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Luis Antonio Bittar Venturi (organizador) GEOGRAFIA Praticas de Campo, Laboratério e Sala de Aula EDITORA SARANDI INTRODUGAO ABioaeoarafia. campo da aeoarafia que estuda a espacialidade da vida. busca compreender os diferentes padrées de distribuigéo dos animais e das plantas na Terra e analisa as alteragdes morfologicas dos seres vivos e os padrées que £¢ refictem expacialmente nos agrupamentos biolégicos em diferentes escalas @ tempos. £m 1820, De Candolle (1778-1841) foi pioneiro, ao distinguir e rela- cionar 0s padroes a causas hist6ricas e ecologicas da atualidade na distribuicgo dos seres vivos, reconhecendo a importancia dos condicionantes fisicos atuais, (clima, solos, races hidricas, eleva) para a explicacan dos padres por processos ecologicos e das causas historicas (associadas & transformacao no tempo) néo observaveis no presente para a compreensao das transformacbes dos padrées € das mudancas climaticas A separacdo da Biogeoorafia em ecologica e hist6rica vern sendo debatida a tempos; 05 biogedgrafos que trabalham na primeira perspectiva pesquisam essencialmente como as espécies reagem aos diferentes tipos de solo, climas e formas de relevo, enfocando as interag6es biologicas atuais. Tats estudos revelam © papel limitante desempenhado por esses fatores abisticos na distribuicao sobre a natureza, sobre a estrutura das comunidades e sobre a capacidade fisiologica dos seres vivos para suportar certas condicoes ambientais. Este conhecimento tem sido util para a agricultura, biologia da conservacao, planejamento ambien- tal, entre outros. A Biogeografia historica tem revolucionado paradigmas da ocorréncia e dis- tribuigdo de padres e tem sido fundamental no estudo da conservacao, através da compreensdo da formacdo das naisagens. do endemismo, da raridade. dos mecanismos competitivos, na formacéo e espacialidade dos grandes conjuntos de ecossistemas. So, portanto, dimensdes que se complementam; para muitos autores trata'se de uma divisdo artificial que 6 adotada nos estudos, mas que ‘stdo profundamente integradas Hé muitas formas de se periodizar a historia do pensamento em um campo Clentifico. Fara alguns autores, a Blogeogratia pode ser dividida em tres periodos. marcados por rupturas conceituais: o classico, 0 wallaceano e © moderna. O periodo cléssico (1760-1860) caracteriza-se pela profusao de ideias criacionistas, 0u seja, o mundo foi criado por fatores sobrenaturais e deve ser conhecido € descrito. Neste longo periodo de inventarios, produziu-se descrigGes floristicas e faunisticas das grandes regiGes mundiais, realizadas por viajantes naturalistas. No Brasil, as misses desses naturalistas deixaram um importante registro de nossa flora e fauna. A obra de Spix e Martius (1817-1820), Langsdorff (1822- 1829) ¢ 0 trabalho de pintores como Rugendas, Ender, Pohl, Florence e muitos ‘outros séo atemporais (Figura 6.1) © periodo wallaceano (1860-1960) é assim denominado devido a influéncia das idetas evolucionistas de Wallace-Darwin. A leoria da tvolucao é a aquisi- 80 que rompe © paradigma do criacionismo na explicagéo do endemismo e da Biogeografia regional. Essa teoria postula que, através da selecao natural Figura 6.1. Prancha 33 Prospectus ego Sera Estrin Sinum Sebastanapaltanum, de Benamin Mary (1836), Fonte: Fora Braslenss (1906) ce Carl Fredrch Philp Von Matus, Ignatz Urbane August € da competicio, espécies dominantes de plantas ¢ animais aparecem em pequenos centros de origem, expandem-se e diversificarn-se sobre a Terra. Na explicacéo wallaceana,’as grandes feic6es atuais da Terra ~ como os continen- tes e as bacias oceanicas — foram consideradas estaticas durante a evolucao. A maioria dos padres biogeogrsticos teria se formado por dispersio, ou seja, deslocamentos das formas de vida por pontes de conexo, que atuaram como verdadeiros “fitros” seletivos das populacdes em busca do sucesso na irradia- 0 adaptativa a partir dos centros de origem © periodo maoderno inicia-se em 1960, sendo em parte influenciado pela Teo- ria da Tectonica de Placas, pelo desenvolvimento de novas técnicas filogenéticas (incluindo a Genética) e pela evolucdo de novos procedimentos de pesquisa da Blogeogratia ecologica. A concepgao moderna de Blogeografla basela-se na premissa de que a evaluicaa da vida acorreui cancamitantemente a evaliucaa geografica da Terra e as mudangas de tamanho e posico dos continentes ‘oceanos teriam resultado em importantes movimentos das biotas. A sistemética filogenética de Hennig (1965) criou urna nova maneira de tragar a historia da relacdo entre diferentes grupos de animais, por meio da discusséo sobre as se~ elhancas gerais entre os taxa (espécie e grupo de espécies), e da hierarquizago no tempo das modificagdes que ocorreram em sua forma, O CONCEITO DE AREA DE DISTRIBUIGAO E AS TECNICAS DE MAPEAMENTO ‘Uma das etapas mais importantes do traba- Iho do biogeégrafo envolve a anélize da ocor- réncias obtidas em campo para a elaboragao de mapas de ocorréncia e distribuicao de espécies, comunidades e ecossistemas. ‘A drea de distribuicso hingengréfica é uma projesio espacial da espécie definida pelo con- junto de interagdes ecoldgicas e histéricas de cada espécie. E a érea que mantém relagdes ontolégicas com a espécie: surge com o nas- cimento do ocupante, modifica-se através do tempo e extingue-se com o desaparecimento do ocupante. Nesee sentido, podemos consi derar a evolugao da espécie como uma proje- fo historica de éreas, nao apenas como uma sequéncia cronol6gica da projeco geografica ‘Tempo Tongitude Figura 62. Sequtnca das pssves etapas da evlucto da res de dstronicho da spice A Asim como oocupata (oatico esquerd)sfre uma evolu anagenética, cj etapas podemos inde come “ldoforante", a prepa Sea sfre um processo de evox, tanto quatatvo como quanttatvo, vas etapas ae inarse wane dies senate et) En abn ‘sesquemas, 0 segment que conecta as etapas iil e final do racesso representa osomatotio de Todos cs esitadosocorridos ‘Po intervaio considerado, Fonte: Zunino e Zuni (2003). praticas de geogratia Descrigdo de areas de distribuigao Para descrever a area de distribuigdo de uma espécie e transcrevé-la em um mapa é preciso, em primeiro ingar, definir suas fronteiras, o que pode ser feito com virias técnicas. A mais simples € a1éenica de nuvens de pontos (Figuras 6.3 € 6.4) em que cada ponto representa uma localidade conde a espécie foi encontrada, Este levantamento 6 feito em campo, com coletas georreferenciadas ce registro de caracteristicas da drea de ocorréncia, Antigamente, 0 posicionamento dos pon- tos era feito com base no indice de loc: dades do IBGE, que fornecia as coordena- das geograficas da localidade. Atualmente, obtém-se as coordenadas geograficas dos pantns de acarréncia cam o tsa do GPS (ver Capitulo 10 - Técnicas de Localizasao e Geor- referenciamento). Baseado em um mapa de rnuvens de pontos pode-se definir um dese- nho aproximado das fronteiras da area de cocorréncia da espécie em estudo, utilizando-se de diferentes procedimentos. Hé uma tendéncia atual em se fazer uso de técnicas apoiadas em recursos de informatica. A técnica cartografica consiste em colocar sobre as cartas topogré- ficas em UTM (ver Capitulo 7 - Técnicas de Cartografia) uma reticula quadriculada, cujos lados medem geralmente 10 km. A ocorréncia da espécie identificada em uma quadricula é considerada positiva, independentemente das caracteristicas ambientais ali presentes. O uso de simbolos diferenciados permite associar a presenga da espécie a diversos tipos de dados, como abundancia e cronologia, 0 que possibilta acrescentar outros tipos de legendas corograti cas e quantitativas. Isso mostra que a Carto- grafia Tematica (ver Capitulo 8 - Técnicas de Cartografia Tematica) oferece grande apoio a Biogeografia (Figura 6.5). '© A. Caryocer glabrum album © 8. Coryocar glabrum glabrum 4 C.Caryocar glabrum parviflorum