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MODERNA
Introdução
O liberalismo surgiu como um conjunto de ideias que propunha uma
alternativa aos modelos econômicos predominantes na Europa Ocidental
durante a Idade Moderna, na esteira das transformações das mentalidades
daquele período, e, posteriormente, configurou-se como uma teoria do
pensamento econômico, com diferentes matizes e adequações a novas
realidades culturais e históricas.
Neste capítulo, você vai compreender a conjuntura de surgimento
dos ideais liberais, principalmente sua relação com o declínio do poder
absolutista do monarca. Além disso, vai conhecer as diferenças existentes
entre as teorias liberais e mercantilistas em relação às práticas econômicas
e, por fim, aprenderá sobre os principais pensadores do liberalismo du-
rante a Idade Moderna, também conhecido como “liberalismo clássico”.
1 O surgimento do liberalismo
As origens do liberalismo remetem ao século XVII e XVIII, mais especifica-
mente, à oposição ao Absolutismo e sua política econômica, o mercantilismo,
sendo a França e a Inglaterra os dois focos de irradiação desses ideais que,
posteriormente, disseminaram-se pela Europa Ocidental e pela América.
Trata-se do conjunto de ideias proveniente da burguesia ascendente, que se
2 A construção dos ideais do liberalismo
tornou muito poderosa economicamente, mas não possuía poder político nem
espaços para defesa de seus interesses junto às políticas econômicas e sociais
dos Estados absolutistas.
De acordo com Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 699), a própria
lógica do Estado absolutista criou as condições para seu enfraquecimento
com o surgimento do liberalismo:
[...] tal Estado, na prática, instaura uma rígida separação entre política (ou área
pública) e moral (área particular), eliminando a moral da realidade política e
confinando os indivíduos, tornados meros súditos, na área particular. Porém,
no interior de todo Estado absoluto, cria-se um espaço particular interno,
que a burguesia, uma vez tomada consciência da própria moralidade, ocupa
progressivamente, até torná-lo público, embora não político imediatamente: as
ações políticas começam a ser julgadas pelo tribunal da moral. Este tribunal da
sociedade (clubes, salões, bolsa, cafés, academias, jornais) chama-se ‘opinião
pública’ e age em nome da razão e da crítica. Enquanto na Inglaterra se dá uma
verdadeira coordenação entre moral (opinião pública) e política (Governo),
na França, com o iluminismo, o contraste é radicalizado, preparando desta
forma a crise revolucionária. A burguesia liberal iria se firmando, pois, no
século XVIII, mediante o monopólio do poder moral e do poder econômico, em
relação ao qual o Estado absoluto, enquanto Estado exclusivamente político,
tinha ficado neutro. Sua transformação e sua destruição tiveram origem na
opinião pública e no mercado.
(2007, p. 110), que afirma que “é quase impossível caracterizar o que seria o
‘sistema de liberdade natural’ de [Adam] Smith sem fazer referência ao que ele
denomina ‘sistema comercial ou mercantil’, uma vez que o primeiro aparece
praticamente como uma antítese do segundo”.
A política mercantil, segundo essas teorias, entendia a riqueza e o desen-
volvimento como dependentes de um Estado, que deveria unificar a tributação,
controlar a atividade produtiva e estabelecer um sistema alfandegário para
proteger os produtores do seu país. O Estado deveria manter uma balança
comercial favorável, ou seja, exportar mais do que importar; devido à neces-
sidade de manutenção dessa balança favorável, associada ao metalismo, os
governos mercantilistas foram levados a argumentar em favor da autossufi-
ciência interna e da prática do monopólio, ainda que, em inúmeras ocasiões,
esse monopólio não tenha sido respeitado, porque, para os comerciantes, era
muito mais interessante comerciar com o maior número de clientes possíveis.
Assim, podemos afirmar que, para além de nomenclaturas como “mer-
cantilismo”, a economia da Europa Ocidental durante a Idade Moderna foi
marcada por práticas como o metalismo (quantidade de metais preciosos por
ele acumulado, convertido ou não em moedas e títulos), a balança comercial
favorável (regulação das exportações e importações) e o protecionismo estatal
(intervenção do Estado na economia).
Falcon (1991, p. 17) nos auxilia a compreender a conjuntura histórica do
mercantilismo lembrando que ele se identifica com:
[...] aquelas ideias e práticas econômicas que, durante três séculos, estiveram
sempre ligadas ao processo de transição do feudalismo ao capitalismo, e,
mais particularmente, aos problemas dos Estados modernos, absolutistas, e
à expansão comercial e colonial europeia iniciada com grandes navegações
e descobrimentos dos séculos XV/XVI. Indo um pouco mais longe, podemos
ver no mercantilismo o conceito que tenta dar conta da profunda conexão, da
quase impossível dissociação, entre o político e o econômico, a qual constitui
uma das principais características da época situada entre o final da Idade
Média e o início da Revolução Industrial.
