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Imposto sobre a Circulação de no texto constitucional está prevista a base de cálculo do imposto como sendo o valor da
operação. E esse valor só poderá ser objeto de cobrança depois que o fato gerador ocorrer,
Mercadorias ICMS. Substituição
-
pois somente nesse momento é que se manifesta a capacidade econômica do contribuinte,
Tributáda. Base de Cálculo. Pauta Fiscal. conforme preceitua o princípio da capacidade contributiva ( l°do artigo 145 da CF/$8).
2.1.1.2 Essa regra geral de atribuição do poder de instituir o imposto sobre a ocorrência
Preço Máximo ao Consumidor. Diferença da operação de circulação de mercadoria é excepcionada pela CF188, que permite, por meio
Constante entre o Preço usualmente de uma regra específica, a ‘antecipação” do fito gerador para o momento inicial do ciclo
econômico de venda da mercadoria por meio do instituto da substituição tributária, assim
Praticado e o Preço Constante da previsto no artigo 150:
Pauta ou o Preço Máximo ao r A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributãria a condição de responsável
pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fruo getvdordet’a ocorrer postertormeute,
Consumidor Sugerido pelo Fabricante. assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize afato ge
a’ Exame de Constitucionalidade tzuIor presumido.’’
2.1.1.3 O fato gerador, que numa operação normal ocorreria somente no momento da
Humberto Ávila
saída da mercadoria do estabelecimento nas operações subseqüentes, passa a ocorrer no início
do ciclo econômico. Nesse caso de operação subseqüente, não é aplicável a regra ordinária,
1. A Consulta anteriormente referida, cuja hipótese de incidência consiste na prãtica de operação de cir
1.1 A Associação dos Distribuidores de Medicamentos do Es culação de mercadoria e cuja conseqüência é o dever de pagar o imposto sobre o valor da
e. operação já praticada. Em vez disso, aplica-se outra regrajurídica, expressaniente prevista,
tado do Rio Grande do Sul Adimers ingressou com ação decla
cuja hipótese consiste na ocorrência presumida de fato tributário futuro e cuja conseqüên
ratória contra o Estado do Rio Grande do Sul com a finalidade de
cia é o dever de recolher o imposto sobre o valor presumido da operação. A instituição de
declarar a ilegitimidade da utilização do preço máximo ao consu
a
uma regra específica que permite ouso da substituição afasta ponderações de princípios que
midor sugerido pelo fabricante PMC como critério de fixação da
conduzam à sua proibição por desnecessidade, como ocorre noutros sistemas em que seu uso
-

a base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias -

concreto é fundado na eficácia direta dos princípios constitucionais, Isso não quer dizer que
ICMS.

ir
seu uso seja ilimitado.
1.20 fundamento da ação está na comprovação de que os pre 2.1.1.4 Isso porque a CF/88 não permite um abandono total do fato gerador subseqüen
ços usualmente praticados para os medicamentos são comumente te, como se poderia apressadamente pensar. Ao contrário, na operação com substituição, o
muito inferiores ao valor de pauta, conforme demonstram pesqui legislador institui obrigação tributária “cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente”, de
sasjuntadas com a inicial. A diferença constante entre o preço real vendo assegurar a restituição da quantia paga, caso não se realize “o fato gerador presumi
e o preço pautado violaria as regras de competência para a insti do”. Isso significa que, embora seja escolhido um novo fato gerador (saída da mercadoria
tuição do ICMS e os princípios da capacidade contributiva e da na fase inicial do ciclo econômico), o ponto de referência para o dimensionamento da obri
Ris mberto tIrita proibição de confisco. gação tribuiária com substituição continua sendo o fato gerador que presumidamente vai
é Doutorem Direito e 1.3 Diante desse quadro. honra-me aAssociação dos Distribui ocorrerem fase subseqüente do ciclo econômico. Em outras palavras, a CFIS8 não autoriza
Certijïcah dc Estudos dores de Medicamentos do Estado do Rio Grande do Sul Adimers
-

o legislador a adotar qualquer base de cálculo para a obrigação com substituição, mas ape
em Metodologia da com a solicitação de um parecer que responda, primeiro, se a di nas aquela cuja grandeza corresponda ao fato que deva ocorrer posteriormente.
Ciê,tciu do Direito Íèrença entre o preço usualmente praticado no mercado e o valor 2. 1 .1.5 A substituição tributária para frente modifica o momento e o montante da ope
pela Unsi’ersidade de de pauta pode levar à inconstitucionalidade da cobrança do ICMS; ração normal: o momento porque substitui uma base conhecida (valor de venda real) por uma
M,uuque.lh’.vtre em segundo, quais são os requisitos que a legislação deve obedecer desconhecida, mas presumida (valorde venda futura); o montante porque substitui uma plu
Direito. Especialista para instituir o ICMS com base em pauta fiscal; e, terceiro, quais ralidade de valores (cada valor concreto de venda) por unia unidade de valor (o valor de
em Finanças pela são as conseqüências do uso de critério ilegítimo para a fixação da pauta). A pauta nada mais é, portanto, do que uma prévia unidade de valor das operações
UFROS, Professor de pauta fiscal. futuras. Como unidade na diversidade real de valores, necessariamente abrangerá casos em
Direito Tributário, que o valor real é menor que o da unidade, quanto casos em que o valor real é maior que o
Financeiro e 2. O Parecer da média.
Econômico da 2.1 Requisitos Constitucionais de Validade da Substituição 2. 1 1 .6 Não por outro motivo que o Supremo Tribunal Federal decidiu que o imposto
.

