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(semana nº 4)
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Boletim Criminal Comentado 171-
Fevereiro de 2022
Procurador-Geral de Justiça
Mário Luiz Sarrubbo
Assessores
Fernanda Narezi
Ricardo Silvares
Rogério Sanches Cunha
Valéria Scarance
Paulo Palma (descentralizado)
Danilo Pugliesi (descentralizado)
Analistas Jurídicos
Ana Karenina
Victor Gabriel Tosetto
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SUMÁRIO
AVISOS...................................................................................................................................................4
1-Tema: Remição da Pena pelo Estudo - Aprovação no ENEM - Sentenciado portador de diploma de
curso superior.......................................................................................................................................5
2-Tema: Decisão que defere interceptação telefônica deve demonstrar que medida é
imprescindível.......................................................................................................................................9
4-Tema: A partir de precedente do STF, Terceira Seção considera ilegal obtenção direta de dados
fiscais por iniciativa do MP..................................................................................................................16
DIREITO PENAL....................................................................................................................................24
1-Tema: Foro competente para apuração de crime de receptação culposa (CP, art. 180, § 3º) – celular
produto de crime antecedente – capitulação jurídica diversa: receptação dolosa (CP, art. 180, caput)
– foro competente: local da apreensão – remessa ao Foro Central Criminal da Capital.......................29
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AVISOS
1- O Núcleo de Execuções Criminais comunica que, no dia 27 de janeiro de 2022, foi publicada a
Resolução SAP n.º 15, que disciplina o ingresso de pessoas nas repartições públicas da SAP, inclusive
visitantes nas unidades prisionais, em atenção ao Plano de Contingência para a Covid-19 no Sistema
Prisional Paulista. Clique aqui para a Resolução SAP.
O evento foi criado a partir de parceria da Escola Superior do MPSP, da Procuradoria- Geral de Justiça,
do CAOCRIM e da Associação Paulista do Ministério Público, e abordará temas relevantes, tais como:
O Congresso será promovido online nos próximos dias 17 e 18 de fevereiro, e é destinado a analistas,
assessores jurídicos e membros do MPSP.
https://esmp-imprensa.wixsite.com/congressocriminal
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ESTUDOS DO CAOCRIM
1-Tema: Remição da Pena pelo Estudo - Aprovação no ENEM - Sentenciado portador de diploma
de curso superior
EXECUÇÃO PENAL. REMIÇÃO DA PENA PELO ESTUDO. ART. 126, § 5º, DA LEI 7.210/1984 - LEP.
RECOMENDAÇÃO N. 44/2013 DO CNJ. APROVAÇÃO NO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO.
INDEFERIMENTO. SENTENCIADO PORTADOR DE DIPLOMA DE CURSO SUPERIOR. AUSÊNCIA DE
REQUISITO LEGAL. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DA BENESSE. AGRAVO DESPROVIDO.
II - Esta Corte Superior firmou orientação no sentido de que é "viável a concessão da remição por
atividades não expressas na lei, diante de uma interpretação extensiva in bonam partem do artigo
126 da Lei de Execução Penal." (AgRg no AREsp n. 696.637/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi,
DJe de 4/3/2016). Assim, na esteira do que estabelece a Recomendação n. 44/2013 do CNJ, é, em
tese, possível a remição pelo estudo àqueles reeducandos que, no transcorrer do cumprimento da
pena privativa de liberdade, logrem aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
IV - Decerto que, sob essa perspectiva, não se está a inibir o aprimoramento profissional e intelectual
do recluso bacharel ou docente. O que se espera, contudo, é que a interpretação da Lei guarde
relação com sua finalidade, de forma a ensejar algum resultado prático, o que somente pode ser
alcançado pela absorção de conteúdos que o preso ainda não detenha.
V - O ordenamento jurídico, ante o seu caráter sistêmico, deve ser interpretado como um todo. Nesse
sentido, o art. 2º da Lei 9.394/1996, que estabelece diretrizes e bases da educação nacional, dispõe
que: "A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
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solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho".
(STJ- AgInt no AREsp 1523148/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
28/04/2020, DJe 04/05/2020)
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. REMIÇÃO DA PENA. APROVAÇÃO NO ENEM (EXAME NACIONAL
DO ENSINO MÉDIO) APÓS A CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO.
1. O delito objeto da execução penal foi cometido em 11/10/2014, tendo o Paciente realizado a
prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em 2016, época em que já estava preso
preventivamente e, portanto, já lhe era aplicável os institutos benéficos previstos para a execução
penal definitiva, como o direito à remição. As remições por leitura e por resenha de livro, citada pelo
Magistrado de piso, se referem a períodos posteriores à realização do Exame Nacional do Ensino
Médio, ou seja, no momento da realização da avaliação o Paciente não estava vinculado a atividades
regulares de ensino no interior do estabelecimento prisional.
2. O direito à remição deve ser aplicado no caso dos autos, tendo em vista que a aprovação do
Paciente no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) - ainda que já tenha concluído o ensino médio
em momento anterior e mesmo estando, atualmente, vinculado a atividades regulares de ensino no
interior do estabelecimento prisional - configura aproveitamento dos estudos realizados durante a
execução da pena, conforme dispõem o art. 126 da Lei de Execução Penal e a Recomendação n.
44/2013 do CNJ.
3. Nos termos do art. 126, § 5.º, da Lei n. 7.210/1984, e conforme a jurisprudência desta Corte
Superior de Justiça, o fato do Apenado já haver concluído o ensino médio antes do início da execução
da pena, ainda que provisória, apenas impede o acréscimo de 1/3 (um terço) no tempo a remir em
função das horas de estudo.
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4. Ordem parcialmente concedida para determinar ao Juízo das Execuções Criminais que examine o
pedido de remição do Paciente, nos termos do art. 1.º, inciso I, da Recomendação 44/2013-CNJ,
considerando a aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
(STJ- HC 531.355/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 18/08/2020, DJe
02/09/2020)
Acesse aqui para ter acesso a pesquisa com jurisprudências do STJ e TJSP
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DESTAQUE:
Não há necessidade do Ministério Público, ao entender pelo não cabimento do acordo de não
persecução penal, intimar o acusado para que este possa recorrer da decisão, nos termos do art. 28-
A, § 14, do CPP.
O acordo de não persecução penal não constitui direito subjetivo do investigado, podendo ser
proposto pelo Ministério Público conforme as peculiaridades do caso concreto e quando considerado
necessário e suficiente para a reprovação e a prevenção da infração penal.
