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CRIMES E INFRAÇÕES CONTRA A CRIANÇA E O

ADOLESCENTE

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2

......................................................................................................................... 3

1 –CRIMES DEFINIDOS NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE ..................................................................................................... 3
2 – DOS CRIMES EM ESPÉCIE.................................................................. 5
3 – REFERÊNCIAS.................................................................................... 39

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1 –CRIMES DEFINIDOS NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

A extensa lei nº 8069/90 também se dedicou a incriminar condutas criminosas


praticadas em desfavor de criança e de adolescente. Esse assunto foi tratado no
Título VII (Dos crimes e das infrações administrativas) com os arts. 225 a 244-B do
ECA.

Art. 225 da Lei nº 8069/90:

Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o


adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na
legislação penal.

Inicialmente, repare que esse artigo reforça o princípio da especialidade, ou seja,


aplica-se o Estatuto da Criança e do Adolescente quando o delito for praticado em
face da criança e do adolescente e tiver previsão na Lei 8069/90. O elemento
especializante é justamente a vítima do delito (criança e adolescente).

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Exemplo: É crime de abuso de autoridade se o agente atentar contra a liberdade de
locomoção de alguém (art. 3º, “a”, da Lei 4898/65). Entretanto, se a vítima for criança
ou adolescente, o crime será do 230 do ECA (Privar a criança ou o adolescente de
sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional
ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente. Pena: detenção de
6 meses a 2 anos).

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo


à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo
ordem escrita da autoridade judiciária competente:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Insta ainda destacar que os crimes previstos no ECA podem ser comissivos (Ex: 230
do ECA: acima mencionado ou omissivos (Ex: art. 229 do ECA: Deixar o médico,
enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de
identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem como
deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei).

E se o crime não tiver previsão no ECA?

Nessa situação aplica-se o Código Penal, conforme ressalva expressamente feita


contida no art. 225 do Estatuto da Criança e do Adolescente, em sua parte final.

Em resumo, se determinado fato não tiver previsão no ECA, aplica-se as regras da


legislação penal, conforme previsto no art. 12 do CP. Exemplo: O ECA não tratou do
tema prescrição nas medidas socioeducativas. Assim, terá incidência as regras
prescricionais previstas no Código Penal, conforme entendimento consagrado na
súmula 338 do STJ:

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Art. 226 da Lei nº 8069/90:

Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas da Parte Geral do


Código Penal e, quanto ao processo, as pertinentes ao Código de
Processo Penal.

Como se vê, o artigo em questão determina a aplicação subsidiária do Código Penal


e do Código de Processo Penal aos crimes preconizados no Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Art. 227 da Lei nº 8069/90:

Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada.

Segundo artigo 227 da Lei nº 8069/90, a ação penal nos crimes definidos no Estatuto
da Criança e do Adolescente é sempre pública e incondicionada. Vale dizer, a
legitimidade para intentar a ação penal é do Ministério Público e independente de
qualquer condicionante.

Chamo ainda a atenção de vocês para ressaltar que esse dispositivo legal era
desnecessário, porquanto na ausência de qualquer previsão expressa em lei aplica-
se a regra geral do art. 100 do Código Penal, ou seja, a ação penal é pública, salvo
quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.

2 – DOS CRIMES EM ESPÉCIE

Art. 228 da Lei nº 8069/90:

Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de


atenção à saúde de gestante de manter registro das atividades
desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem
como de fornecer à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da
alta médica, declaração de nascimento, onde constem as
intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato:

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Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Se o crime é culposo:

Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade
especial do sujeito ativo, qual seja, ser encarregado de serviço ou dirigente de
estabelecimento de atenção à saúde da gestante, com o dever de cumprir as
obrigações descritas no art. 10 do ECA.

Sujeito passivo: É a criança.

Elemento objetivo: Deixar de cumprir com as obrigações estabelecidas no art. 10 do


Estatuto da Criança e do Adolescente. Cuida-se de um crime omissivo próprio (a
omissão consta no tipo penal). Assim, o crime consuma-se com a simples omissão
do agente.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla as modalidades dolosa e culposa. A


pena será de 2 a 6 meses, ou multa, se o delito for culposo.

Pena: Detenção, de 6 a 2 anos (crime doloso). É compatível com os institutos


despenalizadores da transação penal e da suspensão condicional do processo.

Art. 229 da Lei nº 8069/90:

Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento


de atenção à saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e
a parturiente, por ocasião do parto, bem como deixar de proceder aos
exames referidos no art. 10 desta Lei:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Se o crime é culposo: Pena - detenção de dois a seis


meses, ou multa.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade
especial do sujeito ativo, qual seja, ser médico, enfermeiro ou dirigente de atenção à
saúde de gestante, com o dever de identificar corretamente o neonato e a parturiente,
por ocasião do parto ou o dever de proceder aos exames descritos no art. 10 do ECA

Sujeito passivo: É a parturiente e a criança.

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Elemento objetivo: Deixar de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por
ocasião do parto ou o dever de proceder aos exames descritos no art. 10 do ECA.
Cuida-se de um crime omissivo próprio (a omissão consta no tipo penal). Assim, o
crime consuma-se com a simples omissão do agente. A mens legis é evitar a troca
de recém-nascidos.

No mesmo sentido é a redação do art. 106 do ECA: “nenhum adolescente será


privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita
e fundamentada da autoridade judiciária competente.

Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua
apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.”

Resumindo, o adolescente somente pode ser privado da liberdade em 2 hipóteses: a)


flagrante de ato infracional; b) ordem escrita da autoridade judiciária competente. A
autoridade judiciária competente é o Juízo da Vara da Infância e Juventude. especial
do sujeito ativo, qual seja, ser médico, enfermeiro ou dirigente de atenção à saúde de
gestante, com o dever de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por
ocasião do parto ou o dever de proceder aos exames descritos no art. 10 do ECA.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla as modalidades dolosa e culposa. A


pena será de 2 a 6 meses, ou multa, se o delito for culposo.

Pena: Detenção, de 6 a 2 anos (crime doloso). É compatível com os institutos


despenalizadores da transação penal e da suspensão condicional do processo.

Art. 230 da Lei nº 8069/90:

Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua


apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo
ordem escrita da autoridade judiciária competente:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão


sem observância das formalidades legais.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser cometido por qualquer
pessoa.

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Sujeito passivo: É a criança e o adolescente.