Limite de pais >: i Figura 6.3. Mapa de pontos da dtribuicao de subespécies de Caryocar glabra, Fente: Whitmore 000 kn €PanCe (1987), a h lume de pais oie ‘ P purpurascens © Pjacquacu = Pobscura 4 Pealbipennis aura 4. Dainito » Rperpicex ao generorenenpe na ¥y Psuperciliaris mata devirea. Fone se00Km 4 Pmarail Whitmore ePrance (1987), rmodiicado capitulo 6 ~técnicas de biogeografia 139 Figura 6.5. coleta de Hirea Chysobainaceae, indicando numero de specs por rau quaarado aetatruae © longitude, Fonte: Whimore ePance (1987) rmedteace, Numero de espécies sii === Limite de pais As técnicas areogrdficas so semelhantes as tradicionais nuvens de pontos € posstuem maior preciso no mapeamento dos pontos, com apoio do GPS. A ‘ocorréncia de um individuo é entendida como reprosentativa de uma popula 20 ¢, portanto, de uma 4rea. O procedimento aerografico deriva da aplicasao da teoria dos tracados, particularmente do conceito de arvore maxima de conectividade, Os pontus sav untidus por meio de Wayady aber tu (seu foriniar circuitos) de modo a minimizar © que foi encontrado em cada ponto da nu- vem (Figura 6.6). Os valores dos arcos, ou tragados, que unem os pontos, sio submetidos a testes estatisticos e 0 circulo representa a unidade elementar da 4rea de distribuiga0, da mesma forma que a malha para a reticula, na técnica cartogréfica. No entanto, na areografia, o tamanho ajusta-se as caracterfsticas de cada espécie’, A érca abrange 03 pontos que representam locais onde a espécie foi re gistrada, Assim, a unidade elementar 6 obtida a partir do tragado de um raio em cada ponto, que delimitara um circulo ao redor deste. O valor desse | Consulta também Zunino e Zullini, 2003, taio é obtido a partir da média aritmética e do desvio-padrao calculados através dos valores dos Segmentos que unem os pontos de localizacao {ZUNINO e ZULLINI, 2003). O conjunto desses ‘Circulos correspondera a Area core. Os circulos delimitados pelos valores do desvio-padrao se do menores e corresponderio a uma area mais detalhada; os delimitados pela média aritmética (7) serav maiores (no entorno dos menores) ecorresponderdo a uma drea de influéncia da frea core. As {érmulas para célculo da média, davarincia ¢ do desvio-padrdo podem ser con- sultadas no Capitulo 22 - Estatistica Descritiva em Sala de Aula, Fgura 66. Area de disbuicao segunda 9 meted weogrstics Métodos informacionais que utilizam softma- esde modelagem de nicho ecoldgico e permitem trbalhar com grande maasa de dados ¢ estimar ocorréncia de forma indireta a partir da reu- io de varidveis biogeofisicas vém sendo desen- ‘olvidos. Os métodos digitais permitem trans- a mapa de pontas em mapa de Sreas, is como o sistema Species Mapper, do programa Species Link, que desenha pontos de ocorréncia ‘em um mapa pela inclusao de suas coordenadas. Oprocesso de modelagem consiste em converter dados primérios de ocorréncia de espécies (sim- ples nuvens de pontos utilizadas pelo método areogrifico) em mapas de distribuigio geogré- fica, indicando a provavel presenca ou auséncia da espécie, neste caso, através da aplicacao de algoritmo genético (GAKP - OM - Genetic Al- gorithm for Rule-Set Prediction). Estes softwares buscam modelar a partir de pontos e massa de dados biofisicos a estima- tiva do nicho ecoldgico potencial da espécie. Os modelos trabalham, na maioria dos casos, com a relagdo da localizacao da espécie e seu nicho ecol6gico fundamental. Tais algoritmos tentam encontrar relagSes ndo aleatérias entre 08 dados de ocorréncia dos organismos com os dados ecol6gicos e ambientais relevantes para a espécie, tais como: temperatura, precipitacdo, topografia, tipo de solo, geologia, entre outros (Figura 6.7) Quando pesquisador insere pontos de ‘wcorréncia no software, o sistema associa cada ponto ao ponto central da quadricula deter- minada em que eles estdo localizados. Dessa Pontos de ecorréncia Pal Z 5 Varidveis ambientais 2 s0lo ye ao iow 7. queraque mesa cio ene as anes arr eos pons ecorenca da sce Fone -nttpsplnk cra. orgbridocs/Anexo?_modeagem pa (acess:29012010), Distribuigdo prevista capitulo 6 -técnicas de biogeos forma, cada ocorténcia iré assumir valores de camadas ambientais previamente selecionadas pelo usuério, aliada a localizacao da espécie. Nesse método os dados ambientais séo arma- zenados em um banco de dados. Quando o pesauisador insere pontos de coleta (localiza- ¢4o da espécie) no sistema, eles sao convertidos e armazenados. © sistema formula uma regra de faixa de ocerréncia para cada varidvel sele- cionada pelo usudrio (climaticas, morfolégicas, bidticas etc.) no sistema. Essa regra baseia-se nos valores entre 0 valor méximo e minimo da varivel ambiental no conjunto de pontos das quadriculas que representam os pontos de co- leta inseridos pelo usuario. O sistema descobre ‘matematicamente a amplitude de cada varivel do subconjunto de pontos inseridos no siste- ma. Apés estabelecer a regra de faixa para cada varidvel, 0 sistema faz uma busca em todos os pontos de quadriculas que possuem valores que satisfazem aquela condi¢ao. Todos os pontos sao sclecionados ¢, apés uma intersecgdo entre todas as variaveis, eles sio plotados no mapa final, demarcando uma 4rea. Mais informa- oes sobre a tecnologia de modelagem de nicho 3.500 km ecolégico podem ser obtidas no site do préprio Species Link: . E importante conhecer 0 modo como a espé- ce vive dentro de uma drea, a qual pode parecer homogénea em razio da resolucdo da érea de distribuigao representada no esquema (Figura 6.7). Em diferentes escalas, no entanto, percebe- se que uma area nunca & estritamente homage nea, devido a variag6es dos aspectos abisticos ¢ dda demografia dos ocupantes (Figura 6.8). Dinamica da area de distribuigéo de uma espécie © tamanho de uma populagao resulta do equilibrio entre a taxa de natalidade e a taxa de maortalidade, entre emigragio e imigragio, Com frequéncia, fatores antropogénicos ou pequenas mudangas na temperatura so suficientes para provocar mudanyas importantes na taxa de re- produsio de plantas e animais de um ano a outro {e também movimentos migrat6rios), incorren- do em mudangas no numero de efetivos de uma Seve Figura 6.8. Diferetesexcalas ish arent Yoshiko {demodo que uma sea rmopeoda parece homogtnes, ‘maisou menos. forterene ‘descontinua Fonte: Modiade ¢4eZurinoe Zulin (2003) ‘outra, Em termos gerais, podemos dizer que a area de ocorténcia ca € vatia numa cxcala de tempo yue pode ser de curta ou de longa Portanto, os mapas em séries temporais podem ser muito iiteis para tender dinamica. Veja o exemplo da area de distribuigo de uma espécie de ona Europa em 1900 e, na Italia, entre 1900 e 1985 (Figura 6.9). icagbes da drea de distribuicao ibuigao de uma espécie pode ampliar-se, redurir-se, se ou fragmentar-se antes de desaparecer, com a extingdo de seu (Figura 6.10). | Adiea muda omy tempo, uv casy Ua mudaniga pelo processy de sucessa0 égica ou da expansio seguida de contra¢o por mudancas climéticas. A pode levar d insularizacao da dea, como a que ocorreu no Bra- te o Quaternério, expressa pela Teoria dos Reftigios Pleistocénicos sr 6.11). Figura 6.9 Area de sSstibuto do obo, na Europa, em 1900 G@ieratala, ene 1800¢ 1985) Fonte: Meatiade de Zunino eZ (2003). capitulo 6 -técnicas de biogeogratia 143. Figura 6.11. Dominios atures de Arca do Sul ha 13,000-18.000 anos. O mapa smetzaas conrecmentos cumulads por Ab Saber sore versa rages brasierasesuas proves ceniguactesnopassodo, Font: Ab’Saber (197, modicado 144 Figura 610. Aires de dstnbuigdo pode fragmentarsede Sendo uma grandara Existe realmente um centro de origem, mas ele tende a ocupar o maximo de area per: mitida atingindo um cosmopolitisme primiti vo, por meio da dispersao, Uma vez ocorrendo dispersdo, 0 centro de origem fica indetermi- nével, a ndo ser em alguns poucos casos pe- culiares. A dispersio que resulta no cosmopo- litismo primitivo ocorre antes do surgimento da barreira