado, os que defendem que a remuneração do defensor dativo não se enquadra em nenhuma das
hipóteses em que incidiria a Lei de Responsabilidade Fiscal, máxime porque sua atuação é imposta por
determinação judicial, de outro lado é inquestionável que os gastos com pagamentos de honorários são
suportados com o orçamento da Administração Pública, o que reflete, em alguma medida, o objetivo
proposto pela referida lei de controle fiscal. A condição sui generis da relação estabelecida pelo advogado e o
Estado, não só por se tratar de particular em colaboração com o Poder Público, mas também por decorrer de
determinação judicial, a fim de possibilitar exercício de uma garantia fundamental da parte, implica a
existência, ainda que transitória, de vínculo que o condiciona à prestação de uma atividade em benefício do
interesse público. Em outras palavras, a hipótese do parágrafo primeiro do art. 22 do Estatuto da OAB abrange
os casos em que não é possível celebrar, sem haver previsão legal, um contrato de honorários convencionais
143

com o Poder Público. O parágrafo segundo, por sua vez, compreende justamente os casos em que, a despeito
de possível o contrato de honorários convencionais, tal não se dá, por qualquer motivo. O arbitramento
judicial é a forma de se mensurarem, ante a ausência de contratação por escrito, os honorários devidos.
Apesar da indispensável provocação judicial, não se confundem com os honorários de sucumbência,
porquanto não possuem natureza processual e independem do resultado da demanda proposta.
Especificamente para essa hipótese é que o parágrafo segundo prevê, diversamente do que ocorre com o
parágrafo primeiro, que os valores a serem arbitrados não poderão ser inferiores aos previstos nas tabelas da
Seccionais da OAB. Assim, há um tratamento explicitamente distinto para ambos os casos. A utilização da
expressão "segundo tabela organizada", prevista no primeiro parágrafo do art. 22 do Estatuto da OAB, deve
ser entendida como referencial, visto que não se pode impor à Administração o pagamento de remuneração
com base em tabela produzida unilateralmente por entidade representativa de classe de natureza privada,
como contraprestação de serviços prestados, fora das hipóteses legais de contratação pública. Já a expressão
"não podendo ser inferiores", contida no parágrafo segundo, objetiva resguardar, no arbitramento de
honorários, a pretensão do advogado particular que não ajustou o valor devido pela prestação dos serviços
advocatícios. Portanto, na linha de precedentes das Seções de Direito Público, a tabela de honorários
produzida pela OAB deve servir apenas como referencial, sem nenhum conteúdo vinculativo, sob pena de, em
alguns casos, remunerar, com idêntico valor, advogados com diferentes dispêndios de tempo e labor, baseado
exclusivamente na tabela indicada pela entidade representativa. (Informativo n. 659.)

Nas hipóteses em que o juiz da causa considerar desproporcional a quantia indicada na


tabela da OAB em relação aos esforços despendidos pelo defensor dativo para os atos
processuais praticados, poderá, motivadamente, arbitrar outro valor.

REsp 1.656.322-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 23/10/2019,
DJe 04/11/2019 (Tema 984)

TEMA Advogado dativo. Honorários. Quantia indicada na tabela da OAB. Esforços despendidos.
Desproporção. Arbitramento motivado de outro valor. Possibilidade. Tema 984.

INFORMAÇÕES: A tabela de honorários produzida pela OAB deve servir apenas como referencial, sem
nenhum conteúdo vinculativo. Entretanto, ao fixar os honorários, o Magistrado, a despeito do caráter não
vinculativo da tabela da OAB, deve tê-la como norte para avaliação, em cada situação concreta, de todo o
trabalho desempenhado pelo profissional em confronto com os valores ali estabelecidos, de modo que o
resultado dessa análise constitua valor justo e que represente um equilíbrio entre aquele que é indicado pela
OAB e o extraído do labor e das despesas efetivas despendidas pelo defensor dativo, se, evidentemente, a
tabela não possibilite refletir a realidade constatada pelo magistrado. Em outras palavras, nas hipóteses em
que o juiz da causa considerar desproporcional a quantia indicada na tabela da OAB em relação aos esforços
despendidos pelo defensor dativo para os atos processuais praticados, poderá, motivadamente, arbitrar outro
valor. (Informativo n. 659.)
144

São vinculativas, quanto aos valores estabelecidos para os atos praticados por defensor
dativo, as tabelas produzidas mediante acordo entre o Poder Público, a Defensoria Pública e
a seccional da OAB.

REsp 1.656.322-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 23/10/2019,
DJe 04/11/2019 (Tema 984)

TEMA Advogado dativo. Honorários. Tabelas produzidas mediante acordo entre o Poder Público, a Defensoria
Pública e a seccional da OAB. Caráter vinculante. Tema 984.

INFORMAÇÕES: A tabela de honorários produzida pela OAB deve servir apenas como referencial, sem
nenhum conteúdo vinculativo. Entretanto, ao fixar os honorários, o Magistrado, a despeito do caráter não
vinculativo da tabela da OAB, deve tê-la como norte para avaliação, em cada situação concreta, de todo o
trabalho desempenhado pelo profissional em confronto com os valores ali estabelecidos, de modo que o
resultado dessa análise constitua valor justo e que represente um equilíbrio entre aquele que é indicado pela
OAB e o extraído do labor e das despesas efetivas despendidas pelo defensor dativo, se, evidentemente, a
tabela não possibilite refletir a realidade constatada pelo magistrado. Nesse contexto, as tabelas produzidas
com a convergência da Defensoria Pública, Poder Público e OAB devem ser observadas, isto é, passam a
ser vinculativas, visto que sua confecção, diversamente do que ocorre com a tabela geral, não se deu de
maneira unilateral, mas como resultado de acordo formulado pelas referidas entidades. (Informativo n.
658.)

Dado o disposto no art. 105, parágrafo único, II, da Constituição da República, possui
caráter vinculante a Tabela de Honorários da Justiça Federal, assim como tabelas similares
instituídas, eventualmente, pelos órgãos competentes das Justiças dos Estados e do Distrito
Federal, na forma dos arts 96, I, e 125, § 1º, parte final, da Constituição da República.

REsp 1.656.322-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 23/10/2019,
DJe 04/11/2019 (Tema 984)

TEMA Advogado dativo. Tabela de Honorários da Justiça Federal e similares. Caráter vinculante. Tema 984.

INFORMAÇÕES: A tabela de honorários produzida pela OAB deve servir apenas como referencial, sem
nenhum conteúdo vinculativo. Entretanto, ao fixar os honorários, o Magistrado, a despeito do caráter não
vinculativo da tabela da OAB, deve tê-la como norte para avaliação, em cada situação concreta, de todo o
trabalho desempenhado pelo profissional em confronto com os valores ali estabelecidos, de modo que o
resultado dessa análise constitua valor justo e que represente um equilíbrio entre aquele que é indicado pela
OAB e o extraído do labor e das despesas efetivas despendidas pelo defensor dativo, se, evidentemente, a
tabela não possibilite refletir a realidade constatada pelo magistrado. Nesse contexto, insta consignar que, no
âmbito da Justiça Federal, há tabela vinculativa de honorários de defensor dativo, por determinação contida
em Resolução do CNJ e ante disposição constitucional expressa (art. 105, parágrafo único, II, da CF) e que nas
Justiças dos Estados nada impede que seus órgãos competentes também assim disciplinem a questão, na
forma dos arts 96, I, e 125, § 1º, parte final, da Constituição da República. (Informativo n. 659.)
145

A unificação de penas não enseja a alteração da data-base para concessão de novos


benefícios executórios.

ProAfR no REsp 1.753.509-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
18/12/2018, DJe 11/03/2019 (Tema 1.006)

TEMA Execução penal. Unificação das penas. Superveniência do trânsito em julgado de sentença
condenatória. Termo a quo para concessão de novos benefícios. Ausência de previsão legal para alteração da
data-base. Tema 1.006.

INFORMAÇÕES: Sobre o tema, é imperioso salientar que as Turmas que compõem a Terceira Seção deste
Superior Tribunal possuíam o entendimento pacificado de que, sobrevindo condenação definitiva ao apenado,
por fato anterior ou posterior ao início da execução penal, a contagem do prazo para concessão de benefícios
é interrompida e deve ser feito novo cálculo, com base no somatório das penas. Ademais, o termo a quo para
concessão de futuros benefícios seria a data do trânsito em julgado da última sentença condenatória.
Consoante o entendimento do Supremo Tribunal Federal, a determinação de reinício do marco para
concessão de novos benefícios, após a unificação das reprimendas impostas ao sentenciado, advém da
possibilidade de que, determinada a regressão de regime, o apenado possa, em seguida, progredir, apenas
diante do cumprimento da fração necessária em relação ao quantum da pena recém incluída na guia de
execução. Portanto, verifica-se que não há previsão legal expressa que permita a alteração da data-base para
concessão de novas benesses, caso, depois de efetuada a soma das penas, o resultado não permita a
manutenção do regime atual. Da leitura dos arts. 111, parágrafo único, e 118, II, ambos da Lei de Execução
Penal, conclui-se que, diante da superveniência do trânsito em julgado de sentença condenatória, caso o
quantum de pena obtido após o somatório não permita a preservação do regime atual de cumprimento da
pena, o novo regime será então determinado por meio do resultado da soma, de forma que estará o
sentenciado sujeito à regressão. Desse modo, não se infere que, efetuada a soma das reprimendas impostas
ao sentenciado, é mister a alteração da data-base para concessão de novos benefícios, especialmente, ante a
ausência de disposição legal expressa. Aliás, mesmo diante das razões suscitadas pelo Supremo Tribunal
Federal, percebe-se que a regressão não é consequência imediata da unificação das penas, de maneira que o
somatório não implicaria necessariamente alteração da data-base. É imperioso consignar que a alteração da
data-base, em razão da superveniência do trânsito em julgado de sentença condenatória, procedimento que
não possui respaldo legal e é embasado apenas na regressão de regime, implica conjuntura incongruente, na
qual o condenado que já havia progredido é forçado a cumprir lapso superior àquele em que permaneceu em
regime mais gravoso para que novamente progrida. Por conseguinte, deduz-se da exposição supra que a
alteração do termo a quo referente à concessão de novos benefícios no bojo da execução da pena constitui
afronta ao princípio da legalidade e ofensa à individualização da pena, motivos pelos quais se faz necessária a
preservação do marco interruptivo anterior à unificação das penas, pois a alteração da data-base não é
consectário imediato do somatório das reprimendas impostas ao sentenciado. No entanto, ainda que assim
não fosse, o reinício do marco temporal permanece sem guarida se analisados seus efeitos na avaliação do
comportamento do reeducando. Caso o reeducando viesse a ser condenado pela prática de delito cometido
no curso da execução, a superveniência do trânsito em julgado da sentença condenatória, segundo a atual
jurisprudência desta Egrégia Corte, acarretaria a unificação das penas a ele impostas e a alteração da data-
base para concessão de novos benefícios, o que já haveria ocorrido em momento anterior, dada o registro da
respectiva falta grave, implicando indevido bis in idem. Aliás, se a condenação definitiva por delito praticado
após o início da execução da pena não se presta a ensejar a modificação da data-base para concessão de
novos benefícios, com maior razão não pode o trânsito em julgado de sentença condenatória prolatada em
face de delito anterior implicar o reinício do marco temporal, porquanto se trata de fato que nem sequer fora
146

praticado no curso do resgate das reprimendas impostas ao reeducando. Dessa maneira, não se pode alegar
que um fato praticado antes do início da execução da pena constitua parâmetro de avaliação do mérito do
apenado, uma vez que evento anterior ao início do resgate das reprimendas impostas não desmerece
hodiernamente o comportamento do sentenciado. Assim, um delito cometido antes de iniciar-se o
cumprimento da pena não possui o condão de subsidiar a análise do desenvolvimento da conduta do
condenado e, por conseguinte, não deve ser utilizado como critério para que se proceda ao desprezo do
período de pena cumprido antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, em face do reinício do
marco temporal relativo aos benefícios executórios. Por tanto, assim como já delimitado no julgado do REsp n.
1.557.461/SC, Terceira Seção, julgado em 22/02/2018, DJe 15/03/2018, é preciso ressaltar que a unificação de
nova condenação definitiva já possui o condão de recrudescer o quantum de pena restante a ser cumprido
pelo reeducando; logo, a alteração da database para concessão de novos benefícios, a despeito da ausência
de previsão legal, configura excesso de execução, com base apenas em argumentos extrajurídicos. O período
de cumprimento de pena desde o início da execução ou desde a última infração disciplinar não pode ser
desconsiderado, seja por delito ocorrido antes do início da execução da pena, seja por crime praticado depois
e já apontado como falta grave. (Informativo n. 644.)

2017

A ação penal nos crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher, no
âmbito doméstico e familiar, é pública incondicionada.

Pet 11.805-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 10/5/2017, DJe
17/5/2017. (Tema 177 – Revisão)

TEMA Crime de lesões corporais cometidos contra mulher no âmbito doméstico e familiar. Natureza da ação
penal. Revisão do entendimento do STJ. Adequação à orientação da ADI 4.424/DF – STF. Ação pública
incondicionada.

INFORMAÇÕES: Sobre o tema, a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do
Recurso Especial Representativo da Controvérsia n. 1.097.042-DF, submetido ao rito dos recursos especiais
repetitivos – regulado pelo art. 543-C do CPC de 1973 –, firmou o entendimento de que "a ação penal nos
crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher, no âmbito doméstico e familiar, é pública
condicionada à representação da vítima" (Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ acórdão Min. Jorge
Mussi, DJe 21/5/2010 – Tema 177). Todavia, em sessão realizada em 9/2/2012, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal, por maioria de votos, julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.424, com
efeito erga omnes, em que atribuiu orientação, conforme à Constituição, aos arts. 12, I, 16 e 41, todos da Lei n.
11.340/2006, acolhendo, assim, tese oposta à jurisprudência consolidada desta Corte, ao assentar que os
crimes de lesão corporal praticados contra a mulher no âmbito doméstico e familiar são de ação penal pública
incondicionada. Concluiu-se, em suma, que, não obstante permanecer imperiosa a representação para crimes
dispostos em leis diversas da Lei n. 9.099/95, como o de ameaça e os cometidos contra a dignidade sexual,
nas hipóteses de lesões corporais, mesmo que de natureza leve ou culposa, praticadas contra a mulher em
âmbito doméstico, a ação penal cabível seria pública incondicionada. Já em consonância com o referido
julgamento do Excelso Pretório acerca do tema, a Terceira Seção houve por bem editar a Súmula n. 542,
publicada no DJe 26/8/2015 – o que reforça, ainda mais, a revisão da tese fixada no REsp representativo da
controvérsia n. 1.097.042-DF, a fim de adequá-lo ao entendimento externado pela Suprema Corte,
147

considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia, nos termos dos
arts. 927, § 4º, do CPC de 2015 e 256-S do Regimento Interno do STJ (Emenda Regimental n. 24/2016).
(Informativo n. 604)

2016

O calendário prévio das saídas temporárias deverá ser fixado, obrigatoriamente, pelo Juízo
das execuções, não se lhe permitindo delegar à autoridade prisional a escolha das datas
específicas nas quais o apenado irá usufruir os benefícios. Inteligência da Súmula n. 520 do
STJ.

REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016
(Informativo n. 590).

TEMA: Direito processual penal. Competência para fixação de calendário prévio de saídas temporárias.
Recurso repetitivo. Tema 445.

INFORMAÇÕES: A teor da Súmula n. 520 do STJ, “O benefício de saída temporária no âmbito da execução
penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional”.
Decerto que a administração penitenciária será ouvida e poderá subsidiar o órgão julgador com informações
relacionadas à rotina carcerária, a fim de melhor escolher as datas que serão ideais para a fiscalização do
cumprimento dos horários e das condições do benefício. Todavia, o diretor do presídio não detém atribuição
legal, ou mesmo as garantias constitucionais da magistratura, para escolha, por discricionariedade, da data em
que, por conveniência do presídio ou por pedido particular do reeducando, deverá ser usufruída a saída
temporária do art. 122 da LEP. Apesar de haver entendimentos em contrário, a execução penal não constitui
mera atividade administrativa, mas implica tutela jurisdicional. Em análise crítica, escolher a data das saídas
temporárias acaba por conferir indevido poder decisório ao diretor do estabelecimento, com inegável
acúmulo de atribuições não previstas na legislação específica. A LEP é expressa ao estabelecer as hipóteses
nas quais é possível a interferência da autoridade administrativa, sempre em situações pontuais, mediante
comunicação do Poder Judiciário e do Ministério Público, tais como a permissão de saída do art. 120 da LEP, a
regressão cautelar de regime etc. Não há obstáculos relevantes que impeçam o juiz de indicar as datas das
saídas temporárias, de sorte que não se justifica e não se mostra legítima a pretensão de transferir ao diretor
do presídio tal competência (opção que, afastada da lei, traria também o acúmulo de atribuições no âmbito
administrativo, com inexorável incremento da demora na análise de pedidos particulares de reclusos). Por tais
motivos, deve permanecer incólume o entendimento consagrado na Súmula n. 520 do STJ.

Respeitado o limite anual de 35 dias, estabelecido pelo art. 124 da LEP, é cabível a
concessão de maior número de autorizações de curta duração.

REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016
(Informativo n. 590).

TEMA: Direito processual penal. Possibilidade de concessão de mais de cinco saídas temporárias por ano.
Recurso repetitivo. Tema 445.
148

INFORMAÇÕES: Prevaleceu o entendimento consagrado pela Terceira Seção do STJ nos REsps 1.166.251-RJ
(DJe 4/9/2012) e 1.176.264-RJ (DJe 3/9/2012), julgados sob o rito dos recursos repetitivos, de que é possível à
autoridade judicial, atenta às peculiaridades da execução penal, conceder maior número de saídas
temporárias (mais de 5 vezes durante o ano), de menor duração (inferior a 7 dias), desde que respeitado o
limite de 35 dias no ano, porquanto o fracionamento do benefício é 34 coerente com o processo reeducativo
e com a reinserção gradativa do apenado ao convívio social.

É recomendável que cada autorização de saída temporária do preso seja precedida de


decisão judicial motivada. Entretanto, se a apreciação individual do pedido estiver, por
deficiência exclusiva do aparato estatal, a interferir no direito subjetivo do apenado e no
escopo ressocializador da pena, deve ser reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade de
fixação de calendário anual de saídas temporárias por ato judicial único, observadas as
hipóteses de revogação automática do art. 125 da LEP.

REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016
(Informativo n. 590).

TEMA: Direito processual penal. Possibilidade de fixação de calendário anual de saídas temporárias por ato
judicial único. Recurso repetitivo. Tema 445.

INFORMAÇÕES: LEP. A Terceira Seção do STJ, no julgamento dos REsps 1.166.251-RJ (DJe 4/9/2012) e
1.176.264-RJ (DJe 3/9/2012), em análise de matéria repetitiva, fixou a interpretação do art. 122 e seguintes da
LEP, relacionados à saída temporária. Os precedentes deram ensejo à tese firmada sob o Tema 445: “A
autorização das saídas temporárias é ato jurisdicional da competência do Juízo das Execuções Penais. Não é
possível delegar ao administrador do presídio a fiscalização sobre diversas saídas temporárias, por se tratar de
atribuição exclusiva do magistrado das execuções penais, sujeita à ação fiscalizadora do Ministério Público.”
Também ensejaram esses precedentes a edição da Súmula n. 520 do STJ, verbis: “O benefício de saída
temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade
administrativa do estabelecimento prisional.” Vê-se que a jurisprudência majoritária do STJ repudia as
denominadas saídas temporárias em bloco ou automatizadas, por meio de ato judicial único, na medida em
que cada saída temporária deve ser precedida de decisão motivada do Juízo da execução, com a intervenção
do Ministério Público, sem a possibilidade de delegar ao administrador do presídio a escolha da data em que
o reeducando usufruirá do benefício. Contudo, insta destacar que o respeito aos precedentes também envolve
o dever de aperfeiçoá-los, adaptá-los ou mesmo revogá-los, quando não mais correspondam aos padrões de
congruência social e de consistência sistêmica, conforme doutrina. Com efeito, a deficiência do aparato estatal
e a exigência de decisão isolada para cada saída temporária – dada a necessidade de cumprimento de
diversas diligências para instrução e posterior decisão do pleito – estão a ocasionar excessiva demora na
análise do direito dos apenados, com inexorável e intolerável prejuízo ao seu processo de progressiva
ressocialização, objetivo-mor da execução das sanções criminais, conforme deixa claro o art. 1º da Lei n.
7.210/1984 (“Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão
criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”).
Inclusive, o STF, em diversas oportunidades, ao analisar acórdãos do STJ apoiados nos recursos repetitivos já
referidos, concedeu habeas corpus para reconhecer a possibilidade de renovação periódica da saída
temporária, que “permite ao juízo das execuções penais programar, observados os restritos limites legais, as
saídas subsequentes à da concessão do benefício, a fim de inibir eventual delonga ou até mesmo
149

impossibilidade no usufruto da saída não vigiada” (HC 129.167-RJ, Segunda Turma, DJe 11/12/2015). Nesse
contexto, as 35 autorizações de saída temporária não podem, na sua concreta aplicação, negligenciar a
natureza desse instituto, concebido como instrumento integrativo voltado para o restabelecimento do vínculo
familiar e para a reaproximação do recluso com a sociedade. É, por conseguinte, inoportuno e atentatório à
dignidade que o condenado permaneça no regime semiaberto e, por mera e exclusiva deficiência estrutural e
funcional do aparato estatal, não tenha condições de usufruir o benefício em questão, apesar de preencher os
requisitos legais. A situação de carência do aparato judicial reforça a necessidade de modificação da Tese 445
do STJ, para o fim de concretizar o benefício das saídas temporárias, sem retirar, por certo, da autoridade
judiciária a competência para a análise dos requisitos objetivo e subjetivo do benefício, sob a fiscalização do
Ministério Público. Pela estabilidade e pela coerência da interpretação do art. 123 da LEP, deve ser
reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade de a autoridade judicial, em única decisão motivada, autorizar
saídas temporárias anuais previamente programadas, observadas as hipóteses de revogação automática do
art. 125 da LEP. Ressalte-se que a autorização continuará a ser deferida por ato do Juízo da execução, ouvidos
previamente o Ministério Público e a administração penitenciária, e dependerá da satisfação dos requisitos
legais, idênticos para os benefícios futuros. A meta continua a ser a análise individual e célere de cada saída
temporária, de modo a proporcionar aos reeducandos a almejada jurisdição e a gradativa reinserção no meio
familiar e social. Entretanto, se a tramitação individual de cada pedido estiver, por questões locais, a interferir
no direito subjetivo do apenado e a ocasionar demora excessiva do Judiciário para proferir decisões sobre o
benefício, por carência exclusiva do aparato estatal, deve ser reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade
de o juiz estabelecer calendário prévio de saídas temporárias anuais em ato judicial único, respeitadas as
hipóteses de revogação automática do benefício.

As autorizações de saída temporária para visita à família e para participação em atividades


que concorram para o retorno ao convívio social, se limitadas a cinco vezes durante o ano,
deverão observar o prazo mínimo de 45 dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de
maior número de saídas temporárias de curta duração, já intercaladas durante os doze
meses do ano e muitas vezes sem pernoite, não se exige o intervalo previsto no art. 124, §
3°, da LEP.

REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016
(Informativo n. 590).

TEMA: Direito processual penal. Prazo mínimo entre saídas temporárias. Recurso repetitivo. Tema 445.

INFORMAÇÕES: A redação literal do art. 124, § 3º, da LEP estabelece que as autorizações de saídas
temporárias fora dos casos de estudo (frequência a cursos profissionalizantes, de instrução de ensino médio
ou superior) somente poderão ser concedidas com prazo mínimo de 45 dias de intervalo entre uma e outra
saída. Contudo, para demonstrar, de forma coerente, o alcance da norma legal, a disposição do § 3° deve ser
interpretada não de forma restritiva e isolada, mas em conjunto com o comando do art. 124 da LEP e com a
diretriz máxima do art. 1º do mesmo diploma legal, para concretizar o objetivo da saída temporária. De fato,
prevaleceu o entendimento consagrado pela Terceira Seção do STJ nos REsps 1.166.251-RJ (DJe 4/9/2012) e
1.176.264-RJ (DJe 3/9/2012) julgados sob o 36 rito dos recursos repetitivos, de que é possível à autoridade
judicial, atenta às peculiaridades da execução penal, conceder maior número de saídas temporárias (mais de 5
vezes durante o ano), de menor duração (inferior a 7 dias), desde que respeitado o limite de 35 dias no ano.
Realmente, nas hipóteses de visita à família ou de participação em atividades que concorram para o retorno
ao convívio social, fracionadas em até 5 vezes de até 7 dias, deve-se aplicar o prazo mínimo de 45 dias de
150

intervalo entre um benefício e outro. O longo período extramuros, o maior contato com a sociedade sem
fiscalização e a necessidade de estímulos ressocializadores ao longo do ano, de forma intervalada e
proporcional ao número de meses, justificam o intervalo exigido pela norma legal. O intervalo não pode,
entretanto, ser estendido, de maneira literal, aos casos de benefícios de curta duração, na medida em que
impediria a renovação das autorizações por mais de 5 períodos – providência já admitida pelo STJ – e criaria
verdadeira dificuldade à fruição dos 35 dias de saídas temporárias anuais, além de ir de encontro ao objetivo
de solidificação dos laços familiares, essencial para a recuperação do reeducando, razão pela qual a
interpretação do § 3° deve ser compatibilizada com a cabeça do art. 124 e com o art. 1º, ambos da LEP.
Portanto, na hipótese de maior número de saídas temporárias de curta duração, já intercaladas durante os 12
meses do ano e muitas vezes sem pernoite, não se exige o intervalo previsto no art. 124, § 3°, da LEP

Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial disposta no art.
89, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções
penais (tais como a prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas que,
para os fins do sursis processual, se apresentam tão somente como condições para sua
incidência.

REsp 1.498.034- RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 25/11/2015, DJe 2/12/2015
(Informativo n. 574).

TEMA: Direito processual penal. Condições para o sursis processual. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res.
N. 8/2008-stj). Tema 930.

INFORMAÇÕES: O § 2º do art. 89 da Lei n. 9.099/1995 não veda a imposição de outras condições, desde que
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado (“O Juiz poderá especificar outras condições a que fica
subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado”). Com o julgamento
do RHC 55.119-MG (DJe 6/5/2015), a Sexta Turma do STJ passou a entender o tema conforme o
entendimento da Quinta Turma e do STF, no sentido de que “não há óbice legal ou lógico a que, a par das
condições legais, se celebre acordo por meio do qual, nos termos do art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, o réu
assuma obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a penas restritivas de direitos (tais como a
prestação de serviços comunitários, o fornecimento de cestas básicas a instituições filantrópicas a prestação
pecuniária à vítima), visto que tais injunções constituem tão somente condições para sua efetivação e como
tais são adimplidas voluntariamente pelo acusado”. É fácil perceber, fazendo-se uma comparação entre os
dois principais institutos despenalizadores da Lei n. 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais), que, na transação
penal (aplicação imediata da pena) prevista no art. 76, o Ministério Público não abre mão do exercício da
pretensão punitiva e não se desonera o autor do fato de sofrer uma pena. Assim, a transação penal lhe é
oferecida como forma de evitar o risco de ser punido com 37 pena privativa de liberdade, como consequência
de uma sentença penal condenatória, com os efeitos que dela decorrem naturalmente, inclusive a sua
validade para a futura e eventual qualificação do sentenciado como reincidente. Já na suspensão condicional
do processo, positivada no art. 89, conquanto não haja propriamente uma desistência da ação penal, o
exercício do ius accusationis é suspenso com o propósito de evitar-se a condenação e, por conseguinte, a
sanção penal correspondente ao crime imputado ao réu. E, sendo um acordo, as partes são livres para
transigirem em torno das condições legais (§ 1º) ou judiciais (§ 2º) previstas no art. 89, “desde que adequadas
ao fato e à situação pessoal do acusado”, e desde que não se imponham condições que possam ofender a
dignidade do arguido. Ressalte-se que, do descumprimento de uma das condições legais ou judiciais aceitas
151

pelo réu não advém qualquer sanção penal, mas tão somente a retomada do curso processual, findo o qual o
acusado poderá até mesmo ser absolvido. Essas características do sursis processual afastam, portanto, a
ilegalidade de se estabelecerem condições funcionalmente equivalentes a sanções penais, mas que se
apresentam meramente como condições para a suspensão do processo, e como tais hão de ser tratadas

Se descumpridas as condições impostas durante o período de prova da suspensão


condicional do processo, o benefício poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o
prazo legal, desde que referente a fato ocorrido durante sua vigência

REsp 1.498.034-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 25/11/2015, DJe 2/12/2015
(Informativo n. 574).

TEMA: Direito processual penal. Revogação do sursis processual após o período de prova. Recurso repetitivo
(art. 543-c do cpc e res. N. 8/2008-stj). Tema 920.

INFORMAÇÕES: A letra do § 4º do art. 89 da Lei n. 9.099/1995 é esta: “A suspensão poderá ser revogada se o
acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição
imposta”. Dessa forma, se descumpridas as condições impostas durante o período de prova da suspensão
condicional do processo, o benefício deverá ser revogado, mesmo que já ultrapassado o prazo legal, desde
que referente a fato ocorrido durante sua vigência.
152

DIREITO CONSTITUCIONAL

2018

Comprovadas a invalidez e a necessidade de assistência permanente de terceiro, é devido o


acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento), previsto no art. 45 da Lei n. 8.213/1991, a todos
os aposentados pelo RGPS, independentemente da modalidade de aposentadoria.

REsp 1.648.305-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, Primeira Seção, por
maioria, julgado em 22/08/2018, DJe 26/09/2018 (Tema 982)

TEMA Aposentadoria por invalidez. "Auxílio-acompanhante". Adicional de 25%. Art. 45 da Lei n. 8.213/1991.
Assistência permanente de terceiro. Comprovação. Necessidade. Extensão a outras espécies de aposentadoria.
Possibilidade. Tema 982.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, insta salientar que a melhor exegese do art. 45 da Lei n. 8.213/1991 autoriza o
alcance do "auxílioacompanhante" às demais modalidades de aposentadoria previstas no Regime Geral de
Previdência Social, uma vez comprovadas a invalidez e a necessidade de ajuda permanente de outra pessoa
para atividades cotidianas, tais como higiene ou alimentação. Sob o prisma da dignidade da pessoa humana,
do tratamento isonômico e da garantia dos direitos sociais, previstos, respectivamente, nos arts. 1º, III, 5º,
caput, e 6º, da Constituição da República, tanto o aposentado por invalidez, quanto o aposentado por idade,
tempo de contribuição ou especial, são segurados que podem, igualmente, encontrar-se na condição de
inválidos, a ponto de necessitar da assistência permanente de terceiro. Sublinhe-se, ademais, que o Brasil é
signatário da Convenção Internacional de Nova Iorque sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de
2007, admitida com status de emenda constitucional, promulgada pelo Decreto n. 6.949/2009, que em seu art.
1º ostenta o propósito de "(...) promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela
sua dignidade inerente", garantindo, ainda, em seus arts. 5º e 28, tratamento isonômico e proteção da pessoa
com deficiência, inclusive na seara previdenciária. Posto isso, ao instituir a possibilidade de acréscimo
pecuniário de 25% (vinte e cinco por cento) sobre o valor do benefício, o qual pode vir, inclusive, a sobrepujar
o teto de pagamento dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, o legislador ordinário não se
orientou apenas pelo fato gerador da aposentadoria por invalidez, mas, precipuamente, pela proteção do
risco social consubstanciado no indispensável amparo ao segurado, atribuindo-lhe o auxílio de terceira
pessoa, buscando, assim, diminuir o impacto financeiro sobre o valor de seus proventos com a contratação de
assistência permanente. O segurado que recebe aposentadoria por tempo de contribuição, por idade ou
especial acometido de limitações físicas e/ou mentais e que recebe 1 (um) salário-mínimo, encontra-se em
situação de risco social da mesma maneira que o aposentado por invalidez, porém com a circunstância
agravante de que, como não recebe o adicional de "grande invalidez", terá que custear as despesas extras
com a contratação de ajuda de terceiro, o que, por óbvio, será feito em detrimento de outras necessidades
básicas como alimentação e moradia, e, em última análise, do chamado "mínimo existencial", um dos
principais efeitos da aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana. Ademais, ressalte-se que o art. 45
da Lei n. 8.213/1991 não exige que a ajuda de outra pessoa seja imprescindível desde o início da percepção
do benefício, revelando que, na hipótese de o segurado ter se aposentado por invalidez e, apenas
153

posteriormente, passar a necessitar desse socorro, o adicional será aplicável. Logo, em caso de invalidez
superveniente do segurado aposentado com fundamento em outro fato gerador, o indivíduo tornar-se-á
pessoa portadora de deficiência, devendo ser, igualmente, contemplado com o adicional do referido artigo,
caso seja imprescindível o auxílio de outra pessoa. Remarque-se que o fato gerador do adicional em exame é
a necessidade de assistência permanente de outra pessoa, a qual pode estar presente ou não no momento do
requerimento administrativo da aposentadoria por invalidez, bem como sua concessão pode ter ou não
relação com a moléstia que deu causa à concessão do benefício originário, o que reforça seu caráter
assistencial. Da mesma maneira, consoante a alínea "c" do parágrafo único do art. 45 da Lei n. 8.213/1991, o
pagamento do adicional cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporado ao valor da pensão por
morte, circunstância própria dos benefícios assistenciais que, pela ausência de contribuição prévia, são
personalíssimos e, portanto, intransferíveis aos dependentes. Devido à sua natureza assistencial, outrossim,
não há previsão legal de fonte de custeio específica para o "auxílio-acompanhante" recebido pelos
aposentados por invalidez. Dessarte, não há falar, igualmente, em fonte específica para às demais
modalidades de aposentadoria, porquanto tal benefício é garantido pelo Estado, independentemente de
contribuição à Seguridade Social, nos termos do art. 203 da Constituição da República. (Informativo n. 634.)
154

DIREITO ELEITORAL
155

DIREITO EMPRESARIAL

2022

Ao produtor rural que exerça sua atividade de forma empresarial há mais de dois anos, é
facultado requerer a recuperação judicial, desde que esteja inscrito na Junta Comercial no
momento em que formalizar o pedido recuperacional, independentemente do tempo de
seu registro.

REsp 1.905.573-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 22/06/2022,
DJe 03/08/2022. (Tema 1145)

INFORMAÇÕES: Inicialmente cumpre salientar, que as Turmas de direito privado do Superior Tribunal de
Justiça possuem entendimento no sentido de que é possível o deferimento de pedido de recuperação
judicial do produtor rural que exerça atividade rural de forma empresarial há mais de dois anos, ainda
que esteja registrado na Junta Comercial por tempo inferior àquele biênio.

Com efeito, a recuperação judicial é instrumento jurisdicional de superação da crise econômico-


financeira da atividade empresarial. Revela-se como artefato viabilizador do desenvolvimento econômico,
social, cultural e ambiental, na medida em que promove a continuidade da atividade econômica da empresa
com potencial de realização.

Não há dúvidas de que o valor a ser protegido pelo instituto é o da ordem econômica, não sendo raros os
casos em que o interesse do empresário, individualmente considerado, é sacrificado em deferência à
salvaguarda da empresa, enquanto unidade econômica de utilidade social.

Nesse caminho, o instituto da recuperação, em substituição à concordata, expande o conceito da empresa por
um cenário exógeno, a partir de um novo paradigma: uma nova teoria da preservação da unidade produtiva,
em razão da função social metaindividual, em que a eficiência econômica deixa de ser a primordial
preocupação.

Concomitantemente, observa-se que o exercício profissional da atividade econômica é associado à


habitualidade, à pessoalidade e à sua organização, bem como à forma como ela é praticada. Assim, a
atividade empresária é aquela que promove a circulação de bens e serviços, com geração de receitas, passível
de valoração econômica no mercado e apta a gerar lucros.

O Código Civil previu, em seu art. 967, a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis e,
a partir dessa previsão, a doutrina pôs-se a investigar a natureza daquele ato, se constitutivo da condição de
empresário ou se declaratório, uma vez que, na definição exposta no art. 966 o objeto de identificação eleito
foi a atividade exercida desacompanhada da formalidade inscricional.

Há doutrinadores que sustentam que o registro apenas declara a condição de empresário individual,
tornando-o regular, mas não o transforma em empresário. Esta Corte já afirmou a natureza declaratória
atribuída ao registro efetivado pelo empresário na Junta Comercial.
156

Assim, nos termos da teoria da empresa, a qualidade de empresário rural também se verificará sempre
que comprovado o exercício profissional da atividade econômica rural organizada para a produção ou
a circulação de bens ou de serviços, independentemente da efetivação da inscrição na Junta Comercial.

O art. 48 da Lei n. 11.101/2005 anuncia as condições de admissibilidade do requerimento da recuperação


judicial. Assim, quanto ao produtor rural, a condição de procedibilidade da recuperação judicial estará
satisfeita sempre que realizado o registro na forma da lei e comprovada a exploração da atividade rural
de forma empresarial por mais de dois anos.

No que diz respeito à "exploração da atividade rural de forma empresarial por mais de dois anos", entendem
ambas as Turmas da Segunda Seção deste Superior Tribunal que, apesar da necessidade do registro antes
do pedido de recuperação, não há, por parte da legislação, exigência de que o ato registral ocorra há
dois anos da formalização do pedido.

Ademais, conforme elucida a doutrina, um período mínimo de exploração de atividade econômica por parte
do requerente da recuperação judicial precisou ser estipulado, porque o legislador considerou não
consolidada a importância da empresa que atua há menos de dois anos para economia local, regional ou
nacional.

O argumento é coerente. A consolidação de uma empresa não ocorre do dia para a noite. A conquista da
clientela, a fixação do ponto comercial e o desenvolvimento de técnica particular são fatores construídos com
o tempo de atuação da empresa. O que a lei pretende, em verdade, é assegurar a utilização do instituto a
empresas já consolidadas. A contrario sensu, uma vez comprovado, por quaisquer meios, o exercício
consolidado da atividade pelo período determinado pela lei, atestada estará a relevância da empresa rural,
qualificando-a, assim, ao deferimento do processamento da recuperação.

Destarte, o registro empresarial deve, sim, ser realizado antes da impetração da recuperação judicial (critério
formal). Contudo, a comprovação da regularidade da atividade empresarial pelo biênio mínimo (art. 48 da Lei
n. 11.101/2005) será aferida pela manutenção e continuidade do exercício profissional (critério material).

Cabe ainda salientar a publicação da Lei n. 14.112/2020, que alterou a Lei n. 11.101/2005, reformulando o
sistema de insolvência empresarial brasileiro, com previsão orientada à regulamentação da situação do
produtor rural.

Nesse passo, deve ser fixada tese do recurso repetitivo nos seguintes termos: "Ao produtor rural que exerça
sua atividade de forma empresarial há mais de dois anos é facultado requerer a recuperação judicial, desde
que esteja inscrito na Junta Comercial no momento em que formalizar o pedido recuperacional,
independentemente do tempo de seu registro".

2021
157

É possível a Fazenda Pública habilitar em processo de falência crédito tributário objeto de


execução fiscal em curso, mesmo antes da vigência da Lei n. 14.112/2020, e desde que não
haja pedido de constrição de bens no feito executivo.

REsp 1.872.759-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 18/11/2021.
(Tema 1092) Info 718

Informações: Inicialmente cumpre salientar que a controvérsia a ser dirimida há de se concentrar nos pedidos
de habilitação de crédito ocorridos antes da entrada em vigor da Lei n. 14.112/2020. A execução fiscal é
o procedimento pelo qual a Fazenda Pública cobra dívida tributária ou não tributária. Da leitura dos arts. 5º e
38 da Lei de Execuções Fiscais, verifica-se que a competência para decidir a respeito do crédito tributário é
privativa do Juízo da Execução. O juízo falimentar, por outro lado, nos termos do que estabelece a Lei n.
11.101/2005, é "indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do
falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar
como autor ou litisconsorte ativo". Desse panorama, conclui-se que, mesmo antes da alteração legislativa
trazida pela Lei n. 14.112/2020 na Lei de Falências, inexistia qualquer óbice legal à coexistência do executivo
fiscal com o pedido de habilitação de crédito no juízo falimentar. Tanto isso é verdade que o entendimento
jurisprudencial desta Corte Superior, de há muito consolidado, é no sentido de que a falência superveniente
do devedor não tem o condão de paralisar o processo de execução fiscal. Contudo, não obstante a
possibilidade de ambos os procedimentos coexistirem, sendo a opção por um deles, prerrogativa da Fazenda
Pública, observa-se que, proposta a execução fiscal e, posteriormente, apresentado o pedido de habilitação de
crédito no juízo falimentar, a ação de cobrança perderá a sua utilidade, pelo menos, momentaneamente, pois
dependerá do desfecho do processo de falência e por isso, deverá ser suspensa, não importando, esse fato, no
entanto, em renúncia da Fazenda Pública ao direito de cobrar o crédito tributário através do executivo fiscal.
Portanto, da interpretação sistemática da legislação de regência, a execução fiscal e o pedido de habilitação
de crédito no juízo falimentar coexistem a fim de preservar o interesse maior, que é a satisfação do crédito
tributário, não podendo a prejudicialidade do processo falimentar ser confundida com falta de interesse de
agir do ente público. Ponderados esses elementos, para os fins previstos no art. 1.039 do CPC, define-se a
seguinte tese: "É possível a Fazenda Pública habilitar em processo de falência crédito tributário objeto de
execução fiscal em curso, mesmo antes da vigência da Lei n. 14.112/2020, e desde que não haja pedido de
constrição de bens no feito executivo".

2020

Cabe agravo de instrumento de todas as decisões interlocutórias proferidas no processo de


recuperação judicial e no processo de falência, por força do art. 1.015, parágrafo único, do
CPC/2015.

REsp 1.717.213-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 03/12/2020,
DJe 10/12/2020 (Tema 1022)

TEMA Recuperação judicial e falência. Decisões interlocutórias. Hipóteses de cabimento do agravo de


instrumento previstas na Lei n. 11.101/2005. Risco de lesão grave e de difícil reparação exigidos pelo
158

CPC/1973. Ressignificação do cabimento à luz do CPC/2015. Natureza jurídica do processo recuperacional.


Liquidação e execução negocial. Natureza jurídica do processo falimentar. Liquidação e execução coletiva.
Aplicabilidade da regra do Art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015. Cabimento de agravo de instrumento
contra todas as decisões interlocutórias proferidas nos processos recuperacionais e falimentares. Modulação
de efeitos. Segurança jurídica e proteção da confiança. Tema 1022.

INFORMAÇÕES: No regime recursal adotado pelo CPC/2015, há dois diferentes modelos de recorribilidade
das decisões interlocutórias: (i) para as decisões proferidas na fase de conhecimento, será cabível o agravo de
instrumento nas hipóteses listadas nos incisos do art. 1.015, observado, ainda, o abrandamento da
taxatividade desse rol em razão da tese fixada por ocasião do julgamento do Tema Repetitivo 988 (tese da
taxatividade mitigada); (ii) para as decisões proferidas nas fases de liquidação e cumprimento da sentença, no
processo executivo e na ação de inventário, será cabível o agravo de instrumento contra todas as decisões
interlocutórias, por força do art. 1.015, parágrafo único. O regime recursal diferenciado para as decisões
interlocutórias proferidas nas fases de liquidação e cumprimento de sentença, no processo executivo e na
ação de inventário se justifica pela impossibilidade de rediscussão posterior da questão objeto da
interlocutória, na medida em que nem sempre haverá apelação nessas espécies de fases procedimentais e
processos, inviabilizando a incidência da regra do art. 1.009, §1º, do CPC/2015 e também pela altíssima
invasividade e gravidade das decisões interlocutórias proferidas nessas espécies de fases procedimentais e
processos, uma vez que, em regra, serão praticados inúmeros e sucessivos atos judiciais de índole satisfativa
(pagamento, penhora, expropriação e alienação de bens, etc.) que se revelam claramente incompatíveis com a
recorribilidade apenas diferida das decisões interlocutórias. Conquanto a Lei n. 11.101/2005 preveja o
cabimento do agravo de instrumento em específicas hipóteses, como, por exemplo, o art. 17, caput, art. 59,
§2º e art. 100, não se pode olvidar que, por ocasião da edição da referida lei, vigorava no Brasil o CPC/1973,
cujo sistema recursal, no que tange às decisões interlocutórias, era diametralmente oposto ao regime recursal
instituído pelo CPC/2015, de modo que a escolha, pelo legislador, de apenas algumas específicas hipóteses de
recorribilidade imediata das interlocutórias proferidas nos processos recuperacionais e falimentares deve ser
interpretada como o reconhecimento de que, naquelas hipóteses, estava presumidamente presente o risco de
causar à parte lesão grave e de difícil reparação, requisito exigido pelo art. 522, caput, do CPC/1973.Ao se
reinterpretar a questão relacionada à recorribilidade das decisões interlocutórias proferidas nos processos
recuperacionais e falimentares à luz do regime instituído pelo CPC/2015, conclui-se que, tendo o processo
recuperacional a natureza jurídica de liquidação e de execução negocial das dívidas da pessoa jurídica em
recuperação e tendo o processo falimentar a natureza jurídica de liquidação e de execução coletiva das
dívidas da pessoa jurídica falida, a esses processos deve ser aplicada a regra do art. 1.015, parágrafo único, do
novo CPC.Assim, nos termos do art. 1.036 e seguintes do CPC/2015, fixase a seguinte tese jurídica: Cabe
agravo de instrumento de todas as decisões interlocutórias proferidas no processo de recuperação judicial e
no processo de falência, por força do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.Para propiciar segurança
jurídica e proteger as partes que, confiando na irrecorribilidade das decisões interlocutórias fora das hipóteses
de cabimento previstas na Lei n. 11.101/2005, não interpuseram agravo de instrumento com base no art.
1.015, parágrafo único, do CPC/2015, faz-se necessário estabelecer que: (i) as decisões interlocutórias que não
foram objeto de recurso de agravo de instrumento poderão ser objeto de impugnação pela parte em eventual
e hipotética apelação ou em contrarrazões, como autoriza o art. 1.009, §1º, do CPC/2015, se entender a parte
que ainda será útil o enfrentamento da questão incidente objeto da decisão interlocutória naquele momento
processual; (ii) que a presente tese jurídica vinculante deverá ser aplicada a todas as decisões interlocutórias
proferidas após a publicação do acórdão que fixou a tese e a todos os agravos de instrumento interpostos
antes da fixação da tese e que ainda se encontrem pendentes de julgamento ao tempo da publicação deste
acórdão, excluindo-se aqueles que não foram conhecidos por decisão judicial transitada em julgado.
(Informativo n. 684)
159

Para o fim de submissão aos efeitos da recuperação judicial, considera-se que a existência
do crédito é determinada pela data em que ocorreu o seu fato gerador.

