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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA - NÚCLEO ITABORAÍ

Itaboraí – Tanguá – Rio Bonito


Rua João Caetano, nº 207 (Double Place Office), salas 602 e 603, Centro, Itaboraí
RJ CEP.: 24800-113 - Tel.: (021) 2645-6902
1pjtc.itaborai-mage@mprj.mp.br

EXCELENTÍSSIMO SENHOR D OUTOR JUIZ DA VARA CÍVEL DA


COMARCA DE RIO BONITO

Referência: Inquérito Civil 17 2/2020

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ,


inscrito no CNPJ sob o n° 28.305.936/0001 -40, pelos Promotores de
Justiça que abaixo subscrevem , Titulares da 1ª Promotoria de Justiça
de Tutela Coletiva do Núcleo Itaboraí e da 2ª Promotoria de Justiça de
Tutela Coletiva do Núcleo Itaboraí , vem, com fulcro no artigo 129, inciso
II da Constituição Federal e artigo 1º da Lei n o 7.347/85, no exercício de
suas atribuições legais e constitucionais, respeitosamente ajuizar a
presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDOS DE TUTELA DE


URGÊNCIA, DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER E DE NULIDADE

em face da

1. CÂMARA MUNICIPAL DE RIO BONITO , pessoa jurídica de direito


público, CNPJ número 30.339.501/0001-68, neste ato representada
por seu PRESIDENTE SENHOR HUMBERTO ALEXANDRE
BELGUES DA COSTA RAMOS , inscrito no CPF número
972.811.407-97, situada na Rua Desembargador Itabaiana de
Oliveira, 95, Centro, Rio Bonito, Rio de Janeiro, CEP: 28800 -000 e
do
2. MUNICÍPIO DE RIO BONITO, pessoa jurídica de direito público ,
CNPJ número 28.741.072/0001 -09, neste ato representado por seu
PREFEITO SENHOR JOSÉ LUIZ ALVES ANTUNES , inscrito no CPF
número 232.112.967 -00, situado na Rua Monsenhor Antônio de
Souza Gens, 23, Centro, Rio Bonito, Rio de Janeiro pelos motivos
de fato e de direito que passa a expor:

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I – DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público, Instituição permanente tem suas


funções elencadas no artigo 129 da Constituição Federal de 1988: “Art.
129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) III - promover
o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e outros interesses difusos e
coletivos”. (grifado).

Ao Ministério Público cabe a defesa da ordem jurídica, do


regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis,
sendo esta sua missão constitucional, conforme dispõe o art. 127, da
CRFB de 1988. Uma de suas funções institucionais do Ministério Públic o,
o zelo pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,
promovendo as medidas necessárias à sua garantia, nos termos do art.
129, inciso II, da CRFB de 1988.

Compete ao Ministé rio Público, dentre outras funções


institucionais, exercer o controle da legalidade dos atos administrativos,
devendo, para tanto, adotar as providências administrativas e judiciais
previstas em sua esfera de atuação , demonstrando -se que, no caso em
tela, envolvendo questão afeta à remuneração devida ao Prefeito, Vice -
Prefeito e Vereadores há legitimidade do Ministério Público em atuar,
visando à análise de sua legalidade e para a eventual adoção de
providências caso constatada ilicitude.

II - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

II.1 – LEGITIMIDADE DA CÂMARA MUNICIPAL DE RIO BONITO

Segundo a Teoria da Asserção, adotada pelo nosso STJ, a


legitimidade para a causa, tanto a ativa quanto passiva, decorre pura e
simplesmente de uma afirmação do autor na inicial, quando figura na

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relação jurídica de direito material ou em qualquer relação de


causalidade, como se colaciona abaixo:

PROCESSUAL CIVIL – ADMI NISTRATIVO –


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO – AUSÊNCIA DE
NEXO CAUSAL NA NARRAÇÃO MINI STÉRIO PÚBLI CO DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO 2ª PROMOTORIA DE
JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA DO NÚCLEO ITAPERUNA
MNIISTÉRIO PÚBLI CO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CONTIDA NA PETI ÇÃO VESTIBULAR – CONDI ÇÕES DA
AÇÃO – LI MITES RAZOÁVEIS E PRO PORCIONAIS PARA A
APLI CAÇÃO DA TEORIA DA ASSERÇÃO – ILEGITIMIDADE
PASSIVA AD CAUSAM DO ENTE ESTATAL. 1. A teor ia d a
asserção estabelece direito potestat ivo para o autor do
recurso de que sejam consideradas as suas alegações em
abstrato para a verif icação das condições da ação, entretanto
essa potestade de ve ser limitada pela proporcionalidade e
pela razoabilidade, a fim de que seja evitado abuso do
direito. 2. O momento de verif icação das condições da ação,
nos termos daquela teoria, dar -se-á no primeiro contat o que
o julgador tem com a pet ição inicial, ou seja, no inst ante da
prolação do juízo de admissibilidade inicial do procedimento.
Logo, a verif icação da legit imidade passiva ad causam
independe de dilação probatór ia na instância de origem e de
reexame fát ico -pr obatório na esfera extraordinár ia. 3. Não se
há falar em legit imidade passiva ad causam quando as
alegações da peça vestibular ilustrarem de maneira cr istalina
que o réu não figura na relação jurídica de direito material
nem em qualquer relação de causalidade . Agravo
regimental provido. (AgRg no REsp 1095276/MG, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado
em 25/05/2010, DJe 11/06/2010) .

A súmula 525 do STJ preceitua : “Câmara de Vereadores


não possui personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária,

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somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos


institucionais. ” (Súmula 525, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015,
DJe 27/04/2015) .

Embora não tendo personalidade jurídica, a Câmara


Municipal pode figurar no polo passivo de uma relação processual, eis
que possui personalidade judiciária, conforme lição, dentre outros, do
mestre Hely Lopes Meirelles . A capacidade processual da Câmara para
a defesa de suas prerrogativas funcionais é hoje pacificamente
reconhecida pela doutrina e pela jurisprudência (TJRS, RDA 15/46;
TJPR, RT 301/590, 321/529; TJSP, RT 247/284).

Apesar de ser o Município quem detém personalidade


jurídica, não há que se negar capacidade processual, ativa e passiva, à
Edilidade, para ingressar em juízo quando tenha prerrogativa ou quando
houver direitos próprios a defender.

No caso em tela, a Câmara Municipal figura no polo passivo


desta demanda em razão dos atos praticados pelos seus Vereadores ,
ensejando a edição de atos que se postula a nulidade, por ofensa à
legislação em vigor e ao devido processo legal legislativo.

II.2 – DA LEGIMITIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO DE RIO BONITO

Como salientado, o ente que efetivamente detém


personalidade jurídica é o MUNICÍPIO DE RIO BONITO, efetivamente
impactado pelos atos praticados pela Câmara Municipal de Rio Bonito,
através de votação encetada pelos seus Vereadores.

O aumento dos subsídios votado no PL 019/2020, que


acresceu valores aos ven cimentos mensais de Prefeito, Vice -Prefeito e
Secretários Municipais, efetivamente, acarreta impacto orçamentário no
Executivo de Rio Bonito, de onde partirão as ordens das referidas
despesas.

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Ademais, o PL 020/2020 que aprovou aumento dos subsídios


dos Vereadores de Rio Bonito, acarretará, ainda, consequências de
ordem previdenciária, impactando mais uma vez, as contas municipais.

III – DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

III.1 - DA INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO CIVIL 17 2/2020

Recentemente, foram recebidas diversas representações no


âmbito da 1ª Promotoria , noticiando a existência de projeto de lei iniciado
junto à Câmara Municipal de Rio Bonito, visando ao aumento dos
vencimentos de Vereadores, Prefeito, Vice -Prefeito e Secretários
Municipais de Rio Bonito, indicando vícios e irregularidades no
procedimento.

Consta das representações que, no dia 30 de novembro de


2020 fora encaminhado à Câmara Municipal ofício do Executivo de Rio
Bonito, com o VETO INTEGRAL do Prefeito de Rio Bonito ao projeto de
lei, encaminhado pela Câmara, que visava ao aumento dos subsídios de
Prefeito, Vice-Prefeito e Secretários Municipais , para a legislatura
2021/2024, considerando o projeto ilegal e inconstitucional, contrário ao
interesse público .

Os fatos foram amplamente noticiados na mídia escrita


e televisiva 1234.

Instaurado o inquérito civil 172/2020, oficiou -se à Câmara


Municipal de Rio Bonito, que em até 72h, encaminhasse cópia
digitalizada integral do processo legislativo que culminou no aumento
dos subsídios dos referidos agentes públicos, esclarecesse se foi

1 https://extra.globo.com/noticias/extra-extra/contra-prefeito-de-rio-bonito-vereadores-aprovam-aumento-de-salario-24791218.html
2 https://tvuol.uol.com.br/video/rio-bonito-vereadores-dao-aumento-a-gestores-
04028D9A3064E0C16326
3 https://www.bandnewsfmrio.com.br/editorias-detalhes/vereadores-de-rio-bonito-

aprovam-aumento-de-s
4 https://youtu.be/XR-BY7uDsYk
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providenciado o estudo de impacto orçamentário -financeiro,


demonstrasse que o aumento tem adequação orçamentária e financeira
com a lei orçamentária anual e compatibilidade com o plano plurianual e
com a lei de diretrizes orçamentárias , assim como com a Constituição
Federal e Estadual .

Requisitou -se, ainda, que fosse comprovado que o aumento


não afetaria as metas de resultados fiscais e da demonstração de
medidas de compensação e que se informasse se eventual veto pelo
Prefeito ao proje to de lei que pretendia aumentar o valor dos subsídios
dos agentes políticos municipais para a legislatura 2021/2024 teria sido,
de fato, derrubado pela Câmara . Para a demonstração do alegado,
requisitou -se fosse remetida cópia da ata da sessão em que a Câ mara
teria derrubado o veto do Prefeito ao projeto de lei, assim como do vídeo
e áudio da referida sessão . Ao final, requisitou -se fosse comprovado
onde e quando teria sido publicada a lei que majorou os subsídios dos
agentes políticos municiais para a leg islatura 2021/2024 .

Oficiou-se, ainda, ao Pre feito de Rio Bonito,


requisitando que informasse o valor da receita tributária e das
transferências previstas no § 5 º do artigo 153 e nos art igos 158 e 159,
da Constituição da República, efetivamente realizado no exercício de
2020. Requisitou-se, finalmente, que fosse remetida cópia do parecer da
Procuradoria-Geral do Município e de seu ato administrativo (com as
respectivas razões) que se manifestou pelo veto ao projeto de lei que
pretendia aumentar o valor dos subsídios dos agentes políticos
municipais para 2021 .

Em resposta ao expediente Ministerial, o Município de


Rio Bonito encaminhou o OFÍCIO 1280/2020 , anexados aos autos do
IC que instrui a demanda. A Câmara Municipal respondeu ao Parquet
com o OFÍCIO 149/2020 , encaminhando cópias digitalizadas dos
projetos de lei e suas respectivas aprovações.