Por outro lado, o art. 28-A, § 14, do CPP garantiu a possibilidade de o investigado requerer a remessa
dos autos ao órgão superior do Ministério Público nas hipóteses em que a Acusação tenha se
recusado a oferecer a proposta de acordo de não persecução penal. A norma condiciona o direito de
revisão à observância da forma prevista no art. 28 do CPP, cuja redação a ser observada continua
sendo aquela anterior à edição da Lei n. 13.964/2019, tendo em vista que a nova redação está com
a eficácia suspensa desde janeiro de 2020 em razão da concessão de medida cautelar, nos autos da
ADI n. 6.298/DF.
No entanto, na legislação vigente atualmente que permanece em vigor não existe a obrigatoriedade
do Ministério Público notificar o investigado em caso de recusa em se propor o acordo de não
persecução penal.
Desse modo, o Juízo de 1º grau deve decidir acerca do recebimento da denúncia, sem que exija do
Ministério Público a comprovação de que intimou o acusado, até porque não existe condição de
procedibilidade não prevista em lei.
Apenas a partir desse momento processual, caso seja recebida a denúncia, será o acusado citado,
oportunidade em que poderá, por ocasião da resposta a acusação, questionar o não oferecimento
de acordo de não persecução penal por parte de Ministério Público e requerer ao Juiz que remeta os
autos ao órgão superior do Ministério Público, nos termos do art. 28, caput e 28-A, § 14, ambos do
CPP.
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Embora seja assegurado o pedido de revisão por parte da defesa do investigado, impende frisar que
o Juízo de 1º grau analisará as razões invocadas, considerando a legislação em vigor atualmente (art.
28, caput do CPP), e poderá, fundamentadamente, negar o envio dos autos à instância revisora, em
caso de manifesta inadmissibilidade do ANPP, por não estarem presentes, por exemplo, seus
requisitos objetivos, pois o simples requerimento do acusado não impõe a remessa automática do
processo.
Processo: REsp 1.948.350-RS, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e Territórios), Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 09/11/2021,
DJe 17/11/2021.
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM
No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, a
denúncia deve ser oferecida e o (a) investigado (a) poderá requerer o reexame no prazo da resposta
prevista no art. 396-A do Código de Processo Penal, sob pena de preclusão.
2-Tema: Decisão que defere interceptação telefônica deve demonstrar que medida é
imprescindível
A decisão que defere a interceptação telefônica – bem como as suas prorrogações – deve conter,
obrigatoriamente, com base em elementos do caso concreto, a indicação dos requisitos legais de
justa causa e da imprescindibilidade da medida para a obtenção da prova, como determina o artigo
5º da Lei 9.296/1996.
Com esse fundamento, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a nulidade de
provas reunidas em investigação sobre o comércio ilegal de armas de fogo no bairro de Santa Cruz,
no Rio de Janeiro. O processo foi originalmente distribuído à 6ª Vara Federal Criminal da Seção
Judiciária do Rio; entretanto, as interceptações telefônicas foram autorizadas no início pela 1ª Vara
Criminal de Santa Cruz, da comarca da capital.
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Ao todo, foram deferidas 12 medidas judiciais, mas só a partir da sexta a decisão coube ao juízo
federal, após o Ministério Público Federal (MPF) constatar a possível prática de tráfico internacional
de drogas e contrabando de arma de fogo.
Ao STJ, o réu alegou ofensa aos artigos 2º e 5º da Lei 9.296/1996, em razão da ausência de
fundamentação, por parte do juízo estadual, da decisão inicial que determinou a quebra do sigilo
telefônico e de suas prorrogações.
Em seu voto, o relator do recurso, ministro Sebastião Reis Júnior, lembrou que o magistrado tem
como dever constitucional (artigo 93, IX, da Constituição Federal de 1988), sob pena de nulidade,
fundamentar as decisões por ele proferidas. Para o ministro, no caso da interceptação telefônica, a
fundamentação da decretação da medida deve ser casuística e não se pode pautar em fundamento
genérico.
No caso analisado, Sebastião Reis Júnior apontou que, embora as decisões do juízo federal
apresentem motivação válida, a medida inaugural da quebra do sigilo, proferida pela 1ª Vara Criminal
de Santa Cruz – assim como as suas subsequentes decisões de prorrogação –, limitou-se a acolher as
razões da autoridade policial e do MPF.
O ministro ressaltou que as decisões proferidas pela 1ª Vara Criminal de Santa Cruz não
apresentaram nenhuma concretude, pois não houve referência à situação apurada na investigação,
nem a indicação da natureza do crime ou a demonstração de que as interceptações seriam
imprescindíveis para o esclarecimento dos fatos.
"Deve-se considerar eivada de ilicitude a decisão inicial de quebra do sigilo, bem como as sucessivas
que deferiram as prorrogações da medida, pois foram fundadas apenas nos pedidos formulados pela
autoridade policial, sem nenhuma indicação específica da indispensabilidade da medida constritiva
– nulidade que contamina as demais provas colhidas ao longo da investigação e da instrução, pois
delas derivadas", concluiu o relator.
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COMENTÁRIOS DO CAOCRIM
É preceito constitucional que toda a decisão judicial deverá ser fundamentada, conforme previsão
do art. 93, IX, da CF:
“todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;”
Quando as decisões não são fundamentadas, estas são passíveis de nulidade2. A fundamentação
deverá ser sobre as circunstâncias concretas, apontando a necessidade fática da medida.
Não tratou de forma diferente a Lei n. 9.296/96, estabelecendo que a decisão sobre a interceptação
telefônica deverá ser fundamentada, sob pena de nulidade.
“(...) 4. Habeas corpus não conhecido, porém concedida a ordem de ofício para declarar nula a
decisão que deferiu a medida de interceptação telefônica, assim como as subsequentes prorrogações
e, bem assim, das provas consequentes, estas a serem aferidas pelo magistrado na origem, devendo
o material respectivo ser retirado dos autos, estendendo-se seus efeitos aos demais corréus atingidos
pela decisão de quebra do sigilo telefônico ora anulada, sem prejuízo do prosseguimento da ação
penal com base em outras provas ou de nova decretação da medida em decisão devidamente
fundamentada.” (HC 336.285/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
22/11/2016, DJe 28/11/2016).
