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21 geoqu1m1ca histórica Até agora mantivemos nossa atenção fixada nas modificações químicas que ocorrem
dentro da ou sôbre a crosta terrestre. Pelos padrões humanos normais, esta é a parte
mais importante do universo, a parte na qual os processos geológicos familiares estão se
desenrolando e onde se têm desenrolado por muito tempo. Mas, sob outros pontos
de vista, a crosta é menos significativa. Numa escala cósmica, ela nada mais é do que
o fino invólucro de um pequeno planêta, um dos muitos circulando em tôrno de uma
estrêla que, por sua vez, é apenas uma dos muitos bilhões de semelhantes no universo.
Chegou a hora de levantarmos nossos olhos ligeiramente do estudo detalhado das
rochas da crosta e considerar a química sob esta escala mais ampla. Examinemos
agora as relações químicas entre a crosta e a enorme massa do planêta sob a mesma
e, de forma abreviada, como êste planêta se encaixa no sistema exterior de planêtas
e estrêlas. Como geólogos, não nos podemos limitar à cosmoquímica da atualidade,
mas devemos nos perguntar como a química da terra e de seus vizinhos pode ter-~e
modificado no decorrer do tempo.
As investigações nessas novas direções, tão diferentes dos caminhos que seguimos
até agora, exigem novos tipos de dados. Muitos dos fatos são tirados da astronomia
e da geofísica e não da geologia e química clássicas. Num estudo do universo como
um todo, os limites entre as ciências familiares desaparecem e procuramos obter
indícios de evidências de qualquer ramo do conhecimento que seja relevante. Como
seria de se esperar, os dados estão longe de serem apropriados para responder tôdas
as perguntas que apresentam interêsse. Ainda mais do que nas partes obscuras da
geoquímica da crosta, dependemos aqui da especulação imaginativa para preencher
os enormes vazios entre fatos bem estabelecidos.
Num campo tão amplo e espec'ulativo, torna-se difícil seguir as veredas das nossas
discussões prévias, nas quais, na maioria dos casos, as idéias foram correlacionadas
com observações bem definidas e princípios das ciências elementares. Se nos livrarmos
de tais liame!;, a cosmoquímica torna-se um emaranhado de hipóteses em constante
mutação que se apóiam em suposições e argumentos matemáticos que devem ser
aceitos como artigos de fé por todos, à exceção dos especialistas. Evidentemente, não
há ma l nenhum em tecer tal rêde de hipóteses inverificáveis pelo lei tor mediano ; a
cosmoq uímica, mesmo em seus têrmos mais elementares, é um exercício para a imagi-
nação. Na literatura corrente existem muitos trabalhos sôbre o assunto, basea-
dos mais na imaginação do que numa análise precisa das hipóteses apresentadas.
A fim de evitar uma duplicação de tais relatos, de manter as finalidades de um livro
científico, e de não prolongar demasiadamente a discussão, apenas mencionaremos
os aspectos mais especulativos dêste assunto e tentaremos nos concentrar particular-
mente na natureza dos dados básicos.

21-1. A COMPOSIÇÃO DA TERRA

Serão as rochas da crosta terrestre amostras represen tativas do material que


íormà o universo? Isto parece uma pergunta simples, exigindo apenas a comparação
c1itre duas análises.
Não é fácil , no ent anto, obter essas aná lises. Mesmo para a mais simples das
duas, a composição da crosta, vemo-nos frente ao problema de como ponderar os
diforent es tipos de rochas a fim de obter uma amostra média razoável. A crosta é
preponderantemente composta de rocha ígnea, ou rocha metamórfica que uma vez
foi ígnea, e a · rochas ígneas mais comuns são granito e basalto. Pareceria daí que uma
204 INTRODUÇÃO A GEOQUIMICA GEOQU(MICA HISTÓRICA 2

e mbinação das análises dessas duas rochas comuns seria uma maneira razoável Para têrmos uma idéia da composição do universo, dependemos principalmc111c
de obler uma média. Mas qual é a combinação mais apropriada? Para a parte da do estudo espectrográfico das atmosferas estelares. Os gases relativamente frio s que
crosta que forma os continentes, baseando-se nas observações geológicas mais as envolvem uma estrêla absorvem a luz do interior incandescente e a absorção produz
evidências sísmicas referentes aos níveis mais profundos da crosta, uma relação de faixas escuras no aspectro da estrêla. As freqüências e intensidades das faixas são
1 para 1 entre granito e basalto não estaria longe da verdade. Uma composição média grandes fornecedores de informação sôbre a composição e o estado da matéria nos
ca lculada desta ·maneira é apresentada no Apêndice III e, em unidades diferentes, nas gases absorventes. Os gases, por sua vez, estão em equilíbrio aproximado com a matéria
lrês primeiras colunas da Tabela 21-1. Se a crosta oceânica fôsse incluída, o basalto turbulenta do interior das estrêlas e sabe-se o suficiente sôbre as relações de equilíbrio
teria maior preponderância; isto tenderia a aumentar os valôres do ferro e do magnésio de modo que uma análise da atmosfera pode ser traduzida em valôres para a composição
e baixar os dos metais alcalinos. de tôda a estrêla. As médias para muitas estrêlas de diferentes tipos, tomadas conjun-
tamente com estimativas dos materiais interestelares, fornecem os resultados apre-
sentados na segunda coluna da Tabela 21-1. Naturalmente, não pode ser exigida uma
TABELA 21-1 Concentrações relativas de elementos na Terra e no Universo (átomos grande precisão para tais valôres e progressos nas técnicas astronômicas conduzem
por 10.000 átomos de Si)* a freqüentes revisões nas estimativas para os vários elementos. Uma comparação
entre as duas colunas, imperfeita como o são as análises, evidencia imediatamente
Crosta dos Em tôda algumas informações importantes sôbre a química da terra. Os elementos abundantes
Continentes Universo Meteoritos a Terra em rochas ígneas ordinárias são também abundantes no universo, tomado . como um
todo; nestas condições, a crosta terrestre é uma amostra considerável de material
Elementos formadores de rochas cósmico. Entretanto, examinados em detalhes, os valôres para os elementos litófilos
Si 10.000 10.000 10.000 10.000 na parte superior da Tabela 21-1 apresentam muitas discrepâncias. As diferenças seriam
AI 3.050 950 880 940 minimizadas pela inclusão dos basaltos oceânicos nas análises da crosta, mas não
Fe 1.010 6.000 8.900 13.500 seriam eliminadas. As discrepâncias são muito n;iaiores para os elementos da parte
Mg 950 9.100 8.700 8.900 inferior da tabela, aquêles que comumente formam compO$lOs vo láteis sob condições
Ca 1.030 490 890 330 ç
terrestres ; para muitos dêstes, · os teores da crosta do universo diferem por várias
Na 1.050 440 450 460 ordens de grandeza. Conseqüentemente,_ a crosta terrestre, como uma amostra de
K 540 30 70 40 material cósmico, deixa muito a desejar.
Mn 20 70 70 40 Talvez nossa questão inicial tenha sido simplória. A composição da crost~ pode
Ti 120 20 50 20 ser muito diferente da da terra considerada como um todo e é bem possível que a
Ni l 270 460 1.000 composição global do planêta fornecesse-nos uma comparação mais significativa
p 35 100 70 100 com as análises cósmicas. Como poderíamos obter valôres para tôda a Terra?
Elementos vo láteis Medições geoquímicas elementares da massa, volume e momento de inércia
H 1.400 4,0 X 10 8 84 da Terra dizem-nos que a densidade de seus materiais cresce de fora para dentro,
o 29.500 215.000 35.000 35.000 alcançando um valor da ordem de 15 g/cm 3 perto do centro. As velocidades medidas
N 2 66.000 0,2 das ondas sísmicas dão-nos uma idéia detalhada quanto à distribuição dos materiais
c 17 35.000 70 no interior, detalhes êstes incorporados ao modêlo familiar de uma crosta com uma
s 8 3.750 1.140 1.000 espessura média de 35 km sob os continentes e 6 km sob os oceanos, um manto que
F 33 16 3 ,se estende à metade da distância até o centro, um núcleo líquido ocupando cêrca de
CI 4 90 32 - dois terços da distância restante e um núcleo interno sólido. A natureza do material
Gases inertes de cada uma dessas regiões está determinada por medições de ondas sísmicas apenas
He 3,1 X )0 7 3,5 X 10- 7 quanto à densidade e às constantes elásticas; as limitações impostas por estas pro-
Nc 86.000 12 X 10 - 7 priedades podem ser satisfeitas por subst âncias com grande variedade de composições.
Ar 1.500 5.900 X 10- 7 Para restringir nossas suposições quanto à química do interior, precisamos de dados
Kr 0,51 0,6 X 10 -7
de outras fontes.
