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Data: 20/11/2022

Nome: Bruna Spina Papaleo


RA: 11202020547
Ficha de leitura
Título do texto: An Illustration of Geographical Warfare: Bombing the Dikes on the Red River,
North Vietnam
Autor: Yves Lacoste
Objetivo do texto: Analisar a estrutura de uma guerra geográfica a partir dos bombardeamentos
dos diques do Rio Vermelho
Como é feita a discussão para se chegar a esse objetivo (metodologia): Avaliação de fatos
históricos e apresentação de mapas congruentes com o posicionamento do autor

Capítulos:

1. Preâmbulo

A geografia, como um modo de representar o mundo, está inevitavelmente envolvida com


questões ideológicas. A mídia de massa continua a projetar clichês geográficos e imagens. O
tipo de conhecimento geográfico ensinado nas escolas e repetido por alunos não parece, à
primeira vista, ter muita importância prática.
No entanto, na visão do autor, o modelo pedagógico geográfico de mestre-aluno do final do
século XIX não é a única forma possível de reflexão geográfica. Antes disso, a geografia era
um instrumento estatal, de controle de organização social e de guerra.
O próprio mapa é um instrumento de poder, uma maneira de representar o espaço que facilita
seu controle e dominação. Ele serve aos interesses práticos da máquina estatal. Como citado
pelo autor, o trabalho de mapeamento pode muitas vezes ser um tedioso e caro, sendo então
feito pelo estado e para o estado. Por vezes, esses mapas contêm também segredos militares
neles. Ainda assim, a cartografia não é a única conexão entre geografia e estrutura de poder:
geógrafos são agentes da informação. Exemplos:
● Topografia (interesses estratégicos e táticos
● Distribuição populacional (organização político administrativa do espaco)
Assim, houve um choque para geógrafos universitários ao notarem essa natureza política e
militar da geografia. Como citado na página 621:
“Os professores mistificaram a geografia: falavam de explicações “naturais” e
“históricas” de fenômenos que foram realmente o resultado da estratégia política do
Estado e da estratégia econômica do grandes empresas. Esse tipo de mistificação, que
faz da geografia um discurso separado da vida prática, teve um impacto profundo na
opinião pública, e também nos próprios professores. Torna-se exagerado (embora
menos manifestamente) pela massa de imagens geográficas e clichês veiculados no
cinema, na imprensa e televisão.”

Ainda que se possa dizer que essa esfera política e militar pertence ao passado e pertence à fase
pré científica da geografia, e que agora a geografia seria uma ciência desconexa isso não é
verdade. Enquanto eles afirmam que o discurso geográfico estaria desinteressado com questões
de poder, na verdade mais do que nunca ele está conectado com interesses práticos, políticos e
militares.
A “guerra ecológica”, como diz a expressão, poderia ser melhor compreendida em perspectiva
geográfica. Página 621:
“Para conseguir um número limitado de poderes políticos e militares objetivos houve a
destruição da vegetação, a transformação do meio físico e das características do solo, a
precipitação deliberada de novos processos erosivos, a ruptura de sistemas hidrológicos
para alterar o nível do lençol freático (para para secar poços e arrozais), e também uma
mudança radical na distribuição de população. Tais formas de destruição não são
simplesmente as consequências não intencionais da enorme escala de meios letais
disponíveis para a guerra tecnológica e industrial; são o resultado de uma estratégia
deliberada e minuciosamente articulada, os elementos de que são cientificamente
coordenados no tempo e no espaço.”

2. Responsibility of the Geographer and Public Opinion


O autor explica essa dita guerra geográfica através do exemplo do Vietnã. No sul do Vietnã
ainda não se tem todos os resultados do dano que isso pode ter causado, e são necessários
geógrafos e cartógrafos e pesquisas para estimar isso. Sobre o bombardeio de diques no local:
não se pode dizer que necessariamente foram geógrafos profissionais ou professores geógrafos,
mas quem fez os ataques com ctz tinha um conhecimento preciso de informações geográficas e
dominava esse pensamento, até pq:
● Os bombardeios foram designados para produzir uma enorme catástrofe, que só não
aconteceu pq os vietnamitas repararam brechas com terra acumulada de outros
bombardeios e especialmente pq durante o verão de 1972, às enchentes dos rios foram
baixas (fenômeno que ocorre a cada 8 ou 10 anos). Os EUA não admite que os diques
eram o alvo.
● Mas logo depois, em face de relatos cada vez maiores, a Casa Branca emitiu uma
declaração reconhecendo que alguns diques, devido à sua proximidade com objetivos
militares, poderiam ter sido atingidos. A seguir o autor analisa pq essa informação
provavelmente não eh vdd.
● Claramente isso mexeu na opinião pública,
● acredita-se que as pessoas estavam intuitivamente conscientes de que o
bombardeamento dos diques significava uma nova forma de guerra (conflitos humanos
deveriam estar separados da forca da natureza e isso nao estava mais acontecendo