É admitida, tanto pelo STF, como pelo STJ, a fundamentação per relationem, como se observa a
esclarecedora decisão:
2A decisão judicial tem de ser fundamentada (art. 93, IX), ainda que sucintamente, sendo prescindível que a mesma se
funde na tese suscitada pela parte. Precedente: AI-QO-RG 791.292, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJe de
13/8/2010. (HC 133706 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 20/09/2016, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-242 DIVULG 14-11-2016 PUBLIC 16-11-2016).
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“(...) A fundamentação per relationem é admitida pelo Superior Tribunal de Justiça, bem como pelo
Supremo Tribunal Federal, sendo imprescindível, no entanto, que o julgador agregue fundamentos
próprios. No caso dos autos, o Tribunal de origem assentou que “a adoção do parecer do Ministério
Público como razão de decidir (per relationem), por si só, não acarreta a nulidade do decisum, se no
texto reproduzido há exame de todas as teses recursais e fundamentação suficiente para o deslinde
da quaestio, como aconteceu no caso em tela”. Ademais, o Magistrado de origem agregou
fundamentos próprios, consignando expressamente “que a diligência requerida mostra-se
pertinente e necessária para a investigação do delito em investigação de tráfico de entorpecentes”.
Portanto, devidamente fundamentada a medida. (...)”. (RHC 61.438/RS, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 25/10/2016, DJe 07/11/2016).
Já decidiu o STF:
Sobre a fundamentação per relacionem, ainda acresce o STJ, que “constitui medida de economia
processual e não malfere os princípios do juiz natural e da fundamentação das decisões.” (REsp
1.443.593/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 02/06/2015, DJe
12/06/2015)”. (RHC 83.938/RJ, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
14/11/2017, DJe 22/11/2017).
É certo que apenas a mera alusão à manifestação do Ministério Público não será suficiente para que
seja fundamentada a decisão judicial para o deferimento da interceptação telefônica, tornando,
assim, ilícita a prova ali produzida.
Nesse sentido o STF: “imperioso concluir que a mera alusão ao “requerimento” do Parquet e/ou da
autoridade policial não se mostra suficiente para legitimar a quebra dos sigilos telefônico e bancário
dos pacientes. A referência – argumento de autoridade – não passa pelo crivo da proporcionalidade,
na medida em que não apresenta motivação idônea para fazer ceder a essa situação excepcional de
ruptura da esfera da intimidade de quem se encontra sob investigação. Na espécie, em momento
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algum, o magistrado de primeiro grau aponta fatos concretos que justifiquem a real necessidade da
quebra desses sigilos. (...) Nesse diapasão, por reputar que as decisões judiciais prolatadas pelo juízo
de origem encontram-se destituídas da devida fundamentação – o que as tornam desvestidas de
eficácia jurídica –, entendo que as interceptações telefônicas e as informações financeiras obtidas
constituem provas ilícitas, devendo, dessa forma, ser desentranhadas do processo.” [HC 96.056, voto
do rel. min. Gilmar Mendes, j. 28-6-2011, 2ª T, DJE de 8-5-2012.].
Ainda pode o magistrado valer-se dos argumentos apresentados pela autoridade policial, nesse
sentido o STJ:
“(...) V - In casu, não há falar em nulidade da decisão que deferiu a interceptação telefônica por
insuficiência de fundamentação, pois o magistrado baseou-se no requerimento realizado pela
autoridade policial, demonstrou a existência do crime e dos indícios de autoria, bem como evidenciou
que a prova não poderia ser feita por outros meios, com fulcro no preenchimento dos requisitos do
art. 2º, da Lei 9.296/96, o qual não exige perícia de voz para validar a interceptação. (Precedentes).
(...)” (RHC 54.209/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 03/09/2015, DJe
15/09/2015).
O STJ também já decidiu que a decisão judicial pode ser sucinta, embora haja algumas observações
necessárias: “(...) 2. Não é ilegal a decisão judicial de interceptação telefônica que, embora sucinta,
expõe devidamente a necessidade da medida, nos termos da lei de regência, com amparo na
existência de indícios razoáveis, indicados pelos relatórios policiais apresentados, que apontavam a
indispensabilidade das escutas para aprofundamento das investigações. (...)” (AgRg no REsp
1633434/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
06/04/2017, DJe 20/04/2017).
Ainda, insta esclarecer que a mera repetição dos termos legais referentes aos requisitos da
interceptação telefônica não significa fundamentação, há que se indicar de forma real e concreta
todos os requisitos necessários para a concessão da medida de quebra de sigilo.
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A decisão em interceptação telefônica é concedida inaudita altera pars, cuja decretação não
necessita da oitiva do investigado. Dessa forma será preservada a eficácia da medida investigativa,
razão pela qual tanto o investigado ou seu defensor não poderão tomar conhecimento da
circunstância de estar sendo efetivada a medida3.
Na lição de Luiz Flávio Gomes4 deverá haver um controle judicial prévio de conteúdo da decisão, de
forma que seja verificado:
“a) quais são os concretos indícios de autoria ou de participação (art. 2º, I);
b) quais são as provas existentes a respeito da infração penal (materialidade) (art. 2º, I); c) que se
trata de infração punida com reclusão (art. 2º, III);
e) a descrição com clareza da situação objeto da investigação (delimitação fática da medida, isto é,
qual é o crime, onde está ocorrendo, desde quando vem ocorrendo etc.) (art. 2º, parágrafo único);
h) quais meios serão empregados para a execução da medida (quais recursos tecnológicos, quais
operações serão feitas) (art. 4º);
3O art. 253 Projeto de Lei n. 8045/2010 que estabelece um novo Código de Processo Penal, possui a seguinte redação: “Do
mandado judicial que determinar a interceptação de comunicações telefônicas deverá constar a qualificação do investigado
ou acusado, quando identificado, ou o código de identificação do sistema de comunicação, quando conhecido.
§ 1º O mandado judicial será expedido em 2 (duas) vias, uma para a prestadora responsável pela comunicação e outra para
a autoridade que formulou o pedido de interceptação.
§ 2º O mandado judicial poderá ser expedido por qualquer meio idôneo, inclusive o eletrônico ou similar, desde que
comprovada sua autenticidade.”.
4Gomes, Luiz Flávio e Maciel, Sílvio. Interceptação telefônica: comentários à Lei n. 9.296, de 24.07.1996. São Paulo: Editora
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n) que tudo deve ser feito “sob segredo de justiça” (art. 1º).”.