REsp 1.842.911-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
09/12/2020, DJe 17/12/2020 (Tema 1051)

TEMA Recuperação judicial. Crédito. Existência. Sujeição aos efeitos do processo de soerguimento. Art. 49,
caput, da Lei n. 11.101/2005. Data do fato gerador. Tema 1051

INFORMAÇÕES: A questão controvertida consiste em definir, a partir da interpretação do artigo 49, caput,
da Lei n. 11.101/2005, se a existência do crédito é determinada pela data de seu fato gerador ou pelo
trânsito em julgado da sentença que o reconhece. Conforme se percebe da leitura do referido artigo, nem
todos os credores estão submetidos aos efeitos da recuperação judicial, mas somente aqueles titulares de
créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, e que não foram excepcionados pelo artigo
49, §§ 3º e 4º, da Lei n. 11.101/2005. Além disso, os créditos de natureza fiscal estão excluídos da
recuperação judicial (art. 6º, § 7º, da Lei n. 11.101/2005). Diante dessa opção do legislador de excluir
determinados credores da recuperação judicial, mostra-se imprescindível identificar o que deve ser
considerado como crédito existente na data do pedido ainda que não vencido. A matéria ganha especial
dificuldade no que respeita aos créditos que dependem de liquidação. Os créditos ilíquidos decorrentes
de responsabilidade civil, das relações de trabalho e de prestação de serviços, entre outros, dão ensejo a
duas interpretações quanto ao momento de sua existência, que podem ser assim resumidas: (i) a
existência do crédito depende de provimento judicial que o declare (com trânsito em julgado) e (ii) a
constituição do crédito ocorre no momento do fato gerador, pressupondo a existência de um vínculo
jurídico entre as partes, o qual não depende de decisão judicial que o declare. A primeira corrente
interpretativa parte do pressuposto de que somente nas situações em que a obrigação é descumprida, sendo
necessária a intervenção do Poder Judiciário para que a prestação seja satisfeita, é que se poderia falar em
existência do crédito. No entanto, o crédito pode ser satisfeito espontaneamente, a partir da quantificação
acordada pelas partes, extinguindo-se a obrigação. Disso decorre que a existência do crédito não depende
de declaração judicial. Na verdade, confunde-se o conceito de obrigação e de responsabilidade. A
existência do crédito está diretamente ligada à relação jurídica que se estabelece entre o devedor e
credor, o liame entre as partes, pois é com base nela que, ocorrido o fato gerador, surge o direito de
exigir a prestação (direito de crédito). Assim, a prestação do trabalho, na relação trabalhista, faz surgir o
direito ao crédito; na relação de prestação de serviços, a realização do serviço. Na responsabilidade civil
contratual, o vínculo jurídico precede a ocorrência do ilícito que faz surgir o dever de indenizar. Na
responsabilidade jurídica extracontratual, o liame entre as partes se estabelece concomitantemente
com a ocorrência do evento danoso. De todo modo, ocorrido o ato lesivo, surge o direito ao crédito
relativo à reparação dos danos causados. Ou seja, os créditos submetidos aos efeitos da recuperação
judicial são aqueles decorrentes da atividade do empresário ANTES do pedido de recuperação, isto é,
de fatos praticados ou de negócios celebrados pelo devedor em momento anterior ao pedido de
recuperação judicial, excetuados aqueles expressamente apontados na lei de regência. Nessa linha, foi
editado o Enunciado n. 100 da III Jornada de Direito Comercial, que tem o seguinte teor: " Consideram-se
sujeitos à recuperação judicial, na forma do art. 49 da Lei n. 11.101/2005, os créditos decorrentes de fatos
geradores anteriores ao pedido de recuperação, independentemente da data de eventual acordo, sentença ou
trânsito em julgado." Em resumo, ocorrido o fato gerador, surge o direito de crédito, sendo o
adimplemento e a responsabilidade elementos subsequentes, não interferindo na sua constituição.
160

Diante disso, conclui-se que a submissão do crédito aos efeitos da recuperação judicial não depende de
sentença que o declare ou o quantifique, menos ainda de seu trânsito em julgado, bastando a
ocorrência do fato gerador, conforme defende a segunda corrente interpretativa mencionada e o
entendimento adotado pela iterativa jurisprudência desta Corte. (Informativo n. 684)

2019

O encargo do DL n. 1.025/1969 tem as mesmas preferências do crédito tributário devendo,


por isso, ser classificado, na falência, na ordem estabelecida pelo art. 83, III, da Lei n.
11.101/2005.

REsp 1.521.999-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, por maioria, julgado
em 28/11/2018, DJe 22/03/2019 (Tema 969)

TEMA Falência. Classificação de créditos. Encargo legal inscrito em dívida ativa da União. Crédito não
tributário. Preferência conferida aos créditos tributários. Extensão. Tema 969.

INFORMAÇÕES: Nos termos do art. 1º do DL n. 1.025/1969, o encargo de 20% inserido nas cobranças
promovidas pela União, pago pelo executado, é recolhido aos cofres públicos como renda da União, sendo
que, com o advento da Lei n. 7.711/1988, conforme previsão do parágrafo único do art. 3º, "será recolhido ao
Fundo a que se refere o art. 4º, em subconta especial, destinada a atender a despesa com o programa previsto
neste artigo [...]", que é voltado para o incentivo da arrecadação, administrativa ou judicial, de receitas inscritas
como Dívida Ativa da União e outras atividades relacionadas. Portanto, o encargo do DL n. 1.025/1969 é
crédito não tributário destinado à recomposição das despesas necessárias à arrecadação, à modernização e ao
custeio e diversas outras (despesas) pertinentes à atuação judicial da Fazenda Nacional. Não obstante,
adequado o seu enquadramento no inciso III do art. 83 da atual Lei de Falências. Importante observar que no
crédito tributário a que se refere a lei falimentar, estão incluídos somente a correção monetária e os juros de
mora incidentes sobre o tributo devido pelo falido (art. 161 do CTN). Nessa linha e em tese, na falta de
previsão legal, admitir que o encargo do DL n. 1.025/1969 seja classificado como crédito tributário poderia
implicar violação do princípio do par conditio creditorum (igualdade de tratamento dos credores), segundo o
qual todos os credores de uma mesma categoria devem ser tratados de forma igualitária (art. 126 da Lei n.
11.101/2005), pois um acréscimo de 20% da dívida cobrada da massa tem impacto na expectativa dos demais
credores da mesma estatura (Estados, Distrito Federal, Municípios, autarquias). Entretanto, o § 4º do art. 4º da
Lei n. 6.830/1980 dispõe: "Aplica-se à Dívida Ativa da Fazenda Pública de natureza não tributária o disposto
nos artigos 186 e 188 a 192 do Código Tributário Nacional." Com base nos referidos dispositivos se observa
que, por opção do legislador, foi estendida expressamente ao crédito não tributário inscrito em dívida ativa a
preferência dada ao crédito tributário, preferência já existente antes da LC n. 118/2005. Assim, se o encargo
do mencionado Decreto-lei tem natureza não tributária (Lei n. 7.711/1988), compõe a dívida ativa da Fazenda
Nacional (art. 2º, §§ 2º, 5º, II, da Lei n. 6.830/1980) e tem as mesmas preferências do crédito tributário, por
força da autorização contida no art. 4º, § 4º, da Lei n. 6.830/1980, pode-se concluir pelo seu enquadramento,
por equiparação, no inciso III do art. 83 da Lei n. 11.101/2005. Ademais, caso a questão surja sob a égide do
DL n. 7.661/1945, antiga Lei de Falências, com o mesmo raciocínio deve-se-lhe assegurar a classificação
pertinente aos créditos tributários, nos termos do art. 186 do CTN, antes da alteração implementada pela LC n.
118/2005. (Informativo n. 644.)
161

2018

Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras
destas), para a ação de complementação de ações, na hipótese em que as ações originárias
tenham sido emitidas pela Telebrás.

REsp 1.633.801-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
23/05/2018, DJe 01/08/2018 (Tema 910)

TEMA Contrato de participação financeira. Retribuição em ações da Telebrás. Ação de complementação de


ações. Legitimidade passiva das companhias resultantes da cisão. Tema 910.

INFORMAÇÕES: A questão de direito a ser resolvida diz respeito aos efeitos da cisão parcial da Telebrás sobre
a obrigação de emitir, subscrever e integralizar ações (complementação de ações) em favor do consumidor de
serviço de telefonia, titular de contrato de participação financeira. Nesse passo, relembre-se que a Lei das
Sociedades por Ações, no art. 233, põe a salvo os interesses dos credores da sociedade cindida ante os efeitos
da cisão, estabelecendo a sucessão das obrigações anteriormente constituídas, conjugada com a
solidariedade entre as companhias cindidas e cindenda, solidariedade que incide tão somente na relação
jurídica externa com os credores, não na relação interna entre as companhias. Na cisão parcial, a regra da
solidariedade pode ser excepcionada em favor das companhias cindendas, ficando estas responsáveis (nas
relações externas) tão somente pelas obrigações que lhes forem expressamente transferidas, "sem
solidariedade entre si ou com a companhia cindida", desde que assegurado aos credores o direito de
oposição. Observe-se que, nas demandas por complementação de ações, o direito à diferença de ações
decorre de uma revisão judicial do contrato de participação financeira, em que se substitui o critério do
balanço anual pelo do balancete mensal, nos termos da Súmula 371/STJ ("Nos contratos de participação
financeira para a aquisição de linha telefônica, o Valor Patrimonial da Ação [VPA] é apurado com base no
balancete do mês da integralização"). Tratando-se, portanto, de uma revisão judicial do contrato de
participação financeira, o título referente à complementação de ações somente se constitui definitivamente
após o trânsito em julgado da demanda. Na hipótese, resta evidente que o título referente à complementação
de ações somente se constituiu definitivamente após a cisão da Telebrás. Com relação ao crédito cujo título se
constitui após a cisão, a jurisprudência desta Corte Superior é uníssona no sentido de que não se aplica a
limitação de responsabilidade prevista no art. 233, § 1º, da Lei n. 6.404/1974. Esse entendimento
jurisprudencial tem por escopo proteger os interesses dos credores, que não teriam como se opor à limitação
de responsabilidade, uma vez que o título de seu crédito ainda não havia sido constituído definitivamente.
Afastada, desse modo, a incidência da norma excepcional do art. 233, § 1º, da Lei n. 6.404/1976, aplica-se a
regra geral da solidariedade (nas relações externas), o que torna a companhia cindenda (sucessora da
concessionária local de telefonia) e a Telebrás (pós-cisão) partes legítimas para figurarem no polo passivo da
demanda por complementação de ações. (Informativo n. 630.)
162

As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência desleal e


outras demandas afins, por não envolver registro no INPI e cuidando de ação judicial entre
particulares, é inequivocamente de competência da Justiça estadual, já que não afeta
interesse institucional da autarquia federal. No entanto, compete à Justiça Federal, em ação
de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI, impor ao titular a abstenção
do uso, inclusive no tocante à tutela provisória.

REsp 1.527.232-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 13/12/2017,
DJe 05/02/2018. (Tema 950)

TEMA Trade dress. Proteção legal. Teoria da concorrência desleal. Competência da Justiça estadual. Registro
de marca. INPI. Atribuição administrativa. Uso da marca. Abstenção. Consectário lógico do ato administrativo.
Justiça Federal. Competência privativa.

INFORMAÇÕES: A questão controvertida principal - único objeto da afetação ao rito dos recursos repetitivos
- consiste em delimitar a competência da Justiça estadual para: a) em reconhecimento de concorrência
desleal, determinar a privação de uso de elementos que não são registrados no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial - INPI, caracterizados pelo "conjunto-imagem" (trade dress) de produtos e/ou serviços
e b) impor abstenção de uso de marca registrada pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI.
Quanto ao primeiro questionamento, vale destacar que a Terceira Turma desta Corte, em recente precedente,
entendeu - entre outros pontos - que o conjunto-imagem de bens e produtos é passível de proteção judicial
quando a utilização de conjunto similar resulte em ato de concorrência desleal, em razão de confusão ou
associação com bens e produtos concorrentes (REsp 1.353.451-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe
28/9/2017). Com efeito, embora o sistema brasileiro não reconheça a proteção exclusiva do trade dress ou
"conjunto-imagem" integral, com todos os seus elementos característicos, sua tutela tem origem na própria
Constituição Federal, por meio do art. 5º, XXIX, ao afirmar que a lei assegurará a proteção às criações
industriais, à propriedade de marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos. De fato, o que se
efetiva, normalmente, é o registro da marca perante o INPI em sua apresentação nominativa (ou seja, somente
o nome do produto, sem qualquer estilização), inexistindo especial atenção no sentido de se proteger os
demais elementos do trade dress, a saber: o registro da embalagem como marca mista (seus logotipos,
desenhos e demais caracteres gráficos), ou, ainda, como desenho industrial, nas hipóteses previstas na Lei de
Propriedade Industrial. Destarte, cumpre observar que as questões acerca do trade dress (conjunto-imagem)
dos produtos das recorrentes, por não envolver registro no INPI e se tratar de demanda entre particulares, é
inequivocamente de competência da Justiça estadual, já que não afeta interesse institucional da autarquia
federal. Situação diversa diz respeito a demanda referente à concorrência desleal, em que os litigantes são
efetivamente proprietário das marcas que utilizam, devidamente registradas no INPI, embora tanto a marca
como o conjunto-imagem sejam questionados por suposta confusão/associação entre produtos e o
consequente desvio ilícito de clientela. Nesse contexto, importa destacar que os arts. 129 e 175 da Lei n.
9.279/1996 dispõe, respectivamente, que os registros de marca deferidos pela autarquia federal (INPI)
conferem uso exclusivo ao seu titular em todo o território nacional, bem como que eventual ação de nulidade
do registro será ajuizada no foro da Justiça Federal. Sendo assim, quanto ao pedido de abstenção de uso da
marca, dúvida não há quanto à competência da Justiça Federal - sob pena de ofensa aos referidos dispositivos
de lei federal -, sendo a abstenção de uso da marca uma decorrência lógica da desconstituição do registro
sob o fundamento de violação do direito de terceiros - consequência expressa, inclusive, no parágrafo único
do art. 173 da Lei de Propriedade Industrial. Conclui-se, portanto, cumprir ao Juízo federal analisar o pedido
de abstenção de uso tão somente nos estritos limites daquilo que compõe o registro marcário anulando,
163

relegando para a Justiça Comum todo e qualquer aspecto relacionado ao conjunto-imagem (trade dress).
(Informativo n. 618.)

2016

Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a correção monetária
incide a partir da data de emissão estampada na cártula, e os juros de mora a contar da
primeira apresentação à instituição financeira sacada ou câmara de compensação.

REsp 1.556.834- SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 22/6/2016, DJe 10/8/2016
(Informativo n. 587).

TEMA: Direito empresarial. Termo inicial de correção monetária e de juros de mora em cobrança de cheque.
Recurso repetitivo. Tema 942.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, cumpre consignar que a matéria em debate não é de direito processual, tendo
em vista que demanda tão somente a correta interpretação de normas de direito privado. Como cediço, a
mora ex re independe de qualquer ato do credor, como interpelação ou citação, porquanto decorre do
próprio inadimplemento de obrigação positiva, líquida e com termo implementado, cuja matriz normativa é o
art. 960, primeira parte, do CC/1916, reproduzido no CC atual, no caput do art. 397, de modo que, em se
tratando de mora ex re, aplica-se o antigo e conhecido brocardo dies interpellat pro homine (o termo
interpela no lugar do credor). A razão disso é singela: sendo o devedor sabedor da data em que deve ser
adimplida a obrigação líquida – porque decorre do título –, descabe advertência complementar por parte do
credor. Destarte, havendo obrigação líquida e exigível a determinado termo – desde que não seja daquelas
em que a própria lei afasta a constituição de mora automática –, o inadimplemento ocorre no vencimento.
Nesse contexto, fica límpido que o art. 219 do CPC/1973 (correspondente ao art. 240 do novo CPC), assim
como o art. 405 do CC (“Contam-se os juros de mora desde a citação inicial”), deve ser interpretado de
maneira que a citação implique caracterização de mora apenas se esta já não tiver ocorrido pela
materialização de uma das diversas hipóteses indicadas no ordenamento jurídico. Na hipótese, a matéria
referente aos juros relativos à cobrança de crédito estampado em cheque por seu portador é disciplinada pela
Lei do Cheque, que estabelece sua incidência a partir da data da primeira apresentação do título (art. 52, II).
Quanto ao termo inicial para a incidência de correção monetária para cobrança de valor representado em
cheque, convém pontuar que, a teor do art. 32, parágrafo único, da Lei n. 7.357/1985, o cheque é ordem de
pagamento a terceiro à vista, considerando-se não escrita qualquer menção em contrário. Verifica-se, assim,
que o cheque tem vencimento a contar da data de sua emissão. Além disso, a quitação, em se tratando de
dívidas consubstanciadas em título de crédito, consiste na devolução da cártula. Dessarte, o art. 33 da Lei n.
7.357/1985 estabelece que o cheque deve ser apresentado para pagamento a contar do dia da emissão, e o
art. 34 do mesmo diploma esclarece que a apresentação do cheque à câmara de compensação equivale à
apresentação. Nessa ordem de ideias, o art. 52, I e IV, da Lei n. 7.357/1985 não deixa dúvidas acerca de que é
apenas se, para 17 satisfação do crédito, o credor tiver de se valer de ação – isto é, se não houver quitação da
obrigação pela instituição financeira sacada – será possível ao portador exigir do demandado a importância
do cheque não pago com a compensação pela perda do valor aquisitivo da moeda até o pagamento; fazendo,
ademais, uma clara diferenciação das datas de incidência dos juros de mora e da correção monetária,
conforme se depreende do cotejo entre seus incisos, in verbis: “Art. 52. O portador pode exigir do
demandado: I - a importância do cheque não pago; II - os juros legais desde o dia da apresentação; III - as
164

despesas que fez; IV - a compensação pela perda do valor aquisitivo da moeda, até o embolso das
importâncias mencionadas nos itens antecedentes.” Dessa forma, tem-se que a única interpretação
harmoniosa com o art. 32 da Lei do Cheque, que se pode fazer do art. 52 do mesmo diploma, é a de que o
dispositivo estabelece que o termo inicial para correção monetária é a data de emissão constante no campo
próprio da cártula.

A pactuação da pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de


apresentação à instituição financeira sacada, deve espelhar a data de emissão estampada
no campo específico da cártula.

REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 27/4/2016, DJe 27/5/2016
(Informativo n. 584).

TEMA: Direito empresarial. Cheque pré-datado e o seu prazo de apresentação para pagamento. Recurso
repetitivo. Tema 945.

INFORMAÇÕES: Sendo o cheque ordem de pagamento à vista imposta ao sacado (a instituição bancária ou
instituição financeira que lhe seja equiparada) – imposição que não admite aceite, diferentemente do que
ocorre, por exemplo, com a letra de câmbio –, o seu pagamento, pelo sacado, deverá ser obrigatoriamente
efetuado (verificada a existência de fundos disponíveis), ainda que a cártula tenha sido apresentada “antes do
dia indicado como data de emissão” (art. 32, parágrafo único, Lei n. 7.357/1985 – Lei do Cheque). No tocante à
apresentação realizada após a data constante do campo referente à data de emissão da cártula, convém
pontuar que “O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30
(trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em
outro lugar do País ou no exterior” (art. 33, caput). Nesse contexto, não se pode ignorar o costume relativo à
emissão de cheque pós-datado. O mencionado parágrafo único do art. 32, inclusive, ressalva a possibilidade
de o banco sacado pagar o cheque “antes do dia indicado como data de emissão”, caso seja apresentado. É
dizer: admite plenamente a hipótese de o cheque conter data de emissão posterior àquela em que foi,
efetivamente, emitido. Nessa conjuntura, o ordenamento jurídico 18 confere segurança e eficácia à pós-
datação regular (efetivada no campo referente à data de emissão). Por sua vez, mesmo a pós-datação
extracartular (isto é, a pós-datação ocorrida em campo diverso do campo específico, referente à data de
emissão, como ocorre, por exemplo, com a cláusula “bom para”) tem existência jurídica, na medida em que a
Lei não nega validade a essa pactuação, que, inclusive, terá consequência de natureza obrigacional para os
pactuantes (tanto é assim que a Súmula n. 370 do STJ orienta que enseja dano moral a apresentação
antecipada de cheque). Contudo, esta pactuação extracartular, que ocorre fora do campo da data de emissão,
é ineficaz em relação à contagem do prazo de apresentação e, por conseguinte, não tem o condão de operar
o efeito de ampliar o prazo de apresentação do cheque. Daí a conclusão de que somente a pós-datação
regular, efetuada no campo da data de emissão do cheque, é hábil a ampliar o prazo de apresentação da
cártula a que se refere o art. 33, caput, da Lei do Cheque.
165

Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque
com a indicação do emitente como devedor.

REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 27/4/2016, DJe 27/5/2016
(Informativo n. 584).

TEMA: Direito empresarial. Protesto cambiário de cheque após o prazo de apresentação com a indicação
apenas do emitente no apontamento. Recurso repetitivo. Tema 945.

INFORMAÇÕES: De fato, a Segunda Seção do STJ, em recurso especial representativo da controvérsia (REsp
1.340.236-SP, DJe 26/10/2015), definiu que “A legislação de regência estabelece que o documento hábil a
protesto extrajudicial é aquele que caracteriza prova escrita de obrigação pecuniária líquida, certa e exigível”.
Nesse sentido, a interpretação mais adequada do art. 1º da Lei n. 9.492/1997 – segundo o qual o “Protesto é o
ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos
e outros documentos de dívida” – é a de que o termo “dívida” exprime débito, consistente em obrigação
pecuniária, líquida, certa e que é ou se tornou exigível. Realmente, o art. 48 da Lei do Cheque dispõe que “O
protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do
emitente, antes da expiração do prazo de apresentação”. Todavia, este artigo, ao remeter ao art. 47 do mesmo
Diploma, limita-se à questão da possibilidade de cobrança dos eventuais devedores indiretos (coobrigados),
mas não do devedor principal (emitente). Nesse contexto, a Terceira Turma do STJ já asseverou que “A
exigência de realização do protesto antes de expirado o prazo de apresentação do cheque é dirigida apenas
ao protesto obrigatório à propositura da execução do título, nos termos dos arts. 47 e 48 da Lei n. 7.357/85”
(REsp 1.297.797-MG, DJe 27/2/2015). Por sua vez, “O protesto do cheque [com apontamento do nome do
devedor principal: o emitente] é facultativo e, como o título tem por característica intrínseca a inafastável
relação entre o emitente e a instituição financeira sacada, é indispensável a prévia apresentação da cártula,
não só para que se possa proceder à execução do título, mas também para cogitar do protesto (art. 47 da Lei
do Cheque). Evidentemente, é também vedado o apontamento de cheques quando tiverem sido devolvidos
pelo banco sacado por motivo de furto, roubo ou extravio das folhas ou talonários - contanto que não
tenham circulado por meio de endosso, nem estejam garantidos por aval, pois nessas hipóteses far-se-á o
protesto sem fazer constar os dados do emitente da cártula. (...) Tomadas 19 essas cautelas, caracterizando o
cheque levado a protesto título executivo extrajudicial, dotado de inequívoca certeza e exigibilidade, não se
concebe possam os credores de boa-fé verem-se tolhidos quanto ao seu lídimo direito de resguardarem-se
quanto à prescrição, tanto no que tange ao devedor principal quanto a coobrigados; visto que, conforme
disposto no art. 202, III, do Código Civil de 2002, o protesto cambial interrompe o prazo prescricional para
ajuizamento de ação cambial de execução, ficando, com a vigência do novel Diploma, superada a Súmula 153/
STF [a qual afirmada que o protesto cambiário não interrompia a prescrição]” (REsp 1.124.709-TO, Quarta
Turma, DJe 1º/7/2013). Ante o exposto, caracterizado o cheque levado a protesto verdadeiro título executivo
extrajudicial, dotado de inequívoca certeza e exigibilidade, será possível o protesto cambiário com indicação,
no apontamento, apenas do devedor principal (emitente), ainda que após o prazo de apresentação, mas
dentro do período para ajuizamento de ação cambial de execução.
166

2015

O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem


Fundos (CCF), não tem a responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua
inscrição no aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva para as ações de reparação
de danos diante da ausência de prévia comunicação.

REsp 1.354.590-RS, Rel. Min. Raul Araújo, Segunda Seção, julgado em 9/9/2015, DJe 15/9/2015 (Informativo
568).

TEMA: Direito empresarial e processual civil. Responsabilidade por ausência de notificação de inscrição de
correntista no ccf. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 874.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, destaca-se que a Segunda Seção do STJ, no julgamento do REsp 1.061.134-RS,
fixou, para os efeitos do art. 543-C do CPC, a tese de que “os órgãos mantenedores de cadastros possuem
legitimidade passiva para as ações que buscam a reparação dos danos morais e materiais decorrentes da
inscrição, sem prévia notificação, do nome de devedor em seus cadastros restritivos, inclusive quando os
dados utilizados para a negativação são oriundos do CCF do Banco Central ou de outros cadastros mantidos
por entidades diversas”. No entanto, o CCF tem natureza, finalidade e características específicas, que não se
confundem com as de outros cadastros a que se refere imediatamente a lógica daquele julgado. Com efeito, o
CCF tem natureza pública, visa à proteção do crédito em geral e à preservação da higidez do sistema
financeiro nacional, servindo aos interesses da coletividade (art. 192 do CF), envolvendo relevante interesse de
ordem pública, submetido a normas de cunho estatutário obrigatório, estabelecidas pelas autoridades
monetárias, operando sob controle do Banco Central do Brasil (Bacen), sem prevalente intuito de obtenção de
ganhos. Já os demais cadastros são de natureza privada, instituídos e mantidos no interesse de particulares,
sociedades empresárias atuantes, sem vínculo sistêmico, no ramo comercial, submetidos a normas de índole
meramente contratual, operados por entidades privadas, que os exploram com nítido intuito da obtenção de
lucro. Segundo a Resolução 1.682/1990 do Bacen, a inclusão no CCF ocorre automaticamente quando o 21
cheque é devolvido por: a) falta de provisão de fundos (motivo 12), na segunda apresentação; b) conta
encerrada (motivo 13); e c) prática espúria (motivo 14). Conforme o art. 10 da referida Resolução e o item 14
da Circular 2.989/2000 do Bacen: “Nas devoluções pelos motivos 12 a 14, o banco sacado é responsável pela
inclusão do emitente no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF)”. A mesma Resolução dispõe
que a instituição financeira, ao recusar o pagamento de cheque por motivo que enseje a inclusão de
ocorrência no CCF, deve providenciar a referida inclusão no prazo de quinze dias, contados da data de
devolução do cheque. Por sua vez, o correntista não fica prejudicado pela inscrição de seu nome no CCF,
senão após previamente notificado, pois as ocorrências do CCF devem ser obrigatoriamente comunicadas
pela instituição financeira sacada, por escrito, ao respectivo correntista emitente do cheque e, somente após,
serão consolidadas pelo executante dos serviços de compensação de cheques e outros papéis e distribuídas,
em meios magnéticos, às instituições bancárias, conforme o art. 16 e o art. 27, “a”, da Resolução 1.682/1990
do Bacen, alterado pelo art. 1º da Circular 2.250 do Bacen. Assim, tratandose de sistema financeiro, não pode
o Banco do Brasil encarregar-se de desempenhar função estranha, notificação prévia de emitente de cheque
sem provisão de fundos, dever que as normas de regência do sistema atribuem corretamente a outro
componente do sistema, o próprio banco sacado, instituição financeira mais próxima do correntista, detentor
do cadastro desse cliente e do próprio saldo da conta do correntista, como depositário. É, pois, de
reconhecer-se a ilegitimidade do Banco do Brasil, na condição de gestor do CCF, para responder pela ausência
167

de prévia notificação aos correntistas inscritos no CCF, pelo que descabe cogitar-se de sua responsabilização
por danos materiais ou morais, exceto nas hipóteses em que também figure como banco sacado.

A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções


nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários
ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes
aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, III, ou a novação a que se refere o art.
59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei 11.101/2005.

REsp 1.333.349-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 26/11/2014, DJe 2/2/2015
(Informativo 554).

TEMA: Direito empresarial. Recuperação judicial de devedor principal e terceiros devedores solidários ou
coobrigados em geral. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj).

INFORMAÇÕES: De fato, a recuperação judicial divide-se, essencialmente, em duas fases: (a) a primeira inicia-
se com o deferimento de seu processamento (arts. 6º, caput, e 52, III, da Lei 11.101/2005); e (b) a segunda,
com a aprovação do plano pelos credores reunidos em assembleia, seguida da concessão da recuperação por
sentença (arts. 57 e 58, caput) ou, excepcionalmente, pela concessão forçada da recuperação pelo juiz, nas
hipóteses previstas nos incisos do § 1º do art. 58 (Cram Down). No que diz respeito à primeira fase (a), uma
vez deferido o processamento da recuperação, entre outras providências a serem adotadas pelo magistrado,
determina-se a suspensão de todas as ações e execuções. É o que prescreve o art. 6º, caput, da Lei
11.101/2005: “A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende
o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores
particulares do sócio solidário”. No mesmo sentido, o art. 52, III, do mesmo diploma legal: “Estando em termos
a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no
mesmo ato: [...] III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do 22
art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações
previstas nos §§ 1º, 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3º e 4º do
art. 49 desta Lei [...]”. A par disso, ressalte-se ainda que, em não raras vezes, o devedor solidário é, também,
sócio da pessoa jurídica em recuperação. Contudo, os devedores solidários da obrigação – que tem como
devedor principal a empresa recuperanda – não podem alegar em seu favor a parte final do caput do referido
art. 6º como fundamento do pedido de suspensão das ações individuais ajuizadas contra eles, invocando,
assim, a redação que determina a suspensão das ações não apenas contra o devedor principal, mas também
“aquelas dos credores particulares do sócio solidário”. Isso porque o caput do art. 6º da Lei 11.101/2005, no
que concerne à suspensão das ações por ocasião do deferimento da recuperação, alcança os sócios solidários,
figuras presentes naqueles tipos societários em que a responsabilidade pessoal dos consorciados não é
subsidiária ou limitada às suas respectivas quotas/ações, como é o caso, por exemplo, da sociedade em nome
coletivo (art. 1.039 do CC/2002) e da sociedade em comandita simples, no que concerne aos sócios
comanditados (art. 1.045 do CC/2002). Diferentemente, é a situação dos devedores solidários ou coobrigados,
haja vista que para eles a disciplina é exatamente inversa, prevendo o § 1º do art. 49, expressamente, a
preservação de suas obrigações na eventualidade de ser deferida a recuperação judicial do devedor principal:
“Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados,
fiadores e obrigados de regresso”. Portanto, não há falar em suspensão da execução direcionada a
codevedores ou a devedores solidários pelo só fato de o devedor principal ser sociedade cuja recuperação foi
168

deferida, pouco importando se o executado é também sócio da recuperanda ou não, uma vez não se tratar de
sócio solidário. Nesse sentido, aliás, o Enunciado 43 da I Jornada de Direito Comercial realizada pelo CJF/STJ
determina que a “suspensão das ações e execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se estende
aos coobrigados do devedor”. Sob outro enfoque, no tocante à segunda fase (b), a aprovação do plano opera
– diferentemente da primeira fase – novação dos créditos, e a decisão homologatória constitui, ela própria,
novo título executivo judicial. É o que dispõe o art. 59, caput e § 1º, da Lei 11.101/2005: “O plano de
recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os
credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei [...] § 1º A
decisão judicial que conceder a recuperação judicial constituirá título executivo judicial, nos termos do art.
584, inciso III, do caput da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil”. Antes de
prosseguir, a respeito da novação comum, destaque-se que os arts. 364 e 365 do CC prescrevem,
respectivamente, que “A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver
estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese,
se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação” e que “Operada a
novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova
obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por
esse fato exonerados”. A despeito disso, as execuções intentadas contra a empresa recuperanda e seus
garantes não podem ser extintas nos termos dos referidos arts. 364 e 365 do CC. De igual sorte, as garantias
concedidas não podem ser restabelecidas em caso de futura decretação de falência, apesar do disposto no
art. 61, § 2º, da Lei 11.101/2005, segundo o qual “Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus
direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e
ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial”. Tudo isso porque a novação
prevista na lei civil é bem diversa daquela disciplinada na Lei 11.101/2005. Se a novação civil faz, como regra,
extinguir as garantias da dívida, inclusive as reais prestadas por terceiros estranhos ao pacto (art. 364 do CC), a
novação 23 decorrente do plano de recuperação traz, como regra, ao reverso, a manutenção das garantias
(art. 59, caput, da Lei 11.101/2005), as quais só serão suprimidas ou substituídas “mediante aprovação
expressa do credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da alienação do bem gravado (art. 50, § 1º).
Além disso, a novação específica da recuperação desfaz-se na hipótese de falência, quando então os “credores
terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas” (art. 61, § 2º). Daí se
conclui que o plano de recuperação judicial opera uma novação sui generis e sempre sujeita a condição
resolutiva – que é o eventual descumprimento do que ficou acertado no plano –, circunstância que a
diferencia, sobremaneira, daquela outra, comum, prevista na lei civil. Dessa forma, muito embora o plano de
recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias são
preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe
a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral.
Importa ressaltar que não haveria lógica no sistema se a conservação dos direitos e privilégios dos credores
contra coobrigados, fiadores e obrigados de regresso (art. 49, § 1º, da Lei 11.101/2005) dissesse respeito
apenas ao interregno temporal que medeia o deferimento da recuperação e a aprovação do plano, cessando
tais direitos após a concessão definitiva com a decisão judicial.
169

DIREITO TRIBUTÁRIO

2022

O bloqueio de ativos financeiros do executado via sistema BACENJUD, em caso de


concessão de parcelamento fiscal, seguirá a seguinte orientação: (i) será levantado o
bloqueio se a concessão é anterior à constrição; e (ii) fica mantido o bloqueio se a
concessão ocorre em momento posterior à constrição, ressalvada, nessa hipótese, a
possibilidade excepcional de substituição da penhora online por fiança bancária ou seguro
garantia, diante das peculiaridades do caso concreto, mediante comprovação irrefutável, a
cargo do executado, da necessidade de aplicação do princípio da menor onerosidade.

REsp 1.696.270-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
08/06/2022. (Tema 1012)

Informações: A jurisprudência consolidada desta Corte, a qual se pretende reafirmar, mantendo-a estável,
íntegra e coerente, na forma do art. 926 do CPC/2015, admite a manutenção do bloqueio de valores via
sistema BACENJUD realizado em momento anterior à concessão de parcelamento fiscal, seja em razão de
expressa previsão, na legislação do parcelamento, de manutenção das garantias já prestadas, seja porque,
ainda que não haja tal previsão na legislação do benefício, o parcelamento, a teor do art. 151, VI, do CTN, não
extingue a obrigação, apenas suspende a exigibilidade do crédito tributário, mantendo a relação jurídica
processual no estado em que ela se encontra, cuja execução fiscal poderá ser retomada, com a execução da
garantia, em caso de eventual exclusão do contribuinte do programa de parcelamento fiscal.

Não prospera o argumento levado a efeito pelo Tribunal de origem, bem como pela Defensoria Pública da
União em sua manifestação como amicus curiae, no sentido de diferenciar o dinheiro em depósito ou
aplicação financeira, bloqueado via sistema BACENJUD, dos demais bens passíveis de penhora ou constrição,
visto que não há diferenciação em relação ao bem dado em garantia na legislação que trata da manutenção
das garantias do débito objeto do parcelamento fiscal, não cabendo ao intérprete fazê-lo, sob pena de atuar
como legislador positivo em violação ao princípio da separação dos poderes.

Se o bloqueio de valores do executado via sistema BACENJUD ocorre em momento posterior à concessão de
parcelamento fiscal, não se justifica a manutenção da constrição, devendo ser levantado o bloqueio, visto que:
(i) se o parcelamento for daqueles cuja adesão exige, como um dos requisitos, a apresentação de garantias do
débito, tais requisitos serão analisados pelo Fisco no âmbito administrativo e na forma da legislação
pertinente para fins de inclusão do contribuinte no programa; e (ii) a suspensão da exigibilidade do crédito
fiscal pelo parcelamento (já concedido) obsta sejam levadas a efeito medidas constritivas enquanto durar a
suspensão da exigibilidade do crédito, no caso, na vigência do parcelamento fiscal. Tal orientação já foi
consolidada pela Primeira Seção desta Corte, em sede de recurso especial repetitivo, nos autos do REsp
1.140.956/SP, de relatoria do eminente Ministro Luiz Fux, DJe 3/12/2010.
170

O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular da pessoa


jurídica executada ou na presunção de sua ocorrência, pode ser autorizado contra o sócio
ou o terceiro não sócio, com poderes de administração na data em que configurada ou
presumida a dissolução irregular, ainda que não tenha exercido poderes de gerência
quando ocorrido o fato gerador do tributo não adimplido, conforme art. 135, III, do CTN.

REsp 1.645.333-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por maioria, julgado em 25/05/2022. (Tema
981) – Info 738

Informações: No exercício da atividade econômica, em razão de injunções várias, ocorre o inadimplemento de


obrigações assumidas por pessoas jurídicas. Não é diferente na esfera tributária. Embora se trate
inegavelmente de uma ofensa a bem jurídico da Administração tributária, o desvalor jurídico do
inadimplemento não autoriza, por si só, a responsabilização do sócio-gerente. Nesse sentido, aliás, o
enunciado 430 da Súmula do STJ - em cuja redação se lê que "o inadimplemento da obrigação tributária pela
sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente" -, bem como a tese firmada no
REsp repetitivo 1.101.728/SP (Rel. Ministro Teori Zavascki, Primeira Seção, DJe de 23/03/2009), que explicita
que "a simples falta de pagamento do tributo não configura, por si só, nem em tese, circunstância que
acarreta a responsabilidade subsidiária do sócio, prevista no art. 135 do CTN. É indispensável, para tanto, que
tenha agido com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou ao estatuto da empresa" (Tema
97 do STJ).

Tal conclusão é corolário da autonomia patrimonial da pessoa jurídica. Se, nos termos do art. 49-A, caput, do
Código Civil, incluído pela Lei n. 13.874/2019, "a pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios,
associados, instituidores ou administradores", decorre que o simples inadimplemento de tributos não pode
gerar, por si só, consequências negativas no patrimônio dos sócios. Como esclarece o parágrafo único do
aludido artigo, a razão de ser da autonomia patrimonial, "instrumento lícito de alocação e segregação de
riscos", é "estimular empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício
de todos".

Naturalmente, a autonomia patrimonial não é um fim em si, um direito absoluto e inexpugnável. Por isso
mesmo, a legislação, inclusive a civil, comercial, ambiental e tributária estabelece hipóteses de
responsabilização dos sócios e administradores por obrigações da pessoa jurídica. No Código Tributário
Nacional, entre outras hipóteses, destaca-se a do inciso III do seu art. 135, segundo o qual "são pessoalmente
responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com
excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (...) os diretores, gerentes ou
representantes de pessoas jurídicas de direito privado".

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça há muito consolidou o entendimento no sentido de que "a
não-localização da empresa no endereço fornecido como domicílio fiscal gera presunção iuris tantum de
dissolução irregular", o que torna possível a "responsabilização do sócio-gerente a quem caberá o ônus de
provar não ter agido com dolo, culpa, fraude ou excesso de poder" (EREsp 852.437/RS, Rel. Ministro Castro
Meira, Primeira Seção, DJe de 03/11/2008). A matéria, inclusive, é objeto do enunciado 435 da Súmula do STJ:
"Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem
comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-
gerente".
171

O Plenário do STF, ao julgar, sob o regime de repercussão geral, o Recurso Extraordinário 562.276/PR (Rel.
Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, DJe de 10/02/2011), correspondente ao tema 13 daquela Corte, deixou
assentado que "essencial à compreensão do instituto da responsabilidade tributária é a noção de que a
obrigação do terceiro, de responder por dívida originariamente do contribuinte, jamais decorre direta e
automaticamente da pura e simples ocorrência do fato gerador do tributo (...) O pressuposto de fato ou
hipótese de incidência da norma de responsabilidade, no art. 135, III, do CTN, é a prática de atos, por quem
esteja na gestão ou representação da sociedade com excesso de poder ou infração à lei, contrato social ou
estatutos e que tenham implicado, se não o surgimento, ao menos o inadimplemento de obrigações
tributárias".

No Recurso Especial repetitivo 1.371.128/RS (Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe de 17/09/2014), sob
a rubrica do tema 630, a Primeira Seção do STJ assentou a possibilidade de redirecionamento da execução
fiscal ao sócio-gerente, nos casos de dissolução irregular da pessoa jurídica executada, não apenas nas
execuções fiscais de dívida ativa tributária, mas também nas de dívida ativa não tributária. O voto condutor do
respectivo acórdão registrou que a Súmula 435/STJ "parte do pressuposto de que a dissolução irregular da
empresa é causa suficiente para o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente" e que "é
obrigação dos gestores das empresas manter atualizados os respectivos cadastros, incluindo os atos relativos
à mudança de endereço dos estabelecimentos e, especialmente, referentes à dissolução da sociedade. A
regularidade desses registros é exigida para que se demonstre que a sociedade dissolveu-se de forma regular,
em obediência aos ritos e formalidades previstas nos arts. 1.033 a 1.038 e arts. 1.102 a 1.112, todos do Código
Civil de 2002 - onde é prevista a liquidação da sociedade com o pagamento dos credores em sua ordem de
preferência - ou na forma da Lei n. 11.101/2005, no caso de falência. A desobediência a tais ritos caracteriza
infração à lei".

A realidade dos fatos, porém, é sempre mais rica e dinâmica do que podem prever o legislador e o julgador.
Assentada a possibilidade de responsabilização do sócio-gerente quando ocorrida a dissolução irregular da
empresa, passou-se a discutir qual seria o sócio-gerente a responder pelos tributos: se o sócio-gerente à
época da dissolução irregular da pessoa jurídica executada e ao tempo dos fatos geradores dos tributos
inadimplidos; se o sócio-gerente à época da dissolução irregular, embora não gerisse a pessoa jurídica
executada ao tempo dos fatos geradores dos tributos inadimplidos; ou se o sócio-gerente ao tempo dos fatos
geradores, embora não gerisse a pessoa jurídica executada à época da dissolução irregular.

Esta última hipótese é objeto do tema 962; as duas primeiras, do tema 981. Tratam eles de temas correlatos,
que tiveram iniciado o julgamento conjunto, na presente sessão.

No âmbito da Primeira Turma do STJ está consolidado entendimento no sentido de que, "embora seja
necessário demonstrar quem ocupava o posto de gerente no momento da dissolução, é necessário, antes, que
aquele responsável pela dissolução tenha sido também, simultaneamente, o detentor da gerência na
oportunidade do vencimento do tributo". Isso porque "só se dirá responsável o sócio que, tendo poderes para
tanto, não pagou o tributo (daí exigir-se seja demonstrada a detenção de gerência no momento do
vencimento do débito) e que, ademais, conscientemente optou pela irregular dissolução da sociedade (por
isso, também exigível a prova da permanência no momento da dissolução irregular)" (STJ, AgRg no REsp
1.034.238/SP, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJe de 04/05/2009). No mesmo sentido, os
seguintes precedentes: STJ, AgRg no AREsp 647.563/PE, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJe de 17/11/2020; AgInt no REsp 1.569.844/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe
de 04/10/2016; AREsp 838.948/SC, Rel. Ministro Gurgel De Faria, Primeira Turma, DJe de 19/10/2016; AgInt no
REsp 1.602.080/SP, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe de 21/09/2016; AgInt no AgInt no
AREsp 856.173/SC, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe de 22/09/2016.
172

A Segunda Turma do STJ, por outro lado, embora, num primeiro momento, adotasse entendimento idêntico,
no sentido de que "não é possível o redirecionamento da execução fiscal em relação a sócio que não
integrava a sociedade à época dos fatos geradores e no momento da dissolução irregular da empresa
executada" (STJ, AgRg no AREsp 556.735/MG, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de
06/10/2014), veio, posteriormente, a adotar ótica diversa. Com efeito, no julgamento, em 16/06/2015, do REsp
1.520.257/SP, de relatoria do Ministro Og Fernandes (DJe de 23/06/2015), a Segunda Turma, ao enfrentar
hipótese análoga à ora em julgamento, passou a condicionar a responsabilização pessoal do sócio-gerente a
um único requisito, qual seja, encontrar-se o referido sócio no exercício da administração da pessoa jurídica
executada no momento de sua dissolução irregular ou da prática de ato que faça presumir a dissolução
irregular.