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III.2 – DO PROJETO DE LEI 019/2020 – AUMENTO DOS SUBSÍDIOS


MENSAIS DE PREFEITO, VICE -PREFEITO E SECRETÁRIOS
MUNICIPAIS PARA A LEGISLATURA 2021/2024

Como consta do projeto de lei 019/2020, encaminhado à


Municipalidade, os valores dos subsídios mensais de Prefeito, Vice-
Prefeito e Secretários Municipais para a legislatura 2021/2024
passarão a ser, respectivamente: R$22.000,00, R$14.000,00 e
R$11.000,00, como se colaciona abaixo:

O Projeto de Lei foi instaurado, por iniciativa da Mesa


Diretora da Câmara, em 04.11.2020, juntado às fls. 03/12 do processo
referente ao PL em comento o estudo de impacto orçamentário

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financeiro, que teria sido realizado no dia 04.11.2020. Ao final do estudo,


apresenta-se conclusão de que não haveria aumento de despesa que
impacte no orçamento do Município de Rio Bonito nos exercícios de
2021, 2022 e 2023. Não consta assinatura, matricula ou carimbo do
responsável pelo estudo nos autos do referido PL .

Em 11.11.2020 a comissão de justiça e redação da Câmara


aprovou o projeto em comento, não constatando irregularidades ou
ilegalidades que impedissem seu prosseguimento, acostando -se o
parecer às fls. 15/16 do aludido PL 019/2020. O encaminhamento do PL

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ao Município de Rio Bonito se deu em 18.1 1.2020, conforme fl. 19 do


referido procedimento.

Sobre o PROJETO DE LEI 0 19/2020, é importante ressaltar


que, conforme consta em Ata da 31ª Sessão Ordinária do Segundo
Período Legislativo, a Sessão Plenária ocorrida em 11/11/2020 às
10h45m tomou por base o Parecer emitido pela Comissão Permanente
de Justiça e Redação emitido no mesmo dia às 8 horas (fls.14 -15).

Relevante salientar, ainda, que o Relatório de Estimativa de


Impacto Orçamentário e Financeiro que tratou do acréscimo dos
subsídios dos agentes políticos do Poder Executivo do município de Rio
Bonito (sem assinatura e identificação de quem a elaborou) data de
04/11/2020 e foi elaborado pela Mesa Diretora da Câmara dos
Vereadores, com menção de autoria no cabeçalho do instrumento .

Sobre as estimativas de impacto elaboradas pela Câmara,


não há qualquer pronunciamento técnico nos autos da Secretaria
Municipal de Finanças, de Fazenda, de Orçamento, de Administração
ou de Recursos Humanos .

A Mesa Diretora da Câmara afirma nos autos do PL 019/2020


que o aumento proposto não ocasionará impacto nos orçamentos de
2021, 2022 e 2023 . Entretanto, tal declaração foi feita SEM
COMPROVAR:

i. o montante de despesas na sua totalidade,


ii. em qual Fonte de Recursos recairia a obrigação de
caráter continuado e
iii. qual o impacto frente às Ações Governamentais
respectivas .

Observa -se da leitura do PL 019/2020 que, para o cargo de


Prefeito o aumento proposto ultrapassou o índice de reajuste de 22%,

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enquanto que o subsídio do Vice-Prefeito chegou a 40% e o dos


Secretários, que é mesmo em referência ao pagamento dos Vereadores,
conforme legislação local, chega a 59,88%.

Sobre as receitas que suportarão a expansão dessas


despesas, a Mesa Diretora da Câmara dos Vereadores, sem qualquer
balizamento técnico pelo órgão munícipe competente afirma que “ os
reajustes dos cargos supramencionados, para a Prefeitura Municipal de Rio
Bonito, terão seus efeitos compensados pela expansão das receitas
municipais geradas pelas Transf erências da União – Específicas de Estados,
DF e Municípios, cuja previsão de arrecadação e os valores já arrecadados
encontram-se em documento acostado, emitido pela Secretaria Municipal de
Fazenda ”.

Desse modo, quanto à forma, no que diz respeito à


demonstração das premissas e metodologia de cálculo adotadas p ara
comprovar que a arrecadação de receitas atenderia aos impactos, o
referido relatório acostado resta incompleto, cortado e sem a
codificação necessária para identificação das origens , contendo
listagem ampla e indiscriminada do município, contida em pla nilhas
ilegíveis no formato imagem extraídas do Betha Sistemas.

Quanto ao conteúdo, não há qualquer análise, validação


ou informação por parte da Secretaria Municipal de Fazenda de que há
previsão de expansão, em montante definido, calculado conforme os
ditames legais, nem mesmo com identificação clara da classificação da
receita pública respectiva .

Ainda em relação ao acréscimo de receitas previsto, sob a


percepção da Mesa Diretora da Câmara, mesmo sem que houvesse
qualquer embasamento técnico ou demonstração metodológica ,
destaca-se o que o TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO, ao apreciar as Contas de Governo de 2019 do Município de

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Rio Bonito (com votação pela emissão de parecer prévio contrário em


set/2020), apontou que o ente federat ivo, em 2019, obteve queda na
arrecadação na ordem de R$ 17,452 milhões.

Do total previsto, inclusive, arrecadou o total de R$ 3.355,71


de Receita Corrente por habitante (fls. 2086 do Processo TCE -RJ n°
210.902-6/2020). Ademais, o TCE -RJ acrescentou que das Receitas
Tributárias previstas (R$ 64,263 milhões) o Município arrecado u apenas
58% do programado (R$37,216 milhões) em 2019 .

Como bem salientou o GATE em sua IT 1495/2020, anexa


à presente, para que algum estudo de impacto orçamentário obedeça à
finalidade contida na normatização exigida pela LRF (visando ao
aperfeiçoamento do gerenciamento dos recursos públicos, de forma a
preservar o equilíbrio das contas no decorrer do exercício orçamentário ),
deve restar comprovado que o crédito presente no orçamento é suficiente
para cobertura da despesa que se pretende realizar, demonstrando-se
se as condições estabelecidas no estudo de impacto orçamentário e
financeiro estão sendo atendidas e se estão mantendo o equilíbrio fiscal
na execução do orçamento referente ao exercício que a despesa foi
criada ou ampliada .

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A equipe técnica do Grupo de Apoio aos Promotores


prossegue salientando que, p ara que uma ação governamental possa
ocorrer compatível e adequadamente em termos orçamentários e
financeiros, faz -se necessária a adoção de procedimentos por parte do
ordenador da despesa (gestor público titular do orçamento da unidade
requisitante, responsável pela autorização de empenhos e pagamentos
das despesas) como, por exemplo, certificar -se de que a ação
governamental faz parte de um programa de governo do Plano Plurianual
(PPA), que não contraria nenhuma das disposições da Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e está autorizada pela Lei Orçamentária Anual
(LOA) ou em seus créditos adicionais, ou seja, se há dotação suficiente
e específica para sua realização, além de estimar o impacto
orçamentário-financeiro, utilizando -se de todas as informações e
ferramentas disponíveis à administração, mediante compensação na
própria proposição que cria a despesa, para demonstrar sua neutralidade
fiscal e declaração para fins de adequação a todos os demais requisitos
constantes na LRF.

Desse modo, a estimativa do impacto orçamentário -


financeiro deve ser demonstrada e instruída por autoridade técnica
capaz de fornecer dados e trazer esclarecimentos válidos acerca das
seguintes informações :

i. descrição da despesa: especificação detalhada e sua


correlação com os programas de governo previstos na
LOA respectiva, levando em conta a obrigatoriedade
da existência de dotação específica e suficiente no
Programa de Trabalho para o qual está se propondo a
ampliação de gastos;
ii. especificação dos itens que compõem a despesa,
sempre que for o caso, demonstrando as quantidades
e os respectivos valores;

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iii. fonte de recursos discriminada para o pagamento no


exercício em que a despesa entrar em vigor e para os
dois exercícios subsequentes;
iv. dotação: classificação institucional, funcional,
programática e da natureza da s despesas onde
ocorrerá o empenhamento, a liquidação e os
pagamentos;
v. natureza da despesa: classificação da despesa por
categoria econômica, grupo da despesa, modalidade
de aplicação e seus elementos; vi. tipo de ação
governamental: criação, expansão ou aperfeiçoamento
de ação governamental ou despesa corrente
obrigatória de caráter continuado decorrente da lei ou
ato administrativo normativo;
vi. especificação dos mecanismos de compensação da
receita e da despesa, sempre que for o caso; e, de
forma adicional,
vii. autorização do ordenador da despesa: titular do
orçamento consignado para o custeio das despesas
referidas na respectiva estimativa.

O GATE, na IT anexa, ressaltou que, a demais, para


elaboração do estudo de impacto, deverão ser demonstradas, de forma
clara, objetiva e específica , as premissas e metodologia de cálculo
(memória), que deverão acompanhar a estimativa do impacto, com
objetivo de defin ir os componentes e os valores que irão demonstrar a
receita que custeará a despesa nos períodos estabelecidos na LRF.

Assim, é importante que seja definido o maior número de


premissas, ou seja, hipóteses e condições necessárias e tidas como
“verdadeiras” e não apenas “possíveis” (termo cunhado pela Mesa
Diretora da Câmara) para execução do mesmo, sob pena de ausência de

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lastro futuro para honrar os compromissos assumidos, devendo, em


respeito ao princípio do realismo orçamentário, aproximar -se o máximo
possível da realidade, do impacto orçamentário -financeiro esperado e da
decorrente majoração de gastos públicos.

A programação dos pagamentos deve ainda especificar


o total a ser despendido , com todos os seus componentes (acrescidos
os impactos previdenciários) a cada mês, no exercício em que a despesa
entrar em vigor e nos dois exercícios subsequentes, mediante validação
das informações junto ao setor competente como, por exemplo, a Divisão
de Recursos Humanos para informação no que tange ao custeio de folha
de pagamento.

A caracterização da despesa e sua programação de


pagamento deve definir, em conjunto : a quantidade, especificação e o
valor estimado de cada componente; a programação de p agamento mês
a mês, quando a mesma for prevista de forma parcelada, ou a
programação de pagamento à vista, quando prevista esta modalidade.

Importante destacar ainda que o processo de criação ou


aumento de despesas não poderá ser executado, em nenhuma
hipótese, antes de comprovado que o aumento ou criação de despesa
não afetará as Metas Fiscais que integram a Lei de Diretrizes
Orçamentárias, para o exercício em que o ato deva entrar em vigor e,
também, considerando os efeitos financeiros nos períodos seguin tes e a
compensação com o aumento permanente da receita ou redução
permanente da despesa , DEVENDO ESTA INFORMAÇÃO SER
FORNECIDA, EM REGRA, PELO ÓRGÃO CENTRAL DE ORÇAMENTO
DO MUNICÍPIO E NÃO PELO PODER LEGISLATIVO . Tais medidas
devem integrar o instrumento legal (projeto de lei a ser remetido à
Câmara Municipal) e não apresentadas apenas após a sua votação.