Por ocasião da decisão, o Juiz deverá constar expressamente, nos termos em prevê o art. 10 da
Resolução n. 59/08 do CNJ:
I – a autoridade requerente
III – os indícios razoáveis da autoria ou participação em infração criminal apenada com reclusão;
IV – as diligências preparatórias realizadas, com destaque para os trabalhos mínimos de campo, com
exceção de casos urgentes, devidamente justificados, em que as medidas iniciais de investigação
sejam inviáveis;
V – os motivos pelos quais não seria possível obter a prova por outros meios disponíveis;
VIII – a imediata indicação dos titulares dos referidos números ou, excepcionalmente, no prazo de 48
(quarenta e oito) horas;
XI – os nomes dos servidores do cartório ou da secretaria, bem assim, se for o caso, de peritos,
tradutores e demais técnicos responsáveis pela tramitação da medida e expedição dos respectivos
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Também a Resolução n. 59/08 do CNJ estabelece de forma expressa que a decisão judicial deverá ser
sempre escrita e fundamentada (art. 10, § 2º).
Uma vez declarada a nulidade da interceptação telefônica pela ausência de fundamentação, o juiz
natural deverá identificar as provas dela derivada, para serem invalidadas. (EDcl no HC 421.914/RS,
Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 08/10/2019, DJe 15/10/2019).
Clique aqui
4-Tema: A partir de precedente do STF, Terceira Seção considera ilegal obtenção direta de dados
fiscais por iniciativa do MP
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por maioria, decidiu que é ilegal a requisição
de dados fiscais feita diretamente pelo Ministério Público (MP), sem autorização judicial. Com esse
entendimento, o colegiado deu provimento a dois recursos em habeas corpus nos quais os acusados
alegaram constrangimento ilegal em razão da obtenção direta de seus dados fiscais, a partir de
solicitação do MP à Receita Federal.
De acordo com o relator dos recursos, ministro Sebastião Reis Júnior, a orientação do Supremo
Tribunal Federal (STF), firmada no Tema 990, permite que a Receita Federal encaminhe ao MP dados
fiscais quando houver suspeita de crime, mas não possibilita ao órgão de acusação requisitar esses
mesmos dados sem autorização judicial.
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O ministro Rogerio Schietti Cruz, que proferiu voto divergente, foi acompanhado por outros dois
membros do colegiado. Ele argumentou que, no envio de dados da Receita para o MP, não há quebra,
mas transferência de sigilo fiscal. O Ministério Público Federal defendeu o não provimento dos
recursos.
No caso dos autos, os acusados foram denunciados pelos crimes de estelionato majorado, falsidade
ideológica e uso de documento falso. O MP solicitou diretamente ao superintendente da Receita
Federal as declarações de Imposto de Renda dos investigados, de seus familiares e de empresas
suspeitas, sem ordem judicial. A seguir, a documentação foi juntada ao processo, com autorização
do juiz.
O tribunal de origem negou a retirada dessas informações dos autos, pleiteada pelas defesas por
meio de habeas corpus em que alegaram ter havido quebra de sigilo fiscal. Segundo a corte regional,
o aumento da corrupção e da criminalidade em geral recomenda que os órgãos de investigação sejam
fortalecidos.
Na visão do ministro Sebastião Reis Júnior, a análise do julgamento do RE 1.055.941 pelo STF permite
concluir que o debate que levou à definição do Tema 990 girou em torno das normas que tratam da
representação fiscal para fins penais, previstas no artigo 198 do Código Tributário Nacional,
no artigo 83 da Lei 9.430/1996 e no artigo 1º, parágrafo 3º, da Lei Complementar 105/2001.
O relator afirmou que as poucas referências que o STF fez à solicitação direta de dados pelo MP foram
no sentido de sua ilegalidade. Ele destacou que, naquela ocasião, o ministro do STF Luís Roberto
Barroso afirmou que, "se o Ministério Público quiser ter acesso direto a informações bancárias, ele
precisa de autorização judicial. Essa é a determinação constitucional".
Como base no voto de Barroso e de outros ministros do STF que contribuíram para a formação do
precedente, Sebastião Reis Júnior apontou que "a única conclusão a que se pode chegar é que a
requisição de dados fiscais pelo Ministério Público, sem autorização judicial, permanece ilegal".
O relator também ressaltou que, atualmente, informações protegidas por qualquer tipo de sigilo se
tornam públicas "com muita frequência". Essas informações, disse, são divulgadas no noticiário sem
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que os responsáveis pelo vazamento sejam identificados e punidos. Para o ministro, isso reforça a
preocupação que se deve ter com a possibilidade de obtenção de informações sigilosas, de modo
informal e sem controle ou supervisão.
Ao determinar que sejam excluídas dos autos todas as informações obtidas pelo MP por meio da
Receita Federal, o ministro reiterou que o caso julgado se distingue do precedente do STF pelo fato
de o MP ter requisitado os dados diretamente.
"Em um Estado de Direito, não é possível admitir que órgãos de investigação, em procedimentos
informais e não urgentes, solicitem informações detalhadas sobre indivíduos ou empresas,
informações essas constitucionalmente protegidas, salvo autorização judicial", concluiu o relator.
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM
Em decisão monocrática proferida no dia 16 de julho de 2019, o ministro Dias Toffoli impôs a
suspensão de investigações criminais e processos judiciais nos quais houvesse determinados dados
fiscais e bancários compartilhados sem autorização judicial entre órgãos de fiscalização tributária e
de investigação criminal.
A decisão foi proferida no Recurso Extraordinário 1.055.941, interposto pelo Ministério Público
Federal contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que havia anulado
ação penal na qual dados bancários obtidos pela Receita Federal haviam sido compartilhados com o
Ministério Público para fins penais. Segundo o acórdão recorrido, compartilhamentos de
informações bancárias para instruir investigações criminais só podem ser promovidos mediante
autorização judicial, que não havia sido emitida naquele caso.
O Ministério Público Federal argumentou que a quebra de sigilo bancário sem autorização judicial já
foi considerada válida pelo STF, que, no recurso extraordinário 601.314, julgou constitucional a Lei
Complementar 105/01, especialmente o disposto em seu art. 6º:
“As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de instituições financeiras,
inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, quando houver processo
administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente.”