efetiva, A especiagao acontece simultanea ou posteriormente ao surgimento das barreiras. Musgo ¥ A brea de neneréncia de, ppeixe B engioba totalmente {2 drea do musgo Y 6.16, Areas decangrvtncia dos dois paces de astribuicao Peixe C a Musgo Z 2 area de ocorréncia do peixe Ce totalmente englobada pela drea do musgo Z capitulo 6 ~teenicas de biogeografia 147 Figura 6.17, Cladograma de areas para ‘exempla de um genero com maior ‘numero de especies. A 8 7 “ pH 1234 | Figure 6.18. Cladoyrame de areas ve reduzio reas congruent) © TRABALHO DE CAMPO EM BIOGEOGRAFIA O trabalho de campo é fundamental para a Biogeografia. Cada local possui earacteristicae particulares e aponta problemas de ocorréncia e de distribuicao biogeograficas que podem ser interpretados mediante observacao, registro, experimentacaa empjrica ete. A observacao de campo mostra também como as unidades de paisagem distribuem-se de forma desigual no espaco. As técnicas a serem utilizadas consis- tem nos procedimentos de campo (observacio detalhada e sistemética, anotacdes, desenhos, coletas, fotografias, medigBes com equipamen- tos, filmagens ete.) e no trabalho de laboratério (andlise do material coletado e/ou observado, andlise das variaveis fisicas, tratamentos para formacao de acervos ~ herbarios -, tratamentos estatisticns ete). A observacao e a descricdo em campo. & importante apurar e treinar a observacao em campo. © habito da observagao, de seu regis- tro e de sua interpretacao, leva a compreensio do 148 priticas de geografia, 6 1 i al pe Ie ambiente’. A importancia da observa¢4o nao con- siete apenas om aproveitar informago que podem levar a inferéncia de propriedades menos aparentes do meio, 6 preciso considerar seu papel na educagao do olhar a favor de maior conscientizacaa sohre o ambiente qn A observagao nao deve recair sobre 0 objeto individualizado, mas deve vé-lo como parte de um todo estruturado e articulado historicamen- te. Trata-se de considerar que o tempo da natu- reza aparece combinado com o tempo social, com escalas ¢ ritmos distintos. A civilizag3o moderna emprega métodos cien- tificos no processo de interpretacao do meio na- tural, coma utilizagao de medidas, andlises, tra tamento de dados ete. Mas ¢ preciso nao perder Sas soiatn ie thas indcimaclng Frfeserrige Riga tert pretagdes que provém de populacdes cujo modo de vida est4 diretamente ligado ao aprendizado baseado na vivéncia ¢ na observagio cotidiana dda natureza, que também produz conhecimentos, 4 Sobre observacio, ver também o Capitulo 1A Técnica ‘€a Observacdo na Pesquisa, deste lvro. sobre o funcionamento do ambiente. Exemplos dessas populagdes, cada vez mais reduzidas, s30 ‘campesinos. agricultores tradicionais, pescadares: artesanais, populagdes indigenas, quilombolas, tarjeitos, pantaneiros e © que geralmente pode- mos chamar de homens du capo, Exemplo de registros de observacao Uma das técnicas titeis e importantes em Biogeografia ¢ 0 uso do desenho em esboco ou roqui, para o que temos apoio do Capitulo 17 — ‘Técnicas de Desenho e Elaboragio de Perfis ¢ do Capitulo 18 ~ Técnicas de Tlustragao Botanica, teste livo. Importantes biogedgrafos utilizaram teenicas de desenho para registro de suas obser- ‘agSes, que consistem no uso do desenho livre ou proporcional. © desenho pode ser aprimora- docom técnicas de acabamento como nanquim, témperas ou aquarela. As observacoes decampo geralmente tornam-se mais significativas quan- do anotadas em mapas e croquis. Planejando a atividade de campo em Biogeografia O trabalho de campo concentra-se na obser- ‘vacdo. no registro e na coleta de infarmacgaes de componentes em combinago com os demais fa- tores do meio, considerando as escalas de tempo eespago. Geralmente sio chamados de dados primérios. Em um estudo de campo é melhor concen- trara atensdo sobre uma rea determinada, que posse ser investigada intensa c sisteiiativauieu- te, A demarcacdo de pequenas zonas no campo pode revelar a ocorréncia de plantas e animais ‘Mais inconspicuos ou de dificil observagao, que facilmente passariam desaperccbidos em uma observasio superficial ou geral. Onde hé uma transicao clara ~ ou suposta — da flora e fauna, é Gtil um estudo detalhado ao longo de uma linha ou trajeto (transecto) que ctuze diferentes zonas. Deve-se ter muito cui- dado na escolha desea linha: 6 melhor comesar onde haja muitas mudangas evidentes & primei- ra vista, Para isso, pode-se utilizar as fotografias ereas, que auxiliam na visualiza¢ao vertical dos compartimentos de cobertura vegetal. Para que © transecto seja dtl, os estudos de animais e plantas devem ser acompanhados por uma inves- Liyayao de outros fatores ambientais, como so- los, topografia, parimatros climéticos, tratados ‘em capitulos especificos deste livro. A posigao do transecto (ou de qualquer outra observagdo detalhada) deve ser indicada com clareza e pre- cisdo no mapa da area em estudo. O uso da carta topogrética com auxtlio de uma biissola é 0 pro- cedimento usual. Hoje pode-se contar também com o GPS pata defintis, lucalizar, referenciar e definir 0 transecto Sempre que possivel, deve-se realizar um es- tudo preliminar para contextualizar e localizar a drea de estudo sobre mapas topogréficos ¢ os limites das éreas adequadas & pesquisa. Para tra- balhos de pesquisa cientifica, esta localiza¢ao deve ser precisa. Antes de ira campo, é essencial saber: > De que modo seré feita a coleta de dados? > Oque se deve registrar? > Ao longo de que periodo é conveniente reali- zaro levantamento de dado em campo? Realizar uma pesquisa bibliografica antes de ir a campo € muito importante, pois permite melhor conhecimento do local a ser estudado, facilitando o planejamento das atividades de campo. Além do levantamento bibliografico sobre os aspectos gerais da area (historico, uso da terra ete ), deve. procurar mapas teméticoe (de vegetasao, solo, geol6gico, geomorfol6gico etc.) e fotografias aéreas ou imagens de satélite Estas atividades caracterizam o que foi tratado como trabalho de gahinete, preliminar ao cam- po (ver Capitulo 9 ~ Técnicas de Sensoriamento Remoto). capitulo 6 ~ téenicas de 09 150 A previsdo do trabalho de campo. Todo trabalho de campo € precedido por uma avaliacao de planejamento. A medida que se decide 0 qué se vai pesquisar no campo e os procedimentos a serem empregados, devem ser providenciados os recursos necessérios para a realizacao do trabalho. A data da tealizayau vu a época ein que serd feita a observacdo devera conter perfodos signifi- cativos do ponto de vista biologico do que se ird observar, por exemplo: as estagdes do ano, ciclo diurnal, cielo de marés ete. Aoir para o campo, o pesquisador deve estar suficientemente treinado no manejo de todos os equipamentos cuja utilizagdo esteja prevista em seu roteiro de observacio e de coleta de dados, e deve terclareza da ordem em que as atividades sero desenvolvidas. O roteiro de trabalho de campo 6 um instrumento muito dtil na organi- zagio das atividades. ‘Ao chegar ao local de estudo, o observador deve estar munido de todo o material necessa- rio para o registro de suas observatdes ¢ dos instrumentos necessarios para realizé-las, como tabelas, manuais de campo, mapas, caderno de campo, GPS, bissola, tesoura de poda, arma- dilhas etc. A observacao no campo Nao ha técnica melhor para o estudo do ambiente (ceres vivos © meio fisico) do que a presenga no local de estudo, para a observacdo cuidadosa dos animais e plantas e seu registro ‘em um caderno de campo. A diferenca essencial entre um observador de campo engajado e um observador amador & que o primeiro carrega consigo um caderno de notas e o utilica, Hé muitos curiosos que veem muito mais do que um observador engajado, mas suas observacGes sio intteis, pois eles ndo as registraram ou nao prosseguiram na andlise de prhticas de geogratia seu significado, Aquele que tenta reter apenas na meméria suas observagOes traz poucas contri- buigdes para