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Sob outra vertente, o Corpo Instrutivo do Tribunal de Contas


do Estado do Rio de Janeiro apurou os seguintes percentuais de
GASTOS COM PESSOAL PELO MUNICÍPIO DE RIO BONITO , situação
em que Poder Executivo ultrapassou o limite de 54% no 3º
quadrimestre de 2019 , por força do artigo 23 c/c 66 da Lei de
Responsabilidade Fiscal, devendo, portanto, ser obrigado a reduzir o
percentual excedente nos quatro quadrimestres seguintes, com pelo
menos um terço nos dois primeiros e o restante até o 1º quadrimestre de
2021:

Por fim, quanto à titularidade de quem elaborou a


estimativa de impacto orçamentário financeiro, importante evidenciar
que a adequação com a LOA e a compatibilidade das despesas criadas
ou ampliadas com as demais despesas previstas no PPA e na LDO,
devem ser declaradas, formalmente, pelo ordenador de despesas da
Unidade Orçamentária correspondente ou pelo chefe do respectivo
Poder.

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Não é razoável, portanto, que a Mesa Diretora do Poder


Legislativo munícipe elabore instrumento que impactaria o percentual de
despesas com pessoal do Poder Executivo, sofrendo este as
consequências devidas. Para esta circunstância a Sec retaria de
Finanças deve ser ouvida e consultada acerca de qualquer estimativa
que o próprio Poder Executivo elabore. Estimar impacto significa
declarar, instruir, possibilitar e gerar consequências futuras para a
sustentabilidade fiscal de qualquer ente p úblico.

E quanto ao prazo , em referência às regras impostas ao


período de final de mandato, assim dispõe ao art. 42 da LRF: É vedado
ao titular de Poder ou órgão refer ido no art. 20, nos últ imos dois quadr imestres
do seu mandat o, contrair obr igação de desp esa que não possa ser cum prida
integr almente dentro dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício
seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito.
Parágraf o único. Na determinação da disponibilidade de caixa ser ão
considerados os encargos e despesas compromissadas a pagar até o f inal do
exercício.

Dito de outro modo, tal aumento revela que, nos dois


últimos quadrimestres do mandato, fez -se despesa sem lastro de
caixa, transferindo -se MAIS DÍVIDA AO PRÓXIMO CHEFE DO PODER
EXECUTIVO, situação agravada quando já há recomposição de limite de
despesa com pessoal em andamento .

Ainda em referência à necessidade de se observar e


comparar os totais orçamentários e financeiros programados e
efetivamente realizados com despesas de pessoal, constatou -se que não
há publicização das peças orçamentárias de 2020 (Plano Plurianual, Lei
de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual), bem como a LDO
de 2021, nos portais de transp arência da Câmara dos Vereadores e da
Prefeitura de Rio Bonito , o que inviabiliza a identificação das referidas
Ações Governamentais que absorveriam as despesas com os subsídios

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propostos, além da verificação se a LDO autorizou tal acréscimo sem


que as metas dos resultados fiscais fossem afetadas. De outro modo, o
Projeto da Lei do Orçamento de 2021 ainda tramita na Casa Legislativa,
enviado conforme prazo estipulado na LOM.

III.3 – DO VETO INTEGRAL AO PROJETO DE LEI 019/2020 PELO


PREFEITO DE RIO BONITO. DERRUBADA DO VETO PELA CÂMARA.
APROVAÇÃO DO PROJETO

Como esclarecido ao Parquet no ofício encaminhado pela


Municipalidade, fato confirmado pelos documentos encaminhados pela
Câmara, o Prefeito de Rio Bonito , na análise do PL 019/2020 (que fixou
subsídios de Prefeito, Vice -Prefeito e Secretários Municipais para
legislatura de 2021/2024), VETOU INTEGRALMENTE o projeto de lei em
comento, com as seguintes justificativas:

i. A inexistência de d emonstração da existência de prévia


dotação orçamentária suficiente para atender às projeções do
aumento e os acréscimos dele decorrentes nos autos
encaminhados à Municipalidade com projeto de lei de aumento
dos subsídios de Prefeito, Vice -Prefeito e Secre tários
Municipais,
ii. A inexistência de demonstração de autorização específica
para a concessão do aumento na Lei de Diretrizes
Orçamentárias nos autos encaminhados à Municipalidade com
projeto de lei de aumento dos subsídios de Prefeito, Vice -
Prefeito e Secretários Municipais
iii. A inexistência de demonstração de que o aumento não
excederá os 95% (noventa e cinco por cento) do limite
prudencial com despesa de pessoal nos autos encaminhados
à Municipalidade com projeto de lei de aumento dos subsídios
de Prefeito, Vice-Prefeito e Secretários Municipais e

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iv. A inexistência de demonstração da efetiva realização de


Estudo de Impacto financeiro orçamentário nos autos
encaminhados à Municipalidade com projeto de lei de aumento
dos subsídios de Prefeito, Vice -Prefeito e Se cretários
Municipais.

A despeito do veto integral, a Câmara Municipal de Rio


Bonito comunicou ao Executivo, em 09.12.2020, que o VETO havia sido
derrubado em votação no âmbito da Casa de Leis .

Consta da Ata da sessão que derrubou o veto, manifestação


do Vereador Cláudio Fonseca de Moraes, salientando que o único voto
pela manutenção do veto fora seu.

Com isso, apesar de a votação ter sido secreta, sabe -se que
os demais Vereadores foram a favor da derrubada do veto, vez que
apenas o citado Vereador foi pela manutenção.

Segundo informações da Câmara Municipal, no ofício em


resposta ao Parquet, a lei correspondente ainda não foi publicada.

III.3 – DO PROJETO DE LEI 020/2020 – AUMENTO DOS SUBSÍDIOS


MENSAIS DE VEREADORES PARA A LEGISLATURA 2021/2024

O projeto de lei 020/2020 institui o valor mensal dos


subsídios de Vereadores de Rio Bonito, fixando -os em 40% do montante
pago aos Deputados Estaduais. Também iniciado em 04.11.2020, o PL
recebeu juntada do estudo de impacto orçamentário -financeiro em
11.11.2020, conforme fl. 02/03 do processo administrativo instaurado
para o processamento do PL.

Fato que chama a atenção é o de que as fls. 02/03 do


processo em comento, datadas de 11.11.2020 , referentes ao estudo, são
seguidas de documento extraído da rede mundial de computadores em
15.12.2020, como se vê no canto superior esquerdo das páginas 04, 05,

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06 e 07 do referido procedimento. Tais documentos, extraídos da


“internet” em 15.12.2020, dia da resposta ao Parquet, se referem à
pesquisa junto ao portal da transparência da ALERJ, para verificação do
valor mensal pago a Deputados Estaduais. Ressalte -se que, logo após,
à fl. 08, foi juntado no processo referente ao PL 020/2020, documento
datado de 05.11.2020, havendo inconsistência na cronologia do
procedimento.

Após receber parecer favorável, o PL 020/2020 foi


aprovado, tendo sido fixado o novo subsídio mensal dos Vereadores de
Rio Bonito para a legislatura 2021/2024.

Quanto ao PROJETO DE LEI N° 20/2020 que estabelece


os subsídios dos Vereadores para a legislatura de 2021 a 2024, o GATE,
no bojo da IT que instrui a demanda, salientou que, mesmo diante do
fato de que todo e qualquer órgão ou entida de deve comprovar a
adequação e suficiência orçamentária e financeira frente à expansão
de uma Ação Governamental , NÃO HOUVE APRESENTAÇÃO DE
CÁLCULO QUE DEMONSTRASSE O IMPACTO DOS ACRÉSCIMOS
PROPOSTOS, MAS TÃO SOMENTE A AFIRMAÇÃO DE QUE ESTARIAM
ADEQUADOS AOS DUODÉCIMOS DA CÂMARA .

Na tentativa de justificar a medida de aumento das


despesas com pessoal a Câmara dos Vereadores informou :

“Para tal, trazemos a baila que o subsí dio dos vereador es até o
ano de 2020 é de R$ 7.500, 00 (sete mil e quinhentos reais)
sendo votado par a que passe a ser no valor de R$10. 128,00 (
dez mil cento e vinte e oito reais) apenas por adequação do já
previsto na Constit uição Federa l do salário de deputado
estadual, ou seja, o salár io dos Edis se encontra defasado
desde as legislaturas anter iores há aproximadamente 8 anos,
inclusive sendo mat éria outrora já discut ida no Egrégio Tribunal

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de Contas do Estado através do Processo TCE/ RJ 222.738-


2/18.”

Considerando o caso de concessão de revisão geral anual


(não é o caso quando se promovem aumentos com percentuais de
22,22%, 40% e 59,88% ), importa relembrar que os agentes políticos não
podem se beneficiar, só eles, de tal correção monetária. Sob a Carta
Magna (art. 37, X), essa revisão há de ser ampla, geral, beneficiando,
ao mesmo tempo, servidores e agentes políticos. Tal atualização, demais
disso, deve apenas cobrir a perda inflacionária dos 12 (doze) últimos
meses, segundo oscilação do índice determinado na lei autorizativa.

Ainda em referência à necessidade de se observar e


comparar os totais orçamentários e financeiros programados e
efetivamente realizados com despesas de pessoal, constatou -se que não
há publicização das peças orçamentárias de 2020 (Plano Plurianual, Lei
de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual), bem como a LDO
de 2021, nos portais de transparência da C âmara dos Vereadores e da
Prefeitura de Rio Bonito , o que inviabiliza a identificação das referidas
Ações Governamentais que absorveriam as despesas com os subsídios
propostos, além da verificação se a LDO autorizou tal acréscimo sem
que as metas dos resultados fiscais fossem afetadas. De outro modo, o
Projeto da Lei do Orçamento de 2021 ainda tramita na Casa Legislativa,
enviado conforme prazo estipulado na LOM.

IV – DO BREVE RESUMO DAS ILEGALIDADES

Importante ressaltar, primeiramente, que subsídio de agente


político é, de fato, DESPESA DE PESSOAL , na forma da Lei de
Responsabilidade Fiscal que assim a declara expressamente em seu
artigo 18, elencando -o no rol espécies remuneratórias que a compõem .

