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Referência Bibliográfica

BOJIKIAN, J. C. M.; BOJIKIAN, L. P. A idade ideal para o início da prática do


voleibol. In: BOJIKIAN, J. C. M.; BOJIKIAN, L. P. Ensinando voleibol. 5ª edição.
São Paulo: Phorte. Cap. 5, p. 66- 67.

A Idade Ideal para o Início da Prática do Voleibol

Luciana Perez Bojikian


João Crisóstomo Bojikian

“O outro aspecto a ser considerado neste capítulo diz respeito a possível


determinação de um momento da vida que possa ser considerado como o ideal
para a aprendizagem das habilidades motoras do voleibol.
Os estudos e os trabalhos práticos realizados levam-nos a concluir que, em
média, as meninas deveriam entrar em contato com o ensino dos fundamentos
do voleibol no período compreendido entre os 11 e 13 anos, e os garotos, dos 12
aos 14 anos. Nesse período, ocorre o início da grande transformação física, em
que medidas morfológicas aumentam rapidamente e os caracteres sexuais se
acentuam (RÉ e BOJIKIAN, 2011).
É um momento muito interessante, pois o brusco crescimento traz para o
indivíduo, na maioria das vezes, uma falta de sinergia nos movimentos que, até
bem pouco tempo atrás, eram realizados com fluidez. Isso é reflexo de um novo
corpo, coordenado pela mesma memória motora. Não houve tempo de grandes
experimentações motoras com o corpo em novas dimensões. É aquele estágio da
vida em que o adolescente é considerado como ‘estabanado’, pois derruba um
copo, tropeça no pé da mesa, cai da escada etc. Todos nós passamos por esse
momento na vida! Mas, por outro lado, há uma luta interna no físico do
adolescente para suprir essas deficiências, o que torna o indivíduo ávido por
novas vivências e estimulações, na busca do reequilíbrio: ‘é um solo com terra
adubada esperando, na estação adequada, por sementes bem selecionadas e de
boa qualidade’ (BOJIKIAN, J. C., comunicação pessoal). É um momento ótimo
para o ensino de novas habilidades motoras, pois é momento de reestruturação
motora natural.
Por outro lado, se até esse estágio o aluno teve uma formação física básica
bem desenvolvida, com as habilidades motoras básicas, como andar, correr,
saltar, lançar etc.; tendo sido bem exploradas, bem como as combinações entre
elas, a reorganização motora ocorrerá mais facilmente.
Convém, neste ponto, relembrar os ensinamentos de Weineck (1999) sobre o
momento de prontidão (dos 6 aos 12 anos) para o aprimoramento das capacidades
coordenativas, em virtude do grande desenvolvimento do córtex, do cerebelo e,
consequentemente, do sistema nervoso central. Esses conceitos trazem, portanto, a
obrigatoriedade de se criarem condições para que as crianças vivenciem, nesta
faixa etária, o maior número de atividades motoras na busca da formação de um
repertório motor rico tanto em quantidade quanto em qualidade. A diversidade das
ações motoras trará às crianças uma memória motora repleta de vivências e
experimentações e, consequentemente, de capacidades coordenativas que lhes
trarão maior potencialidade para o aprendizado de novas habilidades motoras
específicas, bem como para o aperfeiçoamento delas (GRECO, 1998).
Em razão do exposto, sugerimos que, até o estirão da puberdade, as
crianças frequentem as escolas de esporte (vivência de várias modalidades, sem
compromisso com performance), e não as escolinhas de voleibol (aprendizado
específico da modalidade, visando à performance), pois, sem dúvida alguma, estas
formarão repertórios motores muito mais pobres que as primeiras, e que,
consequentemente, serão fator limitante quando, mais tarde, as praticantes
necessitarem de lastro motor anterior para aprender ou aperfeiçoar as habilidades
motoras do próprio voleibol (BOJIKIAN, J. C., 2002).
Torna-se relevante ressaltar que os aspectos ligados ao desenvolvimento
motor e não os metabólicos nos levam a não aconselhar a iniciação do voleibol
na grande infância. Em termos metabólicos, não há qualquer tipo de prejuízo
às crianças, pois o voleibol é uma atividade intermitente, na qual a parte ativa
(ralis) tem, em média, de 4 a 6 segundos para o masculino e 8 a 10 segundos
para o feminino, o que a caracteriza como atividade anaeróbica alática (sistema
ATP-CP). Esses estímulos são intercalados por pausas de, aproximadamente, 20
a 22 segundos, em que o sistema aeróbico proporciona a restauração do ATP-CP
consumido quando da bola em jogo (FOX e MATEWS, 2003).
Weineck (2003) nos lembra que as atividades anaeróbicas láticas são
aquelas que trazem prejuízos às crianças, pois, antes do estirão da puberdade,
elas não possuem catecolaminas (hormônios por estresse) para compensar os
efeitos do aumento da acidez sanguínea e o consequente desequilíbrio do Ph.
Ele nos ensina ainda que atividades que provocam esses efeitos tornam-se
extremamente desprazerosas para as crianças, tornando-as muito irritadas,
efeito da ausência de catecolaminas em quantidades suficientes para manter
seu controle emocional. Definitivamente, o voleibol não tem tais
características.
Outro fator que concorre para que o voleibol seja ensinado a partir do estirão
da puberdade é o desenvolvimento social, que mostra indivíduos mais propensos
a aceitar atividades que requerem sociabilidade, pois a fase da ênfase
individualista está sendo superada. Por ser o voleibol um esporte eminentemente
coletivo, sua prática será mais indicada a indivíduos que possam atuar em
associação com outras pessoas.”

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