uma pesquisa e ter dificuldade em fazer um relatério de campo, como alertado no Capttulo 23 - A Redagao no Trabalho de Cam- po, deste livro, A meméria é sempre seletiva,¢ hd uina Lendéncia a esquecermus ou Jembrarmos o raro. Nao ha um procedimento tinico para os re- gistros de campo. O essencial é que a técnica usada seja consistente e coerente. No caso do principiante, é importante que anote tudo o que vé. Mesmo assim, perceberd que muitos detalhes importantes poderdo ser perdidos. Com o tem po, 0 observador experiente passard a ser mais ctiterioso, concentrando seus registros em as- pectos signittcativos para o problema sob inves- tigagao. Como algune aspectos importantes do estudo de campo sé se tornam aparentes quando co estudo esta bem adiantado, é melhor registrar sempre mais do que menos. Conhecendo um pouco a vegetacdo. a obser vacao de campo pode se tornar um importante recurso de avaliagdo. Por exemplo, algumas es. pécies so excelentes bioindicadoras do estado de conservacao de uma vegetacdo. Tomando 0 ‘exemplo da Mata Atlantica, sabemos que 0 me- canismo de sucesso ecolégica pode ser identi- ficado em seus estégios pela ocorréncia de algu- ‘mas bioindicadoras. Em sala de aula os alunos podem realizar um pequeno levantamento des- sas eapécies, aprender a identifies las na. ‘gem e em suas observacées de campo, identifcar sua presenga e inferir preliminarmente sobre 0 seu estado de conservacao. No estado de Sao Paulo. a Secretaria do Meio. Ambiente e 0 IBAMA criaram uma legislacao de protecdo que se baseia, entre outros aspectos, na ocorréncia de plantas que podem ser observa. das em campo. Esta legislagao pode ser obtida no site da CETESB:. ATabela 6.1 waz exemplo de planta coes/1994_Res_Conj_SMA_l alunos podem encontrar em suas observacdes de campo e inferir sobre Nao é necessério ser um especialista para a conservaciio. seconhecer algumas destas plantas. E claro que para um diagnéstico cientifico € preciso um le- vantamento cuidadoso das ocorréncias e ta Figura 6.19. kEmbaubas (Cecrovia sp) Figura62t Palit cara (Euterpe edu i stag avangad ds £ Figura623 i equa (Carian sop) Estégioinicial de regeneracio Estagio médio de regeneracio bém das caracteristicas estruturais, mas a rig todo cidadao deveria saber utilizar-se da: para reconhecimentos iniciais de campo. Veja alguns exemplos para praticar seu reper- t6rio. Procure tentar identificar algumas ocor- réncias de plantas em 1a regido e pesquise para saber algo mais sobre o estado de conservagao dessa 4 Figura6.20, Manact-da-Sera (ibouchina mutabils) Figura 6.22, Guapurwu (Sehaotobium parahyba) yenerayao Figura 6.24 fainera (Chora soe), 152 Coleta e organizacao dos dados Ao planejar a atividade de campo, 0 observa- dor pode ter diividas sobre o que coletar e como fazé-lo. E importante definir antecipadamente ‘0 que ser investigado e quais dados serdo titeis para sua compreensao. Se possivel, organizar um primeiro levantamento exploratorio para e com a rea de estudo. Pesquisar »Bréficas como os dados podem ser obtidos auxilia a detini¢4o de procedimentos e do tempo necessério para a coleta de dados. E importante conhecer como outros pesquisado- res coletam dados de mesma natureza. Existem tuais que apreseutait a> Lécnivas mais usuaiy utilizadas por pesquisadores experientes. Pla- nejar a coleta de dados é essencial, pois muitas informagoes somente serao obtidas com a utt- lizagao adequada de equipamentos. Nem sem- pre se exige efetivamente capturas de plantas animais. No estudo das aves ¢. mam(feros, por exemplo, a coleta de dados pode ser a visuali- zagao do animal e sua descrigao. Em rela3o & coleta de pistas indiretas, como fezes e pegadas, € preciso conhecer um pouco 0 comportamento do animal. Por exemplo. para observar aves € obter dados de visualizacdo & muito importante petcorter a area de estudo ao amanhecer e a0 entardecer, pois nesses perfodos as condigdes de umidade e temperatura sao mais propicias as atividades da avifauna. ESTUDO DA COBERTURA VEGETAL Oestudo da cobertura vegetal realiza-se em diferentes escalas: no ambito de regides fitogeo: grificas, de biomas, dominios, estratos da cober- tura vegetal, micro-babizats etc. Em todas elas, 0 trabalho de campo ¢ muito itil. Para acaracteri- zacio da comunidade vegetal, devem ser obtidas informagSes sobre: composicio floristica, carac- praticas de geogratia teristicas fisiondmicas, estruturais, funcionaise ‘sua ocorréncia e distribui¢ao espacial. Composicao floristica © primeiro passo para o conhecimento de ‘uma comunidade vegetal € 0 estudo de sua flore ua composigao em espécies, mediante a orga- nizagao de uma lista, a mais completa possivel, das espécies ou géneros que ocorrem na comu- nidade. Quando a comunidade é desconhecida, wom € v Casy Ue inuitus eLussistemias Lupicais com uma biodiversidade elevada e insuficiente- mente estudada, ou quando no se tem certeza da identificagao no campo, deve-se proceder a uma coleta de varias amostras de individuos. F preciso conhecer o que serd dtil na identificagao para determinar os critérios de coleta. Os boti- nicos sistematas consideram como fontes impor tantes de identificagao: flores, frutos, sementese ramos com folhas (quando a planta é de pequeno porte, deve-se coletar 0 individuo inteiro) Apés a coleta. o material deve ser herbori- zado para evitar a deterioragao e facilitar a pos terior identificagdo. Normalmente, a identifica 40 é realizada com o auxilio de especialistas, E muito importante etiquetar adequadamente ‘0 material coletado, para que qualquer pessoa possa utilizar as informagées. De nada adianta a0 biogedgrafo saber que uma planta é de deter. minada espécie, se ndo souber sua procedéncia. A taxonomia vegetal atualmente exige un grande esforco dos hatanicas, desde a proces so de aquisigdo do espécime, dada as dificul- dades de inventariar grandes éreas € os custos de campanhas de levantamento, aceesibilidade, entre outros até a morosa comparagao com as amostras jé catalogadas em um herbério. Outras metodologias vém sendo desenvolvidas, como a identificacdo de vegetais por meio da anélise de atributos foliares. Este trabalho consiste em vvegetais por meio da andlise do corte ransversal de uma folha ampliado por um mi- Spio e anélise das assinaturas da cuticula, derme superior, parénquima paligédico e pa- nguima lacunoso, Nesse método, cada assina- ¢ avaliada isoladamente por uma rede neu- pelo método leave-one-out para verificar a sua idade de discriminar amostras. Uma vez uadus us vetores de caracteristicas mais ites. eles so combinadas de dias mane. dade de atributos de algumas das assinaturas tes de fazer a concatenagdo. Os vetores finais pelas duas abordagens sio testados com neural via leave-one-out para medir a taxa de 8 alcangada pelo sinergismo das assinaturas diferentes partes da folha. Outros métodos lizam-se da informagao genética. Mas mesmo métodos bastante sofisticados nao prescin- m dos procedimentos usuais de formar cole- ce descrever a partir da observasao. Para um estudo sistematizado da vegetagao, imos os seguintes pasos: observagio e descrigao da vegetacaoem uma de estudo; > definigdo e aplicacao de uma técnica para le- ntamentos florsticos e fitossociolégicos; ‘estudo da estrutura fisionomia da vegetacdo; desenho do perfil da vegetacao; “eoleta de material e herborizago: identificagao da espécime de planta. Para 0 catudo, os mat a de campo e caneta, fita adesiva, bar- jotnais, papelio, prensa, tesoura de poda sna e/ou um pequeno canivete, podao, plisticos (transparentes « pretas), piceta ) com Agua, algodio, papel milimetrado, de identificagao de plantas, quadrante rado, fita métrica, lupa de mao, régua. iais necessérivs sv. Observacao e descricao da vegetacao em uma drea de estudo A descrigao com base na observacio empitica € um bom exercicio para o olhar e deve ter seu foco no conjunto de caracteristicas que com- pdem a paisagem de um lugar. Na visualisagéo