Xe 0,04 0,05 X 10 -7
Uma possível indicação provém do estudo dos meteoritos. Êstes objetos que
caem sôbre a Terra a partir de órbitas solares são plausivelmente interpretados como
• F'on1es: Crosia dos continentes : Recalculados a partir dos dados do Apêndice III. Universo : H. E. Suess e H. C Urey. ''Abund- fragmentos de um planêta desaparecido, ou, possivelmente, resíduos de material
unces aí 1he elements". Rev. Modern. Physics, vol. 28, pág. 53, 1956.
que compôs originalmente a Terra Em qualquer uma dessas interpretações, a com-
Mctcori1os : V. M. Goldschmidt, Skr. Norske Vide,r skaps-Akad. Oslo, /. Mat. Naturv. Kl., vol 4, págs. 99-101, 1937 ; ci1ados po r
ll. Mnson, Principies of Geochemistry, 2: ed., John Wiley & Sons, lnc. , New York , 1958, pág. 19. posição média dos meteoritos deve se assemelhar à composição média de tôda a Terra
nm 1ôda a Terra: Mason, ibid, págs. 51 e 202. Para obter uma média razoável de material meteorítico, enfrentamos um outro pro-
208 INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA GEOOUIMICA HISTÔRICA
'º'
b lcma de ponderação, uma vez que os meteoritos apresentam uma grande var iedade na Terra são menores do que as co nce ntrações nas es trêlas po r ~·1Lô res va riand o de 10 1
de composições. Num extremo estão os "ferros" que são compostos predomina n- a 10 14. Se, em alguma época, a composição da Terra assemelhou-se à d s co rp os
lemente de ferro metálico com alguma porcentagem de níquel. Noutro extremo, maiores do universo, algum processo de diferenci ação na sua hi stó ria modificou de
·stào as "pedras", consistindo principalmente de silicatos e assemelhando-se em com- alguma maneira as proporções dos elementos litófilos causando tremendas perdas
posição às rochas ultramáficas. Muitos meteoritos incluem tanto silicatos como de elementos mais voláteis.
metal nativo e alguns têm uma fase sulfêto (principalmente troilita, FeS). Como os Devemos notar que os números na Tabela 21-1 são suposições quanto às compo-
forros são mais duráveis que as pedras e chamam mais a atenção por terem um aspecto sições de enormes massas de material para as quais não é possível obter uma análise
diferente das rochas comuns, as coleções de meteoritos nos museus têm habitualmente precisa. Podem se encontrar muitas análises semelhantes na literatura, apresentando
um número desproporcionado de ferros. Contando-se, porém, as quedas observadas, freqüentemente diferenças consid erá veis nas est imativas de det erminados elementos.
pa rece não haver dúvida de que o número de pedras que cai sôbre a Terra é muito A elaboração de uma a nálise da Terra, ou do universo, ou mesmo de pa rtes acessíveis
maior que o de ferros. Há muita diversidade de opiniões quanto à melhor relação da crosta, é uma operação que exige a coordenação de dados provenientes de uma
a ser utilizada no cálculo de uma análise média. Os números da terceira coluna da grande variedade de fontes e a consideração de muitas hipóteses alternativas. Isto
Tabela 21-1 representam uma suposição freqüentemente mencionada. se torna um jôgo, como o de juntar as peças de um enorme e complexo quebra-cabeça
Supondo-se que a composição média da Terra seja semelhante à dos meteoritos, e é dificil esperar que todos os jogadores estejam de acôrdo. Não se pode pretender
pode-se fazer uma hipótese plausível sôbre a química de seu interior, distribuindo-se - que as análises apresentadas na Tabela 21- 1 sejam de muito va lor e certamente sua
o metal e os silicatos dos meteoritos de modo a satisfazer as condições de densidade precisão é duvidosa. Elas são a penas amostras representativas do pensamento corrente
e propriedades elásticas deduzidas a partir do comportamento das ondas sísmicas. e veremos que são convenientes como uma base de especulação sôbre o passado da
Isto nos dá o modêlo normalmente aceito de um núcleo consistindo principalmente Terra.
de ferro fundido envolto por um manto formado principalmente por silicato de ferro
e magnésio. Foram sugeridas infinitas variedades de refinamentos dêsse modêlo, 21-2. ORlGEM DA TERRA
numa tentativa de obter uma melhor concordância entre os detalhes de dados sísmicos
e composições meteoríticas. Uma composição média para tôda a Terra, calculada a Os geoquímicos e os outros geólogos (bem- como a maioria da humanidade)
partir de uma possível variante dêsse modêlo, é apresentada na última coluna da gostam de especular sôbre a origem do nosso planêta. Os fundamentos com base
Tabela 21 -1. em fatos para tais especu lações são muito vagos, uma vez que não existem muitos
Foi obtida uma confirmação experimental da exatidão genérica da hipótese processos de modificações progressivas observáveis atualmente e que possam ser
núcleo de ferro e manto de silicato de magnésio pelos recentes trabalhos experimenta is extrapolados no passado distante com alguma verossimi lhança. Algumas modificações
a altas pressões. Pressões contínuas no laboratório a temperaturas de alguns milhares a longo prazo vêm-nos à mente - o transporte de material dissolvido para o mar,
de graus estão limitadas a algumas centenas de quilobárias, correspondendo a profun- a adição de gás à atmosfera dos vulcões, talvez a diferenciação das rochas continentais
didades de somente algumas centenas de quilômetros ; mas as pressões instantâneas a partir do manto - , mas não podemos ter certeza de que êles não são parte de ciclos
obtidas em experiências com ondas de choque são muito mais altas, possibilitando muito longos e não modificações unidirecionais permanentes. Química e mecânica-
extrapolações razoá veis as condições do núcleo e do manto inferior da Terra. Tais mente, a Terra e seus planêtas irmãos parecem forma r um sistema bastante estável.
experiências indicam que os silicatos de magnésio do manto, que provàvelmente O nosso único recurso é tentar vá rias hipóteses e ver . qual delas é a que melhor pode
con sistam de piroxênio e de olivinas comuns logo sob a crosta, modificam-se com o prever um sistema planetário semelhante ao observado. Não podemos examinar
_ aumento da profundidade em formas mais densas como conseqüência das enormes aqui tôdas as hipóteses que foram propostas e rejeitadas, mas limitaremos nossa
pressões dos níveis inferiores. O silício passa a ter um número de coordenação igual discussão principalmente aos aspectos químicos da corrente especulativa mais favo-
a 6 em lugar do habituai 4, permitindo a transformação da olivina numa forma crista- recida atualmente.
lina mais densa com estrutura do espinélio ; a profundidades ainda maiores, o composto
Antes de tudo devemos nos perguntar: como podemos ter certeza de que a Terra
pode se dissociar em MgO e Si0 2 , cada óxido com uma estrutura muito densa. As
te ve, na realidade, uma origem? Não é possível (a despeito das dificuldades filosóficas)
ex periências com me tais indicam que o ferro é a única substância razoàvelmente
que os planêtas sempre existiram em sua forma atual? Uma indicação de que a Terra
abundante cujas propriedades a alta pressão correspondem às condições do núcleo
não pode ser infinitamente antiga nos vem dos dados astrofisicos sôbre os processos
exterior. Êste trabalho experimental colocou a hipótese fami liar do "modêlo meteorí-
de produção de energia no sol e nas es trêlas: a radiação do sol origina-se em reações
1ico" para o interior da Terra numa base firme, muito mais firme do que a mera suposição
nucleares nas quais o hidrogênio é convertido em elementos ·mais pesados, e a relação
de uma origem comum para os planêtas e meteoritos.
atual entre o hidrogênio remanescente e os outros elementos indica que o sol não
Os números na última coluna da Tabela 21-1 indicam que a composição da pode ter existido como uma estrêla por ma is d,; 5 ou 6 bilhões de anos. A presença
Terra como um todo está muito mais próxima da do universo (segunda coluna) do de quantidades apreciáveis de elementos radioativos com longas meias-vidas nas
que a composição da crosta continental separadamente, mas existem ainda muitas rochas da Terra é uma outra indicação de idade finita, pois não se conhece nenhum
discrepâncias com relação a diversos elementos. A comparação entre os teores estimados processo capaz de produzir êsses elementos na Terra hoje em dia. Assim, a pergunta
d s gases inertes cha ma particularmente a a tenção: as concentrações dêsses elementos sô bre a origem tem seu significado: os materiais que compõem a Terra podem ter
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p •1 lodo do pu ssad . s • formurum , presumivelmente na mesma época que a Terra. O chumbo atual da
Por ru zc es que ainda não f ram filosoficamente esclarecidas, tôdas as hipóteses superílcic terre tre apresenta uma distribuição de isótopos muito diferente, uma
so bre o comêço da Terra po tulam uma época quando sua substância era parte de º
vez que houve adiçã o de Pb 2 6 e Pb 2 0 7 , durante os períodos geológicos, a partir da
uma am s1ra homogênea de matéria cósmica. As hipóteses que estavam em moda decomposiçã o radioativa do urânio, e de Pb 208 da decomposição do tório. A compo-
hfi uma geração localizam e ta amostra homogênea no sol ou numa estrêla semelhante· sição entre o chumbo atual e o chumbo meteoritico fixa a idade dos meteoritos de
as dificuldades mecft nicas em gerar um sistema planetário a partir de uma estrêl~ ferro em 4,5 x 10 9 anos, um número que tem sido amplamente mencionado como
comp letamente formada conduziram as especulações mais recentes a uma hipótese "a idade da terra".
mais antiga, segundo a qual o material da Terra fazia parte de uma enorme nuvem É conveniente fazermos uma ressalva. Como Birch (1965) ressaltou, a data de
lc gás e partículas minúsculas dispersas num volume maior do que a órbita atual 4,5 bilhões de anos atrás foi a época em que o chumbo se fixou na fase sulfêto de alguns
de P lut ão. Inicialmente esta nuvem era fria e o núcleo de material sólido que se trans- meteoritos de ferro. Como se formaram os meteoritos, qual a sua relação com a nuvem
f mnou na Terra primitiva foi formado como um agregado de partículas frias e frag- primitiva e qual a correlação entre a formação dos meteoritos e a formação dos planêtas
men t.os maiores, chamados freqüentemente de planetesimais. são questões discutíveis. De alguma maneira, o ferro e o enxôfre dos meteoritos sepa-
Uma justificativa para postular uma agregação fria de planetesimais e não um raram-se dos silicatos (que continham U e Th) da nuvem; talvez isto se tenha dado pela
omêço fogoso sob forma de um fragmento enorme de matéria incandescente arrancada separação de um núcleo de ferro num planêta que mais tarde se desintegrou formando
do sol são as análises da Tabela 21-1. Como vimos anteriormente, uma notável diferença os meteoritos ; se isto fôr verdade, o processo de formação do planêta meteorítico,
c111re as composições médias de materiais terrestres e cósmicos é a maior quantidade e também, presumivelmente, da terra, deverá ser colocado numa data mais longínqua.
de elementos voláteis nestes últimos, diferença esta especialmente pronunciada quanto Em lugar de uma data específica, é melhor considerarmos a idade da terra como sendo
aos gases inertes. A1ualmente, a atração gravi tacional da Terra é suficiente para segurar de aproximadamente 5 bilhões de anos.
lodos os gases, exceto hidrogênio e hélio; conseqüentemente a deficiência de voláteis
nã pode ser explicada por uma perda da atmosfera em tempos geológicos recentes.