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O Recurso Extraordinário 1.055.941 já havia tido a repercussão geral reconhecida pelo STF em
12/04/2018 e seu julgamento estava previsto para o mês de novembro passado. À época, o ministro
Dias Toffoli afirmou que embora o STF tivesse proferido decisões admitindo o compartilhamento de
dados para fins penais, os julgamentos fundamentais sobre o art. 6º da Lei Complementar 105/01
apenas tangenciaram a questão da possibilidade de que informações obtidas pelo Fisco fossem
compartilhadas com órgãos de investigação criminal. Por isso se justificava o reconhecimento da
repercussão geral, para que o tribunal pudesse decidir sobre o tema de forma específica e com
efeitos abrangentes.
A decisão se fundamentou no fato de que no julgamento daquelas ações constitucionais o STF foi
expresso ao admitir, para a finalidade de fiscalização e controle tributário, apenas e tão somente o
compartilhamento de dados relativos à identificação dos titulares das operações e aos montantes
globais movimentados, ou seja, não se contemplou a troca de informações com detalhes acerca da
origem e da natureza das movimentações. E, naquele momento, havia dúvidas a respeito do nível de
detalhamento do que estava sendo compartilhado entre os órgãos de fiscalização tributária e o
Ministério Público e as polícias.
Esta decisão provocou intensa reação devido à extensão de seus efeitos, que, na prática, paralisaram
investigações sobre infrações penais relativas a organizações criminosas, tráfico de drogas, tráfico de
armas, corrupção, lavagem de dinheiro, etc.
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Nas sessões ocorridas nos dias 20, 21, 27 e 28 de novembro do mesmo ano, o mérito do recurso foi
julgado, e o tribunal admitiu o compartilhamento de informações entre os órgãos fiscais e os órgãos
de investigação e persecução criminal, tal como já ocorria antes que se suspendessem as apurações
criminais em curso.
Relator do recurso, o ministro Toffoli votou pela constitucionalidade do procedimento. Após destacar
a importância do compartilhamento de dados fiscais e bancários de indivíduos e empresas para a
apuração de atividades criminosas e de recordar precedentes do STF sobre a constitucionalidade de
medidas de transparência voltadas ao combate da circulação ilegal de dinheiro, afirmou que isto não
pode ser feito por medidas que comprometam garantias constitucionais de salvaguarda da
intimidade e do sigilo dos cidadãos.
No que concerne aos dados fiscais, inicialmente o ministro admitiu que a Receita Federal
encaminhasse informações bancárias ao Ministério Público, desde que previamente instaurado
procedimento administrativo no qual o contribuinte tivesse sido notificado. O encaminhamento de
Representação Fiscal para Fins Penais (RFFP) ao Ministério Público só poderia ser considerado lícito
se no procedimento administrativo-tributário surgissem indícios de crimes contra a ordem tributária,
contra a previdência social, de descaminho e contrabando, além de lavagem de dinheiro. Além disso,
a representação não poderia ser instruída com a íntegra de extratos bancários ou de declaração de
imposto de renda, dados acessíveis apenas mediante autorização judicial. Mas, posteriormente
Toffoli reajustou seu voto. Ressalvando seu entendimento pessoal, aderiu à maioria para admitir que
a Receita Federal compartilhe integralmente e sem autorização judicial o procedimento
administrativo-fiscal.
O ministro Alexandre de Moraes também votou pela procedência do recurso, embora com alguns
pontos de divergência em relação ao voto inicial do relator. A seu ver, considerando que a
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investigação criminal sobre crimes tributários só pode ser deflagrada após a Receita Federal lançar
definitivamente o débito, é necessário que se compartilhem na íntegra os dados bancários e fiscais
obtidos em procedimento fiscalizatório no qual haja suspeita de crime. Não há inconstitucionalidade,
pois o processo deve ser supervisionado pelo Judiciário, que sanará eventuais abusos. Além disso,
ressaltou que a única situação em que a atuação do Ministério Público está condicionada ao término
do processo administrativo é a relativa aos delitos contra a ordem tributária. Se não for possível o
compartilhamento integral dos dados reunidos no âmbito tributário, o órgão de acusação não terá
instrumentos para a iniciativa persecutória. O ministro também considerou constitucional o
compartilhamento de relatórios formulados pela Unidade de Inteligência Financeira, equivalentes a
peças de informações, nas quais o Ministério Público pode se basear para instaurar procedimento
investigatório criminal (PIC) ou para requisitar a abertura de inquérito policial, garantido sempre o
sigilo dos dados em relação a terceiros.
O ministro Edson Fachin também julgou procedente o recurso, seguindo os pontos de divergência do
voto que o antecedeu. Destacou que, em diversos precedentes, o STF admitiu a constitucionalidade
da obtenção de informações financeiras pela Receita Federal, mesmo sem autorização judicial. Uma
vez admitida a obtenção dos dados na esfera administrativa para apurar ilícitos tributários, a
consequência inescapável é a extensão do acesso aos órgãos de persecução criminal se os mesmos
fatos têm repercussão na esfera penal. O mesmo vale para relatórios de inteligência financeira
formulados pela UIF, cujo compartilhamento é a razão de ser daquele órgão. Se os relatórios
retratam a ocorrência de transações suspeitas, é natural que sejam encaminhados aos órgãos de
investigação e persecução penal, ainda que sujeitos a outros elementos capazes de corroborá-los no
âmbito do devido processo legal.
Para o ministro Barroso, não obstante se trate de dados sigilosos, o compartilhamento entre a UIF, a
Receita Federal e os órgãos de persecução penal não caracteriza quebra de sigilo, pois a obrigação
de proteger os dados transmitidos se transfere a todos os destinatários, que devem obstar sua
publicidade. Não seria razoável, ademais, impedir que órgãos como a Receita Federal informem ao
Ministério Público, com dados completos, os indícios de crimes surgidos em procedimento
administrativo, especialmente se considerarmos que o compartilhamento de dados é uma tendência
mundial que integra inclusive convenções internacionais, tendo em vista que se trata de importante
medida para o combate à circulação de dinheiro proveniente de tráfico de drogas, terrorismo,
corrupção, dentre outros crimes. Da forma como funciona atualmente, o sistema de
compartilhamento é eficaz e os mecanismos de controle existentes já são capazes de garantir a
privacidade e a intimidade sem que se prejudique o combate a atividades criminosas.