Faculdade dc Direito Tributária pode ser cobrado antecipadamente à ocorrência do fato gerador, como também deliberou que
da UFRGS e dos 2.1.1 Vmculanndade ele pode ser exigido com base no valor presumido de venda futura da mercadoria, sem que
Cursos de Mestrado e 2.1.1.1 Como a Constituição Federal de 1988 (adiante CF/88) haja dever de devolução ou complementação se houver discrepância entre o valor presumi
Doutorado da UFRGS estabelece como elemento material da hipótese de incidência as do e o real.’
e da UERJ. Advo,çodo 1 “operações relativas à circulação de mercadorias”, a base de cál
e Parecerista em culo do tributo, que o deve refletir, deve corresponder a uma gran Ação Direta de inconstitucionalidade n 1.551. supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, Relator Ministro limar
Porto ri legre. deza que represente essa operação. Daí se dizer que implicitamente Ga]vmo. Di 22.il.2tXJ2,
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2.11.7 Se é verdade que o Tribunal decidiu pela constitucionalidade do uso das pautas 2.1,2.1.4 Com permissão para o uso de uma metáfora, é como se a tributação, em vez
fiscais, também é verdade que ele nada decidiu sobre o seu conteúdo e os seus limites: ne de ser “sob medida” (tailorniade), fosse por “tamanho único” (mie sizeflts alI). Exatamen
nhuma pauta fiscal específica foi analisada; nenhum critério foi estabelecido; nenhum limi te por isso que a padronização deve pautar-se pela média dos casos. A peça de ‘tamanho
te foi questionado. Nem poderia ser diferente: ojulgamento foi proferido em controle con único” deve ser adequada para a maior parte das pessoas, ainda que ela fique pequena para
centrado de constitucionalidade, cujo objeto foi a análise da compatibilidade abstrata e em alguns e grande para outros, justamente porque o tamanho padrão deve servir para vestir a
tese da substituição tributária com a CF/88, sem que, para isso, o Tribunal precisasse, ou maioria, sem a necessidade de ajustes freqüentes pelo alfaiate. Um ‘tamanho único” que fi
mesmo pudesse, analisar questões individuais e concretas. O fato de oTribunal terdecidido que pequeno ou grande para a maioria das pessoas simplesmente não serve como tamanho
que o mecanismo da substituição tributária é em tese constitucional não afasta a possibili único: primeiro porque exige precisamente aquilo que o uso do padrão quer evitar o custo -

dade de ele ser aplicado de modo inconstitucional pelos Estados, especialmente pur meio excessivo do reajuste contínuo, por ser impossível ou extremamente oneroso; segundo por
de pautas fiscais que não preencham os requisitos a seguir especificados. que não corresponde ao tamanho médio real das pessoas.
2.1.2.1.5 Não por outro motivo que a doutrina aponta como requisito indispensável da
2.1.2 Generalidade padronização tributária, de que é exemplo a substituição tributária com base em pauta fis
2.1.2.] Introdução cal, ouso de pautas verdadeiramente médias:
2.1.2.1.1 As normas que permitem a substituição tributária fazem parte daquelas nor “O principio da igualdade da tributação de acordo como parágrafo primeiro do artigo 3° só está
mas com finalidade simplificadora ( Vereinfachungszst’ecknormen). Como a fiscalização de satisfeito quando a padronização apresenta resultados orientados para a realidade (wb*lichkeits
cada operação individual seria impossível ou extremamente difícil, a CFISS autoriza o le gerechie Eçç’eh,usse). Neste caso, orientado para a realidade não significa correspondência com
gislador a lançar mão de uma padronização (Pauschalierung). assim entendida aquela tri a realidade em cada caso individual (...), mas que o resultado deva ser compatít’el com a ir-ali
butação que desconsidera os dados concretos do caso e dimensiona os elementos da obriga dade na média dos casos tini Durchs chula der Fülle:. isto é. que possa abranger a realidade de
ção tributária com base em valores estimados por critérios dc verossimilhança (lYahrsche forma realista e generalizá-la. E’ necessário que a padronização seja baseada numa análise
médio, mima avaliação média, em saiotes médios. iva construção de padrouizaçr3es, o legisla-
inlichkeitsgesiclitpunkren).’ A operação com substituição proporciona, de um lado, um gan
cio?’ não porte escolher casos tu ípicos conio imagem de fitado. Ele dei’c orientar—se pela noiiia
ho em praticabilidade, na medida em que torna mais econômica e ágil a fiscalização; de outro, lidade, pela média e manter imia relação razoável cciii os encanos médios.”’
porém, provoca uma perda em justiça individual, já que a tributação não mais recai sobre a 2 1 2 1 6 Essas consideraçõcs signt{icam para o caso cm paut i que a padronização so
operação real, mas sobre a operação presumïda, podendo, com isso, dar ensejo, em alguns ejustificada quando mantcm adoção de razoabilidade com a mcdii dos cisos alcançados
casos, a uma discrepância entre o presumido e o efetivamente ocorrido. pela tributação Não o i izundo a padronização perde suajustificaçio constitucional que c
2.1.2.1.2 Essa discrepância, todavia, não retira o valor da operação com substituição. Isso servir de instrumento pir ii realização da igualdade geral por meto da correspondcneta com
porque enquanto a operação normal, cujo fato gerador é uma operação já ocorrida e a base os elementos concretos m inifesiados pcla media das operações efettsamente praticadas
de calculo o seu valor funda se na justiça individual em razão de o legislador avalnr as 2 1 2 1 70 importante c notar que no caso de operações que envolem padronizaçio
particularidades concretas da situ’ição re ri a operação com substituição baseia se najuvtr o legislador não se afasta do principio da igualdade Ao contrano ele usa i padronização
ça geral porque o legislador opta por desconsiderar o caso quere ilmente ocorre em favor justamente pan alcançar i mitor parte dos contribuintes na pressuposiçio de que assim
da consideração daquele que normalmente ocorre procedendo produziri mais igualdade do que produziria um sistema deficiente de verifica
2 1 2 1 3 Quando porem o legislador opta por enfatizar ajustiçi geral obriga se com ção individual da capactdadc do contribuinte
isso a considerar o caso padrão (Nonnalfall) assim entendido iquele que reflita concreta 2 1 2 1 8 Com efeito as Lis tributartis podem ter varias finaltdides repii tir equanimente
mente a media dos casos reais Isso porquc na tributação padronizada não se abandona a