Se, porém, a substância da Terra estêve em algum período espalhada num grande 21-3. HISTORIA PRIMITIVA
volume sob forma de planetesimais, a atração gravitacional dos fragmentos teria
sido demasiadamente fraca para reter a maioria dos materiais voláteis. A perda seria Se a Terra se originou pela aglomeração de planetesimais frio s, a ba ixa temperatura
maior no que se refere aos elementos mais leves, tais como neônio, hélio e hidrogênio, não pode ter persistido por muito tempo. Exist iam pelo menos duas fontes de energia
de acôrdo com os números apresentados na Tabela 21-1. Além disso, a baixa tempera- produzindo grandes quantidades de ca lor: a energia cinética dos pedaços e partículas
lura é indicada pelo fato de que os gases inertes foram perdidos em muito maiores em movimento ao colidirem sob a influência da gravidade, e a energia radiante dos
quantidades do que materiais voláteis mais ativos, tais como água, dióxido de carbono elementos radioativos presentes nos materiais originais. Enquanto a terra era pequena
e amônia. A temperaturas de algumas centenas de graus, os compostos voláteis ativos e os planetesimais, na maioria, encontravam-se bem separados, o calor de a mbas as
ter--se-iam· perdido tão faci lmente como os gases inertes, pois suas moléculas estariam fontes podia ser perdido por irradiação no espaço. Mas, tão logo o planêta cresceu
li vres para se movimentar e porque seus pesos moleculares são semelhantes. No entanto, até um tamanho razoável, a maioria do calor foi sendo retida, uma vez que as rochas .
a baixas temperaturas, os compostos ativos seriam parcialmente retidos sob forma de são conhecidas como maus condutores de calor, e a temperatura do interior foi cres-
hidratos e carbonatos minerais e por adsorção em superficies sólidas. Uma análise cendo continuamente. Permanece discutível até onde e com que velocidade a tempera-
detalhada .das taxas de escape e das retenções relativas indica que a terra original não tura subiu, uma vez que os detalhes do processo dependem da taxa de incidência dos
pode ter tido uma temperatura superior a a lgumas centenas de graus centígrados. planetesimais e da distribuição origina l dos elementos radioativos, valôres êstes ambos
Quando se deu a aglomeração da Terra? Um limite superior é estabelecido pela desconhecidos.
idade calculada do sol, 5 ou 6 bilhões de anos, uma vez que o sol tamb.é m se formou Na Terra atual, a liberação de energia gravitacional deixou de ser uma fonle
a partir da nuvem original, presumivelmente por agregação do mat~rial na parte importante de calor, mas a degradação radioativa continua provàvelmente a aquecer
central. Uma idade máxima aproximadamente semelhante é sugerida pelo simples o interior. Êste aquecimento é compensado por perdas pela superficie da Terra e
fato de que as maiores meias-vidas de isótopos radioativos razoàvelmente abundantes é interessa nte especular sôbre a eficiência do equilíbrio: estará a · temperatura atual
de ocorrência natural (U 238 , Th 232 , K 4 º) estão no intervalo de 109 a 10 1 º anos; se a do interior aumentando, diminuindo ou permanecendo mais ou menos constante?
Terra fôsse mais velha do que alguns bilhões de anos, somente quantidades despre- Não podemos responder a esta pergunta a partir dos dados disponíveis. A quantidade
ziveis dessas substâncias teriam sobrevivido. Um va lor mínimo é a idade das rochas de calor produzida pelos quatro principais isótopos radioativos é bem conhecida :
mais velhas, aproximadamente 3,5 bilhões de anos. Um número provàvelmente mais
U 2 38 : 0,72 ca l/ gfano
próximo à época da agregação dos planetesimais foi obtido por Patterson (1956)
através de uma análise de isótopos de chumbo separados da troilita de meteoritos U 2 35 : 4,7 ca l/ g/ ano
de ferro. A troilita (FeS) não contém quantidades perceptíveis de urânio ou tório ; Th 232 : 0,21 ca l/ g/ano
qua isquer que sejam essas quantidades, elas são demasiadamente pequenas para K40 : 0,21 ca lJg/ano
210 INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA GEOOUIMICA HISTÔRICA 711

Mas a distribuição dos isótopos nos vários materiais da Terra é conhecida apenas Donn e Valentine, 1965). Permanece em aberto a ques1<1o de até qu e p nt o a ~c r,111uçt1 0
de modo aproximado e a quantidade de calor produzido depende fundamentalmente da crosta pode ser vista como um simples processo ígneo.
das quantidades precisas. A quantidade de ca lor perdido pela superflcie é conhecida Mesmo que êste modêlo simp les de formação da crosta por diferenciação eja
com bastante apro ximação. bem como a condutividade das rochas mais comuns ; aceito, permanece uma grande quantidade de perguntas a serem respondidas. A mais
mas não é certo que a condução seja o único mecanismo de transferência do calor dil1cil de tôdas é o velho problema dos continentes e das bacias oceânicas. Por que
do interior. Desta forma, nenhum dos dois membros da equação de balanço térmico os processos de diferenciação não atuaram de maneira uniforme em todo o globo'!
pode ser expresso com suficiente precisão para determinar se a Terra está se aquecendo Em a lgum estágio crítico da formaç,1o de crosta teria sido tôda a estrutura da Terra
ou resfriando. Podemos apenas eliminar certas suposições extremas; se, por exemplo, profundamente alterada pela separação da lua? Teria a submersão do ferro fundido
t · da a Terra fôsse tão radioativa corno as rochas da crosta e se a condução fôsse o no núcleo acontecido de forma não simétrica numa escala suficientemente grande
ún ico meio de transmissão de calor, a Terra seria tão quente que o interior estaria para produzir irregularidades no material acima? Teriam existido diferenças pronun-
quase todo fundido, o que contradiz a evidência obt ida pelas ondas sísmicas. Juntando ciadas de composição entre os planetesimais que se acumularam nas diferentes panes
evidências de muitas espécies, pode-se construir um quadro plausível do estado do planêta? Será que as partes mais silicosas da crosta original. uma vez espalhadas
térmico atual da Terra (por exemplo, Birch, 1965), permanecendo, porém, muitos fina e uniformemente sôbre a Terra, flutuaram e se juntaram formando grandes massas
pontos obscuros quanto aos seus detalhes. insulares, ou será que o processo de diferenciação sob os continentes foi essencialmente
diferente daquele que se deu sob os oceanos? Estas questões deram muita satisfação
Desde que as informações sôbre o balanço térmico atual são insatisfatórias, a mentes especulativas durante muitos anos e a liberdade de especulação é apenas
dados precisos sôbre o estado térmico da Terra no passado são pràticamente inexis- ligeiramente limitada pelas evidências fatuais.