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A ministra Rosa Weber também votou pela procedência do recurso e, consequentemente, pela
constitucionalidade do compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira e de dados fiscais
integrais pela Receita Federal. A remessa dos dados em sua totalidade não se opõe aos interesses do
indivíduo, mas, ao contrário, privilegia a ampla defesa e o contraditório na medida em que impede a
seleção de determinados documentos, que, isolados, propiciam uma análise limitada dos fatos.
Na mesma toada, o ministro Luiz Fux destacou que a apuração de crimes financeiros só é possível
por meio do rastreamento de movimentações de dinheiro. Lembrou que o compartilhamento de
dados pela UIF não é irrestrito, mas decorrente apenas de operações financeiras suspeitas, e que a
Receita Federal é legalmente autorizada a obter dados bancários do contribuinte e a repassá-los ao
Ministério Público para instruir procedimento investigatório.
Não foi diferente o voto da ministra Cármen Lúcia, para quem é legítimo o compartilhamento de
informações entre os órgãos de fiscalização de movimentação financeira e os órgãos de investigação
e persecução penal sempre que haja indícios de crimes. O direito fundamental à privacidade e ao
sigilo não pode se sobrepor à necessidade de investigar práticas delituosas nem torna os cidadãos
imunes à atuação estatal. Não se pode falar, ademais, em quebra de sigilo porque a própria legislação
estabelece a obrigação funcional de que os integrantes dos órgãos de fiscalização informem às
entidades competentes a suspeita de atividades ilícitas.
O ministro Ricardo Lewandowski lembrou a semelhança desta matéria com aquela analisada no RE
601.314/SP (j. 24/02/2016), ocasião em que o STF julgou constitucional o art. 6º da Lei Complementar
105/01 e concluiu ser dispensável autorização judicial para que a Receita Federal obtenha
informações bancárias de contribuintes durante o exame de documentos, livros e registros de
instituições financeiras. No caso julgado no RE 1.055.941 o ministro não vislumbrou nenhuma
ilegalidade no compartilhamento de dados, pois tudo decorreu de procedimento administrativo-
fiscal previamente instaurado e instruído nos termos da legislação.
Completando o grupo de votos vencedores, o ministro Gilmar Mendes afirmou que a Receita Federal
deve transmitir aos órgãos de persecução penal todas as informações para demonstrar a constituição
definitiva do crédito tributário e para viabilizar o exercício da ação penal, e é temerário estabelecer
antecipadamente a qualidade das informações que podem ser inseridas na representação fiscal.
Ponderou apenas que, a seu ver, o Relatório de Inteligência Fiscal se limita à função de “peça de
inteligência financeira”, razão por que não pode ser utilizado como fonte de indício ou de prova para
a instauração de inquérito policial ou de ação penal.
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O primeiro negou provimento ao recurso porque o sigilo de dados é mandamento constitucional que
só pode ser flexibilizado em situações excepcionais, com objetivo bem determinado e por meio de
decisão judicial. O segundo, não obstante tenha considerado legítimo o compartilhamento de
relatórios entre a Unidade de Inteligência Financeira e os órgãos de persecução criminal (que têm a
obrigação de preservar o sigilo), votou pelo improvimento do recurso porque a garantia
constitucional relativa ao sigilo bancário e fiscal impõe limitações à extensão dos dados constantes
da Representação Fiscal para Fins Penais, que deve conter tão somente informações mínimas que
demonstrem os indícios do fato delituoso, sem que se remetam documentos como extratos
bancários, declarações de imposto de renda, livros contábeis e notas fiscais. Estes documentos só
poderiam ser obtidos por meio de autorização judicial, que não impõe nenhum óbice à plena atuação
dos órgãos de investigação e persecução penal.
2 - O compartilhamento pela UIF e pela Receita Federal do Brasil, referente ao item anterior, deve
ser feito unicamente por meio de comunicações formais, com garantia de sigilo, certificação do
destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de apuração e correção de eventuais
desvios.
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DIREITO PENAL:
PESQUISA PRONTA-STJ
Furto praticado no período noturno. Importância do fato de a vítima estar, ou não, efetivamente
repousando.
"O Superior Tribunal de Justiça tem se manifestado no sentido da incidência da majorante prevista
no art. 155, § 1º, do Código Penal, mesmo na hipótese de furto praticado durante o repouso noturno
em estabelecimento comercial ou residência desabitada, sendo indiferente o fato de a vítima estar,
ou não, efetivamente repousando."
HC 615.113/SP, Rel. Ministro Olindo Menezes (desembargador convocado do TRF 1ª Região), Sexta,
julgado em 16/11/2021, DJe 19/11/2021.
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM
“Repouso noturno é o período em que, à noite, pessoas se recolhem para descansar. Enquanto na
violação de domicílio o CP se refere à qualificadora do fato cometido ‘à noite’, no furto menciona a
circunstância de o fato ser praticado durante o período de repouso noturno. Não há critério fixo para
a conceituação dessa qualificadora. Depende do caso concreto, a ser decidido pelo juiz. Assim, a
qualificadora varia no espaço. Ninguém dirá que foi praticado durante o período de repouso noturno
furto realizado às 21 horas no centro de São Paulo. Entretanto, ocorrerá essa qualificadora numa
fazenda do interior, uma vez que é comum nesses lugares o recolhimento das pessoas, para o
repouso, ainda bem cedo.”5.
A incidência da majorante, para parcela da doutrina, depende de o crime ser praticado em local de
moradia (não necessariamente imóvel, podendo, por exemplo, ser um trailer), habitado e com seus
moradores repousando (nesse sentido: RT 714/393)6.
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“quando o furto se dá durante o tempo em que a cidade ou local repousa, o que não importa
necessariamente seja a casa habitada ou estejam seus moradores dormindo. Podem até estar
ausentes, ou ser desabitado o lugar do furto. A Exposição de Motivos parece dar-nos razão: ‘É
prevista como agravante especial do furto a circunstância de ter sido o crime praticado durante o
período de sossego noturno’. Período de sossego noturno é o tempo em que a vida das cidades e dos
campos desaparece, em que seus habitantes se retiram, e as ruas e as estradas se despovoam,
facilitando essas circunstâncias a prática do crime. Seja ou não habitada a casa, estejam ou não seus
moradores dormindo, cabe a majoração se o crime ocorreu naquele período”7.