O fundamento para tanto consiste na conjugação do art. 135, III, do CTN com o enunciado 435 da Súmula do
Superior Tribunal de Justiça. De fato, na medida em que a hipótese que desencadeia a responsabilidade
tributária é a infração à lei, evidenciada pela dissolução irregular da pessoa jurídica executada, revela-se
indiferente o fato de o sócio-gerente responsável pela dissolução irregular não estar na administração da
pessoa jurídica à época do fato gerador do tributo inadimplido.

Concluiu a Segunda Turma, no aludido REsp 1.520.257/SP, alterando sua jurisprudência sobre o assunto, que
"o pedido de redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular ou em ato que
presuma sua ocorrência - encerramento das atividades empresariais no domicílio fiscal, sem comunicação aos
órgãos competentes (Súmula 435/STJ) -, pressupõe a permanência do sócio na administração da sociedade
no momento dessa dissolução ou do ato presumidor de sua ocorrência, uma vez que, nos termos do art.
135, caput, III, CTN, combinado com a orientação constante da Súmula 435/STJ, o que desencadeia a
responsabilidade tributária é a infração de lei evidenciada na existência ou presunção de ocorrência de
referido fato. Consideram-se irrelevantes para a definição da responsabilidade por dissolução irregular (ou sua
presunção) a data da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, bem como o momento em que
vencido o prazo para pagamento do respectivo débito". Após a mudança jurisprudencial, o novo
entendimento foi reafirmado noutras oportunidades: STJ, REsp 1.726.964/RJ, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe de 21/11/2018; AgInt no AREsp 948.795/AM, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda
Turma, DJe de 21/08/2017; AgRg no REsp 1.541.209/PE, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma,
DJe de 11/05/2016; AgRg no REsp 1.545.342/GO, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
de 28/09/2015.

Além das pertinentes considerações feitas pelo Ministro Og Fernandes, no sentido de que o fato ensejador da
responsabilidade tributária é a dissolução irregular da pessoa jurídica executada ou a presunção de sua
ocorrência - o que configura infração à lei, para fins do art. 135, III, do CTN -, é preciso observar que a posição
da Primeira Turma pode gerar uma estrutura de incentivos não alinhada com os valores subjacentes à ordem
tributária, sobretudo o dever de pagar tributos. Com efeito, o entendimento pode criar situação em que,
mesmo diante da ocorrência de um ilícito, previsto no art. 135, III, do CTN, inexistirá sanção, em hipótese em
que, sendo diversos os sócios-gerentes ou administradores, ao tempo do fato gerador do tributo inadimplido
e ao tempo da dissolução irregular da pessoa jurídica executada, a responsabilidade tributária não poderia ser
imputada a qualquer deles.

Ademais, o entendimento da Segunda Turma encontra respaldo nas razões de decidir do Recurso Especial
repetitivo 1.201.993/SP (Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe de 12/12/2019), no qual se
discutiu a prescrição para o redirecionamento da execução fiscal e no qual o Relator consignou que "o
fundamento que justificou a orientação adotada é que a responsabilidade tributária de terceiros, para os fins
do art. 135 do CTN, pode resultar tanto do ato de infração à lei do qual resulte diretamente a obrigação
173

tributária, como do ato infracional praticado em momento posterior ao surgimento do crédito tributário que
inviabilize, porém, a cobrança do devedor original. (...) ou seja, a responsabilidade dos sócios com poderes de
gerente, pelos débitos empresariais, pode decorrer tanto da prática de atos ilícitos que resultem no
nascimento da obrigação tributária como da prática de atos ilícitos ulteriores à ocorrência do fato gerador que
impossibilitem a recuperação do crédito tributário contra o seu devedor original".

Por fim, vale esclarecer que o que dito acima aplica-se, mutatis mutandis, aos terceiros não sócios, com
poderes de gerência, na medida em que o art. 135, III, do CTN atribui responsabilidade tributária aos
administradores das pessoas jurídicas de direito privado, por atos praticados com excesso de poderes ou
infração à lei, ao contrato social ou aos estatutos.

(i) É vedada a constituição de créditos da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS sobre


os componentes do custo de aquisição (art. 13, do Decreto-Lei n. 1.598/77) de bens sujeitos
à tributação monofásica (arts. 3º, I, "b" da Lei n. 10.637/2002 e da Lei n. 10.833/2003).

(ii) O benefício instituído no art. 17, da Lei 11.033/2004, não se restringe somente às
empresas que se encontram inseridas no regime específico de tributação denominado
REPORTO.

(iii) O art. 17, da Lei 11.033/2004, diz respeito apenas à manutenção de créditos cuja
constituição não foi vedada pela legislação em vigor, portanto não permite a constituição
de créditos da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS sobre o custo de aquisição (art.
13, do Decreto-Lei n. 1.598/77) de bens sujeitos à tributação monofásica, já que vedada
pelos arts. 3º, I, "b" da Lei n. 10.637/2002 e da Lei n. 10.833/2003.

(iv) Apesar de não constituir créditos, a incidência monofásica da Contribuição para o


PIS/PASEP e da COFINS não é incompatível com a técnica do creditamento, visto que se
prende aos bens e não à pessoa jurídica que os comercializa que pode adquirir e revender
conjuntamente bens sujeitos à não cumulatividade em incidência plurifásica, os quais
podem lhe gerar créditos.

(v) O art. 17, da Lei 11.033/2004, apenas autoriza que os créditos gerados na aquisição de
bens sujeitos à não cumulatividade (incidência plurifásica) não sejam estornados (sejam
mantidos) quando as respectivas vendas forem efetuadas com suspensão, isenção, alíquota
0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, não autorizando
a constituição de créditos sobre o custo de aquisição (art. 13, do Decreto-Lei n. 1.598/77) de
bens sujeitos à tributação monofásica.

Esp 1.894.741-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por maioria, julgado em 27/04/2022.
(Tema 1093)
174

Informações: Há pacífica jurisprudência no âmbito do Supremo Tribunal Federal, sumulada e em sede de


repercussão geral, no sentido de que o princípio da não cumulatividade não se aplica a situações em que não
existe dupla ou múltipla tributação (v.g. casos de monofasia e substituição tributária), a saber: Súmula
Vinculante 58/STF: "Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos,
sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade"; Repercussão
Geral Tema 844: "O princípio da não cumulatividade não assegura direito de crédito presumido de IPI para o
contribuinte adquirente de insumos não tributados, isentos ou sujeitos à alíquota zero".

O art. 17, da Lei n. 11.033/2004, muito embora seja norma posterior aos arts. 3º, § 2º, II, das Leis ns.
10.637/2002 e 10.833/2003, não autoriza a constituição de créditos de PIS/PASEP e COFINS sobre o custo de
aquisição (art. 13, do Decreto-Lei n. 1.598/1977) de bens sujeitos à tributação monofásica, contudo permite a
manutenção de créditos por outro modo constituídos, ou seja, créditos cuja constituição não restou obstada
pelas Leis ns. 10.637/2002 e 10.833/2003.

Isto porque a vedação para a constituição de créditos sobre o custo de aquisição de bens sujeitos à tributação
monofásica (creditamento), além de ser norma específica contida em outros dispositivos legais - arts. 3º, I, "b"
da Lei n. 10.637/2002 e da Lei n. 10.833/2003 (critério da especialidade), foi republicada posteriormente com o
advento dos arts. 4º e 5º, da Lei n. 11.787/2008 (critério cronológico) e foi referenciada pelo art. 24, §3º, da Lei
n. 11.787/2008 (critério sistemático).

Nesse sentido, inúmeros precedentes da Segunda Turma deste Superior Tribunal de Justiça que reconhecem a
plena vigência dos arts. 3º, I, "b" da Lei n. 10.637/2002 e da Lei n. 10.833/2003, dada a impossibilidade
cronológica de sua revogação pelo art. 17, da Lei n. 11.033/2004.

Também a douta Primeira Turma se manifestava no mesmo sentido, antes da mudança de orientação ali
promovida pelo AgRg no REsp 1.051.634/CE, (Primeira Turma, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. p/acórdão Min.
Regina Helena Costa, julgado em 28.03.2017).

O tema foi definitivamente pacificado com o julgamento dos EAREsp 1.109.354/SP e dos EREsp 1.768.224/RS
(Primeira Seção, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgados em 14.04.2021) estabelecendo-se a negativa de
constituição de créditos sobre o custo de aquisição de bens sujeitos à tributação monofásica (negativa de
creditamento).

Consoante o art. 20, do Decreto-Lei n. 4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB):
"[...] não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências
práticas da decisão". É preciso compreender que o objetivo da tributação monofásica não é desonerar a
cadeia, mas concentrar em apenas um elo da cadeia a tributação que seria recolhida de toda ela caso fosse
não cumulativa, evitando os pagamentos fracionados (dupla tributação e plurifasia). Tal se dá exclusivamente
por motivos de política fiscal.

Em todos os casos analisados (cadeia de bebidas, setor farmacêutico, setor de autopeças), a autorização para
a constituição de créditos sobre o custo de aquisição de bens sujeitos à tributação monofásica, além de
comprometer a arrecadação da cadeia, colocaria a Administração Tributária e o fabricante trabalhando quase
que exclusivamente para financiar o revendedor, contrariando o art. 37, caput, da CF/1988 - princípio da
eficiência da administração pública - e também o objetivo de neutralidade econômica que é o componente
principal do princípio da não cumulatividade. Ou seja, é justamente o creditamento que violaria o princípio da
não cumulatividade.

No contexto atual de pandemia causada pela COVID - 19, nunca é demais lembrar que as contribuições ao
PIS/PASEP e COFINS possuem destinação própria para o financiamento da Seguridade Social (arts. 195, I, "b" e
175

239, da CF/1988), atendendo ao princípio da solidariedade, recursos estes que em um momento de crise
estariam sendo suprimidos do Sistema Único de Saúde - SUS e do Programa Seguro Desemprego para serem
direcionados a uma redistribuição de renda individualizada do fabricante para o revendedor, em detrimento
de toda a coletividade. A função social da empresa também se realiza através do pagamento dos tributos
devidos, mormente quando vinculados a uma destinação social.

É constitucional a inclusão do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS


na base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB

REsp 1.638.772-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 27/04/2022.
(Tema 994) – info 734

Informações: A Primeira Seção, no julgamento do presente caso, sob o rito da sistemática repetitiva, firmou a
tese assim enunciada: "os valores de ICMS não integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária
sobre a Receita Bruta - CPRB, prevista na Lei n. 12.546/2011".

Fundamentalmente, foi afastada a incorporação do montante do imposto estadual da base de cálculo da


apontada contribuição porquanto se entendeu ausente a materialidade da hipótese de incidência, vale dizer, a
receita bruta.

Todavia, o Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral, fixou, por maioria de votos, tese
vinculante contrária, no sentido de que "é constitucional a inclusão do Imposto Sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços - ICMS na base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta -
CPRB" (Tema 1.048/STF. Tribunal Pleno. RE 1.187.264/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ acórdão Min.
Alexandre de Moraes, j. 24.02.2021, DJe 20.05.2021).

Essencialmente porque, de acordo com a legislação vigente, se a receita líquida compreende a receita bruta,
descontados, entre outros, os tributos incidentes, significa que, contrario sensu, a receita bruta compreende os
tributos sobre ela incidentes.

Conforme já mencionado, a partir da alteração promovida pela Lei n. 13.161/2015, as empresas listadas nos
artigos 7º e 8º da Lei n. 12.546/2011 têm a faculdade de aderir ao novo sistema, caso concluam que a
sistemática da CPRB é, no seu contexto, mais benéfica do que a contribuição sobre a folha de pagamentos.

Logo, não poderia a empresa aderir ao novo regime de contribuição por livre vontade e, ao mesmo tempo,
querer se beneficiar de regras que não lhe sejam aplicáveis.

Ora, permitir que a recorrente adira ao novo regime, abatendo do cálculo da CPRB o ICMS sobre ela incidente,
ampliaria demasiadamente o benefício fiscal, pautado em amplo debate de políticas públicas tributárias. Tal
pretensão acarretaria grave violação ao artigo 155, § 6º, da CF/1988, que determina a edição de lei específica
para tratar sobre redução de base de cálculo de tributo.

Por fim, a teor do art. 1.041, § 1º, do CPC/2015, verifica-se a inexistência de particularidades fáticas e/ou
processuais que impeçam a aplicação da orientação modificada, como também de questões ainda não
decididas, cujo enfrentamento pudesse ter se tornado necessário em decorrência da alteração.
176

a) a base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em condições normais de


mercado, não estando vinculada à base de cálculo do IPTU, que nem sequer pode ser
utilizada como piso de tributação;

b) o valor da transação declarado pelo contribuinte goza da presunção de que é


condizente com o valor de mercado, que somente pode ser afastada pelo fisco mediante a
regular instauração de processo administrativo próprio (art. 148 do CTN);

c) o Município não pode arbitrar previamente a base de cálculo do ITBI com respaldo em
valor de referência por ele estabelecido unilateralmente.

REsp 1.937.821-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 24/02/2022, DJe
03/03/2022. (Tema 1113)

Informações: A jurisprudência pacífica desta Corte Superior do STJ é no sentido de que, embora o Código
Tributário Nacional estabeleça como base de cálculo do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e do
Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) o "valor venal", a apuração desse elemento quantitativo
faz-se de formas diversas, notadamente em razão da distinção existente entre os fatos geradores e a
modalidade de lançamento desses impostos.

Os arts. 35 e 38 do CTN dispõem, respectivamente, que o fato gerador do ITBI é a transmissão da propriedade
ou de direitos reais imobiliários ou a cessão de direitos relativos a tais transmissões e que a base de cálculo do
tributo é o "valor venal dos bens ou direitos transmitidos", que corresponde ao valor considerado para as
negociações de imóveis em condições normais de mercado.

A possibilidade de dimensionar o valor dos imóveis no mercado, segundo critérios, por exemplo, de
localização e tamanho (metragem), não impede que a avaliação de mercado específica de cada imóvel
transacionado oscile dentro do parâmetro médio, a depender, por exemplo, da existência de outras
circunstâncias igualmente relevantes e legítimas para a determinação do real va lor da coisa, como a
existência de benfeitorias, o estado de conservação e os interesses pessoais do vendedor e do comprador no
ajuste do preço.

O ITBI comporta apenas duas modalidades de lançamento originário: por declaração, se a norma local exigir
prévio exame das informações do contribuinte pela Administração para a constituição do crédito tributário, ou
por homologação, se a legislação municipal disciplinar que caberá ao contribuinte apurar o valor do imposto
e efetuar o seu pagamento antecipado sem prévio exame do ente tributante.

Os lançamentos por declaração ou por homologação se justificam pelas várias circunstâncias que podem
interferir no específico valor de mercado de cada imóvel transacionado, circunstâncias cujo conhecimento
integra l somente os negociantes têm ou deveriam ter para melhor avaliar o real valor do bem quando da
realização do negócio, sendo essa a principal razão da impossibilidade prática da realização do lançamento
originário de ofício, ainda que autorizado pelo legislador local, pois o fisco não tem como possuir,
previamente, o conhecimento de todas as variáveis determinantes para a composição do valor do imóvel
transmitido.
177

Em face do princípio da boa-fé objetiva, o valor da transação declarado pelo contribuinte presume-se
condizente com o valor médio de mercado do bem imóvel transacionado, presunção que somente pode ser
afastada pelo fisco se esse valor se mostrar, de pronto, incompatível com a realidade, estando, nessa hipótese,
justificada a instauração do pro cedimento próprio para o arbitramento da base de cálculo, em que deve ser
assegurado ao contribuinte o contraditório necessário para apresentação das peculiaridades que amparariam
o quantum informado (art. 148 do CTN).

A prévia adoção de um valor de referência pela Administração configura indevido lançamento de ofício do
ITBI por mera estimativa e subverte o procedimento instituído no art. 148 do CTN, pois representa
arbitramento da base de cálculo sem prévio juízo quanto à fidedignidade da declaração do sujeito passivo.
730 ) (Informativo n. 25

2021

O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular da


pessoa jurídica executada ou na presunção de sua ocorrência, não pode ser autorizado
contra o sócio ou o terceiro não sócio que, embora exercessem poderes de gerência ao
tempo do fato gerador, sem incorrer em prática de atos com excesso de poderes ou
infração à lei, ao contrato social ou aos estatutos, dela regularmente se retirou e não
deu causa à sua posterior dissolução irregular, conforme art. 135, III do CTN.

REsp 1.377.019-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 24/11/2021.
(Tema 962) Info 719

Informações: A controvérsia ora em apreciação, submetida ao rito dos recursos especiais repetitivos, nos
termos dos arts. 1.036 a 1.041 do CPC/2015, restou assim delimitada: "Possibilidade de redirecionamento da
execução fiscal contra o sócio que, apesar de exercer a gerência da empresa devedora à época do fato
tributário, dela regularmente se afastou, sem dar causa, portanto, à posterior dissolução irregular da
sociedade empresária" (Tema 962/STJ). A Primeira Seção do STJ, ao julgar, sob o rito dos recursos repetitivos,
o Recurso Especial 1.101.728/SP (Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, DJe de 23/03/2009), fixou a tese de que
"a simples falta de pagamento do tributo não configura, por si só, nem em tese, circunstância que acarreta a
responsabilidade subsidiária do sócio, prevista no art. 135 do CTN. É indispensável, para tanto, que tenha
agido com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou ao estatuto da empresa" (Tema 97 do
STJ). No mesmo sentido dispõe a Súmula 430/STJ ("O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade
não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente"). É firme a jurisprudência desta Corte no
sentido de que, à luz do art. 135, III, do CTN, não se admite o redirecionamento da execução fiscal,
quando fundado na dissolução irregular da pessoa jurídica executada, contra o sócio e o terceiro não
sócio que, embora exercessem poderes de gerência ao tempo do fato gerador, sem a prática de ato
com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou aos estatutos, dela regularmente se
retiraram e não deram causa à sua posterior dissolução irregular. A própria Fazenda Nacional, embora, a
princípio, defendesse a responsabilização do sócio-gerente à época do fato gerador, curvou-se à tese
prevalecente no Superior Tribunal de Justiça, como se depreende da alteração da Portaria PGFN n. 180/2010,
promovida pela Portaria PGFN n. 713/2011.
178

1) Regra geral, os juros de mora possuem natureza de lucros cessantes, o que permite a
incidência do Imposto de Renda;

2) Os juros de mora decorrentes do pagamento em atraso de verbas alimentares a


pessoas físicas escapam à regra geral da incidência do Imposto de Renda, posto que,
excepcionalmente, configuram indenização por danos emergentes;

3) Escapam à regra geral de incidência do Imposto de Renda sobre juros de mora aqueles
cuja verba principal seja isenta ou fora do campo de incidência do IR.

REsp 1.470.443-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por maioria, julgado em 25/08/2021.
(Tema 878) Info 706

Tema: Imposto de renda da pessoa física - IRPF. Incidência sobre juros de mora. Adaptação da jurisprudência
do STJ ao que julgado pelo STF no RE n. 855.091/RS (Tema 808 - RG). Preservação em parte das teses julgadas
julgadas no REsp 1.089.720/RS e recurso representativo da controvérsia REsp 1.227.133/RS. Preservação da
totalidade da tese julgada no recurso representativo de controvérsia REsp 1.138.685/SC. Integralidade,
estabilidade e coerência da jurisprudência.

Informações: O Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 855.091/RS (Tribunal Pleno, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 15.03.2021), apreciando o Tema 808 da Repercussão Geral, em caso concreto onde em
discussão juros moratórios acrescidos a verbas remuneratórias reconhecidas em reclamatória trabalhista,
considerou não recepcionada pela Constituição Federal de 1988 a parte do parágrafo único do art. 16,
da Lei n. 4.506/1964 que determina a incidência do imposto de renda sobre juros de mora decorrentes
de atraso no pagamento das remunerações previstas no artigo, ou seja, rendimentos do trabalho
assalariado (remunerações advindas de exercício de empregos, cargos ou funções). Fixou-se então a seguinte
tese: Tema 808 da Repercussão Geral: "Não incide imposto de renda sobre os juros de mora devidos pelo
atraso no pagamento de remuneração por exercício de emprego, cargo ou função". O dever de manter
a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça íntegra, estável e coerente (art. 926, do CPC/2015)
impõe realizar a compatibilização da jurisprudência desta Casa formada em repetitivos e precedentes da
Primeira Seção ao que decidido no Tema 808 pela Corte Constitucional. Dessa análise, após as derrogações
perpetradas pelo julgado do STF na jurisprudência deste STJ, exsurgem as seguintes teses: 1) Regra geral, os
juros de mora possuem natureza de lucros cessantes, o que permite a incidência do Imposto de Renda -
Precedentes: REsp. 1.227.133/RS, REsp. n. 1.089.720/RS e REsp. 1.138.695/SC; 2) Os juros de mora decorrentes
do pagamento em atraso de verbas alimentares a pessoas físicas escapam à regra geral da incidência do
Imposto de Renda, posto que, excepcionalmente, configuram indenização por danos emergentes -
Precedente: RE 855.091/RS; 3) Escapam à regra geral de incidência do Imposto de Renda sobre juros de mora
aqueles cuja verba principal seja isenta ou fora do campo de incidência do IR - Precedente: REsp.
1.089.720/RS.
179

(I) As inscrições em dívida ativa dos créditos referentes a benefícios previdenciários ou


assistenciais pagos indevidamente ou além do devido constituídos por processos
administrativos que tenham sido iniciados antes da vigência da Medida Provisória n. 780, de
2017, convertida na Lei n. 13.494/2017 (antes de 22.05.2017) são nulas, devendo a
constituição desses créditos ser reiniciada através de notificações/intimações
administrativas a fim de permitir-se o contraditório administrativo e a ampla defesa aos
devedores e, ao final, a inscrição em dívida ativa, obedecendo-se os prazos prescricionais
aplicáveis; e

(II) As inscrições em dívida ativa dos créditos referentes a benefícios previdenciários ou


assistenciais pagos indevidamente ou além do devido contra os terceiros beneficiados que
sabiam ou deveriam saber da origem dos benefícios pagos indevidamente em razão de
fraude, dolo ou coação, constituídos por processos administrativos que tenham sido
iniciados antes da vigência da Medida Provisória n. 871, de 2019, convertida na Lei n.
13.846/2019 (antes de 18.01.2019) são nulas, devendo a constituição desses créditos ser
reiniciada através de notificações/intimações administrativas a fim de permitir-se o
contraditório administrativo e a ampla defesa aos devedores e, ao final, a inscrição em
dívida ativa, obedecendo-se os prazos prescricionais aplicáveis.

REsp 1.860.018-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 23/06/2021, DJe
28/06/2021. (Tema 1064)

Tema: Inscrição em dívida ativa. Benefício previdenciário indevidamente recebido, qualificado como
enriquecimento ilícito. Aplicabilidade dos §§3º e 4º, do art. 115, da Lei n. 8.213/1991, com redação dada pela
Medida Provisória n. 780/2017 (Lei n. 494/2017) e Medida Provisória n. 871/2019 (Lei n. 13.846/2019) aos
processos em curso donde constam créditos constituídos anteriormente. Impossibilidade. Tema 1064.

INFORMAÇÕES: O presente repetitivo é um desdobramento do Tema Repetitivo n. 598, onde foi submetida a
julgamento no âmbito do REsp 1.350.804-PR (Primeira Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
12.06.2013) a "Questão referente à possibilidade de inscrição em dívida ativa de benefício previdenciário
indevidamente recebido, qualificado como enriquecimento ilícito". Naquela ocasião foi definido que a
inscrição em dívida ativa de valor decorrente de ilícito extracontratual deve ser fundamentada em
dispositivo legal específico que a autorize expressamente, o que impossibilitava a inscrição em dívida
ativa de valor indevidamente recebido, a título de benefício previdenciário do INSS, pois não havia lei
específica que assim o dispusesse. Essa lacuna de lei tornava ilegal o art. 154, §4º, II, do Decreto n.
3.048/19999 que determinava a inscrição em dívida ativa de benefício previdenciário pago indevidamente, já
que não dispunha de amparo legal.

Pode-se colher da ratio decidendi do repetitivo REsp 1.350.804-PR três requisitos prévios à inscrição em
dívida ativa:

1º) a presença de lei autorizativa para a apuração administrativa (constituição);

2º) a oportunização de contraditório prévio nessa apuração; e

3º) a presença de lei autorizativa para a inscrição do débito em dívida ativa.


180

Após o advento da Medida Provisória n. 780/2017 (convertida na Lei n. 13.494/2017) a que se sucedeu a
Medida Provisória n. 871/2019 (convertida na Lei n. 13.846/2019), que alteraram e adicionaram os §§ 3º, 4º e
5º ao art. 115, da Lei n. 8.213/1991, foi determinada a inscrição em dívida ativa pela Procuradoria-Geral
Federal - PGF dos créditos constituídos pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS em decorrência de
benefício previdenciário ou assistencial pago indevidamente ou além do devido, inclusive para terceiro
beneficiado que sabia ou deveria saber da origem do benefício pago indevidamente em razão de fraude, dolo
ou coação.

Considerando-se as razões de decidir do do repetitivo REsp 1.350.804-PR, as alterações legais não podem
retroagir para alcançar créditos constituídos (lançados) antes de sua vigência, indiferente, portanto, que a
inscrição em dívida ativa tenha sido feita depois da vigência das respectivas alterações legislativas. O processo
administrativo que enseja a constituição do crédito (lançamento) há que ter início (notificação para defesa) e
término (lançamento) dentro da vigência das leis novas para que a inscrição em dívida ativa seja válida.

O Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação - ITCDM, referente a doação não


oportunamente declarada pelo contribuinte ao fisco estadual, a contagem do prazo
decadencial tem início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento
poderia ter sido efetuado, observado o fato gerador, em conformidade com os arts. 144 e
173, I, ambos do CTN.

REsp 1.841.798/MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
20/04/2021 (Tema 1048)

TEMA Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação - ITCDM. Doação não declarada. Prazo decadencial.
Art. 173, I, do CTN. Primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado.
Tema 1048.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a definir o início da contagem do prazo decadencial previsto no art.
173, I, do CTN para a constituição do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) referente a
doação não oportunamente declarada pelo contribuinte ao fisco estadual. Nos termos do art. 149, II, do CTN,
quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação tributária,
surge para o Fisco a necessidade de proceder ao lançamento de ofício, no prazo de cinco anos contados do
primeiro dia do exercício seguinte à data em que ocorrido o fato gerador do tributo (art. 173, I, do CTN). Em
se tratando do imposto sobre a transmissão de bens ou direitos, mediante doação, o fato gerador ocorrerá: (i)
no tocante aos bens imóveis, pela efetiva transcrição realizada no registro de imóveis (art. 1.245 do CC/2020);
(i) em relação aos bens móveis, ou direitos, a transmissão da titularidade, que caracteriza a doação, se dará
por tradição (art. 1.267 do CC/2020), eventualmente objeto de registro administrativo. Para o caso de omissão
na declaração do contribuinte, a respeito da ocorrência do fato gerador do imposto incidente sobre a
transmissão de bens ou direitos por doação, caberá ao Fisco diligenciar quanto aos fatos tributáveis e exercer
a constituição do crédito tributário mediante lançamento de ofício, dentro do prazo decadencial. O Superior
Tribunal de Justiça tem entendimento pacificado no sentido de que, no caso do Imposto de Transmissão
Causa Mortis e Doação - ITCDM, a contagem do prazo decadencial tem início no primeiro dia do exercício
seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, observado o fato gerador, em conformidade
com os arts. 144 e 173, I, ambos do CTN, sendo irrelevante a data em que o fisco teve conhecimento da
181

ocorrência do fato gerador (AgInt no REsp 1.690.263/MG, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma
Segunda Turma, julgado em 10/9/2019, DJe 16/9/2019). No mesmo sentido: AgInt no REsp 1.795.066/MG, Rel.
Ministro Benedito Gonçalves,(Primeira Turma Primeira Turma, julgado em 16/9/2019, DJe 18/ 9/2019).
(Informativo n. 694)

2020

A execução fiscal pode ser redirecionada em desfavor da empresa sucessora para


cobrança de crédito tributário relativo a fato gerador ocorrido posteriormente à
incorporação empresarial e ainda lançado em nome da sucedida, sem a necessidade de
modificação da Certidão de Dívida Ativa, quando verificado que esse negócio jurídico não
foi informado oportunamente ao fisco.

REsp 1.848.993-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 26/08/2020, DJe
09/09/2020 (Tema 1049)

TEMA Execução fiscal. Sucessão empresarial por incorporação. Ocorrência antes do lançamento. Ausência de
comunicação ao fisco. Redirecionamento. Possibilidade. Substituição da Certidão de Dívida Ativia - CDA.
Desnecessidade. Tema 1049.

INFORMAÇÕES: De acordo com o que dispõem os arts. 1.118 do Código Civil e 219, II, da Lei n. 6.404/1976, a
incorporação empresarial é causa de extinção da pessoa jurídica incorporada. Todavia, a produção de seus
efeitos, na esfera tributária, há de se compatibilizar com a norma geral de natureza de lei complementar (art.
146, III, "a", da Constituição Federal) contida no art. 123 do Código Tributário Nacional - CTN, segundo o qual
"salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo
pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito
passivo das obrigações tributárias correspondentes".Assim, para que a extinção da pessoa jurídica resultante
de incorporação surta seus efeitos também no âmbito tributário, faz-se necessário que essa operação seja
oportunamente comunicada ao fisco, pois somente a partir da ciência da realização desse negócio inter partes
é que a Administração Tributária saberá oficialmente da modificação do sujeito passivo e poderá realizar os
novos lançamentos em nome da empresa incorporadora (art. 121 do CTN) e cobrar dela, sucessora, os
créditos já constituídos (art. 132 do CTN).Em outras palavras, se a incorporação não foi oportunamente
informada, é de se considerar válido o lançamento realizado contra a contribuinte original que veio a ser
incorporada, não havendo a necessidade de modificação desse ato administrativo para fazer constar o nome
da empresa incorporadora, sob pena de permitir que esta última se beneficie de sua própria omissão.O
simples registro na Junta Comercial não alcança essa finalidade em relação à administração tributária, visto
que não há na Lei n. 8.934/1994 previsão expressa de que esta (a administração tributária) seja pessoalmente
cientificada desses assentamentos. Por outro prisma, não se mostra razoável exigir dos fiscos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a prévia consulta do registro dos atos constitutivos das
empresas contribuintes sempre que realizarem um lançamento.Constata-se, portanto, que a comunicação da
incorporação empresarial não representa apenas mero cumprimento de obrigação acessória: configura, além
disso, pressuposto específico para que a extinção da pessoa jurídica incorporada passe a ter eficácia perante o
fisco.A propósito, não se desconhece a orientação jurisprudencial de que não é possível o redirecionamento
de execução fiscal em desfavor dos sucessores para a cobrança de crédito lançado em nome de pessoa já
falecida. Essa diretriz, todavia, não se aplica à hipótese. Isso porque, enquanto o evento morte da pessoa
182

natural cuida de fato jurídico que opera seus efeitos desde logo, independentemente da vontade de seus
sucessores, a extinção da pessoa jurídica por incorporação resulta de negócio jurídico, de sorte que, em
respeito à disposição contida no art. 123 do CTN, seus efeitos quanto à modificação da sujeição passiva
somente vincularão o fisco depois que este for pessoalmente cientificado da operação.Por outro lado, se
ocorrer a comunicação da sucessão empresarial ao fisco antes do surgimento do fato gerador, é de se
reconhecer a nulidade do lançamento equivocadamente realizado em nome da pessoa incorporada e, por
conseguinte, a impossibilidade de modificação do sujeito passivo diretamente no âmbito da execução fiscal,
sendo vedada a substituição da CDA para esse propósito, consoante posição já sedimentada na Súmula 392
do STJ ("A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de
embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo
da execução.")Diante dessas ponderações, em sendo verificada a ausência da referida comunicação ao fisco e,
por conseguinte, reconhecida a validade do crédito lançado em nome da empresa incorporada, cabe analisar
a necessidade de alteração da Certidão de Dívida Ativa (CDA) para viabilizar redirecionamento da execução
fiscal em desfavor da empresa incorporadora.Conforme já explanado, é com a efetiva comunicação do
negócio jurídico que o fisco toma conhecimento do novo sujeito passivo a ser considerado no lançamento,
razão pela qual esse momento deve ser entendido, para fins de responsabilização da empresa sucessora,
como a data do ato da incorporação de que trata o caput do art. 132 do CTN.E por se tratar de imposição
automática - expressamente determinada na lei - do dever de pagar os créditos tributários validamente
lançados em nome da sucedida, a sucessora pode ser acionada independentemente de qualquer outra
diligência por parte da Fazenda credora, visto que a sua responsabilidade não está relacionada com o
surgimento da obrigação tributária (art. 121 do CTN), mas com o seu inadimplemento (art. 132 do CTN).Para
esses casos, então, não há necessidade de substituição ou emenda da CDA, de modo que é inaplicável o
entendimento consolidado na Súmula 392 do STJ, sendo o caso de apenas permitir o imediato
redirecionamento. (Informativo n. 678)

Não se aplica a isenção do imposto de renda prevista no inciso XIV do artigo 6º da Lei n.
7.713/1988 (seja na redação da Lei n. 11.052/2004 ou nas versões anteriores) aos
rendimentos de portador de moléstia grave que se encontre no exercício de atividade
laboral.

REsp 1.814.919-DF, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por maioria, julgado em 24/06/2020, DJe
04/08/2020 (Tema 1037)

TEMA Portador de moléstia grave. Exercício de atividade laboral. Imposto de renda. Isenção do Art. 6º, XIV, da
Lei n. 7.713/1988. Não cabimento. Tema 1037.

INFORMAÇÕES: No âmbito do STJ, a jurisprudência é pacífica e encontra-se consolidada há bastante tempo


no sentido da não extensão da isenção do art. 6°, XIV, da Lei n. 7.713/1988 à renda das pessoas em atividade
laboral que sofram das doenças ali enumeradas. O referido artigo isenta do imposto de renda alguns
rendimentos que elenca nos incisos, sendo que o inciso XIV refere-se aos "proventos de aposentadoria ou
reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional". A
partícula "e" significa que estão isentos os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em
serviço e os [proventos] percebidos pelos portadores de moléstia profissional. Ou seja, o legislador valeu-se
do aditivo "e" para evitar a repetição do termo "proventos", e não para referir-se à expressão "rendimentos"
contida no caput.Não procede o argumento de que essa interpretação feriria o art. 43, I e II, do Código
183

Tributário Nacional, que estabeleceria o conceito de renda para fins tributários, abrangendo as expressões
"renda" (inciso I) e "proventos" (inciso II). A expressão "renda" é o gênero que abrange os conceitos de
"renda" em sentido estrito ("assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de
ambos"), e de "proventos de qualquer natureza" ("assim entendidos os acréscimos patrimoniais não
compreendidos no inciso anterior"). O legislador pode estabelecer isenções específicas para determinadas
situações, não sendo necessário que toda e qualquer isenção se refira ao termo "renda" no sentido mais
amplo.Ademais, ao se recordar que a isenção do art. 6°, XIV, da Lei n. 7.713/1988 foi objeto de duas alterações
legislativas específicas que mantiveram o conceito estrito de proventos, a demonstrar que o intuito do
legislador foi manter o âmbito limitado de incidência do benefício, perde sentido o argumento de que, na
época da edição da lei, as doenças elencadas, por sua gravidade, implicariam sempre a passagem do
trabalhador à inatividade, e que a evolução subsequente da medicina teria ditado a necessidade de se ajustar
a expressão linguística da lei à nova realidade social.Como reza o art. 111, inciso II, do CTN, a legislação que
disponha sobre isenção tributária deve ser interpretada literalmente, não cabendo ao intérprete estender os
efeitos da norma isentiva, por mais que entenda ser uma solução que traga maior justiça do ponto de vista
social. Esse é um papel que cabe ao Poder Legislativo, e não ao Poder Judiciário. Assim, se a norma isentiva
fala em proventos de aposentaria ou reforma, não pode ser interpretada de forma extensiva para abranger os
rendimentos decorrentes do trabalho.Portanto, a interpretação dos arts. 43, I e II, e 111, II, do Código
Tributário Nacional e do art. 6°, XIV e XXI, da Lei n. 7.713/1988 conduz à conclusão de que a isenção de
imposto de renda referida nesse último diploma legal não abrange os rendimentos de portador de moléstia
grave que esteja em atividade laboral. (Informativo n. 676)

Os serviços de capatazia estão incluídos na composição do valor aduaneiro e integram a


base de cálculo do imposto de importação.

REsp 1.799.306-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Francisco Falcão, Primeira Seção, por maioria,
julgado em 11/03/2020, DJe 19/05/2020 (Tema 1014)

TEMA Imposto de importação. Base de cálculo. Composição do valor aduaneiro. Serviços de capatazia.
Inclusão. Instrução Normativa SRF n. 327/2003. Decreto n. 6.759/2009. Tema 1014.

INFORMAÇÕES: O acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio (Gatt 1994), no art. VII, estabelece normas para
determinação do "valor para fins alfandegários", ou seja, "valor aduaneiro" na nomenclatura do nosso sistema
normativo, sobre o qual incide o imposto de importação. Para implementação do referido artigo e, de resto,
dos objetivos do acordo Gatt 1994, o Decreto n. 2.498/1998, no art. 17, prevê a inclusão no valor aduaneiro
dos gastos relativos a carga, descarga e manuseio, associados ao transporte das mercadorias importadas até o
porto ou local de importação. Essa disposição é reproduzida no parágrafo 2º do art. 8º do AVA (Acordo de
Valoração Aduaneira).Os serviços de carga, descarga e manuseio, associados ao transporte das mercadorias
importadas até o porto ou local de importação, representam a atividade de capatazia, conforme a previsão da
Lei n. 12.815/2013, que, em seu art. 40, definiu essa atividade como de movimentação de mercadorias nas
instalações dentro do porto, compreendendo o recebimento, conferência, transporte interno, abertura de
volumes para a conferência aduaneira, manipulação, arrumação e entrega, bem como o carregamento e
descarga de embarcações, quando efetuados por aparelho portuário.Com o objetivo de regulamentar o valor
aduaneiro de mercadoria importada, a Secretaria da Receita Federal editou a Instrução Normativa SRF n.
327/2003, na qual ficou explicitado que a carga, descarga e manuseio das mercadorias importadas no
território nacional estão incluídas na determinação do "valor aduaneiro" para incidência tributária da exação.
184

Posteriormente foi editado o Decreto n. 6.759/2009, regulamentando as atividades aduaneiras, fiscalização,


controle e tributação das importações, ocasião em que foi ratificada a regulamentação exarada pela SRF.Ao
interpretar as normas citadas, evidencia-se que os serviços de capatazia, conforme a definição acima referida,
integram o conceito de valor aduaneiro, tendo em vista que tais atividades são realizadas dentro do porto ou
ponto de fronteira alfandegado na entrada do território aduaneiro.Nesse panorama, verifica-se que a
Instrução Normativa n. 327/2003 encontra-se nos estreitos limites do acordo internacional já analisado,
inocorrendo inovação no ordenamento jurídico pátrio. (Informativo 671)

O termo inicial da correção monetária de ressarcimento de crédito escritural excedente de


tributo sujeito ao regime não cumulativo ocorre somente após escoado o prazo de 360 dias
para a análise do pedido administrativo pelo Fisco (art. 24 da Lei n. 11.457/2007).

REsp 1.767.945-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, por maioria, julgado em 12/02/2020, DJe
06/05/2020

TEMA Tributo sujeito ao regime não cumulativo. Crédito tributário escritural excedente. Correção monetária.
Termo inicial. Escoamento do prazo de 360 dias para análise do pedido administrativo pelo Fisco.

INFORMAÇÕES: A regra é que, no regime de não cumulatividade, os créditos gerados por referidos tributos
são escriturais e, dessa forma, não resultam em dívida do Fisco com o contribuinte.Veja-se o que dispõe o art.
3º, § 10, da Lei n. 10.833/2003, que versa sobre a Cofins: "O valor dos créditos apurados de acordo com este
artigo não constitui receita bruta da pessoa jurídica, servindo somente para dedução do valor devido da
contribuição." (vide ainda o art. 15, II, dessa mesma lei: "Aplica-se à contribuição para o PIS/PASEP não
cumulativa de que trata a Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002, o disposto: [...] II - nos incisos VI, VII e IX
do caput e nos §§ 1º e 10 a 20 do art. 3º desta Lei;").Ratificando essa previsão legal, o Conselho Administrativo
de Recursos Fiscais - Carf editou o Enunciado sumular n. 125, o qual dispõe que "No ressarcimento da COFINS
e da Contribuição para o PIS não cumulativas, não incide correção monetária ou juros, nos termos dos artigos
13 e 15, VI, da Lei n. 10.833/2003".A leitura do teor desses artigos deixa transparecer a existência de vedação
legal à atualização monetária ou incidência de juros sobre os valores decorrentes do referido aproveitamento
de crédito - seja qual for a modalidade escolhida pelo contribuinte: dedução, compensação com outros
tributos ou ressarcimento em dinheiro.Convém ainda relembrar que a própria Corte Constitucional definiu que
a correção monetária não integra o núcleo constitucional da não cumulatividade dos tributos, sendo eventual
possibilidade de atualização de crédito escritural da competência discricionária do legislador
infraconstitucional.Dessa forma, na falta de autorização legal específica, a regra é a impossibilidade de
correção monetária do crédito escritural.Além disso, apenas como exceção, a jurisprudência deste STJ
compreende pela desnaturação do crédito escritural e, consequentemente, pela possibilidade de sua
atualização monetária, se ficar comprovada a resistência injustificada da Fazenda Pública ao aproveitamento
do crédito, por exemplo, se houve necessidade de o contribuinte ingressar em juízo para ser reconhecido o
seu direito ao creditamento, ou o transcurso do prazo de 360 dias de que dispõe o Fisco para responder ao
contribuinte, sem qualquer manifestação fazendária.Por fim, esperar o transcurso do prazo de 360 dias não
equivale a equiparar a correção monetária a uma sanção, mas sim conceder prazo razoável ao Fisco para
averiguar se o pedido de ressarcimento protocolado vai ser confirmado ou rejeitado.Assim, o termo inicial da
correção monetária do pleito de ressarcimento de crédito escritural excedente de tributo sujeito ao regime
não cumulativo ocorre somente quando caracterizado o ato fazendário de resistência ilegítima, no caso, o
185

transcurso do prazo de 360 dias para a análise do pedido administrativo sem apreciação pelo Fisco.
(Informativo 670)

2019

(i) o prazo de redirecionamento da Execução Fiscal, fixado em cinco anos, contado da


diligência de citação da pessoa jurídica, é aplicável quando o referido ato ilícito, previsto no
art. 135, III, do CTN, for precedente a esse ato processual; (ii) a citação positiva do sujeito
passivo devedor original da obrigação tributária, por si só, não provoca o início do prazo
prescricional quando o ato de dissolução irregular for a ela subsequente, uma vez que, em
tal circunstância, inexistirá, na aludida data (da citação), pretensão contra os sócios-gerentes
(conforme decidido no REsp 1.101.728/SP, no rito do art. 543-C do CPC/1973, o mero
inadimplemento da exação não configura ilícito atribuível aos sujeitos de direito descritos
no art. 135 do CTN). O termo inicial do prazo prescricional para a cobrança do crédito dos
sócios-gerentes infratores, nesse contexto, é a data da prática de ato inequívoco indicador
do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já em curso de cobrança
executiva promovida contra a empresa contribuinte, a ser demonstrado pelo Fisco, nos
termos do art. 593 do CPC/1973 (art. 792 do novo CPC - fraude à execução), combinado
com o art. 185 do CTN (presunção de fraude contra a Fazenda Pública); e, (iii) em qualquer
hipótese, a decretação da prescrição para o redirecionamento impõe seja demonstrada a
inércia da Fazenda Pública, no lustro que se seguiu à citação da empresa originalmente
devedora (REsp 1.222.444/RS) ou ao ato inequívoco mencionado no item anterior
(respectivamente, nos casos de dissolução irregular precedente ou superveniente à citação
da empresa), cabendo às instâncias ordinárias o exame dos fatos e provas atinentes à
demonstração da prática de atos concretos na direção da cobrança do crédito tributário no
decurso do prazo prescricional.

REsp 1.201.993-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 08/05/2019,
DJe 12/12/2019 (Tema 444)

TEMA Execução fiscal. Dissolução irregular. Termo inicial da prescrição para o redirecionamento.
Distinguishing relacionado à dissolução irregular posterior à citação da empresa, ou a outro marco
interruptivo da prescrição. Tema 444.