Elemento objetivo: Privar a liberdade é suprimir o direito de locomoção sem estar


amparado em ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente ou
em situação de apreensão em flagrante de ato infracional, tudo em conformidade com
o art. 5º, LXI, da Constituição Federal. No mesmo sentido é a redação do art. 106 do
ECA: “nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua
apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.”

Resumindo, o adolescente somente pode ser privado da liberdade em 2 hipóteses:


a) flagrante de ato infracional; b) ordem escrita da autoridade judiciária competente.
A autoridade judiciária competente é o Juízo da Vara da Infância e Juventude.

Como já mencionado, o crime em estudo é especial em relação ao crime do art.


3º, ”a”, da Lei nº 4898/65), que preconiza ser abuso de autoridade qualquer atentado
à liberdade de locomoção. Logo, se a vítima for criança ou adolescente, a conduta
típica é aquela prevista no art. 230 do ECA.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Detenção, de 6 a 2 anos. É compatível com os institutos despenalizadores da


transação penal e da suspensão condicional do processo.

Figura equiparada: Também é responsabilizado criminalmente quem procede à


apreensão sem observância das formalidades legais. Nessa situação a privação da
liberdade é lícita (em flagrante de ato infracional ou com ordem judicial da autoridade
judicial competente), porém não há observância de outras regras legais (exemplos:
arts. 107, 108 e 109 do ECA). Essa figura típica é especial em relação ao crime de
abuso de autoridade descrito no art. 4º, “a”, da Lei 4868/65 (constitui também abuso
de autoridade: a) ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem
as formalidades legais ou com abuso de poder).

Art. 231 da Lei nº 8069/90:

Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou


adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente
e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:

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Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade
especial do sujeito ativo, qual seja, ser a autoridade policial responsável pela
apreensão da criança ou do adolescente.

Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

Elemento objetivo: Deixar de comunicar imediatamente à autoridade judiciária


competente, à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada. Cuida-se de um
crime omissivo próprio (a omissão consta no tipo penal). Assim, o crime consuma-se
com a simples omissão do agente. A mens legis é garantir a observância dos direitos
do menor infrator de comunicação imediata do ato infracional ao Juiz Natural e a
alguém de sua família ou à pessoa por ele indicada, nos exatos termos do art. 107 do
ECA (A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido
serão incontinenti comunicados à autoridade judiciária competente e à família do
apreendido ou à pessoa por ele indicada. Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo
e sob pena de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata) e do art. 5º,
LXII, da Constituição Federal (a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à
pessoa por ele indicada).

O Delegado de Polícia responde por esse delito se realizar apenas a


comunicação à autoridade judiciária?

A resposta é positiva, porquanto o tipo penal exige a dupla comunicação (o fato


deve ser noticiado ao juiz e também a algum familiar do infrator ou pessoa por ele
indicada)

Esse delito consuma-se com a simples omissão do agente.

O crime em estudo é especial em relação ao crime do art. 4º, ”c”, da Lei nº


4898/65), que preconiza ser abuso de autoridade deixar de comunicar,
imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa. Logo,
se a vítima for criança ou adolescente, a conduta típica é aquela prevista no art. 231
do ECA.

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Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Detenção, de 6 a 2 anos. É compatível com os institutos despenalizadores da


transação penal e da suspensão condicional do processo.

Art. 232 da Lei nº 8069/90:

Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou


vigilância a vexame ou a constrangimento:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade
especial do sujeito ativo, qual seja, o agente deve ter a autoridade, a guarda ou a
vigilância sobre a criança ou o adolescente.

Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

Elemento objetivo: Submeter a vexame ou a constrangimento significa colocar a


criança ou o adolescente em situação humilhante, de forma a ferir sua dignidade ou
honra. Exemplo: Diretor de escola que expulsa o aluno da sala de aula em virtude de
seus pais estar em débito com o colégio.

Autoridade diz respeito às relações privadas (ex: relação entre tutor e tutelado; entre
pais e filhos). Guarda quer dizer vigilância permanente. Vigilância significa proteger
alguém.

Esse delito consuma-se com a mera prática de qualquer ato que coloque a criança
ou adolescente em situação de vexame ou constrangimento. É crime
plurissubsistente, isto é, aquele em que a conduta pode ser fracionada em dois ou
mais atos executórios. Logo, a tentativa é perfeitamente admissível.

O crime em estudo é especial em relação ao crime do art. 4º, ”b”, da Lei nº


4898/65), que preconiza ser abuso de autoridade submeter pessoa sob sua guarda
ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei. Logo, se a vítima
for criança ou adolescente, a conduta típica é aquela prevista no art. 232 do ECA.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Detenção, de 6 a 2 anos. É compatível com os institutos despenalizadores da


transação penal e da suspensão condicional do processo.

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Art. 234 da Lei nº 8069/90:

Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata


liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da
ilegalidade da apreensão:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade
especial do sujeito ativo, qual seja, o agente deve ser magistrado do Juízo da Infância
e da Juventude ou autoridade policial, porquanto o tipo penal exige que seja a
autoridade competente para ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente.

Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

Elemento normativo do tipo: Corresponde a expressão “sem justa causa”, ou seja,


quando não há motivo legal para não ordenar a imediata liberação da criança ou do
adolescente ante a manifesta ilegalidade da apreensão.

Elemento objetivo: Deixar a autoridade competente de determinar a imediata


liberação da criança ou adolescente diante de uma ilegal apreensão tão logo tome
conhecimento. Cuida-se de um crime omissivo próprio (a omissão consta no tipo
penal). Assim, o crime consuma-se com a simples omissão do agente. A mens legis
é evitar que criança ou adolescente sejam apreendidos e mantidos diante de
manifesta ilegalidade.

O crime em estudo é especial em relação ao crime do art. 4º, ”d”, da Lei nº


4898/65), que preconiza ser abuso de autoridade deixar o Juiz de ordenar o
relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Detenção, de 6 a 2 anos. É compatível com os institutos despenalizadores da


transação penal e da suspensão condicional do processo.

Art. 235 da Lei nº 8069/90. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado


nessa Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

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Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade
especial do sujeito ativo, qual seja, o agente deve ter a obrigação de cumprir prazo
estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Exemplos: Art. 108 do ECA: A internação, antes da sentença, pode ser determinada
pelo prazo máximo de 45 dias;

Art. 121, §2º, do ECA: A internação constitui medida privativa de liberdade, sujeita
aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento.

§2. A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser
reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.

Sujeito passivo: É o adolescente.