O STJ tem decidido que a majorante se aplica inclusive para furtos cometidos na via pública, pois o
que importa é o período de maior vulnerabilidade, não o local em que ocorre o crime: “Para a
configuração da circunstância majorante do § 1º do art. 155 do Código Penal, basta que a conduta
delitiva tenha sido praticada durante o repouso noturno, dada a maior precariedade da vigilância e
a defesa do patrimônio durante tal período, e, por consectário, a maior probabilidade de êxito na
empreitada criminosa, sendo irrelevante o fato das vítimas não estarem dormindo no momento do
crime, ou, ainda, que tenha ocorrido em estabelecimento comercial ou em via pública, dado que a
lei não faz referência ao local do crime" (AgRg nos EDcl no REsp 1.849.490/MS, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, j. 15/09/2020).
Para a configuração do crime previsto no art. 89 da Lei n. 8.666/1993, agora disposto no art. 337-E
do CP (Lei n. 14.133/2021), é indispensável a comprovação do dolo específico de causar danos ao
erário e o efetivo prejuízo aos cofres públicos.
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Inicialmente cumpre salientar que a Lei n. 8.666/1993, no art. 13, V, caracterizava o "patrocínio ou
defesa de causas judiciais ou administrativas" como serviço técnico especializado, que poderia ser
contratado com inexigibilidade de licitação se demonstrada a notória especialização do profissional
e a singularidade do objeto.
No entanto, com o advento da Lei n. 14.133/2021, nos termos do art. 74, III, o requisito da
singularidade do serviço advocatício deixou de ser previsto em lei, passando a ser exigida a
demonstração da notória especialização e a natureza intelectual do trabalho. Essa interpretação,
aliás, é reforçada pela inclusão do art. 3º-A do Estatuto da Advocacia pela Lei n. 14.039/2020,
segundo o qual "os serviços profissionais de advogado são, por sua natureza, técnicos e singulares,
quando comprovada sua notória especialização, nos termos da lei".
Desse modo, considerando que o serviço de advocacia é por natureza intelectual e singular, uma vez
demonstrada a notória especialização e a necessidade do ente público, será possível a contratação
direta.
Ademais, conforme julgado do Superior Tribunal de Justiça, a mera existência de corpo jurídico no
âmbito da municipalidade, por si só, não inviabiliza a contratação de advogado externo para a
prestação de serviço específico para o ente público (REsp n. 1.626.693/SP, Rel. Acd. Min. Sérgio
Kukina, Primeira Turma, DJe 03/05/2017). Em idêntico norte, o entendimento firmado pelo STF de
que "o fato de a entidade pública contar com quadro próprio de procuradores não obsta legalmente
a contratação de advogado particular para a prestação de serviço específico. É necessário, contudo,
que fique configurada a impossibilidade ou relevante inconveniência de que a atribuição seja
exercida pela advocacia pública, dada a especificidade e relevância da matéria ou a deficiência da
estrutura estatal" (Inq n. 3.074/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe 02/10/2014).
Nesse contexto, ainda que as ações ajuizadas pelo escritório de advocacia contratado tratassem de
temas tributários, não seria razoável exigir dos advogados públicos ou procuradorias de municípios
de pequeno porte que tenham competências específicas para atuar em demandas complexas.
Ressalte-se, que o crime em apreço refere-se a norma penal em branco, cuja completude depende
da integração das normas que preveem as hipóteses de dispensa e inexigibilidade de licitações,
conforme o princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica, insculpido no art. 5º, XL, da
Constituição Federal e no art. 2º do CP. Assim, não há dúvida quanto à incidência das alterações
promovidas pela Lei n. 14.133/2021 no tocante à supressão do pressuposto de singularidade do
serviço de advocacia para contratação direta.
Deste modo, para a configuração do crime previsto no art. 89 da Lei n. 8.666/1993, é indispensável
a comprovação do dolo específico de causar danos ao erário.
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Processo: AgRg no HC 669.347-SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT),
Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, Quinta Turma, por maioria, julgado em 13/12/2021.
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM
O crime do art. 89 da Lei 8.666/93 – atual art. 337-E CP - é doloso, constituído pela vontade
consciente de admitir, possibilitar ou dar causa a dispensa ou inexigibilidade de licitação fora dos
permissivos legais.
O STJ firmou a orientação de que a punição por dispensar ou inexigir licitação pressupõe tanto a
finalidade específica de causar prejuízo ao erário quanto a provocação efetiva do prejuízo:
“1. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmada a partir do julgamento da
APn n. 480/MG, a consumação do crime do art. 89 da Lei n. 8.666/1993 exige a demonstração do
dolo específico, ou seja, a intenção de causar dano ao Erário e a efetiva ocorrência de prejuízo aos
cofres públicos. 2. Hipótese em que o paciente, prefeito do município, foi condenado como incurso
no art. 89 da Lei n. 8.666/1993, por ter, juntamente com os membros da comissão de licitação,
fracionado o serviço de transporte escolar em vários roteiros para, considerando o valor isolado de
cada uma das linhas, dispensar o processo licitatório, em desacordo com o que determina o art. 23,
§§ 2º e 5º e art. 24, II, da Lei n. 8.666/1993. 3. Observa-se, contudo, a existência de condenação
baseada no dolo genérico (dispensa ou inexigibilidade de licitação, fora das hipóteses legais, com o
objetivo de direcionamento da contratação), o que, segundo a jurisprudência desta Corte, não é
suficiente para sustentar o decreto condenatório. 4. A sentença não fez qualquer referência à
existência de deliberada intenção de causar prejuízos à Administração Pública ou à efetiva ocorrência
do dano. Ao contrário, o magistrado de primeiro grau reconhece que os serviços foram prestados e,
ao afastar a conduta prevista no art. 1°, inciso I, do Decreto-Lei n. 201/67, afirma, categoricamente,
inexistir nos autos provas suficientes para comprovar o dolo do denunciado de efetuar pagamentos
aos contratados superiores aos ajustados, sem qualquer justificativa para tanto. 5. Ordem concedida
para absolver o paciente Cesar Augusto de Freitas, com fundamento no art. 386, III, do Código de
Processo Penal, da imputação da prática do crime previsto no art. 89 da Lei n. 8.666/1993, com
extensão dos efeitos aos corréus Ronildo Vieira Maciel, Tereza Maria Lopes de Brito e Amarildo
Bezerra Leite (art. 580 do CPP). Pedido de reconsideração da decisão que apreciou o pleito liminar
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prejudicado. Comunique-se, com urgência, ao Juízo da 37ª Vara Federal da Subseção Judiciária de
Caruaru/PE e à Primeira Turma do Tribunal de Justiça de Pernambuco”.8
Volta a decidir no mesmo sentido, e não parece que vai alterar sua conclusão, mesmo com o advento
da Lei 14.133/21.