-s carga tributaria atingir uma Íinalidade economica ou social ou stmpliítc-tr a trreeadação


realização do princípio da igualdade, tão-só se modifica o seu espectro de concretização; Essas finalidades podem and ii juntas mas nio necesnriamente O legislador podc tnstttuir
enquanto na tributação não orientada por finalidade simplificadora privilegia-se a realiza o imposto de renda com a finalid ide de obter receita repartindo igualmente a caiga tributa
ção da igualdade individual por meio da valorização da capacidade contributiva concreta de rti entre os contribuintes quc tierem mesma capacidade contributiva vertfic ida individual
um caso, na tributação padronizada opta-se pela efetivação da igualdade geral mediante con mentc O legislidor tambcm pode instituir o imposto dc renda com o propostto de fotnent’tr
sideração de elementos presumidamente presentes na maior parte dos casos.5 Em outras o desenvolvimento de uma região, em virtude do que a realização dessa finalidadejustifica
palavras, a padronização, em vez de meio de abandono do princípio da capacidade contri rá o afastamento do princípio da igualdade dc acordo com o critério da capacidade contri
butiva, é instrumento para sua concretização na maioria dos casos. A simplificação e a eco butiva. O legislador pode, por fim, instituir o imposto de renda com a finalidade de facilitar
nomia de gastos são causas eficientes e conseqüências desejadas, mas o fim é a realização a arrecadação, cm razão do que, em vez de analisara situação individual dc cada contribuinte
eficiente da igualdade geral. Em vez de encontrar a capacidade concreta para contribuintes para verificar a sua capacidade contributiva particular, usa padrões dc isenção e de despesas
particulares em condições particulares, são criadas regras que ceneralizam uma classe de dedutíveis. Esses padrões isto é decisivo - são utilizados para representar a média das ope
-

contribuintes numa classe de condições7 rações praticadas pelos contribuintes. E representar a média dos casos é tratar os casos con
forme o princípio da igualdade geral. Assim a doutrina:
JARZYK-DEHNE. Fricderike. Pa:isc)iuliero,,çeii lei Sicuerrei li;. Bebo: Duncker uM Humbiei, 2003, p. 31
JARZYK-DEHNE. Fdededke. Pausciiulkru’içeo 110 Sieuerrecht Bebo: Dunckcr uM Humbiei. 2003. p. 36.
“Assim, quando as leis diferenciam fortemente e são, por isso, tão complicadas que não podem
is EN 5 EE. Josci, Die vpiesierende Vcnralhuiç, Geseize.srutlzus’ mi Massenie,ftih leu cliii Bels;iiel der 7 piski eu— ser individualmente seguidas nem pelos sujeitos passivos nem pelas autoridades fazendárias e
de, BeiracI;i,oçnrei.ve dcx Steuerer h;.ç, 1k rim 0mw Iw r uM 11 nublei. i 976. p. i 67.
JARZYK-DEHNE. Friederike, Paiixchalieruoçcu luz Sreiicrrecht. Beijo: Duoekcr und Hurnhioi, 2003, p. i53.
ScHAUER. Fredeàck, PriUlies, Embubitities and Siereonpes. Beioap: carnbridge. 2c’3. p. 70. JARZYK-DEHNE. Fdcdedkc. Paiischutleronçeu luz Steuerrechi. Bebo: Duncker md Huinbioi. 2003. p. i55.
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podem ser transpostas, a justiça individual (EinzeVallge;tchtigkeit) pretendida finalmente não fins. São os fins, cuja realização é tornada devida pela positivação de princípios, que podem
efetua a própria igualdade da carga tributária. Elas não são, como ensina a experiéncia, igual ser realizados cm maior ou menor grau. Mas se assim é, o dever de eficiência vai estabele
mente aplicadas. A norma com finalidade simpliflcadora serve, por isso, simuhaneamente ao fim cer o grau de realização de fins, cuja concretizaçãoscja devida pcloestahelecirnento dc prin
de garantir a igualdade da carga no processo massflcado de tributação.’’ cípios, dentro do âmbito de poder atribuido por regras. Por exemplo, o dever de eficiência
2.12,1.9 Isso tudo para dizer, enfim, que a pachonização, em vez de se oporá igualda não determina a realização eficiente da regra de competência para a instituição do imposto
de, serve de i,tstnunenro para sua realização geraL Sendo assim, as normas com finalidade sobre a renda; o dever de eficiência, em vez disso, prescreve a realização eficiente da igual
simplificadora não podem se afastar da igualdade; devem servir de meio para realizá-la na dade no âmbito de poder atribuído pela regra de competência para a instituição do imposto
maior parte dos casos. sobre a renda. Dito de outro modo: o dever de eficiência estabelece a realização da igualda
2.1.2.1.10 A conclusão anterior não é alterada pela consideração do denominado prin de na renda, da capacidade contributiva na renda, e assim sucessivamente. Pode-se, com isso,
cipio da eficiência administrativa, previsto no artigo 37 da CF/88. Para alguns, o denomina afirmar que o dever de eficiência calibra a realização dos princípios tributários no âmbito
do princípio da eficiência poderia ser usado como justificativa para afastar dos princípios de poder atribuído pelas regras de competência. Nunca fora dele.
tributários, especialmente o da igualdade e o da capacidade contributiva no seu aspecto ob 2±2,1.14 Essas conclusões ïnviahilizam a tese segundo a qual o denominado princípio
jetivo. Isso, porém, não ocorre, pelos seguintes motivos. da eficiência administrativa justificaria a criação de ficções ou presunções fora do poder atri
2.1.2,1.11 Em primeiro luga; porque a eficiência administrativa não é propriamente um buido pelas regras de competência. O dever de eficiência não cria poder inexistente nem
princípiojurídico, na medida em que não estabelece um estado autônomo de coisas que deva amplia poder existente; ele apenas estrutura a aplicação dos princípios tributários dentro do
ser realizado. A eficiência não estabelece algo objeto de realização. Ela prescreve, em vez âmbito de poder atribuído pelas regras. Sendo assim, os entes federados não podem, em nome
disso, o modo de rcalïzação de outros objetos. “A eficiência é muito mais um instrumento da eficiência, supor a existência de renda onde ela não estiver comprovada; conjeturar a exis
para atingir outros fins sociais”, como afirma Mathis.9 Nesse sentido, ela não é uma noma tência de venda de mercadoria nos casos em que ela não for verificada, e assim sucessiva-
que funciona como objeto direto de aplicação, mas uma norma que funciona como critério mente.
(á’ de aplicação dc outras. A eficiência é, pois, uma metanonua ou norma de segundo grau)° 2.1.2.1.15 Sendo a padronização um instrumento de garantia da igualdade geral, essa
Sozinha, ela sequer tem sentido, pois depende sempre dc um objeto cuja aplicação irá pau só se justifica constitucionalmente se servir de meio para a promoção satisfatória da igual
tar. Com efeito, como modo de aplicação de outras normas, a eficiência atua sobre a reali dade para a maior pane dos casos, o que pode ser averiguado pela análise do nível de desi
zação de outras: são as finalidades administrativas constitucionalmente impostas que devem gualdades que ela provoca, de acordo com os seguintes critérios,

