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ANOTAÇÕES – AULA 30/11/2022

TEXTO 1 – Universidade: trajetória e papel no progresso tecnológico (Ruffoni)

De uma universidade encastelada, voltada para o ensino de uma pequena classe social e
para o desenvolvimento do conhecimento científico puro, observa-se atualmente uma
universidade um pouco mais aberta, preocupada com a difusão do ensino e do
conhecimento científico aplicado.

As características socioeconômicas, o grau de desenvolvimento, bem como as diferentes


possibilidades de financiamento do ensino e da pesquisa nos diversos países vão
moldando as particularidades regionais das funções e as atuações da universidade.

1. TRAJETÓRIA HISTÓRICA
1.1 Gênese e consolidação pela transmissão do conhecimento pelo ensino

1.2 Universidade moderna: a denominada universidade de pesquisa

Já na Europa, precisamente na Alemanha, acontece uma mudança fundamental na


função da universidade, originalmente transmissora de conhecimento. Este país
inaugura para a universidade a função de produtora de conhecimento por meio da
criação da “Universidade de Pesquisa”. Stokes (2005) afirma que os alemães assumiram
a liderança na transformação de suas universidades em centros de investigação
científica original.

1.3 Universidade e diferentes espaços de produção e aplicação do conhecimento

As universidades de pesquisa americanas voltam-se às demandas da atividade industrial,


em que ganha relevo fontes de financiamento para a pesquisa provenientes da indústria.

Modos de produção do conhecimento

MODO 1  Concepção Kuhniana de Paradigma: Isto significa que decisões sobre o


que é ou não relevante de ser estudado e pesquisado numa determinada área de
conhecimento, a priorização dos problemas a serem abordados e as trajetórias
científicas, advêm de um consenso entre cientistas de destaque. Esta comunidade de
cientistas especializados é também quem valida o conhecimento produzido.

A base de produção, compreensão e operação do conhecimento no Modo 1 é disciplinar.


Há arcabouços epistemológico e metodológico específicos. Nele, segundo Gibbons et
al. (2005), entende-se como conhecimento de qualidade aquele que observa as seguintes
normas:
• segue métodos gerais definidos pela comunidade científica;
• segue técnicas e procedimentos validados pela comunidade;
• formula problemas que a comunidade científica reconheça;
• usa métodos e procedimentos, bem como os espaços reconhecidos academicamente.

Sob o Modo 1, os espaços de produção do conhecimento são restritos – universidades,


academias e sociedades profissionais – sendo a universidade seu local privilegiado.
Sob os preceitos do Modo 1, a empresa científica cresce, porém, os recursos
governamentais para financiá-la não acompanham este crescimento. A restrição de
verbas para financiamento da pesquisa força a universidade, mais uma vez, a
ressignificar seu papel. Mowery e Sampat (2005) observam que emerge, neste cenário, a
denominada “Universidade Empreendedora”.

MODO 2  Concorrência com outros espaços de produção/limitação de recursos:


Em circunstâncias de restrição de recursos, os cientistas tiveram que ser criativos. Sendo
assim, procuraram, de um lado, resguardar suas ideias, teorias e seus métodos de
maneira paradigmática – potencializando a capacidade de captação de financiamentos –
e, por outro, observaram a necessidade de flexibilizar suas afiliações disciplinares e
promover o entendimento do conhecimento em outros espaços de produção, não se
restringindo àqueles predominantes no Modo 1.

Principal Característica: Transdisciplinaridade.

De forma geral, Gibbons et al. (2005) caracterizam o Modo 2 de produção do


conhecimento pelos seguintes aspectos:
• participação de diversos atores provenientes de diversas áreas;
• produção de conhecimento dispersa e transiente;
• conhecimento incorporado nas pessoas;
• prevalência do conhecimento tácito em relação ao componente codificado;
• valorização do conhecimento pela capacidade de resolver problemas do contexto,
pela sua utilidade; e
• destaque aos arranjos organizacionais e às formas de interação.

A natureza dispersa da produção do conhecimento no Modo 2 questiona a legitimidade


da universidade como espaço único ou privilegiado de validação do conhecimento. No
Modo 2, geração e produção de conhecimento ocorrem simultaneamente, o processo
experimental é guiado pelos princípios do design, os conhecimentos teórico e prático se
mesclam por meio de intenso processo de interação e retroalimentação.