Elemento normativo do tipo: Corresponde a expressão “injustificadamente”, ou


seja, quando não há razão plausível para o descumprimento do prazo descrito na Lei
nº 8069/90.

Elemento objetivo: Descumprir prazo fixado no Estatuto da Criança e do


Adolescente em benefício de adolescente privado de liberdade. Cuida-se de um crime
omissivo próprio (a omissão consta no tipo penal). Assim, o crime consuma-se com a
simples omissão do agente. A mens legis é evitar que adolescente privado da
liberdade não tenha um direito assegurado no prazo legal. Por ser um crime
unissubsistente (a conduta não pode ser fracionada em vários atos executórios), não
há que se falar em tentativa.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Detenção, de 6 a 2 anos. É compatível com os institutos despenalizadores da


transação penal e da suspensão condicional do processo.

Art. 236 da Lei nº 8069/90:

Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do


Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de
função prevista nesta lei:

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Pena – detenção de seis meses a dois anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É o Estado que tem um de seus agentes impedidos de exercer


função descrita no ECA.

Elemento objetivo: Impedir é obstar, não permitir a prática do ato. Embaraçar é criar
dificuldade. É um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de
conteúdo variado). Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo
penal, no mesmo contexto fático, em homenagem ao princípio da alternatividade,
incorrerá num único delito.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Detenção, de 6 a 2 anos. É compatível com os institutos despenalizadores da


transação penal e da suspensão condicional do processo.

Art. 237 da Lei nº 8069/90:

Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem tem sob sua guarda


em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar
substituto:

Pena – reclusão de dois a seis anos, e multa.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa. Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

Elemento objetivo: Subtrair é pegar, retirar, remover criança ou adolescente de


quem tem a guarda mediante lei ou ordem judicial.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa. Exige-se


ainda o especial fim de agir, qual seja, de colocar essa criança ou adolescente em
um lar substituto.

O crime em estudo é especial em relação ao crime do art. 249 do Código Penal.


Em resumo, se o agente pratica sem o dolo específico de colocar essa criança ou

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adolescente em lar substituto o crime será do art. 237 do ECA. Caso não exista esse
especial fim de agir, o crime será o do art. 249 do Código Penal.

Pena: Reclusão, de 2 a 6 anos. É inadmissível a concessão de sursis processual (art.


89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima é superior a 1 ano.

Art. 238 da Lei nº 8069/90:

Promoter ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante


paga ou recompensa:

Pena – reclusão de um a quatro anos, e multa. Parágrafo único. Incide


nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade
especial do sujeito ativo, qual seja, o agente deve ser o pai, o tutor ou o guardião.

Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

Elemento objetivo: Prometer é assumir o compromisso de fazer algo no futuro.


Efetivar a entrega é praticar de fato a entrega da criança ou adolescente. É um tipo
penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado). Assim, se
o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto
fático, em homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito. A
mens legis é impedir a indevida prática do tráfico de crianças, em que criança e
adolescente são retirados de sua família biológica para viver em outro núcleo familiar.

O crime é efetuado mediante paga quando há o efetivo pagamento no instante da


entrega do filho ou do pupilo. Já no crime praticado mediante recompensa há uma
promessa de posterior pagamento após entrega da criança/adolescente.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

O crime em estudo é especial em relação ao crime do art. 245 do Código Penal.


Assim, incorrerá no crime do art. 238 do ECA se a “venda da criança/adolescente”
ocorrer de forma definitiva. De outro lado, se essa entrega for desse menor for de
caráter transitório (efêmero), o crime será do art. 245 do Código Penal (entrega de
filho menor à pessoa inidônea).

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Pena: Reclusão, de 1 a 4 anos. É admissível a concessão de sursis processual (art.
89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima não é superior a 1 ano.

Figura equiparada. Também responderá com a mesma pena quem oferece ou


efetiva a paga ou recompensa.

Art. 239 da Lei nº 8069/90:

Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança


ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades
legais ou com o fito de obter lucro:

Pena – reclusão de quatro a seis anos, e multa.

Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude:


Pena – reclusão, de seis a oito anos, além da pena correspondente à
violência.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

Elemento objetivo: Promover significa encaminhar de fato o menor ao exterior, ou


seja, conseguir transpor as fronteiras nacionais para inserir a criança ou adolescente
em outro país. Auxiliar é prestar auxílio com a prática de algum ato material que
coopere para o menor seja encaminhado ao exterior. É um tipo penal misto
alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado). Assim, se o agente
praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito. A mens legis
é impedir a indevida prática de tráfico internacional de crianças.

Elemento normativo: Corresponde a expressão “inobservância das formalidades


legais”, ou seja, somente haverá o crime do art. 239 do ECA se o envio do menor não
tiver amparo legal.

OBS: O crime em estudo revogou tacitamente o art. 245, §2º, do Código Penal
(incorre, também, na pena do parágrafo anterior que, embora excluído o perigo moral

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ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior,
com o fito de obter lucro), pois cuida-se de lei posterior que regulou inteiramente a
matéria tratada no CP.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa. Exige-se


ainda o especial fim de agir, qual seja, de visar a obtenção de lucro com a prática das
condutas descritas no caput.

Qual é o órgão jurisdicional competente para apreciar essa conduta criminosa?

Esse crime deve ser processado e julgado na Justiça Federal, nos exatos termos do
art. 109, V, da Constituição Federal. Esse, aliás, é o entendimento do STF:

Habeas corpus. Tráfico internacional de crianças. Artigo 239 da Lei nº


8.069/90. Nulidade do processo. Reconhecimento pretendido. Alegada
incompetência funcional do juiz estadual que declinou da competência
para a Justiça Federal. Questão não analisada pelo Superior Tribunal de
Justiça. Apreciação per saltum. Impossibilidade. Supressão de
instância configurada. Precedentes. Inexistência de flagrante
ilegalidade ou teratologia que justifique a superação do apontado óbice
processual. Hipótese de nulidade relativa, que não gerou prejuízo algum
nem foi arguida em tempo oportuno, operando-se a preclusão. Questão,
ademais, irrelevante e superada, diante da remessa do processo à
Justiça Federal, competente para processar e julgar o delito (art. 109, V,
Constituição Federal). Habeas corpus extinto.

1. Como o Superior Tribunal de Justiça não se pronunciou sobre a alegada


nulidade do processo, sua apreciação, de forma originária, pelo Supremo
Tribunal Federal, configura inadmissível supressão de instância. Com efeito,
não pode esta Suprema Corte, em exame per saltum, analisar questão não
apreciada pelas instâncias antecedentes.