I:tI f
ser realizadas de modo eficiente. Por exemplo, a igualdade deve ser realizada com eficiên
cia; a capacidade contributiva deve ser eficientemente perseguïda, e assim por diante. Pode- 2.1.2.2 Critério da extensão e intensidade tia desigualdade
se afirmar, com essas brevíssimas considerações. que a eficiência estabelece um grau míni 2.1.2.2.1 Para que a obrigação tributária da substituição promova satisfatoriamente a
mo de realização dos princípios constitucionais: eles deverão ser realizados com eficiência, igualdade geral, a sua base de cálculo deve corresponder à generalidade dos casos.
‘tu isto é, realizados ao máximo ou de modo minimamente satïsfatório, pouco importa aqui.
2.1.2.1.12 A constatação dc que a eficiência é uma norma que estabelece um determi
2.1.2.2.2 A correspondência com a generalidade dos casos só existe se a desigualdade
resultante do uso da padronização não for contínua nem considerável: se for contínua, o
nado nível de realização de outras conduz a algumas conclusões importantes. Primeira: o padrão deixa de refletir a média dos casos no tempo; se for considerável, o padrão afasta-se
ia dever de eficiência não cria poder, mas calibra o exercício de um poderjá previamente con em demasia da média. Assim a doutrina.
cedido. Nem poderia ser diferente: se a CF/88 se caracteriza por atribuir poder aos entes “Isso também significa que somente as desigualdades insignificantes ou bem insignificantes são
federados por meio de regras de competência, o dever de eficiência não as poderia contra justificáveis; só pode ser aceito aquele prejuízo insignificante ou aquela desigualdade que não
dizer, criando poder que elas não criaram. Entender de modo diferente seria negar a técnica seja nem duradoura nem considerável.”’
de atribuição de poder escolhida pela CF/8S. Essa conclusão não seria alterada se a eficiên 2.1.2.2.3 Para o imposto sobre circulação de mercadorias, isso significa que a substitui
cia fosse entendida como um princípio materïal autônomo, já que os princípios, no sistema ção tributária não pode funcionar comojustificativa para o afastamento da igualdade; deve
constitucionalmente adotado, não têm o condão de criar poder sobre fatos não descótos em servir de meio para realizá-la na maior parte dos casos. Assim a doutrina.
iui regras de competência) “Por isso deve uma pa’scrição tqnficante ou padronizante corresponder à mais a;nplafttára de
2.1.2.1.13 Segunda: o dever de eficiência não condiciona o poder prevtsto nas regras de casos, realisticaprtente representadora da gmnde massa. Com isso, a compreensão do maior
competência, mas o grau dc realização dos princípios dentro do poder criado pelas regras. grupo possível de atingidos e o prtUtrizo de rui’ grupo pmpowionalmente pequeno são pressu
Com efeito, as regras de competência para a criação de impostos descrevem fatos cuja ocor postos para que a generalização procedida pelo legislador não seja constitucionalmente repara
dat’
rência coincidente com a previsão legal gera o dever de pagá-los. A aplicação das regras de
4 2.1.2.2.4 E realizar a igualdade na maior parte dos casos é tratar os contribuintes ven
competência se dá mediante uma operação de correspondência entre o conceito do fato con
dedores de mercadorias naquilo mesmo que os une: a venda de mercadorias. E tratá-los iso
creto e o conceito do fato legalmente descrito, sem a consideração do grau de realização de
nomicamente na venda de mercadorias é usar uma base de cálculo que reflita o seu valor de

VOGT. Jurgen. Nega vi/tão and Leistungsúílugkeir. Fmnifun aia Main: Petcr Laug. 2003. p 69.
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venda na maior parte dos casos. Uma pauta fiscal que não reflete o valor real médio de ven discrepância não pode atingir um número muito grande de casos, pois, nessa hipótese, em
da das mercadorias viola o princípio constitucional da igualdade. vez de ela ser uma conseqüência negativa acidental da padronização, será sua conseqüência
2.1.2.2.5 Uma pauta fiscal quc não reflete o valor real médio ainda implica a realização direta, descaracterizando a própria padronização.22
irrazoável da igualdade. Com efeito, nenhuma norma pode ser aplicada sem obedecer ao
postulado da razoabilidade. Esse postulado exige, em primeiro lugar, harmonização das 2.1.2.4 Critério da qualidade da desigualdade
normas com as suas condições externas de aplicação. Nessa hipótese, a razoabilidade exi 2.1.2.4.1 A correspondência com a generalidade dos casos só se verifica se a padroni
ge uma causa real justificante para a adoção de qualquer medida)3 O Supremo Tribunal zação provocar efeitos de natureza acessória ou secundária relativamente aos direitos fun
Federal considerou irrazoáveis várias leis: aquela que instituiu um adicional de férias de um damentais, assim considerados aqueles efeitos que causam desigualdade rara e não previsí
terço para os inativos, por tratar-se de vantagem destituída de causa, já que só deve ter adi vel pelo legislador.23
cional de férias quem tem férias;’5 aquela que determinou que os estabelecimentos de ensi 2.1.2.4.2 A desigualdade causada pela padronização pode atingir tanto os direitos fun
no expedissem certificados de conclusão do curso e histórico escolar aos alunos que haviam damentais de igualdade quanto os de liberdade, dentre os quais está a liberdade de trabalho
passado no vestibular, mesmo que eles não tivessem sequer freqüentado o curso;’6 aquela e de concorrência. A padronização será compatível com os dïreitos de igualdade se tratar com
que determinou que o pagamento dos servidores do Estado fosse feito até o décimo dia útil, a mesma regra a mesma situação. Haverá violação, portanto, se o legislador aplicar a mes
por remunerar serviços que ainda não tinham sïdo sequer prestados.’7 Em segundo lugar, a ma base de cálculo para situações diversas. A padronização será compatível com os direitos
razoabilidade exige uma relação de congruência entre o fundamento para a diferenciação de liberdade se for neutra com relação às atividades exercidas, considerando-se neutra aquela
entre sujeitos e a norma que estabelece a diferenciação. O Supremo Tribunal Federal consi regulação que leve em consideração de modo satisfatório diferenças estruturais entre os
derou irrazoáveis as seguintes leis: a lei que aumentou o prazo para interposição de ação grupos profissionais atingidos.3 Haverá violação, por conseguinte, se o legislador, ao usar
rescisória somente para o Poder Público, por não existir nenhuma diferença real que autori a mesma base de cálculo para contribuintes diferentes, provocar efeitos negativos relativa
zasse a distinção;” e a lei que contava em dobro o prazo de aposentadoria somente para os mente aos bensjurídicos essenciais para o exercício livre da profissão ou da concorrência.
secretários de Estado, por não existir qualquer particularidade que justificasse a diferencia 2.1.2.4.3 Essencial para o livre exercício da concorrência é o livre exercício da autono
ção.’ mia privada, que, por sua vez, protege a livre fixação de preços (freie Preisbildung).25 A li
2.1.2.2.6 As exigências decorrentes da razoabilidade repercutem sobre o caso ora exa berdade de empresa envolve a liberdade de tomar decisões e competir num mercado livre,
minado, pois impedem que a pauta fiscal contradiga a realidade que visa a medianamente especialmente pela fixação de uma política ou estratégia comercial, intimamente relaciona
refletir. da com a liberdade de preços.26
2,1.2.4.4 A discrepância entre o valor de pauta e o valor efetivo de venda provoca duas
2,1.2.3 Critério do númem de atingidos pela desigualdade distorções que afetam, precisamente, a liberdade de exercício de atividade econômica e de
2.1.2.3.1 A correspondência com a generalidade dos casos só existe se a desigualdade concorrência. A primeira é igualar a venda de medicamento com preço baixo à venda de
resultante do uso da padronização não atingir um número expressivo de contribuintes. Se isso medicamento com preço alto, tratando grupos de sujeitos passivos em situações diferentes
ocorrer, o legislador terá desnaturado a padronização pela escolha de um caso atípico como com a mesma regra, o que viola o princípio da igualdade, pela instituição de gravame maior
modelo (einen a’pischen Fali aIs Leirbild gewühlt).2° sobre situação objetiva que revela potencial econômico menor Assim a doutrina:
2.1.2.3.2 Sintoma deque os contribuintes não estão sendo tratados igualmente na ven “Para garantir uma vista como neutra do ponto de vista da concorrência tributação isonômi
. -