tentes. Um fato nos dá uma pista quanto às condições num certo período do passado:
a Ter'ra tem um núcleo de ferro e parece impossível que o núcleo e o manto se separaram As informações referentes à última das questões provêm das recentes medições
a não ser que uma considerável parte do interior tivesse sido suficientemente quente de fluxo térmico das áreas continentais e oceânicas. Como as rochas graníticas dos
para fundir o ferro. Isto não significa que tôda a Terra eslava necessáriamente fundida, continentes contêm quantidades muito maiores de elementos radioativos produtores
mas apenas que diversos níveis do interior, talvez em épocas diferentes, tornaram-se de calor do que os basaltos sob os leitos oceânicos. é de se esperar que o fluxo térmico
suficientemente quentes para que as porções metálicas dos planetesimais originais médio das áreas continentais seja muito maior do que o fluxo térmico dos materiais
se tivessem fundido, aglomerado em massas fundentes e caído para o interior da Terra sob o oceano. Surpreendentemente. os valôres para os dois tipos de áreas s,1o aproxi-
O tempo necessário para aquecer uma terra originalmente fria até a temperatura em madamente os mesmos. uma média de I ou 2 cal/cm 2 /seg. Se o calor provém princi-
que o ferro começaria a fundir é muito grande, pelo menos um bilhão de anos aproxi- palmente da radioatividade. isto significa que a quantidade lotai de elementos
madamente (MacDonald, 1959), de maneira que a separação do núcleo de ferro do radioativos nos níveis logo abaixo dos oceanos deve ser a mesma do que a encontrada
manto deve ter ocorrido muito lentamente no decorrer de uma considerável parle sob os continentes. Por outro lado. as análises indicam que os principais elementos
da história primitiva da Terra. produtores de calor (U. Th e KJ estão de tal modo concentrados nas rochas silicosas
da crosta continental que quase todo o fluxo térmico observado pode ser atribuído
O outro processo importante de diferenciação em larga esca la que deve. pelo
à produção de ca lor na crosta apenas. com uma contribuição muito pequena do manto
menos em parte, ter se dado num passado muito remoto é a separação do material
sob a mesma. Mas. por sua vez. a crosta basáltica das bacias oce;:111icas é muito mais
continental a partir do manto. A química geral da crosta, com rochas graníticas nos
delgada e contém muito menos material radioativo (compare, por exemplo, as quanti-
níveis superiores, basalto . na base e material de composição peridotítica no manto,
dades de U. Th e K nas análises do granito e do basalto no Apêndice Ili). Para explicar
lembra-nos acentuadamente o acamadamento químico observado nas grandes massas
o fluxo térmico medido através da crosta oceânica. necessitamos de uma substancial
diferenciadas de indubitável origem ígnea e também os processos de diferenciação
contribuição do elementos radioativos no manto abaixo ; uma vez que as rochas
observados nos sistemas simplificados de laboratório. Assim, uma suposição simpli-
ultramáficas do manto contêm apenas traços dêsses elementos. devemos assumir
ficada quanto à origem da crosta seria uma reconstrução imaginada, em escala planetá-
que uma considerável espessura de material do manto (estimado em aproximadamente
ria, do processo de separação dos cris ta is a partir de um fundente. Os silicatos mais
JOO km) deve gerar o calor necessário. Em outras palavras, as últimas centenas de
pesados de magnésio e ferro cairiam para ou permaneceriam no manto e uma escória
quilômetros superiores do manto sob os continentes devem ser acentuadamente
de material rico em alumínio, silício e metais alcalinos subiria para a superl1cie. Tal
diferenciadas com uma radioatividade concentrada quase que completamente na
processo pode se dar parceladamente sôbre tôda a Terra, em conseqüência de tempe-
crosta acima, enquanto que sob os oceanos o manto permanece preponderantemente
raturas ligeiramente mais altas num ponto do que em outro, de maneira que não
não-diferenciado. Esta linha de raciocínio sugere que os continentes não são acidentes
é necessário que tôda a parte externa do planêta estivesse fundida num mesmo período.
s uperficiais flutuando sô bre um interior uniforme, mas que o processo de formação
Depois que apareceram massas continentais de tamanho considerável, uma subseqüente
d continentes reflete diferenças a grandes profundidades entre diversos grandes
separação de material silicoso pode ter sid o auxi liada pelas modificações químicas
~edimentos da Terra.
que acompanham a 1olimatização. sedimentação e metamorfismo.
Quando se deu a formação dos continentes? As rochas mais antigas conhecidas.
Embora êste quadro geral seja bastante plausível, existem sérias dificuldades datando cêrca de 3.500 milhões de anos, incluem equivalentes metamorfoseados de
quanto aos detalhes, principalmente no que se refere ao tempo necessário (Donn, sedimentos normais, fato êste sugerindo que as massas continentais já tinham existência
INIII UUCA A • OUIMI A < 1 tlOUIMI A Ili IÔIIICA

11 \'SSII ' J)() 'li , ( '0 111() a 1 ' 1'1 u. C(llll() Ul1l plonelu , é p ·lo menos UIII hilh.10 d' illlOS 11l;II S l111td111 •11tl' l'lltrs 1r 11wv1111c11tlls oroµ •n ros · pn vúve lmente uma mistura de materiais
•lhu , o 11lle1vu lo e111re J, e , bilhôes de anos provi1vel111ent · ·n •lnb · a i'.!poca de d11 · 1 ONlll • do 111a11to na s prol'und ·1.us, Isto poderia provocar uma diferenciação local
lll r 11111 ç:1o original dos e ntinenles. o rn o, no en tant o, a id ade das rocha s "' mais ve lhas .. do munto superior e a formação de n vas ma s ·as gra níticas, de maneira que os conti-
1 ·rn sido continuamen te es tendida durante as últimas década . não temos certeni nentes cresceriam lentamente para dentro dos lei tos oceânicos adjace ntes pela adição
d· que esses número permanecerão ina lterados. de materiais silicosos nas suas orlas. Uma indicação dêsse tipo de crescimento está
n fato de que as rochas mai ant igas da América do Norte encontram-se próximas
ao centro do cont inent e, no chapadão canadense, e as idades médias das rochas tor-
21-4. HISTÓRIA GEOOUIMICA POSTERIOR DA CROSTA
nam-se, de maneira geral, menores quando nos deslocamos em direção ao litoral.
Nos a nais da rochas de três bilhões de a nos, vemos uma Terra na qual os eventos - ste tipo de evidência é menos convincente nos outros continentes, de maneira que
familiares do ciclo geológico já estavam bem es1abelecidos: climatização. erosão, modêlo de diferenciação do manto nas orlas continentais permanece como uma
deposição dos sed imentos em bacias rasas, movimento orogênico, atividade vulcânica, hipótese conveniente, porém não confirmada.
metamorfismo e a ge ração de magma granítico por fusão parcial. Os materiais do Uma outra observação feita no mundo moderno que tem relação com o problema
planêta originalmente homogêneo haviam sido pa rcialmente separados num núcleo da diferenciação continuada do manto é a ampla ocorrência do basalto como sendo
metálico e numa camada superficial rica em sílica. Os continentes podem ter sido a mais comum das rochas vulcânicas. Para o basalto das ilhas oceânicas, a evidência
muito diferentes dos atuais em tamanho e forma, mas certamente existiam continentes geofisica indica que o magma sobe a partir de profundezas dá ordem de 100 km, bem
e leitos oceânicos ; em seus aspectos topográficos mais grosseiros e na química de dentro do manto superior ; a prova é menos completa para os basaltos continentais,
suas rochas e águas, a superficie da Terra pareceria familiar a um observador contem- mas, também aqui, é provável que sua origem seja no manto. Neste caso, certamente
porâ neo. A grande redisposição catastrófica dos materiais planetesimais primordia is material nôvo proveniente do manto está sendo adicionado à crosta. Representa
havia sido completada.
isto uma variação química? Para estabelecer uma variação química, deveríamos provar
É êste essencialmente o fim da estória? Nas época geológicas posteriores, podemos que as lavas basálticas têm composição diferente da dos materiais do manto da qual
supor que o núcleo, o manto e a crosta permaneceram separados, de maneira que a ela se forma ; caso contrário, poder-se-ia objetar que o basalto está sendo reincorporado
modificação geoquímica limitou-se às transformações cíclicas dos materiais da crosta ao manto na base dos vulcões oceânicos, de maneira que todo o processo poderia
que vemos ocorrendo no presente? Ou, então, houve lentas variações progressivas, ser apenas a agitação de um m aterial uniforme que forma tanto a crosta oceânica
talvez uma geração contínua de novas rochas da crosta por uma subseqüente diferen- como a parte superior do manto sob a mesma.
ciação do manto? Como acontece com a maioria das perguntas especulativas que O fato de que as ondas sísmicas se movem com velocidades diferentes no ma nto
estamos apresentando neste capítulo, não é possível obter uma resposta definitiva. e na crosta sugere que as compoisção são, de fato, diferentes. Isto, no entanto, não
Porém as observações do mundo atual fornecem-nos, pelo menos, alguns fortes indícios. é um argumento conclusivo, pois o basalto, sob pressão, pode se transformar numa
Uma sugestão está no simples fato de que os continentes continuam a existir. rocha densa, eclogita (Sec. 14-5), e o limite entre crosta e manto pode ser ape nas uma
Se os continentes se desenvolveram de uma única vez, num breve período há mais de transição de fases entre rochas de mesma composição, mas densidades diferentes. Os
3,5 bilhões de anos atrás, há muito tempo que a erosão os teria reduzido a meros tocos. dados experimentais sôbre a transformação basalto-eclogita indicam que as pressões
É verdade que a erosão seria seguida ou acompanhada por uma ascensão a fim de e temperaturas necessárias para produzir eclogita não seriam atingidas na base ·
manter o equilíbrio isostático, mas as sucessivas ascensões teriam ocorrido durante da fina crosta oceânica, de maneira que o manto superior tem aqui, quase
tanto tempo que somente os fundamentos _dos continentes teriam permanecido. Êstes com certeza, uma composição diferente. Uma suposição plausível, quanto à sua com-
fundamentos teriam provàvelmente uma composição mais máfica do que a das partes posição, é que ela seja peridotito de granada, suposição esta corroborada pelas velo-
elevadas dos continentes primordiai~; isto significa que no decorrer dos tempos geoló- cidades das ondas sísmicas, pelas inclusões encontradas em alguns basaltos do oceano
gicos a composição média dos sedimentos ter-se-ia tomado mais máfica e uma modi- . Pacífico e pelos trabalhos experimentais que indicam que o magma basáltico pode
ficação semelhante seria perceptível nas rochas graníticas formadas com tais sedimentos. se formar em grandes quantidades pela funsão parcial do peridotito de granada. O
Não se conhecem tais tipos de variações de composição nos anais geológicos, e a argumento talvez não seja irrefutável, mas sugere convincentemente que material
atual estrutura dos continentes está longe de sugerir que vivemos sôbre fundamentos diferenciado está sendo adicionado atualmente à crosta, a partir do manto.
máficos desgatados de massas continentais que foram uma vez mais espêssas e mais Se aceitar mos estas provas quanto ao basalto, podemos ter certeza de que o
ricas em gránito. Para manter os continentes em sua forma· atual, e na forma que processo de diferenci~ção ocorre num único sentido - que o manto, com o decorrer
aparentemente existiu através da maioria do passado da Terra, é imprescindível do tempo, torna-se cada vez m ais máfico, e que há um aumento líquido de material
supormos uma diferenciação contínua de material do manto. félsico na · crosta. Para provar isto, teremos de examinar os possíveis processos que
Uma segunda indicação nos vem do exame dos processos que estão ocorrendo se desenvolvem no sentido oposto, processos êstes que causariam a incorporação
ao longo das orlas continentais. A zona limítrofe entre um continente e um leito oceânico de material da crosta ao manto. É muito dificil obter qualquer resposta a esta questão.