Da análise de todos os documentos carreados aos autos do


Inquérito Civil 172/2020 que lastreia a presente , conclui-se que O
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PROJETO DE LEI 019/2020 E O PROJETO DE LEI 020/2020 que visam


ao aumento do subsídio dos agentes políticos do Município de Rio Bonito
encontram-se eivados de inconsistências e erros técnicos :

i. Violação da regra contida no artigo 21 da LR F, com redação


dada pela LC 173/2020, que impede aumento de despesas
em razão especial do estado de calamidade decretado e
reconhecido pelo município de Rio Bonito; aprovando -se os
Projetos de Lei n° 19/2020 e n° 20/2020 em 11/11/2020, quatro
dias antes das eleições e em contrariedade com a indicação
de geração de aumento de despesas obrigatórias de caráter
continuado nos 180 dias finais do último ano de mandato;
ii. Não realização de estudo que comprove a real estimativa de
impacto orçamentário financeiro para o exercício em que se
devam implementar as majorações das despesas com pessoal
e para os dois seguintes, bem como ausência de titularidade
competente para a realização do mesmo e de assinaturas dos
responsáveis pela indicação de dotação orç amentária
específica;
iii. Não identificação da dotação orçamentária final necessária ,
nem quanto ao montante nem quanto às características da
despesa (classificação institucional, funcional, programática,
da sua natureza e da fonte de recursos);
iv. Não comprovação da adequação e compatibilidade à Lei de
Diretrizes Orçamentárias de 2021 e ao Plano Plurianual
vigente;
v. Ausência de transparência orçamentária que permita avaliar,
comparar e validar os orçamentos vigentes e programados, em
respeito aos ditames elencados na Lei Complementar nº 101,
de 2000;
vi. Inadimplência na publicação das peças orçamentárias e
relatórios de acompanhamento fiscal (arrecadação de receita e

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realização de despesas) em portal da transparência da Câmara


dos Vereadores e da Prefeitura municipal;
vii. Inexistência de reconhecimento, por parte do Chefe do Poder
Executivo, da estimativa de impacto elaborada pela Casa
Legislativa, não dando ciência de seu conhecimento em relação
à adequação financeira e orçamentária e da compatibilidade
com as peças de planejamento do seu orçamento ;
viii. Violação, pelo PL 019/2020, da r egra inserta no artigo 347 da
Constituição Estadual do Rio de Janeiro , estipulando valores
mensais muito superior ao montante mensal em vigor para
Prefeito e Vice -Prefeito.

IV.1 – AUMENTO DE DESPESA COM REMUNERAÇÃO DE AGENTES


POLÍTICOS. NULIDADE DO PL 019/2020 E DO PL 020/2020. LEI
COMPLEMENTAR 101/2000 COM REDAÇÃO DADA PELA LC 173/2020
PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS . DECLARAÇÃO DE
CALAMIDADE NO MUNICÍPIO DE RIO BONITO.

No ano de 2020 o mundo foi atingido pela pandemia do novo


CORONAVIRUS, tendo sido editada, para mitigar os efeitos financeiros
causados pela pandemia, a Lei Complementar nº 173 de 27 de maio de
2020, que estabelece o Programa Federativo de Enfrentamento ao
Coronavírus SARS -CoV-2 (Covid -19), alterando a Lei Complementar nº 101,
de 4 de maio de 2000 .

A Lei Complementar nº 173 de 27 de maio de 2020 preceitua


que os Municípios, em contrapartida ao auxílio financeiro prestado pela
União, ficam PROIBIDOS DE REALIZAR ALGUMAS AÇÕES ATÉ
31/12/2021, como por exemplo, o aumento de despesa , especialmente as
de natureza remuneratória (pessoal) , sendo o art. 8º, incisos I e VI, da LC
173/20 taxativo ao vedar concessão, a qualquer título, de vantagem,
aumento, reajuste ou adequação de remuneração a membros de Poder ou
de órgão, servidores e empregados públicos e militar, assim como criar ou
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majorar auxílios, vant agens, bônus, abonos, verbas de representação ou


benefícios de qualquer natureza, inclusive os de cunho indenizatório, em
favor de membros de Poder .

Com o advento da LC 173/2020, a Lei de Responsabilidade


Fiscal, PASSOU A PRECEITUAR EM SEU ARTIGO 21:

“É nulo de pleno direito : I - o ato que provoque


AUMENTO DA DESPESA COM PESSOAL E NÃO
ATENDA: a) às exigências dos arts. 16 e 17 desta
Lei Complementar e o disposto no inciso XIII do
caput do art. 37 e no § 1º do art. 169 da Constituição
Federal; e b) ao limi te legal de comprometimento
aplicado às despesas com pessoal inativo; II - O
ATO DE QUE RESULTE AUMENTO DA DESPESA
COM PESSOAL NOS 180 (CENTO E OITENTA) DIAS
ANTERIORES AO FINAL DO MANDATO DO TITULAR
DE PODER OU ÓRGÃO REFERIDO NO ART. 20 ; III -
o ato de que resulte aumento da despesa com
pessoal que preveja parcelas a serem
implementadas em períodos posteriores ao final do
mandato do titular de Poder ou órgão referido no
art. 20; IV - a aprovação, a edição ou a sanção, por
Chefe do Poder Executivo, por Pres idente e demais
membros da Mesa ou órgão decisório equivalente
do Poder Legislativo, por Presidente de Tribunal do
Poder Judiciário e pelo Chefe do Ministério
Público, da União e dos Estados, de norma legal
contendo plano de alteração, reajuste e
reestruturação de carreiras do setor público, ou a
edição de ato, por esses agentes, para nomeação
de aprovados em concurso público, quando: a)

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resultar em aumento da despesa com pessoal nos


180 (cento e oitenta) dias anteriores ao final do
mandato do titular do Po der Executivo; ou b)
resultar em aumento da despesa com pessoal que
preveja parcelas a serem implementadas em
períodos posteriores ao final do mandato do titular
do Poder Executivo. § 1º As restrições de que
tratam os incisos II, III e IV: I - devem ser aplicadas
inclusive durante o período de recondução ou
reeleição para o cargo de titular do Poder ou órgão
autônomo; e II - aplicam-se somente aos titulares
ocupantes de cargo eletivo dos Poderes referidos
no art. 20.” (grifado), tornando nulo ato que
provoque aumento de despesa, aqui inserido, o ato
de fixação de subsídios , expedido nos últimos 180
dias de gestão do titular de Poder ou órgão, que
gere aumento de despesa com pessoal . (grifado).

A antiga redação do artigo 21 da Lei de Responsabilidade


Fiscal, aplicável à remuneração dos agentes políticos, já previa a
vedação ao aumento de despesa com pessoal nos 180 dias anteriores
ao final do mandato do titular do respectivo poder.

A nova redação previu a NULIDADE DO ATO .

A legislação surgida com a pandemia do coronavírus alterou


a Lei de Responsabilidade Fiscal, instituindo novos critérios de
geração de efeitos, alguns temporários (art. 8º para os entes que
declararam situação de calamidad e pública em decorrência da
pandemia) e outros permanentes (art. 7º, que alterou art. 21 da LRF).

Foram alterados os artigos 21 e 65 da LRF, deixando mais


rigorosos os critérios para que um ato que aumenta a despesa de pessoal
seja considerado válido.

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Os critérios anteriores declaravam nulo de pleno direito o


ato que provocasse aumento da despesa com pessoal e não atendesse:

a) as exigências dos artigos 16 (impacto orçamentário/financeiro no


exercício e dois subsequentes, adequação orçamentária financeira com
a LOA e compatibilidade com LDO e PPA) e 17 (relativo às despesas
obrigatórias de caráter continuado);

b) o limite legal de comprometimento aplicado às despesas com pessoal.


Além disso, o antigo parágrafo único dizia que era nulo o ato expedido
nos 180 dias finais do mandato do titular. Nesta hipótese, a simples
adoção do ato no período de final de mandato já era inválida , sem
considerar os efeitos (isto é, o impacto efetivo na despesa).

Assim, antes da Lei Complementar 173/2020 alterar a


LRF, a fixação dos subsídios d everia ocorrer até o dia 30 de junho do
último ano de mandato, independentemente do impacto na despesa com
pessoal nesse período.

Com a alteração do artigo 21 da LRF, esses critérios


anteriores permaneceram , devendo ser atendidas todas as exigências
anteriormente previstas, tanto em relação aos artigos 16 e 17 da LRF,
quanto do art. 169, § 1º da Constituição Federal.

Com a nova redação da LRF, entretanto, há duas classes


de proibição a considerar:

a) uma restrição temporária de aumento de despesa com pessoal, para


os entes que declararam situação de calamidade pública com base no
artigo 65 da LRF, encontrada no art. 8º e incisos da LC 173/2020, com
prazo de vigência estendido até 31 de dezembro de 2021; e

b) uma restrição com critérios permanentes de nulidade para atos que


provoquem aumento da despesa com pessoal, por força da modificação
do art. 21 da LRF, pelo art. 7º da LC 173/2020.

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Os atos normativos de fixação dos subsídios dos vereadores


para a próxima legislatura (2021 -2024), para serem considerados
válidos, devem ser aprovados e publicados em 2020, em atenção ao
princípio da anterioridade da legislatura, estabelecido no art. 29, VI, da
CF, com observância ainda do lapso temporal fixado na Lei Orgâni ca do
Município.

Ademais, considerando que o arcabouço normativo da Lei


de Responsabilidade Fiscal, está em consonância com o artigo 29, inciso
VI, da Constituição Federal, para evitar que a fixação seja considerada
nula de pleno direito, os atos fixatóri os dos subsídios para a legislatura
2021-2024 não podem se afastar das atuais imposições acrescentadas
ao art. 21 da LRF.

As restrições trazidas pela Lei Complementar nº 173/2020,


especialmente o art. 8º, inciso I impactaram a fixação dos subsídios dos
agentes políticos quanto à incidência da restrição prevista no inciso I do
art. 8º na fixação dos subsídios para a legislatura 2021 -2024.

O posicionamento adotado pelo Conselho Nacional de


Presidentes dos Tribunais de Contas é no sentido de que os
subsídios podem ser fixados, observando os preceitos das
Constituições Federal, Estaduais e as Leis Orgânicas.

Todavia, as regras transitórias de restrição contidas no art.


8º da LC nº 173/2020 não devem ser mantidas em período posterior. Ou
seja, o ato, caso obedecidas as demais regras legais impostas em razão
do aumento de despesas, pode ser praticado , FICANDO OS EFEITOS
FINANCEIROS SUSPENSOS ATÉ 31/12/2021 (LC nº 173/2020, art. 8º,
caput), aplicando -se tal restrição aos entes reconhecidamente atingidos
pela declaração de calamidade pública , que é o caso de Rio Bonito, visto
que no Decreto 325/220 , anexo à presente , houve a declaração de
calamidade do ente federativo.

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Assim inclusive já decidiu o Tribunal de Contas da Bahia ,


decidiu recentemente que a alteração do valor da remuneração ao agente
público, majorando -se o aumento de despesas, somente deverá ocorrer a
partir de 01 de janeiro de 2022 :

TCM/BA: CONSULTA. SUBSÍ DIO DOS VEREADORES.


VEDAÇÃO DA MAJORAÇÃO DOS SUBSÍ DIOS DOS
AGENTES POLÍTICOS PARA A MESMA LEGISLATURA .
OBRIGATORIEDADE DO PRI NCÍPIO DA
ANTERIORI DADE. ARTIGO 29, INCISO VI DA
CONSTITUI ÇÃO FEDERAL. PROIBI ÇÃO DE CONCESSÃO
DE REAJUSTE ATÉ DEZEMBRO DE 2021. ARTIGO 8° DA
LC 173/ 2020 . 1. A Lei Municipal que fixará os subsídios
dos vereadores deverá obedec er ao princípio da
anterioridade . Por tanto, dever á ser pr omulgada ainda no
exercício corrente ( últ imo ano de legislatura), para surtir
efeitos apenas na subsequente. Salientamos que, de
acordo com o artigo 44, parágr afo único, da Constituição
Federal, “Cada legislatura terá a dur ação de quatro anos”.
A construção legal disposta no ar t. 29, VI, da CF/88
impede a possibilidade de ocorrer auto concessão de
majoração dos pr óprios subsídios pelos Edis, já que a
Câmara somente m ajor ará os subsídios dos Vereadores
que venham a compor a legislat ura subsequente àquela
que os majorou . 2. O artigo 8°, inciso I, da LC n° 173 de
2020 proibiu a concessão de reajuste até dezembro de
2021, ressalvados os casos previst os na Lei. Ocorre que,
o ano de 2021 será o primeiro ano da legislatur a, mas por
conta da vedação trazida pelo citado disposit ivo, caso haja
alteração/majoração dos subsídios dos vereador es,
mesmo que dentro do lim ite legal, obser vados os crit érios
estabelecidos na Lei Orgânica do Município e os tetos
remuneratór ios, não poderão ser concedidos até 31 de
dezembro de 2021, tendo seus efei tos produzidos
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somente a partir de 01 de janeiro de 2022 (TCM/ BA.