da de mercadorias é o uso de uma base de cálculo que não reflete o seu valor de venda para ca das empresas, duas empresas, que se encontram na mesma situação econõmica, devem su
um grupo proporcionalmente grande dos vendedores de mercadorias. Para uma padroniza portar a mesma carga tribotária. Como indicador para a mesma situação econômica de duas
empresas é aplicado o mesmo nível de lucm.”2’
ção compatível com o princípio da igualdade, “o prejuízo também não pode atingir um gran
de número”.2’ Isso não quer dizer que não possa haver discrepância entre o valor presumido ‘Assim, uma lei tdbutária pode ficar em contradição com o artigo 3° da Lei Fundamental (prin
da operação e o seu valor efetivo em algumas operações. Quer dizer, em vez disso, que essa cípio da igualdade) quando grupos inteiros de sujeito.s Passivos são onerados de modo esse!?
cio! e «tais forte que outros, e, co!It isso, esses grupos caem em uma sensível e desfavorável si
nto ção de concorrência.”26


GALLIGAN. Dettis Jatoes, Discre:iooon !‘ower.v, Oxford: Clareodon, 1986. p. 321.
‘° Ação Direta de Inconstitucionalidade Medida Liminar o’ l.558-8-AM, Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno,
-

Relator Ministro celso de MeIlo, Di 26.5.1995. ISENSEE, iosef, Die Tvpiesierettde Verroit,,og. Gexetzesvoifrug lo Masxetveifiihrei, ao, Beixpiel der nyisie’en—
°
Ação Direta de Inconstitucionalidade o’ 2.667-DF, Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, Medida Cautelar, deit Barachzimçxreise dcx Steoerechtx, Berlin: Duncker uod Humblot. 1976, p. 167.
27
Relator Ministro Celso de Mello, Di 19,62002. HU5TER, Stefao, Redue mui Ziele, Zur Dogzttcuik des Aligemeine,, GieicI,I,eitsscuzes. Berlin: Dutscker uod Hum—
Ação Direta de lnconstituciooalidade o’ 247-Ri, Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, Relator Mioistro lImar hlos, 1993, p. 295.
Galvão, Di 17.6,2002, HUSTER, Sterao. Rechre und Ziele, ia Dogmotik dcx Aligeomeiitett Gleichhehssoizes, Berlio: Duttcker und Rum
Ação Direta de Inconstitucionalidade o’ 1.753-2, Supretno Tribunal Federal, Tribunal Pleno, Relator Ministro Se hIos, 1993, p. 288.
13
púlveda Pertence, Di 12.6.1998. STOt3 ER, Rol f. A ugcnteines Winschaftsrenrottt,,tgsrecht, Grundletgest ,o,d i’riodpien. Wirtschoftss’erftixsttngsre—
‘° Ação Direta de Inconstitucionalidade Medida Liminar o’ 489, Supretno Tribunal Federal, Tributial Pleno, Relator
-
eh!, 12’ cd. Ssultgart: Kohlhammer, 2000, p. 57.
16
Ministro Sepúlveda Penence, Di 22.11.1991. ORTIZ, Gaspar Ariflo, Princípios Co,tssieucio,,oks de la Uherdod de Litipresa: Líberdad de Comercio e Inten’encio
HUSTER, Stefao. Rechre ttnd Ziete, Zur Dogmotik dcx altgemeine;t Gteich!,eitssarzes. Berlin: Duncker und Huto ,tisou) Adn,i,sis:roiis’o, Madrid: Marcial Pons, 1995, p. 89.
27
hlot, 1993, p. 275. MAITERTH, Ralí Wetthewerbs,,e,,rrolittit der Be.steuenmg. Bielereld: Erictt Scltmids, 200!, p. 87.
JARZYK-DEHNE, Friederike. Pauschatieoutgett im S:eoerrechz. Relia: Duncker u,td Humhlot, 2003, p. 154. V0GT, iürgett. fqe,,,raliejjt tmd Leis:ongsftulugkeir. Frankfun atn Maio: Peter Laog, 2003, p. 76.
130 Revista Dialética de Direito Tributário n2 123 Revista Dialética de Direito Tributário n°123 131