adjacente deve ser uma área de instabilidade da crosta, uma vez que os sedimentos Em zonas orogênicas, como, por exemplo, na cadeia de montanhas que se estão for-
erodidos acumulam-se em espêssas camadas na plataforma continental. O aumento mando em tôrno da bacia do Pacífico, podemos imaginar que as rochas da crosta
local de pêso dos sedimentos e a simultânea descarga das terras próximas deveria estão sendo levadas para grandes profundezas onde se misturam com o material
214 INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA GEOOUIMICA HISTÓRICA

d o ma nt o. Mas qual a composição do m a terial formado por esta mistura? Teria su fi ciente Esta conclusão seria reforçada se pudésse mos encontrar ev idências indcpc nd cnt ·s
sí li ca e metais alca linos para compensar a diferenciação que produz basa ltos oceâ nicos da desgaseificação. Se ta l evidência puder ser encontrada, o utras ques tões e apre-
a part ir do peridotito? sen ta rão : a desgasei ficação se deu numa única vez, em a lgum es tágio inicial e mais
quente d a história da Terra, ou foi um processo gradual que continua até o presente?
Esta questão nos leva a uma o utra, mais amp la . Assumindo-se que o material As misturas · gasosas com a atual composição média da atmosfera viera m diretamente
que es tá sendo ad icionad o ao ma nto é principalmente sedimen tar, e assumindo ainda do interior o u será que os gases primitivos sofreram modificações na superfici~ da
que os sedimentos co nsistem principa lmente de resíd uos da cl imat ização do basalto, Terra?
como podemos esperar que seja a compos ição dêsses sedimentos? Será que a climati- Uma boa evidência, com respeito ao processo de desgaseificação, vem-nos a
zação do basalto produz um acúmu lo de sí lica e álca lis nos sedi mentos e não compostos partir de a lguns simples cá lculos feitos sôbre as quantidades de carbono nos d iversos
de ferro e magnésio? N um a esca la sufici en temente larga, os eleme ntos o ri ginais do ma teriais geológicos (Rubey, 1951 ). O carbono das rochas sediment a res foi quase
basa lto devem ser todos enco ntrados nos produtos sólid os da climatizaçã o, m as os todo derivado do C0 2 que em a lguma época exis ti a na atmosfera: o ca rbono dos
produtos podem se achar parcialmente sep arados e espal hados durante a sedimentação- materiais orgânicos foi fixado nos compostos orgânicos por foto ssíntese (Sec. 11-2)
sí lica nos arenitos e xistos, alumínio principalmen te nos xistos, ferro parcia lmente e o carbono dos carbonatos precipitados representa C0 2 atmosférico adicionado
nas argilas vermelhas e nos nódulos de manganês das profundezas marinhas, magnésio à água do mar seja diretamente por sol ução, seja indireta mente pela respiração e
nas dolomitas e xistos, potássio e sódio parcialmen te nos xistos, e cálcio principahnente decomposição dos organismos. Conseqüentemente, se estimarmos a quantidade
nos calcários. Então, a pergunta pode ser reformulada: qual dêsses vários sedimentos total de carbono enterrado nas rochas sedimentares, deveremos obter um número
seria mais provàvelmen te adicion ado em grandes quantidades ao manto, se é que indicando quanto C0 2 existia no ar em alguma época do passado. Os cálculos de
algum dêles seja? Rubey indicam que a quantidade de carbono enterrado excede o carbono hoje existente
Esta seqüência de raciocín io já fo i suficientemente dese nvolv ida para indicar na atmosfera, oceanos e organismos por um fator de aproximadamente 600 vêzes
a faci lidade com que uma exp loração dos problemas mais genéricos da geoquímica (Tabela 21-2). Mesmo que algumas das análises e estimativas de volume nas quais
podem levar-nos às areias movediças da es pecul ação. Deixaremos a última questão foram feitos os cálculos sejam erradas, o fator será assim mesmo supreendentemente
irrespo ndida e, resumindo, diremos apenas que vár ios tip os de ev idência suge rem a lto. Não há a menor dúvida de que a quantidade de carbono presente hoje no ar
fortemen te que a diferenciação de rochas d a cros ta a partir do ma teria l do manto é apenas uma minúscula fração da que existia em alguma época do passado geológico.
é um processo que ainda co ntinu a. É dificil o bter-se um a prova comp leta men te sa tis-
fatória, pois tôdas as perguntas sempre nos condu zem aos det alhes d os processos
que se dão nas profundezas d as zo nas orogê nicas e êstes detalhes perma necem um TABELA 21-2 In ventário do carbo110 total 11a atmosfera, hidrosfera, orga11ismos
dos maiores mistérios geológicos. e rochas sedime11tares, expresso em unidades de 10 20 g de C0 2 *
Atmosfera 0,023
Oceano e água doce 1,30
21-5. HISTORIA DA ATMOSFERA Organismos vivos e matéria orgânica não-decomposta 0, 145
Tota l para a atmosfera, hidrosfera e organismos 1,47
A escassez de gases inertes na Terra, comparada com sua a bundâ ncia cósmica,
Rochas carbonatadas 670
como foi notado na Sec. 21 -2, é plausivelmente explicada pelo escape dos gases d a
Carbona to orgâ nico nas rochas sedimentares 250
Terra em crescimento numa época em que se us materiais estavam aind a espalhados
a rvão, petróleo etc. 0,27
num tão grande vo lume do espaço que a a tração da gravidade era muito menor do
Total para as rochas sedimentares 920
que é hoje. O fato de que o utros gases com pesos moleculares semelha ntes, particular-
mente H 2 0, HCI, NH 3 , CH 4 , C 0 2 , H 2 S e S0 2 , não se perderam na mesma proporção
que os gases inertes é uma boa prova de que a temperatura original da Terra era baixa, Fon1e: Rubey, 195 1, pg. 1124.
de maneira que essas substâncias puderam ser retidas nos planetesimais seja sob forma
de partículas congeladas, seja so b forma de compostos. Se ês te raciocínio fôr vá lido, Ês te result ado pode ser interpretado de diversas maneiras. U ma possi bilidade
a fria Terra primitiva deve ter tido mu'ito pouca a tmosfera. Com o aquecimento do ex trema é que a atmosfera, num certo período primordial, era muito densa, consistindo
recém-formado planêta, ca usado por contração gravitacional e por decomposição principalmente em C0 2 a uma pressão paricia l de cêrca de 12 atm e que a a tividade
radioativa, os gases foram liberados dos se us compostos, acumu lando-se na superfi cie. das pla ntas mais a deposição de sedimen tos carbonatados reduziu gradualmente
Nessa ocasião, a gravidade já era suficientemente intensa para reter todos os gases, ê te teor até o seu valor presente de 0,0003 atm. Esta é uma hipótese muito pouco
à exceção dos dois mais leves, hidrogênio e hélio. Esta é uma conseqüência necessária provável, pois significaria que estamos vivendo no final da história da vida no nosso
da hipótese da agregação fri a, bem como d a distribuição observada dos gases inertes, pla nê ta. P a rte do C0 2 vol ta ao a r pela respiração, climatização das rochas e decom-
de que a nossa at mosfera atua l é essencialmente de origem secundária, tendo se formado po ição orgânica, mas a quantidade é demasiadamente pequena para compensar o
pela "desgaseificação" da massa sólida do planêta Presumivelmente, a água dos ca rbono que é constantemente removido sob forma · de carbonatos precipitados e
oceanos também chegou à superficie sob forma de um dos gases liberados. matéri a orgâ nica enterrada com os sedimentos. Um cálculo grosseiro do ba lanço
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d' l 't ll hono 111dH:a qu • ( 2 dú ar baixarú a um nível dema s1udu111 ·nle bai xo para 11 0~ 1 ·1 m11111u a111hui1 vulm ·s muito variúveis da press,1o parcia l de 2 no pass11do
,11 111,11111 11 vida vegetal denlr de algun · sécu los, a não er que haja uma utra fonte µ ·o lú •1·o. O fato da desgaseifieaçào continuada parece estar bem estabelecido, mas
d· g{1s. ' m o · regi tros geológicos apresen tam evidência irrefutável da existência s un la II nas tfiferentes era s é desconhecida.
de 01 gunis mos multicelulares durante, pelo menos, 600 milhões de anos e vida mono- 111 outro gás para o qual a desgaseificação parece c laramente estabelecida
. •Iu lar durante, pelo meno , 2 bilhões de anos, o teor de C0 2 do ar não pode ter baixado '· o argô ni (K ulp, 195 1). No a r comum, êste gás co nsiste principalmente de isótopo
u vn lôres muito inferiore aos atuais durante muito tempo. É difícil acreditar que o Ar 40 , enquanto que nas atmosferas estela res o isó topo abundante é o Ar 3 6 . Como
va lor al ua i de 0,0003 atm foi atingido so men te agora, após 2 bilhões de anos de queda o Ar 40 é um produto da deco mposição radioativa do K 40 , ês te fato peculiar sugere
·o ntínu a.