2. A suposta incompetência funcional do juiz estadual que, despachando


processo de outra vara, determinou sua redistribuição à Justiça Federal,
constitui nulidade relativa, a qual não gerou prejuízo algum ao paciente nem
foi arguida em tempo oportuno, tornando-se preclusa. Questão, ademais,
irrelevante e superada, diante da remessa do processo à Justiça Federal,

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competente para processar e julgar o crime descrito no art. 239 do Estatuto
da Criança e do Adolescente (art. 109, V, Constituição Federal). Inexistência
de flagrante ilegalidade ou teratologia que justifique a superação do óbice
processual ao conhecimento da impetração. 3. Habeas corpus extinto. (HC
121472, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em
19/08/2014).

Pena: Reclusão, de 4 a 6 anos. É inadmissível a concessão de sursis processual (art.


89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima é superior a 1 ano.

Qualificadora. A pena será de 6 a 8 anos de reclusão, além da correspondente à


violência, se existir emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

Art. 240 da Lei nº 8069/90:

Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer


meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou
adolescente: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada


pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage,


ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou
adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem
com esses contracena. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime:


(Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;


(Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de


hospitalidade; ou (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim


até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor,
empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha

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autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. (Incluído pela Lei nº
11.829, de 2008)

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

Elemento objetivo: O tipo penal contempla 6 condutas relacionadas à pedofilia


(Produzir, Reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena
de sexo explícito ou pornográfico, envolvendo criança ou adolescente). É um tipo
penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado). Assim, se
o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto
fático, em homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito. A
mens legis é impedir pedofilia (desejo de um adulto de realizar atos sexuais com
criança e adolescente). Para a caracterização desse delito o tipo penal não fez
exigência de qualquer contato físico entre o adulto e a criança/adolescente.

O que deve ser entendido como cena de sexo explícito ou pornográfica?

A expressão cena de sexo explícito ou pornográfica compreende qualquer


situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas,
reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou
adolescente para fins primordialmente sexuais (art. 241-E do ECA).

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Reclusão, de 4 a 8 anos, e multa. É inadmissível a concessão de sursis


processual (art. 89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima é superior a 1 ano.

Figura equiparada. A pena também será de 4 a 8 anos de reclusão, e multa, para


quem agencia, facilita ou recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou
ainda quem com esses contracena.

Causa de aumento. Incide a fração de 1/3 se o agente comete o crime nas 3


seguintes situações:

 no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;

18
 prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.
Relação doméstica é aquele que ocorre entre pessoas da mesma família ou
entre empregados e patrões. Coabitação é a morada duradoura sob o mesmo
teto. Hospitalidade é a recepção eventual (ex: receber uma visita para almoçar
em casa);
 prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim até o
terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da
vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com
seu consentimento.

Art. 241 da Lei nº 8069/90:

Vender, expor à venda, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha


cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
adolescente:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada


pela Lei nº 11.829, de 2008)

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

Elemento objetivo: O tipo penal contempla 2 condutas relacionadas à pedofilia


(Vender e expor à venda material com conteúdo de pedofilia). É um tipo penal
misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado). Assim, se o
agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto
fático, em homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito. A
mens legis é impedir o indevido comércio de produtos com teor de pedofilia.

A expressão cena de sexo explícito ou pornográfica compreende qualquer


situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais
ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para
fins primordialmente sexuais (art. 241-E do ECA).

Qual é o órgão jurisdicional competente para julgar esse tipo de delito?

19
Em regra, esse delito será processado e julgado pela Justiça Estadual. Contudo, se
o fato ultrapassar as fronteiras do território nacional estaremos diante de um crime de
competência da Justiça Federal, nos exatos termos do art. 109 da Constituição
Federal. Exemplo: Quando a venda ou exposição à venda de fotografia, vídeo ou
outro registro de material com conteúdo de pedofilia for praticada pela rede mundial
de computadores. Esse é o entendimento do STF:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL


RECONHECIDA. PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME PREVISTO NO
ARTIGO 241-A DA LEI 8.069/90 (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE). COMPETÊNCIA. DIVULGAÇÃO E PUBLICAÇÃO DE
IMAGENS COM CONTEÚDO PORNOGRÁFICO ENVOLVENDO CRIANÇA
OU ADOLESCENTE. CONVENÇÃO SOBRE DIREITOS DA CRIANÇA.
DELITO COMETIDO POR MEIO DA REDE MUNDIAL DE
COMPUTADORES (INTERNET). INTERNACIONALIDADE. ARTIGO 109, V,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL
RECONHECIDA. RECURSO DESPROVIDO.

1. À luz do preconizado no art. 109, V, da CF, a competência para


processamento e julgamento de crime será da Justiça Federal quando
preenchidos 03 (três) requisitos essenciais e cumulativos, quais sejam, que:
a) o fato esteja previsto como crime no Brasil e no estrangeiro; b) o Brasil seja
signatário de convenção ou tratado internacional por meio do qual assume o
compromisso de reprimir criminalmente aquela espécie delitiva; e c) a
conduta tenha ao menos se iniciado no Brasil e o resultado tenha ocorrido,
ou devesse ter ocorrido no exterior, ou reciprocamente.

2. O Brasil pune a prática de divulgação e publicação de conteúdo


pedófilopornográfico, conforme art. 241-A do Estatuto da Criança e do
Adolescente.

3. Além de signatário da Convenção sobre Direitos da Criança, o Estado


Brasileiro ratificou o respectivo Protocolo Facultativo. Em tais acordos
internacionais se assentou a proteção à infância e se estabeleceu o
compromisso de tipificação penal das condutas relacionadas à pornografia
infantil.

20
4. Para fins de preenchimento do terceiro requisito, é necessário que, do
exame entre a conduta praticada e o resultado produzido, ou que deveria ser
produzido, se extraia o atributo de internacionalidade dessa relação.

5. Quando a publicação de material contendo pornografia infanto-juvenil


ocorre na ambiência virtual de sítios de amplo e fácil acesso a qualquer
sujeito, em qualquer parte do planeta, que esteja conectado à internet, a
constatação da internacionalidade se infere não apenas do fato de que a
postagem se opera em cenário propício ao livre acesso, como também que,
ao fazê-lo, o agente comete o delito justamente com o objetivo de atingir o
maior número possível de pessoas, inclusive assumindo o risco de que
indivíduos localizados no estrangeiro sejam, igualmente, destinatários do
material. A potencialidade do dano não se extrai somente do resultado
efetivamente produzido, mas também daquele que poderia ocorrer, conforme
própria previsão constitucional.

