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Objeções a Descartes:
A dúvida cartesiana é impraticável e incurável:
Hume considera que uma dúvida radical, como a que recomenda
Descartes, é impraticável, visto que, esta rejeita qualquer crença
que admita a mais pequena dúvida, considerando-as
provisoriamente falsas. Sendo assim, Hume refere que não
podemos simplesmente viver como se tudo fosse duvidoso, pois a
nossa natureza exige que acreditemos em certas coisas que são
importantes para a nossa vida. Além disso, Hume defende que a
dúvida metódica, não permite reconstruir o edifício do
conhecimento depois de o destruirmos, isto porque, uma vez
adotada a dúvida, nunca mais nos conseguimos ver livres dela. Por
outro lado, a ideia de Hume é que se duvidarmos das nossas
próprias capacidades racionais, como exige a dúvida, deixamos de
poder recorrer a elas para deduzir seja o que for a partir do COGITO.
Pelo menos, é incoerente fazê-lo. A dúvida universal de Descartes
também se aplica às nossas faculdades, impedindo-nos de confiar
nelas, mas esta só pode ser ultrapassada usando precisamente
essas faculdades em que deixamos de confiar, assim, uma vez
estabelecida, a dúvida não poderia ser ultrapassada. Mostrando
assim que a dúvida é incurável.
Descartes incorre numa petição de princípio
Esta objeção é relativa ao círculo vicioso. Descartes terá incorrido
num argumento circular ou petição de princípio (em que A justifica
B, que justifica A, o que equivale a dizer que B se infere a A, que se
infere de B). Por um lado, é o facto de raciocinarmos a partir da
ideia clara e distinta que temos de Deus que nos irá garantir que
Deus existe. Mas, por outro lado, é Deus- que existe e não é
enganador – que garante a verdade e a objetividade das ideias
claras e distintas (incluindo a própria ideia de Deus como ser
perfeito). Isto pode ser dito de outro modo: temos necessidade de
confiar no nosso intelecto ou na nossa razão para provar a
existência de Deus e, todavia, sem o conhecimento prévio da
existência de Deus não temos, em princípio, quaisquer motivos para
confiar no intelecto ou na razão.
Outras objeções:
A ideia de perfeição é subjetiva, e por sua vez, se fosse uma ideia
inata, ou seja, se nascêssemos já com ela, todos nós teríamos a
ideia de perfeição igual a todas as pessoas, o que não se verifica.
Cada um tem a sua ideia. (marca impressa)
Segundo este argumento (ontológico) podemos concluir que tudo o
que quiséssemos provar que existe, bastava para isso que
definíssemos essa coisa como sendo perfeita.
David Hume
Qual é a principal fonte de aquisição e justificação do conhecimento?
É a experiência
Teorias empiristas:
Todo o conhecimento deriva da experiência
A mente está, à partida vazia; é uma tábua rasa ou uma folha de
papel branca
Não existem ideias inatas
Impressões e ideias
Variam em grau de força e vivacidade
Impressões: Objetos da experiência atual (sentir). São as perceções mais
fortes e mais vívidas ou nítidas, que incluem sensações externas (cinco
sentidos) e sentimentos internos (emoções).
Ideias: Objetos da memória e da imaginação (pensar). São as perceções
menos vívidas e intensas, porque são cópias das impressões. (sempre que
recordamos de sensações externas ou sentimentos internos ou
imaginamos a partir dele)
Impressões/ ideias simples: cor
Impressões/ ideias complexas: uma maçã (cor/sabor)
O problema da causalidade:
Este princípio implica o estabelecimento (pela mente) de relações
causais.
Atentemos no exemplo da dor no dente. A conclusão a qual “A
causa da dor deste dente é a cárie” tem por base a relação causa e
efeito: a dor é vista como o efeito cuja causa é a cárie
Neste sentido, de acordo com Hume, o conhecimento da relação de
causa e efeito não é obtido por raciocínios a priori, mas deriva
totalmente da experiência.
Ao apercebermo-nos de que certos objetos ou fenómenos
particulares se combinam constantemente uns com os outros.
Todavia, se a experiência nos revela uma dor e uma cárie, ela não
nos diz que a cárie é a causa da dor.