INFORMAÇÕES: Na demanda, almeja-se definir o termo inicial da prescrição para o redirecionamento,


especialmente na hipótese em que se deu a dissolução irregular após a citação da pessoa jurídica.
Preliminarmente, observa-se que o legislador não disciplinou especificamente o instituto da prescrição para o
redirecionamento. O Código Tributário Nacional discorre genericamente a respeito da prescrição (art. 174 do
CTN) e, ainda assim, o faz em relação apenas ao devedor original da obrigação tributária. Diante da lacuna da
lei, a jurisprudência do STJ há muito tempo consolidou o entendimento de que a Execução Fiscal não é
imprescritível. Com a orientação de que o art. 40 da Lei n. 6.830/1980, em sua redação original, deve ser
interpretado à luz do art. 174 do CTN, definiu que, constituindo a citação da pessoa jurídica o marco
186

interruptivo da prescrição, extensível aos devedores solidários (art. 125, III, do CTN), o redirecionamento com
fulcro no art. 135, III, do CTN deve ocorrer no prazo máximo de cinco anos, contado do aludido ato processual
(citação da pessoa jurídica). No entanto, a jurisprudência das Turmas que compõem a Seção de Direito
Público do STJ, atenta à necessidade de corrigir distorções na aplicação da lei federal, reconheceu ser preciso
distinguir situações jurídicas que, por possuírem características peculiares, afastam a exegese tradicional, de
modo a preservar a integridade e a eficácia do ordenamento jurídico. Nesse sentido, analisou precisamente
hipóteses em que a prática de ato de infração à lei, descrito no art. 135, III, do CTN (como, por exemplo, a
dissolução irregular), ocorreu após a citação da pessoa jurídica, modificando para momento futuro o termo
inicial do redirecionamento. Afastada a orientação de que a citação da pessoa jurídica dá início ao prazo
prescricional para redirecionamento, no específico contexto em que a dissolução irregular sucede a tal ato
processual (citação da empresa), impõe-se a definição da data que assinala o termo a quo da prescrição para
o redirecionamento nesse cenário peculiar (distinguishing). Se o ato de citação resultar negativo devido ao
encerramento das atividades empresariais ou por não se encontrar a empresa estabelecida no local informado
como seu domicílio tributário será possível cogitar da fluência do prazo de prescrição para o
redirecionamento, em razão do enunciado da Súmula n. 435/STJ ("presume-se dissolvida irregularmente a
empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes,
legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente"). Dessa forma, no que se refere ao
termo inicial da prescrição para o redirecionamento, em caso de dissolução irregular preexistente à citação da
pessoa jurídica, corresponderá aquele: a) à data da diligência que resultou negativa, nas situações regidas pela
redação original do art. 174, parágrafo único, I, do CTN; ou b) à data do despacho do juiz que ordenar a
citação, para os casos regidos pela redação do art. 174, parágrafo único, I, do CTN conferida pela Lei
Complementar n. 118/2005. De outro lado, no tocante ao momento do início do prazo da prescrição para
redirecionar a Execução Fiscal em caso de dissolução irregular depois da citação do estabelecimento
empresarial, tal marco não pode ficar ao talante da Fazenda Pública. Com base nessa premissa, os institutos
da Fraude à Execução (art. 593 do CPC/1973 e art. 792 do novo CPC) e da Fraude contra a Fazenda Pública
(art. 185 do CTN) assinalam que "a data do ato de alienação ou oneração de bem ou renda do patrimônio da
pessoa jurídica contribuinte ou do patrimônio pessoal do(s) sócio(s) administrador(es) infrator(es), ou seu
começo", é que corresponde ao termo inicial da prescrição para redirecionamento. Acrescenta-se que provar a
prática de tal ato é incumbência da Fazenda Pública. (Informativo 662)
187

Tratando-se de Mandado de Segurança impetrado com vistas a declarar o direito à


compensação tributária, em virtude do reconhecimento da ilegalidade ou
inconstitucionalidade da exigência da exação, independentemente da apuração dos
respectivos valores, é suficiente, para esse efeito, a comprovação de que o impetrante
ocupa a posição de credor tributário, visto que os comprovantes de recolhimento indevido
serão exigidos posteriormente, na esfera administrativa, quando o procedimento de
compensação for submetido à verificação pelo Fisco; de outro lado, tratando-se de
Mandado de Segurança com vistas a obter juízo específico sobre as parcelas a serem
compensadas, com efetiva investigação da liquidez e certeza dos créditos, ou, ainda, na
hipótese em que os efeitos da sentença supõem a efetiva homologação da compensação a
ser realizada, o crédito do contribuinte depende de quantificação, de modo que a
inexistência de comprovação cabal dos valores indevidamente recolhidos representa a
ausência de prova pré-constituída indispensável à propositura da ação.

REsp 1.715.256-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
13/02/2019, DJe 11/03/2019 (Tema 118)

TEMA Definição do alcance da tese firmada no tema 118/STJ (REsp 1.111.164/BA). Mandado de segurança.
Duas situações delineadas pela jurisprudência do STJ. Primeira: pedido de declaração do direito à
compensação tributária. Inexigibilidade de comprovação do efetivo recolhimento a maior do tributo.
Operação de compensação sujeita a ulterior fiscalização da receita competente. Segunda: juízo específico das
parcelas a serem compensadas ou em que os efeitos da sentença supõe a efetiva realização da compensação.
Comprovação cabal dos valores indevidamente recolhidos. Necessidade. Tema 118.

INFORMAÇÕES: De início, esclareça-se que a questão encontra-se delimitada ao alcance da aplicação da tese
firmada no Tema 118/STJ (REsp. 1.111.164/BA, da relatoria do eminente Ministro Teori Albino Zavascki,
submetido a sistemática do art. 543-C do CPC/1973), segundo o qual é necessária a efetiva comprovação do
recolhimento feito a maior ou indevidamente para fins de declaração do direito à compensação tributária em
sede de mandado de segurança. Nos termos da Súmula n. 213/STJ, o mandado de segurança constitui ação
adequada para a declaração do direito à compensação tributária. No entanto, ao sedimentar a Tese 118, a
Primeira Seção desta Corte firmou diretriz de que, tratando-se de mandado de segurança que apenas visa à
compensação de tributos indevidamente recolhidos, impõe-se delimitar a extensão do pedido constante da
inicial, ou seja, a ordem que se pretende alcançar para se determinar quais seriam os documentos
indispensáveis à propositura da ação. Logo, postulando o contribuinte apenas a concessão da ordem para se
declarar o direito à compensação tributária, em virtude do reconhecimento judicial transitado em julgado da
ilegalidade ou inconstitucionalidade da exigência da exação, independentemente da apuração dos respectivos
valores, é suficiente, para esse efeito, a comprovação de que o impetrante ocupa a posição de credor
tributário, visto que os comprovantes de recolhimento indevido serão exigidos posteriormente, na esfera
administrativa, quando o procedimento de compensação for submetido à verificação pelo Fisco. Todavia, a
prova dos recolhimentos indevidos será pressuposto indispensável à impetração quando se postular juízo
específico sobre as parcelas a serem compensadas, com a efetiva investigação da liquidez e certeza dos
créditos, ou, ainda, na hipótese em que os efeitos da sentença supõem a efetiva homologação da
compensação a ser realizada. Somente nessas hipóteses o crédito do contribuinte depende de quantificação,
188

de modo que a inexistência de comprovação cabal dos valores indevidamente recolhidos representa a
ausência de prova pré-constituída indispensável à propositura da ação mandamental. (Informativo n. 643.)

Incide IPI sobre veículo importado para uso próprio, haja vista que tal cobrança não viola o
princípio da não cumulatividade nem configura bitributação.

REsp 1.396.488-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 25/09/2019, DJe
30/09/2019 (Tema 695 - Revisão)

TEMA Veículo importado para uso próprio. IPI. Incidência. Adequação ao entendimento do STF. Revisão do
Tema 695/STJ.

INFORMÇÕES: A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do Recurso
Especial Representativo da Controvérsia analisado em 25/02/2015, submetido ao rito dos recursos especiais
repetitivos, firmou o entendimento de que "Não incide IPI sobre veículo importado para uso próprio, tendo
em vista que o fato gerador do referido tributo é a operação de natureza mercantil ou assemelhada e, ainda,
por aplicação do princípio da não cumulatividade. " Todavia, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
RE n. 723.651/PR, em repercussão geral (Tema n. 643/STF), firmou tese de que "incide o imposto de produtos
industrializados na importação de veículo automotor por pessoa natural, ainda que não desempenhe
atividade empresarial e o faça para uso próprio." Nesse contexto, o Superior Tribunal de Justiça, diante do
efeito vinculante dos pronunciamentos emanados em via de repercussão geral, passou a adotar o
posicionamento do Supremo Tribunal Federal segundo o qual incide o IPI na importação de automóvel por
pessoas físicas para uso próprio, haja vista que tal cobrança não viola o princípio da não cumulatividade nem
configura bitributação. Nesse panorama, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da
confiança e da isonomia, com esteio no art. 927, § 4º do CPC/2015 e art. 256-S, do RISTJ, revisa-se a tese
fixada no REsp n. 1.396.488/SC (Tema n. 695/STJ) para adequação com o entendimento formulado no RE n.
723.651/PR, em repercussão geral (Tema n. 643/STF). (Informativo n. 657.)

Os valores de ICMS não integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a


Receita Bruta - CPRB, instituída pela Medida Provisória n. 540/2011, convertida na Lei n.
12.546/2011.

REsp 1.624.297-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 10/04/2019,
DJe 26/04/2019 (Tema 994)

TEMA Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta - CPRB. Lei n. 12.546/2011. Inclusão do ICMS na base
de cálculo. Impossibilidade. Tema 994.

INFORMAÇÕES: Cumpre recordar que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar, em regime de repercussão geral,
o RE n. 574.706/PR, assentou a inconstitucionalidade da inclusão do ICMS nas bases de cálculo da
contribuição ao PIS e da COFINS. Entendeu o Plenário da Corte, por maioria, que o valor de ICMS não se
incorpora ao patrimônio do contribuinte, constituindo mero ingresso de caixa, cujo destino final são os cofres
públicos. Aliás, o STF já expandiu esse posicionamento para as demandas envolvendo a inclusão do ICMS na
base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta - CPRB (RE 1.089.337/PB AgR, Rel. Min.
189

Celso de Mello, Segunda Turma, DJe 14/05/2018 e RE 1.015.285/RS AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda
Turma, DJe 17.08.2018, ambos de relatoria do Min. Celso de Mello, Segunda Turma). Assinale-se, por
oportuno, que, no período compreendido entre a instituição da contribuição pela MP n. 540, de 03.08.2011, e
30.11.2015, o regime de tributação, pela receita bruta, das pessoas jurídicas especificadas, foi impositivo, a
comprová-lo os termos claramente imperativos empregados nos arts. 7º e 8º dos sucessivos diplomas legais
disciplinadores (cf. "a contribuição devida pelas empresas [...] incidirá"; "contribuirão sobre a receita bruta
[...]"). A opção pelo regime de tributação sobre a folha de salário ou sobre a receita bruta foi franqueada aos
contribuintes somente a partir de 1º.12.2015, pela Lei n. 13.161/2015 (arts. 1º e 7º, I), ao prever que as
empresas, cujas atividades foram contempladas, poderiam contribuir sobre o valor da receita bruta, diretriz
mantida na Lei n. 13.670/2018, a qual estendeu a prerrogativa até 31.12.2020. Conquanto atualmente eletiva a
sistemática de tributação, tal faculdade não elide os fundamentos do apontado precedente judicial de
aplicação obrigatória, segundo os quais, como mencionado, os valores correspondentes ao ICMS são
ingressos transitórios, que não constituem faturamento ou receita da empresa, estranhos, portanto, ao critério
normativo definidor da composição da base de cálculo das contribuições. Noutro vértice, não bastasse a
impossibilidade de incluir o ICMS na base de cálculo da CPRB, esta, ainda assim, não estaria adstrita à
hipótese de substituição tributária. De fato, tal entendimento ressente-se de previsão legal específica. Isso
porque, para o Fisco, a lei, ao prever a não inclusão do ICMS na base de cálculo da CPRB para o substituto
tributário, estaria a autorizar, automaticamente, a sua inclusão em todas as demais hipóteses, em
interpretação equivocada que olvida a necessidade de norma expressa para a fixação da base de cálculo, em
consonância com o princípio da legalidade tributária (arts. 150, I, CR, e 97, IV, do CTN). A rigor, portanto,
mesmo em se tratando de substituição tributária, revela-se duplamente inviável a inclusão do tributo estadual
na base de cálculo da contribuição em foco, quer pela ausência da materialidade da hipótese de incidência
(receita bruta), quer pela previsão legal nesse sentido (art. 9º, § 7º, da Lei n. 12.546/2011). (Informativo n. 647.)

2018
190

O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional


previsto no art. 40, §§ 1º e 2º da Lei n. 6.830/1980 - LEF tem início automaticamente na data
da ciência da Fazenda Pública a respeito da não localização do devedor ou da inexistência
de bens penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem prejuízo dessa contagem
automática, o dever de o magistrado declarar ter ocorrido a suspensão da execução. Sem
prejuízo do disposto anteriormente: 1.1) nos casos de execução fiscal para cobrança de
dívida ativa de natureza tributária (cujo despacho ordenador da citação tenha sido
proferido antes da vigência da Lei Complementar n. 118/2005), depois da citação válida,
ainda que editalícia, logo após a primeira tentativa infrutífera de localização de bens
penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução; e, 1.2) em se tratando de execução fiscal
para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo despacho ordenador da citação
tenha sido proferido na vigência da Lei Complementar n. 118/2005) e de qualquer dívida
ativa de natureza não tributária, logo após a primeira tentativa frustrada de citação do
devedor ou de localização de bens penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução.

REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
12/09/2018, DJe 16/10/2018 (Tema 566)

TEMA Execução fiscal. Prescrição intercorrente. Art. 40 e parágrafos da Lei n. 6.830/1980. Prazo de 1 (um) ano
de suspensão do processo. Ciência da Fazenda Pública quanto à não localização do devedor ou inexistência
de bens penhoráveis no endereço fornecido. Início automático. Tema 566.

INFORMAÇÕES: O espírito da Lei de Execuções Fiscais, em seu art. 40, é o de que nenhuma execução fiscal já
ajuizada poderá permanecer eternamente nos escaninhos do Poder Judiciário ou da Procuradoria encarregada
da execução das respectivas dívidas fiscais. Nessa lógica, com o intuito de dar cabo dos feitos executivos com
pouca ou nenhuma probabilidade de êxito, estabeleceu-se então um prazo para que fossem localizados o
devedor ou encontrados bens sobre os quais pudessem recair a penhora. Dito de outra forma, não havendo a
citação de qualquer devedor (o que seria apenas marco interruptivo da prescrição) e/ou não sendo
encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora (o que permitiria o fim da inércia processual), inicia-
se automaticamente o procedimento visto no art. 40 da Lei n. 6.830/1980, e respectivo prazo ao fim do qual
restará prescrito o crédito fiscal. Esse é o teor da Súmula n. 314/STJ: "Em execução fiscal, não localizados bens
penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição qüinqüenal
intercorrente". Na construção do sistema, o referido prazo foi segmentado em duas partes. A primeira parte
tem por termo inicial a falta de localização de devedores ou bens penhoráveis (art. 40, caput, da LEF) e por
termo final o prazo de 1 (um) ano dessa data (art. 40, §§ 1º e 2º, da LEF). Durante essa primeira parte, a
execução fiscal fica suspensa com vista dos autos aberta ao representante judicial da Fazenda Pública (art. 40,
§ 1º, da LEF). Já a segunda parte tem por termo inicial o fim da primeira parte, isto é, o fim do prazo de 1 (um)
ano da data da frustração na localização de devedores ou bens penhoráveis (art. 40, § 2º, da LEF), e por termo
final o prazo prescricional próprio do crédito fiscal em cobrança (quinquenal, no caso dos créditos tributários -
art. 174, do CTN), consoante o art. 40, § 4º, da LEF. Nessa segunda parte, a execução fiscal fica arquivada no
Poder Judiciário, sem baixa na distribuição. Desse modo, se o crédito fiscal em cobrança for crédito tributário
tem-se um prazo de 6 (seis) anos contados da constatação da falta de localização de devedores ou bens
penhoráveis (art. 40, caput, da LEF) para que a Fazenda Pública encontre o devedor ou os referidos bens.
Dentro desse prazo é que pode pedir as providências genéricas como a citação por edital e a penhora via
191

BACEN-JUD, não havendo qualquer incompatibilidade. Considerando a jurisprudência desta Casa que entende
ser o fluxo dos prazos do art. 40 da LEF automático, o prazo de 1 (um) ano de suspensão tem início
automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública a respeito da não localização do devedor e/ou da
inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido. Isto porque nem o Juiz e nem a Procuradoria da
Fazenda Pública são os senhores do termo inicial do prazo para a contagem da primeira parte (prazo de 1 ano
de suspensão), somente a lei o é (ordena o art. 40: "[...] o juiz suspenderá [...]"). Assim, não cabe ao juiz ou à
Procuradoria fazendária a escolha do melhor momento para o seu início. Constatada a ausência de bens pelo
oficial de justiça e intimada a Fazenda Pública, inicia-se o prazo, na forma do art. 40, caput, da LEF. O que
importa para a aplicação da lei é que a Fazenda Nacional tenha tomado ciência da inexistência de bens
penhoráveis no endereço fornecido. Isso é o suficiente para inaugurar o prazo ex lege. (Informativo n. 635.)

Havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não pronunciamento judicial


nesse sentido, findo o prazo de 1 (um) ano de suspensão, inicia-se automaticamente o
prazo prescricional aplicável (de acordo com a natureza do crédito exequendo), durante o
qual o processo deveria estar arquivado sem baixa na distribuição, na forma do art. 40, §§
2º, 3º e 4º da Lei n. 6.830/1980 - LEF, findo o qual o Juiz, depois de ouvida a Fazenda
Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.

REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
12/09/2018, DJe 16/10/2018 (Temas 567 e 569)

TEMA Execução fiscal. Prescrição intercorrente. Art. 40 e parágrafos da Lei n. 6.830/1980. Final do prazo de 1
(um) ano de suspensão. Início automático do prazo prescricional. Temas 567 e 569.

INFORMAÇÕES: A compreensão de que o prazo de suspensão do art. 40, da LEF somente tem início mediante
peticionamento da Fazenda Pública ou determinação expressa do Juiz configura grave equívoco interpretativo
responsável pelos inúmeros feitos executivos paralisados no Poder Judiciário ou Procuradorias, prolongando
indevidamente o início da contagem do prazo da prescrição intercorrente. Essa interpretação equivocada já foi
rechaçada no leading case que originou a Súmula n. 314/STJ (EREsp 97.328/PR). Desse modo, havendo ou não
petição da Fazenda Pública e havendo ou não decisão judicial nesse sentido (essas decisões e despachos de
suspensão e arquivamento são meramente declaratórios, não alterando os marcos prescricionais), inicia-se
automaticamente o prazo prescricional de 5 (cinco) anos durante o qual o processo deveria estar arquivado
sem baixa na distribuição. (Informativo n. 635.)
192

A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda que por edital) são aptas a
interromper o curso da prescrição intercorrente, não bastando para tal o mero
peticionamento em juízo, requerendo, v.g., a feitura da penhora sobre ativos financeiros ou
sobre outros bens. Os requerimentos feitos pelo exequente, dentro da soma do prazo
máximo de 1 (um) ano de suspensão mais o prazo de prescrição aplicável (de acordo com a
natureza do crédito exequendo) deverão ser processados, ainda que para além da soma
desses dois prazos, pois, citados (ainda que por edital) os devedores e penhorados os bens,
a qualquer tempo - mesmo depois de escoados os referidos prazos -, considera-se
interrompida a prescrição intercorrente, retroativamente, na data do protocolo da petição
que requereu a providência frutífera.

REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
12/09/2018, DJe 16/10/2018 (Tema 568)

TEMA Execução fiscal. Prescrição intercorrente. Interrupção. Efetiva constrição patrimonial. Efetiva citação. Art.
40 e parágrafos da Lei n. 6.830/1980. Tema 568.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, registre-se que o art. 40, caput, da LEF não dá qualquer opção ao Juiz (verbo:
"suspenderá") diante da constatação de que não foram encontrados o devedor ou bens penhoráveis. De
observar também que o art. 40, § 3º, da LEF quando se refere à localização do devedor ou dos bens para a
interrupção da prescrição intercorrente ("§ 3º - Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor ou os
bens, serão desarquivados os autos para prosseguimento da execução") não se refere à localização daqueles
por parte da Fazenda Pública, mas a sua localização por parte do Poder Judiciário. Isto porque a palavra
"encontrados", se interpretada à luz do princípio constitucional da eficiência, somente pode se referir a
encontrados pelo Poder Judiciário. Explicase. A Fazenda Pública de posse de um indicativo de endereço ou
bem penhorável peticiona em juízo requerendo a citação ou penhora consoante as informações dadas ao
Poder Judiciário. Essa petição, por si só, não satisfaz o requisito do art. 40, § 3º, da LEF. Para todos os efeitos, o
devedor ou os bens ainda não foram encontrados (tratase de mera indicação). É preciso também que a
providência requerida ao Poder Judiciário seja frutífera, ou seja, que resulte em efetiva citação ou penhora
(constrição patrimonial). Desse modo, estarão "Encontrados que sejam, [...] o devedor ou os bens", consoante
o exige o art. 40, § 3º, da LEF. Outrossim, a providência requerida ao Poder Judiciário deve resultar em efetiva
citação ou penhora - constrição patrimonial (isto é: ser frutífera/eficiente), ainda que estas ocorram fora do
prazo de 6 (seis) anos. Indiferente ao caso que a penhora (constrição patrimonial) perdure, que o bem
penhorado (constrito) seja efetivamente levado a leilão e que o leilão seja positivo. Cumprido o requisito, a
prescrição intercorrente se interrompe na data em que protocolada a petição que requereu a providência
frutífera, até porque, não é possível interromper a prescrição intercorrente fora do prazo de 6 (seis) anos, já
que não se interrompe aquilo que já se findou. Isto significa que o Poder Judiciário precisa dar resposta às
providências solicitadas pelo exequente dentro do prazo de 6 (seis) anos, ainda que para além desse prazo.
Nesse sentido, a demora do Poder Judiciário para atender aos requerimentos tempestivos (feitos no curso do
prazo de seis anos) há que ser submetida à mesma lógica que ensejou a publicação da Súmula n. 106/STJ
("Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao
mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência"). Se a providência
requerida for infrutífera, decreta-se a prescrição, salvo se o Poder Judiciário excepcionalmente reconhecer a
sua culpa (aplicação direta ou analógica da Súmula n. 106/STJ), o que deve ser averiguado de forma casuística,
já que depende de pressupostos fáticos. Neste ponto, observa-se que a ausência de inércia do exequente de
193

que trata o art. 40 da LEF é uma ausência de inércia qualificada pela efetividade da providência solicitada na
petição. Essa é a característica específica do rito da LEF a distingui-lo dos demais casos de prescrição
intercorrente. Decorre de leitura particular que se faz do art. 40, § 3º, da LEF que não está presente em
nenhum outro procedimento afora a execução fiscal. (Informativo n. 635.)

A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos autos (art. 245 do CPC/1973,
correspondente ao art. 278 do CPC/2015), ao alegar nulidade pela falta de qualquer
intimação dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar o prejuízo que
sofreu (exceto a falta da intimação que constitui o termo inicial - Tema 566, onde o prejuízo
é presumido), por exemplo, deverá demonstrar a ocorrência de qualquer causa interruptiva
ou suspensiva da prescrição.

REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
12/09/2018, DJe 16/10/2018 (Temas 570 e 571)

TEMA Execução fiscal. Prescrição intercorrente. Art. 40 e parágrafos da Lei n. 6.830/1980. Nulidade por falta de
intimação. Demonstração do prejuízo. Necessidade. Temas 570 e 571.

INFORMAÇÕES: Embora a jurisprudência do STJ já tenha entendido que é necessário intimar a Fazenda
Pública antes da decisão de decretação da prescrição intercorrente, consoante a literalidade do art. 40, § 4º, da
LEF as duas previsões legais de intimação da Fazenda Pública dentro da sistemática do art. 40, da LEF são
formas definidas pela lei cuja desobediência não está acompanhada de qualquer cominação de nulidade, ou
seja, a teor do art. 244 do CPC: "Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o
juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade". Sendo assim, se ao final
do referido prazo de 6 (seis) anos contados da falta de localização de devedores ou bens penhoráveis (art.
40,caput, da LEF) a Fazenda Pública for intimada do decurso do prazo prescricional, sem ter sido intimada nas
etapas anteriores, terá nesse momento e dentro do prazo para se manifestar (que pode ser inclusive em sede
de apelação), a oportunidade de providenciar a localização do devedor ou dos bens e apontar a ocorrência no
passado de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição. Esse entendimento é o que está
conforme o comando contido no art. 40, § 3º, da LEF. Por outro lado, caso a Fazenda Pública não faça uso
dessa prerrogativa, é de ser reconhecida a prescrição intercorrente. O mesmo raciocínio é aplicável caso se
entenda que a ausência de intimação das etapas anteriores tem enquadramento nos arts. 247 e 248 do CPC.
Isto porque o princípio da instrumentalidade das formas recomenda que a Fazenda Pública, em sua primeira
oportunidade de falar nos autos (art. 245 do CPC), ao alegar a nulidade pela falta de intimação demonstre o
prejuízo que sofreu e isso somente é possível se houver efetivamente localizado o devedor ou os bens
penhoráveis ou tenha ocorrido qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição. Desse modo, a
jurisprudência do STJ evoluiu da necessidade imperiosa de prévia oitiva da Fazenda Pública para se decretar a
prescrição intercorrente para a análise da utilidade da manifestação da Fazenda Pública na primeira
oportunidade em que fala nos autos a fim de ilidir a prescrição intercorrente. Evoluiu-se da exigência
indispensável da mera formalidade para a análise do conteúdo da manifestação feita pela Fazenda Pública.
(Informativo n. 635.)
194

O magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá fundamentar o ato judicial


por meio da delimitação dos marcos legais que foram aplicados na contagem do respectivo
prazo, inclusive quanto ao período em que a execução ficou suspensa.

REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
12/09/2018, DJe 16/10/2018

TEMA Execução fiscal. Prescrição intercorrente. Art. 40 e parágrafos da Lei n. 6.830/1980. Delimitação dos
marcos legais aplicados. Necessidade de fundamentação pelo magistrado.

INFORMAÇÕES: Essa tese foi adicionada por sugestão do Min. Og Fernandes para mais bem disciplinar a
aplicação do repetitivo, que assim defendeu em seu voto-vista: "Transcorrido o período prescricional e
constatada a falta de efetividade do exequente, será reconhecida a prescrição. Apenas não é imprescindível
que haja decisão prévia sobre a suspensão do processo. Todavia, isso não dispensa o magistrado de, ao
reconhecer a prescrição intercorrente, fundamentar o ato judicial por meio da delimitação dos marcos legais
que foram aplicados na contagem do respectivo prazo, inclusive quanto ao período em que a execução ficou
suspensa. Sendo assim, está sendo observado o teor do caput do art. 40 da LEF. (...) Com isso, restará a
possibilidade de o exequente, intimado da decisão que reconheceu a prescrição intercorrente, utilizar-se dos
meios recursais cabíveis para questionar a contagem dos marcos legais indicados na decisão judicial e
demonstrar eventual equívoco do ato judicial impugnado". (Informativo n. 635.)

O parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa interruptiva da contagem


da prescrição, uma vez que o contribuinte não anuiu.

REsp 1.658.517-PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
14/11/2018, DJe 21/11/2018 (Tema 980)

TEMA Dívida tributária. Parcelamento de ofício. Concessão independente da vontade ou anuência do


contribuinte. Mero favor fiscal. Causa suspensiva da prescrição. Não configuração. Necessária manifestação de
vontade do contribuinte. Tema 980.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, cumpre salientar que a liberalidade do Fisco em conceder ao contribuinte a


opção de pagamento à vista (cota única) ou parcelado independente de sua anuência prévia, não configura as
hipóteses de suspensão do crédito tributário previstas no art. 151, I e VI do CTN (moratória ou parcelamento),
tampouco causa de interrupção da prescrição, a qual exige o reconhecimento da dívida por parte do
contribuinte (art. 174, parágrafo único, IV do CTN). Não havendo adesão a qualquer hipótese de parcelamento
por parte do contribuinte ou reconhecimento de débito, sua inércia não pode ser interpretada como adesão
automática à moratória ou parcelamento, passível de suspender a exigibilidade do crédito tributário. O
contribuinte não pode ser despido da autonomia de sua vontade, em decorrência de uma opção unilateral do
Estado, que resolve lhe conceder a opção de efetuar o pagamento em cotas parceladas. Como modalidade de
moratória, o parcelamento previsto no art. 151, VI do CTN, é ato que não prescinde da manifestação de
vontade do devedor. Entender de forma diversa, ou seja, no sentido de que o parcelamento de ofício,
independentemente da vontade ou anuência do contribuinte, por meio de mera autorização legal (lei
municipal), tem o condão de modificar a data a partir da qual tem início o prazo prescricional, resultaria em
inconstitucional modificação, ainda que por via oblíqua, do prazo de prescrição do crédito tributário, matéria
reservada à lei complementar, conforme preceitua o art. 146, III, b da CF. Dessa forma, a oferta de pagamento
195

por meio de cotas parceladas (parcelamento de ofício) não tem o condão de modificar a data a partir da qual
tem início o prazo prescricional. (Informativo n. 638.)

O termo inicial do prazo prescricional da cobrança judicial do Imposto Predial e Territorial


Urbano - IPTU - inicia-se no dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação.

REsp 1.658.517-PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
14/11/2018, DJe 21/11/2018 (Tema 980)

TEMA IPTU. Prazo prescricional da cobrança judicial. Termo inicial. Dia seguinte à data estipulada para o
vencimento da exação. Tema 980.

INFORMAÇÕES: Em matéria tributária, a Fazenda Pública dispõe de prazo quinquenal para constituição do
crédito tributário, que na hipótese do IPTU pode ocorrer pelo mero envio do carnê ao endereço do
contribuinte (Súmula n. 397/STJ), hipótese válida de notificação do lançamento de ofício. Referido prazo, se
não observado, sujeita o crédito tributário à decadência. Por se tratar de lançamento de ofício, o prazo
prescricional de cinco anos para que a Fazenda Pública realize a cobrança judicial de seu crédito tributário (art.
174, caput do CTN), começa a fluir somente após o vencimento do prazo estabelecido pela lei local para o
vencimento da exação (pagamento voluntário pelo contribuinte), não dispondo a Fazenda Pública, até o
vencimento estipulado, de pretensão executória legítima para ajuizar execução fiscal objetivando a cobrança
judicial do crédito do IPTU, embora já constituído desde o momento no qual houve o envio do carnê para o
endereço do contribuinte. A pretensão executória surge, portanto, somente a partir do dia seguinte ao
vencimento estabelecido no carnê encaminhado ao endereço do contribuinte ou da data de vencimento
fixada em lei local e amplamente divulgada através de calendário de pagamento. Na hipótese na qual o
contribuinte dispõe de duas (ou mais) datas diferentes para pagamento em parcela única, cada qual contando
com um percentual de desconto diferente, considera-se como marco inicial do prazo prescricional o dia
seguinte ao vencimento da 2ª cota única, data a partir da qual efetivamente haverá mora por parte do
contribuinte, caso não recolha o tributo lançado, surgindo para o fisco, a partir desse momento, a pretensão
legítima de executar o crédito tributário. É que o instituto da prescrição é regido pelo princípio da actio nata,
ou seja, o curso do prazo prescricional tem início com a efetiva lesão ou ameaça do direito tutelado, momento
em que nasce a pretensão a ser deduzida em juízo. Nesse mesmo sentido, ao apreciar controvérsia relativa ao
crédito tributário do IPVA em julgamento submetido ao rito dos recursos repetitivos, com o escopo de fixar o
termo inicial do prazo prescricional para a cobrança do crédito respectivo, concernente ao momento em que
verificado o lançamento e a sua notificação, (Tema 903/STJ), esta Corte Superior de Justiça fixou a tese de que
a notificação do contribuinte para o recolhimento do IPVA perfectibiliza a constituição definitiva do crédito
tributário, iniciando-se o prazo prescricional para a execução fiscal no dia seguinte à data estipulada para o
vencimento da exação (REsp. 1.320.825/RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, DJe 17.8.2016). Tratando-se, pois, do
IPTU, tributo sujeito a lançamento de ofício, com amplo tratamento dado por este STJ de maneira similar ao
dado ao IPVA, tem-se que o entendimento fixado no julgamento supramencionado deve ser igualmente
conferido ao tema em exame, no que toca ao termo inicial do prazo prescricional para ajuizamento de
executivo fiscal visando à cobrança de IPTU, primando-se, assim, pela integridade e coerência dos precedentes
já assentados no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, fixando-se o entendimento de que o termo inicial do
prazo prescricional da cobrança judicial do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU - inicia-se no dia
seguinte à data estipulada para o vencimento da exação. (Informativo n. 638.)
196

É inexigível o ressarcimento de custos e demais encargos pelo fornecimento de selos de


controle de IPI, instituído pelo DL 1.437/1975, que, embora denominado ressarcimento
prévio, é tributo da espécie Taxa de Poder de Polícia, de modo que há vício de forma na
instituição desse tributo por norma infralegal, excluídos os fatos geradores ocorridos após a
vigência da Lei n. 12.995/2014.

REsp 1.405.244-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
08/08/2018, DJe 13/11/2018 (Tema 761)

TEMA Afixação de selos de controle em produtos sujeitos à incidência de IPI. Obrigação tributária acessória.
Pagamento pelo fornecimento dos selos especiais. Obrigação tributária principal. Taxa de polícia. DL n.
1.437/1975. Ofensa à estrita legalidade tributária. Art. 97, IV do CTN. Tema 761.

INFORMAÇÕES: Pontua-se, inicialmente, que a questão ora discutida somente se refere à inexigibilidade do
ressarcimento do custo do selo de controle do IPI enquanto perdurou a previsão em norma infralegal (art. 3º
do DL n. 1.437/1995), não alcançando, todavia, os fatos geradores ocorridos após a vigência da Lei n.
12.995/2014, instituindo taxa pela utilização de selo de controle previsto no art. 46 da Lei n. 4.502/1964.
Embora ao Fisco seja dado impor ao sujeito passivo certas obrigações acessórias por meio da legislação
tributária - expressão que compreende não só as leis, mas, também, os tratados e as convenções
internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e
relações jurídicas a eles pertinentes -, o mesmo não ocorre no âmbito das taxas, que devem obediência à
regra da estrita legalidade tributária, nos termos do art. 97, IV do CTN. O art. 3º do Decreto n. 1.437/1995, ao
impor verdadeira taxa relativa à aquisição de selos de controle do IPI, incide em vício formal; a exação
continua sendo tributo, a despeito de ser intitulada de ressarcimento prévio. Conclui-se que, no entorno dos
selos especiais de controle do IPI, o dever de afixá-los tem natureza de obrigação acessória, enquanto o dever
de adquiri-los tem natureza de obrigação principal. Na espécie, os valores exigidos à guisa de ressarcimento
originam-se do exercício de poderes fiscalizatórios por 66 parte da Administração Tributária, que impõe a
aquisição dos selos como mecanismo para se assegurar do recolhimento do IPI, configurando-se a cobrança
como tributo da espécie Taxa de Poder de Polícia. Na seara fiscal, os mecanismos de controle servem aos
interesses de quem controla (tributante), não aos interesses do controlado (tributado), que, em princípio, não
tem interesse algum em ser alvo da fiscalização. Assim, o fornecimento de selo de controle tanto não é serviço
que o produtor (se não fosse obrigado a tanto) simplesmente não teria interesse em adquiri-lo no mercado;
muito pelo contrário, é possível cogitar inclusive que seria financeiramente razoável despender recursos para
se desobrigar dessa custosa regra. Com isso, reafirma-se a compreensão de que o ressarcimento sob análise é
tributo da espécie Taxa do Poder de Polícia, de modo que há vício de forma na sua instituição por norma
infralegal. (Informativo n. 637.)
197

É ilegal a disciplina de creditamento prevista nas Instruções Normativas da SRF ns.


247/2002 e 404/2004, porquanto compromete a eficácia do sistema de não-cumulatividade
da contribuição ao PIS e da COFINS, tal como definido nas Leis ns. 10.637/2002 e
10.833/2003 e o conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade
ou relevância, ou seja, considerando-se a imprescindibilidade ou a importância de
terminado item - bem ou serviço - para o desenvolvimento da atividade econômica
desempenhada pelo Contribuinte.

REsp 1.221.170-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por maioria, julgado em 22/02/2018,
DJe 24/04/2018 (Temas 779, 780)

TEMA Contribuições Sociais. PIS e COFINS. Não-cumulatividade. Creditamento. Conceito de insumos.


Observância dos critérios da essencialidade ou relevância. Definição administrativa pelas Instruções
Normativas ns. 247/2002 e 404/2004 da Secretaria da Receita Federal - SRF. Propósito restritivo e desvirtuador
do seu alcance legal. Descabimento. Temas 779, 780.

INFORMAÇÕES: Discute-se, neste caso, a incidência de tributo-contribuição PIS/COFINS sobre o faturamento


das empresas e das entidades jurídicas a elas assemelhadas, questionando-se a sua exigência cumulativa
sobre os insumos que são empregados na produção de bens e serviços componentes dessa grandeza
financeira (faturamento das empresas), o que remete a investigação à identificação do conceito de insumo,
porquanto é a sua compreensão conceitual o elemento essencial para elucidar a presente controvérsia
jurídico-tributária. De início, relembre-se que o art. 195 da CF/88, conforme alteração promovida pela EC
42/2003, permite que o legislador ordinário defina os setores para os quais as contribuições incidentes na
forma dos seus incisos I, b, e IV serão calculadas de forma não-cumulativa. As exações a que o dispositivo se
refere são o PIS e a COFINS, cuja não-cumulatividade veio a ser implementada pela Lei n. 10.865/2004,
alteradora da Lei n. 10.637/2002 (PIS) e da Lei n. 10.833/2003 (COFINS). Nesse caminho, observa-se que a
conceituação de insumo prevista nas referidas leis está atrelada ao critério da essencialidade para a atividade
econômica da empresa, de modo que devem ser considerados todos os bens e serviços que sejam pertinentes
ou que viabilizem o processo produtivo, de forma que, se retirados, impossibilitariam ou, ao menos,
diminuiriam o resultado final do produto. Em resumo, a adequada compreensão de insumo, para efeito do
creditamento relativo às contribuições usualmente denominadas PIS/COFINS, deve compreender todas as
despesas diretas e indiretas do contribuinte, abrangendo, portanto, as que se referem à totalidade dos
insumos, não sendo possível, no nível da produção, separar o que é essencial (por ser físico, por exemplo), do
que seria acidental, em termos de produto final. Talvez acidentais sejam apenas certas circunstâncias do modo
de ser dos seres, tais como a sua cor, o tamanho, a quantidade ou o peso das coisas, mas a essencialidade,
quando se trata de produtos, possivelmente será tudo o que participa da sua formação. Deste modo, a
definição restritiva proposta pelas Instruções Normativas ns. 247/2002 e 404/2004, da Secretaria da Receita
Federal - SRF, efetivamente não se concilia e mesmo afronta e desrespeita o comando contido no art. 3, II, da
Lei n. 10.637/2002 e da Lei n. 10.833/2003, que explicita rol exemplificativo. (Informativo n 624.)
198

2017

O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu
faturamento, submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS,
sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas
exações.

REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques,
Primeira Seção, por maioria, julgado em 10/8/2016, DJe 2/12/2016.

TEMA PIS/PASEP e COFINS. Base de cálculo. Receita ou faturamento. Inclusão do ICMS. Tema 313.

INFORMAÇÕES: Tratou a controvérsia, em síntese, sobre a legalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo
do PIS e da COFINS. De início, salientou-se que há recurso representativo da controvérsia (REsp 1.330.737/SP,
Primeira Seção, DJe 14/4/2016) em que se decidiu matéria idêntica para o ISSQN e cujos fundamentos
determinantes devem ser respeitados por esta Seção por dever de coerência na prestação jurisdicional
previsto no art. 926, do CPC/2015. O ordenamento jurídico pátrio comporta, em regra, a incidência de tributos
sobre o valor a ser pago a título de outros tributos ou do mesmo tributo. Ou seja, é legítima a incidência de
tributo sobre tributo ou imposto sobre imposto, salvo determinação constitucional ou legal expressa em
sentido contrário, não havendo aí nenhuma violação, a priori, ao princípio da capacidade contributiva. Aliás, a
discussão sobre a violação ao princípio da capacidade contributiva deságua inevitavelmente na definição da
natureza jurídica do valor recebido pela empresa e que será por ela utilizado para pagar o ICMS. E essa
definição quem dá não é só a natureza das coisas, mas também a legislação ordinária. A primeira questão é
saber se o valor a ser utilizado para o pagamento de tributos representa receita bruta da empresa prestadora
porque esta é a base de cálculo mais ampla das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, consoante os arts. 1º,
da Lei n. 10.637/2002 e da Lei n. 10.833/2003. Os conceitos legais de receita bruta e receita líquida antecedem
à Constituição Federal de 1988 e são dados pelo art. 12 e § 1º, do Decreto-Lei n. 1.598/1977. Esse art. 12
sofreu recentes modificações pela Lei n. 12.973/2014 apenas para esclarecer o conteúdo que já tinha antes,
deixando claro que o ISSQN e o ICMS devidos pela empresa prestadora de serviços na condição de
contribuintes de direito fazem parte de sua receita bruta (pois incidem sobre parcela da receita bruta
representada pelo faturamento da operação respectiva) e, quando dela excluídos, a nova rubrica que se tem é
a receita líquida. Essa situação não pode ser confundida com aquela outra decorrente da retenção e
recolhimento do ISSQN e do ICMS pela empresa a título de substituição tributária (ISSQN-ST e ICMS-ST).
Nesse outro caso, a empresa não é a contribuinte, o contribuinte é o próximo na cadeia, o substituído.
Quando é assim, a própria legislação tributária prevê que tais valores são meros ingressos na contabilidade da
empresa que se torna apenas depositária de tributo (responsável tributário por substituição ou agente
arrecadador) que será entregue ao Fisco. Então não ocorre a incidência das contribuições ao PIS/PASEP,
COFINS, do IRPJ e da CSLL, já que não há receita da empresa prestadora. É o que estabelece o art. 279 do RIR/
99. Também importante é saber se o valor a ser utilizado para o pagamento de tributos representa uma
parcela específica da receita bruta da empresa prestadora denominada de faturamento, porque esta é a base
de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS na sistemática (antiga) cumulativa, consoante o art. 2º,
da Lei n. 9.718/1998. Tanto o ICMS quanto o ISSQN e o IPI são tecnicamente classificados como impostos
gerais sobre as vendas. A característica principal desse tipo de tributo é ter como fato gerador a manifestação
de riqueza que se revela no momento da circulação da mercadoria, produto ou prestação de serviço. Em
relação a esses tributos, o fato de haver ou não discriminação na fatura do valor suportado pelo vendedor a
título de tributação decorre apenas da necessidade de se informar ou não ao Fisco, ou ao adquirente, o valor
199

do imposto embutido no preço pago. Desse modo, os valores do ISSQN e do ICMS, destacados na nota,
devidos e recolhidos pelas empresas vendedoras de mercadorias e/ou prestadoras de serviços em razão de
suas vendas de bens e serviços compõe o faturamento dessas empresas, submetendo-se à tributação pelas
contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, não havendo aí afronta ao art. 110 do CTN. (Informativo n. 594)

O artigo 3º, § 2º, III, da Lei n. 9.718/1998 não teve eficácia jurídica, de modo que integram o
faturamento e também o conceito maior de receita bruta, base de cálculo das contribuições
ao PIS/PASEP e COFINS, os valores que, computados como receita, tenham sido
transferidos para outra pessoa jurídica.

REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 10/8/2016, DJe 2/12/2016.

TEMA PIS/PASEP e COFINS. Base de cálculo. Inclusão dos valores computados como receitas que tenham sido
transferidos para outras pessoas jurídicas. Art. 3º, § 2º, III, da Lei n. 9.718/1998. Norma de eficácia limitada.
Não aplicabilidade. Receita ou faturamento. Inclusão do ICMS. Tema 313.

INFORMAÇÕES: Tratou-se de recurso especial interposto pela Fazenda Pública, sustentando que a
possibilidade de exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da COFINS, prevista no art. 3º, § 2º, III da Lei n.
9.718/1998 necessitaria de regulamentação para ter eficácia. Nesse ponto, a Corte Especial do STJ já firmou o
entendimento de que a restrição legislativa do artigo 3º, § 2º, III, da Lei n. 9.718/1998 ao conceito de
faturamento (exclusão dos valores computados como receitas que tenham sido transferidos para outras
pessoas jurídicas) não teve eficácia no mundo jurídico já que dependia de regulamentação administrativa e,
antes da publicação dessa regulamentação, foi revogado pela Medida Provisória n. 2.158-35, de 2001 (AgRg
no EREsp. n. 529.034-RS, Corte Especial, DJ 4/9/2006). (Informativo n. 594)

2016

A declaração de inconstitucionalidade do art. 3°, § 1°, da Lei n. 9.718/1998, pelo STF, não
afasta automaticamente a presunção de certeza e de liquidez da CDA, motivo pelo qual é
vedado extinguir de ofício, por esse motivo, a Execução Fiscal.

REsp 1.386.229-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 10/8/2016, DJe 5/10/2016
(Informativo n. 591).

TEMA: Direito processual civil e tributário. Declaração de inconstitucionalidade do art. 3°, § 1°, da lei n.
9.718/1998 e presunção de certeza e liquidez de cda. Recurso repetitivo. Tema 690.

INFORMAÇÕES: O leading case do STJ sobre a questão jurídica controvertida é o REsp 1.002.502-RS (DJe
10/12/2009), ocasião em que a Segunda Turma reconheceu que, a despeito da inconstitucionalidade do § 1°
do art. 3° da Lei n. 9.718/1998, a CDA constituída sobre essa base legal conserva seus atributos, uma vez que:
a) existem casos em que a base de cálculo apurada da Contribuição para o PIS e da Cofins é composta
integralmente por receitas que se enquadram no conceito clássico de faturamento; b) ainda que haja outras
receitas estranhas à atividade operacional da pessoa jurídica, é possível expurgá-las do título mediante
200

simples cálculos aritméticos; c) eventual excesso deve ser alegado como matéria de defesa, não cabendo ao
Juízo da Execução inverter a presunção de certeza, de liquidez e de exigibilidade do título executivo. Essa
orientação acabou prevalecendo e tornou-se pacífica no âmbito do STJ.

Os produtos importados estão sujeitos a uma nova incidência do IPI quando de sua saída
do estabelecimento importador na operação de revenda, mesmo que não tenham sofrido
industrialização no Brasil.

EREsp 1.403.532-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para o acórdão Min. Mauro Campbell Marques,
Corte Especial, julgado em 14/10/2015, DJe 18/12/2015 (Informativo n. 574).