da paisagem, a vegetacio e a topografia s3o ca- racterfoticas maxcautes. ‘Observe mapas, mosaicos de fotografias aé- reas e fotografias comuns da érea, Escolha uma area, faga uma descricao geral (hsionémica) e crie um esbago em forma de desenho na cader neta de campo. Ao caminhar, repare nas plantas que ali se encontram. Anote essas observacdes em sua caderneta de campo. E possivel observar 0s seguintes aspectos: » porte da vegetagac » organizagao das copas das Arvores quanto a difusao da luz; » estratificagao interna (a floresta apresenta sub-bosque, so encontrados cipés, trepadeiras ou epilitas?), > caracteristicas fenol6gicas das plantas (flora- 640, frutificacao, folhagem); > grau de agregacao da tormacio estudada (crescimento isolado, em tufoe, agregados pe quenos, agregados extensos). Desenho do diagrama de perfil O perfil € uma projegao do que se vé num plano. Para a criago de um diagrama de perfil, demarca-se um trecho com barbante, definindo 0 transecto, no qual se observou a vegetaio, cu papel imilimetady, seguindo a escala deter- minada. Para apoias clabocasao de perfil, veja também 0 Ca- pitulo 2 Técnicas de Geomorfologia¢ o Capitulo 17 ~ ‘Técnicas de Desenho e Flaboragao de Perfis, deste ivr. capitulo 6 -técnicas de biogeogra 153 Diagramas de perfis podem ser utilizados no estudo da estratificasio, para ilustrar as relages entre a topografia e a distribuig3o horizontal das espécies ‘ou vegetacio de baixo porte. Esse perfil pode ser elaborado com base em car. ta topografica e em fotografia aérea, aliados a observacao de campo. Para o observador,é interessante distinguir em seu perfil as classes de estr Veia na Figura 6.25 um exemplo de perfil com topografia. Classificacao dos estratos vegetais Em Fitogeografia, além das pesquisas sobre a fisionomia da vegetacio com utilizagdo de técnicas de fotointerpretagdo, pode-se estudar a divisto estrutural das formagées vegetais, com especial atengo para as fisionomias. Numa fisionomia florestal, por exemplo, as espécies organizam-se em andares chamados estratos. Do chao a copa das arvores ha uma divisao estru- tural em niveis, relativos aos diferentes patamares de altura que alcangam as cespécies vegetais, Essa organizagio estrutural é fundamental na classificasi0 fisiondmica das coberturas e apresenta-se basicamente dos modos descritos a coguic, 1750 1700. 1650. 1600. 1550. 1500. Fun de vale A] NorieNordeste 8 / sursudoese Geétopos 1, -Campo graminecrlenhoso subtropical 2. Floresta tropical com Araucaria e Podocarpus 3. Floresta subtropical com Araucaria e Podocarpus sobre prado 4 Floresta subtropical com Araucaria e Pteridophyta arborescentes 5. Floresta secundsria subtropical com Araucaria e Myrtaceae (Area Al de estudo fitossociol6gico) 6 Floresta homogénea de Pinus eliotti 7 ~ Estrato herbdceo: nivel mais préximo ao cho, Jogo acimma da serapilheira. Ev domfuiv das plintulas (individuos jovens das espécies vege- tais) no reino tropical e onde ocorrem as grami- ‘eas e outras plantas nao lenhosas. Na floresta, ‘situa-se na altura da canela do observador. > Estrato arbustivo: nivel que se situa cerca de a2 metros de altura, onde estao os arbustos ¢ individuos um pouco mais crescidos de arvores ‘de pequeno porte, além das samambaias-asu (fe- tosarborescentes) + Estrato arbéreo: nivel com diferenciagSes va- tiadas, de diversos tipos de espécies arb6reas, que alcansam alturas bastante distintas. Pode formar, por vezes, o sub-bosque ~ um nivel in- termedidrio de arvores que se sobressai ante 0 strato arbustivo, mas que nao alcanga as copas das arvores mais altas. Ocorrem muitas drvores javens que formario o futuro dossel. ® Dossl:é 0 telhado da floresta, formado pelas copas das arvores que atingem maiores alturas. Pode apresentar diversas to. espacamento, possibilitando a entrada de uzem diferentes quantidades. E essencial paraa protecto das espécies que dependem de sombra para crescer. > Emergentes: nivel representado por algumas r- ‘ores que desenvolvem suas copas acima do dossel. psa diferenciagao na estrutura interna de uma floresta, aliada as condicoes do televo, pro- picia uma infinidade de microambientes, com uitas possibilidades de microclimas determi- nados por diferentes gradientes de temperatura, umidade e intensidade de luz. A fenomenal biodiversidade apresentada pela floresta tropical atlantica é explicada, em grande parte, pla grande variagao de micro-habitats de- correntes de diferentes composicbes de luz, ve- getacio e microclimas, o que é favorecido tam- bém pela variedade estrutural e de relevo. Em decorréncia dessa grande variagao de ambientes, hi uma infinidade de habitats para a fauna que, do mesmo modo, apresenta grande diversidade. Diferentes tipos de animais distribuem-se con- is de entrelagamen- forme a sua adaptagao, pelos estratos, ocorrendo desde us nfveis mais prdaituus av chav até as cu- pas das drvores. Por esse motivo. muitos animais sio especialistas e endémicos, ou seja, sofreram coevolucao com a floresta e vivem em condigdes proprias ¢ muitas vezes tinicas. Analisando-se novamente a legislacao referenciada no item A observagao no campo, deste capitulo, pode-se ve- rificar que a estrutura da floresta também indica ‘0 grau de regeneragio. O perfil da vegetacao representa uma espécie de fotografia desse arranjo estrutural vertical Ele pode ser desenhado artisticamente ou de for- ma esquemética, com a utilizasao de simbolos. Herborizagao Cabe ao gedgrafo realizar a coleta correta- mente e ao botanico identificar as espécies. Uma boa coleta deve conter um numero suficiente de exemplares para andlise, registra no herbi. rio e envio a outros especialistas, se necessério. Recomenda-se retirar cinco exemplares de ra- ‘mos da planta, contendo folhas, flores frutos, pois sdo essas as estruturas que permitem iden- tificar uma planta. Para facilitar a identificagao do material pelo especialinta, deve-se prestar atenyay © to- mar nota no caderno de campo dos seguintes aspectos: » Cheiro caracteristico (amassar a folha e sen- tir se exala aroma). » Presenca de sementes. frutos e flores (ou bo- t0es florais). Produgdo de latex e suas caracteris- ticas (leitoso, hialino etc,). Disposigdo de folhas Ro ramo. » Cordas flores, tronco, folhas ete. » Presenga de espinhos. > Observar o ambiente de crescimento da plan- ta (declividad, dicponibilidade do luz ote) > Proceder a coleta corretamente: em caso de plantas herbéceas, coletar até a raiz; em caso de arvores, coletar um ramo inteiro. ‘capitulo 6 - técnicas de biogeogra 155 » Nacoleta de folhas, prestar atengao para nao coletar somente © folfole, mas a folha intcira. A observagio € fundamental para a andlise das condigoes do meio fisico no momento da coleta. Por exemplo, se o vegetal nao estava com folhas nem frutos, & importante marcé-lo para retornar posteriormente. Depois de coletadas e devidamente iden- tificadas individualmente, as amostras devem ser cuidadosamente colocadas entre folhas de jornal que, por sua vez, devem ser colocadas entre duas folhas de papeldo e amarradas com barbante. Esta é a técnica de herborizagao, que conserva a planta ate 0 momento de sua identificagao. Caso nao seja possivel realizar a herborizagao no campo, recomenda-se que se coloque a amostra em sacos plasticos escuros, com alguns pedagos de algodao molhado (ca- ‘mara timida), até ser realizada a herborizasao € o envio das amostras para o responsdvel pela identificagao. A herborizagao deve ser feita logo apés 0 retorno do campo, de preferéncia no mesmo dia, para nao perder as amostras por ressecamento. muito importante que cada es- pécime coletada receha um ntimero sequencial e seja descrito no caderno de campo. A etiqueta de identificagao deve conter dados como: > nome do local da coleta; » data; > classificacao/nome vulgar; » nome do coletor; » observacdes. A Figura 6.26 traz alguns exemplos de ma- teriais apropriados para coleta e herborizagao. Identificagao O