2. PAPEL DA UNIVERSIDADE NO DESENVOLVIMENTO DO PROGRESSO


TECNOLÓGICO
2.1 A universidade no Sistema Nacional de Inovação

A visão sistêmica do processo de geração de inovações tem suas raízes na tradição


teórica neo-schumpeteriana, que enfatiza a importância da ação coordenada de
diferentes atores como universidades, empresas, instituições de pesquisa, instituições
financeiras, órgãos governamentais de políticas públicas para geração e difusão de
ciência, tecnologia e inovação.

As universidades são parte das estruturas educacionais científicas e técnicas e têm dois
importantes papéis:
a) ser o lugar onde cientistas e engenheiros obtêm seu treinamento formal; e
b) ser o lugar onde se tem grande concentração de pesquisa em disciplinas associadas ao
desenvolvimento de tecnologias.

Quando do estabelecimento da IUE, Garcia et al. (2011) destaca que a proximidade


geográfica entre a universidade e a empresa é importante. Os autores concluem que
parcela significativa deste tipo de interação ocorre em um mesmo espaço geográfico e
que a presença de grupos de pesquisa na mesma região, de atividades inovativas nas
empresas e de diversificação da estrutura produtiva local, são fatores que estimulam as
IUE, reforçando a importância da universidade na geração de conhecimentos e
inovações.

2.1.1 A universidade para o desenvolvimento

Nos países em desenvolvimento, os autores destacam, por exemplo, que as


universidades são vulneráveis a questões de privatização da educação superior, afetando
a qualidade da formação e a capacidade de mobiliza-las para os propósitos nacionais de
desenvolvimento. Além disso, a baixa demanda por conhecimento e competência por
parte do setor produtivo nestes países também gera uma retroalimentação negativa.

2.2 A universidade na perspectiva da Hélice Tripla

Segundo Dagnino (2003), a difusão do argumento deste modelo ocorreu devido a duas
correntes emergentes de análise originadas nos países desenvolvidos: (i) a Segunda
Revolução Acadêmica, que discute o novo papel da universidade ao assumir
compromisso com o desenvolvimento econômico, somando ao seu papel tradicional de
qualificação formal de recursos humanos e pesquisa básica; e (ii) a importância das
relações institucionais estabelecidas localmente para competitividade das firmas, o que
reforça o papel do enraizamento das instituições nas regiões onde se localizam,
destacando, assim, as universidades como organizações que podem beneficiar a sua
região, em razão de transbordamentos de conhecimento.

No Modelo III da HT a produção de conhecimento não é uma função restrita à esfera


acadêmica, e sim um processo compartilhado entre U-F-G; a geração de riquezas não é
função unicamente da esfera industrial, e sim promovida por meio da criação de
mecanismos que incorporam elementos da HT, e o controle normativo surge da
interação
entre as três esferas ao invés de uma função específica e restrita ao governo.

 Espaço de Conhecimento  envolve as competências relacionadas às funções


de produção, difusão e uso de conhecimento por parte dos componentes da HT.
 Espaço de Inovação  envolve as competências ligadas à função de geração de
riqueza por parte dos componentes da HT.
 Espaço de Consenso  envolve as competências relacionadas à função de
controle normativo.

Relações contemporâneas entre Universidades e Indústria:

a) interesses ligados à pesquisa básica, mas financiada por conselhos de pesquisa ou


outros órgãos similares;
b) projetos empresariais com contribuição acadêmica; e
c) programas de estudos com resultados aplicados ao conjunto de múltiplas fontes de
financiamento à pesquisa.

2.2.1 A universidade empreendedora*****


Nesta perspectiva, Clarck (1998) caracteriza como universidade empreendedora aquela
que, inserida de forma ativa numa lógica de negócio, busca inovar. Para tanto, são
promovidas mudanças organizacionais internas que visam aproximá-la de uma
postura mais aderente a novas tendências. Conforme este autor, a universidade
empreendedora tem por visão ser referência e protagonista de mudanças no
ambiente ao qual pertence.

De acordo com Urbano e Guerrero (2013), um aspecto caro à universidade


empreendedora é a promoção, em todos os níveis, da cultura do empreendedorismo.
Observam os autores que, no modelo de universidade empreendedora, acrescenta-se às
funções de ensino e pesquisa àquela do fomento interno ao empreendedorismo. Assim,
espera-se desta universidade uma postura diferente em relação à formação dos
estudantes, os quais não apenas sejam qualificados para ocupar vagas de emprego
vigentes no mercado de trabalho, mas sejam também capazes de criar novos empregos.