2.1.2.4.5 A segunda distorção é forçar o preço relativo das mercadorias para cima, na b) usar uma base de cálculo que reflita o valorde venda das mercadorias para um gru
medida em que a venda de medicamentos com preços superiores e maior margem de lucro po proporcionaltnente grande dos vendedores, sendo permitidas discrepâncias aciden
suportarão a mesmacarga tributúria daqueles que têm preços inferiores e uma margem muito tais entre o valor presumido e o real, que não atinjam um número muito grande de ca
menor de lucro. Assim a doutrina: sos:
Neutraltdide da concorrLncta para o imposto sobre vendas significa que todos os produtos se e) usar a mesma base de cálculo para situações substancialmente iguais e for neutra
jam igualmente onerados, de modo que o preço relativo do pmdtao mantenha-se iialterado.”° com relação às atividades exercidas, considerando-se neutra quando leve em conside
2.1,2.4.6 Ao usar uma pauta fiscal acima da média, o legislador deixa de ser neutro com ração diferenças estruturais entre os grupos profissionais atingidos.
relação à concorrência para passar a influenciá-la negativamente, em flagrante violação ao 2.1.1.3 Esses limites gerais da padronização e específicos da substituição tributária para
princípio da livre concorrência. frente limitam a atividade do legislador infraconstitucional. As normas infraconstitucionais
não podem. de modo algum, ultrapassar esses ]imites. Isso significa, por exemplo, que a base
2. 1. 3 Nc7o-excessividade da base de cálculo de cálculo da substituição escolhida pelo legislador infraconstitucional, ainda que comple
2.1.3.1 Independentemente da extensão e do número de atingidos, a padronização não mentar, sé pode ser levada em consideração quando compatível com esses limites constitu
justifica qu°tlquvr tipo de rcstrtção -a restrição não podcra ser excessiva a ninhum diteito cionais.
fundamental, sob pena de inconstitucionalidade, por confisco)°
2.1.3,2 Haverá restrição excessiva ao direito fundamental de igualdade quando a desi 2.2 Requisites Infraconstitucionais de Validade da Substituição Tributária
gualdade atingir uma pessoa específica ou grupo especifico e restrição excessiva ao direito 2,2.1 .4 Lei Complementar n°87/96
fundamental de liberdade quando o legislador não considera diferenças essenciais entre as 2.2.1.1 A CF/88 reserva à lei complementar, por meio inciso III do artigo 146, em ge
atividades.’ ral, e do § 2° do artigo 155, em especial, a tarefa de “disciplinar a substituição tributária”.
2.1.3.3 Isso significa, para ocaso em discussão, que a pauta até pode corresponder à 2.2.1.2 A Lei Complementar n°87/96 regula a substituição da seguinte forma:
média dos preços praticados no mercado, mas não poderá ser aplicada, em alguns casos, se “Art, 8°A base de cãlculo, para fins de substituição tributária, será: (...)
houxer uma discrepanci s tão grande entre o preço de pauta e o efetivo que tirmine porto II - em relação às operações ou prestações subseqüentes, obtida pelo somatório das parcelas
lher cercear ou dificultar o pleno exercicio dos direitos b tstcos conferidos ao cidadão Isso seguintes:
ocorre, por exemplo, quando o preço do pauta é o dobro do preço efetivo. a) o valorda operação ou prestação própria realizada pelo substituto tributário ou pelo substitufdo
intermediário;
2.1.1 Sinopse o montante das valores de seguro, de frete e de outros encargos cobrados ou transferíveis aos
adquirentes ou tomadores dc serviço:
2. 1.4.1 As considerações precedentes demonstram, de um lado, que a padronização fis
c) a margem de valor agregado, inclusive lucro, relativa às operacães ou prestações subseqüen
cal só pode ser considerada constitucional em geral se: tes, (...)
a) a base de cálculo para a obrigação com substituição corresponder à base de cálculo § 2°Tratando-se de mercadoria ou serviço cujo preço final a consumidor, único ou máximo, seja
do fato que deva ocorrer posteriormente; fixado por órgão público competente, a base de cálculo do imposto, para fins de substituição
b) a padronização for instrumento para a realização da igualdade geral, devendo cor tributária, é o referido preço por ele estabelecido,
responder aos elementos concretos manifestados pela média das operações efetivamen § 3° Existindo preço final a consumidor sugerido pelo fabricante ou importador, poderá a lei
te praticadas; estabelecer como base de cálculo este preço.
c) a padronização promove satisfatoriamente a igualdade geral, o que só se verifica § 4° Á margem a que se refere a alínea e do inciso lido caput será estabelecida com base em
quando provoca efeito desigual de diminuta extensão (a desigualdade não é contínua preços usuabnc,tre ‘;micados 7w me irado considerado, obtidos por levantamento, ainda que por
nem considerável entre os contribuintes), alcance (a desigualdade não atinge um nú amostragem ou através de informações e oulros elementos fornecidos por entidades representa
mero expressivo de contribuintes) e qualidade (a desigualdade não provoca efeito de tivas dos respectivos setores, adotando-se a média ponderada dos preços coletados, devendo os
natureza direta, mas secundária relativamente aos direitos fundamentais de igualdade critérios pai-a sua fixação ser previstos ciii lei.
e liberdade). § 5” O imposto a ser pago por substituição tdbutária, na hipótese do inciso li do caput, corres
ponderá h diferença entre o valor resultante da aplicação da’ -alíquota prevista para as operações
2.1.4.2 De outro lado, as considerações anteriores indicam que a substituição tributária,
ou prestações internas do Estado de destino sobre a respectiva base de cálculo e o valordo im
no caso do ICMS, só pode ser considerada constitucional se: posto devido pela operação ou prestação própria do substituto,
a) tratar os contribuintes vendedores de mercadorias igualmente na venda de merca
§ 6° Em substituição ao disposto no inciso II do caput, a base de cálculo em relação às opera
dorias, assim considerado o uso de uma base de cálculo que reflita o seu valor de ven ções ou prestações subseqüentes poderá ser o preço a consumidor final as,,al,,,e,,te praticado
da na maior pane dos casos; no ,,terr-ad, considerado, relativamente ao serviço, à mercadoria ou sua similar. eia condições
de livre concona2ncia, adotando-se para sua apuração as regras estabelecidas no § 4” deste arti
29
MAITERTH, Ralt’. lveuhewerhs,iejarnljrjir der Bestetwroog. Bieiefeld: Ericti Schmidt, 2001. p. 96.
AvILA, Huitibeno. “conteúdo. Limites e Intensidade dos Controles de Razoabilidade, de Proporcionalidade e de 2.2.1.3 A referida lei determina que a base de cálculo “será” obtida pela soma dos se
Excessividade das Leis”, Rei’isai de Direito Adotüt1srrarivo C 236:369-384, Rio de Jasieiro: Renovar, 2004, guintes valores: valor da operação ou prestação própria realizada pelo substituto tributário
II USTER, Stefan. Rechie u,tt Zk’te. 1w Dogmutik des Allgr’oieineo Gtekliheiissotzes, Berlin: Duncker utid Hum ou pelo substituído intermediário; valor do montante dos valores de seguro, de frete e de
h!ot, 1993, pp. 277 e 288.
Rt’curso Extraordinário o’ 18.976. Supremo Tribunal Federal. 1’ Turma. Relator Ministro Barras Barras. ,4D1 outros encargos; e valor da margem de valor agregado, inclusive lucro, relativa às operações
261 1.1952. p. 13.653. p. IS do acúrdao, que se refere à decisão reconida. ou prestações subseqüentes, essa medida com base em “preços usualmente praticados no
r