observador deve conhecer: > as principais diferencas entre angiospermas ¢ gimnospermas; > as principais diferencas entre monocotiled6- neas e dicotiledéneas; priticas de geografia > a caracterizacdo das diferencas entre ramo, raiz, folha, foro fratos > as diferencas entre folhas simples, (pinadas) e recompostas (bipinadas); > as diferengas entre frutos secos, carnoses, deiscentes e indeiscentes. As diferencas entre plantas epifitas e parasitas (hemi total) Para conhecer melhor uma formagao vegetal também sto utilizados procedimentos de levanta mento de campo para verificar algumas caracte risticas da flora presente (ocorréncia, frequéncie, variedade, fitossociologia etc.), Os resultados ob- tidos podem oferecer importantes informagves sobre as condigoes em que se encontra uma dada formagao vegetal, seja ela um fragmento ou uma formacao continua. E possivel diagnosticar alter ges decorrentes de atividades humanas, invasio de espécies exéticas, efeito de borda etc PROCEDIMENTOS PARA LEVANTAMENTOS FLORISTICOS E FITOSSOCIOLOGICOS Para.a obtensio dos dados quantitativos éne- cessirio estudar as técnicas de amostragem. Re ‘gras rigidas ou generalizagies que se adaptema todas as circunstancias devem ser evitadas, pela variabilidade das comunidades vegetais. Técnica das parcelas fixas © primeiro trabalho com ensaios fitossocio logicos no Brasil foi realizado com o intuito de melhor conhecer a relagao entre a febre amarela¢ ambiente da floresta: 0s hospedeiros, os vetores eo virus. Esse trabalho foi realizado por Davis (1945) na floresta Atlantica do municipio de Tere- s6polis ~ RJ. Davis utilizou duas picadas na mata (uma com 1.021 m e outra com 750 m). Estudou uma faixa com largura de 3 m, onde mapeou e gontou dryores © ediu v Diameuv a Altura do Peito (DAP). Veloso (1945) estudou os parametros de clima, solos e vegetac3o na mesma érea, utili também picadas, numa distancia de 1 km ‘enuma faixa com largura de 5 m, Dividiu o cami- em setores de 100x5 m. Varios outros estudos ‘que utilizaram os mais variados tipos de parcelas dem ser encontrados na literatura. Neles, a 4rea conforme 0 objetivo de estudo ¢ 0 tipo de 0 estudada, Quanto mais complexa a for- maior a area, o ntimero de amostras etc. drado, para delimitar amostras no campo Gum recurso que consegue destacar @ visua. uma parcela do conjunto da comunida- ‘O quadrado ¢ ideal para anilises estatis- ase designa a menor area da comunidade ue contém uma adequada representagio. A rma geométrica escolhida pode variar, mas o quadrado é a figura geométrica usada com maior frequencia, Quando a vegetacao apre- 1 estratificacao, usam-se quadrados com reas, encaixadas umas nas outras. Os quadrados devem ser suficientemente grandes ara incluir arvores © conter outros menores, para as estratas arbustivos e herhaceos. Aeescolha dos pontos onde se vai tracar os drados no campo pode ser definida por meio Tinhas (transectos), conforme o objetivo do sstudo, A definicao dessas linhas pode partir, f exemplo, da anslise prévia de fotografias ‘ou de imagens de satélite. Varios estudos sm que uma érca de 10.000 m” (1 hectare) suficiente para amostrar a diversidade de a formasao florestal. Essa delimitaca0, no 0, deve ser controlada por uma curva de x quando é alcancada a representatividade espécies numa certa formacao vegetal (COT- }e CURTIS, 1956). yy + 4 ote mt Figura 6.26.Tipos de poo (a,b); deslantador (dh prancha aera) fechada A delimitacao da parcela é feita com bar- bante e estacas ou com as proprias arvores. O observador deverd classificar e anotar 0 ntimero de vezes que uma mesma planta ocorreu no in- terior do quadrado, Para o estuda de elementos arbéreos, deveré determinar o diametro mini- mo que sera considerado (DAP), Para facilitar, utiliza-se Perimetro Minimo a Altura do Pei to (PAP). De acordo com a formagao, pode ser de 10 cm, 20 cmete. Essa avaliacao é subjetiva, mas 0 observador deve consultar trabalhos ja realizados para verificar como foram definidos © PAP ou o DAP em formacoes semelhantes. (Os dados deverao ser sistematizados em forma de tabela, como as Tabelas 6.2 ¢ 6.3 exemplifi- cadas a seguir. Para calcular a érea basal a partir do perime- tro da drvore, considere que dado o perfmetro (P), achase o rato {x}: = P /2n. capitulo 6 - técnicas de biogeogratia 157 Com o raio, acha-se a érea (A): A = nP°/2 A partir dos dados apresentados pode-se cal- cular a densidade ¢ a frequén Eonimero total de individuos de cada espécie encontrados numa determinada érea de amostra Calculo da densidade: toma-se uma amostra em forma de quadrado da vegetacao em estudo. © tamanho do quadrado varia conforme o tipo de formacdo vegetal. Identificam-se as especies diferentes entre si, numerando-ae. Em seguida, promove-se a contagem dos individuos iguais. Aplica-se a definigo a seguir para estimar a den- sidade absuluta ¢ iclativa, > Densidade absoluta = nimero de espécimes ‘guais dentificados dividido pela érea do quadrado. Bi (om) 3 Total Namero de ocorréncias » Densidade relativ iguais identificados divi de espécies. ntimero de espécimes lo pelo ntimero total A frequéncia indica a presenca de espécies ‘em todas ou em algumas amostras. O célculo é feito considerando o ntimero de quadrados em que se observou a ocorréncia da espécie em rela- ¢40 ao ntimero de quadrados examinados. Frequencia = numero de quadrados em que a espécie acorrou dividido pelo niimera de quis- drados examinados. Observasao: a densidade e a frequéncia in- dicam © nimero ea distribuigde, mas nde mos tram o tamanho, 0 volume ocupado ou a quan- tidade do terreno coberto ou sombreado. ‘Area basal (m) FROG) RG) wide de cad acpi AB coma dae Saat baie ds spc FR Frequénca Rata): (pnp —tota100; OR (Densidad Relat): (rin -tta)100; DOR (Domina Relat): ABLAAB— Técnica do quadrante centrado Opprimeiro estudo a aplicar a técnica dos qua- drantes no estudo de vegetacao tropical foi reali- zado por Goodland (1964), na Guiana Francesa. ‘Um dos estudos importantes quanto a revisio metodoldgica dessa técnica pode ser encontra- dona pesquisa realizada por Martins (1993). O autor discorre sobre 0 desenvolvimento histérico ‘desea técnica, muito usual e pritica no estudo do “componente arbéreo de florestas tropicais ‘Oquadrante é uma espécie de cruzeta para selecionar amostras aleatoriamente. Define-se um caminhamento (transecto) que ser estuda- do pela técnica de amostragem por quadrantes. O procedimento devers ser 0 seguinte: Em cada ponto de amostragem, a cada 10 metros, estahelecem-se de mado aleatério os ‘quatro quadrantes através de uma cruz de ma- deira mével encaixada em um suporte. © Mede-se a distdncia do ponto ao centro da r- ore (portanto, soma-se raio da mesma) mais pro xima em cada quadrante, Mede-se com uma trena ‘operimetro do tronco e identifica-se a espécie, ® Olimite inferior de dian thido com base no estrato mais baixo que se de- sejaincluir na amostragem, estimando o dime- ‘tro médio das arvores desse estrato. » Deve-se considerar as 4rvores mortas ¢ excluir os pontos de amostragem localizados em éreas que ndo representam a vegetacdo que se preten- de caracterizar, como os pontos de amostragem que caem em clareiras no interior da mata. Osdados coletados pela técnica dos quadran- tes e das parcelas fixas serao utilizados para 0 cilculo de valores relativos de densidade, fre- ‘quéncia, dominancia ¢ valor de importancia. uy deve ser exco- Uma tabela, como a Tabela 6.4, exemplifi- cada a seguir, ajuda na organizacao dos dados Todo 0 material estudado, seja pela técnica de parcelas ou de quadrantes, deve ser identifi- cado. Para isso, € necesséria a coleta para iden- tificagao da composicao floristica. ‘Os mesmos campos da Tabela 6.3 podem ser preenchidos utilizando-se essa técnica. Apés 0 célculo do IVI para cada espécie, organiza-se uma tabela em ordem decrescente de importancia (ver exemplo na Tabela 6.5). Outras formas de tratamento e apresentagio dos resultados devem