PROCESSO 09224e20. )” (sic) (grifado);

Importante salientar que mesmo após o decorrer do prazo


preceituado no artigo 8º da LC nº 173/2020, NÃO pode haver
complementação retroativa dos val ores fixados e não pagos em 2021 ,
vez que o artigo 8º, § 3º da LC nº 173/2020 veda expressamente que a
LDO e a LOA contenham cláusula de retroatividade , na hipótese de os
municípios terem sido afetados pela calamidade pública decorrente da
pandemia da Covid-19.

No caso em tela, com a aprovação dos Projetos de Lei


que aumentam os subsídios de Prefeito, Vice -Prefeito, Secretários
Municipais e Vereadores (respectivamente os Projetos de Lei
019/2020 e 020/2020), se dará efetivo aumento de despesa com
pessoal.

Ainda que a sua efetiva implementação somente se dê em


janeiro de 2021, o Superior Tribunal de Justiça já reiteradamente decidiu
que, ainda assim, caso ocorrida a aprovação do incremento dos valores
dentro do período de 180 anteriores ao término do mandato , há violação
da regra inserta na LRF.

“ PROCESSUAL CI VIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO


ESPECI AL. ALÍ NEA "A". AUSÊNCI A DE INDICAÇÃO DO
DISPOSI TIVO CONSI DERADO VIOLADO.
FUNDAMENTAÇÃO DEFI CIENTE. APLI CAÇÃO
ANALÓGICA DA SÚMULA N. 284 DO STF. CONCLUSÕES
DO TRIBUNAL DE ORIGEM. REVI SÃO.
IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7 DO
STJ. LEI DE RESPONSABILI DADE FI SCAL. ART. 21,
PARÁGRAFO ÚNI CO. APLICAÇÃO AOS AGENTES
POLÍTICOS. NULIDADE DA EXPEDIÇÃO DE ATO
NORMATI VO QUE RESULTOU NO AUMENTO DE
DESPESA COM PESSOAL NOS 180 DI AS ANTERIORES

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AO FINAL DO MANDATO DO TITULAR DO RESPECTIVO


PODER. 1. Não se pode conhecer do r ecurso pela alínea
"a" do permissivo constitucional no que tange à sustentada
falta de adequação da ação civil pública para veicular o
pedido formulado na inic ial. A ausência de indicação do
dispositivo considerado violado atrai a aplicação analógica
da Súmula n. 284 do STF. 2. Quanto ao apontado
desrespeit o ao art. 21, parágrafo único, da Lei
Complementar n. 101/00, sob o aspecto (i) da aludida
possibilidade de , com base no citado disposit ivo, haver
aumento de despesas com pessoal no período cento e
oitent a dias anter ior es ao final do mandato, bem como (ii)
do argumento de que, no presente caso, a fixação dos
subsídios dos agent es políticos deu -se em harmonia co m
o orçamento e aquém dos limites impostos pela lei, a
análise de tal questão importar ia rever a premissa de fato
fixada pelo Tribunal de origem, soberano na avaliação do
conjunto f ático -probatório constante dos autos, o que é
vedado aos membros do Superio r Tribunal de Justiça por
sua Súmula n. 7. 3. No mais, note -se que a LC n. 101/00
é expressa ao vedar a mera expedição, nos 180 dias
anteriores ao final do mandato do titular do respect ivo
Poder, de at o que resulte o aumento de despesa com
pessoal. 4. Ness e sentido, pouco import a se o resultado
do ato somente vi rá na próxima gestão e, por isso
mesmo, não procede o argumento de que o novo
subsídi o "só foi implantado no mandato subsequente,
não no período vedado pela lei ". Em verdade, entender
o contrár io res ultar ia em deixar à míngua de eficácia o art.
21, parágrafo único, da Lei de Responsabilidade Fiscal,
pois se deixar ia de evitar os riscos e de corrigir os desvios
capazes de afetar o equilíbr io das contas públicas na
próxima gestão. 5. E mais: tampouco in teressa se o ato
importa em aument o de verba paga a título de subsídio

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de agente político, já que a lei de responsabilidade


fiscal não distingue a espécie de alteração no erário
público, bast a que, com a edição do ato normativo, haja
exasperação do gasto p úblico com o pessoal ativo e
inativo do ente público . Em outros termos, a Lei de
Responsabilidade Fiscal, em r espeito ao art igo 163,
incisos I, II, III e IV, e ao artigo 169 da Const ituição
Federal, visando uma gestão fiscal responsável, endereça -
se indist intamente a todos os titulares de órgão ou poder,
agentes políticos ou servidores públicos, conforme se
infere do artigo 1º, §1 e 2º da lei ref erida. 6. Recurso
parcialmente conhecido e, nest a parte, não provido. (STJ.
RESP 1170241/ MS 2009/ 0239718 -3. RELATOR MI N.
MAURO CAMPBELL. JULGAMENTO 02/12/2010 -2ª
TURMA. PUBLICAÇÃO DJE 14/12/2010) .” ( gr if a do) .

No caso em comento, tendo o s atos (aprovação pela


Câmara Municipal do Projeto de Lei 019/2020 e do Projeto de Lei
020/2020) se dado durante a pandemia de COVID -19, com a nova
redação dada à LRF pela LC 173/2020, faz -se mister concluir pela
inviabilidade da implementação do aludido aument o de subsídios.

Constata -se, outrossim, que AMBOS os PROJETOS DE LEI


019/2020 E 020/2020 , aprovados pela Câmara Municipal de Rio Bonito
incidem em violação ao preceito contido no artigo 21 Lei de
Responsabilidade Fiscal, com a redação dada pela LC 173/2020, sendo
nulos, não devendo ser implementados.

A despeito de aumento de subsídio como os narrados poderem,


EM TESE, ser implementados em JANEIRO DE 2022, no caso em tela os
projetos de lei 019/2020 e 020/2020 não poderão sê-lo em nenhum
momento.

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Os aumentos de despesa aprovados pela Câmara padecem de


outros vícios e ilegalidades, não podendo ser efetivamente implementados
em tempo algum, pelas demais razões que se passa a elencar .

IV.2 – AUMENTO DE DESPESA COM REMUNERAÇÃ DE AGENTES


POLÍTICOS. NECESSIDADE DE ESTUDO DE IMPACTO
ORÇAMENTÁRIO FINANCEIRO

O aumento da despesa de remuneração dos agentes políticos


deve ter autorização na Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO), previsão na
Lei Orçamentária Anual (LOA), e estar em conformidade com a Lei nº
4.320/64, Lei Complementar nº 101/00 (LRF) e com o artigo 169 da
Constituição Federal de 1988, que preceitua:

“A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não
poderá exceder os limites estabelecidos em LEI
COMPLEMENTAR. § 1º A concessão de qualquer
vantagem ou aumento de remuneração, a criação de
cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura
de carreiras, bem como a admissão ou contratação de
pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da
administração direta ou indireta, inclusive fundações
instituídas e mantidas pelo poder público , só poderão
ser feitas: I - se houver prévia dotação orçamentária
suficiente para atender às projeções de despesa de
pessoal e aos acréscimos dela decorrentes; II - se
houver autorização específica na lei de diretr izes
orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as
sociedades de economia mista. ” (grifado).

A LEI COMPLEMENTAR citada no artigo 169 da Constituição


Federal de 1988 é a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que determina,
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em seus artigos 16, 17 e 21, I, a elaboração do ESTUDO CONTENDO AS


ESTIMATIVAS DO IMPACTO ORÇAMENTÁRIO -FINANCEIRO, como forma
de demonstrar a capacidade financeira para suportar o aumento
previsto, assegurando o controle fiscal :

“Art. 16. A criação, expansão ou aperfeiço amento de ação


governamental que acarrete aumento da despesa será
acompanhado de: I - estimativa do impacto
orçament ário-financeiro no exercíci o em que deva
entrar em vigor e nos dois subseqüent es; II - declaração
do ordenador da despesa de que o aumento t em
adequação orçamentária e f inanceir a com a lei
orçamentár ia anual e compatibilidade com o plano
plur ianual e com a lei de diretr izes orçamentárias. § 1o
Para os fins desta Lei Complementar, considera - se: I -
adequada com a lei orçamentár ia anual, a despe sa objeto
de dotação especí fica e suficiente, ou que esteja
abrangida por crédito genér ico, de for ma que somadas
todas as despesas da mesma espécie, realizadas e a
realizar, previstas no programa de trabalho, não sejam
ultrapassados os limites estabelecido s para o exercício; II
- compatível com o plano plurianual e a lei de dir etrizes
orçamentár ias, a despesa que se conforme com as
diretr izes, objet ivos, prioridades e metas previstos nesses
instrumentos e não infrinja qualquer de suas disposições.
§ 2o A es timativa de que trata o inciso I do caput será
acompanhada das premissas e metodologia de cálculo
utilizadas. Art. 17. Considera -se obrigatória de carát er
continuado a despesa corrente der ivada de lei, medida
provisória ou at o administrativo normativo que f ixem para
o ente a obr igação legal de sua execução por um período
super ior a dois exer cícios. § 1o Os atos que criarem ou
aumentarem despesa de que trata o caput deverão ser
instruídos com a est imativa prevista no inciso I do art. 16

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e demonstrar a origem dos recursos para seu custeio. § 2o


Para efeito do atendimento do § 1o, o ato será
acompanhado de comprovação de que a despesa criada ou
aumentada não afet ará as metas de r esultados f iscais
previstas no anexo r eferido no § 1o do art. 4 o, devendo
seus efeit os financeiros, nos períodos seguintes, ser
compensados pelo aumento permanente de receita ou pela
redução permanent e de despesa. § 3o Para efeito do § 2o,
considera- se aum ento permanente de receita o
proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da ba se
de cálculo, major ação ou criação de tributo ou
contribuição. § 4o A comprovação r eferida no § 2o,
apresentada pelo proponente, cont erá as premissas e
metodologia de cálculo utilizadas, sem prejuízo do exame
de compatibilidade da despesa com as demais no rmas do
plano plur ianual e da lei de diretr izes or çamentár ias. § 5o
A despesa de que trata este artigo não será executada
antes da implement ação das medidas ref eridas no § 2o, as
quais integrarão o instrumento que a criar ou aumentar. §
6o O dispost o no § 1o não se aplica às despesas
destinadas ao serviço da dívida nem ao r eajustamento de
remuneração de pessoal de que trata o inciso X do art. 37
da Constituição. § 7o Considera -se aumento de despesa a
prorrogação daquela criada por prazo determinado. ” (sic)
(grifado).