“Mesmo nos casos em que o administrador não pretenda prejudicar o erário ou beneficiar favorito
seu, mas se nega a cumprir a legislação por capricho, conveniência, comodidade pessoal ou até
aversão pela burocracia, optando por contratar seus serviços e fornecedores diretamente, sem
prévia licitação, a atuação persiste manifestamente reprovável, pois, consciente de que está
descumprindo a lei, prefere administrar a coisa pública como se sua fosse, elegendo seus contratados
sem qualquer critério objetivo e sem a mínima formalidade para a dispensa/inexigibilidade de
licitação”.9
9. MENDES JÚNIOR, José Francisco Seabra. Desnecessidade de efetivo prejuízo ao erário e dolo específico para
configuração do crime do art. 89, caput, da Lei 8.666/93. 2014. Disponível em:
<http://www.mprs.mp.br/areas/criminal/arquivos/seabralicit.pdf >. Acesso em: 12/12/2020.
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1-Tema: Foro competente para apuração de crime de receptação culposa (CP, art. 180, § 3º) –
celular produto de crime antecedente – capitulação jurídica diversa: receptação dolosa (CP, art.
180, caput) – foro competente: local da apreensão – remessa ao Foro Central Criminal da Capital
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Interrogado em solo policial, o investigado alegou ser proprietário do aparelho celular com
ele encontrado, o qual teria comprado em outubro de 2021, de um amigo da família, de prenome
Ricardo, de quem não sabe informar o endereço, pela quantia de R$ 1.900,00, que pagou em
dinheiro. Esclareceu ter combinado com o suposto vendedor de pegar o objeto na Estação Calmon
Viana, bem como que não sabia que o aparelho celular era produto de furto, pois se tivesse
conhecimento não o teria comprado.
Termo circunstanciado a fls. 5/7; auto de exibição e apreensão a fls. 9; auto de avaliação a
fls. 10; pesquisa de antecedentes a fls. 12/18; boletim de ocorrência do furto – ocorrido em 16 de
outubro de 2021 – a fls. 19/20.
O Douto Promotor de Justiça que recebeu o feito, oficiante na Promotoria de Justiça Criminal
do Foro Regional VIII – Tatuapé (Comarca da Capital), então, sustentou que o endereço da Estação
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Calmon Viana da CTPM, onde o averiguado adquiriu o aparelho celular furtado, pertence ao
município de Poá/SP, onde o crime se consumou, nos termos do art. 70 do CPP, motivo pelo qual
requereu a remessa dos autos a uma das Varas Criminais da respectiva Comarca (fls. 26/27).
O pleito foi acolhido, sendo determinada a redistribuição dos autos (fls. 28).
Como destaca HUGO NIGRO MAZZILLI, tal incidente tem lugar quando o membro do
Ministério Público nega a própria atribuição funcional e a atribui a outro, que já a tenha recusado
(conflito negativo), ou quando dois ou mais deles manifestam, simultaneamente, atos que importem
a afirmação das próprias atribuições, em exclusão às de outros membros (conflito positivo) (Regime
Jurídico do Ministério Público, 6ª edição, São Paulo, Saraiva, 2007, pp. 486-487).
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de diligências), devendo tão somente dirimir o conflito para estabelecer a quem incumbe o dever de
oficiar nos autos.
Pois bem.
Isso porque os elementos de prova até agora coligidos apontam para a ocorrência, ao menos
e em tese, de crime de receptação dolosa.
Conforme se extrai dos autos, inexiste dúvida acerca de se tratar o aparelho de telefone
celular de produto de furto praticado em 16 de outubro de 2021 (pouco mais de um mês antes da
apreensão com ELITON, em 24 de novembro de 2021), conforme boletim de ocorrência juntado as
fls. 19/20.
No que tange à autoria, restou demonstrado que o averiguado portava o aparelho quando
da abordagem policial, alegando desconhecer a origem ilícita do bem, que teria adquirido de
conhecido da família de quem informou apenas o prenome, por valor bem abaixo do preço de
mercado do objeto.
No caso em tela, portanto, pelos elementos informativos amealhados, não se pode afastar o
dolo na conduta do autor.
Segundo sua narrativa, ELITON teria adquirido o aparelho celular em Poá/SP, de indivíduo
cujos dados pessoais desconhece, pagando pelo bem avaliado em R$ 3.644,00 (fls. 10) o valor de R$
1.900,00 em dinheiro.
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Nesse cenário, independentemente do local em que o aparelho celular tenha sido adquirido
ou recebido, forçoso concluir que o objeto foi apreendido em poder de ELITON na Comarca da
Capital, concluindo-se que ali o autor ao menos transportou o bem produto de crime antecedente.
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Verifica-se, ainda, mais conveniente para a produção da prova que o feito permaneça na
Comarca de São Paulo, uma vez que se trata do local da apreensão, onde foi instaurado o
procedimento investigativo, com oitiva dos policiais militares que atuaram na ocorrência, além de
ser o foro do domicílio do investigado.
Contudo, conforme exposto supra, como não se trata de crime culposo, mas de receptação
dolosa simples (CP, art. 180, caput), punida com reclusão, o feito não se insere na alçada do Foro
Regional do Tatuapé, devendo tramitar em uma das Varas Criminais do Foro Central Criminal da
Capital, competente para a apreciação do delito em questão.
Diante do exposto, conhece-se deste incidente para dirimi-lo, a fim de atribuir o dever de
oficiar nos autos a uma das Promotorias de Justiça Criminais da Capital.
Assim, determina-se o retorno dos autos ao r. Juízo de origem, para que o Culto Magistrado
providencie o seu correto encaminhamento ao Foro Central Criminal da Capital, competente para
julgamento do crime de receptação dolosa.
Redistribuído o feito, o Douto Promotor de Justiça que o receber atuará como longa manus
do Procurador-Geral de Justiça, podendo avaliar o eventual cabimento do Acordo de Não Persecução
Penal, nos termos do art. 28-A do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei nº
13.964/19, ou oferecer denúncia para imputar a ELITON o crime de receptação dolosa (CP, art. 180,
caput) e prosseguir nos demais termos da ação penal, até final decisão.
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