ser utilizadas, como: ~ Némero de individuos (% do total amostra. do} por familias ~histograma » Distribuigdo do indice do valor de importan- cia por familias histograma, » Distribuigao do numero de espécies por fa- milia - histograma. > Distribuigdo de frequéncia das classes de di- metro histograma e curva. » Teste de suficiéne da amostragem — curva do niimero acumulativo de novas espécies (es- Pécies inéditas) por ntimero de pontos de amos- tragem ~ grafico. » Qcorréncia das espécies nos pontas amostra- dos ~tabela > Paraa interpretago dos resultados indica-se consultar 0 trabalho de Martins (1993). Diversidade Existem vérios parametros envolvidos na and- lise da biodiversidade. Com base nas amostra~ gens, podem ser calculados alguns parametros que nos permitem avaliar frequéncia, dominan- cia, composigio ¢ indice de valor de importincia, OBSERVANDO O MEIO FisiICO Para melhor compreender 0 que se vé no campo, é necessario correlacionar os dados de distribuigdo e ocorréncia dos seres vivos com 0 meio fisico ou fatores abiéticos. Isso porque to- dos os seres vivos tém sua existéncia controlada pela variacao de muitos fatores do meio fisico capitulo 6 ~ cnicas de blogeogratia 159 [N° do ponto Espécies 1 a » ) a 2 a > a Posigso species Familias 1 ec theerans Arouitoliceae 2 Tabebui cassioldes _Bignoniacese combinados, tais como a umidade, as tempera- turas,o tipo de solo, a orientagdo de vertente, Na escala do tempo ecologico, a interacao desses fa- tores tem tum papel importante na mannitenca de um ou outro tipo de ecossistema. Os fatores do meio fisico determinam, por exemple, 0 tipo de vegetagdo que pode ocupar uma vertente ou uma zona litordnea e condicio- namas caracteristicas das comunidades vegetais. Por outro lado, as comunidades podem também criarnovas condiges ambientais pela sua prépria existncia. E 0 caso de uma floresta. Para existir, ela depende de condigdes de umidade e tempe- ratura especificas na atmosfera, Por sua vez, em razdo das suas préprias caracteristicas biol6gicas, poderé criar abaixo do dossel(encontro das copas de arvores) outros ambientes. Irata-se de estudar nas diferentes escalas quais fatores do meio esta atuando e como interagem Os fatores do meio fisico podem ser tipifica- dos como: climéticos, edéficos ¢ geomorfolégi- praticas de geopratia Distancia + raio 3 DR% FR oR im 1250 130 4530 6910 an 480 eas 1743 cos, Os climéticos so os de maior amplitude, pois condicionam os fatores biolbgicos, edaficos e geomorfologicos em diversas escalas de tem- poe espaca Pela expasto, perrehe-se coma ox campos de conhecimento da Climatologia, Geo- morfologia e Pedologia, tratados em capftulos espectficos, sto importantes para a Biogeografi E recomendavel trabalhar com o intervala minimo de um ano de observac4o para que se possa ter um acompanhamento de pelo menos um ciclo estacional. As abservagdes didtias sia como um flash do ambiente e nao devem ser des- cartadas. ESTUDO DOS FATORES CLIMATICOS Os fatores climéticos, como temperatura, luminosidade, precipitagio, umidade atmos eventos podem ser estudados em diferentes las, desde uso de satélites até estudos mi- crometereolégicos. Os dados macrometeorol6gi- 0s podem ser obtidos por meio de consultas as tages meteorologicas, aeroportos, cartas de ‘etc. No campo, na escala do observador, mais evidente 0 tempo do dia observado, considerando o sistema de nuvens, ventos, tem- eratura, umidade relativa do ar etc. Depen- da da objetiva do estuda, pade-se comparar um perfil climatico com um perfil de cobertura | ou observar comportamentos da fauna ompanhé-los com a variasao do microclima estudo desses parametros pode-se utilizar técnicas sugeridas no Capitulo 5 ~ Técnicas de Climatologia influéncia dos ventos Ovento influencia a umidade do ar que, por ua vez, influencia a ocorréncia de chuvas ¢ a dade relativa do ar e, portanto, interfere na anspitagéo da vegetacao. O vento é um indi- imético do tipo de tempo, além de ser inte na dispersio de sementes e na chuva “Aluz no ambiente ‘Aluzé um dos fatores essenciais para os seres vivos. Basta lembrar que a fotossintese, atividade pela qual as plantas obtém energia para a so- jivencia, depende desse fatur. A quantidade ¢a qualidade da luz e 0 niimero de horas de ‘exposigéo variam no ambiente ¢ atuam como ‘ator limitante na ocorréncia e distribuigdo das plantas. Normalmente empregam-se luximetros para medir a intensidade luminosa. No campo, os i= _ximetros (ver Capitulo 5 - Tecnicas de Climato- logia) sao os mais indicados, pela facilidade de transporte e precisa. A temperatura no ambiente ‘A temperatura 6 considerada um dos fatores limitantes fundamentais para os seres vivos. A atividade metabolica dos animais nao homeotér- micos (como anfibios ¢ répteis) é sensivelmente modificada conforme a variacdo da temperatura no ambiente, Mesmo nos organismos que con- trolam internamente sua temperatura, como € 0 caso dos mamfferos. o ritmo térmico tem um papel importante no comportamento. Para as plantas, a temperatura do meio controla as taxas de evapora sao ¢, indirctamente, a fotossintese (por meio da abertura e do fechamento dos estématos) ‘Um estudo do perfil de temperaturas pode ser interessante para compreender determinada rea de distribuigao de uma espécie. A temperatura do solo A temperatura do solo é muito importante para as plantas ¢ a fauna do solo. Em regides li toraneas, por exemplo, a temperatura na areia pode chegar a 80 °C enquanto a temperatura do ar pode estar entre 20 °C e 30 °C. O solo pode também se resfriar mais do que o ar durante a noite e produzir geadas. A temperatura 8 super- ficie do solo podera ser obtida por meio de um termOmetro infravermelho, pois a incidéncia di- reta de ratios solares nos bulbos de termOmetrus comuns interfere em sua determinagdo. Um per- fil de comportamento térmico em profundidade pode ser ttl para compreender o arranjo espacial de coberturas vegetais ¢ também a atividade bio- l6gica da fauna de solo. Aumidade ar e evaporacao ‘A quantidade de vapor de agua no ar é um fator controlador da transpiracao das plantas e esta ligada também as precipitagdes. Veja no Ca- ‘capitulo 6 ~ técnica 161 162 pitulo 5 ~ Técnicas de Climatologia a explicaga0 da URe as técnicas ¢ instrumentos para medi-la Utilizando um evaporimetro de Piché, pode- -se calculara evaporagao da gua num intervalo qualquer de tempo. Os solos como suporte da vida Os solos sao de vital importancia para os seres vivos. De sua natureza depende uma in- finidade de processos que determinam os tipos de cobertura vegetal existentes na Terra. Que processos sdo esses? Do solo advém os nu- trientes e a 4gua para as plantas, e suas rafzes descnvolvem-se diferentemente conforme as ca racterfsticas fisico-quimicas do tipo de solo. Os organismos end6genos que vivem no solo sto importantes para a reciclagem dos nutrientes, assim como para as propriedades quimicas « fisicas do solo. solo constitui, portanto, um dos fatores limitantes ao desenvolvimento das wdus de 10 comunidades bioligicas. Solus a chas carbonaticas diferem de solos derivados de rochas graniticas, por serem mais acidos. As plantas tropicais geralmente sao calcifugas, ou seja, preferem solos écidos. Mas o solo tem uma génese ligada a processos climAticos, morfoge- néticos e biogénicos que ocorrem h4 muito tem- po. E importante para o observador de campo proceder & andlise cuidadosa do solo, para me- Ihor compreender a comunidade vegetal. Para 18s0, pode apotar-se nas atividades propostas no Capitula 4 ~ Técnicas de Pedalogia. ESTUDOS DA FAUNA ‘Uma das subareas de estudo da Biogeografia a Zoogeografia, estudo cientifico da distribui- 80 e ocorréncia da vida animal, que trata das influencias do meio, das miituas relagdes entre as espécies animais ¢ da sua distribuicao pela raticas de geografia ‘Terra, nao sé no momento atual como durante} as Eras Geolégicas (LEITAO, 1947). Sabe-se o quanto é dificil observar