[...] este parece ter sido o principal tema da história do pensamento político
moderno, a história da definição do indivíduo como proprietário e possuidor
de direitos. Um dos elementos centrais para entender as origens do liberalismo,
isto é a relação entre liberdade, autoridade e propriedade, está relacionado com
as importantes mudanças ocorridas no século XVII nos modos de apropriação
e exploração da propriedade.
Liberalismo Mercantilismo
3 Os pensadores do liberalismo
Os principais pensadores do chamado “liberalismo clássico” foram Adam
Smith, David Ricardo e Thomas Malthus, mas houve muitos outros pensa-
dores com importantes contribuições para o desenvolvimento dessa “teoria
econômica”. Seus pensamentos se basearam nos valores da liberdade e do
individualismo, opondo-se às políticas econômicas mercantis e à forma de
gestão do Estado absolutista. Não é à toa que as reflexões sobre o liberalismo
surgem na Inglaterra. Para Amadeo (2015, p. 4):
[...] a percepção dos homens do século XVII era uma percepção de indivíduos
com uma mentalidade em fase de transição para concepções políticas moder-
nas, para os quais autoridade e magistratura ainda eram parte de uma ordem
natural; o ponto de partida do pensamento político mais radical foi o colapso
de fato da autoridade política na Inglaterra entre 1642 e 1649.
Vamos conhecer um pouco mais sobre suas trajetórias e suas obras a seguir.
Adam Smith
Adam Smith (1723-1790) é considerado por muitos como o fundador da “eco-
nomia moderna” e o mais importante teórico do liberalismo econômico. Em
sua principal obra, A riqueza das nações: uma investigação sobre a natureza e
a causa da riqueza das nações, defendeu a liberdade comercial (livre competi-
ção), com pouca ou nenhuma intervenção estatal. Sua tese se baseava na ideia
de que a livre competição levaria à queda do preço dos produtos e a constantes
inovações tecnológicas (para o barateamento do custo de produção). Afirmava
que a riqueza de uma nação era resultado da produtividade do trabalho, que
estaria diretamente relacionado à especialização e à divisão. “Smith expõe a
teoria que ele considera correta sobre a natureza e causas da riqueza para, na
sequência, se lançar à tarefa de respaldar a crítica ao mercantilismo no rigor
da teoria econômica [...]” (MATTOS, 2007, p. 111).
A construção dos ideais do liberalismo 9
Conheça um pouco mais sobre a trajetória e as teorias de Adam Smith acessando o link a
seguir e assistindo a um vídeo produzido pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo.
https://qrgo.page.link/iPMRF
David Ricardo
David Ricardo (1777-1823) foi responsável pela elaboração de diversas teorias
econômicas e, em sua obra, dedicou-se a diferentes temas, tais como o comércio
internacional e questões relacionadas à moeda. De acordo com Silva (2018, p. 50),
“David Ricardo formulou o conceito de vantagem comparativa e demonstrou que o
comércio internacional é uma situação de ‘ganho-ganho’ para os países envolvidos.
Essa visão clássica destruiu a equivocada teoria do mercantilismo que defendia
que o colonialismo deveria beneficiar apenas a metrópole à custa da colônia”.
Thomas Malthus
Thomas Malthus (1766-1834) conviveu em um círculo de intelectuais do qual
participavam Jean-Jacques Rousseau e David Hume e publicou, em 1798,
Ensaio sobre o Princípio da População, escrita nos contextos históricos da
Revolução Francesa e Revolução Industrial e que, para Souza e Previdelli
(2017, p. 5), “dialoga diretamente com as ideias de transformação social da
primeira e os problemas de distribuição de riqueza da segunda. Sua tese
central – conveniente aos interesses burgueses, enunciada em tom diretivo,
ganharia a condição de ‘princípio’ [...]”.
Até hoje, Malthus é conhecido por suas teorias sobre o crescimento da
população, em que afirmava que a taxa de crescimento da população poderia
ser descrita em uma progressão geométrica, enquanto os recursos naturais
para seu sustento cresciam em uma progressão aritmética. Dessa forma,
defendia políticas de controle do crescimento populacional para evitar a
queda do padrão de vida, mas também argumentava favoravelmente em
relação a fatores que levassem à diminuição da população, como a fome, a
guerra, a miséria e as pragas.
Leituras recomendadas
BRUE, S. L. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Cengage Learning, 2005.
D-09 - Adam Smith. [S. d.; s. n.], 2015. 1 vídeo (6 min). Publicado pelo canal UNIVESP. Dis-
ponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0WG5TeYx_cU. Acesso em: 30 jan. 2020.
DOBB, M. A Evolução do Capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
DROUIN, J. C. Os Grandes Economistas. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
HUNT, E. K.; LAUTZENHEISER, M. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
POCOCK, J. G. A. Linguagens do ideário político. São Paulo: EDUSP, 2003.
POLANY, K. A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro: Elsevier
Editora, 2010.
SKINNER, Q. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009.
A construção dos ideais do liberalismo 13
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