132 Revista Dialética de Direito Tributário 0u 123 Revista Dialética de Direito Tributário n 123 133

mercado considerado”, obtidos por levantamento, ainda que por amostragem ou através de a) o preço floal a consumidor, único ou máximo, fixado por órgão público competente, para a
informações e outros elementos h)rnecidos por entidades representativas dos respectivos praça do estabelecimento destinatário;
setores, adotando-se a média ponderada dos preços coletados, devendo os critérios para sua 1,) ioexistindo o preço a que se refere a alínea anterior e havendo preço final a consumidor si,
gerido pelo fiibi’icaitte ou importador desde que comnpoth’cl como o mercado, a base de cálculo,
firação ser previstos em lei ordinária dos Estados. Essa é a base de cálculo do ICMS no caso
nas hipóteses previstas em regulamento, será este preço para a praça do estabelecimento desti
e de substituição, especialmente porque, sendo baseada em média ponderada, reflete a média natário;
dos preços (los consuntidores finais usualmente praticados no mercado considerado, c) oao havendo os preços referidos nas alíneas anteriores, a base de cálculo será o valor obtido
2.2.1.4 Paralelamente, existindo preço final aconsurnidor sugerido pelo fabricante, ‘po pelo somatório das parcelas a seguir indicadas:
derá” a lei estabelecer como base de cálculo este preço. A locução “poderá”, em vez de ‘será” - o valor da operação própria realizada pelo substituto tributário ou, se assim dispuser o regu
ou “é”. não é despropositada: a lei usa “será” ou ‘é” para os casos em que não pode haver lamento, pelo substituido intermediário:
preço diverso, tanto no caso da regra geral (preços usualmente praticados) quanto para os 2 o montante dos valores de seguro, frete e de outros encargos cobrados ou transferiveis aos
-

casos da regra especial (preços ljxados por órgão público competente); a lei usa, de outro adquirentes;
lado. ‘poderá” para indicar um valor que não é obrigatório e que até pode ser usado, se e 3 a margem de valor agregado, inclusive lucro, relativo às operações subseqüentes;
-

enquanto refletir o valor de venda das mercadorias na maior parte dos casos, sem discre
IV nas saidas de mercadorias constantes de acordo celebrado com outras unidades da Federa
pâncias regulares entre o valor presumido e o real para um número muito grande de casos, -

ção. especificadas em regulamento. nos lermos do respectivo acordo;


Se isso ocorrer, a utilização do preço final sugerido pelo fabricante, embora em tese permi
2° Nas operações e prestações previstas nos incisos do caput’, a base de cálculo para o débito
tida, será concretamente incompatível com a CF/88. de responsabilidade relativo às operações ou prestações subseqüentes poderá ser o preço a con
2.2.1.5 Isso significa que o legislador estadual não está livre paraescolherentre o preço sumidor final usualmente praticado no mercado considerado, relativamente ao serviço, à mer
usualmente praticado no mercado considerado “e” o preço sugerido pelo fabricante. Ele está cadoria ou sua similar, em condições de livre concorrência, adotando-se para a sua apuração as
adstrito ao preço usualmente praticado, conforme critérios estabelecidos em lei (não em re regras estabelecidas no art. 35.
gulamento, portanto), podendo eis a expressão legal usar o preço sugerido pelo fabrican
- -
Ati. 35. A margem a que se refere o art. 34, 1, ‘e’, 3, será estabelecida em regulamento, com base
5
te, se ele corresponder ao preço usualmente considerado, pois, do contrário, sua utilização em preços usualmente praticados no mercado considerado, obtidos por levantamento efetuado
seria incompatível com a CF/88. pela Fiscalização de Tributos Estaduais em estabelecimentos situados, no mínimo, nos lO (dez)
2.2.1,6 E preciso notar, por fim, que a Lei Complementar n°87/96, ao estabelecer como municípios do Estado que tenham maior índice de participação na receita do imposto.

1 regra geral para a base de cálculo da operação com substituição os preços usualmente prati
cados no mercado considerado, atribuiu à autoridade fiscal a incumbência de levantar esses
§ 1” Para os efeitos do disposto no ‘eapul’ deste artigo:
a) deverão ser pesquisados, em cada município, no mínimo, l09 (dez por cento) dos estabele
cimentos do setor, desde que para obter esse percentual não tenha que ser pesquisado mais do
valores por amostragem ou através de informações e outros elementos fornecidos por enti
que lO (dez) estabelecimentos;
dades representativas dos respectivos setores. Ao fazélo, atribuiu à autoridade fiscal o õnus h) será adotada a média ponderada dos preços coletados;
de comprovar a compatibilidade dos valores de pauta com a média ponderada dos preços c) no levantamento de preço praticado pelo substituto ou substituido intertnediádo, serão con
usualmente praticados no mercado.” Em outras palavras, isso significa que não é o contri sideradas as parcelas deque trata o art. 31, 1. ‘e’. 1 e 2.
buinte que deve provar que os valores de pauta não correspondem à média dos preços usual § 2° Em suhslituição ao disposto no ‘eapul. a crilério da Fiscalização de Tributos Estaduais, a
mente praLicadus no mercado: é a autoridade fiscal que deve fazê-lo, inclusive colocando à margem poderá ser estabelecida com base em:
disposição do contribuinte e do Poder Judiciário todos os elementos que comprovem o le a) levantamenlo de preços efetuado por órgão oficial de pesquisa de preços, mesmo que não
vantamento de preços e a obtenção da média ponderada, conforme dos critérios estabeleci específico para os íns previstos neste artigo:
dos em lei. Não hasta, portanto. que a autoridade simplesmente afirme que os valores de pauta h) informações e outros elementos fornecidos por entidades representativas dos respectivos se
correspondem à média ou que o preço máximo ao consumidor sugerido pelo estabelecimento tores, quando de acordo com os preços efttivamente praticados.”
industrial não é inferior ao praticado no mercado. A autoridade precisajuntar provas demons 2.2.2.2 A legislação acima referida exige, claramente, que o valor de pauta na substitui
trando isso, pois a Lei Complementar atribuiu a ela essa obrigação. ção tributária seja o preço usualmente praticado no mercado, salvo se houver preço final a
consumidor sugerido pelo fabricante ou importador, desde que ele seja estas as felizes pa
-