Para que se propicie revisão geral de subsídios de agentes


políticos, visando à recomposição de perdas inflacionárias, à reposição do
poder aquisitivo , devem os projetos de lei neste sentido estar
acompanhados do necessário demonstrativo de estimativa de impacto
orçamentário e financeiro e da indicação das medidas adotadas para
compensação das despesas nos períodos seguintes , que pode ser a
comprovação de crescimento econômico, redução de outras espécies

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remuneratórias ou cargos, sob pena de, o ato ser considerado nulo de pleno
direito, nos termos do art igo 21 da LRF.

O Supremo Tribunal Federal assim já decidiu:

“ CONSTITUCIONAL E ADMI NISTRATIVO.


RECURSOEXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECI DA. PERDADE OBJETO. PROSSEGUI MENTO
DA ANÁLISE DA QU ESTÃO COM RELEVÂNCIA
AFIRMADA. SERVI DOR PÚBLI CO. REVISÃO GERAL
ANUAL. PREVISÃO NA LEI DE DIRETRIZES
ORÇAMENTÁRI AS - LDO. AUSÊNCIA DE DOTAÇÃO NA
LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL. I NVIABILIDADE DE
CONCESSÃO DO REAJUSTE . Segundo dispõe o art. 169,
§ 1º, da Const ituição, para a concessão de vantagens ou
aumento de remuner ação aos agentes públicos, exige -se
o preenchimento de dois requisitos cumulativos: (I)
dotação na Lei Orçamentária Anual e (II ) autorização na
Lei de Diretrizes Or çamentár ias. 4. Assim sendo, não há
direito à revisão geral anual da remuneração dos
servidores públicos, quando se encontra previst a
unicamente na Lei de Diretr izes Orçamentárias, pois é
necessária, também, a dotação na Lei Orçamentária
Anual.... Propost a a seguinte tese de repercussão geral: A
revisão geral anual da remuner ação dos servidores
públicos depende, cumulativamente, de dotação na Lei
Orçamentária Anual e de previsão na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (STF. RE 905357 / RR. Relator Ministro
Alexandre de Moraes. Sessão 29/11/ 2019) .”.

No que se refere ao inciso I, do art. 16, da LRF, o impacto


orçamentário-financeiro, segundo Moura e Castro (2001, p. 165),
“ relaciona-se com previsão orçamentária e disponibilidade de recursos,
especialmente com vistas ao cumprimento dos cronogram as de redu ção das

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despesas e manutenção do equilíbr io entre estas e as receit as .” Estimar o


impacto orçamentário -financeiro para o exercício em vigor e para os dois
seguintes significa identificar os valores previstos para as despesas
e sua diluição nos orçamentos d os exercícios em que efetivamente
for executada a despesa . (SANTA CATARINA, 2002) .

O art. 16, inciso II, exige, por parte do ordenador de


despesas, declaração expressa de que o aumento de despesa
decorrente da criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação
governamental tem adequação orçamentária e financeira com a lei
orçamentária anual .

O próprio artigo 16, em seu § 1º, já traz a definição do que


seja “adequada com a lei orçamentária anual”. Portanto, para a despesa
ser realizada, deverá estar adequada à existência de dotação específica
e suficiente, ou abrangida por crédito genérico, pa ra se efetivar a
contratação, de forma que somadas todas as despesas da mesma
espécie, realizadas e a realizar, previstas no programa de trabalho, não
ultrapassem os limites orçamentários previstos para o exercício.

Segundo Lima e Lima (2002), a norma define como despesas


adequadas com a LDO aquelas despesas normais e suficientemente
dotadas ou abrangidas por crédito genérico, que seria aquele aberto com
outros no curso do exercício, de forma que somadas as despesas da
mesma espécie (corrente e de capital) previstas no programa de trabalho
sejam iguais ou inferiores aos limites estabelecidos para o exercício .

Para a devida observância do preceito legal comentado é


necessário que seja declarado que o acréscimo dos gastos se enquadra
na previsão financeira da administração do órgão . Portanto, no despacho
do ordenador de despesa deverá constar informação de que existe
dotação orçamentária suficiente para a realização da despesa.

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Segundo essa análise, a determinação constante do


dispositivo em tela foi imposta pela LRF para que não se realizem
despesas à vontade, devendo ser autorizadas somente as despesas que
estiverem dentro dos limites da dotação, no intuito de evitar que não
sejam gastos mais recursos do que se pode, ou seja, não se gaste mais
do que está disponível nos cofres públicos, pois as despesas devem
estar adequadas aos recursos efetivamente arrecadados.

A lei exige, ainda, que a declaração do ordenador de


despesas afirme que o aumento de despesa é compatível com o plano
plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias .

De acordo com a definição do art. 16, em seu § 1º, inciso II,


considera-se compatível com o PPA e com a LDO a despesa que se
conforme com as diretriz es, objetivos, prioridades e metas previstos
nesses instrumentos orçamentários e não infrinja qualquer de suas
disposições. Portanto, uma despesa é compatível com o PPA e com a
LDO quando estiver de acordo, não conflite, se ajuste, com o que foi
previsto nesses instrumentos orçamentários.

Assim, para que se proceda a aumento de despesa em razão


de criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental,
fazem-se necessárias:

i. DECLARAÇÃO DO ORDENADOR DE DESPESA AFIRMANDO


QUE o aumento tem adequação orçamentária e financeira com a
Lei Orçamentária Anual (soma das despesas de mesma espécie,
realizadas e a realizar previstas no programa de trabalho, não
supera os limites estabelecidos para o exercício) e de que a
despesa é compa tível com o PPA e a LDO (conformidade com
diretrizes, objetivos, prioridades e metas) ;
ii. ESTIMATIVA, ACOMPANHADA DAS PREMISSAS E
METODOLOGIA DE CÁLCULO, DO IMPACTO
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ORÇAMENTÁRIO-FINANCEIRO no exercício em que a despesa


entrar em vigor e nos dois seguintes.

As disposições do art. 16 foram estabelecidas visando a fiel


execução orçamentária e financeira da despesa, no sentido de tornar as
finanças públicas mais transparentes, manter o equilíbrio das contas,
controlar o gasto e os atos do administrador por ele res ponsável, o que
evidencia a importância do texto legal. Foram criados dois instrumentos
de controle, com o intuito de que não faltem os recursos já previstos nos
programas aprovados nas leis orçamentárias, o que inviabilizaria a
implementação dos planos go vernamentais: a estimativa de impacto
orçamentário-financeiro (inciso I) e a declaração de adequação e
compatibilidade com os planos orçamentários (inciso II).

Tal declaração de adequação e compatibilidade com os


planos orçamentários é cabível apenas quan do ocorrer ação
governamental que acarrete aumento da despesa durante a execução
orçamentária, quer seja de criação, expansão ou aperfeiçoamento,
assim compreendida a ação relacionada a projeto, incluindo também as
atividades decorrentes, que geram despesa s com a manutenção do
produto obtido.

Logo, quando o aumento da despesa, ou seja, alteração do


valor já previsto na lei orçamentária ou a extensão daquela já criada, por
prazo determinado, ocorrer durante a fase da execução da despesa, será
necessário que o ordenador da despesa declare se o aumento tem
adequação orçamentária e financeira com a LOA e compatibilidade com
o PPA e com a LDO.

Sendo assim, antes de o administrador elaborar a


declaração exigida pelo dispositivo em tela, deverá ele, primeiro,
verificar se a despesa que pretende realizar está prevista ou não no
plano orçamentário. Se estiver, deverá certificar -se de que ela irá
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acrescer o valor já projetado, ou seja, deverá ter a confirmação de que


se trata de aumento de despesa, para os fins da le i. Se for constatado
que não haverá aumento de despesa, segundo este estudo, não há
necessidade da elaboração de tal documento.

Confirmado o aumento de despesa, decorrente de ação


governamental, deverá ser elaborada a declaração do ordenador,
nos termos do inciso II e § 1º do artigo 16, da LRF. Este verificará,
inicialmente, se a despesa é objeto de dotação orçamentária e financeira
suficiente, considerando o que foi gasto e o que se pretende gastar. Em
seguida, se ela faz parte de um programa do PPA e se está em
conformidade com as disposições da LDO, além de estar de acordo com
suas diretrizes, objetivos, prioridades e metas.

Por fim, procederá à elaboração da declaração de que todos


os requisitos foram respeitados. Se necessária a declaração, entende -
se que esta deverá estar acompanhada da estimativa do impacto
orçamentário-financeiro na contratação da despesa pública, pois a
lei exige a elaboração dos dois instrumentos .

Caso não sejam cumpridas tais determinações, a


despesa será considerada não autoriz ada, irregular e lesiva ao
patrimônio público, nos termos do art. 15 da LRF.

No caso em tela, os Projetos de Lei 019/2020 e 020/2020


não receberam ESTUDOS DE IMPACTO FINANCEIRO ORÇAMENTÁRIO
adequados pois, como bem salientou o GATE , NÃO HOUVE realização
de “ estudo que comprove a real estimativa de impacto orçamentário
financeiro para o exercício em que se devam implementar as majorações
das despesas com pessoal e para os dois seguintes, bem como ausência
de titularidade competente para a reali zação do mesm o e de assinaturas
dos responsáveis pela indicação de dotação orçament ária específica ”.

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IV.3 - DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO.


VIOLAÇÃO DO PERCENTUAL LIMITE PARA SUBSÍDIOS DE
PREFEITO E VICE-PREFEITO – PL 019/2020

A Constituição Estadual do Rio de Janeiro preceitua, em seu


artigo 347 que “O subsídio dos Vereadores, do Prefeito e do Vice Prefeito
será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura, para
a subsequente, observado o que dispõe a Constituição da República, os
critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites
máximos: ... II - Em municípios de cinqüenta mil e um habitantes a cem mil
habitantes, o subsídio máximo do Prefeito e do Vice -Prefeito
corresponderá a 40% (quarenta por cento) do subsídio percebido pelo
Governador do Estado e o subsídio máximo dos vereadores corresponderá
a 40% (quarenta por cento) do subsídio dos Deputados Estaduais.
Parágrafo único. Os subsídios do Prefeito, do Vice -Prefeito e dos
Secretários Municipais obedecerão ao disposto no inciso V do artigo
29 da Constituição da República" (sic) (grifado). Segundo recente
estimativa do IBGE, o Município de Rio Bonito conta, em 2020, com 60.753
habitantes 5.