3. Why the dikes


Nesse trecho, o autor cita diversas características do rio que o torna diferenciado: o delta do rio
forma um triângulo de 90 milhas com praticamente 10 milhões de pessoas vivendo ao seu redor,
tem montanhas, chuvas fortes de monções, inundamentos e muito aluvião. A implantação dos
humanos ali no delta do rio, portanto, foi difícil e enquanto isso foi em partes negativo, também
tinha muito potencial. Portanto, a tarefa dos vietnamitas sempre foi confrontar as características
negativas da geografia: uma das artimanhas para isso foram os diques, especialmente devido aos
inundamentos causados pelos rios que destruíam todo o trabalho da população. A realização
dessa rede de diques demonstra a extraordinária organização das comunidades nas vilas e
também do governo. Nota-se então que bombardear os diques era extremamente negativo nessa
região, ainda que outras planícies aluviais tenham sido bombardeadas, a do rio vermelho é a
que representa mais riscos de inundamento catastrófico e o maior número de vidas humanas
ameaçadas
4. Where have the dikes been bombed?

Há uma controvérsia de se teria sido de propósito ou não, mas o autor visitou a região e viu que
era muito preciso o local dos bombardeios, como segue o mapa.
Pela imagem dá pra ver que quase não tem bombardeamento fora das áreas dos diques. A
Comissão Internacional de Inquérito sobre Crimes de Guerra decidiu que seria preferível
concentrar sua investigação no delta do Rio Vermelho, e é possível notar que os bombardeios
foram tão concentrados, em uma área tão restrita, que é difícil distinguir os que visavam uma
instalação hidráulica daqueles que tinham outro tipo de objetivo.

5. The bombing of the dikes in the Eastern Part of the Delta


Dos 96 locais onde os diques foram atingidos por bombas, 58 estão situados no delta do rio
Vermelho. A administração americana declarou que se o bombardeio dos diques tivessem como
objetivo provocar grandes inundações, eles teriam atacado a parte ocidental do delta, ou seja, a
montante apenas a parte que foi, por enquanto, poupada . MAS, vendo as condições
geográficas, concluímos justamente o oposto:
● Grande maioria dos diques bombardeados está situada na parte oriental do delta, onde
se encontra a maioria dessas aldeias facilmente inundadas. Se fossem atacar alvos
militares, não poderiam evitariam os diques situados no delta superior, perto de Hanói
por exemplo, onde os objetivos militares podiam ser atacados sem danos aos diques.
6. A more detailed analysis of bombing points
Os diques foram atacados na parte côncava das curvas ou em pontos onde estão sujeitos à
pressão perpendicular de uma corrente especialmente forte resultante da confluência de seis rios.
É literalmente impossível que existam “alvos militares” em todos esses pontos, que são
justamente os essenciais para o sistema de defesa aquática.
Um dos exemplos mais contundentes de prova de que uma estratégia metódica foi realizada
contra a rede de diques é fornecido pelo exame dos ataques contra diferentes tipos de instalações
hidráulicas na parte sul da província de Thai Binh:
● No ponto onde a pressão da corrente é mais forte no tempo de maré alta, e os
bombardeios ocorreram em um ponto em que é particularmente difícil de reparar
● Os diques situados perto da aldeia de Nam Huong foram pela sua importância no
sistema hidráulico atacados em julho de 1967. Este não é o único exemplo de
ataques realizados contra pontos anteriormente bombardeados entre 1965 e 1968
● Impedidas de correr para o mar, as águas começaram a acumular-se nos arrozais
onde uma parte considerável da colheita pode ser considerada perdida.
COM CAMPOS DE ARROZ INUNDADOS E UMA FONTE DE COMIDA MUITO
COMPROMETIDA, VEMOS A POSSIBILIDADE DE UMA NATUREZA
PREMEDITADA DA AÇÃO.
A administração americana, depois de admitir que os diques poderiam ter sido atingidos,
declarou que a destruição resultante foi mínima. MAS NA VERDADE, as bombas eram bem
pesadas e quando acertavam os diques diretamente, abriam enormes crateras, e o choque das
bombas causava fraturas que comprometem a resistência do dique. Em 1972, os bombardeios
foram feitos nos diques em períodos de chuva, tornando muito difícil de reparar os diques.
Como afirmado na página 636 do texto:

“Esta estimativa corresponde ao prognóstico feito há vários anos por


alguns especialistas militares americanos, no sentido de que “o
bombardeamento dos diques norte-vietnamitas produziria um efeito
comparável ao de uma bomba de hidrogénio: todo o delta seria inundado,
as plantações de arroz de verão e outono seriam destruídas e dois a três
milhões da população morreriam de afogamento ou de fome”.

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