2.2.2 Legislação Estadual lavras da lei “compatível com o mercado”. Vale dizer, demonstrada a incompatibilidade do
-

2.2.2.1 No Estado do Rio Grande do Sul, a substituição tributária está prevista na Lei preço sugerido pelo fabricante com a regra geral preço usualmente praticado no mercado
-

Estadual n°8.820/89, com as alterações produzidas pela Lei n° 11.247/98, da seguinte for- considerado-, a regra aplicável, segundo a lei, só pode ser a geral.
m a: 2.2.2.3 Note-se, por fim, que a Lei Estadual prevê, no caso de saídas de mercadorias
“Art. 34.0 débito da responsabilidade por substituição tributúda prevista nesta Seção será cal- constantes de acordo celebrado com outras unidades da Federação, especificadas em regu
culado: lamento, deva ser adotada a base prevista no respectivo acordo. O Cunvênio ICMS n° 76)94,
- nas saidas das mercadorias referidas nos itens lia IV da Seção lIdo Apêndice II. pela aplica dirigido às operações com produtos farmacêuticos, estaria amparado nesse dispositivo.
ção da aliquota interna respectiva sobre a base de cálculo a seguir indicada, deduzindo-se, do 2.2.2.4 Ocorre, porém, que nem a CF/88 nem a Lei Complementar n°87/96 reserva aos
valor resultante, o débito fiscal próprio: eonvõnios a competência para estabelecer base de cálculo do ICMS no caso de substituição
tributária: a CF/88 reserva à lei complementar a função de dispor sobre substituição tributá
GRECO! Marco Aurítio. SubsUoiição Trihmdrü, (:lo:ccipacãr do Filo’ Gerador). 2’ cd- São Paulo: Malheiros, 2
ria, bem como atribui à lei complementar a competência para dispor sobre substituição e
p. 1(5. estabelecer os requisitos para a concessão de benefícios. Somente poderiam ser celebrados
134 Revista Dialética de Direito Tributário ni 123

acordos para regular provisonamente o ICMS enquanto não fosse editada a lei complemen
lar ieIati a ao imposto Uma vez editada a Lei Complementar n°87/96, não houve qualquer
pievisão no sentido de ser ;alicla a celebração de consênio sobre substituição
1
2.3 4 plicação dos Requisitos de Validade da Substituiçilo Tributária ao Caso dos
Distribuidores de Medicamentos
23 1 As considerações piecedentes demonstiam que a CF/88 exige o uso de uma base
de cálculo que reflita o valor de venda das mercadorias para um grupo proporcionalmente
grande dos vendedores, sendo permitidas discrepâncias acidentais entre o valor presumido
e o real, que não atinjam um numero muito grande de casos Al(m disso, a CF exige ouso
da mesma base de cálculo para situações substancialmente iguais, de tal sorte que se garan
ta uma tributação neutra com ielação as atix idades exercidas, considerando-se neutra aque
la tributação que leva em consideração diferenças estruturais entre os grupos profissionais
atingidos Por último, a discrepância, independentemente da extensão e do alcance, não pode
ser excessiva para um ou alguns contribuintes
2 3 2 Facil perceber que esses requisilos constitucionais não estão presentes nos casos
em que o preço maximo a consumidor sugerido pelo fabricante e regularmente muito supe
rioi ao efeti’o preço de senda dos medicamentos similares e genericos
23 3 4 regularidade da discrepãncia, se não compro’ ado o contrário pelas autoridades
Wendarias, conduz à violação da exigência de vinculatividade entre o fato da substituição
e o fato que deva ocorrer posteriomiente, conforme previsto no artigo 150, § 7° da CF/88,
leva à violaçõo ao princípio geral da igualdade, que exige correspondência com os elemen
45
t tos concretos manifesiados pela media das operações ejetivamenie praticadas e afasta desi
gualdades continuas, que atinjam um numero expressi\ ode contribuintes conforme prexis
to no artigo 150, Ilda CF/88, prooca a infração aos princípios da liberdade de exercício de
atnidade econômica e da li re concorrência, e acarreta a siolação ao disposto no artigo 34,
1, ‘b” e ‘c”, da Lei Estadual n°8 820/89, que exige a compatibilidade do preço final com o
mercado avaliado

1 2.4 Conclusões
2 4 1 Todas as considerações anteriores permitem chegar as seguintes conclusões a res
peito do caso posto neste parecer
1) a substituição tributaria para frente com base em pauta de valores ou preço máximo
ao consumidor é inconstitucional quando a diferença entre o preço efetivo de merca
do e o valor de pauta ou o preço máximo ao consumidor for considerável, regular e
atingir um número muito grande de casos por violação ao disposto no artigo 150, § 7°c
1 no artigo 150 11. da CF/88,
2) a substituição tributaria para frente com base em pauta de xalores ou preço máximo
ao consumidor é ilegal quando a diferença entre o preço eletno e o xalor de pauta ou
o preço maximo ao consumidor for incompatível com os preços usualmente pratica

1
dos no mercado, por violação ao disposto no artigo 8° da Lei Complementar n°87/96,
3) a substituição tnbutária para frente com base no preço máximo ao consumidor é ile
gal quando a diferença entre o preço eletio e o xalor usado pela autoi idade fiscal for
incompatnel com os preços usualmente praticados no mercado, por uolação ao dis
posto no artigo 34,1, b’ e “c” da Lei Estadual n°8 820/89,
1) sendo ilegal e inconstitucional o ‘alor de pauta ou o preço máximo sugerido pelo
fabricante, deve ser utilizado o preço usualmente praticado no mercado, conforme o
disposto no artigo 8°, II, da Lei Complementar n° 87/96 e no artigo 34, 1, “c” da Let
Estadual n° 8 820/89

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