Da atenta leitura do projeto de lei em comento, aprovado pela


Câmara com a derrubada do veto, fixa o salário de Prefeito e Vice -Prefeito
em R$22.000,00 e R$14.000,00 . Como obtido no portal da transparência,
em documento anexado ao inquérito que instrui a d emanda, o valor do
subsídio do Governador do Estado é de R$19.681,33 (dezenove mil
seiscentos e oitenta e um reais e trinta e três centavos). Assim, o valor
do subsídio de Prefeito de Rio Bonito , correspondente a R$22.000,00,
como fixado na nova legislação , excede em mais de R$14.127,47 o
montante pago ao Governador , visto que 40% de R$19.681,33 equivale a
R$7.872,53. Já o valor do subsídio de Vice -Prefeito, correspondente a

5 https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/rj/rio-bonito.html

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R$14.000,00 excede em R$6.127,47 o montante pago ao Governador , visto


que 40% de R$19.681,33 equivale a R$7.872,53.

Destarte, verifica -se que a aprovação, pela Câmara Municipal


de Rio Bonito, do PL 019/2020, aumentando os subsídios mensais de
Prefeito e Vice -Prefeito, como realizada, violou o disposto no artigo 347
da Constituição Estadual do Rio de Janeiro.

V – DA NECESSIDADE DE RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE DE ATOS ADMINISTRATIVOS

É certo que ao gestor público cabe a discricionariedade na


formulação de políticas públicas aptas a atender o interesse social, de
acordo com a legitimidade que lhe foi conferida pelo povo. Todavia, a
atuação administrativa não se mostra infensa a qualquer espécie de
controle jurisdicional. É incorreto supor a existência de uma margem de
conformação absolutamente insindicável pelo Poder Judiciário.

O administrador não pode, por exemplo, escudar -se em uma


pretensa discricionariedade para manter ao desamparo , mediante a
dispensa de uma “proteção deficiente” ou “insuficiente”, bens e valores
tutelados em sede constitucional ou legal.

LUÍS ROBERTO BARROSO já havia pontuado a revisão do


dogma da intangibilidade do mérito administrativo, com especial
destaque ao papel dos postulados da razoabilidade e da
proporcionalidade no controle de atos administrativos marcadamente
discricionários. Confira -se o seguinte excerto de conhecida obra do
autor:

"a possibilidade de controle judicial do mérito do ato


administrat ivo: O conheciment o convencional em matéria de
controle jurisdicional do ato adm inistrativo limitava a cognição
dos juízes e tribunais aos aspect os da legalidade do ato
(competência, forma e finalidade) e não do seu mérito (mot ivo e
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objeto), aí incluídas a conv eniência e oportunidade de sua


prática. Já não se passa mais assim. Não apenas os princí pios
constit ucionais ger ais já mencionados, mas também os
específ icos, como moralidade, eficiência e, sobretudo, a
razoabilidade -propor cionalidade permit em o controle da
discr icionariedade administrativa (observando -se, naturalmente,
a contenção e a prudência, para que não se subst itua a
discr icionariedade do administrador pela do juiz)" (BARRO SO,
Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constit ucionalização do
Direito [O t riunfo t ardio do dir eito constitucional no Brasil].
Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 240, p. 1 -42,
abr. 2005. ISSN 2238 -5177, p. 32 – grifou-se).

No plano da jurisprudência, o Supremo Tribunal Federal já


consignou, em diversas ocasiões , a plena admissibilidade do controle
judicial do ato discricionário abusivo, “podendo o Judiciário atuar,
inclusive, nas questões atinentes à proporcionalidade e à razoabilidade”
(AI nº 800.892, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe 07/05/2013;
RE nº 853.428, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/05/2015, DJe
02/06/2015; AI nº 777.502/RS -AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Ellen
Gracie, DJe 25/10/2010). Na linha de precedentes antigos da Suprema
Corte, sustenta -se que “mesmo nos atos discricionários não há margem
para que a administração atue com excessos ou desvios ao decidir,
competindo ao Judiciário a glosa cabível (Discricionariedade e Controle
judicial)” (cf. RE nº 131.661/ES, Segunda Turma, Rel. Min. Marco
Aurélio, DJ de 17/11/1995)16.

É interessante observar que o postulado da


proporcionalidade como vedação da proteção insuficiente, desenvolvido
sobretudo pela doutrina e jurisprudência alemãs, já foi expressamente
aplicado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal em matéria de
implementação de direitos sociais (cf. RE nº 778.889/PE, Tribunal Pleno,
Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 01/08/2016). Na ocasião, em face do
comportamento estatal questionado por proteger de forma insuficiente
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direitos sociais, a Corte Suprema preconizou a formu lação das seguintes


indagações: “( i) se a proteção deficiente é adequada e/ou se a deficiência
promove um fim constitucional legít imo; (ii) se é necessária, ou se havia
medida mais ef icient e sob o pr isma do direito pr otegido def icientemente, que
permitisse tutelar o direito a que ele se opõe na mesma medida; (iii) se é
proporcional em sentido estrito a prot eção deficiente por que os custos
justificam os benefícios gerados” (RE nº 778.889/ PE, Tr ibunal Pleno, Rel. Min.
Roberto Barroso, DJe de 01/08/2016 – grifo nosso).

VI – DA TUTELA DE URGÊNCIA

Demonstrados os fatos e o direito que fundamentam os


pedidos, impõe-se salientar a imprescindibilidade da concessão da TUTELA
DE URGÊNCIA pretendida, no caso, a determinação ao s réus,
imediatamente, a obrigação de não publicar LEI decorrente dos Projetos de
Lei 019/2020 e 020/2020, até o término do julgamento desta demanda .

Em sede de tutela de urgência, ainda, postula-se que, caso


o projeto de lei já tenha sido publicado, em especial no s últimos três dias ,
seja DECLARADA A INCONSTITUCIONALIDADE das leis eventualmente
publicada s, incidenter tantum , por violação à regra inserta no artigo 21 da
Lei de Responsabilidade Fiscal com a redação dada pela LC 173/2020 e,
ainda, por violação ao artigo 169 da Constituição Federal de 1988 e 347 da
Constituição Estadual do Rio de Janeir o.

Finalmente, em caráter de tutela de urgência, o Parquet


pugna seja determinada aos réus IMEDIATAMENTE, a obrigação de NÃO
IMPLEMENTAR o aumento dos subsídios de Prefeito, Vice -Prefeito,
Secretários Municipais e Vereadores, como aprovado no s projetos de lei
019/2020 e 020/202 0, até o término do julgamento desta demanda .

As medidas se fazem necessárias e urgentes uma vez que o


desfecho normal do processo coincidirá com lesões irreparáveis , cuja
eliminação será impossível de ser obtida.

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Os requisitos para a concessão da TUTELA DE URGÊNCIA


estão presentes. Há probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo. A Tutela de Urgência que ora se pleiteia, espécie
do gênero Tutela Provisória, visa a assegurar a efetividade do direi to
material, havendo risco concreto à legalidade caso não se obtenha a
medida. A plausibilidade do direito está solidamente demonstrada nos
elementos probatórios colhidos no Inquérito Civil em epígrafe, havendo
suficiente demonstração DA INDEVIDA E PERIGO SA CONDUTA do ente
federativo. No caso em tela, todos os requisitos para a concessão da
antecipação dos efeitos da tutela estão presentes. Há prova inequívoca dos
fatos alegados que, verossimilhantes, ensejam fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação .

A tutela de urgência genericamente representa o conjunto de


providências tomadas antes do desfecho natural e definitivo do processo,
visando a afastar graves situações de risco de dano à efetividade do
processo, prejuízos que decorrem de sua inevitável demora e que ameaçam
se consumar antes da prestação jurisdicional definitiva.

No Direito Brasileiro, a tutela de urgência possui assento


Constitucional (artigo 5º, XXXV). “A lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Sem a tutela de urgência, justificada
pelo princípio da necessidade, a partir da constatação de que sem ela a
espera pela sentença de mérito importari a denegação de justiça, já que a
efetividade da prestação jurisdicional restaria gravemente comprometida.

A prova inequívoca, entendida como aquela, consistente,


robusta e suficiente para levar à conclusão acerca da grande probabilidade
da titularidade do direito pleiteado. No caso em tela, não há dúvida que o
Parquet, no âmbito de sua legitimidade constitucional, postula a proteção a
direitos coletivos. Cumpre asseverar que o nosso sistema jurídico adota e
estimula o chamado processo civil de resultados , sendo forçoso que o Poder
Judiciário preste a tutela jurisdicional devida, efetiva e célere , utilizando -

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se para tal dos mecanismos que o ordenamento jurídico lhe oferece, como
as medidas liminares.

Vale a pena trazer à baila os ensinamentos do Professor


Candido Rangel Dinamarco, que em sua obra, Instituições de Direito
Processual Civil, ensina sobre o processo civil de resultados: “(...) consiste
esta post ura na consciência de que o valor de todo o s istem a processual reside
na capacidade, que t enha, de propiciar ao sujeito que tenha r azão uma situação
melhor do que aquela em que se encontrava antes do processo. Não bast a o belo
enunciado de uma sentença bem estruturada, quando o que ela dispõe não se
projetar ut ilmente na vida deste, eliminando a insatisfação que o levou a lit igar e
propiciando-lhe sensações felizes para obtenção da coisa ou situação postulada.
(...)” Em determinadas situações, par a uma tutela def initiva ser efetiva , mister se
faz a concessão de medidas liminares , eis que é possível que o direito pereça
por inteiro quando chegar o momento f inal ou, em outras situações, não está
configurada a efet iva lesão, entret anto os malefícios da demora da entrega do
bem da vida devido, causa angúst ias e prejuízos aos litigantes, que devem se
evitados. “(...) em outra situação não se consumam uma lesão definit iva, mas as
angúst ias e prejuízos da espera, somado ao estado de pr ivação que se prolonga,
constit uem males a serem evitados . (...) ”. (grifado).

Por todo o exposto, depreende -se a inequívoca necessidade


urgente de concessão da tutela provisória de urgência pretendida.

VII – DA MULTA PESSOAL A SER IMPUTADA AO GESTOR –


POSSIBILIDADE

No caso em tela, o Ministério Público vem pleitear seja


imputada, como forma de compelir o gestor à devida e necessária
obediência ao comando Judicial, multa pessoal, visando -se a evitar a sua
renitência. No exercício de seu poder geral de efetivação, é possível ao
Juízo que se imponham as astreintes diretamente ao agente público
(pessoa física) responsável por tomar a providencia necessária ao
cumprimento da prestação.

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Descabe, no caso em tela, postular que recaia multa diária em


caso de descumprimento sobre o patrimônio da pessoa jurídica, Município
de Itaboraí, vez que justamente é o ente federativo que necessita, cada vez
mais, de dinheiro para adequadamente viabilizar o combate ao COVID -19.

Esse entendimento é esposado na doutrina de Fredie Didier Jr


que “as pessoas jurídicas só têm vontade na exata medida em q ue as
pessoas físicas que as representam a manifestem. Se a multa é mecanismo
que visa a influenciar decisivamente esta vontade (que, por definição, só
pode ser humana), não há como afastar sua incidência direta e pessoal
sobre os representantes das pessoa s jurídicas, sejam elas privadas ou
públicas".

Não é diferente o entendimento de Eduardo Talamini, segundo


o qual "cabe ainda considerar a possibilidade de a multa ser cominada
diretamente contra a pessoa do agente público, e não contra o ente público
que ele 'presenta' - a fim de a medida funcionar mais eficientemente como
instrumento de pressão. (TALAMINI, 2003, p.247).