A relação de causa e efeito é normalmente concebida como sendo
uma conexão necessária. Ou seja, acreditamos que aquilo a que
chamamos efeito não pode ocorrer sem aquilo a que chamamos
causa e que esta causa produzirá necessariamente aquele efeito.
Sucede, no entanto, que não dispomos de qualquer impressão
relativa à ideia de conexão necessária entre fenómenos. Ninguém
vê ou perceciona uma conexão necessária. A única coisa que
percecionamos é que entre dois fenómenos, eventos ou objetos se
verifica uma conjunção constante: um deles- a que chamamos
efeito- ocorreu sempre a seguir ao outro- a que chamamos causa.
Concluímos então que existe entre eles uma relação de causalidade
e que essa relação constitui uma conexão necessária. Tal conexão
não é racionalmente justificável.
Hábito e costume:
Esta ideia de conexão necessária tem apenas um fundamento
psicológico: o hábito e o costume. É o hábito de ver um facto a
suceder a outro que nos leva à crença de que sempre assim
sucederá e de que um facto não pode ocorrer sem o outro. Ora, o
hábito ou costume é um guia imprescindível da vida prática,
tornando útil a experiência e fazendo-nos esperar, para o futuro,
uma série de eventos semelhantes àqueles que se verificaram no
passado. Todavia, ele reduz-se a um sentimento ou a uma
tendência de cariz psicológico, não constituindo um princípio
racional.
A ideia de conexão necessária poderá ser conhecida à priori ou à
posteriori?
Não:
A priori: pois é impossível pela mera análise de um acontecimento,
tido como causa, descobrir os supostos efeitos a que dá origem.
A posteriori: pois a esta ideia de conexão necessária não
corresponde qualquer impressão sensível. Por mais que
observemos a ocorrência conjunta de dois acontecimentos, por
exemplo, o impacto de uma bola de bilhar numa outra bola e o
consequente movimento desta, nunca encontraremos aí qualquer
impressão que corresponda à ideia de relação causal.
O problema da indução:
O problema da indução é equivalente ao problema da uniformidade
da Natureza. A ideia de que a Natureza é uniforme associa-se à
crença na similitude dos eventos e na suposta conexão necessária
entre alegadas causas e alegados efeitos. Neste problema da
indução vamos para lá da experiência, efetuando inferências de
carácter indutivo: uma previsão “O próximo papel que deitarmos à
água molhar-se-á” e uma generalização “Todos os gatos são
carnívoros”.
Segundo Hume, qualquer argumento indutivo pressupõe o princípio
de que o futuro assemelha ao passado, princípio que ele designou
por princípio da uniformidade da Natureza. Trata-se de um princípio
segundo o qual a natureza sempre funcionará da mesma forma, de
modo previsível e regular, ou que as leis da natureza são invariáveis.
O princípio da uniformidade da Natureza está justificado à priori?
Não está justifica à priori, pois é uma questão de facto e não uma relação
de ideias. Não existe qualquer incoerência lógica quando afirmamos que o
futuro não repetirá o passado. Não é contraditório supor que, neste e
noutros casos o mundo deixe subitamente de ser uniforme.
Conclusões céticas:
A ideia de causalidade como conexão necessária não está justificada
O princípio da uniformidade da natureza não está justificado
As conclusões das nossas inferências indutivas não estão justificadas
Hume é considerado um filósofo cético ao mostrar que muitas das coisas
que julgamos saber não as sabemos de facto. Desde logo, não são
racionalmente justificáveis a indução e a crença no princípio da
uniformidade da natureza- pelo que não é legítimo afirmar que temos um
conhecimento científico dos fenómenos.
Hume adota, assim, um ceticismo mitigado ou moderado, reconhecendo
nessa atitude uma forma de evitar cair no dogmatismo, de salvaguardar a
imparcialidade e a moderação nas opiniões e nos juízos, de apartar a
mente dos preconceitos, de nos defendermos das afirmações precipitadas
e temerárias ou das decisões imprudentes.
Na teoria, as conclusões céticas estão corretas e o ceticismo é
invencível
Na prática, não nos é possível viver como se o ceticismo fosse
verdadeiro.