TEMA: Direito tributário. Incidência de ipi sobre a saída de produto de estabelecimento importador. Recurso
repetitivo (art. 543-c do cpc e res. N. 8/2008-stj). Tema 912.

INFORMAÇÕES: Efetivamente, o fato de o nomen juris do tributo ser “Imposto sobre Produtos
Industrializados” não significa que seu fato gerador esteja necessariamente atrelado a uma imediata operação
de industrialização. O fato de o tributo incidir sobre o produto industrializado significa somente que é
necessário e relevante que essa operação de industrialização, em algum momento, tenha ocorrido – pois a
circulação que se tributa é de um produto industrializado –, mas não que a industrialização tenha que ocorrer
simultaneamente a cada vez que se realize uma hipótese de incidência do tributo (fato gerador). A toda
evidência, quando se está a falar da importação de produtos, a primeira incidência do IPI encontra guarida no
art. 46, I, do CTN, que assim define o fato gerador: “Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre
produtos industrializados tem como fato gerador: I – o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência
estrangeira”. Veja-se que, para essa hipótese de incidência, não há a necessidade de operação de
industrialização imediatamente associada ao desembaraço aduaneiro. Essa mesma lógica subsiste quando se
tributa “o comerciante de produtos sujeitos ao imposto, que os fornece a estabelecimento industrial ou
equiparado a industrial” (art. 51, III, do CTN), ou “o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados”
(art. 51, IV, do CTN), pois, nesses dois casos, também não há atividade de industrialização desenvolvida pelos
contribuintes. Não foge a esta linha a segunda incidência do tributo sobre o importador, no momento em que
promove a saída do produto do seu estabelecimento a título de revenda (“Art. 46. O imposto, de competência
da União, sobre produtos industrializados tem como fato gerador: [...] II - a sua saída dos estabelecimentos a
que se refere o parágrafo único do artigo 51”; “Art. 51. [...] Parágrafo único. Para os efeitos deste imposto,
considera-se contribuinte autônomo qualquer estabelecimento de importador, industrial, comerciante ou
arrematante”). No CTN, não foi repetida a regra contida no art. 2º, II, da Lei n. 4.502/1964 – que limitou o
critério temporal “saída” apenas para os produtos de produção nacional. Sendo assim, a lei permitiu que
também os produtos de procedência estrangeira estejam sujeitos novamente ao fato gerador do imposto
quando da saída do estabelecimento produtor ou equiparado. Observe-se que essa autorização é
perfeitamente compatível com o art. 4º, I, da Lei n. 4.502/1964, que equipara os importadores a
estabelecimento produtor, isso porque o próprio art. 51, II, do CTN admitiu a equiparação. Outrossim,
legislação mais recente estabeleceu a referida equiparação entre estabelecimento industrial e
estabelecimentos atacadistas ou varejistas que adquirem produtos de procedência estrangeira (art. 79 da MP
n. 2.158-35/2001 e art. 13 da Lei n. 11.281/2006). Dessa forma, seja pela combinação dos arts. 46, II, e 51,
parágrafo único, do CTN, seja pela 39 combinação dos arts. 51, II, do CTN, 4º, I, da Lei n. 4.502/1964, 79 da MP
n. 2.158-35/2001 e 13 da Lei n. 11.281/2006 – nenhum deles até então afastados por inconstitucionalidade –,
os produtos importados estão sujeitos a uma nova incidência do IPI quando de sua saída do estabelecimento
201

importador na operação de revenda. Também se observe que essa incidência do IPI não se caracteriza como
bis in idem, dupla tributação ou bitributação. Isto porque a Lei elenca dois fatos geradores distintos, o
desembaraço aduaneiro proveniente da operação de compra de produto industrializado do exterior e a saída
do produto industrializado do estabelecimento importador equiparado a estabelecimento produtor, isto é, a
primeira tributação recai sobre o preço de compra no qual embutida a margem de lucro da empresa
estrangeira, e a segunda tributação recai sobre o preço da venda, no qual já embutida a margem de lucro da
empresa brasileira importadora. Ademais, não onera a cadeia além do razoável, pois o importador na primeira
operação apenas acumula a condição de contribuinte de fato e de direito em razão da territorialidade, já que
o estabelecimento industrial produtor estrangeiro não pode ser eleito pela lei nacional brasileira como
contribuinte do IPI (os limites da soberania tributária o impedem), sendo que a empresa importadora nacional
brasileira acumula o crédito do imposto pago no desembaraço aduaneiro para ser utilizado como abatimento
do imposto a ser pago na saída do produto como contribuinte de direito (não-cumulatividade), mantendo-se
a tributação apenas sobre o valor agregado. Do mesmo modo quanto à tão falada questão da bitributação
entre o IPI e o ICMS na revenda interna do produto importado. Nesse ponto, esclareço que a Lei Kandir (LC n.
87/1996) admite hipóteses expressas de bitributação entre o IPI e o ICMS. O art. 13, § 2º, estabelece que o
valor do IPI não integra a base de cálculo do ICMS toda a vez que a operação configurar fato gerador de
ambos os impostos, ou seja, a lei permite a bitributação, mas minora seus efeitos ao retirar o IPI da base de
cálculo do ICMS. Essa regra é uma mera reprodução do disposto no art. 155, § 2º, XI, da CF, que parte do
pressuposto justamente da possibilidade de se bitributar pelo IPI e pelo ICMS. Tal não transforma, de modo
algum, o IPI em ICMS, ou cria o chamado “ICMS federal”, dadas as competências tributárias distintas das
exações. Quanto ao GATT, registre-se que a cláusula de obrigação de tratamento nacional tem aplicação
somente na primeira operação (a de importação). A segunda operação já é interna. Há dois fatos geradores.
Desse modo, a igualdade ao tratamento nacional resta preservada para a primeira operação.

A notificação do contribuinte para o recolhimento do IPVA perfectibiliza a constituição


definitiva do crédito tributário, iniciando-se o prazo prescricional para a execução fiscal no
dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação.

REsp 1.320.825-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, julgado em 10/8/2016, DJe 17/8/2016
(Informativo n. 588).

TEMA: Direito tributário. Termo inicial do prazo prescricional para cobrança de ipva. Recurso repetitivo. Tema
903.

INFORMAÇÕES: No que se refere à notificação do contribuinte – que é pressuposto da constituição definitiva


do crédito e, por conseguinte, do início da contagem da prescrição para a sua cobrança – cumpre registrar
que o CTN não condiciona a forma de cientificação do sujeito passivo para o recolhimento do tributo lançado
de ofício (art. 142 do CTN), podendo a legislação de regência da exação disciplinar qualquer meio idôneo para
essa finalidade. A propósito, o STJ, ao analisar a tributação do IPTU, assentou que o envio do carnê relativo à
cobrança do imposto é suficiente para caracterizar a notificação do sujeito passivo (REsp 1.111.124-PR,
Primeira Seção, DJe 4/5/2009). O envio do carnê, contudo, é apenas uma modalidade, que não exclui outras
eventualmente mais convenientes para a Administração, como aquelas em que há a divulgação do calendário
de pagamento com instruções para os contribuintes procederem ao recolhimento. Nesse passo, se o Fisco
busca se utilizar da rede bancária para encaminhar os boletos de cobrança do IPVA, esse procedimento não
altera o fato de a divulgação do calendário ser a efetiva notificação do sujeito passivo, uma vez que, por meio
dele, todos os contribuintes são cientificados do lançamento e do prazo para comparecer à instituição
financeira e recolher o imposto incidente sobre o seu veículo. A referida sistemática de arrecadação não
202

importa violação do art. 145 do CTN, pois não dispensa a notificação pessoal do contribuinte, já que
pressupõe a sua ocorrência mediante o comparecimento dele nas agências bancárias autorizadas até a data
aprazada para o vencimento da exação. Importa destacar que essa espécie de notificação pessoal presumida
somente poderá ser considerada válida em relação aos impostos reais, cuja exigibilidade por exercício é de
notório conhecimento da população. Assim, reconhecida a regular constituição do crédito tributário, orienta a
jurisprudência do STJ que a contagem da prescrição deve iniciar-se da data do vencimento para o pagamento
da exação, porquanto, antes desse momento, o crédito não é 41 exigível do contribuinte (AgRg no REsp
1.566.018-MG, Segunda Turma, DJe 1°/12/2015; AgRg no AREsp 674.852-RJ, Segunda Turma, DJe 10/6/2015;
AgRg no AREsp 483.947-RJ, Primeira Turma, DJe 24/6/2014; REsp 1.069657-PR, Primeira Turma, DJe
30/3/2009). Entretanto, esse entendimento deve ser aperfeiçoado, uma vez que, na data do vencimento do
tributo, o Fisco ainda está impedido de levar a efeito os procedimentos tendentes à sua cobrança. Isso
porque, naturalmente, até o último dia estabelecido para o vencimento, é assegurado ao contribuinte realizar
o recolhimento voluntário, sem qualquer outro ônus, por meio das agências bancárias autorizadas ou até
mesmo pela internet, ficando em mora tão somente a partir do dia seguinte. Desse modo, tem-se que a
pretensão executória da Fazenda Pública (actio nata) somente surge no dia seguinte à data estipulada para o
vencimento do tributo. Esse inclusive é o entendimento das Turmas de Direito Público do STJ sobre a
contagem da prescrição para a execução dos tributos sujeitos a lançamento por homologação, cuja razão de
decidir também se aplica perfeitamente à cobrança do IPVA.

Não incide a Contribuição destinada ao PIS e a COFINS sobre os atos cooperativos típicos
realizados pelas cooperativas.

REsp 1.141.667-RS e REsp 1.164.716-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, julgado em
27/4/2016, DJe 4/5/2016 (Informativo n. 582).

TEMA: Direito tributário. Não incidência da contribuição ao pis e da cofins sobre os atos cooperativos típicos.
Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc/1973 e res. Stj n. 8/2008). Tema 363.

INFORMAÇÕES: O art. 79 da Lei n. 5.764/1971 preceitua que os atos cooperativos são “os praticados entre as
cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para a
consecução dos objetivos sociais”. E ainda, em seu parágrafo único, alerta que “O ato cooperativo não implica
operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria”. Anotado isso, entendese
que a norma declarou a hipótese de não incidência tributária, tendo em vista a mensagem que veicula,
mesmo sem empregar termos diretos ou específicos, por isso que se obtém esse resultado interpretativo a
partir da análise de seu conteúdo. Nesse contexto, atos cooperativos próprios ou internos são aqueles
realizados pela cooperativa com os seus associados (cooperados), ou pela cooperativa com outras
cooperativas, ou pelos associados com a cooperativa, na busca dos seus objetivos institucionais. O que se
deve ter em mente é que os atos cooperativos típicos não são intuitu personae. Não é porque a cooperativa
está no polo da relação que os torna atos típicos, mas sim porque o ato que realiza está relacionado com a
consecução dos seus objetivos sociais institucionais.
203

O valor suportado pelo beneficiário do serviço, nele incluindo a quantia referente ao ISSQN,
compõe o conceito de receita ou faturamento para fins de adequação à hipótese de
incidência da Contribuição para o PIS e COFINS.

REsp 1.330.737-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, julgado em 10/6/2015, DJe 14/4/2016 (Informativo
n. 581).

TEMA: Direito tributário. Possibilidade de inclusão do issqn no conceito de receita ou faturamento para fins de
incidência da contribuição para o pis e cofins. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc/1973 e res. Stj n. 8/2008).
Tema 634.

INFORMAÇÕES: As Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003, na linha do que dispõe o art. 195, I, “c”, da CF,
estabeleceram como fato gerador da Contribuição para o PIS e COFINS “o faturamento mensal, assim
entendido o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou
classificação contábil”. Diante disso, resta saber se o valor correspondente ao ISS suportado faticamente pelo
consumidor (contribuinte de fato), mas recolhido aos cofres públicos pelo prestador de serviço (contribuinte
de direito), inclui-se no conceito de receita ou faturamento para fins de incidência da Contribuição para o PIS
e COFINS, exações cujo sujeito passivo de direito corresponde ao mesmo contribuinte de direito do ISS, qual
seja, o prestador do serviço. A orientação das Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ consolidou-se
no sentido de que “o valor do ISSQN integra o conceito de receita bruta, assim entendida como a totalidade
das receitas auferidas com o exercício da atividade econômica, de modo que não pode ser dedutível da base
de cálculo do PIS e da COFINS” (REsp 1.145.611-PR, Segunda Turma, DJe 8/9/2010; e AgRg no AREsp 75.356-
SC, Primeira Turma, DJe 21/10/2013). Segundo doutrina, para que determinada quantia seja considerada
como receita, ela deve ser capaz de incrementar o patrimônio de quem a obtém, não correspondendo,
portanto, a meras somas a serem repassadas a terceiros. No entanto, referida premissa – embora seja
verdadeira – não se aplica à presente hipótese, em que o valor atribuído ao serviço e suportado pelo
beneficiário da prestação de fazer incrementa o patrimônio da entidade prestadora. Desse modo, nas
atividades de prestação de serviço, o conceito de receita e de faturamento para fins de incidência do PIS e da
COFINS deve levar em consideração o valor auferido pelo prestador do serviço, ou seja, o valor desembolsado
pelo beneficiário da prestação; e não o fato de o prestador do serviço utilizar parte do valor recebido pela
prestação do serviço para pagar o ISSQN. Isso por uma razão muito simples: o consumidor (beneficiário do
serviço) não é contribuinte do ISSQN. Ademais, o fato de constar em nota fiscal informação no sentido de que
o valor com o qual arcará o destinatário do serviço compreende quantia correspondente ao valor do ISSQN
não torna o consumidor contribuinte desse tributo. Assim, não prospera dizer que o ISSQN não constituiu
receita sob o argumento de que, em tese, diz respeito apenas a uma importância que não pertence ao
consumidor (e sim ao município competente), mas que transita na contabilidade da sociedade empresária
sem representar, entretanto, acréscimo patrimonial. Isso porque, admitir essa tese, seria o mesmo que
considerar o consumidor como sujeito passivo de direito do tributo (contribuinte de direito) e a sociedade
empresária, por sua vez, apenas uma simples espécie de “substituto tributário”, cuja responsabilidade
consistiria unicamente em recolher aos cofres públicos a exação devida por terceiro, no caso o consumidor.
Não é isso que se tem sob o ponto de vista jurídico, pois o consumidor não é contribuinte (sujeito passivo de
direito da relação jurídico-tributária). O consumidor acaba suportando o valor do tributo em razão de uma
política do sistema tributário nacional que permite a repercussão do ônus tributário ao beneficiário do serviço,
e não porque aquele (consumidor) figura no polo passivo da relação jurídico-tributária como sujeito passivo
de direito. Ressalte-se, ainda, que a presente hipótese não se confunde com aquela em que se tem a chamada
responsabilidade tributária por substituição, em que determinada entidade, por 43 força de lei, figura no polo
204

passivo de uma relação jurídico-tributária obrigacional, cuja prestação (o dever) consiste em reter o tributo
devido pelo substituído para, posteriormente, repassar a quantia correspondente aos cofres públicos. Se fosse
essa a hipótese (substituição tributária), é certo que a quantia recebida pelo contribuinte do PIS e da COFINS a
título de ISSQN não integraria o conceito de faturamento. Concluir-se-ia da mesma forma se o ônus referente
ao citado imposto não fosse transferido ao consumidor do serviço. Nesse caso, não haveria dúvida de que o
valor referente ao ISSQN não corresponderia à receita ou ao faturamento, já que faticamente suportado pelo
contribuinte de direito, qual seja, o prestador do serviço. Por essas razões, não há que se falar em ofensa aos
arts. 109 e 110 do CTN, na medida em que a consideração do valor correspondente ao ISSQN na base de
cálculo da Contribuição para o PIS e COFINS não desnatura a definição de receita para fins de incidência das
referidas contribuições.

Não são dedutíveis da base de cálculo das contribuições ao PIS e COFINS o valor destinado
aos acionistas a título de juros sobre o capital próprio, na vigência da Lei n. 10.637/2002 e
da Lei n. 10.833/2003.

REsp 1.200.492-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques,
Primeira Seção, julgado em 14/10/2015, DJe 22/2/2016 (Informativo n. 577).

TEMA: Direito tributário. Incidência de pis e cofins em juros sobre capital próprio. Recurso repetitivo (art. 543-c
do cpc e res. Stj n. 8/2008). Tema 454

INFORMAÇÕES: Inicialmente, destaca-se, para fins tributários, que a única semelhança entre “juros sobre
capital próprio” com “lucro” ou “dividendos” é o fato deles serem destinações do lucro líquido. Isso porque o
tratamento legislativo que esses institutos recebem é distinto, o que evidencia a diferença de natureza jurídica
entre eles. Por um lado, verifica-se que os lucros ou dividendos: (a) não estão sujeitos ao imposto de renda na
fonte pagadora nem integram a base de cálculo do imposto de renda de beneficiário (art. 10 da Lei n.
9.249/1995); (b) não são dedutíveis do lucro real (base de cálculo do imposto de renda); (c) obedecem
necessariamente ao disposto no art. 202 da Lei n. 6.404/1976 (dividendo obrigatório); (d) têm limite máximo
fixado apenas no estatuto social ou, no silêncio deste, o limite dos lucros não destinados, nos termos dos arts.
193 a 197 da Lei n. 6.404/1976; e (e) estão condicionados apenas à existência de lucros (arts. 198 e 202 da Lei
n. 6.404/1976). Por outro lado, observa-se que os juros sobre capital próprio: (i) estão sujeitos à incidência do
imposto de renda na fonte na data do pagamento de crédito a beneficiário (art. 9º, §2º, da Lei n. 9.249/1995);
(ii) quando pagos, são dedutíveis do lucro real (art. 9º, caput, da Lei n. 9.249/1995); (iii) podem,
facultativamente, integrar o valor dos dividendos para efeito de a sociedade obedecer à regra do dividendo
obrigatório (art. 202 da Lei n. 6.404/1976); (iv) têm como limite máximo a variação da Taxa de Juros de Longo
Prazo (art. 9º, caput, da Lei n. 9.249/1995); e (v) estão condicionados à existência de lucros no dobro do valor
dos juros a serem pagos ou creditados (art. 9º, §1º, da Lei n. 9.249/1995). Desse modo, ainda que se diga que
os juros sobre o capital próprio não constituam receitas financeiras, não é possível simplesmente classificá-los,
para fins tributários, como “lucros e dividendos”, de modo que não incidem o art. 1º, § 3º, V, “b”, da Lei n.
10.637/2002 e o mesmo dispositivo da Lei n. 10.833/2003. Ademais, não é possível invocar a analogia a fim de
alcançar eventual isenção de crédito tributário (art. 111 do CTN), pois a exclusão dos juros sobre capital
próprio 44 (categoria nova e autônoma) da base de cálculo das contribuições ao PIS e COFINS dependeria de
previsão explícita, a exemplo do que existe para o imposto de renda (art. 9º da Lei n. 9.249/1995). Ocorre,
aliás, justamente o contrário, na medida em que não faltam exemplos na legislação tributária de situações em
que a inclusão desses valores na base de cálculo das contribuições ao PIS e COFINS é reafirmada (art. 1º da Lei
205

n. 10.637/2002; art. 1º da Lei n. 10.833/2003; art. 1º do Decreto n. 5.164/2004; art. 1º, parágrafo único, I, do
Decreto n. 5.442/2005; art. 30, parágrafo único, da Instrução Normativa SRF n. 11/1996). Inclusive, a esse
respeito, é indiferente a classificação contábil dada pela CVM (Deliberação CVM n. 207, de 13/12/1996),
porquanto, além de não poder suplantar decreto do Chefe do Poder Executivo, esse órgão não tem
competência para expedir normas complementares em matéria tributária, atribuição essa exercida pela SRF.
Registre-se, por oportuno, que essas conclusões não estão de modo algum em conflito com as razões que
fundamentaram o REsp 1.373.438-RS (Segunda Seção, DJe 17/6/2014), julgado sob o rito dos recursos
repetitivos, no qual, após investigado o instituto “juros sobre o capital próprio”, concluiu-se pela sua natureza
jurídica sui generis. Na ocasião, foi afirmado que, ontologicamente, os juros sobre capital próprio são parcela
de lucro a ser distribuída aos acionistas e, apenas por ficção jurídica, a lei tributária passou a considerá-los
juros. Pois bem, em que pese o art. 110 do CTN vedar que legislação tributária altere a definição, o conteúdo e
o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela
Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos
Municípios, para definir ou limitar competências tributárias, tem-se que os juros sobre capital próprio não são
instituto utilizado pelas Constituições Federal ou Estaduais, ou por Lei Orgânica. Além disso, não se trata de
instituto exclusivo de direito privado, porque teve origem na própria legislação tributária, especificamente no
art. 43, § 1º, “e”, do Decreto-Lei n. 5.844/1943 (Dispõe sobre a cobrança e fiscalização do imposto de renda).
Nessa ordem de ideias, tratando-se de instituto híbrido de Direito Tributário e Direito Empresarial, criado já no
âmbito do imposto de renda como receita tributável, a legislação tributária é apta a definir seu conteúdo e
alcance. Por fim, indubitavelmente, compõem o conceito maior de receitas auferidas pela pessoa jurídica, base
de cálculo das contribuições ao PIS e COFINS, não havendo exclusão tributária específica para essa rubrica

As “sociedades corretoras de seguros” estão fora do rol de entidades constantes do art. 22,
§ 1º, da Lei n. 8.212/1991.

REsp 1.391.092-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 22/4/2015, DJe 10/2/2016
(Informativo n. 576).

TEMA: Direito tributário. Aumento da alíquota da cofins e sociedades corretoras de seguros. Recurso
repetitivo (art. 543-c do cpc e res. Stj n. 8/2008). Tema 729

INFORMAÇÕES: Assim, o aumento de 3% para 4% da alíquota da COFINS promovido pelo art. 18 da Lei n.
10.684/2003 não alcança as sociedades corretoras de seguros. Isso porque as “sociedades corretoras de
seguros” não guardam identidade com os “agentes autônomos de seguros privados” mencionados no art. 22,
§ 1º, da Lei n. 8.212/1991, 45 a que o art. 18 da Lei n. 10.684/2003, ao citar o § 6º do art. 3º da Lei n.
9.178/1998, faz remissão. Observe-se que “O corretor de seguros, seja pessoa física ou jurídica, é o
intermediário legalmente autorizado a angariar e a promover contratos de seguros, admitidos pela legislação
vigente, entre as Sociedades de Seguros e as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado” (art. 1º
da Lei n. 4.594⁄1964). O seu registro é feito na Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), e ele tem por
função a intermediação dos contratos de seguros na defesa dos interesses dos segurados, tanto que o art. 17
da Lei n. 4.594⁄1964 veda relação empregatícia, societária ou de subordinação às seguradoras. A comissão do
corretor de seguro é paga pelo segurado, em percentual calculado sobre o prêmio, e não pela seguradora. O
contrato com o cliente é o de corretagem regido pelo art. 722 do CC. Os “agentes autônomos de seguros”,
por sua vez, são pessoas físicas ou jurídicas representantes da seguradora e autorizados a intermediar
operações de seguro diretamente com os interessados. O agente de seguros tem interesse direto na
colocação de determinadas apólices de seguros, as quais são emitidas pela seguradora que ele representa e
de cuja venda advém sua remuneração. A relação com a seguradora rege-se pelo contrato de agência,
206

previsto no art. 710 do CC. Desse modo, em que pese o disposto no art. 1º do Dec. n. 56.903⁄1965 (“O
Corretor de seguros de Vida e de Capitalização, anteriormente denominado Agente, quer seja pessoa física
quer jurídica, é o intermediário legalmente autorizado a angariar e a promover contratos de seguros de vida
ou a colocar títulos de capitalização, admitidos pela legislação vigente, entre sociedades de seguros e
capitalização e o público em geral”), não há como compreender que as “sociedades corretoras de seguros”
sejam os “agentes autônomos de seguros privados”, havendo que se compreender que o referido Decreto não
se reporta aos “agentes autônomos de seguros”, mas só às “sociedades corretoras de seguros” que, por uma
mera e inconveniente coincidência, anteriormente se chamavam “agentes”. Por fim, não sensibiliza o
argumento de que as regras legais que disciplinam as contribuições destinadas à Seguridade Social devem ser
interpretadas em harmonia com o princípio da solidariedade social (art. 195 da CF). Isso porque a
interpretação em questão não acarretará isenção da contribuição, mas, tão somente, a aplicação de alíquota
diversa, a qual poderá ser menor (3% – COFINS cumulativa) ou maior (7,6% – COFINS não cumulativa),
conforme o caso (art. 10 da Lei n. 10.833/2003).

As receitas auferidas a título de mensalidades dos alunos de instituições de ensino sem fins
lucrativos são decorrentes de “atividades próprias da entidade”, conforme o exige a isenção
estabelecida no art. 14, X, da MP n. 1.858/99 (atual MP n. 2.158-35/2001), sendo flagrante a
ilicitude do art. 47, § 2º, da IN/SRF n. 247/2002, nessa extensão

REsp 1.353.111- RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 23/9/2015, DJe
18/12/2015 (Informativo n. 574).

TEMA: Direito tributário. Alcance da isenção da cofins nas mensalidades pagas pelos alunos de instituições de
ensino sem fins lucrativos. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. N. 8/2008-stj). Tema 624.

INFORMAÇÕES: Inicialmente, registre-se que o presente recurso representativo da controvérsia não discute
quaisquer outras receitas que não as mensalidades, não havendo que se falar em receitas 46 decorrentes de
aplicações financeiras ou decorrentes de mercadorias e serviços outros (v.g. estacionamentos pagos,
lanchonetes, aluguel ou taxa cobrada pela utilização de salões, auditórios, quadras, campos esportivos,
dependências e instalações, venda de ingressos para eventos promovidos pela entidade, receitas de
formaturas, excursões, etc.) prestados por essas entidades que não sejam exclusivamente os de educação. O
art. 13 da MP n. 1.858/1999 (atual MP n. 2.158-35/2001) faz menção a uma série de entidades cujas atividades
normais a elas inerentes também podem possuir natureza contraprestacional, ainda que sem fins lucrativos.
Tal é o caso, para exemplo, das instituições de educação ou de assistência social previstas no art. 12 da Lei n.
9.532/1997 e das instituições de caráter filantrópico, recreativo, cultural e científico e as associações civis
previstas no art. 15 da Lei n. 9.532/1997. Em ambas as situações, não por acaso, os arts. 12 e 15 da Lei n.
9.532/1997 mencionaram que a instituição deve prestar “os serviços para os quais houver sido instituída”.
Identificou-se ali, na própria lei, o núcleo do que se chamou de “atividades próprias”, que seriam esses
mesmos serviços. Reforça essa compreensão o fato de que, com a declaração de inconstitucionalidade do art.
3º, § 1º, da Lei n. 9.718/1998 pelo STF no RE 585.235 RG-QO (DJe 28/11/2008), a vingar o previsto no § 2º do
art. 47 da IN/SRF n. 247/2002, segundo o qual “Consideram-se receitas derivadas das atividades próprias
somente aquelas decorrentes de contribuições, doações, anuidades ou mensalidades fixadas por lei,
assembleia ou estatuto, recebidas de associados ou mantenedores, sem caráter contraprestacional direto,
destinadas ao seu custeio e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais”, restaria totalmente inócuo o art.
14, X, da MP n. 1.858/1999 (atual MP 2.158-35/2001), já que estaria concedendo isenção para algo que já
estaria fora do campo de incidência da COFINS por força do RE 585.235 RG-QO. Nessa toada, não há como
207

compreender que as receitas auferidas nessa condição (mensalidades dos alunos) não sejam aquelas
decorrentes de “atividades próprias da entidade”. Sendo assim, é flagrante a ilicitude do art. 47, § 2º, da
IN/SRF n. 247/2002, nessa extensão.

2015

Em ações de execução fiscal, descabe indeferir a petição inicial sob o argumento da falta de
indicação do CNPJ, CPF e/ou RG da parte executada, visto tratar-se de requisito não
previsto no art. 6º da Lei 6.830/1980 (LEF), cujo diploma, por sua especialidade, ostenta
primazia sobre a legislação de cunho geral, como ocorre em relação à exigência contida no
art. 15 da Lei 11.419/2006.

REsp 1.450.819-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, julgado em 12/11/2014, DJe 12/12/2014
(Informativo 553).

TEMA: Direito processual civil e tributário. Dispensabilidade da indicação do cpf e/ou rg do devedor (pessoa
física) nas ações de execução fiscal. Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008 do stj).

INFORMAÇÕES: A Lei 6.830/1980, ao elencar no art. 6º os requisitos da petição inicial, não previu o
fornecimento do CPF da parte executada, providência, diga-se, também não contemplada no art. 282, II, do
CPC. A previsão de que a petição inicial de qualquer ação judicial contenha o CPF ou o CNPJ do réu encontra
suporte, unicamente, no art. 15 da Lei 11.419/2006, que disciplina a informatização dos processos judiciais,
cuidando-se, nessa perspectiva, de norma de caráter geral. Portanto, não se pode cogitar do indeferimento da
petição inicial com base em exigência não consignada na legislação específica (Lei 6.830/1980-LEF), tanto mais
quando o nome e endereço da parte executada, trazidos com a inicial, possibilitem, em tese, a efetivação do
ato citatório. A Primeira Seção do STJ concluiu, em sede de repetitivo, por afastar a exigência de que a
exordial da execução se fizesse acompanhar, também, da planilha discriminativa de cálculos; isso porque “A
petição inicial da execução fiscal apresenta seus requisitos essenciais próprios e especiais que não podem ser
exacerbados a pretexto da aplicação do Código de Processo Civil, o qual, por conviver com a lex specialis,
somente se aplica subsidiariamente” (REsp 1.138.202-ES, Primeira Seção, DJe 1º/2/2010). Em tal perspectiva,
deve-se reconhecer que, por seu caráter geral, o art. 15 da Lei 49 11.419/2006, no que impõe à parte o dever
de informar, ao distribuir a petição inicial de qualquer ação judicial, o CPF ou CNPJ de pessoas físicas e
jurídicas, encerra comando que cede frente aos enxutos requisitos contidos na legislação de regência da
execução fiscal (Lei 6.830/1980), notadamente em seu artigo 6º. Embora o questionado fornecimento do CPF
ou CNPJ não chegue a revelar incompatibilidade maior com o procedimento fiscal em juízo, a falta de
apresentação desses dados pelo fisco, por não se erigir em requisito expressamente reclamado na lei especial
de regência, não poderá obstruir o curso da execução, sem prejuízo de que esses dados possam aportar ao
feito em momento ulterior

Incide imposto de renda sobre o adicional de 1/3 (um terço) de férias gozadas.

REsp 1.459.779-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. para acórdão Min. Benedito Gonçalves, Primeira
Seção, julgado em 22/04/2015, DJe 18/11/2015 (Informativo 573).

TEMA: Direito tributário. Incidência de imposto de renda sobre o adicional de 1/3 de 50 férias gozadas.
Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 881.
208

INFORMAÇÕES: De fato, a jurisprudência do STJ, há algum tempo, é pacífica quanto à incidência do imposto
de renda sobre o adicional de 1/3 das férias gozadas. Este é inclusive o entendimento que vem sendo
replicado por ambas as Turmas que compõe a Seção de Direito Público. Ocorre que a controvérsia acerca da
incidência ou não do imposto de renda sobre o terço constitucional das férias gozadas passou a ganhar mais
relevo quando o STJ, para alinhar sua jurisprudência à do STF, passou a considerar que a referida parcela não
pode ser tributada pela contribuição previdenciária sobre a folha de salários (Pet 7.296-PE, Primeira Seção, DJe
10/11/2009). Entretanto, as razões pelas quais o STF concluiu pela não sujeição do terço constitucional de
férias às contribuições previdenciárias não são suficientes para que o STJ conclua pelo caráter indenizatório da
parcela em debate e altere seu entendimento também acerca da sua sujeição ao imposto de renda. Com
efeito, do voto condutor da Pet 7.296-PE, verifica-se que a sua motivação foi a de alinhar o STJ ao
posicionamento do Pretório Excelso. Ocorre que o STF, essencialmente, afastou a incidência das contribuições
previdenciárias sobre o terço constitucional das férias gozadas, não em razão do seu caráter indenizatório,
mas sim em razão da não incorporação para fins de aposentadoria. Ou seja, o fundamento adotado pela
Suprema Corte diz respeito ao caráter retributivo da contribuição previdenciária no cálculo do benefício,
pressuposto esse que não condiciona a legitimidade de tributação pelo imposto de renda, a qual deve ser
analisada à luz da ocorrência ou não do seu fato gerador, que é o acréscimo patrimonial. A par disso, frise-se
que a referida conclusão da Corte Suprema referente à contribuição previdenciária não está sedimentada, pois
pende de julgamento o RE 593.068-SC, submetido ao rito da repercussão geral. Dessa forma, o STF ainda não
pacificou a controvérsia acerca da natureza indenizatória ou remuneratória do terço constitucional referente
às férias gozadas, de sorte que é necessário o amplo debate a esse respeito, bem como acerca da ocorrência
ou não de acréscimo patrimonial em decorrência de seu recebimento, a fim de que se delibere a respeito de
sua submissão ou não à incidência do imposto de renda. Com efeito, o referido acréscimo à remuneração
recebida pelo trabalhador no período referente às férias é um direito social previsto no inciso XVII do art. 7º
da CF e tem por finalidade conferir ao trabalhador um aumento da sua remuneração durante período das
férias, a fim de que possa desenvolver atividades diferentes das que exerce em seu cotidiano, no intuito de lhe
garantir a oportunidade de ter momentos de lazer e prazer, tão necessários ao restabelecimento do equilíbrio
físico e mental do trabalhador quanto o descanso. Assim, o recebimento de tal valor, assim como o das férias
gozadas, decorre da normal fruição da relação jurídica existente entre o trabalhador e o empregador. Esse
direito social tem a mesma natureza do salário, sendo oponível em face do empregador, que deve adimplir
essa obrigação mediante retribuição pecuniária, lato sensu. Essa é a inteligência do art. 148 da CLT: “A
remuneração das férias, ainda quando devida após a cessação do contrato de trabalho, terá natureza salarial,
para os efeitos do art. 449”. Dessa forma, o fato de a verba não constituir ganho habitual e de ser destinada,
em tese, ao desenvolvimento de atividades que minimizem os efeitos “do desgaste natural sofrido pelo
trabalhador” não a transforma em indenização, justamente porque constitui um reforço, um acréscimo na
remuneração em um período específico e fundamental para o trabalhador, que são as férias, ao passo que a
indenização visa à reposição do patrimônio (material ou imaterial) daquele que sofre lesão a algum direito. A
par disso, o art. 16 da Lei 4.506/1964 dispõe que, para fins de imposto de renda, serão classificados como
rendimentos do trabalho assalariado todas as espécies de remuneração por trabalho ou serviços prestados no
exercício dos empregos, cargos ou funções, tais como: “I - Salários, ordenados, vencimentos, soldos, soldadas,
vantagens [...]; II - Adicionais, extraordinários, suplementações, abonos, bonificações, gorjetas; III –
Gratificações [...]”, entre 51 outros. Não há dúvida de que o adicional de férias está incluído nesse rol. Frise-se
que a exclusão do adicional de férias do conceito de remuneração, para os efeitos da Lei 8.852/1994 (art. 1º,
III, “j”), concernentes ao teto remuneratório, não infirma o caráter retributivo da verba, assim definido pelo
caput do art. 1º dessa mesma lei. Destaca-se ainda que, por essa lei, “o décimoterceiro salário” (também
conhecido como adicional ou gratificação natalina) também está excluído do conceito de remuneração (art.
1º, III, “f”); todavia, inexistem dúvidas sobre o caráter retributivo e a tributação do imposto de renda sobre os
209

valores recebidos a esse título. Nesse contexto, resta claro que o recebimento de adicional de férias configura
aquisição de disponibilidade econômica que configura acréscimo patrimonial ao trabalhador, atraindo, assim,
a incidência do imposto de renda, nos termos do art. 43 do CTN. Diferentemente seria se o trabalhador, não
obstante já tivesse adquirido o direito às férias, não viesse a delas usufruir, o que transmudaria a natureza da
verba para o viés indenizatório (reparação pelo não exercício regular do direito), intangível à tributação pelo
imposto de renda, conforme assentado no julgamento do REsp 1.111.223-SP, Primeira Seção, DJe 4/5/2009,
submetido ao rito do art. 543-C do CPC. Por fim, cumpre destacar que, ainda que se admita o caráter
indenizatório da quantia recebida, tal caráter, por si só, não afasta a incidência do imposto de renda,
sobretudo quando a indenização tem por escopo a recomposição do patrimônio lesado. Diante dessas
ponderações, a conclusão acerca da natureza da verba em questão nos julgamentos da Pet 7.296-PE e do
REsp 1.230.957-RS, por si só, não infirma a hipótese de incidência do imposto de renda, cujo fato gerador não
está relacionado com a composição do salário de contribuição para fins previdenciários ou com a
habitualidade de percepção dessa verba, mas sim com à existência, ou não, de acréscimo patrimonial, que,
como visto, é patente quando do recebimento do adicional de férias gozadas.
210

DIREITO ADMINISTRATIVO

2022

Presente a redação original do art. 87, § 2º, da Lei n. 8.112/1990, bem como a dicção do art.
7º da Lei n. 9.527/1997, o servidor federal inativo, sob pena de enriquecimento ilícito da
Administração e independentemente de prévio requerimento administrativo, faz jus à
conversão em pecúnia de licença-prêmio por ele não fruída durante sua atividade
funcional, nem contada em dobro para a aposentadoria, revelando-se PRESCINDÍVEL, a tal
desiderato, a comprovação de que a licença-prêmio não foi gozada por necessidade do
serviço.

REsp 1.854.662-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 22/06/2022. ( Tema
1086) Info 742

INFORMAÇÕES: A controvérsia, tal como delimitada na proposta afetada por esta Primeira Seção, consiste
em: a) definir se o servidor público federal possui, ou não, o direito de obter a conversão em pecúnia de
licença-prêmio por ele não gozada e nem contada em dobro para fins de aposentadoria; b) em caso
afirmativo, definir se a referida conversão em pecúnia estará condicionada, ou não, à comprovação, pelo
servidor, de que a não fruição ou contagem da licença-prêmio decorreram do interesse da Administração
Pública.

A pacífica jurisprudência do STJ, formada desde a época em que a competência para o exame da matéria
pertencia à Terceira Seção, firmou-se no sentido de que, embora a legislação faça referência à possibilidade
de conversão em pecúnia apenas no caso de falecimento do servidor, possível se revela que o próprio servidor
inativo postule em juízo indenização pecuniária concernente a períodos adquiridos de licença-prêmio, que
não tenham sido por ele fruídos nem contados em dobro para fins de aposentadoria, sob pena de
enriquecimento ilícito da Administração.

Nesse sentido, consigna-se que "foge à razoabilidade jurídica que o servidor seja tolhido de receber a
compensação pelo não-exercício de um direito que incorporara ao seu patrimônio funcional e, de outra parte,
permitir que tal retribuição seja paga aos herdeiros, no caso de morte do funcionário" (AgRg no Ag
735.966/TO, Relator Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJ de 28/8/2006, p. 305).

Tal compreensão, na verdade, mostra-se alinhada à orientação adotada pelo Supremo Tribunal Federal, em
sede de repercussão geral, no julgamento do ARE 721.001/RJ (Tema 635), segundo a qual "é devida a
conversão de férias não gozadas bem como de outros direitos de natureza remuneratória em indenização
pecuniária por aqueles que não mais podem delas usufruir, seja por conta do rompimento do vínculo com a
Administração, seja pela inatividade, em virtude da vedação ao enriquecimento sem causa da Administração".

Oportunamente, mostra-se importante sublinhar que a tese repetitiva cuida, única e exclusivamente, de
controvérsia envolvendo direito postulado por servidor público federal inativo, concernente à conversão em
pecúnia de licença-prêmio não gozada, não abrangendo, portanto, igual pretensão eventualmente formulada
por servidores ativos.
211

Além disso, a controvérsia também engloba o debate sobre saber se a conversão em pecúnia da licença-
prêmio não gozada estaria condicionada, ou não, à comprovação, pelo servidor, de que a não fruição do
aludido direito decorreu do interesse da Administração Pública.

Nesse passo, o reiterado entendimento do STJ considera "desnecessária a comprovação de que as férias e a
licença-prêmio não foram gozadas por necessidade do serviço já que o não-afastamento do empregado,
abrindo mão de um direito, estabelece uma presunção a seu favor" (REsp 478.230/PB, Relator Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, DJ de 21/5/2007, p. 554).

Entende-se, outrossim, dispensável a comprovação de que a licença-prêmio não tenha sido gozada por
interesse do serviço, pois o não afastamento do servidor, abrindo mão daquele direito pessoal, gera
presunção quanto à necessidade da atividade laboral.

Conforme assentado em precedentes desta Corte, a inexistência de prévio requerimento administrativo do


servidor não reúne aptidão, só por si, de elidir o enriquecimento sem causa do ente público, sendo certo que,
na espécie examinada, o direito à indenização decorre da circunstância de o servidor ter permanecido em
atividade durante o período em que a lei expressamente lhe possibilitava o afastamento remunerado ou,
alternativamente, a contagem dobrada do tempo da licença.

Diante desse contexto, entende-se pela desnecessidade de se perquirir acerca do motivo que levou o servidor
a não usufruir do benefício do afastamento remunerado, tampouco sobre as razões pelas quais a
Administração deixou de promover a respectiva contagem especial para fins de inatividade, porque, numa ou
noutra situação, não se discute ter havido a prestação laboral ensejadora do recebimento da aludida
vantagem.

Ademais, caberia à Administração, na condição de detentora dos mecanismos de controle que lhe são
próprios, providenciar o acompanhamento dos registros funcionais e a prévia notificação do servidor acerca
da necessidade de fruição da licença-prêmio antes de sua passagem para a inatividade.

De resto, cumpre também pontuar a inexistência de previsão legal estipuladora de prazo para o exercício do
direito em questão ou, ainda, acenando com a eventual perda do gozo da licença-prêmio, tudo a recomendar,
portanto, que se reconheça a legalidade da conversão em pecúnia daquele benefício, sendo certo que tal
entendimento, conforme já realçado pelo Supremo Tribunal Federal (RE 721.001/RJ), está fundado na
responsabilidade objetiva do Estado, nos termos do art. 37, § 6º, da CF/1988, bem assim no princípio que veda
o enriquecimento sem causa da Administração.

A contratação de servidores públicos temporários sem concurso público, mas baseada em


legislação local, por si só, não configura a improbidade administrativa prevista no art. 11
da Lei n. 8.429/1992, por estar ausente o elemento subjetivo (dolo) necessário para a
configuração do ato de improbidade violador dos princípios da administração pública.

REsp 1.913.638-MA, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 11/05/2022.
(Tema 1108) – Info 736
212

Informações: A questão central é saber se a contratação de servidores temporários sem concurso público,
baseada em legislação municipal, configura ato de improbidade administrativa, em razão de eventual
dificuldade de identificar o elemento subjetivo necessário à caracterização do ilícito administrativo.

Inicialmente, cumpre consignar que, em face dos princípios a que está submetida a administração pública (art.
37 da CF/1988) e tendo em vista a supremacia deles, sendo representantes daquela os agentes públicos
passíveis de serem alcançados pela lei de improbidade, o legislador ordinário quis impedir o ajuizamento de
ações temerárias, evitando, com isso, além de eventuais perseguições políticas e o descrédito social de atos
ou decisões político-administrativos legítimos, a punição de administradores ou de agentes públicos
inexperientes, inábeis ou que fizeram uma má opção política na gerência da coisa pública ou na prática de
atos administrativos, sem má-fé ou intenção de lesar o erário ou de enriquecimento.

Essa intenção foi reforçada pelo pacífico posicionamento jurisprudencial desta Corte Superior, segundo o qual
não se pode confundir improbidade com simples ilegalidade, porquanto a improbidade é ilegalidade
tipificada e qualificada pelo elemento subjetivo da conduta do agente, sendo indispensável para sua
caracterização o dolo, para a tipificação das práticas descritas nos arts. 9º e 11 da Lei n. 8.429/1992, ou que,
pelo menos, seja essa conduta eivada de culpa grave (AIA 30/AM, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Corte
Especial, DJe 28/09/2011).

Tal entendimento recebeu tratamento especial - e mais restritivo - quando da recente alteração da Lei n.
8.429/1992 pela Lei n. 14.230/2021, que estabeleceu o dolo específico como requisito para a caracterização do
ato de improbidade administrativa, ex vi do seu art. 1º, §§ 2º e 3º, sendo necessário aferir a especial intenção
desonesta do agente de violar o bem jurídico tutelado.

De acordo com a jurisprudência desta Corte Superior, desde há muito, a contratação de servidores públicos
temporários sem concurso público baseada em legislação local, ainda que considerada inconstitucional pelo
acórdão recorrido, afasta a caracterização do dolo genérico para a configuração de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da administração pública.

O afastamento do elemento subjetivo de tal conduta dá-se em razão da dificuldade de identificar o dolo
genérico, situação que foi alterada com a edição da Lei n. 14.230/2021, que conferiu tratamento mais
rigoroso, ao estabelecer não mais o dolo genérico, mas o dolo específico como requisito para a caracterização
do ato de improbidade administrativa, ex vi do seu art. 1º, §§ 2º e 3º, em que é necessário aferir a especial
intenção desonesta do agente de violar o bem jurídico tutelado.

O militar de carreira ou temporário - este último antes da alteração promovida pela Lei n.
13.954/2019 -, diagnosticado como portador do vírus HIV, tem direito à reforma ex officio
por incapacidade definitiva para o serviço ativo das Forças Armadas, independentemente
do grau de desenvolvimento da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida - SIDA/AIDS,
porém, sem a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao grau
hierárquico imediatamente superior ao que possuía na ativa, se não estiver impossibilitado
total e permanentemente para qualquer trabalho, na forma do art. 110, § 1º, da Lei n.
6.880/1980.