e se apro, ximar dos animais. Sabe-se, também, que ¢ muito prazeroso poder observa-los na nature za. As pessoas no apreciam a fauna do mesma] ‘modo, hé preferéncias: alguns tém medo, outro repulsa por certos tipos de animais. Independen | temcnte dos seuliaentos, os aninnais adv pate fundamental de todos os ambientes. Muitos si injustigados ~ como anfibios, répteis e uma inf nidade de insetos, porque a maioria das pessoas desconhece o beneficio que trazem ao ambiente Um exemplo de injustica 6 0 caso dos ani mais necréfagos e uma grande infinidade de s res decompositores. Sao verdadeires lixeitos 1 natureza, que realizam uma inerivel limpeza do ambiente, O urubu, 0 camarao e a garca, apes de bem diferentes, cumprem papéis semelhan- tes na natureza, pois aproveitam restos animai e vegetais em sua alimentacao, transformando- 0s e devolvendo-os em forma de nutriente para a cadeia alimentar, Asin como eles, of tatus e as hienas também sao necréfagos av detritivoros. Sao animais que se alimentam ée organismos mortos, em estgio pouco avang: do de decomposigio. Seria muito interessante estudar na sua localidade quem sao 0s injusti ados, tais como esses importantes animais di cadeia alimentar. E claro que existem animais que sao peti ‘g0S0s para nossa satide e para nosso modo de vida, mas a generalizacao nos levou a um gram de exterminio de animais, Muitas de nossas im pressées sobre a fauna sio produto da falta de informagao. Hi ume infinidade de animais que nem per cebemos em nosso dia a dia. pois nosso olhat dedica-se somente a percepcao de alguns grup considerados mais belos pelo senso comum, os mais evidentes na paisagem. Do mesmo mos que ocorre com o estudo da vegetagao, 0 gesgre fo nao precisa ser um especialista em fauna, mas ages precisa saber perceber siz em senca, conhecer um grupo indicador de am- gue av cleat utia ist fauniotica evn projetos planeiamento, usando seus conhecimentos de iogeografia Os animais variam de tamanho e estrutu- por isso néo ze pode empregar uma técnica jo para observacao, captura e conserva- g. Os procedimentos variam muito segundo diferentes grupos. Inicialmente, procura-se rear quais 63a 8 2 nte visiveis. A utilizagdo de fotografia é ito til no estudo da fauna, uma vez que se coletar © minimo posstvel, pois pelo des- mento da fauna local. nao se sabe que ieragdo sera provocada no ambiente, qual 0 gnificado de determinados espécimes etc. A oleta s6 deve ser realizada quando absoluta. nte necesséria ao avango do conhecimento entifico, Deve-se evitar a coleta de espécies sas e utilizar a fotografia, Obviamente, algu- formas de coleta nao irko provocar distir- ono balango da natureza. Alguns insetos, or- nismos pelgicos, algumas formas de plantas sain uma voleta considerdvel Os cadernos de anotacdo devem conter todas informages dos animais observados, fotogra- ‘ou coletados. Os animais coletados devem devidamente conservados ¢ corretamente eti- dos. A conservagio dos exemplares deve feita segundo manuais, pois varia para os di- rentes grupos. As capturas fetas corretamente stros e pegadas de animais Existem varias formas de se identificara pre- de fauna no campo, com a utilizagao de umentos ¢ técnicas, das mais simples até mais sofisticadas. Entretanto, estudar a fau- nao 6 tarefa simples, ainda mais em regides is, nas quais as limitagoes sao impostas caracteristicas discretas de muitas espé- ‘epela vastidao dos territ6rios. Mesmo com \dos, muitos animais s40 vayau, dificil, equipamentos sofisti atiscus © sua obs Procurar vestigios da presenca dos animais & a mais importante tarefa do observador. Sinais tipicos sio encontrados e, se corretamente in- terpretados, podem oferecer uma identificagao segura do animal que os produziu, além de in- formagées eficazes sobre sua ecologia. Os vesti- gios mais comuns deixados pelos animais, que podem ser > fexes; > pegadas; > pelos, > tocas, abrigos e ninhos: > restos de alimentos; > restos de anteparos. irradas em suta identificac in Aa As pegadas sio os sinais encontrados com maior frequéncia e de interpretagao mais con- fiavel. Observar pegadas é uma forma eficar de identificar a presenga de animais na drea de cestudo, Com base em sua observacdo ¢ na ela- boracio de moldes, pode-se identificar princi- palmente a ovorréncia de meso € maciofauna, principalmente répteis. aves e mamiferos, Os locais mais propicios & presenga de pe- gadas sao: beirada de corpos d'gua, locais en- lameados ou arenosos, trilhas © préximo a ar vores frutiferas. E importante ter informacées basicas sobre os habitos dos animais a serem pesquisados, para melhor direcionamento da observagao dos locais favoraveis 4 presenga de fauna E essencial observar 0 tamanho das pega- das (medir com régua), fotografar, identificar 0 niimero de pegadas, a quantidade de dedos, a distancia entre eles, o formato da pegada (ocor- réncia de almofada) e 0 local onde a pegada foi cencontrada, O caderno de campo é material indispensével, pois todas as observagées feitas devem ser anotadas. A Figura 6.2/ tlustra um exercicio simples para treinar a técnica de se fazer um molde de uma pegada. capitulo 6 tecnicas de biogeogeatia 163 1A ESTUDANDO AS AVES A vivéncia no trabalho de campo permite ob- servar e identificar diversas aves. Alguns com- portamentos das aves facilitam prever e deduzir outros. A observacdo de aves € uma prética que envolve milhdes de pessoas em todo o mundo. Nenhum outro grupo de animais silvestres exerce maior atrago sobre as pessoas, pela sua simples contemplagao. Certamente, algumas qualidades notaveis das aves sao responsdveis por isso, como sua capacidade de woo, invejada pelo homem por centenas de anos; seu colorido, muitas vezes im- possivel de ser reproduzido numa pintura, pois algumas cores sto decorrentes de iridescéncias da propria estrutura das penas; seu canta, melodioso ‘ agradavel ao ouvido humano. A isso, acresce-se a grande conspicuidade das aves, que podem ser vistae woando a grandee alturas ou cobrevoando ‘ondas em alto-mar, nos desertos mais éridos e no in6spito inverno antértico. A observayau € v revoniecinent das espe= cies de aves podem ser feitos em grande parte pela sua simples visualizagao e escuta. Prova disso € que muitos moradores das areas rurais ska grandes conhecedores das aves de ssa r gio, Mas 0 uso de equipamentos poderd ser ‘muito itil. Tudo dependera do maior ou menor intoroase pela observagio ¢ do aprofundamento em suas técnicas. Sao de grande utilidade os guias de campo, livros em geral com formato pequeno para se- rem levados em campo, com desenhos ou fotos de todas as aves de determinada regido. Hé guias para todo o pais, para apenas um esta. do ou uma localidade restrita, como o Aves campus (HOFLING E CAMARGO, 2002), qu retrata as espécies de aves da Cidade Univers téria, em So Paulo. Dois guias de abrangénci nacional so: Aves brasileiras (FRISCH, 1981) ¢ Todas as aves do Brasil (SOUZA, 2004). Mods de observagao de aves Observagio de espera: o observador fica p rado em determinado local por algum tempo, preferéncia préxima a lago, tio on Arvare com| frutos, esperando que as aves da regio apare am. E recomendével que as observac6es sean feitas ao amanhecer ¢ ao entardecer. Observagao de percurso: o observador fa suas ubservayOes Caminhando por estrada, tt Iha, picada, campo ete. Equipamentos e dicas tteis para a observ cho cientfica de aves: > camera fotogratica; > GPS; > binéeulos » boné para evitar luz sobre os olhos e melhor © contraste e a saturagio de cores na visualize ga por meio de bindculo; ~ lanternas para observagées noturnas ¢ outta) menores de reserva; OO fncher uma Fexeruma Colsearume tra —_—Despeargetso Ungar omolde st it le Pegsds de papalioem noeentroe endureedo com Figura 6.27. Fazendo un oka da paged dexblowacar——umaexoun. olde deuins pegada prdtiene do googratio fitas coloridas impermeaveis para marcar na mata;

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