Incorporação de uma Orientação Empreendedora à missão da Universidade:

FATORES AMBIENTAIS:
 Formais: estrutura organizacional da universidade; a governança interna;
aparato que promova e suporte startups, incubadoras e centros de
desenvolvimento de inovação.
 Informais: atitudes da comunidade acadêmica em relação ao
empreendedorismo, existência de influenciadores (role models), premiações e
sistemas acadêmicos de recompensa monetários ou não.

FATORES INTERNOS:
 Empreendedores acadêmicos enquanto recursos humanos promotores de
educação para o empreendedorismo e geradores de inovações provenientes de
suas pesquisas; recursos financeiros provenientes de fontes diversificadas de
receitas para subsídio da atividade empreendedora e inovativa; recursos físicos
que acomodem a atividade inovativa e empreendedora.
 Como capacidades internas, os autores enfatizam, status e prestígio da
instituição acadêmica decorrentes de sua trajetória histórica; alianças e redes de
relacionamento (networks) que propiciem transdisciplinaridade e cooperação
entre organizações heterogêneas.

Fases para Desenvolvimento de uma Universidade Empreendedora:

 Fase 1: observa-se esforço para ganhar autonomia na definição e priorização de


objetivos estratégicos (Diversificação das fontes de financiamentos).
 Fase 2: caracteriza-se pela proatividade da instituição acadêmica na
comercialização da propriedade intelectual de invenções provenientes das
atividades dos pesquisadores, estudantes e corpo técnico (Capacidade de
transferência de tecnologia). Internamente, os grupos de pesquisa, sob
coordenação de pesquisadores, passam a atuar como quase firmas,
empreendendo esforços para obtenção de financiamento a pesquisas, porém sem
o objetivo de retorno financeiro.
 Fase 3: a instituição acadêmica assume papel ativo na região em que se encontra
inserida, compartilhando a liderança com o setor produtivo e governo.
Nesta discussão, ganha foco o papel controverso, segundo esta perspectiva, de
universidade pública, na adoção da dinâmica de mercado como norteadora da produção
acadêmica. Nesta visão, isto se configuraria na mercantilização dos objetivos de ensino
e de produção de conhecimento, e no estabelecimento de uma lógica operacional
pautada no critério de eficiência e de crença da superioridade das dinâmicas do mercado
em relação à autonomia universitária.

TEXTO 2 – Mudanças nas ciências diante do impacto da globalização (Vessuri, 2014)

O que se entende por globalização da ciência hoje?

Consiste em uma série de processos equivalentes nas relações desta com a sociedade.
Principais processos:

1. Intensidade da interconectividade, refletida no incremento dos movimentos de


artefatos e dispositivos físicos, científicos, símbolos e informações através do espaço e
do tempo.

2. Velocidade dos fluxos globais, com interações muito mais frequentes, regulares e
pautadas entre agentes independentes, nós de atividades ou sites ágeis de produção do
conhecimento.

3. Maior proximidade da tecnologia com a maior parte da ciência básica.

4. Papel central das tecnologias da informação.

5. Maior importância da pesquisa privada e maior proximidade entre instituições


públicas e privadas. A ciência está crescentemente atrelada ao lucro privado.

6. Pressão sobre os resultados da pesquisa do lado do usuário, como uma marca da


globalização dos negócios, o poder corporativo e as redes de produção global.

7. Comércio global, mercados globais e mudanças na posição dos países em


desenvolvimento na globalização econômica e em novas relações norte-sul, que
impactam o ambiente científico.

8. Padrões de mudança do financiamento da ciência, com uma proliferação de


organizações multinacionais e corporações transnacionais.

9. Crescente relevância dos problemas ambientais globais no cenário político, que


abrem espaço complexo às ciências sociais.

Clima de crises das ciências sociais na atualidade?

A evolução das dimensões organizacionais

Se no passado universidades eram o epítome do conhecimento, hoje competir com


outras instituições e grupos. não intelectuais institucionalizados e não-governamentais,
juntamente com o crescente número de intelectuais, na academia e nos setores
governamentais, constituem uma categoria não homogênea, com diferentes níveis de
prática alternativa.

No entanto, existem iniciativas, formas de organização e diferenças cognitivas, no


sentido de refletir e mudar a própria maneira de pensar e fazendo ciência, teorias,
suposições, metodologias, instituições, normas e incentivos, reconhecendo uma
variedade de diferentes formas cognitivas, para contribuir de forma mais eficaz para
enfrentar os difíceis desafios processos interdisciplinares e intersetoriais que enfrentam
sociedade humana.

Anotações da Aula

Universidade como centro de inovação e empreendedorismo  Apoio às empresas

***Inserção de Mestres e Doutores em Mercados Não-Acadêmicos. Como fazer?

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