Por derradeiro, com o habitual brilhantismo, Cândido Rangel


Dinamarco também abona esse posicionamento. O ilustre processualista
aborda a questão da efetividade da tutela jurisdicional preconizando que “O
poder das astreintes é grande porque incomoda o patrimônio do obrigado,
onerando-o dia a dia de modo crescente.

É autêntico meio de pressão psicológica ou de 'execução


imprópria', como se diz em doutrina (v., por todos, CHIOVENDA,
CARNELUTTI E LIEBMAN). O § 4º do art. 461 tem a força de autorizar
pressões psicológicas sem a necessidade de instaurar processo executivo,
de modo que o próprio juiz emissor de um mandamento possa cuidar de dar
efetividade ao mandamento que emitiu. A multa deverá ter valor
significativo (percentual sobre o valor devido), sob pena de não exercer
sobre os espíritos dos recalcitrantes a desejada motivação a obedecer.

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O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento d o Recurso


Especial 1.111.562/RN, (2008/0278884 -5) assim decidiu: “(...) A cominação
de astreintes prevista no art. 11 da Lei no 7.347/85 pode ser direcionada
não apenas ao ente estatal, mas também pessoalmente às autoridades ou
aos agentes responsáveis pel o cumprimento das determinações judiciais .
(...) Em outras palavras, a pressão psicológica exercida por uma multa
pessoal, acaba tendo o efeito de mantê -lo alerta e mais “sensível” ao
acatamento da ordem judicial. Agora, se mesmo ciente de sua obrigação,
ele vier a descumprir a ordem, essa omissão e rebeldia da pessoa física
não pode repercutir negativamente nos cofres públicos. Se fosse assim,
além de o gestor descumprir a Lei e prejudicar a população que se vê
desprovida de um bem público ou de uma políti ca pública, ainda prejudica
o erário, que acaba dilapidado para pagar a multa diária gestada pela
conduta pessoal do mau gestor. Ademais, não deve o próprio Poder
Judiciário incentivar o aumento das demandas judiciais, ou seja, estando
ciente que a multa d iária direcionada contra o ente público pode redundar
noutra ação de regresso ou numa ação por ato de improbidade
administrativa, cabe ao juiz evitar esse tipo de decisão e impor a multa
contra a pessoa física, de modo a resguardar os cofres públicos .”. (grifado)

VIII – DOS REQUERIMENTOS E PEDIDOS

1. A distribuição da presente ação com pleito de TUTELA DE


URGÊNCIA;

2. A concessão, inaudita altera pars, da TUTELA PROVISÓRIA


DE URGÊNCIA, em caráter incidental, com fulcro no artigo
300 do Código de Processo Civil, determinando -se aos réus,
IMEDIATAMENTE, a obrigação de NÃO PUBLICAR LEI
decorrente do PRO JETO DE LEI 019/2020, até o término
do julgamento desta demanda , Caso o projeto de lei já

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tenha sido publicado, em especial nos últimos três dias,


desde já o Parquet requer a declaração de
inconstitucionalidade da lei eventualmente publ icada,
incidenter tantum 6, por violação à regra inserta no artigo 21
da Lei de Responsabilidade Fiscal com a redação dada pela
LC 173/2020 e, ainda, por violação ao artigo 169 da
Constituição Federal de 1988 e 347 da Constituição Estadual
do Rio de Janeiro ;

3. A concessão, inaudita altera pars, da TUTELA PROVISÓRIA


DE URGÊNCIA, em caráter incidental, com fulcro no artigo
300 do Código de Processo Civil, determinando -se aos réus
IMEDIATAMENTE, a obrigação de NÃO IMPLEMENTAR o
aumento dos subsídios de Prefeito, Vice -Prefeito e
Secretários Municipais, como aprovado no PROJETO DE LEI
019/2020, até o término do julgamento desta demanda ;

4. A concessão, inaudita altera pars, da TUTELA PROVISÓRIA


DE URGÊNCIA, em caráter incidental, com fulcro no artigo
300 do Código de Processo Civil, determinando -se aos réus,
IMEDIATAMENTE, a obrigação de NÃO PUBLICAR LEI
decorrente do PRO JETO DE LEI 020/2020, até o término
do julgamento desta demanda . Caso o projeto de lei já
tenha sido publicado, em especial no s últimos três dias,
desde já o Parquet requer a declaração de
inconstitucionalidade da lei eventualmente publicada,
incidenter tantum, por violação à regra inserta no artigo 21
da Lei de Responsabilidade Fiscal com a redação dada pela
LC 173/2020 e, ainda, por violação ao artigo 169 da

6AG.REG. no Recurso Extraordinário RE 645508-SP – jurisprudência pacífica do STF


reconhecendo a possiblidade de declaração e inconstitucionalidade pelo controle difuso em
sede de ação civil pública.
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Constituição Federal de 1988 e 347 da Constituição Estadual


do Rio de Janeiro;

5. A concessão, inaudita altera pars, da TUTELA PROVISÓRIA


DE URGÊNCIA, em caráter incidental, com fulcro no artigo
300 do Código de Processo Civil, determinando -se aos réus
IMEDIATAMENTE, a obrigação de NÃO IMPLEMENTAR o
aumento dos subsídios de Vereadores, como aprovado no
PROJETO DE LEI 020/2020 , até o término do julgamento
desta demanda ;

6. Seja desde já cominada e imposta multa diária , no valor de


R$5.000,00 (cinco mil reais), para o eventual caso de
descumprimento de cada um dos itens “2”, “3”, “4” e/ou “5”,
NAS PESSOAS DO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL
DE RIO BONITO E DO PREFEITO DE RIO BONITO ,
ordenadores de despesas, quem efetivamente t êm o poder
imediato de determinar as medidas necessárias para o
pronto atendimento do mandamento judicial, que deverá ser
cientificado pessoalmente no endereço fornecidos na inicial,
para que surtam seus efeitos de técnica de coerção indireta,
nos termos dos artigos 139, IV e 536, parágrafo 1º do Novo
Código de Processo Civil,

7. A citação dos réus, após o recebimento da petição inicial,


para, querendo, apresentar, dentro do prazo legal, sua
contestação, sob pena de revelia;

8. Ao final, seja julgado procedente o pedido , RATIFICANDO-


SE A LIMINAR CONCEDIDA :

8.1 Para declarar a NULIDADE do PROJETO DE LEI


019/2020 diante da violação à regra inserta no artigo 21

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da Lei de Responsabilidade Fiscal com a redação dada


pela LC 173/2020 e, ainda, por violação ao artigo 169 da
Constituição Federal de 1988 e 347 da Constituição
Estadual do Rio de Janeiro . Caso o projeto de lei já
tenha sido publicado , desde já o Parquet requer a
declaração de inconstitucionalidade da Lei
eventualmente public ada, incidenter tantum, por
violação à regra inserta no artigo 21 da Lei de
Responsabilidade Fiscal com a redação dada pela LC
173/2020 e, ainda, por violação ao artigo 169 da
Constituição Federal de 1988 ;
8.2 Para, em razão da nulidade acima postulada, seja
determinado aos réus o DEFINITIVO IMPEDIMENTO de
proceder à implementação dos aumentos dos subsídios
de Prefeito, Vice -Prefeito e Secretários Municipais como
proposto no PROJETO DE LEI 019/2020 , sob pena de
imputação de multa diária, inclusive ao gestor;
8.3 Para declarar a NULIDADE do PROJETO DE LEI
020/2020 diante da violação à regra inserta no artigo 21
da Lei de Responsabilidade Fiscal com a redação dada
pela LC 173/2020 e, ainda, por violação ao artigo 169 da
Constituição Federal de 1988 . Caso o projeto de lei já
tenha sido publicado , desde já o Parquet requer a
declaração de inconstitucionalidade da Lei
eventualmente public ada, incidenter tantum, por
violação à regra inserta no artigo 21 da Lei de
Responsabilidade Fiscal com a redação dada pela LC
173/2020 e, ainda, por violação ao artigo 169 da
Constituição Federal de 1988 e 347 da Constituição
Estadual do Rio de Janeir o;

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8.4 Para, em razão da nulidade acima postulada, seja


determinado aos réus o DEFINITIVO IMPEDIMENTO de
proceder à implementação dos aumentos dos subsídios
de Vereadores como proposto no PROJ ETO DE LEI
020/2020, sob pena de imputação de multa diária,
inclusive ao gestor;

9. A cominação de multa diária no valor de R$10.000,00 (dez


mil reais) para CADA DIA DE DESCUMPRIMENTO DA
OBRIGAÇÕES FINAIS DETERMINADAS PELO JUÍZO COM
O JULGAMENTO DA DEMANDA , sem prejuízo de valor maior
a ser definido por este Juízo, na s pessoas do PRESIDENTE
DA CÂMARA DE VEREADORES DE RIO BONITO E DO
PREFEITO DE RIO BONITO , ordenadores de despesas,
quem efetivamente t êm o poder imediato de determinar as
medidas necessárias para o pronto atendimento do
mandamento judicial, que deverá ser cientificado
pessoalmente no endereço fornecidos na inicial, para que
surtam seus efeitos de técnica de coerção indireta, nos
termos dos artigos 139, IV e 536, parágrafo 1º do Novo
Código de Process o Civil;

10. Ao pagamento dos ônus de sucumbência, a serem


revertidos ao Fundo do Ministério Público;

11. A intimação pessoal do Promotor de Justiça em atuação


junto à 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de
Itaboraí, em local conhecido desse Juízo, para todos os
atos do processo, nos termos do art. 41, inc. IV, da Lei n.
8.625/93 e do art. 82, inc. III, da Lei Complementar n.
106/03 do Estado do Rio de Janeiro.

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Protesta provar o alegado por todos os meios em direito


admitidos, em especial, pro va documental prova testemunhal,
depoimento pessoal e prova pericial.

Dá-se à causa o valor de R$6.047.424,00 (seis milhões e


quarenta e sete mil quatrocentos e vinte e quatro re ais) em cumprimento
ao disposto no artigo 291 do Novo Código de Process o Civil,
correspondente aos valores equivalentes à diferença entre os subsídios
atuais e os que se pretendem implementar, aumentados, como previ sto
nos projetos de lei 019/2020 e 020/2020, multiplicados por quatro anos
(período da próxima legislatura – 2021/2022/2023/2024) (simplesmente
consideradas, sem qualquer acréscimo relativo às consequências
previdenciárias, por exemplo) .

Itaboraí, 18 de dezembro de 2020.

RENATA MENDES Assinado de forma digital por


RENATA MENDES SOMESOM
SOMESOM TAUK:05163158708
TAUK:05163158708 Dados: 2020.12.18 11:49:43 -03'00'

RENATA MENDES SOMESOM TAUK


Promotora de Justiça
Matrícula 3233

TIAGO GONCALVES Assinado de forma digital


por TIAGO GONCALVES
VERAS VERAS
GOMES:089138537 GOMES:08913853710
Dados: 2020.12.18 11:58:04
10 -03'00'

TIAGO GONÇALVES VERAS GOMES


Promotor de Justiça
Matrícula 3233

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