6. Basta à configuração da competência da Justiça Federal que o material


pornográfico envolvendo crianças ou adolescentes tenha estado acessível
por alguém no estrangeiro, ainda que não haja evidências de que esse
acesso realmente ocorreu.

7. A extração da potencial internacionalidade do resultado advém do nível de


abrangência próprio de sítios virtuais de amplo acesso, bem como da
reconhecida dispersão mundial preconizada no art. 2º, I, da Lei 12.965/14,
que instituiu o Marco Civil da Internet no Brasil.

8. Não se constata o caráter de internacionalidade, ainda que potencial,


quando o panorama fático envolve apenas a comunicação eletrônica havida
entre particulares em canal de comunicação fechado, tal como ocorre na troca
de e mails ou conversas privadas entre pessoas situadas no Brasil.
Evidenciado que o conteúdo permaneceu enclausurado entre os participantes
da conversa virtual, bem como que os envolvidos se conectaram por meio de
computadores instalados em território nacional, não há que se cogitar na
internacionalidade do resultado.

9. Tese fixada: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes


consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo

21
criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990)
quando praticados por meio da rede mundial de computadores”.

10. Recurso extraordinário desprovido. (RE 628624, Relator: Min. MARCO


AURÉLIO, Relator p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado
em 29/10/2015).

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Reclusão, de 4 a 8 anos, e multa. É inadmissível a concessão de sursis


processual (art. 89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima é superior a 1 ano.

Art. 241-A da Lei nº 8069/90:

Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou


divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de
informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº


11.829, de 2008)

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 11.829, de


2008)

I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das


fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às


fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo.
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste artigo são


puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço,
oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito
de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

22
Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

Elemento objetivo: O tipo penal contempla 7 condutas relacionadas à pedofilia


(Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer
meio material com conteúdo de pedofilia). É um tipo penal misto alternativo (crimes
de ação múltipla ou de conteúdo variado). Assim, se o agente praticar mais de uma
conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em homenagem ao
princípio da alternatividade, incorrerá num único delito. A mens legis é impedir a
indevida circulação de produtos com teor de pedofilia.

A circulação de material com conteúdo de pedofilia não se dá tão somente por vídeos,
fotografias, mas sim por qualquer outro meio que contenha esse teor.

A expressão cena de sexo explícito ou pornográfica compreende qualquer


situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas,
reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou
adolescente para fins primordialmente sexuais (art. 241-E do ECA).

Qual é o órgão jurisdicional competente para julgar esse tipo de delito?

Em regra, esse delito será processado e julgado pela Justiça Estadual. Contudo, se
o fato ultrapassar as fronteiras do território nacional estaremos diante de um crime de
competência da Justiça Federal, nos exatos termos do art. 109 da Constituição
Federal. Exemplo: Quando a circulação de fotografia, vídeo ou outro registro de
material com conteúdo de pedofilia for praticada pela rede mundial de computadores.
Esse é o entendimento do STF:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL


RECONHECIDA. PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME PREVISTO NO
ARTIGO 241-A DA LEI 8.069/90 (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE). COMPETÊNCIA. DIVULGAÇÃO E PUBLICAÇÃO DE
IMAGENS COM CONTEÚDO PORNOGRÁFICO ENVOLVENDO CRIANÇA
OU ADOLESCENTE. CONVENÇÃO SOBRE DIREITOS DA CRIANÇA.
DELITO COMETIDO POR MEIO DA REDE MUNDIAL DE
COMPUTADORES (INTERNET). INTERNACIONALIDADE. ARTIGO 109, V,

23
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL
RECONHECIDA. RECURSO DESPROVIDO.

1. À luz do preconizado no art. 109, V, da CF, a competência para


processamento e julgamento de crime será da Justiça Federal quando
preenchidos 03 (três) requisitos essenciais e cumulativos, quais sejam, que:
a) o fato esteja previsto como crime no Brasil e no estrangeiro; b) o Brasil seja
signatário de convenção ou tratado internacional por meio do qual assume o
compromisso de reprimir criminalmente aquela espécie delitiva; e c) a
conduta tenha ao menos se iniciado no Brasil e o resultado tenha ocorrido,
ou devesse ter ocorrido no exterior, ou reciprocamente.

2. O Brasil pune a prática de divulgação e publicação de conteúdo


pedófilopornográfico, conforme art. 241-A do Estatuto da Criança e do
Adolescente.

3. Além de signatário da Convenção sobre Direitos da Criança, o Estado


Brasileiro ratificou o respectivo Protocolo Facultativo. Em tais acordos
internacionais se assentou a proteção à infância e se estabeleceu o
compromisso de tipificação penal das condutas relacionadas à pornografia
infantil.

4. Para fins de preenchimento do terceiro requisito, é necessário que, do


exame entre a conduta praticada e o resultado produzido, ou que deveria ser
produzido, se extraia o atributo de internacionalidade dessa relação.

5. Quando a publicação de material contendo pornografia infanto-juvenil


ocorre na ambiência virtual de sítios de amplo e fácil acesso a qualquer
sujeito, em qualquer parte do planeta, que esteja conectado à internet, a
constatação da internacionalidade se infere não apenas do fato de que a
postagem se opera em cenário propício ao livre acesso, como também que,
ao fazê-lo, o agente comete o delito justamente com o objetivo de atingir o
maior número possível de pessoas, inclusive assumindo o risco de que
indivíduos localizados no estrangeiro sejam, igualmente, destinatários do
material. A potencialidade do dano não se extrai somente do resultado
efetivamente produzido, mas também daquele que poderia ocorrer, conforme
própria previsão constitucional.

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6. Basta à configuração da competência da Justiça Federal que o material
pornográfico envolvendo crianças ou adolescentes tenha estado acessível
por alguém no estrangeiro, ainda que não haja evidências de que esse
acesso realmente ocorreu.

7. A extração da potencial internacionalidade do resultado advém do nível de


abrangência próprio de sítios virtuais de amplo acesso, bem como da
reconhecida dispersão mundial preconizada no art. 2º, I, da Lei 12.965/14,
que instituiu o Marco Civil da Internet no Brasil.