que a maioria do argô ni o terrestre acumulou-se durant e os tempos geo lógicos pela
Uma fon te ad icional óbvia de dióxido de car bo no é a atividade vulcü ni ca. Êsle decomposição do potássio das roc has. Essa suposição ta mbém explica o teor a norma l-
gús é um a das emanações mais abunda nt es de práticamente todos os vul cões e das mente a lt o de argônio na Terra quando co mpa rado com os outros gases inertes (Tabela
úrcas de fontes quentes que persistem após ter cessado a at ivid ade vulcünica (Sec. 16-2). 2 1- 1). Se o Ar 40 provém principalmente do K 40 , é fácil ca lcular a quantidade de K 4 º
Podemos assum ir que o C0 2 vu lcân ico é uma ma nifestação da desgaseificação da que se deve ter decomposto para fornecer a quantidade atua l de argônio no a r. O
Terra_- que provém das profundezas e es tá sendo adici o nado à at m osfe ra pela primeira resultado indica que as rochas perto da superfície, até mais, tôdas as rochas da crosta,
vez? E quase certo que parte do C0 2 é reciclado, no sentid o de que ê le é derivado da con tém a penas um a pequena fração do K 40 necessário. D aí concluímos que o argô nio
decomposição de sediment os aq uecidos por contato com a lava fun did a ; mas sua deve ter escapado para a superfície a partir da deco mposição do potássio em níveis
abundância em á reas vuld nicas onde há ca m adas sedimentares parece provar que, muito mais profundos.
pelo menos, parte é proven iente d o interior. O fato de que parte do carvão expe lido Não existem provas análogamente imediatas para a emergência de outros gases
pelos vulcões apresenta-se sob a forma de CH 4 e CO em lugar de C0 2 nada significa, atmosféricos que nã o a rgô nio e dióxido de carbono a pa rti r do interior da Terra.
pois êsses gases se riam rá pidament e oxidados pelo ox igênio a tm osférico, con tribuindo Pa rece bastante razoáve l supo r que se do is gases comuns ti vera m ta l origem, outros
e nt ,io pa ra o supr imento de C0 2 . Uma ·vez que a ev idência geo lógica indica que os também a terão, mas isto não constitui uma prova. Na a usê nci a de provas em contrário,
vulcões têm es tado a ti vos durante tôda a história da Terra, esta mos segu ros da ex istência e pelo fato de que a hipótese é consistente com as id éias corrent es quanto à origem
de um mecanismo para uma desgaseificação co ntínua e para manutenção de um a da Terra, é comum ass umir que a maioria dos ma teria is vo lá teis que se encontram
quantidade adequada de C0 2 na a tm osfera . agora na superfície, inclu sive a água, veio do interior. ls to significa que a at mosfera
e os oceanos se formaram no decorrer dos tempos geo lógicos e que ê les continuam
Ao tent armos interpretar os resultados dos cálculos de Rubey, podemos ass umir recebendo adições pela a tividade vulcânica atual.
o outro extremo, isto é, su po r que um eq uilíbri o entre os processos viiai's e a a ti vidade A composição dos gases vulcânicos, juntamente com as análises dos gases obtidos
vulcâ nica tem mantido uma pressão parcial de C0 2 a proximadamente co nstant e por aq uecimento de rochas e meteo ritos, bem como os dados espectrográficos quanto
a través de tôda a história geológica? Esta é uma pergunta a respe.i to da qual a ev idência á composição das atmosferas es telares fornecem-nos um a base pa ra uma conjuntura
é ainda inconclusiva. A ex istência continuada de vi da estabelece um mínimo bastante sô bre os tipos de substâ nci as voláteis que escaparam do interior. Embo ra essas supo-
definido de pressões de C0 2 , mas é muito menos inform a ti va quanto a um possível sições seja m algo incertas, elas nos di zem, pelo menos, que o produto médio da desgasei-
máximo. Alguns o rganismos terres tres atuais se riam desfa voráve lmente afetados· ficação pouco se assemelha com a composição da atmosfera atual. Vapor d'água,
por um aumento súbit o de C0 2 e a lgum as formas mar inh as sofreri a m com a diminuição hidrogênio, óxidos de carbono, gases sulfurosos, ha le tos de hidrogênio, nitrogê nio
resultante d o pH d a ág ua do ma r. Mas a capacidade dos sêres vivos em ajus ta r- se a ou amônio, possive lmente hidrocarbonetos - uma ta l mi stura é um ma teri a l primi-
variações graduais é enorme e se a diminuição de C0 2 foi suficientemente lent a, não tivo que escapou da Terra e constituiu, presumivelmente, a atmosfera primitiva. Como
há razão para negar que seu conteúd o nas a tmosferas paleozóicas e pré-cambriana pode a nossa tão diferente a tmosfera a tu a l ter evoluído de uma tal mist ura?
possa ter sido consideràvelmente mais a lto do que na atualidade. A eliminação do e nxôfre dos gases halógenos não é problema, pois êles se teri a m
d issolvido nas águas superfici ais, reagido com rochas e aparecido eventualmente
T a mbém não é fácil encontrar reações ino rgâ nicas que podem ser suficientement e so b forma de constituintes da água do mar. O proble ma realmente difícil é a formação
sensíveis às variações de C0 2 para deixar um regis tro na coluna geo lógica. Quantidades de grandes quantidades de oxigênio livre - um gás altamente a tivo que não é encon-
extremas, digamos um a pressão parcial maior do que 1 atm, podem, provàvelmente, trado em quantid ades compa ráveis em nenhum outro lugar no sistem a solar. A respos ta
ser a tribuíd as aos so los em que as águas superfici a is se tornassem fortemente ác idas que de imedia to nos vem à men te é a a tivid ade das pla nt as, um a vez que o oxigênio
a climatização química fôsse gra nd ement e ace lerada, os si licatos fôssem, em gra nd~ é liberado em g ran des qua ntid ades pelo processo de fotoss íntese nas fõlhas verdes.
parte, decompostos em sílica livre e os catíons da climatização fôs sem acumulados Esta é uma boa resposta e quase que certamente a resposta correta para a manutenção
num oceano a ltamente concentrado. As roc has sedimentár ias dos períodos pré-cambri- do atua-1 suprimento de oxigênio no ar. M as não é suficiente para responder à pergunta
a no e paleozóico sào demas iada men te normais para supo rt ar tal conjun tura. P o r hi stórica de como uma a tm osfera primitiva numa Terra se m vida foi tra nsformada
outro lado, as enormes quantidades de sí lica depositadas com a hem a tit a na "formação numa mistura que permite o florescimento de form as de vida superiores.
ferrosa" que é tào característica do período pré-cambriano posterior foram apresen- A evolução da geoquímica da atmosfera primitiva é um assunto de grande interêsse
tadas como evidência de um aumen to, pelo menos moderado, de C0 2 na a tmosfera atual não apenas para geólogos, mas também para as trô nomos e biólogos. Se o hidro-
pré-cambriana (Sec. 10-1). É difícil estabelecer limit es e o nosso conhecimento atual gênio livre fõsse um gás predominante no início, a atmosfera inicial teria consistido
218 INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA ( 1O UIMI A Ili IÔIII A li

de compostos fortemente reduzidos como metana, amônia e gás sulfidrico ; se a maioria d ·sgascificaçao do interior da Tcrrn, lcn to aumcn to do oxigGnio ltvrc acompanhando
do hidrogênio inicial tivesse escapado durante a agregação dos planetesimais, a atmos- a evo lu ç: da vida,..: relações 0 2/ 2 persistentemente altas até, o início da era paleo-
ícra inicial deveria ter mais nitrogênio livre e óxidos de carbono e enxôfre. Em ambos zó ica, pelo mcno .
o casos a água deve ter sido um constituinte predominante. A altos níveis na atmosfera,
as moléculas de H 2 0 ter-se-iam decomposto pela absorção de radiação ultravioleta
21-6. HISTÓRIA DA AGUA DO MAR
proveniente do sol, produzindo pequena quantidade de hidrogênio e oxigênio livres ;
parte das moléculas de hidrogênio teriam escapado completamente da Terra, mas A hipótese da desgaseificação para os co nstit uin tes atmosfér icos acarreta quase
oxigênio teria sido retido. Assim, teria sido produzida uma ligeira concentração que inevit àvelmente o corolário de que a água do mar se formou pela condensação
de oxigênio e, com o correr do tempo, a mistura gasosa se tornaria lentamente cada de vapor d'água escapa ndo do interior da Terra durante os tempos geológicos. Nem
vez mais oxidante, mas o 0 2 livre é usado tão ràpidamente numa variedade de pro- a hipótese nem o corolário foram demonstrados de forma cabal, porém ambos são
cessos que sua concentração média não poderia exceder um valor muito pequeno. tão plausíveis e tão consistentes com as ou tras idéias correntes sôbre a história da
De alguma ma neira, no oceano primitivo sob essa atmosfera ainda predominantemente Terra q.ue êles se tornaram amplamente acei tos.
redutora, apareceram as primeiras formas de vida. Experiências recentes (Miller e Se o oceano começou com um pequeno vo lume na era pré-cambriana e se a atmos-
Urey, 1959), simulando as supostas condições da Terra primitiva, sugeriram diversos fera dessa época era muito mais rica em C0 2 do que a atmosfera atual, o oceano era,
mecanismos pelos quais podiam ter se formado as complexas moléculas orgânicas presumivelmente, mais ácido do que é hoje. A climatização era rápida e a sa linidade
necessárias á vida, mas a história da origem da vida ainda está longe de ser completa. do oceano era indubitávelmente a lta. Com o a umento do volume de água, a climatização
Presumivelmente, os primeiros organismos eram simples formas anaeróbicas e somente teria fornecido continuamente sais adicionais e parece razoável supor que desde
muito mais tarde evolveram as plantas complexas que podiam utilizar a energia da os tempos iniciais o oceano esti vesse quase satu rado com a maioria dos seus consti-
luz solar para efetuar uma redução do dióxido de carbono a tmosférico em compostos tuintes dissolvidos. Em o ut ras palavras, a taxa de fornecimento de um elemento seria
orgânicos, liberando oxigênio. rápidamente balanceada pela taxa de sua rem oção nos sed imentos e sua concentração
na água do mar permaneceria então mais ou menos constante. Podemos corroborar
Dificilmente podemos duvidar que uma tal seqüência genérica de eventos ocorreu, esta suposição com observações do oceano a tual?