REsp 1.872.008-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 11/05/2022.
(Tema 1088) – info 736
213

É ilegal o ato de não concessão de progressão funcional de servidor público, quando


atendidos todos os requisitos legais, a despeito de superados os limites orçamentários
previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal, referentes a gastos com pessoal de ente
público, tendo em vista que a progressão é direito subjetivo do servidor público,
decorrente de determinação legal, estando compreendida na exceção prevista no inciso I
do parágrafo único do art. 22 da Lei Complementar n. 101/2000.

REsp 1.878.849-TO, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador Convocado do TRF da 5ª região), Primeira
Seção, por unanimidade, julgado em 24/02/2022. (Tema 1075)

Informações: A Lei Complementar n. 101/2000 determina que seja verificado se a despesa de cada Poder ou
órgão com pessoal - limite específico - se mantém inferior a 95% do seu limite; isso porque, em caso de
excesso, há um conjunto de vedações que deve ser observado exclusivamente pelo Poder ou pelo órgão que
houver incorrido no excesso, como visto no art. 22 da LC n. 101/2000.

O mesmo diploma legal não prevê vedação à progressão funcional do servidor público que atender aos
requisitos legais para sua concessão, em caso de superação dos limites orçamentários previstos na Lei de
Responsabilidade Fiscal, referentes a gastos com pessoal de ente público. Nos casos em que há comprovado
excesso, se global ou específico, as condutas que são lícitas aos entes federativos estão expressamente
delineadas. Ou seja, há comandos normativos claros e específicos de mecanismos de contenção de gasto com
pessoal, os quais são taxativos, não havendo previsão legal de vedação à progressão funcional, que é direito
subjetivo do servidor público quando os requisitos legais forem atendidos em sua plenitude.

O aumento de vencimento em questão não pode ser confundido com concessão de vantagem, aumento,
reajuste ou adequação de remuneração a qualquer título, uma vez que o incremento no vencimento
decorrente da progressão funcional horizontal ou vertical - aqui dito vencimento em sentido amplo
englobando todas as rubricas remuneratórias - é inerente à movimentação do servidor na carreira e não inova
o ordenamento jurídico em razão de ter sido instituído em lei prévia, sendo direcionado apenas aos grupos de
servidores públicos que possuem os requisitos para sua materialização e incorporação ao seu patrimônio
jurídico quando presentes condições específicas definidas em lei.

Já conceder vantagem, aumento, reajuste ou adequar a remuneração a qualquer título engloba aumento real
dos vencimentos em sentido amplo, de forma irrestrita à categoria de servidores públicos, sem distinção, e
deriva de lei específica para tal fim. Portanto, a vedação presente no art. 22, inciso I, da LC n. 101/2002 se
dirige a essa hipótese legal.

A própria Lei de Responsabilidade Fiscal, ao vedar, no art. 21, parágrafo único, inciso I, àqueles órgãos que
tenham incorrido em excesso de despesas com pessoal, a concessão de vantagem, aumento, reajuste ou
adequação de remuneração a qualquer título, ressalva, de logo, os direitos derivados de sentença judicial ou
de determinação legal ou contratual, exceção em que se inclui a progressão funcional.

O ato administrativo do órgão superior da categoria que concede a progressão funcional é simples, e por isso
não depende de homologação ou da manifestação de vontade de outro órgão. Ademais, o ato produzirá seus
efeitos imediatamente, sem necessidade de ratificação ou chancela por parte da Secretaria de Administração.
Trata-se, também, de ato vinculado sobre o qual não há nenhuma discricionariedade da Administração
Pública para sua concessão quando presentes todos os elementos legais da progressão.
214

Condicionar a progressão funcional do servidor público a situações alheias aos critérios previstos por lei
poderá, por via transversa, transformar seu direito subjetivo em ato discricionário da Administração,
ocasionando violação aos princípios caros à Administração Pública, como os da legalidade, da impessoalidade
e da moralidade.

A jurisprudência desta Corte Superior firmou-se no sentido de que os limites previstos nas normas da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF), no que tange às despesas com pessoal do ente público, não podem servir de
justificativa para o não cumprimento de direitos subjetivos do servidor público, como é o recebimento de
vantagens asseguradas por lei.

A Carta Magna de 1988 enumerou, em ordem de relevância, as providências a serem adotadas pelo
administrador na hipótese de o orçamento do órgão público ultrapassar os limites estabelecidos na Lei de
Responsabilidade Fiscal, quais sejam, a redução de cargos em comissão e funções de confiança, a exoneração
de servidores não estáveis e a exoneração de servidores estáveis (art. 169, § 3º, da CF/1988). Não se mostra
razoável a suspensão de benefícios de servidores públicos estáveis sem a prévia adoção de medidas de
contenção de despesas, como a diminuição de funcionários comissionados ou de funções comissionadas pela
Administração.

Não pode, outrossim, o Poder Público alegar crise financeira e o descumprimento dos limites globais e/ou
específicos referentes às despesas com servidores públicos nos termos dos arts. 19 e 20 da L C n. 101/2000 de
forma genérica, apenas para legitimar o não cumprimento de leis existentes, válidas e eficazes, e suprimir
direitos subjetivos de servidores públicos.

Assim, diante da expressa previsão legal acerca da progressão funcional e comprova do de plano o
cumprimento dos requisitos para sua obtenção, está demonstrado o direito líquido e certo do servidor
público, devendo ser a ele garantida a progressão funcional horizontal e vertical, a despeito de o ente
federativo ter superado o limite orça mentário referente a gasto com pessoal, previsto na Lei de
Responsabilidade Fiscal, tendo em vista não haver previsão expressa de vedação de progressão funcional na
LC n. 101/2000. (Informativo n. 726 )

2021

Em se tratando de multa aplicada às pessoas jurídicas proprietárias de veículo,


fundamentada na ausência de indicação do condutor infrator, é obrigatório observar a
dupla notificação: a primeira que se refere à autuação da infração e a segunda sobre a
aplicação da penalidade, conforme estabelecido nos arts. 280, 281 e 282 do Código de
Trânsito Brasileiro.

REsp 1.925.456-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 21/10/2021.
(Tema 1097)

Informações: O Código de Trânsito Brasileiro, em seu art. 257, §§ 7º e 8º, prevê a aplicação de nova multa ao
proprietário de veículo registrado em nome de pessoa jurídica quando não há a identificação do condutor
215

infrator no prazo determinado. Da redação da lei, verifica-se que as duas violações são autônomas em relação
à necessidade de notificação da autuação e da aplicação da pena decorrente da infração, devendo ser
concedido o devido prazo para defesa em cada caso. Tratando-se de situações distintas, geradoras de
infrações distintas, o direito de defesa a ser exercido em cada uma será implementado de forma igualmente
distinta. Ou seja, as teses de defesa não serão as mesmas, daí a razão para que se estabeleça uma relação
processual diferenciada, para cada situação. Assim, sempre que estiver em jogo a aplicação de uma garantia, a
regra de interpretação não deva ser restritiva. Ademais, sempre que nos depararmos com um gravame,
penalidade ou sacrifício de direito individual, a regra de interpretação deve, de alguma forma, atender quem
sofre esse tipo de consequência, quando houver alguma dúvida ou lacuna. Veem-se exemplos dessa
perspectiva no Processo Penal, com muita clareza, em que a dúvida beneficia o réu. Observa-se também no
Direito do Consumidor, no do Trabalho, nos quais a parte fragilizada na relação jurídica material recebe uma
"compensação", por assim dizer, ou uma não equiparação lícita, para que, no conflito verificado em um
processo contra um ente mais "forte", possa se estabelecer, tanto quanto possível, a igualdade material e ela
não seja prejudicada por ser mais frágil. No que toca a uma relação jurídica estabelecida no presente processo
administrativo sancionador de trânsito, verifica-se que existe essa supremacia do ente público em desfavor do
particular. Poder-se-ia indagar se o interesse público daria fundamento à desnecessidade de dupla
notificação, pois o particular cometeu a infração e deve sofrer as consequências da lei, já que a autoridade
administrativa exerce seu papel com os atributos próprios do ato administrativo. Sem dúvida, o interesse
público paira sobre a controvérsia e serve de guia interpretativo. Todavia, também integra o conceito de
interesse público o respeito e o correto cumprimento das garantias constitucionais, das quais o contraditório
é, sem dúvida, uma das mais candentes, sobretudo em se tratando de processo sancionador. Além disso,
sendo administrativa ou de trânsito a multa, não se vê razoável motivo para dela afastar a aplicação dos arts.
280, 281, 282 do CTB (os quais estão contidos na mesma lei federal que prevê tal multa), nem mesmo
obstáculos que impossibilitem que uma segunda notificação seja expedida antes da imposição da penalidade,
sendo incontestável que o próprio art. 257, § 8º, do CTB determina sanção financeiramente mais grave à
pessoa jurídica que não identifica o condutor no prazo legal. Não se trata, portanto, de "fazer letra morta o
texto legal", mas, ao contrário, de cumpri-lo com efetividade. Dessa forma, conforme a jurisprudência do STJ,
em se tratando de multa aplicada à pessoa jurídica proprietária de veículo, fundamentada na ausência de
indicação do condutor infrator, é obrigatório observar a dupla notificação, a primeira que se refere à autuação
da infração e a segunda relativa à aplicação da penalidade (arts. 280, 281 e 282, todos do CTB).

A coisa julgada formada no Mandado de Segurança Coletivo 2005.51.01.016159-0


(impetrado pela Associação de Oficiais Militares do Estado do Rio de Janeiro - AME/RJ,
enquanto substituta processual) beneficia os militares e respectivos pensionistas do antigo
Distrito Federal, integrantes da categoria substituída - oficiais, independentemente de
terem constado da lista apresentada no momento do ajuizamento do mandamus ou
de serem filiados à associação impetrante.

REsp 1.865.563-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, por maioria, julgado
em 21/10/2021. (Tema 1056) Info 715

Tema: Mandado de Segurança Coletivo. Associação de Oficiais Militares do Estado do Rio de Janeiro -
AME/RJ. Substituta processual. Limites subjetivos da coisa julgada. Integrantes da categoria substituída -
216

oficiais. Lista apresentada no momento do ajuizamento ou filiação à associação impetrante. Irrelevância. Tema
1056.

Informações: Inicialmente, no julgamento do ARE 1.293.130/RG-SP, realizado sob a sistemática da


repercussão geral, o Supremo Tribunal Federal reafirmou a sua jurisprudência dominante, estabelecendo a
tese de que "é desnecessária a autorização expressa dos associados, a relação nominal destes, bem
como a comprovação de filiação prévia, para a cobrança de valores pretéritos de título judicial
decorrente de mandado de segurança coletivo impetrado por entidade associativa de caráter civil ".
Esse, inclusive, é o teor da Súmula 629 do STF: "A impetração de mandado de segurança coletivo por
entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes". Não obstante o
entendimento acima indicado, não é suficiente para dirimir a questão travada nos presentes autos, devendo,
também, ser observados os limites da coisa julgada. No ponto, não andou bem a Corte a quo ao consignar
que o título executivo teria se formado nos moldes delimitados pelas instâncias ordinárias no julgamento do
writ - com a limitação da incorporação da vantagem aos associados da impetrante constantes na lista anexada
à inicial. Com efeito, consoante registrado pelo Tribunal de origem, no primeiro grau, a ordem foi
parcialmente concedida para determinar que a autoridade coatora procedesse à incorporação da "Vantagem
Pecuniária Especial instituída pela Lei n. 11.134/2005, nos proventos de reforma auferidos pelos Policiais
Militares e Bombeiros do antigo Distrito Federal filiados à Impetrante, que tivessem adquirido o direito à
inatividade remunerada até a vigência da Lei n. 5.787/1972, bem como nos proventos de pensão instituídos
pelos referidos militares e percebidos por filiados à Associação Autora". Em sede de apelação, a sentença foi
parcialmente reformada para se reconhecer a isonomia entre os militares do Distrito Federal e os
remanescentes do antigo Distrito Federal, tendo sido determinada a incorporação da Vantagem em comento
aos associados da impetrante. Interposto recurso especial pela União (REsp 1.121.981/RJ), o apelo nobre foi
provido e denegada a ordem. Entretanto, a Terceira Seção desta Corte acolheu embargos de divergência
interpostos pela Associação "para que a Vantagem Pecuniária Especial - VPE, criada pela Lei nº 11.134/05, seja
estendida aos servidores do antigo Distrito Federal em razão da vinculação jurídica criada pela Lei nº
10.486/2002". Da simples leitura do decisum acima destacado, vê-se que, contrariamente ao explicitado pelo
Tribunal de origem, esta Corte Superior reconheceu o direito de todos os servidores do antigo Distrito
Federal, não havendo qualquer limitação quanto aos associados da então impetrante nem tampouco dos
constantes em lista. Assim, a configuração da legitimidade ativa, para fins de execução individual do
título coletivo em comento, prescinde: a) da presença do nome do exequente individual na lista de
associados eventualmente apresentada quando do ajuizamento do mandado de segurança e, assim
também, b) da comprovação de filiação, no caso concreto, à Associação de Oficiais Militares Estaduais
do Rio de Janeiro, autora da segurança coletiva. O caso concreto, entretanto, guarda particularidade: a
exequente é pensionista de ex-Praça da Polícia Militar do antigo Distrito Federal.

Toda a fundamentação já anteriormente indicada permite uma única conclusão: a legitimidade para a
execução individual do título coletivo formado em sede de mandado de segurança, caso o título executivo
tenha transitado em julgado sem limitação subjetiva (lista, autorização etc), restringe-se aos integrantes da
categoria que foi efetivamente substituída. Dessa forma, ainda que nos embargos de divergência manejados
na ação originária tenha a Terceira Seção desta Corte acolhido o recurso para que "a Vantagem Pecuniária
Especial - VPE, criada pela Lei nº 11.134/05, seja estendida aos servidores do antigo Distrito Federal", a coisa
julgada formada no título jamais poderia abarcar servidor militar não integrante da categoria que estava
sendo substituída no writ.
217

Na ação civil pública por ato de improbidade administrativa é possível o


prosseguimento da demanda para pleitear o ressarcimento do dano ao erário, AINDA
QUE sejam declaradas prescritas as demais sanções previstas no art. 12 da Lei n.
8.429/1992.

REsp 1.899.455-AC, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 22/09/2021.
(Tema 1089) Info 710

Tema: Improbidade administrativa. Sanções do art. 12 da Lei n. 8.429/1992. Prescrição. Pedido de


ressarcimento dos danos causados ao erário. Prosseguimento da ação civil pública. Possibilidade.

Informações: Nos termos do art. 5º da Lei n. 8.429/1992, "ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação
ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano". Tal
determinação é ressaltada nos incisos I, II e III do art. 12 da mesma Lei, de modo que o ressarcimento
integral do dano, quando houver, sempre será imposto juntamente com alguma ou algumas das
demais sanções previstas para os atos ímprobos. Assim, por expressa determinação da Lei n. 8.429/1992, é
lícito ao autor da ação cumular o pedido de ressarcimento integral dos danos causados ao erário com o
de aplicação das demais sanções previstas no seu art. 12, pela prática de ato de improbidade
administrativa. Sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento no sentido de que "se mostra
lícita a cumulação de pedidos de natureza condenatória, declaratória e constitutiva nesta ação, quando
sustentada nas disposições da Lei n. 8.429/1992" (REsp 1.660.381/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe de 26/11/2018). Partindo de tais premissas, o Superior Tribunal de Justiça firmou
jurisprudência no sentido de que "a declaração da prescrição das sanções aplicáveis aos atos de
improbidade administrativa não impede o prosseguimento da demanda quanto à pretensão de
ressarcimento dos danos causados ao erário" (REsp 1.331.203/DF, Rel. Ministro Ari Pargendler, Primeira
Turma, DJe de 11/04/2013).

O candidato aprovado em concurso público pode assumir cargo que, segundo o edital,
exige título de Ensino Médio profissionalizante ou completo com curso técnico em área
específica, caso não seja portador desse título mas detenha diploma de nível superior na
mesma área profissional.

REsp 1.888.049-CE, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 22/09/2021. (Tema
1094), Info 710

Informações: Os arts. 5º, IV, e 10 da Lei n. 8.112/1990, e o art. 9º, § 2º, da Lei n. 11.091/2005
determinam que a investidura em cargo público apenas ocorrerá se o candidato tiver o nível de
escolaridade exigido para o exercício do cargo, conforme estiver previsto no edital do certame. A questão
que se coloca apresenta uma nota distintiva, qual seja, saber se atende à exigência do edital o candidato
que porta um diploma de nível superior na mesma área profissional do título de Ensino Médio
profissionalizante ou completo com curso técnico indicado como requisito no certame . Sob um prisma
da análise econômica do Direito, e considerando as consequências práticas da decisão - nos termos do
art. 20 do Decreto-Lei n. 4.657/1942 (acrescentado pela Lei n. 13.655/2018, que deu nova configuração à Lei
218

de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB) -, não se pode deixar de registrar que a aceitação de
titulação superior à exigida traz efeitos benéficos para o serviço público e, consequentemente, para a
sociedade brasileira. Destaca-se os seguintes benefícios: 1) o leque de candidatos postulantes ao cargo é
ampliado, permitindo uma seleção mais abrangente e mais competitiva no certame; 2) a própria
prestação do serviço público é aperfeiçoada com a investidura de servidores mais qualificados e aptos
para o exercício da função pública. Registre-se que tal postura se coaduna com a previsão do art. 37 da
Constituição Federal, que erige o princípio da eficiência dentre os vetores da administração pública direta e
indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

É possível a inclusão do valor de eventual multa civil na medida de indisponibilidade de


bens decretada em ação de improbidade administrativa, INCLUSIVE nas demandas
ajuizadas com esteio na prática de conduta prevista no art. 11 da Lei n. 8.429/1992,
tipificador da ofensa aos princípios nucleares administrativos.

REsp 1.862.792-PR, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região), Primeira
Seção, por unanimidade, julgado em 25/08/2021. (Tema 1055) Info 706

Tema: Ação de improbidade administrativa. Indisponibilidade de bens. Inclusão do valor da multa civil no
importe a ser bloqueado. Incidência nas ações ancoradas no art. 11 da Lei n. 8.429/1992. Possibilidade.

Informações: A questão submetida à análise é definir se é possível - ou não - a inclusão do valor de eventual
multa civil na medida de indisponibilidade de bens decretada na ação de improbidade administrativa,
inclusive naquelas demandas ajuizadas com esteio na prática de conduta prevista no art. 11 da Lei 8.429/1992,
tipificador da ofensa aos princípios nucleares administrativos. Assim, muito embora a premissa para o não
cômputo do valor da multa civil, para certos ilustrativos de alguns Tribunais, como do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, concentre-se em alegada antecipação de pena, a interpretação que se deu neste
colendo Superior Tribunal de Justiça é de que devem ser empreendidas providências para que o processo
esteja assegurado quanto à eventual condenação futura, no que engloba a reprimenda pecuniária. Essa
concepção ficou bem revelada no entendimento que se formou acerca da solidariedade passiva nessa
determinação constritiva, ou seja, se é certo que não é possível promover a totalidade do bloqueio sobre
todos os acionados (uma supergarantia), lado outro qualquer réu está sujeito a experimentar sobre si a
integralidade da medida, ainda que haja na demanda outros réus que não tenham suportado qualquer efeito
da indisponibilidade. Isso porque o objetivo é, tão logo detectada a plausibilidade da pretensão, que se tenha
a garantia nos autos: uma vez alcançada a integralidade da garantia sobre qualquer réu, nada mais há de ser
indisponibilizado, até que se resolva a responsabilidade - se houver - de cada qual. Em desdobramento, na
segunda questão suscitada no aresto de afetação ao tema 1.055, busca-se saber se a medida constritiva
também poderia incidir nos casos de ações ancoradas exclusivamente na potencial prática de atos tipificados
como violadores a princípios administrativos (art. 11 da Lei n. 8.429/1992). A pergunta se situa no fato de que,
em casos tais, pode não ocorrer lesão alguma aos cofres públicos, nem mesmo proveito pessoal ilícito,
isto é, a repercussão patrimonial do fato reputado ímprobo seria limitada ou inexistente . Ainda que
inexistente prova de enriquecimento ilícito ou lesão ao patrimônio público, é possível a decretação da
providência cautelar, notadamente pela possibilidade de ser cominada, na sentença condenatória, a
pena pecuniária de multa civil como sanção autônoma, cabendo sua imposição, inclusive, em casos de
prática de atos de improbidade que impliquem tão somente violação a princípios da Administração
Pública. Essa providência de inclusão da multa civil na medida constritiva em ações de improbidade
219

administrativa exclusivamente amparadas no art. 11 da Lei n. 8.429/1992 não implica violação do art. 7º,
caput e parágrafo único, da citada lei, pois destina-se, de todo modo, a assegurar a eficácia de eventual
desfecho condenatório à sanção de multa civil.

Os pagamentos indevidos aos servidores públicos decorrentes de erro administrativo


(operacional ou de cálculo), não embasado em interpretação errônea ou equivocada da lei
pela Administração, estão sujeitos à devolução, ressalvadas as hipóteses em que o
servidor, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé objetiva, sobretudo com
demonstração de que não lhe era possível constatar o pagamento indevido.

REsp 1.769.306/AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 10/03/2021.
(Tema 1009). Info

Tema: Servidor público. Devolução de valores recebidos. Artigo 46, caput, da Lei n. 8.112/1990. Revisão da
tese definida no Tema repetitivo 531/STJ. Ausência de alcance nos casos de pagamento indevido decorrente
de erro de cálculo ou operacional da administração pública. Possibilidade de devolução. Salvo inequívoca
presença da boa-fé objetiva. Tema 1009.

Informações: A controvérsia consiste em definir se a tese firmada no Tema 531/STJ seria igualmente aplicável
aos casos de erro operacional ou de cálculo, para igualmente desobrigar o servidor público, de boa-fé, a
restituir ao erário a quantia recebida a maior. No julgamento do Recurso Especial Repetitivo n. 1.244.182/PB
(Tema 531/STJ), definiu-se que quando a Administração Pública interpreta erroneamente uma lei,
resultando em pagamento indevido ao servidor, de boa-fé, cria-se uma falsa expectativa de que os
valores recebidos são legais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, o que
está em conformidade com a Súmula 34 da Advocacia Geral da União - AGU. Assim, acerca da
impossibilidade de devolução ao erário de valores recebidos indevidamente por servidor público, de
boa-fé, em decorrência de equívoco na interpretação de lei pela Administração Pública, constata-se
que o tema está pacificado. O artigo 46, caput, da Lei n. 8.112/1990 estabelece a possibilidade de
reposições e indenizações ao erário. Trata-se de disposição legal expressa, plenamente válida, embora com
interpretação dada pela jurisprudência com alguns temperamentos, especialmente em observância aos
princípios gerais do direito, como boa-fé, a fim de impedir que valores pagos indevidamente sejam devolvidos
ao erário. Diferentemente dos casos de errônea ou má aplicação de lei, onde o elemento objetivo é, por
si, suficiente para levar à conclusão de que o beneficiário recebeu o valor de boa-fé, assegurando-lhe o
direito da não devolução do valor recebido indevidamente, na hipótese de erro material ou operacional
deve-se analisar caso a caso, de modo a averiguar se o servido tinha condições de compreender a
ilicitude no recebimento dos valores, de modo a se lhe exigir comportamento diverso, diante do seu
dever de lealdade para com a Administração Pública. Impossibilitar a devolução dos valores recebidos
indevidamente por erro perceptível da Administração Pública, sem a análise do caso concreto da boa-fé
objetiva, permitiria o enriquecimento sem causa por parte do servidor, em flagrante violação do artigo
884 do Código Civil. Por tudo isso, não há que se confundir erro na interpretação de lei com erro
operacional, de modo àquele não se estende o entendimento fixado no Recurso Especial Repetitivo n.
1.244.182/PB, sem a observância da boa-fé objetiva do servidor público, o que possibilita a restituição
ao Erário dos valores pagos indevidamente decorrente de erro de cálculo ou operacional da
Administração Pública. (Informativo n. 688)
220

a) Servidores públicos federais civis não possuem direito às incorporações de


quintos/décimos pelo exercício de funções e cargos comissionados entre a edição da Lei n.
9.624/1998 e a MP n. 2.225-48/2001; b) Porém, os servidores públicos que recebem
quintos/décimos pelo exercício de funções e cargos comissionados entre a edição da Lei n.
9.624/1998 e a MP n. 2.225-48/2001, seja por decisão administrativa ou decisão judicial não
transitada em julgado, possuem direito subjetivo de continuar recebendo os
quintos/décimos até o momento de sua absorção integral por quaisquer reajustes futuros
concedidos aos servidores; c) Nas hipóteses em que a incorporação aos quintos/décimos
estiver substanciada em coisa julgada material, não é possível a descontinuidade dos
pagamentos de imediato.

REsp 1.261.020-CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
10/02/2021 (tema 503)

TEMA: Servidor público federal. Quintos. Incorporação de função comissionada. Período entre 8 de Abril de
1988 a 4 de setembro de 2001. Matéria decidida sob o rito da repercussão geral. RE n. 638.115/CE. Juízo de
retratação. Tema 503.

A controvérsia diz respeito à possibilidade de incorporação de quintos decorrente do exercício de funções


comissionadas no período compreendido entre a edição da Lei n. 9.624/1998 e a MP n. 2.225-48/2001.A
Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, sob o rito dos recursos especiais repetitivos, fixou a tese
jurídica de que: "A Medida Provisória n. 2.225-45/2001, com a revogação dos artigos 3º e 10 da Lei n.
8.911/94, autorizou a incorporação da gratificação relativa ao exercício de função comissionada no período de
8/4/1998 a 4/9/2001, transformando tais parcelas, desde logo, em VPNI - Vantagem Pessoal Nominalmente
Identificada."No entanto, nos autos do RE n. 638.115/CE, o Supremo Tribunal Federal entendeu não ser
possível a incorporação de quintos decorrente do exercício de funções comissionadas no período
compreendido entre a edição da Lei n. 9.624/1998 e a MP n. 2.225-48/2001.O STF, contudo, modulou os
efeitos do julgamento no RE n. 68.115/CE. Portanto, em juízo de retratação e com base na orientação
jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal firmada em repercussão geral, foram fixadas as teses destacadas.
(Informativo n. 685)

O exercício da advocacia, mesmo em causa própria, é incompatível com as atividades


desempenhadas por servidor ocupante de cargo público de agente de trânsito, nos termos
do art. 28, V, da Lei n. 8.906/1994.

REsp 1.815.461/AL, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
10/02/2021. (Tema 1028)

TEMA: Ocupante de cargo público de agente de trânsito. Inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil.
Incompatibilidade. Incidência do art. 28, V, da Lei n. 8.906/1994. Tema 1028.
221

Nos termos do art. 5º, XIII, da Constituição Federal, "é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer". Já o art. 22, XVI, da
Constituição Federal estabelece que compete privativamente à União legislar sobre "organização do
sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões". Assim, o "exercício de qualquer
profissão está sujeito a condições que a lei estabelecerá. Isto deflui da própria natureza das profissões, cujo
exercício requer fiscalização. No que toca às profissões liberais, instituem-se os conselhos, os quais, com base
na lei federal, 12 exercerão a fiscalização do seu exercício. A Constituição, ao estabelecer a competência
legislativa da União, competência privativa, dispõe, expressamente, a respeito (C.F., art. 22, XVI). Na cláusula
final do inc. XVI do citado art. 22, está a autorização expressa ao legislador federal no sentido de que
estabelecerá ele 'condições para o exercício de profissões'" (STF, RE 199.088/SP, Rel. Ministro Carlos Velloso,
Segunda Turma, DJU de 16/04/99).O art. 28, V, da Lei n. 8.906/1994, que dispõe sobre o Estatuto da
Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), determina que a advocacia é incompatível, mesmo
em causa própria, para os ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a
atividade policial de qualquer natureza. Assim, ao utilizar a expressão "atividade policial de qualquer
natureza", o texto legal buscou abarcar todos aqueles que exerçam funções compreendidas no poder de
polícia da Administração Pública, definido no art. 78 do CTN. Tal entendimento, quanto aos agentes de
trânsito, foi reforçado pela EC 82/2014 e pela Lei n. 13.675/2018. A EC 82/2014 acrescentou o § 10 ao art.
144 da CF/1988, nele incluindo a atividade de agente de trânsito, estabelecendo, entre os órgãos
encarregados da segurança pública, "a segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas", compreendendo ela "a fiscalização de
trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana
eficiente", competindo a segurança viária, "no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos
respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da
lei". A Lei n. 13.675/2018, que "disciplina a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, nos termos do § 7º do art. 144 da Constituição Federal", instituiu, no seu art. 9º, o Sistema
Único de Segurança Pública (Susp), dispondo, no seu § 2º, inciso XV, que os agentes de trânsito são
integrantes operacionais do aludido Sistema Único de Segurança Pública. Inconteste, assim, que os agentes
de trânsito desempenham atividades incompatíveis com o exercício da advocacia, porquanto ocupam
cargos "vinculados direta ou indiretamente a atividade policial de qualquer natureza", tal como previsto
no art. 28, V, da Lei n. 8.906/1994, exercendo funções que condicionam o uso, o gozo e a disposição da
propriedade e restringem o exercício da liberdade dos administrados no interesse público, na forma do art. 78
do CTN, além de preservarem eles a "ordem pública e a incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas
vias públicas", na fiscalização do trânsito, integrando os órgãos responsáveis pela segurança pública, previstos
no art. 144 da CF/1988 (art. 144, § 10, da CF/1988 e art. 9º, § 2º, XV, da Lei n. 13.675/2018). (Informativo n.
685)

Tese repetitiva revisada: A tese firmada no Tema Repetitivo n. 126/STJ passa a ter o
seguinte teor: "O índice de juros compensatórios na desapropriação direta ou indireta é de
12% até 11/06/1997, data anterior à vigência da MP 1577/97.".Súmula cancelada: A Súmula
408/STJ, com igual redação da tese 126/STJ original, resta cancelada.

Pet 12.344-DF, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 28/10/2020, DJe
13/11/2020 (Tema 126)
222

Trata-se de proposta de revisão de tese repetitiva e enunciado de súmula sobre juros compensatórios em
ações expropriatórias.Verificado o julgamento de mérito pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 2332, foi
proposta a afetação da matéria, a fim de se evitar contradições sistêmicas no ordenamento, que foi acolhida
pela Primeira Seção do STJ.A tese firmada originalmente no Tema Repetitivo n. 126 e na Súmula 408/STJ tem
igual redação: "Nas ações de desapropriação, os juros compensatórios incidentes após a Medida Provisória n.
1.577, de 11/06/1997, devem ser fixados em 6% ao ano até 13/09/2001 e, a partir de então, em 12% ao ano,
na forma da Súmula n. 618 do Supremo Tribunal Federal". Aqui, efetivamente, verifica-se que a Corte avançou
sobre o que não lhe competia na medida em que, sob a compreensão atual deste Tribunal, tal feito nem
sequer comportaria conhecimento, ante a ausência, nos precedentes que lhe deram origem, de indicação do
dispositivo de lei federal submetido a interpretação divergente entre tribunais.O contexto é revelador das
consequências: admitiu-se nesta Corte (como era permitido pela jurisprudência à época) recurso que cuidava
de matéria efetivamente constitucional, porquanto ausente dispositivo infraconstitucional com comando
normativo apto a sustentar a tese da recorrente.Apenas havia a divergência, plausivelmente decorrente da
alteração normativa oriunda, primeiro, da MP depois, da cautelar deferida na ADI 2332/DF. Note-se que, antes
da MP, os juros de 12% emergiram de construção jurisprudencial, com histórico iniciado em 1963, em alusão
às normas do Código Civil de então (Súmula 164/STF); em 1984, consolidou-se o dobro do parâmetro, à luz
da Lei de Usura e da crise inflacionária da época (Súmula 618/STF).Pode o STJ afirmar que os juros incidem
aos fatos conforme a norma então vigente, embora o Supremo tenha dito que a norma é inconstitucional ab
initio? Poderia o STJ ter dito o que fosse sobre, a rigor, a modulação de efeitos da cautelar, restringindo-a tão
somente aos fatos havidos após sua publicação ou, de outro modo, expandindo-a para momento anterior?
Qual a interpretação adequada do efeito ex nunc da decisão cautelar do Supremo: incidir sobre todos os
feitos pendentes ou o marco temporal a se adotar seria a imissão de posse? É essa interpretação de ordem
constitucional ou legal? É desta Corte a competência para definir se o julgado de mérito do STF aplicase,
agora, imediatamente aos casos transitados, mas ainda sem expedição de precatório? Entende-se que o art.
11 da Lei da ADI (Lei n. 9.868/1999) apenas aduz um efeito da decisão. Entretanto, o referido normativo se
dirige à Corte Suprema, autorizando-a a exercer tal poder e dispondo sobre suas consequências. Não parece
adequado que o STJ se imiscua na interpretação do decidido pelo Supremo a ponto de conferir ou afastar,
indiretamente, efeito modulado às emanações jurisdicionais daquela Corte. Ainda que a pretexto de análise da
Lei da ADI, cumpre à Corte Suprema dispor sobre seus julgados e às demais instâncias observá-los, existindo
ampla previsão de medidas para suprimir disparidades: reclamação, ação rescisória, embargos à execução,
além do próprio extraordinário.Descabe ao STJ dispor sobre a matéria com a extensão decidida nos
repetitivos em comento, ainda mais de forma condicionada à decisão cautelar do Supremo. O problema foi
agravado com a redação das teses alcançada pela unidade administrativa, como apontado, e pela Súmula
408/STJ. Esta Corte quis resolver a lacuna da forma como dispunha, sem se submeter a eventual postergação
de sua solução pelo Supremo, de modo a não deixar a sociedade insegura e o jurisdicionado sem tutela,
acumulando recursos especiais inconclusos ou motivados pelo provimento do Tribunal Constitucional.
Entretanto, a dinâmica que se seguiu denota a frustração ao menos parcial desse objetivo, em particular pela
somatória do resultado de mérito da ADI com a possibilidade de rescisória da coisa julgada inconstitucional
com termo inicial no julgamento concentrado (art. 525, §15, do CPC/2015). Com isso, propõe-se revisar a tese
firmada no Tema Repetitivo n. 126/STJ para passar a ter o seguinte teor: "O índice de juros compensatórios na
desapropriação direta ou indireta é de 12% até 11.6.97, data anterior à vigência da MP 1577/97".No que se
refere à Súmula 408/STJ, verifica-se que, à época do julgado, buscava esta Corte sistematizar em enunciados
sumulares a compreensão vinculante extraída de recursos repetitivos.Atualmente, ao constar expressamente
as teses nos acórdãos, por força legal (CPC/2015, arts. 979, 984, 1.037 e 1.038) e regimental (RISTJ, art. 104-A),
dispensa-se a providência que, de resto, presta-se apenas a aumentar a complexidade normativa, sem efeitos
práticos ante o caráter vinculante dos próprios precedentes qualificados. Os julgados repetitivos, como
223

sabido, visam a simplificar a prestação jurisdicional, pretensão normativa prejudicada pela despicienda
convivência das teses e súmulas sobre uma mesma questão. Assim, o referido enunciado resta cancelado.
(Informativo n. 684)

I) Tese revisada no Tema Repetitivo n. 280/STJ: "Até 26/9/1999, data anterior à edição da
MP n. 1901- 30/1999, são devidos juros compensatórios nas desapropriações de imóveis
improdutivos". II)Tese revisada no Tema Repetitivo n. 281/STJ: "Mesmo antes da MP n.
1901-30/1999, são indevidos juros compensatórios quando a propriedade se mostrar
impassível de qualquer espécie de exploração econômica atual ou futura, em decorrência
de limitações legais ou fáticas". III) Tese revisada no Tema Repetitivo n. 282/STJ: "i) A partir
de 27/9/1999, data de edição da MP n. 1901- 30/1999, exige-se a prova pelo expropriado
da efetiva perda de renda para incidência de juros compensatórios (art. 15-A, § 1º, do
Decreto-Lei n. 3365/1941); e ii) Desde 5/5/2000, data de edição da MP 2027-38/2000,
vedase a incidência dos juros compensatórios em imóveis com índice de produtividade zero
(art. 15-A, § 2º, do Decreto-Lei n. 3365/1941)".IV) Cancelamento do Tema Repetitivo n. 283/
STJ.

Trata-se de proposta de revisão das teses repetitivas sobre juros compensatórios em ações
expropriatórias.Verificado o julgamento de mérito pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 2332, foi proposta a
afetação da matéria, a fim de se evitar contradições sistêmicas no ordenamento, que foi acolhida pela Primeira
Seção do STJ. No ponto, trata-se da análise das seguintes Teses: i) 280/STJ: "A eventual improdutividade do
imóvel não afasta o direito aos juros compensatórios, pois esses restituem não só o que o expropriado deixou
de ganhar com a perda antecipada, mas também a expectativa de renda, considerando a possibilidade do
imóvel ser aproveitado a qualquer momento de forma racional e adequada, ou até ser vendido com o
recebimento do seu valor à vista."; ii) 281/STJ: "São indevidos juros compensatórios quando a propriedade se
mostrar impassível de qualquer espécie de exploração econômica seja atual ou futura, em decorrência de
limitações legais ou da situação geográfica ou topográfica do local onde se situa a propriedade."; iii) 282/STJ:
"Para aferir a incidência dos juros compensatórios em imóvel improdutivo, deve ser observado o princípio do
tempus regit actum, assim como acontece na fixação do percentual desses juros. 127 As restrições contidas
nos §§ 1º e 2º do art. 15-A, inseridas pelas MPs n. 1.901-30/1999 e 2.027-38/2000 e reedições, as quais vedam
a incidência de juros compensatórios em propriedade improdutiva, serão aplicáveis, tão somente, às situações
ocorridas após a sua vigência."; e iv) 283/STJ: "Para aferir a incidência dos juros compensatórios em imóvel
improdutivo, deve ser observado o princípio do tempus regit actum, assim como acontece na fixação do
percentual desses juros. Publicada a medida liminar concedida na ADI 2.332/DF (DJU de 13/09/2001), deve ser
suspensa a aplicabilidade dos §§ 1º e 2º do artigo 15-A do Decreto-lei n. 3.365/1941 até que haja o
julgamento de mérito da demanda". Da análise do REsp 1.116.364/PI, verifica-se equívoco quanto à
interpretação pela unidade administrativa do que realmente decidido em sede repetitiva.Portanto, as teses, na
forma como redigidas pela unidade administrativa, de um lado, retratam apenas parte do entendimento desta
Corte em sede repetitiva, tendo sido suprimida daquelas a condicionalidade ao julgamento de mérito na ADI.
De outro lado, ao segmentar o julgado em teses diversas, limitou-se a redação administrativa a indicar a
interpretação consolidada sobre o ordenamento anterior à alteração legislativa, como se autônomo das
demais condicionantes.Isto é: afirmou o STJ que sua jurisprudência impunha (já antes da MP) a incidência de
224

juros compensatórios aos imóveis improdutivos, exceto se absolutamente inviável a exploração econômica, o
que deveria prevalecer até a edição da MP, e na vigência da cautelar, desde que confirmada pelo Supremo
por ocasião do juízo de mérito. Afastada a condição, com a não confirmação da cautelar, resta inevitável
reconhecer que as teses devem ser adequadas; não tendo se implementado a condição, torna-se insubsistente
a tese que a ela submetia o afastamento do percentual de 12% dos juros compensatórios.As consequências
do julgamento do Supremo devem ser a ele submetidas. Assim, a manutenção da Tese 283/STJ resultaria em
indevida modulação, por este Tribunal, em sede vinculante, da decisão de mérito do STF na ADI 2332. Restará
violada a competência daquela Corte caso o STJ mantenha a tese vinculante delimitando a hiperatividade da
cautelar após o juízo de mérito não modulado da ADI.Com isso, entende-se pela revisão das teses firmadas
nos Temas Repetitivos do STJ n. 280, 281 e 283, e, por seu turno, o cancelamento do Tema Repetitivo n.
283/STJ. (Informativo n. 684)

Nova tese repetitiva afirmada: Os juros compensatórios observam o percentual vigente


no momento de sua incidência. Tema 1072

À luz dos recursos especiais ainda hoje providos no STJ sobre o ponto, resta polêmica nos tribunais ordinários
quanto ao marco fático a que se refere a tese da regência temporal dos juros, se a data de imissão na posse
ou o 128 momento de sua incidência. Embora tenha constado no repetitivo claramente tratar-se da segunda
hipótese, houve certa falta de clareza na redação administrativa da tese. A ementa, entretanto, é, como a
jurisprudência deste Colegiado, inequívoca, de modo que se propõe a edição de nova tese retratando-as
adequadamente. Na verdade, a rigor, essa é a ratio que subjazia à Tese 283, muito embora a unidade
administrativa não a tenha captado, preferindo dispor como vinculante as consequências condicionais e
casuísticas da regra jurídica emanada do acórdão. Assim, evidencia-se a interpretação constante dos
repetitivos no sentido de que o fato regido pelo tempo da norma não é a imissão de posse, mas sim a
incidência dos juros. (Informativo n. 684)

Nova tese repetitiva afirmada: As Súmulas n. 12, 70 e 102 (As Súmulas 12/STJ: "Em
desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e moratórios", 70/STJ: "Os juros
moratórios, na desapropriação direta ou indireta, contam-se desde o trânsito em julgado da
sentença" e 102/STJ: "A incidência dos juros moratórios sobre compensatórios, nas ações
expropriatórias, não constitui anatocismo vedado em lei") somente se aplicam às situações
ocorridas até 12/01/2000, data anterior à vigência da MP 1.997-34.

Trata-se de proposta de revisão das teses repetitivas e enunciados de súmula sobre juros compensatórios e
juros moratórios em ações expropriatórias.Verificado o julgamento de mérito pelo Supremo Tribunal Federal
na ADI 2332, foi proposta a afetação da matéria, a fim de se evitar contradições sistêmicas no ordenamento,
que foi acolhida pela Primeira Seção. É de todos sabido a tendência desta Corte de manter inalterados os seus
enunciados sumulares, em razão de sua eficácia temporal para feitos à época de sua vigência, bem como para
se evitar o prejuízo a sua referenciação. Porém, é relevante esclarecer a comunidade jurídica também quanto a
suas limitações temporais, de modo a que não se pretenda, como não raro ocorre, reanimar discussões
obsoletas, firmadas sobre normas e leis há muito decaídas. No ponto, propõe-se a edição de nova tese, mas
que a rigor em nada inova. Trata-se quase de providência administrativa. Exsurge o problema da época em
225

que as teses relativas aos recursos repetitivos eram elaboradas administrativamente, após o julgamento. Com
o julgamento do REsp 1.118.103/SP, a unidade administrativa entendeu, por ocasião da sistematização dos
repetitivos, resumir os efeitos vinculantes às Teses 210/STJ: "O termo inicial dos juros moratórios em
desapropriações é o dia 1º de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito." e
211/STJ: "Os juros compensatórios, em desapropriação, somente incidem até a data da expedição do
precatório original (...), não havendo hipótese de cumulação de juros moratórios com juros compensatórios.";
as reticências são da redação da tese, embora não se trate de transcrição de qualquer elemento do voto ou
acórdão. Sugere-se, portanto, que sejam mantidas inalteradas as súmulas, porquanto referencial válido da
jurisprudência à época aplicável, mas que se edite nova tese fundada no julgamento do REsp 1.118.103/SP, já
realizado em regime repetitivo, para afirmar que as Súmulas n. 12, 70 e 102 (As Súmulas 12/STJ: "Em
desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e moratórios", 70/STJ: "Os juros moratórios, na
desapropriação direta ou indireta, contam-se desde o trânsito em julgado da sentença" e 102/STJ: "A
incidência dos juros moratórios sobre compensatórios, nas ações expropriatórias, não constitui anatocismo
vedado em lei") somente se aplicam às situações ocorridas até 12/01/2000, data anterior à vigência da MP
1.997-34. (Informativo n. 684)

Nova tese repetitiva afirmada: A discussão acerca da eficácia e efeitos da medida cautelar
ou do julgamento de mérito da ADI 2332 não comporta revisão em recurso especial.

Descabe recurso especial para discussão acerca dos efeitos do julgado do Supremo. Veda-se, assim, qualquer
tentativa de provocar transversalmente o STJ a abordar o teor ou efeitos da matéria constitucional apreciada
pela Corte competente, bem como os limites de seu julgado. (Informativo n. 684)

2020

Os editais de licitação ou pregão não podem conter cláusula prevendo percentual mínimo
referente à taxa de administração, sob pena de ofensa ao artigo 40, inciso X, da Lei n.
8.666/1993.

REsp 1.840.113-CE, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por maioria, julgado em 23/09/2020, DJe
23/10/2020 (Tema 1038)

TEMA Licitação/pregão. Cláusula editalícia. Taxa de administração. Fixação de percentual mínimo.


Descabimento. Tema 1038.