8. Não se constata o caráter de internacionalidade, ainda que potencial,


quando o panorama fático envolve apenas a comunicação eletrônica havida
entre particulares em canal de comunicação fechado, tal como ocorre na troca
de emails ou conversas privadas entre pessoas situadas no Brasil.
Evidenciado que o conteúdo permaneceu enclausurado entre os participantes
da conversa virtual, bem como que os envolvidos se conectaram por meio de
computadores instalados em território nacional, não há que se cogitar na
internacionalidade do resultado.

9. Tese fixada: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes


consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo
criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990)
quando praticados por meio da rede mundial de computadores”.

10. Recurso extraordinário desprovido. (RE 628624, Relator: Min. MARCO


AURÉLIO, Relator p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado
em 29/10/2015)

Por oportuno, vejamos um julgado do STJ que solucionou um conflito de competência


entre a Justiça Estadual e a Justiça Federal acerca da divulgação de imagem
pornográfica de adolescentes via whatsapp e em chat no facebook.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL X


JUSTIÇA ESTADUAL. INQUÉRITO POLICIAL. DIVULGAÇÃO DE IMAGEM
PORNOGRÁFICA DE ADOLESCENTE VIA WHATSAPP E EM CHAT NO
FACEBOOK. ART. 241-1 DA LEI 8.069/90. INEXISTÊNCIA DE

25
EVIDÊNCIAS DE DIVULGAÇÃO DAS IMAGENS EM SÍTIOS VIRTUAIS DE
AMPLO E FÁCIL ACESSO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

1. A Justiça Federal é competente, conforme disposição do inciso V do art.


109 da Constituição da República, quando se tratar de infrações previstas em
tratados ou convenções internacionais, como é caso do racismo, previsto na
Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de
Discriminação Racial, da qual o Brasil é signatário, assim como nos crimes
de guarda de moeda falsa, de tráfico internacional de entorpecentes, de
tráfico de mulheres, de envio ilegal e tráfico de menores, de tortura, de
pornografia infantil e pedofilia e corrupção ativa e tráfico de influência nas
transações comerciais internacionais.

2. Deliberando sobre o tema, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no


julgamento do Recurso Extraordinário n. 628.624/MG, em sede de
repercussão geral, assentou que a fixação da competência da Justiça Federal
para o julgamento do delito do art. 241-A do Estatuto da Criança e do
Adolescente (divulgação e publicação de conteúdo pedófilo-pornográfico)
pressupõe a possibilidade de identificação do atributo da internacionalidade
do resultado obtido ou que se pretendia obter. Por sua vez, a constatação da
internacionalidade do delito demandaria apenas que a publicação do material
pornográfico tivesse sido feita em "ambiência virtual de sítios de amplo e fácil
acesso a qualquer sujeito, em qualquer parte do planeta, que esteja
conectado à internet" e que "o material pornográfico envolvendo crianças ou
adolescentes tenha estado acessível por alguém no estrangeiro, ainda que
não haja evidências de que esse acesso realmente ocorreu." (RE 628.624,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON
FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 29/10/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-062 DIVULG 05-04-2016 PUBLIC
06-04-2016)

3. Situação em que os indícios coletados até o momento revelam que as


imagens da vítima foram trocadas por particulares via Whatsapp e por meio
de chat na rede social Facebook.

26
4. Tanto no aplicativo WhatsApp quanto nos diálogos (chat) estabelecido na
rede social Facebook, a comunicação se dá entre destinatários escolhidos
pelo emissor da mensagem. Trata-se de troca de informação privada que não
está acessível a qualquer pessoa.

5. Diante de tal contexto, no caso concreto, não foi preenchido o requisito


estabelecido pela Corte Suprema de que a postagem de conteúdo
pedófilopornográfico tenha sido feita em cenário propício ao livre acesso.

6. A possibilidade de descoberta de outras provas e/ou evidências, no


decorrer das investigações, levando a conclusões diferentes, demonstra não
ser possível firmar peremptoriamente a competência definitiva para
julgamento do presente inquérito policial. Isso não obstante, tendo em conta
que a definição do Juízo competente em tais hipóteses se dá em razão dos
indícios coletados até então, revela-se a competência do Juízo Estadual.

7. Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo de Direito da


Vara Criminal e Execução Penal de São Sebastião do Paraíso/MG, o
Suscitado. (CC 150.564/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/04/2017, DJe 02/05/2017).

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Reclusão, de 3 a 6 anos, e multa. É inadmissível a concessão de sursis


processual (art. 89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima é superior a 1 ano.

Figuras equiparadas. A pena também será de 3 a 6 anos de reclusão, e multa, para:


a) quem assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas
ou imagens de pedofilia.

Em resumo, cuida-se do armazenamento do material contendo pedofilia. É um crime


permanente; b) quem assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
computadores às fotografias, cenas ou imagens de pedofilia.

Em resumo, trata-se do garantidor do acesso ao material de pedofilia pela rede


mundial de computadores. É um delito permanente.

OBS: Essas condutas equiparadas são puníveis quando o responsável legal pela
prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao

27
conteúdo ilícito de pedofilia. Cuida-se de uma condição objetiva de punibilidade, ou
seja, apenas depois dessa notificação é que se pode deflagrar a persecução criminal.

Art. 241-B da Lei nº 8069/90:

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio,


fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído
pela Lei nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei


nº 11.829, de 2008)

§ 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena


quantidade o material a que se refere o caput deste artigo. (Incluído pela
Lei nº 11.829, de 2008)

§ 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de


comunicar às autoridades competentes a ocorrência das condutas
descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a
comunicação for feita por: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

I – agente público no exercício de suas funções; (Incluído pela Lei nº


11.829, de 2008)

II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas


finalidades institucionais, o recebimento, o processamento e o
encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo;
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de


acesso ou serviço prestado por meio de rede de computadores, até o
recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial, ao
Ministério Público ou ao Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 11.829,
de 2008)

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

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Elemento objetivo: O tipo penal contempla 3 condutas relacionadas à pedofilia
(Adquirir, possuir e armazenar). Adquirir é obter o material com conteúdo de pedofilia.
Possuir é ter a posse de material com conteúdo de pedofilia. Armazenar é guardar
material com conteúdo de pedofilia. É um tipo penal misto alternativo (crimes de ação
múltipla ou de conteúdo variado). Assim, se o agente praticar mais de uma conduta
descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em homenagem ao princípio da
alternatividade, incorrerá num único delito. A mens legis é impedir a indevida
manutenção de material com teor de pedofilia. Esse armazenamento de produto com
teor de pedofilia pode se dar de maneira física ou virtual.