mas os passos individuais e as épocas em que se deram as modificações mais impor-
tantes da atmosfera são ainda objeto de debate. Aparentemente se poderia obter O problema pode ser atacado de di versas maneiras. Um teste experimental simples
informações sôbre a composição atmosférica pelo estudo geológico das rochas antigas, consiste em adicionar soluções satu radas de diversos sais metálicos a amostras de
mas as evidências são algo nebulosas. Há muito existe uma possibilidade especulativa ág ua do mar; se a água se acha saturada com algum composto metálico, a adição
de que o grande aumento na abundância e complexidade de organismos entre o período de mais íons dêste metal fará com que o composto precipite. Os resultados dêste teste
pré-cambriano posterior e o período paleozóico anterior pode, de alguma forma, ser parecem provar que a saturação não é atmgida, pois práticamente todos os metais
correlacionado com uma variação atmosférica, possivelmente de uma atmosfera podem ser adicionados à água do mar em quantidades consideráveis antes que se
rica em C0 2 numa atmosfera rica em oxigênio. Tal modificação poderia também dê a precipitação. Uma outra maneira é calcular as solubil idades de compostos metá-
causar as supostas profundas diferenças de caráter entre sedimentos pré-cambrianos licos, assumindo valôres razoáveis para os coeficientes de atividade; os cálculos indicam
e paleozóicos: por exemplo, a maior abundância de sílica, escassez de carbonatos, que as concentrações de muitos metais na água do mar são bastante elevadas, de
quase ausência de evaporitos e presença de tilitas nas camadas pré-cambrianas poste- modo que a saturação, com relação a um ou mais compostos possíveis, está quase
riores. No entanto nenhuma dessas características pode ser insofismávelmente correla- atingida (Sillén, 1961). A aparente discrepâ ncia entre experiências e cálculos pode
cionada com uma alta relação C0 2 /0 2 no ar. Opondo-se à supoisção de um baixo ser explicada talvez pela lentidão das reações de precipitação para as substâncias
teor de oxigênio no período pré-cambriano, muitos autores chamaram a atenção presentes em pequenas quantidades numa salmoura basta nte concentrada. Em adição
para a abundância de óxidos de ferro al tamente oxidados no período pré-cambriano à precipitação de determinados compostos betn definidos, a adsorção de íons metálicos
posterior; êsse argumento não é tão convincente como parece á primeira vista, pois em sedimentos de granulação fina e as reações com matéria orgânica podem servir
a quantidade de oxigênio necessária para tornar a hematita estável nos ambientes para manter as concentrações de a lguns metais em ní veis baixos.
sed imentares é muito menor do que a concentração existente na atmosfera atual. Uma terceira maneira de encarar o problema é comparar as análises das rochas
Uma interessante e recente hipótese (Berkner e Marshall, 1964) identifica a transição ígneas e sedimentares. Se um dado elemento atingiu um regime de equilíbrio na água
pré-ca mbriano-paleozóico com o aumento da concentração de oxigênio no ar para do niar com uma taxa de adição balanceada pela taxa de remoção, então a mesma
um valor igual a um centésimo do atual, e o aparecimen to de organismos terrestres quantidade que é levada para o mar pela climatização das rochas deveria ser incor-
n período siluriano posterior com o posteri·Jr a umento até um décimo do valor porada aos sedimentos. A va riação de volume na conversão de uma rocha ígnea num
atual. Es ta hipótese se baseia numa análise detalhada da interação entre as diversas sodiltlento mediano não é grande; isto significa que a maioria dos elementos deveria
freqüências da radiação solar e os prováveis constituintes d11 atmoffera primordial. Ui;lrtl!lentar aproximadamente a mesma abundância nas rochas ígneas medianas e
nàM rochas sedimentares medianas, descontadas as quantidades retidas na água do
Os detalhes da evolução atmosférica permanecem obscuros, mas uma grande 1mtr que, para a maioria dos elementos, é muito pequena. Os números no Apêndice III
parte do pensa mento atual tende para uma origem inicial conseqüente da gradual permitem tal comparação, pois a composição do xisto (quinta coluna) não está longe
220 INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA GEOQU(MICA HISTÔRICA 221

da do sedimento mediano, e uma média entre granito e basalto (segunda coluna) de emanações vulcânicas e desde que seus compostos com catíons comuns são todos
dá-nos uma média razoável para as rochas ígneas. Para a maioria dos elementos, as muito solúveis, surge naturalmente a sugestão de que os compostos dêsses elementos
duas abundâncias são bastante semelhantes, indicando que um equilíbrio foi at ingido foram adicionados à' água do mar diretamente e em grandes quantidades pela ativi-
entre as taxas de fornecimento e remoção no mar. dade vulcânica.

No entanto alguns elementos do Apêndice III apresentam notáveis diferenças


entre suas concentrações médias nas rochas ígneas e sedimentares. Algumas das dife- 21-7. ALGUNS GRANDES PROBLEMAS
renças podem ser atribuídas às óbvias falhas de amostragem: o basalto oceânico
não está incluído na média ígnea e o xisto conlinéntal exclui tanto as outras rochas Na última seção foi feita a suposição de que o oceano primordial tinha um pH
mais baixo do que hoje, principalmente pelo fato da atmosfera ser e.n tão mais rica
continentais, tais como arenitos e calcários, bem como os sedimentos das profundezas
em C0 2 , e também porque, talvez, outros gases vulcânicos ácidos tais como HCl,
marinhas. Podemos esperar encontrar diferenças, em muitos dos elementos raros,
S0 2 e H 3 B0 3 escapavam do interior em maiores quantidades durante a era pré-cam-
simplesmente devidas à escassez de dados analíticos. Mas, para um elemento, a diferença
briana. Se o pH do oceano variou consideràvelmente quando os gases ácidos se torna-
não é fàcilmente explicável: o sódio, para o qual os dados analíticos são excelentes,
ram menos abundantes, a composição do material dissolvido pode também ter variado
parece ser pelo menos três vêzes mais abundante nas rochas ígneas do que nos sedi-
consideràvelmente mesmo se as taxas de fornecimento e remoção permaneceram
mentos. De outro lado, o sódio é o catíon mais abundante na água do mar. Pode isto
aproximadamente em equilíbrio numa determinada época. Tem havido muitas espe-
significar que o sódio ainda se está acumulando no mar, não tendo ainda atingido
culações quanto às possíveis variações nas relações de catíons e, conseqüentemente,
uma concentração tal que êle possa ser removido nas mesmas proporções em que
quanto às composições dos sedimentos carbonatados precipitados em diferentes
é adicionado? Se a acumulação ainda estiver se processando, isto permitirá estimar
épocas. Essas especulações têm tão pouca base nos fatos que parece não valer a pena
a idade do oceano, como foi indicado aqteriormente. Basta dividir a quantidade de
examiná-las aqui, mas consideraremos brevemente o problema básico de como o pH
sódio em todo o oceano pela quantidade que é adicionada anualmente. Ambos os
da água é controlado.
valôres podem ser obtidos com suficiente precisão e o quociente é aproximadamente
100 milhões de anos. Por que êsse número é tão menor do que a idade geralmente Voltando à discussão dos inibidores no Capítulo 2, relembremos que a água do mar
atual está protegida contra variações consideráveis de pH pelas reações que envolvem
aceita, baseada na decomposição radioativa?
o ácido carbônico e seus íons e, em escala menor, pelo ácido bórico e íon borato. Isto
é, com certeza, suficiente para compensar pequenas adições de ácidos ou álcalis, mas
Não é fácil responder a esta pergunta. Uma possibilidade é que o material habi-
seria eficiente como um contrôle a longo prazo de ácidos ou álcalis fôssem adicionados
tualmente escolhido para fazer as análises das rochas sedimentares - espécimes
em maiores quantidades? Para tornar a questão mais específica, suponhamos que os
secos dos afloramentos superficiais - não é representativo em seu teor de sódio;
gases ácidos mencionados no último parágrafo - especialmente C0 2 , HCI e S0 2 -
sabe-se que muitas rochas sedimentares das profundidades contêm salmouras intersti-
fôssem adicionados continuamente ao mar em grandes quantidades pelas emanações
ciais que seriam lixiviadas pela climatização superficial e se estas salmouras fôssem
vulcânicas. O inibidor carbonato poderia absorver uma grande quantidade dêsses
incluídas na análise, o valor médio do sódio seria muito mais próximo do das rochas
gases ; os carbonatos sólidos seriam dissolvidos, o co; seria transformado em HC0 3
ígneas. Uma outra sugestão é que a amostragem do material ígneo é necessáriamente
e êste, eventualmente, em H 2 C0 3 . O pH baixaria lentamente quando estas reações
falseada, pois grande parte da rocha granítica é, na realidade, sedimento sobreposto,
se processassem, mas, mesmo quando êle atingisse 6,5 ou 7, o amortecedor seria ainda
de maneira que o alto teor de sódio nas análises das rochas "ígneas" pode ser inter-
capaz de absorver H +. É possível que um pH dessa ordem tivesse prevalecido durante
pretado parcialmente como um valor alto para rochas sedimentares. Qualquer uma
parte do período pré-cambriano.