INFORMAÇÕES: A fixação de percentual mínimo de taxa de administração em edital de licitação/pregão fere


expressamente a norma contida no inciso X do art. 40 da Lei n. 8.666/1993, que veda "a fixação de preços
mínimos, critérios estatísticos ou faixas de variação em relação a preços de referência". A própria Lei de
Licitações, a exemplo dos §§ 1º e 2º do art. 48, prevê outros mecanismos de combate às propostas
inexequíveis em certames licitatórios, permitindo que o licitante preste garantia adicional, tal como caução em
dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-garantia e fiança bancária. Sendo o objetivo da licitação
selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração - consoante expressamente previsto no art. 3º da
Lei n. 8.666/1993 -, a fixação de um preço mínimo atenta contra esse objetivo, especialmente considerando
que um determinado valor pode ser inexequível para um licitante, porém exequível para outro. Deve a
Administração Pública, portanto, buscar a proposta mais vantajosa; em caso de dúvida sobre a exequibilidade,
226

ouvir o respectivo licitante; e, sendo o caso, exigir-lhe a prestação de garantia. É o que dispõe a Súmula
262/TCU: "O critério definido no art. 48, inciso II, § 1º, alíneas 'a' e 'b', da Lei n. 8.666/1993 conduz a uma
presunção relativa de inexequibilidade de preços, devendo a Administração dar à licitante a oportunidade de
demonstrar a exequibilidade da sua proposta." Cuida-se a escolha da taxa de administração de medida
compreendida na área negocial dos interessados, a qual fomenta a competitividade entre as empresas que
atuam nesse mercado, em benefício da obtenção da melhor proposta pela Administração Pública. Portanto, a
interpretação mais adequada da Lei n. 8.666/1993, especialmente dos arts. 40, inciso X, e 48, §§ 1º e 2º,
conduz à conclusão de que o ente público não pode estipular cláusula editalícia em licitação/pregão prevendo
percentual mínimo referente à taxa de administração, havendo outros mecanismos na legislação aptos a
resguardar a Administração Pública de eventuais propostas inexequíveis. (Informativo n. 683)

A composição da tripulação das Ambulâncias de Suporte Básico - Tipo B e das Unidades de


Suporte Básico de Vida Terrestre (USB) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência -
SAMU sem a presença de profissional de enfermagem não ofende, mas sim concretiza,
o que dispõem os artigos 11, 12, 13 e 15 da Lei n. 7.498/1986, que regulamenta o exercício
da enfermagem.

REsp 1.828.993-RS, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 12/08/2020, DJe
20/08/2020. Tema 1024.

TEMA Composição da tripulação das Ambulâncias de Suporte Básico - Tipo B e das Unidades de Suporte
Básico de Vida Terrestre (USB) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU. Presença de
profissional de enfermagem. Desnecessidade. Lei n. 7.498/1986. Portarias n. 2.048/2002 e 1.010/2012 do
Ministério da Saúde. Tema 1024.

INFORMAÇÕES: A fixação de percentual mínimo de taxa de administração em edital de licitação/pregão fere


expressamente a norma contida no inciso X do art. 40 da Lei n. 8.666/1993, que veda "a fixação de preços
mínimos, critérios estatísticos ou faixas de variação em relação a preços de referência".A própria Lei de
Licitações, a exemplo dos §§ 1º e 2º do art. 48, prevê outros mecanismos de combate às propostas
inexequíveis em certames licitatórios, permitindo que o licitante preste garantia adicional, tal como caução em
dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-garantia e fiança bancária.Sendo o objetivo da licitação
selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração - consoante expressamente previsto no art. 3º da
Lei n. 8.666/1993 -, a fixação de um preço mínimo atenta contra esse objetivo, especialmente considerando
que um determinado valor pode ser inexequível para um licitante, porém exequível para outro.Deve a
Administração Pública, portanto, buscar a proposta mais vantajosa; em caso de dúvida sobre a exequibilidade,
ouvir o respectivo licitante; e, sendo o caso, exigir-lhe a prestação de garantia. É o que dispõe a Súmula
262/TCU: "O critério definido no art. 48, inciso II, § 1º, alíneas 'a' e 'b', da Lei n. 8.666/1993 conduz a uma
presunção relativa de inexequibilidade de preços, devendo a Administração dar à licitante a oportunidade de
demonstrar a exequibilidade da sua proposta."Cuidase a escolha da taxa de administração de medida
compreendida na área negocial dos interessados, a qual fomenta a competitividade entre as empresas que
atuam nesse mercado, em benefício da obtenção da melhor proposta pela Administração Pública.Portanto, a
interpretação mais adequada da Lei n. 8.666/1993, especialmente dos arts. 40, inciso X, e 48, §§ 1º e 2º,
conduz à conclusão de que o ente público não pode estipular cláusula editalícia em licitação/pregão prevendo
percentual mínimo referente à taxa de administração, havendo outros mecanismos na legislação aptos a
resguardar a Administração Pública de eventuais propostas inexequíveis. (Informativo n. 683)
227

Os servidores efetivados pelo Estado de Minas Gerais submetidos ao regime estatutário,


por meio de dispositivo da LCE n. 100/2007, declarado posteriormente inconstitucional pelo
STF na ADI 4.876/DF, têm direito aos depósitos no FGTS referentes ao período irregular de
serviço prestado.

REsp 1.806.086-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 24/06/2020,
DJe 07/08/2020 (Tema 1020)

TEMA Servidor público. Estado de Minas Gerais. Contratação sem concurso público. Lei Complementar
Estadual n. 100/2007. Declaração de inconstitucionalidade pelo STF. Efeito ex tunc. Nulidade do vínculo. FGTS.
Direito.

INFORMAÇÕES: No julgamento do RE 596.478/RR, realizado sob a sistemática da repercussão geral, o STF


declarou a constitucionalidade do art. 19-A da Lei n. 8.036/1990, garantindo o direito ao depósito de FGTS aos
empregados admitidos sem concurso público por meio de contrato nulo.Também sob a sistemática da
repercussão geral, a Suprema Corte, (RE 705.140/RS), firmou a seguinte tese: "A Constituição de 1988 comina
de nulidade as contratações de pessoal pela Administração Pública sem a observância das normas referentes à
indispensabilidade da prévia aprovação em concurso público (CF, art. 37, § 2º), não gerando, essas
contratações, quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação aos empregados contratados, a não ser o direito à
percepção dos salários referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei n. 8.036/1990, ao
levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS".O Supremo
Tribunal Federal, no julgamento da ADI 4.876/DF, declarou a inconstitucionalidade dos incisos I, II, IV e V, do
art. 7º, da Lei Complementar do Estado de Minas Gerais n. 100/2007, sob o fundamento de que o referido
diploma legal tornou titulares de cargo efetivo servidores que ingressaram na administração pública sem a
observância do preceito do art. 37, II, da CF/1988.O STJ, por sua vez, firmou o entendimento de que o "efeito
prospectivo de parte da decisão proferida na ADI 4876/DF, para definir que a sua eficácia só começasse a
surtir efeitos a partir daquele momento específico (dezembro de 2015), nos termos do art. 27 da Lei n.
9.868/1999, não retirou o caráter retroativo da decisão (ex tunc), tendo apenas postergado a incidência desse
efeito em razão na necessidade de continuidade do serviço público e do grande volume de servidores
envolvidos" (REsp 1.729.648/MG, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 25/10/2018).Verifica-se
dos entendimentos citados que o efeito da declaração de inconstitucionalidade, proferida na ADI 4.876,
retroagiu desde o nascimento da LCE n. 100/2007, tornando nulo o provimento de cargo efetivo e, em
consequência, nulo o vínculo com o ente federativo firmado com nítido caráter de definitividade, em
desrespeito ao preceito estampado no art. 37, II, da CF/1988.Impende consignar que a modulação dos efeitos
prospectivos da declaração de inconstitucionalidade, não afasta o regramento previsto no art. 19-A da Lei n.
8.036/1990, porquanto teve por finalidade apenas evitar eventual prejuízo à prestação de serviços essenciais à
sociedade mineira.Diante disso, é irrelevante para a aplicação do art. 19-A da Lei n. 8.036/1990, o fato de o
servidor ter sido submetido ao regime estatutário, o que é fundamental é que tenha sido declarada a nulidade
da efetivação para os quadros do Estado mineiro.Assim, o fato de ter sido mantido o vínculo estatutário do
servidor por determinado período, não exclui o direito ao depósito do FGTS, já que, uma vez declarado nulo o
ato incompatível com a ordem constitucional, nulo está o contrato firmado entre as partes. (Informativo n.
676)
228

O prazo prescricional aplicável à desapropriação indireta, na hipótese em que o Poder


Público tenha realizado obras no local ou atribuído natureza de utilidade pública ou de
interesse social ao imóvel, é de 10 anos, conforme parágrafo único do art. 1.238 do CC.

REsp 1.757.352-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por maioria, julgado em 12/02/2020, DJe
07/05/2020 (Tema 1019)

TEMA Desapropriação indireta. Declaração de utilidade pública. Realização de obras e serviços de caráter
produtivo. Prescrição. Aplicação do prazo de 10 anos previsto no parágrafo único do art. 1.238 do CC/2002.
Tema 1019.

INFORMAÇÕES: Ante a ausência de normas expressas que regulassem o prazo prescricional das ações de
desapropriação indireta, o Superior Tribunal de Justiça, à luz do disposto no art. 550 do Código Civil de 1916,
firmou o entendimento de que a ação de indenização por apossamento administrativo, por possuir natureza
real e não pessoal, sujeitava-se ao prazo prescricional de 20 anos, e não àquele previsto no Decreto-Lei
20.910/1932 (Súmula 119 do STJ: "A ação de desapropriação indireta prescreve em 20 anos").Partiu-se da
premissa de que a ação expropriatória indireta possui natureza real e, enquanto não transcorrido o prazo para
aquisição da propriedade por usucapião, subsistiria a pretensão de reivindicar o correspondente preço do
bem objeto do apossamento administrativo.As razões para a fixação do prazo prescricional no tocante à ação
de desapropriação indireta permanecem válidas. O Código Civil de 2002, contudo, reduziu o prazo da
usucapião extraordinária para 15 anos (art. 1.238, caput) e previu a possibilidade de aplicação do prazo de 10
anos (art. 1.238, parágrafo único) nos casos em que o possuidor tenha estabelecido no imóvel sua moradia
habitual, ou realizado obras ou serviços de caráter produtivo.Considerando que as hipóteses legais de
desapropriação por utilidade pública indicam que a posse havida pela Administração Pública tem por fim a
realização de obras ou serviços de caráter produtivo, é aplicável o prazo prescricional decenal, previsto na
regra especial do parágrafo único do art. 1.238 do CC/2002.A prescrição decenal é questionada em alguns
julgados da Primeira Turma, sob o argumento de que, por se tratar de uma regra extraordinária, deve ser
interpretada de forma restrita, aplicando-se, portanto, apenas em favor de particulares.A solução da
controvérsia deve ser encontrada na técnica hermenêutica.Veja-se que tanto o caput quanto o parágrafo
único não são voltados à Administração Pública, porquanto presentes no Código Civil e, dessarte, regulam
ambos as relações entre particulares, tão somente. Em qualquer uma das hipóteses, vale-se o intérprete da
analogia.Com efeito, o mesmo fundamento que afastaria a aplicação do parágrafo único (ou seja, de que a
regra é exclusiva para particulares) serviria para afastar o regramento da usucapião extraordinária, prevista no
caput. Logo, nessa linha de raciocínio, também não poderia ser aplicado o prazo de 15 anos à Administração
Pública. Hipótese descartada, como já visto, considerando que o STJ já decidiu pela aplicação do CC à
presente questão. (Informativo 671)

2019
229

Não há direito de regresso portanto não é cabível a execução regressiva proposta pela
Eletrobrás contra a União em razão da condenação das mesmas ao pagamento das
diferenças na devolução do empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica
ao particular contribuinte da exação.

REsp 1.576.254-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por maioria, julgado em 26/06/2019,
DJe 04/09/2019 (Tema 963)

TEMA Execução regressiva da Eletrobrás contra a União. Impossibilidade. Condenações ao pagamento das
diferenças na devolução do empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica. Responsabilidade
solidária subsidiária da União. Interpretação do art. 4º, § 3º, da Lei n. 4.156/1962. Tema 963.

INFORMAÇÕES: A Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - Eletrobrás foi criada pela União em 1961, na forma de
sociedade de economia mista, como holding do setor elétrico, com o objetivo específico previsto no art. 2º da
Lei n. 3.890- A/1961 de construir e operar usinas geradoras/produtoras e linhas de transmissão e distribuição
de energia elétrica. A ideia era superar a crise gerada pela desproporção entre a demanda e a oferta de
energia no país, ou seja, atuar em um setor estratégico para o desenvolvimento nacional. Nesse contexto, o
empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica instituído pela Lei n. 4.156/1962 foi uma forma
de se verter recursos para a Eletrobrás intervir no setor de energia elétrica subscrevendo ações, tomando
obrigações e financiando as demais empresas atuantes no setor das quais o Poder Público (Federal, Estadual
ou Municipal) fosse acionista. De relevo que: a) o emprego dos recursos provenientes da arrecadação do
empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica não o foi em exclusivo benefício da empresa,
mas sim na construção e realização de uma política pública estratégica e de âmbito nacional no campo
energético formulada pela própria União; b) a criação da sociedade de economia mista se fez com destaque
do patrimônio do ente criador conferindo-lhe autonomia para realizar uma missão específica de política
pública tida por prioritária; e c) nem a lei e nem os recursos representativos da controvérsia julgados por este
Superior Tribunal de Justiça (REsp 1.003.955/RS e REsp 1.028.592/RS, Primeira Seção, Rel. Min. Eliana Calmon,
julgados em 12/08/2009) trouxeram a definição de quotas de responsabilidade da dívida, situação base para a
aplicação do art. 283 do CC/2002 e do art. 80 do CPC/1973. Nessa linha, somente é legítima uma
interpretação do art. 4º, § 3º, da Lei n. 4.156/1962 que permita a incursão no patrimônio do ente criador em
caso de insuficiência do patrimônio da criatura, já que garantidor dessa atividade. Resta assim, configurada a
situação de responsabilidade solidária subsidiária da União pelos valores a serem devolvidos na sistemática do
empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica. (Informativo n. 655.)

Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos
e a da requisição ou do precatório.

QO no REsp 1.665.599-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Corte Especial, por unanimidade, julgado
em 20/03/2019, DJe 02/04/2019 (Tema 291)

TEMA Revisão de entendimento consolidado em tema repetitivo. Tema 291/STJ. Período compreendido entre
a data da realização dos cálculos e a da requisição ou do precatório. Juros de mora. Cabimento. Entendimento
fixado pelo STF, em repercussão geral. Tema 96/STF.
230

INFORMAÇÕES: Inicialmente cumpre salientar que do julgamento do REsp 1.143.677/RS (rel. min. Luiz Fux,
DJe 04/02/2010), este Superior Tribunal de Justiça fixou a tese (Tema Repetitivo 291/STJ) no sentido de que
não incidem juros moratórios entre a elaboração dos cálculos e o efetivo pagamento da Requisição de
Pequeno Valor - RPV. No entanto, sobreveio o julgamento do Recurso Extraordinário 579.431/RS, sob a
relatoria do ministro Marco Aurélio (DJe 30/06/2017), com repercussão geral reconhecida e julgada, tendo
sido fixada a tese de que incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos
cálculos e a da requisição ou do precatório (Tema 96/STF). De acordo com a orientação fixada pelo STF, o
termo inicial dos juros moratórios é a citação, que deverão incidir até a data da requisição ou do precatório.
Assim, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia, nos termos
do art. 927, § 4º do CPC/2015, é patente e evidente a necessidade de revisão do entendimento consolidado
no enunciado de Tema Repetitivo 291/STJ, a fim de adequá-lo à nova orientação fixada pelo egrégio Supremo
Tribunal Federal quando do julgamento do RE 579.431/RS (Repercussão Geral - Tema 96/STF). (Informativo n.
645.)

A Fazenda Pública possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA, documento de


dívida, na forma do art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997, com a redação dada pela
Lei n. 12.767/2012

REsp 1.686.659-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por maioria, julgado em 28/11/2018, DJe
11/03/2019 (Tema 777)

TEMA Certidão da Dívida Ativa - CDA. Protesto. Possibilidade. Art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997
com a redação da Lei n. 12.767/2012. Legalidade. Tema 777.

INFORMAÇÕES: É importante esclarecer inicialmente que, a esse respeito, o e. STF concluiu o julgamento da
ADI 5.135/DF, confirmando a constitucionalidade da norma, fixando a tese de que "O protesto das Certidões
de Dívida Ativa - CDA constitui mecanismo constitucional e legítimo, por não restringir de forma
desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir sanção
política". Passando-se à análise do protesto da CDA, sob o prisma da compatibilidade do art. 1º, parágrafo
único, da Lei n. 9.492/1997 (redação dada pela Lei n. 12.767/2012) com a legislação federal que disciplina o
específico processo executivo dos créditos da Fazenda Pública (Lei n. 6.830/1980), a questão não é nova,
tendo sido analisada pelo e. STJ no REsp 1.126.515/PR, cujos fundamentos se mantêm no atual quadro
normativo positivo e seguem abaixo reproduzidos. De acordo com o art. 1º da Lei n. 9.492/1997, "Protesto é o
ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos
e outros documentos de dívida". A Lei n. 12.767/2012 acrescentou o parágrafo único ao art. 1º da Lei n.
9.492/1997, para de modo expresso prescrever que a CDA pode ser levada a protesto. A norma, já em sua
redação original rompeu com antiga tradição existente no ordenamento jurídico, consistente em atrelar o
protesto exclusivamente aos títulos de natureza cambial (cheques, duplicatas, etc.). Não bastasse isso, o
protesto, além de representar instrumento para constituir em mora e/ou comprovar a inadimplência do
devedor, é meio alternativo para o cumprimento da obrigação. Sob essa ótica, não se faz legítima qualquer
manifestação do Poder Judiciário tendente a suprimir a adoção de meio extrajudicial para cobrança dos
créditos públicos. A circunstância de a Lei n. 6.830/1980 disciplinar a cobrança judicial da dívida ativa dos
entes públicos não deve ser interpretada como uma espécie de "princípio da inafastabilidade da jurisdição às
avessas", ou seja, engessar a atividade de recuperação dos créditos públicos, vedando aos entes públicos o
recurso a instrumentos alternativos (evidentemente, respeitada a observância ao princípio da legalidade) e
231

lhes conferindo apenas a via judicial - a qual, como se sabe, ainda luta para tornar-se socialmente reconhecida
como instrumento célere e eficaz. É indefensável, portanto, o argumento de que a disciplina legal da cobrança
judicial da dívida ativa impede, peremptoriamente, a Administração Pública de instituir ou utilizar, sempre com
observância do princípio da legalidade, modalidade extrajudicial para cobrar, com vistas à eficiência, seus
créditos. (Informativo n. 643.)

A Lei n. 12.855/2013, que instituiu a Indenização por Trabalho em Localidade Estratégica, é


norma de eficácia condicionada à prévia regulamentação, para definição das localidades
consideradas estratégicas, para fins de pagamento da referida vantagem.

REsp 1.617.086-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por maioria, julgado em 28/11/2018, DJe
01/02/2019 (Tema 974)

TEMA Servidor público federal. Indenização por trabalho em localidades estratégicas, vinculadas à prevenção,
controle, fiscalização e repressão de delitos transfronteiriços. Lei n. 12.855/2013. Necessidade de ato
normativo regulamentador. Tema 974.

INFORMAÇÕES: O art. 1º da Lei n. 12.855/2013 instituiu indenização a ser paga a servidores públicos da
União, pertencentes às Carreiras e aos Planos Especiais de Cargos nela indicados, cujas atribuições estejam
relacionadas à prevenção, controle, fiscalização e repressão aos delitos transfronteiriços, e desde que esses
servidores se encontrem em exercício em localidades estratégicas, a serem definidas em ato do Poder
Executivo, por Município, devendo ser considerados, para tanto, os seguintes critérios: (i) a localização dos
Municípios em região de fronteira e (ii) a dificuldade de fixação de efetivo (art. 1º, § 2º, I e IV, da Lei n.
12.855/2013). Da interpretação gramatical e teleológica do art. 1º, § 2º, da Lei n. 12.855/2013 infere-se que o
legislador não erigiu a localização do Município em região de fronteira e a dificuldade de fixação do efetivo
como critérios alternativos para a definição de cada localidade como estratégica, mas, sim, como critérios
cumulativos. Com efeito, houve veto presidencial aos incisos II e III do § 2º do art. 1º do PL n. 4.264/2012, que
originou a Lei n. 12.855/2013 - normas que previam, como critério para a definição de "localidade
estratégica", também a "existência de postos de fronteira, ou de portos e aeroportos de ou para outros
países" (inciso II) e a "existência de unidades a partir das quais seja exercido comando operacional sobre os
postos de fronteira" (inciso III) -, e ao art. 5º do referido Projeto de Lei, que determinava que a Lei entraria em
vigor "na data de sua publicação, produzindo efeitos a partir de 1º de janeiro de 2013". O exame das razões
do veto presidencial aos aludidos dispositivos legais conduz à exegese de que a teleologia da norma era a de
privilegiar conjuntamente, na definição de "localidade estratégica", os critérios de localização do Município em
região de fronteira e de dificuldade de fixação de pessoal, além da necessidade de regulamentação da matéria
por ato do Poder Executivo, que definisse as localidades estratégicas nas quais seria devida a indenização, aos
servidores efetivos das Carreiras e Planos Especiais de Cargos na Lei mencionados, com exercício nas referidas
localidades. Ou seja, para o caso em julgamento, não basta a localização geográfica - região de fronteira, que
não se confunde com faixa ou zona de fronteira - para que as localidades sejam consideradas estratégicas. A
sua definição depende, ainda, que assim sejam consideradas, por ato do Poder Executivo, à luz de avaliação
discricionária das necessidades que somente a Administração pode fazer, em certas localidades fronteiriças,
em relação à dificuldade de fixação de pessoal, para o combate aos delitos transfronteiriços. Nesse contexto,
definição do que se considera localidade estratégica em região de fronteira, com dificuldade de fixação de
pessoal, cabe ao Poder Executivo regulamentar, nos termos expressos da Lei n. 12.855/2013, e não ao Poder
232

Judiciário. A Lei n. 12.855/2013, portanto, contém norma de eficácia limitada, a depender, por conseguinte, de
regulamentação. (Informativo n. 641.)

2018

Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho


medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do
serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento
do consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à
constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias após o
vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios judiciais
ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias
de retroação.

REsp 1.412.433-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 25/04/2018, DJe
28/09/2018 (Tema 699)

TEMA Fornecimento de energia elétrica. Débitos do consumidor. Fraude no medidor de consumo. Corte
administrativo do serviço. Possibilidade. Critérios. Tema 699.

INFORMAÇÕES: Inicialmente cumpre salientar que, no panorama geral da jurisprudência do STJ, são três os
principais cenários de corte administrativo do serviço em decorrência de débitos de consumo de energia
elétrica por inadimplemento: a) consumo regular (simples mora do consumidor); b) recuperação de
consumo por responsabilidade atribuível à concessionária; e c) recuperação de consumo por
responsabilidade atribuível ao consumidor (normalmente, fraude do medidor). Relativamente a esse
último cenário, a jurisprudência do STJ veda o corte quando o ilícito for aferido unilateralmente pela
concessionária. A contrario sensu, é possível a suspensão do serviço se o débito pretérito por fraude do
medidor cometida pelo consumidor for apurado de forma a proporcionar o contraditório e a ampla
defesa. Assim, incumbe à concessionária do serviço público observar rigorosamente os direitos ao
contraditório e à ampla defesa do consumidor na apuração do débito, já que o entendimento do STJ repele a
averiguação unilateral da dívida. Dessa forma, o não pagamento dos débitos por recuperação de efetivo
consumo por fraude ao medidor enseja o corte do serviço, assim como acontece para o consumidor regular
que deixa de pagar a conta mensal (mora), sem deixar de ser observada a natureza pessoal (não propter rem)
da obrigação, conforme pacífica jurisprudência do STJ. Além disso, o reconhecimento da possibilidade de
corte de energia elétrica deve ter limite temporal de apuração retroativa, pois incumbe às concessionárias o
dever não só de fornecer o serviço, mas também de fiscalizar adequada e periodicamente o sistema de
controle de consumo. Por conseguinte e à luz do princípio da razoabilidade, a suspensão administrativa do
fornecimento do serviço - como instrumento de coação extrajudicial ao pagamento de parcelas pretéritas
relativas à recuperação de consumo por fraude do medidor atribuível ao consumidor - deve ser possibilitada
quando não forem pagos débitos relativos aos últimos 90 (noventa) dias da apuração da fraude, sem prejuízo
do uso das vias judiciais ordinárias de cobrança. Da mesma forma, deve ser fixado prazo razoável de, no
máximo, 90 (noventa) dias, após o vencimento da fatura de recuperação de consumo, para que a
concessionária possa suspender o serviço. (Informativo n. 634.)
233

A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a


presença cumulativa dos seguintes requisitos: (I) comprovação, por meio de laudo médico
fundamentado e circunstanciado expedido por médico que assiste o paciente, da
imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o
tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; (II) incapacidade financeira de
arcar com o custo do medicamento prescrito; e (III) existência de registro na ANVISA do
medicamento.

REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 25/04/2018,
DJe 04/05/2018 (Tema 106)

TEMA Direito à saúde. Medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS. Fornecimento pelo Poder
Público. Obrigatoriedade. Caráter excepcional. Requisitos cumulativos. Tema 106.

INFORMAÇÕES: Inicialmente cumpre ressaltar que a questão de fornecimento de medicamentos já possui


ampla jurisprudência nesta Corte Superior de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, que tem entendido que
o inciso I do art. 19-M da Lei n. 8.080/1991, incluído pela Lei n. 12.401/2011, permite que seja deferido o
fornecimento de medicamento não incorporado em atos normativos do SUS. Dos julgados existentes é
possível extrair alguns requisitos necessários para que o pleito seja deferido. O primeiro requisito consiste na
demonstração da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento no tratamento, por meio de laudo
médico circunstanciado e fundamentado, devidamente expedido por médico que assiste o paciente, da
imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da
moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS. Quanto à questão, consta das Jornadas de Direito da Saúde,
realizadas pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ, algumas diretrizes sobre a comprovação da
imprescindibilidade do medicamento, sendo que no enunciado n. 15 da I Jornada de Direito da Saúde
asseverou-se que o laudo médico deve conter, pelo menos, as seguintes informações: "o medicamento
indicado, contendo a sua Denominação Comum Brasileira (DCB) ou, na sua falta, a Denominação Comum
Internacional (DCI); o seu princípio ativo, seguido, quando pertinente, do nome de referência da substância;
posologia; modo de administração; e período de tempo do tratamento; e, em caso de prescrição diversa
daquela expressamente informada por seu fabricante, a justificativa técnica". O segundo requisito consiste na
devida comprovação da hipossuficiência daquele que requer o medicamento, ou seja, que a sua aquisição
implique o comprometimento da sua própria subsistência e/ou de seu grupo familiar. Não se exige, pois,
comprovação de pobreza ou miserabilidade, mas, tão somente, a demonstração da incapacidade de arcar com
os custos referentes à aquisição do medicamento prescrito. Por fim, o terceiro requisito a ser considerado é
que o medicamento pretendido já tenha sido aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária -
ANVISA. Esta exigência decorre de imposição legal, tendo em vista o artigo 19-T, inciso II, da Lei n.
8.080/1991, o qual dispõe que são vedados, em todas as esferas de gestão do SUS a dispensação, o
pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento e produto, nacional ou importado, sem registro
na Anvisa. (Informativo n. 625.)
234

A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a


presença cumulativa dos seguintes requisitos: i) Comprovação, por meio de laudo médico
fundamentado e circunstanciado expedido por médico que assiste o paciente, da
imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o
tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; ii) incapacidade financeira de
arcar com o custo do medicamento prescrito; iii) existência de registro do medicamento na
ANVISA, observados os usos autorizados pela agência. Modula-se os efeitos do presente
repetitivo de forma que os requisitos acima elencados sejam exigidos de forma cumulativa
somente quanto aos processos distribuídos a partir da data da publicação do acórdão
embargado, ou seja, 4/5/2018.

EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
12/09/2018, DJe 21/09/2018 (Tema 106)

TEMA Direito à saúde. Medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS. Fornecimento pelo Poder
Público. Obrigatoriedade. Caráter excepcional. Requisitos cumulativos. Embargos de declaração. Necessidade
de esclarecimento. Fornecimento de medicamento para uso off label. Vedação nos casos não autorizados pela
ANVISA. Tema 106.

INFORMAÇÕES: Trata-se de embargos de declaração opostos em face de acórdão julgado sob a sistemática
dos recursos repetitivos, no qual se pede que se esclareça, dentre outros pontos, se a necessidade do registro
na ANVISA afasta o fornecimento de medicamento de uso off label, que é aquele em que o medicamento é
utilizado no tratamento de patologias não autorizado pela agência governamental e, por conseguinte, não se
encontra indicado na bula. Verifica-se que o art. 19-T da lei n. 8.080/1990 impõe duas vedações distintas. A
constante do inciso I que veda o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso pelo SUS de medicamento fora
do uso autorizado pela ANVISA, ou seja, para tratamento não indicado na bula e aprovado no registro em
referido órgão regulatório. Já o inciso II, impede a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o
reembolso pelo SUS de medicamento que não tenha ainda sido registrado na ANVISA. Assim, nos termos da
legislação vigente, no âmbito do SUS somente podem ser utilizados medicamentos que tenham sido
previamente registrados ou com uso autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. A
exigência desse registro é medida que visa proteger o usuário do sistema de saúde, pois estes medicamentos
foram submetidos a estudos clínicos que comprovaram a sua qualidade, a sua efetividade e a sua segurança.
Contudo, a ANVISA, com fundamento no art. 21 do Decreto n. 8.077/2013, em caráter excepcional, tem
autorizado a utilização de medicamentos fora das prescrições aprovadas no registro. Sendo assim, ainda que
não conste no registro na ANVISA, na hipótese de haver autorização, ainda que precária, para determinado
uso, é resguardado o direito do usuário do Sistema Único de Saúde de também ter acesso a utilização do
medicamento no uso autorizado não presente no registro. Por seu turno, observa-se que ficou consignado no
acórdão embargado que "os critérios e requisitos estipulados somente serão exigidos para os processos que
forem distribuídos a partir da conclusão do presente julgamento". No entanto, tal termo inicial suscita
dúvidas, podendo ser interpretado de, pelos menos, duas formas: a conclusão do julgamento refere-se ao
julgamento do recurso especial, ou seja, o termo inicial da modulação seria a data da assentada que se julgou
o repetitivo e fixou-se a sua tese (25/4/2018); ou a conclusão do julgamento impõe o esgotamento da
instância, isto é, o termo inicial da modulação seria quando se julgar o último recurso cabível no âmbito do
Superior Tribunal de Justiça. Sendo assim, com espeque no inciso I do art. 494 do CPC/2015, que possibilita a
correção de ofício de inexatidões materiais, altera-se o termo inicial da modulação dos efeitos do presente
235

repetitivo, que passa a ser a data da publicação do acórdão embargado, ou seja, 4/5/2018. (Informativo n.
633.)

O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de


medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os entes federativos, mesmo
quando se tratar de feitos contendo beneficiários individualizados, porque se refere a
direitos individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público).

REsp 1.682.836-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 25/04/2018, DJe
30/04/2018 (Tema 766)

TEMA Direito à saúde. Demandas com beneficiários individualizados. Entes federativos no polo passivo.
Legitimidade do Ministério Público. Direito individual indisponível. Art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público). Aplicabilidade. Tema 766.

INFORMAÇÕES: Anote-se, inicialmente que a fronteira para se discernir a legitimidade do órgão ministerial
diz respeito à disponibilidade, ou não, dos direitos individuais debatidos. É que, tratando-se de direitos
individuais disponíveis e não havendo uma lei específica autorizando, de forma excepcional, a atuação do
Ministério Público (como no caso da Lei n. 8.560/1992), não se pode falar em legitimidade de sua atuação.
Todavia, se se tratar de direitos indisponíveis, a legitimidade ministerial já decorreria da redação do próprio
art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público). Portanto, a discussão a ser travada
neste feito direciona-se para a definição de indisponibilidade, ou não, do direito à saúde. Com efeito, a
disciplina desse direito encontra na jurisprudência pátria a correspondência com o próprio direito à vida, de
forma que a característica da indisponibilidade do direito já decorreria dessa premissa. O entendimento
firmado acima, no que concerne à delimitação do direito à saúde como direito individual indisponível, com
base na interpretação do conjunto de regras legais acerca da matéria, se encontra albergado no âmbito de
decisões do Supremo Tribunal Federal (RE 407.902-RS, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 28/8/2009). Assim, inexiste
violação dos dispositivos dos arts. 1º, V, e 21 da Lei n. 7.347/1985, bem como do art. 6º do CPC/1973, uma vez
que a atuação do Ministério Público, em demandas de saúde, tem assento na indisponibilidade do direito
individual. (Informativo n. 624.)

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT detém competência para


a fiscalização do trânsito nas rodovias e estradas federais, podendo aplicar, em caráter não
exclusivo, penalidade por infração ao Código de Trânsito Brasileiro, consoante se extrai da
conjugada exegese dos arts. 82, § 3º, da Lei n. 10.233/2001 e 21 da Lei n. 9.503/1997
(Código de Trânsito Brasileiro).

REsp 1.588.969-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por maioria, julgado em 28/02/2018, DJe
11/04/2018 (Tema 965)
236

TEMA Auto de infração. Multa de trânsito. Rodovia federal. Competência do DNIT. Previsão legal. Exegese
conjugada do disposto no art. 82, § 3º, da Lei n. 10.233/2001 e no art. 21, VI, da Lei n. 9.503/1997 (Código de
Trânsito Brasileiro). Tema 965.

INFORMAÇÕES: De início, cumpre salientar que a Lei n. 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro), a par de
atribuir à Polícia Rodoviária Federal a competência para aplicar e arrecadar multas por infrações de trânsito,
no âmbito das rodovias e estradas federais, nos termos de seu art. 20, III, confere aos órgãos executivos
rodoviários da União a competência para executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as penalidades de
advertência, por escrito, e ainda as multas e medidas administrativas cabíveis, notificando os infratores e
arrecadando as multas que aplicar, consoante previsto em seu art. 21, VI. Com o advento da Lei n. 10.561, de
13/11/2002, que incluiu o § 3º no art. 82 da Lei n. 10.233/2001, o Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes - DNIT foi expressamente autorizado a exercer, em sua esfera de atuação, ou seja, nas rodovias
federais, consoante disposto no art. 81, II, da referida Lei n. 10.233/2001, diretamente ou mediante convênio,
as competências expressas no art. 21 do Código de Trânsito Brasileiro, observado o disposto no inciso XVII do
art. 24 da mesma Lei n. 10.233/2001, que ressalva a competência comum da Agência Nacional de Transportes
Terrestres - ANTT para os fins previstos no art. 21, VIII, do Código de Trânsito Brasileiro, vale dizer, para, nas
rodovias federais por ela administradas, "fiscalizar, autuar, aplicar as penalidades e medidas administrativas
cabíveis, relativas a infrações por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar e
arrecadar as multas que aplicar". Além disso, o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN editou a Resolução
n. 289, de 29/08/2008, que "dispõe sobre normas de atuação a serem adotadas pelo Departamento Nacional
de Infra-Estrutura de Transportes - DNIT e o Departamento de Polícia Rodoviária Federal - DPRF na
fiscalização do trânsito nas rodovias federais", considerando "a necessidade de intensificar a fiscalização do
trânsito nas rodovias federais, objetivando a redução dos altos índices de acidentes e a conservação do
pavimento, coibindo o desrespeito aos limites de velocidades e o tráfego de veículos com excesso de peso".
Assim, nas rodovias federais, a atuação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT e
do Departamento de Polícia Rodoviária Federal - DPRF deve ser realizada em conjunto, de acordo com suas
atribuições, para a realização de uma efetiva fiscalização do trânsito, com o escopo de assegurar o exercício
do direito social à segurança, previsto no art. 6º, caput, da CF. (Informativo n. 623.)

2017

Havendo o Conselho Nacional de Educação expedido parecer público e direcionado ao


Conselho Estadual de Educação do Paraná sobre a regularidade do Programa Especial de
Capacitação de Docentes, executado pela Fundação Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu, a
sua desconstituição ou revogação pelo próprio Conselho Nacional de Educação ou mesmo
a sua não homologação pelo Ministério da Educação autorizam a tese de que a União é
responsável, civil e administrativamente, e de forma exclusiva, pelo registro dos diplomas e
pela consequente indenização aos alunos que detinham vínculo formal como professores
perante instituição pública ou privada, diante dos danos causados.

REsp 1.487.139-PR, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 08/11/2017, DJe
21/11/2017
237

TEMA Ação indenizatória. Curso normal superior. Programa Especial de Capacitação de Docentes.
Credenciamento. Entes federados. Atribuição. Expedição de diploma aos alunos. Ausência. Responsabilidade
civil e administrativa da União e do Estado do Paraná.

INFORMAÇÕES: O objeto do debate diz respeito à responsabilidade solidária, civil e administrativa, da União
e do Estado do Paraná, pela ausência de credenciamento de instituição de ensino superior como condição
para expedição de diploma a estudantes de curso normal superior, na modalidade semipresencial, em três
situações distintas, quais sejam: a) a dos professores que concluíram o curso e que detinham vínculo formal
com instituição pública ou privada; b) a dos professores que perfizeram o curso, mas que não tinham vínculo
formal com instituição pública ou privada, enquadrando-se como voluntários ou detentores de vínculos
precários de trabalho; e c) a dos denominados "estagiários". No que concerne à primeira situação fática, deve-
se ressaltar, de início, que a Lei n. 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB), em seu
art. 62, estabeleceu a necessidade de nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, na
formação de docentes para atuar na educação básica de ensino. O art. 80 da referida legislação, por sua vez,
dispôs que "o Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a
distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada", ressaltando, nos §§ 1º e 2º,
que a União seria responsável pelo credenciamento das instituições prestadoras da educação a distância, bem
como pela regulamentação dos respectivos exames e registro de diplomas. Como regra de transição, a LDB
dispôs no art. 87, § 3º, III, que os entes federativos deveriam realizar programas de capacitação para todos os
professores em exercício, inclusive utilizando os recursos do ensino à distância. Vale ressaltar que, além de
não restringir o universo dos destinatários da norma de transição (p.ex., 'professores com vínculo
empregatício devidamente comprovado'), o dispositivo não referiu à necessidade de autorização federal para
as modalidades não presenciais. E era razoável que assim não o fizesse à época, haja vista a urgência na
qualificação de um número significativo de profissionais em todo o território nacional, até o final da 'Década
da Educação', cujas metas foram delineadas pela Lei n. 10.172/2001 - conhecida como Plano Nacional de
Educação. Nesse contexto, é perfeitamente defensável a tese de que o art. 87 da Lei n. 9.394/1996 atribuiu
competência ao Estado do Paraná (e a União, apenas supletivamente) - ainda que em caráter transitório e com
fim específico - para credenciar instituições de ensino para realização de programas de capacitação de
docentes (e não um curso de formação regular e permanente), inclusive na modalidade semipresencial, em
consonância com as metas estabelecidas pela Lei n. 10.172/2001. Ante o panorama legal traçado, mostra-se
12 temerária a conduta adotada pelo Conselho Nacional de Educação, que, em um curto espaço de tempo (de
1º/02/2006 a 11/04/2007) e já próximo do exaurimento da eficácia da norma transitória do art. 87 da LDB,
emitiu três pareceres distintos, ora admitindo a regularidade ora reconhecendo a irregularidade do Programa
Especial de Capacitação de Docentes executado pela faculdade recorrida (Pareceres CNE/CES n.ºs 14/2006,
290/2006 e 193/2007), com repercussão extremamente negativa para uma gama imensa de alunos e
instituições envolvidas. Dessa forma - e considerando tratar-se de caso típico a se invocar a aplicabilidade do
princípio da confiança, traduzido na boa-fé que os administrados e outros destinatários depositam nos atos
praticados pelos agentes públicos - não há falar-se em ato ilícito por parte da instituição credenciada,
tampouco do referido Estado da Federação - o que culmina na responsabilidade exclusiva da União para a
hipótese analisada. (Informativo n. 615)
238

Havendo o Conselho Nacional de Educação expedido parecer público sobre a regularidade


do Programa Especial de Capacitação de Docentes executado pela Fundação Faculdade
Vizinhança Vale do Iguaçu e direcionado ao Conselho Estadual de Educação do Paraná, o
qual já havia possibilitado o ingresso anterior dos alunos sem vínculo formal como
professor de instituição pública ou privada (Portaria n. 93/2002 do Conselho Estadual de
Educação do Paraná), a sua desconstituição e/ou revogação posterior, pelo próprio
Conselho Nacional de Educação, ou mesmo a sua não homologação, pelo Ministério da
Educação ou, ainda, pelo Parecer n. 193/2007 do Conselho Estadual de Educação do Paraná,
autorizam a tese de que a União e o Estado do Paraná são responsáveis, civil e
administrativamente, e de forma solidária, pelo registro dos diplomas e pela consequente
indenização aos alunos que detinham vínculo apenas precário perante instituição pública
ou privada, diante dos danos causados.

REsp 1.487.139-PR, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 08/11/2017, DJe
21/11/2017

TEMA Ação indenizatória. Curso normal superior. Programa especial de capacitação de docentes.
Credenciamento. Entes federados. Atribuição. Expedição de diploma aos alunos. Ausência. Responsabilidade
civil e administrativa da União e do Estado do Paraná.

INFORMAÇÕES: O objeto do debate diz respeito à responsabilidade solidária, civil e administrativa, da União e
do Estado do Paraná, pela ausência de credenciamento de instituição de ensino superior como condição para
expedição de diploma a estudantes de curso normal superior, na modalidade semipresencial, em três
situações distintas, quais sejam: a) a dos professores que concluíram o curso e que detinham vínculo formal
com instituição pública ou privada; b) a dos professores que perfizeram o curso, mas que não tinham vínculo
formal com instituição pública ou privada, enquadrando-se como voluntários ou detentores de vínculos
precários de trabalho; e c) a dos denominados "estagiários". Quanto à segunda situação fática - além da
incidência dos fundamentos apresentados na primeira nota informativa - cabe acrescentar que o art. 87, § 3º,
III, da Lei n. 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB), ao dispor acerca da realização
dos programas de capacitação, apenas explicita a expressão "professores em exercício", não exigindo que se
trate de educadores com vínculo formal com instituição pública ou privada. Nesse sentido, correta a
interpretação dada ao dispositivo legal pelo Tribunal de origem, segundo a qual: "a expressão legal
'professores em exercício' não comporta a restrição que a União e o Estado do Paraná pretendem estabelecer
(existência de vínculo empregatício formal entre o professor e a escola). Além disso, não é crível supor que,
em toda a extensão do território estadual, inclusive nas localidades mais distantes (zona rural), todas as
escolas – incluídas as de menor porte - mantêm em seus quadros somente profissionais contratados
formalmente, com os pesados encargos legais daí decorrentes. Se, de fato, havia docentes contratados
precariamente, eles também devem ser considerados 'professores em exercício', para os fins da Lei". Dessa
forma, no caso específico dos professores que não detinham vínculo formal com instituição pública ou
privada, a responsabilidade pelo ato ilícito decorre de condutas praticadas, tanto pela União, quanto pelo
Estado do Paraná, em decorrência da edição (posterior, violadora do princípio da boa-fé e da confiança) do
Parecer n. 193/2007, pelo Conselho Estadual de Educação. (Informativo n. 615)
239

Inexistindo ato regulamentar, seja do Conselho Nacional de Educação, seja do Conselho


Estadual de Educação do Paraná, sobre a regularidade do Programa Especial de
Capacitação de Docentes executado pela Fundação Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu
relativamente a alunos estagiários, descabe falar em condenação da União e do Estado do
Paraná, devendo a parte que entender prejudicada postular a indenização em face, tão
somente, da instituição de ensino.

REsp 1.487.139-PR, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 08/11/2017, DJe
21/11/2017

TEMA Ação indenizatória. Curso normal superior. Programa especial de capacitação de docentes.
Credenciamento. Entes federados. Atribuição. Expedição de diploma aos alunos. Ausência. Responsabilidade
civil e administrativa da União e do Estado do Paraná.

INFORMAÇÕES: O objeto do debate diz respeito à responsabilidade solidária, civil e administrativa, da União e
do Estado do Paraná, pela ausência de credenciamento de instituição de ensino superior como condição para
expedição de diploma a estudantes de curso normal superior, na modalidade semipresencial, em três
situações distintas, quais sejam: a) a dos professores que concluíram o curso e que detinham vínculo formal
com instituição pública ou privada; b) a dos professores que perfizeram o curso, mas que não tinham vínculo
formal com instituição pública ou privada, enquadrando-se como voluntários ou detentores de vínculos
precários de trabalho; e c) a dos denominados "estagiários". Em relação ao terceiro ponto controvertido, no
que diz respeito à responsabilidade exclusiva da instituição de ensino quanto aos estagiários, não existiu
qualquer ato regulamentar expedido, seja pelo Conselho Nacional de Educação (ou outro órgão da União),
seja pelo Conselho Estadual de Educação do Estado do Paraná, autorizando que o curso funcionasse e
permitisse a matrícula de "alunos denominados estagiários". Dessa forma, nessa situação, descabe falar em
conduta ilícita dos entes estatais, sendo certo que houve atuação de ambos, vedando que tal prática assim
ocorresse. Em havendo algum discente que se sinta prejudicado, terá que promover a demanda,
exclusivamente, em face da instituição de ensino que, eventualmente, tenha permitido a matrícula, ao arrepio
de qualquer autorização emitida pelos órgãos públicos, mesmo que de forma minimamente precária.
(Informativo n. 615)

É facultado aos técnicos de farmácia, regularmente inscritos no Conselho Regional de


Farmácia, a assunção de responsabilidade técnica por drogaria, independentemente do
preenchimento dos requisitos previstos nos arts. 15, § 3º, da Lei n. 5.991/73, c/c o art. 28 do
Decreto n. 74.170/74, entendimento que deve ser aplicado até a entrada em vigor da Lei n.
13.021/2014.