A expressão cena de sexo explícito ou pornográfica compreende qualquer


situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais
ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para
fins primordialmente sexuais (art. 241-E do ECA).

Qual é o órgão jurisdicional competente para julgar esse tipo de delito?

Em regra, esse delito será processado e julgado pela Justiça Estadual. Contudo, se
o fato ultrapassar as fronteiras do território nacional estaremos diante de um crime de
competência da Justiça Federal, nos exatos termos do art. 109 da Constituição
Federal.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. É admissível a concessão de sursis


processual (art. 89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima não é superior a 1 ano.

Causa de diminuição da pena: A pena é reduzida de 1/3 a 2/3 se o material com


conteúdo de pedofilia for de pequena quantidade. Considerando que a lei não
estabeleceu o que seria material com conteúdo de pedofilia de pequena quantidade,
restou ao magistrado decidir isso diante do caso concreto.

Causa de exclusão da tipicidade: O fato é atípico, ou seja, não há crime se a posse


ou armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes a
ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C do ECA, quando
a comunicação for feita em uma das seguintes situações:

a) agente público no exercício de suas funções; b) membro de entidade, legalmente


constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o

29
processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos; c) representante
legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado por meio
de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à
autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. Contudo, essas
pessoas têm o dever de manter sigilo sobre esse material ilícito de pedofilia, sob pena
de cometer o art. 241-A do ECA se ocorrer circulação ou movimentação indevida
desse material.

Art. 241-C da Lei nº 8069/90:

Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo


explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou
modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de
representação visual:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa (incluído pela Lei


11.829, de 2008).

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à


venda, disponibiliza, distribui, publica, divulga por qualquer meio,
adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do caput
deste artigo (incluído pela Lei 11.829, de 2008).

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É o adolescente e a criança.

Elemento objetivo: Simular é fingir, encenar, imitar. De fato, a criança ou o


adolescente não participa de cena de sexo explícito ou pornográfica, porém o agente
simula (imita) essa participação por meio de adulteração, montagem ou modificação
de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual.

A expressão cena de sexo explícito ou pornográfica compreende qualquer


situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais
ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para
fins primordialmente sexuais (art. 241-E do ECA).

30
Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa. Pena:
Reclusão, de 1 a 3 anos, e multa. É admissível a concessão de sursis processual (art.
89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima não é superior a 1 ano. Figura equiparada.
A pena também será de reclusão de 1 a 3 anos, e multa para quem vende, expõe à
venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui
ou armazena o material produzido com teor de pedofilia.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Reclusão, de 1 a 3 anos, e multa. É admissível a concessão de sursis


processual (art. 89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima não é superior a 1 ano.

Figura equiparada. A pena também será de reclusão de 1 a 3 anos, e multa para


quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer
meio, adquire, possui ou armazena o material produzido com teor de pedofilia.

Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio


de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso:
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº


11.829, de 2008)

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº
11.829, de 2008)

I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de


sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato
libidinoso; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de


induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente
explícita. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008).

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É a criança. Repare que esse tipo penal não incluiu o adolescente
como vítima.

31
Elemento objetivo: Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de
comunicação. São condutas ilícitas que representam meios empregados pelo agente
para conseguir a prática de atos libidinosos com a criança. É um tipo penal misto
alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado). Assim, se o agente
praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito. A mens legis
é incriminar quem seduz, atrai criança a fim de que com ele pratique ato libidinoso.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa. Exige-se


ainda o especial fim de agir, qual seja, o agente deve visar a prática de ato libidinoso
com criança.

Pena: Reclusão, de 1 a 3 anos, e multa. É admissível a concessão de sursis


processual (art. 89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima não é superior a 1 ano.

Figura equiparada. A pena também será de reclusão de 1 a 3 anos, e multa para: a)


quem facilitar ou induzir o acesso à criança de material contendo cena de sexo
explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso; b) quem praticar
as condutas de aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio, com o
fim de induzi-la a exibir-se de forma pornográfica ou sexualmente explícita.

Art. 242 da Lei nº 8069/90:

Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer


forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:

Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº


10.764, de 12.11.2003)

OBS: Esse tipo penal representa a incriminação da violação ao previsto no art.


81, I, do ECA.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É a criança ou o adolescente.

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Elemento objetivo: Vender significa trocar arma, munição ou explosivo por dinheiro
ou algo de valor econômico. Fornecer é abastecer. Entregar é passar às mãos. É um
tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo
contexto fático, em homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único
delito. A mens legis é impedir que criança ou adolescente tenham acesso a arma,
munição ou explosivo.

Conflito aparente de norma com o crime descrito no art. 16, § único, do Estatuto
do Desarmamento:

Dispõe o art. 16, § único, da Lei 10826/03:

Nas mesmas penas incorre quem:

V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,


munição ou explosivo a criança ou adolescente.

Inicialmente, vale destacar que o crime do Estatuto do Desarmamento, por ser


posterior, derrogou o art. 242 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que continua
aplicável a arma de outra natureza, que não seja de fogo. Exemplo: Armas brancas
(espada, punhal, faca, martelo, etc.).

Em resumo, o delito do art. 242 do ECA continua em vigor apenas para a


hipótese de o agente vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de
qualquer forma, a criança ou adolescente arma branca.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Reclusão, de 3 a 6 anos. É inadmissível a concessão de sursis processual (art.


89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima é superior a 1 ano.

Art. 243 da Lei nº 8069/90:

Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente,


de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem
justa causa, outros produtos cujos componentes possam causar
dependência física ou psíquica: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de
2015)

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Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não
constitui crime mais grave. (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015).

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa. Sujeito passivo: É a criança ou o adolescente.

Elemento objetivo: Vender significa trocar bebida alcoólica ou outros produtos que
possam causar dependência física ou psíquica por dinheiro ou algo de valor
econômico. Fornecer é abastecer. Servir é acolher o pedido. Ministrar é introduzir tal
substância em organismo de outrem. Entregar é passar às mãos. É um tipo penal
misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado). Assim, se o
agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto
fático, em homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito. A
mens legis é impedir que criança ou adolescente tenham acesso a bebidas alcoólicas
ou outros produtos que possam causar dependência física ou psíquica.

Conflito aparente de norma com o crime de tráfico de drogas (art. 33 da Lei


11343/06): Se o objeto material for substância entorpecente descrita na Portaria nº
344/98 da ANVISA, o crime será o de tráfico de drogas, nos termos do art. 33 da Lei
de Drogas.