das duas possibilidades pode significar que as taxas de adição e remoção de sódio
no oceano estão completa ou quase completamente balanceadas, como acontece Evidentemente, posteriores adições de ácido causariam uma eventual decompo-
com os outros elementos, de maneira que o cálculo da idade por êste meio carece sição do inibidor e a água do mar perderia sua proteção contra um drástico abaixa-
de sentido. Não há dúvida de que há algo escondido nas abundâncias de sódio que mento do pH. Será que isto aconteceria? Podemos imaginar uma segunda linha de
ainda não foi completamente elucidado. defesa nos minerais argilosos. A água do mar está em contato com enormes volumes
de argila e a troca iônica com os minerais argilosos poderia absorver enormes quanti-
Um outro aspecto da história da água do mar é sugerido pelos números do Apên- dades de H +. Tanto os íons metálicos absorvidos nas superficies das partículas argilosas
dice III. Para alguns elementos, principalmente cloro, bromo, enxôfre e boro, suas como os íons interestratais, tais como o Na + da montmorilonita e o K + da ili ta, seriam
concentraçpes na água do mar parecem notàvelmente a ltas quando comparadas com suscetíveis de substituição por íon hidrogênio. Êste sistema inibidor argiloso tem
as quantidades indicadas pelas análises de rochas. Se êsses números forem utilizados ação mais lenta e é menos conhecido do que o sistema carbonato, mas sua capacidade
para estimar a quantidade total dêsses elementos na crosta e no oceano, parecerá é maior e bem pode ser o principal regulador do pH da água do mar - agindo, por
que uma considerável fração do suprimento terrestre dêstes elementos está dissolvida assim dizer, atrás dos bastidores enquanto que o sistema carbonato se encarrega das
na água do mar. A quantidade no mar é demasiadamente grande para ter sido fornecida flutuações diárias de menor importância.
por qualquer suposto processo de erosão de rochas ordinárias durante os tempos Mas mesmo a troca iônica das partículas argilosas não pode ser a resposta fin al,
geológicos. Uma vez que êsses quatro elementos são conhecidos como componentes pois podemos imaginar que os vulcões produzem suficientes quantidades de gases
222 INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA O UIMICA HI TôRICA 223

ácidos para atacar não só os minerais argilosos mas também os carbonatos. O que, men1e long , a sí lica li vre da cr sla ex terior seria exa urida e os pll das oluções seriam
então, impediria a água do mar de se tornar uma solução de ácidos clorídrico, bro- pos1eriormente determinados pela hidrólise dos minerais silicosos. É dificil fazer
mídrico e sulfúrico? Como uma terceira linha de defesa, consideramos os minerais uma previsão específica, mas parece haver pouca restrição aos valôres de pH exceto
silicosos não-argilosos: feldspatos, piroxênios e antibolas. Êstes estão sujeitos a um a solubilidade dos hidróxidos metálicos. Na natureza, um contrôle final é presumivel-
ataque ácido lento, decompondo-se em sílica _e caulinita e contribuindo com os seus mente a neutralização do excesso de álcalis pelos gases ácidos dos vulcões.
catíons para a solução. Neste caso a acidez da água do mar só poderia aumentar quando A essência de tais argumentos fantasiosos foi expressa por Urey (1956) num equi-
os vulcões tivessem emitido suficiente gás ácido para converter tôdas. as rochas da líbrio simbólico muito mais simples do que a equação generalizada acima:
superficie em sílica e caulinita e dissolver todos os catíons das rochas da superficie
no oceano_. CaSi0 3 + C0 2 ~ CaC0 3 + Si0 2
Esta série de eventos obviamente nunca ocorreu durante os tempos geológicos
Esta equação, num contexto diferente, foi por nós discutida como um exemplo de
e ~ próxima pergunta lógica poderia ser por que não? Para obtermos uma resposta,
uma reação metamórfica simples que pode ocorrer nos contatos granito-calcário
devemos examinar os processos nos quais um vulcão gera gases ácidos. Aqui nos
(Sec. 19-3). Aqui, nós examinamos a equação de uma perspectiva mais ampla: o CaSi0 3
encontramos em terreno pouco firme, mas, pelo menos em parte, os gases de um vulcão
representa qualquer um dos silicatos metálicos comuns, o C0 2 os gases ácidos, tanto
represeptam material volátil liberado quando rochas sedimentárias são aquecidas
provenientes dos vulcões, como os já existentes na atmosfera, o CaC0 3 um sal simples
suficien\emente para iniciar a fusão. Reações dêsse tipo foram demonstradas em
e o Si0 2 , como o anidrido de ácido silícico, pode representar o mais simples dos silicatos
algumas das experiências de Winkler descritas na Sec. 19-6: quando xistos contendo
ácidos. Então, a reação direta simboliza as reações de climatização e dissolução na
pirita e NaCl adicional são_aquecidos com vapor d'água sob pressão, nota-se a presença
superficie terrestre - os processos a baixa temperatura pelos quais os silicatos são
de HCl e H 2 S eritre os prod4tos voláteis. Evidentemente, ós tipos de materiais sedimen-
atacados, os catíons liberados ou fixados em compostos simples e a alcalinidade aumen-
tários formados sob condições quase neutras ·na superficie da terra são capazes de
tada. A reação inversa indica a formação de silicatos complexos e gases ácidos pelo
gerar gases ácidos quando aquecidos nas profundezas, e a quantidade de gás ácido
aquecimento de materiais sedimentares simples até altas temperaturas. A posição
liberado seria limitada pela natureza do sedimento. Em outras palavras, estamos
do equilíbrio na reação depende não somente da temperatura, mas também da pressão
lidando com um tipo de equilíbrio gigantesco· e complicado no qual os gases ácidos
e os silicatos metálicos das rochas ígneas são as formas estáveis a altas temperaturas de C0 2 ; numa escala global, podemos considerar isto como a concentração dos
constituintes dos gases ácidos nos materiais da Terra. Assim, uma simples equação
e os silicatos ácidos mais os sais dissolvidos são as formas estáveis finais a baixas
resume uma grande parte da geoquímica. Ela expressa não somen.te os contrôles
temperatu_ras:
finais sôbre o pH da água, mas também as principais reações incorporadas no ciclo
baixa temperatura -+ das rochas.
silicatos metálicos + gases ácidos ~ É bem apropriado que aqui, no fim da nossa história; encontremo-nos envolvidos
silicatos de hidrogênio + sais dissolvidos num exemplo final de equilíbrio. A história começou com equilíbrio, no Capítulo 1, e
+- alta temperatura examinamos equilíbrios de muitas espécies e de diversos graus de complexidade.
Agora, nesta discussão final, após uma longa revisão especulativa das tendências
As reações em ambas as direções são lentas e incompletas. químicas através dos tempos, encontramos uma equação enganadoramente simples
Uma outra parte do gás emitido pelos vulcões deve consistir de materi_al volátil que expressa sob forma de um equilíbrio grande parte da matéria dêste capítulo e
proveniente das profundezas,. pr·esumivelmen·te gases retidos quando da formação dos capítulos anteriores. Há muitas coisas que não sabemos sôbre o equilíbrio de
da Tetra ·e que, lentamente, subiram à superficie. Quão importante é uma fração Urey e sôbre os outros equilíbrios. Mas, quando os problemas podem ser formulados
do gás vu lcânico dêste material primitivo não temos modo de saber. Na atual con- desta maneira, pelo menos atingimos um certo grau de organização do nosso pensa-
juntura, tudo o que se pode dizer sôbre ela é que, a partir de evidência geológica, sabemos mento e uma base para formular perguntas pertinentes.
que não causou . um deslocamento importante do equilíbrio acima.
É possível que o sistema inibidor do oceano possa se decompor no outro sentido? REFERl:NCIAS E SUGESTÕES PARA LEITURAS POSTERIORES
Poder-se-ia adicionar álcalis em quantidade s·uficiente para converter todo· o dióxido
de carbono da água e do ar erri carbonato, todo áddo bórico em borato e tôdas as BERKNER, L. V. e L. C. MARSHALL, "The history of growth of oxigen in the earth's
argilas hidrogenadas em montmorilonita e ilita? Neste caso não precisamos considerar atmosphere, in P. J. Brancazio and A. G. W. Cameron (eds.), The Origin and Evolution
uma adição ativa de álcalis; é suficiente imaginar simplesmente que os processos de of Atmospheres and Oceans, págs. 102-126. John Wiley & Sons, lnc., New York, 1964.
climatização são estendidos para além dos seus limites habituais. Os silicatos metálicos Estimativas quantivativas das quantidades de oxigênio e ozona na atmosfera em
reagindo com água formam soluções alcalinas {Sec. 4-8), e valôres experimentais de pH, vários períodos da história geológica, baseac'.as, em grande parte, na fotoquímica
obÍidos moendo-se silicatos comuns sob água, têm atingido 11. Que restriçiíes existem dos gases atmosféricos.
para pH aumentando indefinidamente, uma vez exaurida a capacidade dos inibidores BIRCH, F., "Speculations on the earth's thermal history", Geai. Soe. America Buli.,
comuns? Durante um certo tempo a conversão de sílica num íon de ácido silícico vol. 76, págs. 133-154, 1965. Uma revisão e crítica dos dados e hipóteses atuais sôbre
agiria como um freio, Ínàs, se a climatização continuasse ·por um período suficiente- as distribuições de temperatura dentro da terra no passado.
IN R DUÇAO A Q UIMI A
apêndices
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urth", Geol. So . A111eriea Buli., vol. 76, págs. 287-306, 1965. Uma inloressante tentativa
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