REsp 1.243.994-MG, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 14/6/2017, DJe
19/9/2017. (Tema 727)

TEMA Técnico em farmácia inscrito no Conselho Regional. Assunção de responsabilidade técnica por drogaria.
Possibilidade.
240

INFORMAÇÕES: A questão em debate diz respeito à possibilidade de técnicos em farmácia, formados em nível
médio, assumirem a responsabilidade técnica por drogarias. A base legislativa que rege a matéria perpassa,
inicialmente, pelo art. 14 da Lei n. 3.820/60, que trata da composição dos Conselhos Regionais de Farmácia, e
prevê, dentre outras, a inscrição nos conselhos de práticos ou profissionais de farmácia licenciados.
Posteriormente, o art. 15 da Lei n. 5.991/73 previu a exigência de técnico responsável pelas farmácias e
drogarias com a sua presença obrigatória durante o funcionamento do estabelecimento. Após esse momento,
sobrevieram os Decretos ns. 74.170/74 e 3.181/99 tratando ainda de matéria concernente à exigência de
profissional técnico, à responsabilidade a que lhes seria atribuída e ao licenciamento do estabelecimento
farmacêutico. Revela-se importante explicitar que, diante da falta de clareza da legislação, os precedentes
desta Corte, que reputam cabível a atuação dos técnicos de farmácia como responsáveis por drogarias, foram
firmados através de interpretação teleológica, levando em conta a evolução dos cursos técnicos e seu
objetivo, bem como a diferenciação do conceito de farmácias e drogarias. Realmente, levando em conta a
argumentação jurisprudencial construída pelo STJ, constata-se não ser o caso de se reduzir a atividade dos
técnicos em farmácia às hipóteses excepcionais previstas no art. 28 do Decreto n. 74.170/74, quando essa
norma regulamentadora já foi, inclusive, objeto de alterações, ficando revogado o dispositivo que previa a
atuação dos técnicos. A nova redação do dispositivo referido, implementada nos idos de 1999, permite a
interpretação no sentido de que as limitações impostas à atuação como responsável técnico por drogarias
(diga-se, interesse público que justifique o licenciamento, e inexistência de farmacêutico na localidade, ou
existindo, não queira ou não possa esse profissional assumir a responsabilidade técnica pelo estabelecimento),
somente se aplicaria aos oficiais e práticos em farmácia, já não abrangendo os técnicos, de que aqui se cuida.
Assim, mostra-se muito mais consentânea com a realidade de nosso país e com o objetivo que se tinha com a
implantação de cursos técnicos na área de farmácia, a ideia de que tais profissionais, formados em cursos
técnicos de nível médio, possam atuar como responsáveis técnicos em drogarias, estabelecimentos que se
ocupam apenas da comercialização de medicamentos, sem envolver a manipulação de fórmulas. Por fim,
verifica-se que a Lei n. 13.021/2014 traz disposição específica sobre a matéria em debate, estabelecendo a
obrigatoriedade, a responsabilidade e assistência técnica de farmacêutico habilitado na forma da lei para o
funcionamento de farmácias de qualquer natureza. Dessa forma, da data de início da vigência da referida
norma em diante, não há mais dúvida sobre a impossibilidade de atuação de técnicos em farmácia como
responsáveis técnicos por drogaria, na medida em que somente farmacêuticos habilitados na forma da lei
poderão desempenhar tal função, seja em farmácia com manipulação seja em drogaria. (Informativo n. 611)

Os dispositivos do art. 4º, caput, e §§ 1º e 2º, da Lei n. 11.738/2008 não amparam a tese de
que a União é parte legítima, perante terceiros particulares, em demandas que visam à sua
responsabilização pela implementação do piso nacional do magistério, afigurando-se
correta a decisão que a exclui da lide e declara a incompetência da Justiça Federal para
processar e julgar o feito ou, em sendo a única parte na lide, que decreta a extinção da
demanda sem resolução do mérito.

REsp 1.559.965-RS, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 14/6/2017, DJe
21/6/2017. (Tema 592)

TEMA Piso salarial dos professores no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul. Legitimidade passiva da União.
Contrariedade ao dispositivo do art. 4º, caput e §§ 1º e 2º, da Lei n. 11.738/2008. Não ocorrência.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia, entre outros pontos, a analisar a legitimidade passiva da União
perante terceiros particulares, com base no art. 4º da Lei n. 11.738/2008, em demandas que visam a
241

implementação do piso nacional do magistério. Inicialmente, verifica-se que o art. 4º da citada legislação
assim determina, verbis: “A União deverá complementar, na forma e no limite do disposto no inciso VI do
caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e em regulamento, a integralização de
que trata o art. 3º desta Lei, nos casos em que o ente federativo, a partir da consideração dos recursos
constitucionalmente vinculados à educação, não tenha disponibilidade orçamentária para cumprir o valor
fixado”. Do que se verifica, não se trata de responsabilidade direta da União, nem a manutenção do
pagamento do piso do magistério, nem a complementação, a qual fica limitada, pelos regulamentos aplicáveis
à espécie. De outra parte, o § 2º prevê que a responsabilidade da União é a de "cooperar tecnicamente com o
ente federativo que não conseguir assegurar o pagamento do piso, de forma a assessorá-lo no planejamento
e aperfeiçoamento da aplicação de seus recursos". Com isso, verifica-se que o mencionado dispositivo legal
não induz que a União será responsável perante terceiros para implementar ou pagar, diretamente, a
determinado professor o piso do magistério, tendo em vista tratar-se de norma de direito financeiro que, por
sua natureza, somente vincula os entes federados entre si. Ou seja, se alguma responsabilidade pode ser
extraída desse dispositivo, essa se refere, exclusivamente, à relação entre a União e o ente federativo que não
conseguir assegurar o pagamento do piso, na exata dicção do texto legal, e não que o preceito normativo
assegura o pagamento do piso do magistério pela União. As regras ora analisadas são típicas de um
federalismo cooperativo, o qual se estabelece entre os entes componentes da Federação brasileira, não
assegurando direitos de um particular diretamente em face da União, no sentido de pleitear a percepção de
verba salarial. Admitir o contrário, seria supor que um servidor público pertencente a uma unidade federativa
possa pleitear diretamente da União a consecução de uma obrigação que, se existente, perfaz-se, apenas e
tão somente, na relação entre os entes federativos. (Informativo n. 606)

A partir de 14/4/2010 deve ser reconhecida a natureza contratual da relação firmada


entre os servidores do Estado de Minas Gerais e o IPSEMG, instituída pelo art. 85 da Lei
Complementar Estadual n. 64/2002, sendo garantida a restituição de indébito somente
àqueles que, após essa data, não tenham aderido expressa ou tacitamente aos serviços de
saúde disponibilizados.

REsp 1.348.679-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 23/11/2016, DJe 29/5/2017.
(Tema 588)

TEMA Contribuição para custeio de serviço de saúde aos servidores públicos. Instituto de previdência do
Estado de Minas Gerais (IPSEMG). Caráter compulsório afastado pelo STF na ADI 3.106-MG. Alteração da
jurisprudência do STJ. Repetição de indébito por afastamento da inconstitucionalidade do tributo.
Interpretação do julgamento da ADI. Formação de relação jurídica contratual entre servidor e IPSEMG.
Possibilidade. Manifestação de vontade do servidor.

INFORMAÇÕES: A discussão trata da possibilidade de devolução dos valores pagos a título de contribuição
para o custeio de serviços de saúde, instituída aos servidores públicos de Minas Gerais por meio da Lei
Complementar Estadual n. 64/2002, sob o fundamento de que a denominada exação teria sido declarada
inconstitucional pelo STF na ADI 3.106-MG. O tema em comento se tornou recorrente no STJ, que impôs
como solução a compreensão sedimentada de que o tributo declarado inconstitucional importa direito à
repetição de indébito, independentemente da utilização ou adesão aos serviços de saúde ofertados pelo
Instituto de Previdência dos Servidores de Minas Gerais – IPSEMG. Não obstante esse entendimento,
reconhece-se o erro quanto a premissa de que a “contribuição” para a saúde cobrada pelo Estado de Minas
Gerais de seus servidores foi declarada inconstitucional e por essa razão deve ser devolvida aos que arcaram
242

com ela. O STF, no julgamento da ADI 3.106-MG, somente afastou a compulsoriedade da denominada
"contribuição", o que torna possível a materialização de uma relação jurídico-administrativa de fornecimento
de serviços de saúde aos servidores, mesmo após a decisão final da ADI, mediante comprovação da adesão ao
serviço oferecido. O que se constata, portanto, é que o STF tão somente retirou a natureza tributária do valor
cobrado, afastando a incidência da repetição de indébito amparada pelos arts. 165 a 168 do CTN. Conclui-se,
que é equivocado dizer que a relação jurídica entre o Estado e os contratantes do plano de saúde é nula de
pleno direito. O que foi declarado nulo foi a compulsoriedade, e isso não afasta a possibilidade de a relação
jurídica se formar pela vontade das partes. Vale dizer, é possível ao Estado disponibilizar serviço de saúde
específico aos seus servidores públicos, mas é inarredável o caráter voluntário de adesão contratual dos
destinatários, como o próprio STF assentou na mencionada ADI. O serviço de plano de saúde passa a ser
benefício estatal trabalhista concedido aos servidores, de natureza facultativa e sinalagmática. Deve haver,
pois, adesão voluntária (tácita ou expressa) ao serviço concedido pelo Estado de Minas Gerais para legitimar a
cobrança da contraprestação pecuniária pelo serviço de saúde. A legitimação da contraprestação pelo serviço
prestado se ampara também no princípio geral da boa-fé incidente sobre as relações jurídicas. Se uma das
partes considera indevida determinada contraprestação pecuniária do objeto contratual, não pode almejar o
melhor dos mundos: satisfazer-se da obrigação sem a devida contraprestação. Por fim, até 14.4.2010 a
cobrança pelos serviços de saúde foi considerada legitimada pelo STF com base na lei estadual, devendo o
presente entendimento incidir a partir do citado marco temporal, quando a manifestação de vontade do
servidor será requisito para a cobrança. (Informativo n. 604)

Não estão sujeitas a registro perante o respectivo Conselho Regional de Medicina


Veterinária, nem à contratação de profissionais nele inscritos como responsáveis técnicos,
as pessoas jurídicas que explorem as atividades de comercialização de animais vivos e a
venda de medicamentos veterinários, pois não são atividades reservadas à atuação privativa
do médico veterinário.

REsp 1.338.942-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 26/4/2017, DJe
3/5/2017. (Temas 616 e 617)

TEMA Conselho Regional de Medicina Veterinária. Registro de pessoa jurídica. Venda de medicamentos e
comercialização de animais vivos. Desnecessidade.

INFORMAÇÕES: Discute-se a necessidade de registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária de


sociedades empresárias que comercializam animais vivos, rações e medicamentos veterinários. De início,
convém destacar que a obrigatoriedade do registro da pessoa jurídica no conselho profissional fundamenta-
se no art. 1º da Lei n. 6.839/80 e, especificamente, no tocante à exploração de atividades próprias da profissão
de médico-veterinário, no art. 27 da Lei n. 5.517/68. Tendo em vista a natureza genérica e imprecisa da
redação dos dispositivos supra, é muito comum confundir-se a obrigatoriedade do registro no conselho de
fiscalização das profissões pelo simples fato de a pessoa jurídica praticar quaisquer das atividades privativas
da profissão tutelada. Segundo esse raciocínio, se a pessoa jurídica se valesse, em qualquer etapa de sua
atividade ou processo produtivo, de profissional sujeito à inscrição no conselho, também deveria realizar o
respectivo registro. Esse entendimento, no entanto, é equivocado, pois a finalidade dos normativos em
questão é justamente promover o controle direto da pessoa jurídica pelo respectivo conselho profissional
quando sua atividade-fim ou o serviço prestado a terceiro estejam compreendidos entre os atos privativos da
profissão regulamentada, guardando isonomia com as demais pessoas físicas que também explorem as
243

mesmas atividades. No que concerne à contratação de profissional inscrito no respectivo conselho, o art. 28
da Lei n. 5.517/68 estabelece essa necessidade sempre que a atividade desempenhada pela pessoa jurídica
seja passível de atuação do médico-veterinário – cujas atividades privativas estão disciplinadas nos arts. 5º e
6º da mencionada legislação. Diferentemente das funções relativas ao simples comércio varejista de rações,
acessórios para animais e prestações de serviços de banho e tosa em animais domésticos – sobre as quais não
há divergência quanto à dispensa do registro no conselho profissional, já que não são especificamente
atribuídas ao médico-veterinário – as atividades de comercialização de animais vivos e de medicamentos
veterinários demandam melhor exame. No pertinente à comercialização de medicamentos veterinários, o que
não abrange, por óbvio, a administração de fármacos no âmbito de um procedimento clínico, também não há
respaldo na Lei n. 5.517/68 para exigir-se a submissão dessa atividade ao controle do conselho de medicina
veterinária, seja por meio do registro da pessoa jurídica, seja pela contratação de responsável técnico, ainda
que essa fiscalização seja desejável. Nos termos da jurisprudência do STF, a limitação da liberdade do
exercício profissional está sujeita à reserva legal qualificada, sendo necessário, além da previsão em lei
expressa, a realização de um juízo de valor a respeito da razoabilidade e proporcionalidade das restrições
impostas e o núcleo essencial das atividades por ela regulamentadas. Nesse sentido, nota-se o RE 511.961-SP,
Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJ 13/11/2009. O mesmo ocorre, por seu turno, no que concerne à
venda de animais vivos. Isso porque, ainda que os animais expostos à venda demandem assistência técnica e
sanitária, a atividade básica ou preponderante da pessoa jurídica, nesses casos, consiste na comercialização.
Registre-se que, de acordo com a redação do art. 5º, alínea "e", da Lei n. 5.517/68, a direção técnica e sanitária
dos estabelecimentos comerciais que exponham animais ou produtos de sua origem apenas ocorrerá se
possível. Desse modo, ainda que se compreenda o contexto histórico em que foi inserida a expressão 18
"sempre que possível", não cabe conferir-lhe interpretação extensiva, haja vista o regime da estrita legalidade
que vigora no âmbito das limitações ao exercício da atividade profissional. Considerandose que a
comercialização de animais não se enquadra entre as atividades privativas do médicoveterinário, as pessoas
jurídicas que exploram esse mercado estão desobrigadas de efetivarem o registro perante o conselho
profissional respectivo e, como decorrência, de contratarem, como responsáveis técnicos, profissionais nele
inscritos. (Informativo n. 602)

Não há, em regra, interesse jurídico da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica – para
figurar como ré ou assistente simples de ação de repetição de indébito relativa a valores
cobrados por força de contrato de fornecimento de energia elétrica celebrado entre usuário
do serviço e concessionária do serviço público.

REsp 1.389.750-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 14/12/2016, DJe
17/4/2017. (Tema 879)

TEMA Ação de repetição de indébito. Tarifa de energia elétrica. Relação contratual. Consumidor e
concessionária do serviço público. Interesse da ANEEL. Não ocorrência, em regra

Sob o rito do art. 543-C do CPC (atualmente 1.036 e seguintes do CPC/2015), foi admitida a seguinte tese
controvertida: "questão atinente ao interesse jurídico da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) para
figurar no polo passivo de ação revisional e de repetição de indébito relativa a contrato de fornecimento de
energia elétrica celebrado entre usuário do serviço e concessionária do serviço público". O Superior Tribunal
de Justiça, por meio de diversos julgados anteriores, sedimentou a compreensão de que não há, em regra,
interesse jurídico da ANEEL para figurar como ré ou assistente simples de Ação de Repetição de Indébito
244

relativa a valores cobrados por força de contrato de fornecimento de energia elétrica celebrado entre usuário
do serviço e concessionária do serviço público. (Informativo n. 601)

A Lei n. 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do
magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional
nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo
determinação de incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as
demais vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações
estiverem previstas nas legislações locais.

REsp 1.426.210-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 23/11/2016, DJe
09/12/2016.

TEMA Piso salarial nacional para os professores da educação básica. Vencimento básico. Reflexo sobre
gratificações e demais vantagens. Incidência sobre toda a carreira. Tema 911.

INFORMAÇÕES: Discutiu-se se os artigos 2º, § 1º, e 6º, da Lei nº 11.738/2008 autorizam a automática
repercussão do piso salarial profissional nacional quanto aos profissionais do magistério público da educação
básica 19 sobre as classes e níveis mais elevados da carreira, bem assim sobre as vantagens temporais,
adicionais e gratificações, sem a edição de lei estadual a respeito, inclusive para os professores que já auferem
vencimentos básicos superiores ao piso. Com efeito, há razão ao se sustentar que a Lei em comento – como
regra geral – não teria permitido a automática repercussão do piso nacional sobre as classes e níveis mais
elevados da carreira do magistério e tampouco o reflexo imediato sobre as vantagens temporais, adicionais e
gratificações. Com efeito, partindo-se do entendimento (intangível para o STJ) já estabelecido pelo STF – de
que o piso corresponde ao vencimento básico inicial –, podese afirmar que a Lei n. 11.738/2008 se limitou a
estabelecer o piso salarial: valor mínimo a ser pago pela prestação do serviço de magistério, abaixo do qual a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das carreiras do
magistério público da educação básica. Assim, não há que se falar em reajuste geral para toda a carreira do
magistério, não havendo nenhuma determinação de incidência escalonada com aplicação dos mesmos índices
utilizados para a classe inicial da carreira. Nesse contexto, apenas aqueles profissionais que, a partir de
27/4/2011 (consoante o entendimento do STF), percebessem valores inferiores ao piso legalmente fixado
seriam beneficiados com as disposições legais, não havendo qualquer repercussão para os demais professores
que, naquela data, já auferiam vencimentos básicos superiores ao estabelecido na lei em comento. Da mesma
forma, não há que se falar em reflexo imediato sobre as vantagens temporais, adicionais e gratificações. Essa,
portanto, é a premissa geral a ser utilizada na interpretação em questão: a Lei n. 11.738/2008, em seu art. 2º, §
1º, apenas determinou que o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica deve
corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico
(entendimento do STF) em valor inferior, não havendo qualquer determinação de reescalonamento de toda a
carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações. Faz-se mister destacar, entretanto, que
os temas não se exaurem com o estabelecimento dessa premissa geral. Explica-se. Uma vez determinado pela
Lei n. 11.738/2008 que os entes federados devem fixar o vencimento básico das carreiras no mesmo valor do
piso salarial profissional, se em determinada lei estadual, que institui o plano de carreira do magistério
naquele estado, houver a previsão de que as classes da carreira serão remuneradas com base no vencimento
básico, a adoção do piso nacional refletirá em toda a carreira. O mesmo ocorre com as demais vantagens e
gratificações. Se na lei local existir a previsão de que a vantagem possui como base de cálculo o vencimento
245

inicial, não haverá como se chegar a outro entendimento, senão o de que a referida vantagem sofrerá
necessariamente alteração com a adoção do piso salarial nacional. (Informativo n. 594)

2015

O Decreto n. 80.419/77 – que incorporou a Convenção Regional sobre o Reconhecimento


de Estudos, Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina e no Caribe – não foi
revogado pelo Decreto n. 3.007/99 nem traz norma específica que vede os procedimentos
de revalidação dos diplomas que têm respaldo nos artigos 48 e 53, V, da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Brasileira. Assim, as universidades públicas brasileiras não estão
obrigadas a reconhecer automaticamente os diplomas de ensino superior expedidos por
universidades da América Latina e do Caribe

REsp 1.215.550-PE, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, julgado em 23/9/2015, DJe 5/10/2015 (Informativo
570).

TEMA: Direito administrativo. Revalidação no brasil de diplomas de universidades da américa latina e caribe.
Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 615.

INFORMAÇÕES: as universidades públicas brasileiras não estão obrigadas a reconhecer automaticamente os


diplomas de ensino superior expedidos por universidades da América Latina e do Caribe. Saliente-se que “a
Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América
Latina e no Caribe, incorporada ao ordenamento jurídico nacional por meio do Decreto n. 80.419/77, não foi,
de forma alguma, revogada pelo Decreto n. 3.007, de 30 de março de 1999. Isso porque o aludido ato
internacional foi recepcionado pelo Brasil com status de lei ordinária, sendo válido mencionar, acerca desse
particular, a sua ratificação pelo Decreto Legislativo n. 66/77 e a sua promulgação através do Decreto n.
80.419/77. Dessa forma, não há se falar na revogação do Decreto que promulgou a Convenção da América
Latina e do Caribe em foco, pois o Decreto n. 3.007/99, exarado pelo Sr. Presidente da República, não tem
essa propriedade” (REsp 1.126.189-PE, Primeira Turma, DJe 13/5/2010). Pela leitura do art. 5º do Decreto
80.419/1977 – segundo o qual os Estados Contratantes se comprometem a adotar as medidas necessárias
para tornar efetivo, o quanto antes possível, para efeito de exercício de profissão, o reconhecimento dos
diplomas, títulos os graus de educação superior emitidos pelas autoridades competentes de outro dos
Estados Contratantes –, vê-se o nítido caráter programático da referida norma. Inexiste, portanto,
determinação específica de reconhecimento automático dos diplomas. Além disso, o STJ, quando apreciou a
questão da revalidação de diplomas sob o enfoque da Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira), pelo rito do art. 543-C do CPC, concluiu que “o art. 53, inciso V, da Lei 9.394/96 permite à
universidade fixar normas específicas a fim de disciplinar o referido processo de revalidação de diplomas de
graduação expedidos por estabelecimentos estrangeiros de ensino superior, não havendo qualquer
ilegalidade na determinação do processo seletivo para a revalidação do diploma, porquanto decorre da
necessidade de adequação dos procedimentos da instituição de ensino para o cumprimento da norma, uma
vez que de outro modo não teria a universidade condições para verificar a capacidade técnica do profissional
e sua formação, sem prejuízo da responsabilidade social que envolve o ato” (REsp 1.349.445-SP, Primeira
Seção, DJe 14/5/2013).
246

A fixação de limitação temporal para o recebimento da indenização prevista no art. 51, I, da


Lei 8.112/1990, por meio de normas infralegais, não ofende o princípio da legalidade.

REsp 1.257.665-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 8/10/2014, DJe 17/9/2015
(Informativo 569).

TEMA: Direito administrativo. Fixação de limitação temporal para o recebimento de nova ajuda de custo.
Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj). Tema 538

INFORMAÇÕES: De fato, o art. 51, I, da Lei 8.112/1990 estabelece que constitui indenização ao servidor a
“ajuda de custo”. Além disso, o art. 56 desse mesmo diploma legal determina, no seu caput, que “Será
concedida ajuda de custo àquele que, não sendo servidor da União, for nomeado para cargo em comissão,
com mudança de domicílio” e, no seu parágrafo único, prescreve: “No afastamento previsto no inciso I do art.
93, a ajuda de custo será paga pelo órgão cessionário, quando cabível”. Realmente, há normas infralegais que
impõem limite temporal para o recebimento de nova ajuda de custo. Nesse ponto, pode-se pensar que, se a
Lei 8.112/1990 não estabeleceu limite temporal para a concessão da “ajuda de custo”, o legislador
administrativo não pode fazê-lo. Esse pensamento, todavia, não deve prevalecer. O art. 52 da Lei 8.112/1990
determina de forma expressa que os critérios para a concessão da ajuda de custo sejam regulamentados por
norma infralegal: “Os valores das indenizações estabelecidas nos incisos I a III do art. 51, assim como as
condições para a sua concessão, serão estabelecidos em regulamento”. Nesse contexto, ao estabelecer o
termo “condições” – que o vernáculo entende, entre outros sentidos, como antecedente necessário –, a Lei
8.112/1990 permitiu restrições/limitações que nada mais são que requisitos que qualificam o servidor para o
recebimento da indenização. Aliás, a despeito das alterações legislativas ocorridas neste artigo, os valores e as
condições para a concessão da ajuda de custo sempre foram fixados em regulamento, na medida em que a
Lei atribuiu benefícios, mas nunca estabeleceu a possibilidade de abuso desses benefícios, sobretudo contra o
patrimônio público. Ademais, não é imperativo que essa regulamentação seja feita por meio de norma
hierárquica imediatamente inferior (decreto), consoante interpretação realizada a partir do art. 84, VI, da CF
poderia sugerir. Isso porque, de acordo com o STF (RE 570.680-RS, Pleno, DJe 4/12/2009), a competência
regulamentadora não é exclusiva do Presidente da República: “é compatível com a Carta Magna a norma
infraconstitucional que atribui a órgão integrante do Poder Executivo da União a faculdade de estabelecer
alíquotas do Imposto de Importação. Competência que não é privativa do Presidente da República”. Além
disso, mesmo que não fosse a expressa autorização legal para regulamentação da ajuda de custo, outras
razões hermenêuticas e axiomáticas reforçam a legitimidade de resoluções que prescrevam a limitação
temporal em análise, visto se tratar de medidas limitadoras que obedecem aos princípios da moralidade
administrativa, da razoabilidade, da impessoalidade, da eficiência e da economicidade da gestão pública.
Nesse sentido, ressalta-se que o fator tempo não pode ser desconsiderado por ocasião da fixação de limites
para a concessão de ajuda de custo, ante fundamentos atrelados à ratio do benefício, aos impactos
financeiros da presente decisão, à conveniência e oportunidade da concessão e ao histórico do tratamento da
matéria. Além do mais, ir além e questionar os termos em que estabelecido o limite temporal exigiria a
invasão do mérito dos atos administrativos que estabelecessem essa limitação, o que é permitido apenas em
hipótese excepcional de flagrante ilegalidade (AgRg no Ag 1.298.842-RJ, Segunda Turma, DJe 29/6/2010; e
AgRg nos EDcl no REsp 902.419-RS, Segunda Turma, DJe 15/2/2008). De mais a mais, o CNJ e o STF ratificam
essas limitações. Nesse sentido, cabe ressaltar a afirmação realizada pelo CNJ ao analisar pedido de ajuda de
custo de magistrado 9 (Pedidos de Providência 2007.10000007809 e 2007.10000011825): “Observo ainda que
os decretos regulamentadores da ajuda de custo, no plano federal, limitam a concessão da ajuda de custo a
um ano, ou seja, o magistrado não pode receber em período inferior a um ano mais de uma ajuda de custo.
Esta regra deve ser seguida nas concessões de ajuda de custo, sob pena de conversão dos magistrados em
247

peregrinos, contrariando inclusive a própria natureza da ajuda de custo, com o que a ajuda de custo somente
é devida em remoções que ocorrerem em prazo superior a um ano”. Seguindo a mesma ratio, a Resolução
382/2008 do STF, que dispõe sobre a concessão de ajuda de custo no âmbito do Supremo Tribunal Federal,
assevera, em seu art. 9º, caput e I, que “Não será concedida ajuda de custo ao Ministro ou ao servidor que [...]
tiver recebido indenização dessa espécie no período correspondente aos doze meses imediatamente
anteriores, ressalvada a hipótese de retorno de ofício, de que trata o § 6º do art. 3º”.

Os Conselhos Regionais de Farmácia possuem competência para fiscalização e autuação


das farmácias e drogarias, quanto ao cumprimento da exigência de manterem profissional
legalmente habilitado (farmacêutico) durante todo o período de funcionamento dos
respectivos estabelecimentos, sob pena de esses incorrerem em infração passível de multa,
nos termos do art. 24 da Lei 3.820/1960, c/c o art. 15 da Lei 5.991/1973.

REsp 1.382.751-MG, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, julgado em 12/11/2014, DJe 2/2/2015
(Informativo 554).

TEMA: Direito administrativo. Competência para fiscalizar presença de farmacêutico em drogarias e farmácias.
Recurso repetitivo (art. 543-c do cpc e res. 8/2008-stj).

INFORMAÇÕES: A interpretação dos dispositivos legais atinentes à matéria em apreço (arts. 10, “c”, e 24 da Lei
3.820/1960 e art. 15 da Lei 5.991/1973) conduz ao entendimento de que os Conselhos Regionais de Farmácia
são competentes para promover a fiscalização das farmácias e drogarias em relação à permanência de
profissionais legalmente habilitados durante o período integral de funcionamento das empresas
farmacêuticas. Já a atuação da Vigilância Sanitária está circunscrita ao licenciamento do estabelecimento e à
sua fiscalização no que tange ao cumprimento de padrões sanitários relativos ao comércio exercido,
convivendo, portanto, com as atribuições a cargo dos Conselhos. É o que se depreende, claramente, do
disposto no art. 21 da Lei 5.991/1973.
248

DIREITO AMBIENTAL

2022

2021

Na vigência do novo Código Florestal (Lei n. 12.651/2012), a extensão não edificável nas
Áreas de Preservação Permanente de qualquer curso d'água, perene ou intermitente, em
trechos caracterizados como área urbana consolidada, deve respeitar o que disciplinado
pelo seu art. 4º, caput, inciso I, alíneas "a, b, c, d e e, a fim de assegurar a mais ampla
garantia ambiental a esses espaços territoriais especialmente protegidos e, por conseguinte,
à coletividade.

REsp 1.770.760/SC, Rel. min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 28/04/2021.
(Tema 1010). (Informativo n. 694)

TEMA: Áreas de Preservação Permanente. Delimitação da extensão da faixa não edificável a partir das
margens de cursos d'água naturais. Área urbana consolidada. Incidência do art. 4º, I, da Lei n. 12.651/2012
(novo Código Florestal) ou do art. 4º, caput, III, da Lei n. 6.766/1979 (Lei de parcelamento do solo urbano).
Critério da especialidade. Aplicação do novo Código Florestal. Tema 1010.

INFORMAÇÕES: A controvérsia diz respeito a qual norma deve ser aplicável para fins de definir a
extensão da faixa não edificável a partir das margens de cursos d'água naturais em trechos
caracterizados como área urbana consolidada: se corresponde à área de preservação permanente
prevista no art. 4°, I, da Lei n. 12.651/2012 (equivalente ao art. 2°, alínea "a", da revogada Lei n.
4.771/1965), cuja largura varia de 30 (trinta) a 500 (quinhentos) metros, ou ao recuo de 15 (quinze)
metros determinado no art. 4°, caput, III, da Lei n. 6.766/1979. A definição da norma a incidir sobre o caso
deve garantir a melhor e mais eficaz proteção ao meio ambiente natural e ao meio ambiente artificial ,
em cumprimento ao disposto no art. 225 da CF/1988, sempre com os olhos também voltados ao princípio
do desenvolvimento sustentável (art. 170, VI,) e às funções social e ecológica da propriedade. O art. 4º,
caput, inciso I, da Lei n. 12.651/2012 mantém-se hígido no sistema normativo federal, após os julgamentos
da ADC 42 e das ADIs 4.901, 4.902, 4.903 e 4.937. A disciplina da extensão das faixas marginais a cursos
d'água no meio urbano foi apreciada inicialmente nesta Corte Superior no julgamento do REsp 1.518.490/SC,
Relator Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe de 15/10/2019, precedente esse que solucionou,
especificamente, a antinomia entre a norma do antigo Código Florestal (art. 2º da Lei n. 4.771/1965) e a norma
da Lei de Parcelamento do Solo Urbano (art. 4º, III, da Lei n. 6.766/1976), com a afirmação de que o normativo
do antigo Código Florestal é o que deve disciplinar a largura mínima das faixas marginais ao longo dos cursos
d'água no meio urbano. Exsurge inarredável que a norma inserta no novo Código Florestal (art. 4º,
caput, inciso I), ao prever medidas mínimas superiores para as faixas marginais de qualquer curso
d'água natural perene e intermitente, sendo especial e específica para o caso em face do previsto no
art. 4º, III, da Lei n. 6.766/1976, é a que deve reger a proteção das APPs ciliares ou ripárias em áreas
249

urbanas consolidadas, espaços territoriais especialmente protegidos (art. 225, III, da CF/1988). Assinale-se,
a opção pela não aplicação do art. 4º, caput, e I, da Lei n. 12.651/2012, quando o comando do seu caput é
expresso em determinar a sua incidência também ao meio urbano, apresenta-se inequivocamente
inapropriado, pois estar-se-ia a afrontar o enunciado da Súmula Vinculante n. 10 do Supremo Tribunal
Federal. A solução que ora se propõe não se altera pela superveniência da Lei n. 13.913/2019, que suprimiu a
expressão "[...] salvo maiores exigências da legislação específica." do inciso III do art. 4º da LPSU, pois, pelo
critério da especialidade, o normativo contido no art. 4º, caput, I, da Lei n. 12.651/2012 (novo Código Florestal)
é o que garante a mais ampla proteção ao meio ambiente, em áreas urbana e rural, e deve, como já
assinalado, incidir ao caso. O fato de agora o inciso III-A do art. 4º da Lei n. 6.766/1976 expressamente
estabelecer, em caráter geral, a determinação do distanciamento de "no mínimo" 15 (quinze) metros apenas
reforça a função de norma geral norteadora da menor distância que as faixas marginais, não edificáveis,
devem manter dos cursos d'água, o que, por uma visão teleológica do sistema de proteção ambiental, não
restringe a aplicação do art. 4º, caput, da Lei n. 12.651/2012 às áreas urbanas consolidadas.

A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada na atual redação


do § 4º do art. 25 da Lei n. 9.605/1998, independe do uso específico, exclusivo ou habitual
para a empreitada infracional.

REsp 1.814.944-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
10/02/2021 (Tema 1036)

TEMA: Apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental. Desnecessidade de comprovação de


uso específico e exclusivo com essa finalidade. Tema 1036.

INFORMAÇÕES: No caso, entendeu a Corte de origem a retenção é justificável somente nos casos em que a
posse em si do veículo constitui ilícito. Ocorre que essa não é a interpretação mais adequada da norma, que
não prevê tal condição para a sua aplicação, conforme entendimento recentemente adotado na Segunda
Turma no julgamento do REsp 1.820.640/PE (Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, DJe de 09/10/2019).
Nesse julgado, observou-se que "[a] efetividade da política de preservação do meio ambiente,
especialmente no momento em que a comunidade internacional lança os olhos sobre o papel das autoridades
públicas brasileiras no exercício de tal mister, atrai para o Judiciário o dever de interpretar a legislação à
luz de tal realidade, recrudescendo a proteção ambiental e a correspondente atividade fiscalizatória";
assim, "[m]erece ser SUPERADA a orientação jurisprudencial desta Corte Superior que condiciona a
apreensão de veículos utilizados na prática de infração ambiental à comprovação de que os bens sejam
específica e exclusivamente empregados na atividade ilícita". Em conclusão, restou assentado que "[o]s
arts. 25 e 72, IV, da Lei n. 9.605/1998 estabelecem como efeito imediato da infração a apreensão dos
bens e instrumentos utilizados na prática do ilícito ambiental", por isso "[a] exigência de requisito não
expressamente previsto na legislação de regência para a aplicação dessas sanções compromete a eficácia
dissuasória inerente à medida, consistindo em incentivo, sob a perspectiva da teoria econômica do crime, às
condutas lesivas ao meio ambiente". Com efeito, a apreensão definitiva do veículo impede a sua
reutilização na prática de infração ambiental - além de desestimular a participação de outros agentes
nessa mesma prática, caso cientificados dos inerentes e relevantes riscos dessa atividade, em especial os de
ordem patrimonial -, dando maior eficácia à legislação que dispõe as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. (Informativo n. 685)
250

2019

Até o trânsito em julgado das Ações Civis Públicas n. 5004891-93.2011.4004.7000 e n.


2001.70.00.019188-2, em tramitação na Vara Federal Ambiental, Agrária e Residual de
Curitiba, atinentes à macrolide geradora de processos multitudinários em razão de suposta
exposição à contaminação ambiental decorrente da exploração de jazida de chumbo no
Município de Adrianópolis-PR, deverão ficar suspensas as ações individuais.

REsp 1.525.327-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 12/12/2018,
DJe 01/03/2019 (Tema 923)

TEMA Dano ambiental. Ações civis públicas. Tutela dos direitos individuais homogêneos. Inexistência de
prejuízo à reparação dos danos individuais e ao ajuizamento de ações individuais. Conveniência da suspensão
dos feitos individuais. Tema 923.

INFORMAÇÕES: A questão controvertida consiste em definir a necessidade ou não de suspensão das ações
individuais em que se pleiteia indenização por dano moral em razão de suposta exposição à contaminação
ambiental decorrente da exploração de jazida de chumbo no Município de Adrianópolis-PR até o julgamento
das Ações Civis Públicas em trâmite na Vara Federal Ambiental, Agrária e Residual de Curitiba. Registre-se, de
início, que "não é possível haver litispendência entre ações coletivas e ações individuais, por não ser viável
uma perfeita identidade entre seus três elementos". Contudo, previu o Código de Defesa do Consumidor -
CDC, em seu art. 94, de forma excepcional, a possibilidade de integração do lesado ao feito na qualidade de
litisconsorte, verificando-se assim, a possibilidade de intervenção dos interessados, a título de litisconsortes do
autor legitimado (na ação coletiva), e que serão alcançados, por conseguinte, por essa atuação. Apesar disso,
o referido litisconsórcio deverá ser examinado com temperamento, uma vez que existem peculiaridades
processuais que deverão ser adequadas à respectiva tutela coletiva, pois, apesar de assumir a condição de
litisconsorte (facultativo e unitário - em que a decisão deverá ser uniforme com relação a todos), "não poderá
apresentar novas demandas, ampliando o objeto litigioso da ação coletiva à consideração de seus direitos
pessoais, o que contrariaria todo o espírito de 'molecularização' da causa". É que o art. 103, § 1º, do CDC
ressalva que os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos
individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, da categoria ou da classe; e o § 3º do mesmo
dispositivo esclarece que os efeitos da coisa julgada, de que cuida o art. 16, c/c o art. 13 da Lei n. 7.347/1985,
não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na
forma prevista nesse Código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que
poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99. No recurso repetitivo REsp n.
1.110.549/RS, relator Ministro Sidnei Beneti, restou consolidado o entendimento de que, ajuizada ação
coletiva atinente à macrolide geradora de processos multitudinários, suspendem-se as ações individuais, no
aguardo do julgamento da ação coletiva. No mesmo diapasão, a Primeira Seção, por ocasião também de
julgamento de recurso repetitivo, REsp n. 1.353.801/RS, relator Ministro Mauro Campbell Marques, invocando
o repetitivo da Segunda Seção, sufragou o entendimento de que, ajuizada ação coletiva atinente à macrolide
geradora de processos multitudinários, suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento da
ação coletiva, ponderando que a coletivização da demanda, seja no polo ativo, seja no polo passivo, é um dos
meios mais eficazes para a realização do acesso à justiça, porquanto, além de reduzir os custos,
consubstancia-se em instrumento para a concentração de litigantes em um polo, evitando-se, assim, os
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problemas decorrentes dos inúmeros procedimentos semelhantes. Assim, o mais prudente é o sobrestamento
dos feitos individuais até a solução definitiva do litígio coletivo. (Informativo n. 643.)

2018

O art. 2º, § 6º, inc. VIII, do Decreto n. 3.179/1999 (redação original), quando permite a
liberação de veículos e embarcações mediante pagamento de multa, não é compatível com
o que dispõe o art. 25, § 4º, da Lei n. 19 9.605/1998; entretanto, não há ilegalidade quando
o referido dispositivo regulamentar admite a instituição do depositário fiel na figura do
proprietário do bem apreendido por ocasião de infração nos casos em que é apresentada
defesa administrativa - anote-se que não se está defendendo a simplória liberação do
veículo, mas a devolução com a instituição de depósito (e os consectários legais que daí
advêm), observado, entretanto, que a liberação só poderá ocorrer caso o veículo ou a
embarcação estejam regulares na forma das legislações de regência (Código de Trânsito
Brasileiro, p. ex.).

REsp 1.133.965-BA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção por unanimidade, julgado em
25/04/2018, DJe 11/05/2018 (Tema 405)

TEMA Poder de polícia. Apreensão de veículo utilizado no carregamento de madeira sem autorização. Art. 25,
§ 4º, da Lei n. 9.605/1998. Art. 2º, § 6º, inc. VIII, do Decreto n. 3.179/1999. Liberação condicionada ao
pagamento de multa. Inviabilidade. Liberação condicionada ao oferecimento de defesa administrativa.
Possibilidade. Fiel depositário na pessoa do proprietário. Tema 405.

INFORMAÇÕES: Cinge-se a controvérsia a analisar a compatibilidade entre as disposições da Lei n.


9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais - LCA) e a redação original do Decreto n. 3.179/1999. É que o § 4º do
art. 25 da LCA determina, de forma peremptória, a alienação dos instrumentos do crime (compreendidos em
sentido lato), mas, a seu turno, a legislação infralegal possibilita a liberação dos veículos e embarcações
apreendidos pela prática de infração administrativa ambiental mediante pagamento de multa ou
oferecimento de defesa. A redação original do art. 2º, § 6º, inc. VIII, primeira parte, do Decreto n. 3.179/1999,
que prevê a possibilidade do pagamento de multa, constitui verdadeira inovação no ordenamento jurídico,
destituída de qualquer base legal, o que afronta os incs. IV e VI do art. 84 da CR/88. Nada obstante, dizer que
a autoridade administrativa deve seguir pura e simplesmente o art. 25, § 4º, da LCA em qualquer caso poderia
levar à perpetração de violação aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
Especialmente em situações nas quais o suposto infrator oferecesse defesa administrativa seria incabível o
perdimento do bem. Para estes casos, é constitucional admitir que a apresentação de defesa administrativa
impeça a imediata alienação dos bens apreendidos, pois esta conclusão necessariamente deve vir precedida
da apreciação da demanda instaurada entre a Administração e o infrator. E, neste sentido, por este interregno
até a decisão, veículos e embarcações ficariam depositados em nome do proprietário. Este recorte na
ilegalidade do Decreto n. 3.179/1999 (redação primeva) é tão importante que o superveniente Decreto n.
5.523/2005, o qual deu nova disciplina à matéria, acabou consagrando-a, de modo que "os veículos e as
embarcações utilizados na prática da infração, apreendidos pela autoridade ambiental competente, poderão
ser confiados a fiel depositário até a sua alienação". Além disso, a aplicação da LCA deve observar as
disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal (CPP). Segundo os arts. 118 e ss. do CPP, existem
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regras próprias, as quais também guardam consonância com o dever de promover o devido processo legal, o
contraditório e a ampla defesa. E estas regras, muito mais densas do que as da Lei n. 9.605/1998 e seus
decretos, não permitem sob qualquer condição a alienação imediata de veículos e embarcações utilizadas
como instrumentos de crime. Este regramento também nada dispõe sobre a possibilidade de deferimento da
liberação do veículo ao proprietário que assume sua guarda e conservação na condição de depositário fiel.
Acontece que, ao contrário da imediata restituição dos bens apreendidos ao proprietário ou sua alienação, a
instituição da liberação com ônus de depósito é perfeitamente compatível com as previsões dos arts. 118 e ss.
do CPP. Tem-se, aí, uma integração possível entre a norma do art. 25, § 4º, da LCA, na forma como
regulamentada pelo Decreto n. 3.179/1999 (na redação original e conforme o Decreto n. 5.523/2005), e o CPP.
Por isto, pode ser plenamente aplicada a interpretação firmada nos casos em que, além de infração
administrativa, a conduta também pode ser enquadrada como crime ambiental. Então, qualquer destino dado
aos bens apreendidos, seja em razão de infração administrativa, seja em razão de crime ambiental, deve ser
precedido do devido processo legal. No primeiro caso, evidente que haverá sumarização, na forma das
regulamentações da Lei n. 9.605/1995; no segundo caso, do modo como previsto no CPP, sendo facultada,
pela peculiaridade do tipo penal (crime ambiental), as inflexões da LCA e decretos no que for compatível (p.
ex., a liberação ao proprietário com instituição do depósito em seu nome). (Informativo n. 625.)

2017

As empresas adquirentes da carga transportada pelo navio Vicunã no momento de sua


explosão, no Porto de Paranaguá/PR, em 15/11/2004, não respondem pela reparação dos
danos alegadamente suportados por pescadores da região atingida, haja vista a ausência
de nexo causal a ligar tais prejuízos (decorrentes da proibição temporária da pesca) à
conduta por elas perpetrada (mera aquisição pretérita do metanol transportado).

REsp 1.602.106-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2017, DJe 22/11/2017

TEMA Responsabilidade civil ambiental. Ação indenizatória. Danos extrapatrimoniais. Acidente ambiental.
Explosão do navio Vicuña. Porto de Paranaguá. Pescadores profissionais. Proibição temporária de pesca.
Empresas adquirentes da carga transportada. Ausência de responsabilidade. Nexo de causalidade não
configurado.

INFORMAÇÕES: O cerne da controvérsia é definir se as empresas adquirentes da carga do navio Vicuña


podem ser consideradas responsáveis pelo dano ambiental e, consequentemente, por danos extrapatrimoniais
alegadamente suportados por terceiros (pescadores profissionais que se viram impedidos temporariamente
de exercer seu labor), em decorrência da explosão da referida embarcação na baía de Paranaguá em 15/11/04.
De pronto, cumpre destacar a remansosa jurisprudência desta Corte no sentido de que, em que pese a
responsabilidade por dano ambiental ser objetiva (e lastreada pela teoria do risco integral), faz-se
imprescindível, para a configuração do dever de indenizar, a demonstração do nexo causal a vincular o
resultado lesivo à conduta efetivamente perpetrada por seu suposto causador. Nesse ponto, em apertada
síntese, constata-se que as empresas requeridas são meras adquirentes do metanol transportado pelo navio
Vicuña, não respondendo, assim, pela reparação de prejuízos (de ordem material e moral) alegadamente
suportados por pescadores profissionais em virtude da proibição temporária da pesca na região atingida pela
contaminação ambiental decorrente da explosão, em 15/11/04, da referida embarcação. Isso porque, não
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sendo as adquirentes da carga do referido navio responsáveis diretas pelo acidente ocorrido, só haveria falar
em sua responsabilização - na condição de indiretamente responsável pelo dano ambiental - caso restasse
demonstrada (i) a existência de comportamento omissivo de sua parte; (ii) que o risco de acidentes no
transporte marítimo fosse ínsito à sua atividade ou (iii) que estivesse a seu encargo, e não a encargo da
empresa vendedora, a contratação do transporte da carga que lhe seria destinada. Sendo certo que nenhuma
das mencionadas situações se verificou, afasta-se o dever de indenizar, por ausência do nexo causal
imprescindível à sua configuração. (Informativo n. 615)

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