OBS: Esse tipo penal revogou expressamente a contravenção penal de servir


bebidas alcoólicas a menor de 18 anos (art. 63, I, da Lei de Contravenções
Penais).

Por qual delito responde o agente que forneceu bebida alcoólica a criança que
ingeriu tal líquido e morreu?

O agente responderá apenas pelo delito de homicídio (art. 121 do CP). Reparem que
o crime em estudo adotou em seu preceito secundário o princípio da subsidiariedade
expressa.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa.

Pena: Reclusão, de 2 a 4 anos. É inadmissível a concessão de sursis processual (art.


89 da Lei nº 9099/95), pois a pena mínima é superior a 1 ano.

Art. 244 da Lei nº 8069/90:

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Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer
forma, a criança ou a adolescente fogos de estampido ou de artifício,
exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de
provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida.

Pena - detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

OBS: Esse tipo penal representa a incriminação da violação ao previsto no art.


81, IV, do ECA.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É a criança ou o adolescente.

Elemento objetivo: Vender significa trocar fogos de estampido ou de artifício por


dinheiro ou algo de valor econômico. Fornecer é abastecer. Entregar é passar às
mãos. É um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo
variado). Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no
mesmo contexto fático, em homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num
único delito. A mens legis é impedir que criança ou adolescente tenham acesso a
fogos de estampido ou de artifício (exemplos: foguetes, rojões, bombinhas, etc.).

Não há que se falar nesse delito se o objeto material (fogos de estampido ou de


artifício) for de reduzido potencial ofensivo, ou seja, se o objeto material for
incapaz de provocar danos físicos em caso de utilização indevida.

Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa. Pena:


Detenção, de 6 meses a 2 anos. É compatível com os institutos despenalizadores da
transação penal e do sursis processual.

Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no


caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual:
(Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)

Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda de bens e


valores utilizados na prática criminosa em favor do Fundo dos Direitos
da Criança e do Adolescente da unidade da Federação (Estado ou

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Distrito Federal) em que foi cometido o crime, ressalvado o direito de
terceiro de boa-fé. (Redação dada pela Lei nº 13.440, de 2017)

§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o


responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou
adolescente às práticas referidas no caput deste artigo. (Incluído pela
Lei nº 9.975, de 23.6.2000).

§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença


de localização e de funcionamento do estabelecimento. (Incluído pela Lei nº
9.975, de 23.6.2000)

Esse tipo penal do ECA foi revogado tacitamente pela lei 12.015/09, que introduziu o
art. 218-A no Código Penal, com conteúdo idêntico à do art. 244-A do ECA.

Art. 244-B do ECA. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18


(dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a
praticá-la: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015,


de 2009)

§ 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as


condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos,
inclusive salas de bate-papo da internet. (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)

§ 2o As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um


terço no caso de a infração cometida ou induzida estar incluída no rol
do art. 1o da Lei n o 8.072, de 25 de julho de 1990. (Incluído pela Lei nº
12.015, de 2009)

OBS: Esse tipo penal, que foi inserido pela Lei nº 12015/2009, revogou
expressamente o delito de corrupção de menores descrito no art. 1º da Lei nº
2252/54, que possuía a mesma redação.

Os crimes cometidos sob a vigência da Lei nº 2252/54 deixaram de ser


criminosos?

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A resposta é negativa. No caso, não houve a ocorrência do abolitio criminis, mas sim
o fenômeno da continuidade normativa típica, ou seja, o fato permaneceu como
criminoso, porém em outro dispositivo legal.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Sujeito passivo: É a criança ou o adolescente.

Elemento objetivo: Corromper é alterar, perverter. Nessa situação, o agente comete


a infração penal em concurso com o menor de 18 anos. Já facilitar a corrupção
significa prestar auxílio de forma a favorecer a corrupção de menor de 18 anos de
idade. Nesse caso, o agente induz o menor a praticar a infração penal. Estamos diante
de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo
contexto fático, em homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único
delito. A mens legis é preservar a moralidade dos menores de 18 anos de idade.

O agente comete o delito de furto juntamente com um adolescente de 14 anos


de idade. Por quantos delitos responderá esse agente?

O agente responderá por 2 delitos (furto e corrupção de menores), em concurso de


crimes.

Para a caracterização desse delito é indispensável a efetiva corrupção da moral


social do menor?

A resposta é negativa. Trata-se de um crime formal. Assim, tal delito está consumado
independentemente da efetiva corrupção moral do menor de 18 anos. Aliás, nesse
sentido é a súmula 500 do STJ:

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Elemento subjetivo: O tipo penal contempla apenas a modalidade dolosa. Pena:
Reclusão, de 1 a 4 anos. É admissível a concessão de sursis processual (art. 89 da
Lei nº 9099/95), pois a pena mínima não é superior a 1 ano.

Figura equiparada. A pena também será de reclusão de 1 a 4 anos para quem


praticar a corrupção de menores valendo-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive
sala de bate-papo da internet.

Causa de aumento de pena. A pena será aumentada em 1/3 no caso de infração


penal cometida ou induzida estiver incluída no rol dos crimes hediondos (art. 1º da Lei
8072/90).

“Toda criança ou adolescente tem direitos legais e proteção plena. A garantia está na lei,
mas a aplicação e a efetividade depende de nós adultos que: criamos, participamos ou
executamos as políticas públicas.”

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3 – REFERÊNCIAS

AMIN, A. R. Doutrina da proteção integral. In: MACIEL, K. R. F. L. A. (Coord.). Curso


de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016a.

______. Dos direitos fundamentais. In: MACIEL, K. R. F. L. A. (Coord.). Curso de


direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016b.

ARANTES, E. M. de M. Pensando a psicologia aplicada à justiça. In: GONÇALVES,


H. S.; BRANDÃO, E. P. (Orgs.). Psicologia jurídica no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro:
Nau, 2011.

AZAMBUJA, M. R. F. de. Inquirição da criança vítima de violência sexual: proteção


ou violação de direitos? Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. BONAZZI, T.
Conservadorismo. In: BOBBIO, N. et al. Dicionário de política. 11. ed. Brasília: Ed.
UnB, 1998. v. 1.

BORDALLO, G. A. C. Adoção. In: MACIEL, K. R. F. L. A. (Coord.). Curso de direito


da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. 9. ed. São Paulo: Saraiva,
2016.

CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE/CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Plano
Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à
Convivência Familiar e Comunitária. Brasília: Conanda/CNAS, 2006.

LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990, PLANALTO.

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